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Introdução aos Aminoácidos Essenciais. . . . . . . .5 Aminoácidos cada vez mais estudados.........6 Desmistificando o ganho de massa magra como estética e sim como saúde.........7 Referências Bibliográficas.........13 Intestino como responsável pela nossa saúde.. . . . . . .15 Não somos o que ingerimos, somos o que absorvemos.........16 Processo de digestão e absorção, qual a melhor fonte de aminoácidos essenciais?.........19 Referências Bibliográficas.........22 Dietas Hipocalóricas e Hipoproteicas.. . . . . . .33 Importância de um emagrecimento saudável para manter o peso.........34 Perda de massa magra no processo de emagrecimento.........36 Estratégias para evitar a perda de massa magra.........37 Jejum intermitente.........40 Referências Bibliográficas.........42 Aminoácidos para potencializar o desempenho de atletas.. . . . . . .60 Importancia da Performance de atletas.........61 Fadiga muscular e seu impacto na fisiologia dos atletas.........61 Influencia da suplementacao com amioacidos em atletas.........62 Funcionalidade dos aminoacidos em disbiose de atletas.........67 Referências Bibliográficas.........68 Impacto da bariátrica na vida do paciente.. . . . . . .23 Dificuldade de absorção de nutrientes.........28 Doenças relacionadas à bariátrica.........29 Perda de massa magra em bariátricos.........30 Referências Bibliográficas.........31 Envelhecimento – Importância da massa magra.. . . . . . .44 Envelhecimento celular, descompensação metabólica e inflamação, sedentarismo ou incapacidade física – Fatores que deterioram a massa muscular.........45 SARCOPENIA – Perda de: massa muscular, força muscular e/ou desempenho funcional.........48 Comorbidades Relacionadas à Sarcopenia.........50 CAQUEXIA.........50 FRAGILIDADE.........50 OBESIDADE SARCOPÊNICA.........50 Osteossarcopenia - Impacto da perda muscular na integridade.........51 Pouca Oferta de Aminoácidos Essenciais Provenientes Da Alimentação.........51 Proteína X Aminoácidos Essenciais – Como Potencializar o Tecido Muscular.........52 Referências Bibliográficas.........56 MONOG R A F I A A M I N N U | 3 Figura 1 Os 20 aminoácidos presentes na natureza responsáveis pela formação das proteínas de todos os organismos vivos. Destes, 8 são considerados essenciais e 12 não essenciais. p. 09 Figura 2 Turnover de proteínas relacionando as trocas existentes entre as proteínas corporais e o pool de aminoácidos livres. p. 09 Figura 3 Aplicação da teoria do barril para avaliar o aporte dietético de aminoácidos. A nutrição fica limitada pelo fornecimento do nutriente mais escasso, no exemplo; a lisina (aminoácido limitante). p. 10 Figura 4 Sinalização envolvida na síntese proteica mediada pelos aminoácidos (representados pela leucina), insulina, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) e exercício de força. p. 11 Figura 5 Catabolismo das proteínas no trato gastrointestinal p. 19 Figura 6 Alteração média da linha de base dos aminoácidos plasmático após a alimentação de proteínas inteiras (queijo, cottage) ou uma quantidade equivalente de uma mistura de aminoácidos livres com composição de aminoácidos (...) em voluntários saudáveis em jejum p. 20 Figura 7 Proposta de diafonia entre disfunção mitocondrial e inflamação na perda de massa muscular. p. 21 Figura 8 Diferentes técnicas de cirurgia bariátrica. p. 26 Figura 9 Técnicas de cirurgia bariátrica mais realizadas. p. 27 Figura 10 Ciclo vicioso subjacente ao ganho de peso (efeito ioiô): Possível impacto de uma dieta de restrição calórica sobre o humor e, portanto, desejo por carboidratos levando ao excesso de peso, mediado pela modulação do metabolismo do triptofano e resposta da leptina (aminoácido e hormônio sacietógenos). p. 34 Figura 11 Exemplos dos efeitos do jejum intermitente em diferentes sistemas orgânicos p. 41 Figura 12 Músculo esquelético como órgão secretor. p. 47 Figura 13 Força muscular e o curso da vida. Para prevenir ou retardar o desenvolvimento da sarcopenia, maximize o músculo na juventude e na idade adulta, mantenha o músculo na meia-idade e minimize a perda na terceira idade. p. 48 Figura 14 O exercício físico e a restrição calórica exercem efeitos tróficos / protetores nos músculos esqueléticos por vários mecanismos. p. 49 Figura 15 Imagens representativas de RM da coxa operada na linha de base (pré-cirurgia), 2 semanas após e 6 semanas após a artroplastia para os grupos placebo e aqueles que ingeriam os aminoácidos essenciais. As imagens do placebo são de uma mulher de 71 anos e as imagens do EAA são de uma mulher de 74 anos. p. 54 Figura 16 Fisiologia da fadiga muscular p. 61 Figura 17 Relação entre o catabolismo de aminoácidos de cadeia ramificada (ACR) e a síntese de alanina e de glutamina no tecido muscular. p. 63 Figura 18 Catabolismo da Treonina p. 64 Figura 19 Relação entre a sobrecarga do exercício e a qualidade do sono. p. 65 Figura 20 Vias de metabolização do triptofano. Na via da serotonina, o triptofano é convertido em serotonina e melatonina. Na via da quinurenina, o triptofano gera a quinurenina e derivados como a NAD+ (nicotinamida adenina dinucleotídeo). Parte do triptofano ingerido na dieta serve ainda como fonte para a síntese de melanina e também como substrato para a síntese proteica. p. 66 FIGURAS MONOG R A F I A A M I N N U | 4 Gráfico 1 Ganho líquido de proteína de 42% e 49% maior após a ingestão da mistura de aminoácidos essenciais (EAA) em comparação com a mistura de aminoácidos totais semelhante ao Whey Protein (TAA), em pacientes idosos saudáveis e com DPOC, respectivamente. p. 06 Gráfico 2 Síntese de proteínas musculares (PS), quebra de proteínas (PB) e balanço líquido de proteínas musculares (NB) após exercício resistido durante o consumo de solução de Placebo (PLA), 40 g de Aminoácidos Mistos (MAA) e 40 g de Aminoácidos Essenciais (EAA). p. 07 Gráfico 3 Projeção da obesidade (IMC ≥ 30kg/m2 ) em adultos (≥ 18 anos) nas 26 capitais e no Distrito Federal, 2006 a 2022. p. 24 Gráfico 4 Cenário da cirurgia bariátrica no Brasil. p. 25 Gráfico 5 Prevalência dos pacientes com intolerância alimentar de acordo com o tempo de pós-operatório e alimentos relatados. A carne foi o alimento menos tolerado pelos pacientes pós-bariátricos. p. 29 Gráfico 6 Concentrações de aminoácidos antes e após dietas hipocalóricas de duas semanas em 38 indivíduos com sobrepeso. Os baixos níveis de triptofano encontrados após intervenções dietéticas relacionam-se com as altas taxas de recaídas de acompanhamento do tratamento. p. 35 Tabela 1 Comparação entre o percentual de NNU do suplemento de aminoácidos essenciais e diferentes tipos de alimentos. p. 12 Gráfico 7 Alterações no peso corporal de indivíduos com sobrepeso e obesidade submetidos a dietas com alto teor de proteína, alto teor de carboidrato e grupo controle (sem intervenção). A perda de peso foi muito superior no grupo que fez dieta com alto teor de proteína. p. 37 Gráfico 8 Taxa sintética fracionária (FSR) da proteína muscular durante a fase de recuperação do exercício de resistência com ingestão de carboidratos (CHO), carboidratos + proteínas (CHO+PRO) e carboidratos + proteínas + leucina (CHO + PRO + Leucina). p. 38 Gráfico 9 À esquerda, resultados da síntese de proteínas musculares. A ingestão da bebida de aminoácidos foi ingerida 1 h (A) e 3 h (B) após o exercício. *Diferença estatística dos valores de placebo e pré-consumo: P < 0,05. À direita, quebra de proteínas musculares. A bebida de aminoácidos foi ingerida 1 h (A) e 3 h (B) após o exercício. Não houve diferenças significativas (p > 0,05). p. 39 Gráfico 10 Atrofia muscular - Valores brutos da linha de base para quadríceps e isquiotibiais e perda de músculo adutor entre os grupos p. 53 Gráfico 11 Ganho líquido de proteína após a ingestão de aminoácidos essenciais p. 55 Tabela 2 A função e sinalização dos aminoácidosna inflamação intestinal p. 18 GRÁFICOS TABELAS MONOG R A F I A A M I N N U | 6 Gráfico 1 - Ganho líquido de proteína de 42% e 49% maior após a ingestão da mistura de aminoácidos essenciais (EAA) em comparação com a mistura de aminoácidos totais semelhante ao Whey Protein (TAA), em pacientes idosos saudáveis e com DPOC, respectivamente. Adaptado de JONKER, et al. 2017. Introdução aos Aminoácidos Essenciais A inovação diz respeito ao desenvolvimento de novas soluções que atendam aos mercados ou ge- rem valor para a sociedade. De modo geral, a inovação pode ser entendida como a busca de novidade de valor agregado por meio de novos produtos ou serviços. No contexto da inovação, o conceito de produto tem sido entendido como um conjunto de atributos tangíveis e intangíveis que possa ser consumido por um mercado, suprindo necessidades e desejos. Cerca de 20 mil pro- dutos nos mais diversos segmentos são lançados anu- almente na América Latina, porém 50% deles deixam de existir no ano seguinte, a explicação para esse fenômeno é simples: os produtos lançados não atendem aos reais desejos e necessidades dos consumidores. Desenvolver e lançar novos produtos consiste em um conjunto de atividades que busca atender às necessidades do mercado consumidor, respeitando as restrições tecnológicas que viabilizam o projeto, consi- derando suas estratégias competitivas, para chegar às especificações do produto e do processo de produção, para que seja produzido adequadamente. Portanto, é imprescindível que o processo de desenvolvimento e lançamento de novos produtos seja embasado em ci- ência, para que a real necessidade do consumidor seja atendida por meio de um produto final que seja seguro, eficaz e com máxima qualidade. Aminoácidos cada vez mais estudados Nos últimos anos tem sido demonstrado por meio de diversos estudos e pesquisas a importância dos aminoácidos para o bom funcionamento do corpo humano (BORSHEIM, E., et al., 2008; HOWATSON G, et al., 2012; KATSANOS, MADURA, ROUST, 2015). Nosso organismo em busca de sua homeostase realiza fun- ções vitais que devem estar em constante renovação. Proteínas novas são criadas através do processo cha- mado Síntese Proteica, que acontece mediante a união de uma série determinada de aminoácidos, unidos en- tre si por ligações peptídicas. Muito além de músculos, as proteínas desempenham inúmeras funções, como a estruturação de tecidos, regulação da atividade de ór- gãos endócrinos, atuação nos sistemas de defesa do organismo, participação dos processos de formação de enzimas, formação da estrutura sanguínea e construção muscular. A produção de proteínas é mais eficiente quan- do ofertado todos os substratos para que ela ocorra. Aminoácidos são as menores partículas que formam as proteínas, ou seja, não precisam ser quebradas pelo nosso organismo para sua absorção. Após agrupados, constroem tecidos conjuntivos e estruturais. São essen- ciais para produção de mais de 50 mil proteínas e mais de 15 mil enzimas. Influenciam o humor, a concentração, a atenção e o sono. O uso de aminoácidos essenciais (EAAs) vem sendo amplamente estudado e diversos estudos apontam que os EAAs são os responsáveis isolados pela indução do anabolismo muscular, poten- cializando o ganho de massa magra. (WOLFE, 2002; PA- DDON-JONES, 2006; LUCÀ-MORETTI, 2003). JONKER, et al. avaliou através de um estudo duplo cego, randomizado e cruzado a eficácia da su- plementação de aminoácidos essenciais no estímulo ao anabolismo das proteínas líquidas de todo o corpo entre pacientes idosos com DPOC (Doença pulmonar obstru- tiva crônica) e idosos saudáveis, onde idosos saudáveis que fizeram uso somente de EAAs enriquecidos com leucina ganharam 42% mais massa magra que quan- do ingerido um suplemento contendo uma mistura de aminoácidos totais (semelhante ao Whey Protein). Para pacientes doentes, o ganho chegou a ser 49% maior (gráfico 1). MONOG R A F I A A M I N N U | 7 Quando o estudo é feito em crianças, o ganho também é maior somente com o uso de EAAs. Os resul- tados do estudo de JONKER, et al. demonstram que o uso isolado de aminoácidos essenciais com proporção adequada estimula o ganho de massa magra não so- mente para pacientes com doenças crônicas, mas para pessoas saudáveis como um todo (JONKER, et al. 2017). O aumento da disponibilidade de aminoácidos para a síntese proteica é o principal mecanismo para o aumento do anabolismo de proteínas musculares e isto é observado quando indivíduos consomem aminoá- cidos. Estudos indicam que os aminoácidos, sozinhos, estimulam a síntese muscular proteica em pacientes idosos, entretanto, alguns estudos demonstram que a suplementação nutricional mista pode falhar no aumen- to da massa muscular, uma vez que a resposta muscular ao anabolismo proteico pela hiperaminoacidemia com hiperinsulinemia endógena pode ficar desequilibrada (YANAI, 2015). Existem evidências de que a ingestão de ami- noácidos essenciais orais resulta em uma mudança da degradação de proteínas musculares para a síntese de proteínas musculares após exercícios de resistência, se- melhantes aos observados quando os aminoácidos são infundidos via endovenosa. TIPTON et al, examinaram a resposta da síntese líquida de proteínas musculares após um período de exercícios de resistência seguido por ingestão de aminoácidos. Neste estudo controlado, foi avaliada a resposta em homens e mulheres após in- gestão de um composto misto de aminoácidos (MAA), uma solução de aminoácidos essenciais (EAA) e uma solução de placebo (PLA). As concentrações arteriais de aminoácidos au- mentaram aproximadamente 150 - 640% acima da linha de base durante a ingestão de MAA e EAA. O balanço líquido de proteínas musculares aumentou significativa- mente de negativo, durante a ingestão do Placebo, a po- sitivo durante a ingestão de MAA e EAA. Como o saldo líquido foi semelhante para MAA e EAA, não demonstra ser necessário incluir aminoácidos não essenciais em uma formulação projetada para provocar uma resposta anabólica do músculo após o exercício. Além disso, con- forme demonstrado no gráfico 2, os EAA sozinhos redu- zem mais o catabolismo proteico se comparado ao com- posto misto de aminoácidos (Manninen, et al., 2002). Como veremos mais adiante, os resultados do estudo multicêntrico de LUCÀ-MORETTI, mostraram que um suplemento de aminoácidos essenciais em pro- porção equimolar, quando tomado como um único e total substituto de proteínas da dieta, atingiu um NNU corporal de 99%. Isso significa que 99% dos aminoá- cidos constituintes do suplemento de EAA seguiram a via anabólica, atuando como precursores da síntese proteica do corpo. Em comparação, as proteínas alimen- tares fornecem apenas entre 16% e 48% de NNU. Isso demonstra que os aminoácidos essenciais são mais efi- cazes que as proteínas da dieta. Os resultados do estudo também mostraram que 1% dos aminoácidos constituin- tes do suplemento seguiram a via catabólica, liberando assim apenas 1% de catabólitos e energia de nitrogênio. Em comparação, as proteínas alimentares liberam entre 52% e 84% de catabólitos de nitrogênio e energia. Isso demonstra que o suplemento de aminoácidos essen- ciais é mais seguro que as proteínas da dieta e fornece a menor quantidade de calorias em comparação com qualquer proteína proveniente da alimentação. Desmistif icando o ganho de massa magra como estética e sim como saúde A composição corporal pode ser dividida em massa óssea, massa gorda e massa magra. A massa muscular magra geralmente contribui com cerca de 50% do peso corporal total em adultos jovens, mas di- Gráfico 2 - Síntese de proteínas musculares (PS), quebra de proteínas (PB) e balanço líquido de prote- ínas musculares (NB) após exercício resistido duran- te o consumo de solução de Placebo (PLA), 40 g de Aminoácidos Mistos (MAA) e 40 g de Aminoácidos Essenciais (EAA). Adaptado de TIPTON, et al. 1999. MONOG R A F I A A M I N N U |8 minui com a idade em cerca de 25% do peso corporal total entre 75 e 80 anos e a área do músculo vasto late- ral (quadríceps) diminui em até 40% entre as idades de 20 e 80 anos (KALYANI, CORRIERE, FERRUCCI, 2014). Como resultado da perda de músculo esquelético, esti- ma-se que, após os 50 anos, ocorra uma redução de 4% na taxa metabólica basal a cada década (CHAU, et al., 2008). A massa magra representa os músculos consti- tuintes de nosso corpo e manter bons valores é impor- tante não apenas para conquistar uma aparência defini- da. A força corporal depende diretamente disso, ou seja, a facilidade com que as atividades do dia a dia são re- alizadas depende diretamente da quantidade de tecido muscular magro. Uma pessoa com uma boa quantidade de massa magra nas pernas, por exemplo, sofrerá lesões mais dificilmente do que uma pessoa com menos massa magra. Por isso, ela influencia diretamente a resistência dos músculos frente a impactos e outros movimentos. A postura e os problemas na coluna vertebral também são diretamente afetados pela quantidade de massa magra que o corpo possui. Além disso, o ganho de massa ma- gra é um aliado para a perda de gordura, pois acelera o metabolismo, aumentando o gasto energético. Estima-se que a força muscular reduz, aproxi- madamente, 15% entre a sexta e sétima décadas de vida e 30% após este período. O avanço pode se dar até o momento em que o indivíduo fique impossibilitado de realizar atividades comuns da vida diária, tais como ta- refas domésticas: levantar-se da cadeira, subir escadas, varrer o chão ou tomar banho, contribuindo expressiva- mente para o desenvolvimento da fragilidade e diminui- ção funcional na idade avançada. A inabilidade física é a maior causa de utilização de atendimento domiciliar e hospitalização em idosos, com custo aproximado de 50 bilhões por ano e sarcopenia de 18 bilhões de dólares por ano, nos Estados Unidos. No Brasil, as mortes e in- ternações hospitalares de pessoas com mais de 60 anos, por causas externas, realizadas pelo Sistema Público de Saúde, mostram que as quedas representam 15,2% das mortes, ocupando 3º lugar na mortalidade. Quando ob- servada morbidade, as quedas ocupam o primeiro lugar entre as internações. Em 2000, 48.940 pessoas (56,1%) foram hospitalizadas devido às quedas entre a popula- ção com 60 anos ou mais (ORSATTI, 2011). A construção da massa magra traz inúmeros benefícios para a nossa saúde a longo prazo, que vão muito além dos benefícios estéticos, como por exem- plo, o fortalecimento dos ossos, melhora da imunidade, prevenção da resistência à insulina e auxílio no com- bate a diversas doenças como a osteoporose e osteo- artrite. Além de suas principais tarefas de manutenção da postura, respiração e locomoção, o músculo esque- lético também representa uma importante reserva de nutrientes e um excelente regulador metabólico (WOL- FE, 2006; MCLEOD, BREEN, HAMILTON, 2016). Quan- to mais músculos tivermos, melhor será o nosso enve- lhecimento, principalmente porque é nessa idade que se acentua a perda de massa magra e massa óssea, e para que tenhamos uma longevidade saudável, com in- dependência e funcionalidade, é muito importante que desde a juventude sejam adotadas medidas que contri- buam para a manutenção da integridade muscular. Por definição, tem-se que os aminoácidos são compostos orgânicos formados por um grupo amino (—NH3) associado a um grupo carboxila (—COOH). A principal função dos aminoácidos é atuar como subu- nidades de estruturação de moléculas proteicas. A pro- teína é o principal componente estrutural e funcional de todas as células do organismo. Enzimas, anticorpos, transportadores de membrana, moléculas de transpor- te do sangue, matrizes intracelulares, cabelo, unhas, albumina de soro, queratina e colágeno, assim como muitos hormônios reguladores dos processos fisiológi- cos, são todas moléculas proteicas. Assim, uma oferta adequada de aminoácidos no organismo é essencial para manter não apenas sua integridade, mas também a função celular, para saúde e reprodução. Além de atuar como subunidades estruturadoras das proteínas, os próprios aminoácidos também atuam como pre- cursores de coenzimas, hormônios, ácidos nucleicos e outras moléculas essenciais para o funcionamento do organismo (MARCHINI, et al, 2016). Todas as proteínas de todos os organismos vi- vos são formadas por uma combinação variada de 20 tipos diferentes de aminoácidos (Fig. 1). Dependendo da capacidade de o organismo humano sintetizar endoge- namente a quantidade de aminoácidos suficiente para suprir as necessidades metabólicas, tem-se a sua classi- ficação em aminoácidos essenciais e não essenciais. Os aminoácidos essenciais são nutrientes indispensáveis à vida humana, uma vez que não podem ser sintetizados pelo organismo. O organismo humano é incapaz de sin- tetizar cerca de metade dos 20 aminoácidos comuns e por este motivo devem ser obtidos através da ingestão de alimentos ou suplementos (MARCHINI, et al, 2016). MONOG R A F I A A M I N N U | 9 Figura 1 - Os 20 aminoácidos presentes na natureza responsáveis pela formação das proteínas de todos os organismos vivos. Destes, 8 são considerados essenciais e 12 não essenciais. 8 Aminoácidos Essenciais 12 Aminoácidos Não Essenciais • Leucina • Valina • Isoleucina • Metionina São aqueles que nosso organismo não consegue produzir e, portanto, necessitamos obtê-los através da ingestão de alimentos. São aqueles que nosso organismo consegue produzir a partir dos aminoácidos essenciais e de outras substâncias. • Glicina • Asparagina • Cisteina • Alanina • Ácido Glutâmico • Histidina • Fenilalanina • Lisina • Treonina • Triptofano • Tirosina • Serina • Glutamina • Prolina • Arginina • Ácido Aspártico OS 20 AMINOÁCIDOS QUE COMPÕEM AS PROTEÍNAS Considerando que os aminoácidos essenciais não são sintetizados pelo organismo, muitas vezes são eles que limitam, de alguma forma, a síntese de pro- teínas, músculos e tecidos. Sendo assim, para garantir um padrão saudável e adequado de síntese proteica, faz-se necessário um consumo dietético satisfatório ou até aumentado de aminoácidos essenciais. A ausência ou a ingestão inadequada de qualquer um dos amino- ácidos essenciais leva a um balanço de nitrogênio ne- gativo, podendo acarretar perda de peso, crescimento prejudicado (principalmente em crianças) e ainda al- guns outros sintomas clínicos (IOM, 2005). A manutenção da massa e da função do tecido magro dependem da reconstrução contínua de proteí- nas. Na Figura 2, as setas indicam os processos contí- nuos de degradação e síntese de proteínas, assim como outras vias envolvendo o pool de aminoácidos livres, tais como: obtenção dos aminoácidos, seja a partir da dieta, suplementação ou da síntese endógena de aminoácidos não essenciais, e perda por excreção, oxidação ou pela conversão a outros metabólitos não proteicos (MAR- CHINI JS, et al, 2016). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e à Academia Nacional Americana de Ciências (NAS), oito aminoácidos são considerados essenciais para a nutrição humana: Leucina, Valina, Isoleucina, Lisina, Fenilalanina, Treonina, Metionina, Triptofano. Algu- mas literaturas consideram 9 aminoácidos essenciais, por considerarem a Histidina como um deles, porém ela é considerada um aminoácido condicionalmente essen- cial, uma vez na infância o corpo não consegue sinteti- zá-lo (ZENG, 2010). Figura 2 - Turnover de proteínas relacionando as trocas existentes entre as proteínas corporais e o pool de aminoácidos livres. Consumo dietético Excreção Oxidação Vias não-protéicas Perdas protéicas Turnover de proteínas Síntese Pele Cabelo Fezes Síntese endógena (Dispensável) AMINOÁCIDOS LIVRES PROTEÍNAS CORPORAIS MONOG R A F I A A M I N N U | 1 0 De maneira geral, os aminoácidos absorvi- dos pelo organismo são utilizados para reconstitui- ção das suas próprias proteínas, sendo, portanto, imprescindível o fornecimentode quantidade sufi- ciente e balanceada dos diferentes tipos de aminoá- cidos essenciais. A partir de uma dieta desequilibra- da, existe o risco de alguns aminoácidos necessários para a síntese proteica estarem em quantidades in- suficientes, enquanto outros aminoácidos aparece- rem em excesso, seguindo para sua excreção sem mesmo terem sido utilizados ou, alternativamente, sendo desviados para o provimento de energia. Da mesma forma, quando determinados aminoácidos são consumidos em quantidade excessiva, existe a possibilidade que seja suprimida a absorção ou a utilização de outros aminoácidos, agravando ainda mais o quadro de desequilíbrio no pool de aminoáci- dos livres (IOM, 2005). Portanto, se um determinado aminoácido obti- do por meio da alimentação estiver escasso, a eficiência da alimentação fica limitada ao nível desse aminoácido insuficiente (fator limitante). O mesmo pode ser consi- derado para suplementos de aminoácidos essenciais fabricados em proporções inadequadas dos componen- tes. Portanto, para que tais riscos de desequilíbrio sejam evitados e a contínua síntese de proteínas do organis- mo seja garantida, a suplementação com aminoácidos essenciais em proporção equimolar é muito importante, Conforme figura 3, ilustrando um barril com água, cada ripa do barril representaria um tipo de ami- noácido, sendo o comprimento das ripas representantes das quantidades individuais de cada aminoácido. Por- tanto, a capacidade do barril fica limitada pela ripa mais curta, assim como a síntese proteica e o crescimento fi- cam limitados pelos aminoácidos menos disponíveis. Por outro lado, os aminoácidos em excesso, corresponden- tes às ripas acima do nível de água, não serão utilizados para a síntese de proteínas, seguindo para excreção ou vias alternativas para produção de energia. O nitrogênio consumido como fonte de energia é usualmente excre- tado como amônia. Quando a dieta ou o suplemento é deficiente em, pelo menos, um aminoácido, o corpo não consegue utilizar com eficiência todos os aminoácidos disponíveis no pool. No exemplo ilustrado pela figura 3, apenas com a adição de lisina foi possível garantir um aproveitamento mais eficiente dos aminoácidos. fornecendo a quantidade ideal de cada aminoácido es- sencial que nosso organismo precisa. Cada célula do organismo é capaz de sintetizar um grande número de proteínas específicas a partir dos aminoácidos, sejam essenciais ou não essenciais. As ca- racterísticas e a especificidade de cada proteína sinteti- zada pelo organismo são predeterminadas pelo código genético presente nas moléculas de DNA, que funciona como modelo para a síntese de várias formas de RNA que, então, participam da síntese proteica propriamente Figura 3 - Aplicação da teoria do barril para avaliar o aporte dietético de aminoácidos. A nutrição fica limitada pelo fornecimento do nutriente mais escasso, no exemplo, a lisina (aminoácido limitante). Fonte: MARCHINI JS, et al, 2016 Dieta desequilibrada Dieta adicionada com lisina Excedente de aminoácidos MONOG R A F I A A M I N N U | 1 1 dita. No entanto, para que a síntese proteica ocorra, é preciso que todos os aminoácidos necessários estejam disponíveis, principalmente os aminoácidos essenciais, que devem vir única e exclusivamente da dieta ou suple- mentação (MAHAN LK, ESCOTT-STUMP S, 1998). Os aminoácidos exercem os seus efeitos na fase de iniciação da tradução do RNA-mensageiro em proteína. O mecanismo pelo qual os aminoácidos es- timulam síntese de proteínas está relacionado ao fato do aumento da concentração intracelular dos mesmos promoverem a ativação de uma proteína quinase deno- minada alvo da rapamicina em mamíferos (mammalian Target of Rapamycin - mTOR). O mTOR estimula a sín- tese proteica principalmente por meio de três proteínas regulatórias chaves: a proteína quinase ribossomal S6 de 70 kDA (p70S6k); a proteína 1 ligante do fator de ini- ciação eucariótico 4E (4E-BP1); e o fator de iniciação eu- cariótico 4G (eIF4G) (Fig. 4). Durante o período pós-prandial, os aminoáci- dos plasmáticos estimulam a síntese de proteína muscu- lar, fornecendo substratos a mesma, bem como ativando o receptor do complexo 1 da via mTOR (mTORC1), que inicia a tradução do mRNA. Quando ativado por ami- noácidos, mTORC1 inicia uma série de processos que aumentam a taxa de tradução / síntese de proteínas no músculo esquelético (KATSANOS, MADURA, ROUST, 2015). O mTOR desempenha um papel central na regu- lação de todos esses processos e, portanto, controla o equilíbrio entre o anabolismo e o catabolismo em res- posta às condições ambientais. Figura 4 - Sinalização envolvida na síntese proteica mediada pelos aminoácidos (representados pela leucina), insulina, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) e exercício de força. mTOR Leucina IRS-1 IG F- 1 In su lin a P13-K Exercício de Força PKB 4E-BP1 elF4G AMPK SÍNTESE PROTÉICA p70S6K mTOR: proteína quinase denominada alvo da rapamicina em mamíferos; p70S6k = proteína quinase ribossomal S6 de 70 kDA; eIF4G: fator de iniciação eucariótico 4G; 4E-BP1: inibidor do fator de iniciação da tradução proteica de- nominada eIF4E; AMPK: proteína quinase ativada por adenosina monofosfato (AMP); PKB: proteína quinase B; IRS-1 substrato do receptor de insulina 1; PI3-K: fosfatidil-inositol-3-quinase). (→ indica ativação; y indica inibição). Adaptado de ROGERO, 2008. MONOG R A F I A A M I N N U | 1 2 Os aminoácidos essenciais plasmáticos, quan- do comparados aos não essenciais, são os principais responsáveis pela estimulação da síntese proteica mus- cular. A ingestão de aminoácidos em sua forma livre per- mite a absorção do dobro de aminoácidos essenciais se comparado a uma proteína intacta, dado que a proteína intacta contém inevitavelmente até 50% de aminoácidos não essenciais. Note-se que, diferentemente dos ami- noácidos essenciais que precisam ser fornecidos atra- vés da dieta, os não essenciais podem ser sintetizados no organismo e, portanto, participar diretamente como substratos para síntese proteica sem a necessidade de ser obtida através da dieta. Ao mesmo tempo, a inges- tão de aminoácidos livres permite enriquecer a mistura de aminoácidos com leucina. Os aminoácidos em geral, e particularmente leucina, são estímulos poderosos de mecanismos moleculares implicados na síntese de pro- teínas musculares por ativar o mTOR e seus alvos en- volvidos no início da tradução do mRNA (KATSANOS, MADURA, ROUST, 2015). Existem evidências in vitro e in vivo de que a leu- cina é capaz de estimular a síntese proteica, por ativar, principalmente, o início do processo de tradução pro- teica. O efeito da suplementação crônica foi verificado em um estudo realizado com ratos suplementados com leucina durante 12 dias, no qual se observou aumento na taxa de síntese proteica no tecido adiposo, no músculo gastrocnêmio e no fígado. Outro estudo, que avaliou o efeito da suplementação crônica com leucina em ratos, verificou maior retenção de nitrogênio na carcaça des- ses animais, após fase de recuperação nutricional de 60 dias com dieta rica em leucina, a qual foi antecedida de outra fase de 60 dias de desnutrição proteica (LYNCH CJ, 2002). Porém, somente a Leucina não é capaz de re- alizar síntese proteica, uma vez que o corpo precisa de todos os aminoácidos essenciais para dar sequência à síntese. O ideal seria um equilíbrio entre todos os ami- noácidos juntamente com a Leucina. Isso traria além do estímulo, a síntese proteica completa. Há diversos métodos para realizar a avaliação nutricional de proteínas. Dentre esses métodos destaca- -se o método que avalia a utilização líquida de nitrogênio (NNU - net nitrogen utilization). Como citado anterior- mente, as proteínas obtidas pela alimentação fornecem entre 16 - 48% de NNU. Um suplemento de aminoáci- dos essenciais em proporção equimolar, apresenta um perfil de aminoácidos que promove 99% de NNU, o que significa que 99% dos aminoácidosfornecidos atuam como precursores da síntese de proteínas (os “building blocks”). Este percentual de NNU é considerado o maior encontrado em uma formulação com aminoácidos, bem como supera toda a forma de proteína ingerida pela die- ta (tabela 1) (LUCÀ-MORETTI, 2003). Tabela 1 - Comparação entre o percentual de NNU do suplemento de aminoácidos essenciais e diferentes tipos de alimentos. Suplemento de aminoácidos essenciais (Proporção equimolar) Ovo inteiro Peixe/carne/frango Proteína da soja Whey protein Caseína Leite 99% DE NNU 48% DE NNU 28 - 36% DE NNU 17% DE NNU 16% DE NNU 16% DE NNU 16% DE NNU NNU DOS DIFERENTES TIPOS DE ALIMENTOS MONOG R A F I A A M I N N U | 1 3 Outra vantagem do suplemento de aminoáci- dos essenciais é que 10 g do produto fornece a síntese proteica equivalente a 350 g de carne vermelha, peixe ou frango, mas seu valor calórico é muito baixo, espe- cialmente recomendado para aqueles indivíduos que necessitam ganho de peso ou sua manutenção e ao mesmo tempo desejam controlar a gordura corporal. Além disso, sua absorção leva em torno de 23 minu- tos após a sua ingestão, sendo que para se digerir uma proteína obtida da alimentação levam-se cerca de 3 - 4 horas. O suplemento de aminoácidos essenciais induz minimamente a estimulação das secreções intestinais, uma vez que atuando completamente como uma pro- teína dietética catabolizada, sendo absorvida sem a necessidade das peptidases prevenindo a sobrecarga das funções digestivas e sendo indicado para pacien- tes com desordens gastrintestinais, incluindo gastrec- tomia – sua liberação de catabólitos de nitrogênio é de apenas 1%, diferentemente das proteínas dietéticas, que podem fornecer entre 52-84% destes (LUCÀ-MO- RETTI, 2003). Diante de todos os estudos realizados e consi- derando a importância dos aminoácidos, viu-se a rele- vância do desenvolvimento de uma forma de suplemen- tação livre, inovadora, que fosse capaz de disponibilizar estes aminoácidos sem a necessidade de digestão, po- tencializando assim a ação da suplementação. O AMIN- NU é um suplemento formado pela combinação dos 8 aminoácidos essenciais na forma livre com proporções adequadas para maximizar a síntese proteica no orga- nismo. Após a ingestão são rapidamente utilizados, pois já se encontram em sua forma mais absorvível, assim, sendo utilizado em situações onde ocorra a necessida- de de aumento de síntese proteica. Os diferenciais do AMINNU são a baixa ingestão calórica, sem adição de açúcar ou adoçantes artificiais, absorção de 99% dos aminoácidos e excelente palatabilidade, que torna o pro- cesso de síntese proteica muito mais fácil de acontecer. Referências Bibl iográf icas : BORSHEIM , E ., et al. Effect of amino acid supple- mentation on muscle mass, strength and physical function in elderly. Clinical nutrition, v. 27, n. 2, p. 189- 195, 2008 BORSHEIM , E ., et al. Essential amino acids and mus- cle protein recovery from resistance exercise. Ameri- can Journal of Physiology-Endocrinology And Meta- bolism, v. 283, n. 4, p. 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MONOG R A F I A A M I N N U | 1 5 MONOG R A F I A A M I N N U | 1 6 Intestino como responsável pela nossa saúde O trato gastrointestinal é grande e complexo, ele consiste em uma enorme área de superfície otimizada para absorver eficientemente nutrientes, água e eletróli- tos, mantendo uma defesa eficaz contra toxinas intralu- minais, antígenos e micro-organismos patógenos. Em especial a função do intestino está muito além do siste- ma digestivo, o intestino também serve como um órgão endócrino, imunológico e neuronal, e é o maior órgão endócrino. Não distante, ele tem o papel de barreira que protege o hospedeiro da colonização por patógenos e a sua microbiota também participa do desenvolvimento da homeostase do sistema imunológico do hospedeiro, 70% das células imunológicas do corpo residem no teci- do linfoide associado ao intestino (PICCA et al., 2018). Existe uma comunicação bidirecional entre in- testino-cérebro envolvendo a microbiota e compreende vias neurais como e humoral no qual temos citocinas, hormônios e neuropeptídeos como moléculas sinaliza- doras como modelo de sistema humoral. Essa rede de comunicação é chamada de “eixo microbiota-intestino- -cérebro” e sinaliza a percepção gastrointestinal ao cé- rebro, que por sua vez elabora uma resposta no intesti- no (CRYAN; O’MAHONY, 2011; MAYER, 2011) incluindo morfogênese de órgãos, desenvolvimento e maturaçãodo sistema imunológico e do trato gastrointestinal, vas- cularização intestinal, regeneração de tecidos, carcino- gênese, metabolismo, formação da memória, excitação emocional, comportamento afetivo, tomada de decisão intuitiva e uma série de doenças neurológicas (BERNT- SON; SARTER; CACIOPPO, 2003; COLLINS; SURET- TE; BERCIK, 2012; MAYER, 2011; SOMMER; BÄCKHED, 2013). A microbiota intestinal humana é uma comuni- dade complexa e é composta por cerca de 1014 micro-or- ganismos (a maioria bactérias, mas também vírus, fun- gos e protozoários) e o metagenoma supera o genoma humano mais de cem vezes. Ela desempenha um papel na imunidade, na inflamação e proliferação celular, na digestão e metabolismo, sintetiza a vitamina K e vitami- nas do complexo B e é capaz de se comunicar não ape- nas com o epitélio intestinal, mas também com órgãos e sistemas corporais distantes. (DORÉ et al., 2013; NEIS; DEJONG; RENSEN, 2015). Muitas bactérias intestinais produzem compostos antimicrobianos e competem por nutrientes e locais de fixação no revestimento intestinal, evitando assim a colonização por patógenos. Elas tam- bém sinalizam ao sistema imunológico inato por meio de receptores específicos que reconhecem e se ligam a moléculas específicas associadas a bactérias, levan- do à produção da resposta imune do hospedeiro, essa correlação entre as células da microbiota e da muco- sa intestinal (enterócitos, células dendríticas, linfócitos, macrófagos e células M) modula a produção de várias citocinas e quimiocinas. Estes podem ser pró-inflamató- rios, como IL-1 e IL-8, ou anti-inflamatórios, como IL-10 (BULL; PLUMMER, 2014; PICCA et al., 2018). A disbiose refere-se a um desequilíbrio na abundância de espécies microbianas, que é comumente ligada ao comprometimento da função da barreira in- testinal e células inflamatórias. O estresse oxidativo, a indução de bacteriófagos e a secreção de toxinas bacte- rianas podem desencadear mudanças rápidas entre os grupos microbianos intestinais, resultando em disbiose. O desequilíbrio causado pela disbiose é agravada por outros distúrbios, como aumento da permeabilidade in- testinal, a constipação intestinal ou diarreia e pode levar a uma perda na capacidade moduladora imunológica do trato gastrointestinal acarretando uma série de con- sequências negativas ao organismo. Como exemplo o organismo pode passar a ter dificuldade em absorver e aproveitar as proteínas da alimentação. Em uma situa- ção na qual há uma microbiota atípica ao intestino, a quebra dos peptídeos e reabsorção de toxinas do lúmen intestinal ocorrem de maneira inadequada (BÄCKHED et al., 2012; BELIZÁRIO; FAINTUCH, 2018; HULLAR, A.J. MEREDITH, FU, 2015). Não somos o que ingerimos, somos o que absorvemos A proteína da dieta é um dos nutrientes mais essenciais para a produção de hormônios e enzimas, visão e reparo celular. A microbiota intestinal desempe- nha uma função crucial no número total de aminoácidos disponibilizado e sobre a sua absorção que corresponde ao perfil de aminoácidos e suas características compo- sicionais individuais (LIN et al., 2017; ZHAO et al., 2018). A microbiota intestinal atua como parte es- sencial da reciclagem de proteínas e nitrogênio inge- ridos. As unidades proteicas não digeridas geralmente são fermentados em vários metabólitos bacterianos ou outros produtos finais, como ácidos graxos de cadeia curta, sulfato de hidrogênio e amônia. Esses metabó- litos bacterianos estão envolvidos em várias funções fisiológicas e têm efeitos benéficos ou deletérios no MONOG R A F I A A M I N N U | 1 7 hospedeiro, essa relação irá depender de suas concen- trações. Em suma, se a proteína da dieta não é bem digerida, a homeostase da microbiota intestinal pode ser interrompida, resultando em distúrbios intestinais e desperdício de recursos nitrogenados (LIN et al., 2017; ZHAO et al., 2018). O destino metabólico dos aminoácidos de- pende da composição das populações bacterianas e de sua localização no intestino. As bactérias primárias relacionadas ao metabolismo consistem em Klebsitella spp., Escherichia coli, Streptococcus spp, Succinivibrio dextrinosolvens, Mitsuokella spp. E Anaerovibrio lipolyti- ca. Algumas dessas bactérias podem metabolizar dire- tamente aminoácidos e têm a capacidade de secretar várias proteases e peptidase (HULLAR, A.J. MEREDITH, FU, 2015; ZHAO et al., 2018). Para a lisina, por exemplo, ela é um aminoácido que não está sujeito a transaminação e acredita-se que 2 a 20% da lisina corporal total seja derivada de fontes microbianas intestinais (intestino delgado e grosso) em animais monogástricos, incluindo humanos adultos. Ve- rificou-se que o catabolismo da lisina na mucosa intes- tinal é quantitativamente maior do que a incorporação de lisina nas proteínas da mucosa. Além disso, para a leucina, a contribuição da síntese da microbiota intesti- nal para a entrada total do corpo foi estimada em 20% (NEIS; DEJONG; RENSEN, 2015; VAN DER WIELEN, NI- KKIE, PAUL J. MOUGHAN, 2017). Portanto é importante conhecer a fonte de aminoácidos utilizada, pois ela pode representar uma abordagem estratégica para controlar o crescimento de espécies fermentadoras de aminoácidos e suas vias me- tabólicas, as quais, por sua vez, podem ter um impacto no metabolismo do hospedeiro (LIN et al., 2017). Dife- rentes fontes alimentares de proteína geram diferentes perfis de qualidade, dependente principalmente da com- posição e da biodisponibilidade dos aminoácidos, ou seja, a capacidade do suplemento em fornecer um perfil adequado de aminoácidos essenciais indispensáveis à dieta (VAN DER WIELEN, NIKKIE, PAUL J. MOUGHAN, 2017). No intestino saudável, os aminoácidos essenciais da dieta são absorvidos eficientemente por diferentes transportadores de aminoácidos nos enterócitos do jejuno proximal e várias funções são interdependentes da microbiota saudável e os aminoácidos essenciais na dieta. A nível molecular, foi demonstrado que a con- centração intracelular de leucina pode ser detectada pelo complexo multiproteína leucil-tRNA sintetase, que ativa o alvo mecanicista da rapamicina (mTOR) quinase. A ativação de mTOR induzida por aminoácidos regula a síntese de proteínas, lipídios e nucleotídeos, além de inibir a autofagia. A autofagia regulada pela sinalização mTOR é crucial para inibir a inflamação e manter a ho- meostase intestinal (BIFARI et al., 2017; HE et al., 2018). Durante a fome, o metabolismo dos aminoácidos essen- ciais é direcionado à oxidação para gerar ATP. Esse pro- cesso é regulado pela ativação da quinase ativada por AMP (AMPK), um sensor mestre do balanço de energia (BIFARI et al., 2017). Os aminoácidos em si estimulam a secreção de insulina. Os aminoácidos de cadeia ramificada, especial- mente Leucina, têm um efeito insulinogênico quando administrados em conjunto com uma solução de glico- se, em comparação com a solução de glicose isolada. Os aminoácidos também estimulam a liberação do pep- tídeo 1 do tipo (GLP-1) e do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP), que por sua vez aumentam a resposta anabólica promovendo a secreção de insuli- na (MACDONALD et al., 2019). Os aminoácidos essenciais podem aumentar a expressão da β-defensina intestinal, que funciona como uma substância antimicrobiana de amplo espectro (BI- FARI et al., 2017). He e colaboradores reuniram diferentes estudos (Tabela 2) que demonstram a importância dos aminoácidos es- senciais como moduladores nas doenças intestinais (HE et al., 2018): • É relatado que fenilalanina possui efeitos benéficos no tratamento da DII, inibindo a produção de TNF- α e me- lhorando as respostas imunes. Também é responsável por regular e liberar hormônios intestinais, bem como a tolerância à glicose; • A metionina é capaz de modular a imunidade, gerar glutationa para neutralizar o estresse oxidativo e inibe o aumento da permeabilidade paracelular mediada por TNF- α; • Treonina é um componente primário da IgA intestinale mucinas, assim, a sua desnutrição induz inflamação e afeta as respostas imunes pela via NF- κB; • Os BCAAs aprimoram o sistema de defesa imune in- testinal, melhorando a integridade morfológica e a pro- dução de imunoglobulina no intestino; • Leucina aumenta a proliferação celular e as expres- sões dos transportadores de aminoácidos pela ativação do mTOR; MONOG R A F I A A M I N N U | 1 8 • A isoleucina induz a expressão de β- defensinas via receptores de acoplamento à proteína G (GPCRs) e vias de sinalização ERK/MAPK. Tabela 2 - A função e sinalização dos aminoácidos na inflamação intestinal AMINOÁCIDOS FUNÇÃO VIAS DE SINALIZAÇÃO Triptofano ↑ IL-22, barreira intestinal↓ I1-1ß, I1-6, IL-8, TNF-ɑ, Th1 cells 5-HT, mTOR, AHR Card9, ACE2, CaSE, MAPK Fenilalamina ↑ cisteína e GSH↓ TNF-ɑ, IL-6, IL-8, estresse oxidativo CaSR Metionina ↑ integridade intestinal, Cisteína e GSH↓ IL-1ß , TNF-ɑ, estresse oxidativo NF-κB Lisina ↑ GSH, SOD, CAT↓ IL-1ß , IL-6, IL-17, TNF-ɑ, INF-y CaSR, NF-κB Treonina ↑ MUC2, IgA, barreira intestinal NF-κB, mTOR, MAPK Valina ↑ Produção de imunoglobulina↓ TNF-ɑ, IL-6, INF-y, IL-1ß, e IL-17 GCN2, CaSR Leucina ↑ integridade intestinal↓ inflamação intestinal mTOR, GCN2 NF-κB, MAPK Isoleucina ↑ expressão of ß-defensinas GCN2, GPCRs, MAPK As funções dos aminoácidos essenciais na inflamação intestinal dependem principalmente das vias de sinali- zação NF-κB, iNOS, MAPK, ACE2, GCN2, CaSR e mTOR. AHR: receptor de aril hidrocarboneto; 5-HT: 5-hidro- xitriptofano; Card 9: membro da família do domínio de recrutamento da caspase 9; mTOR: alvo mecanicista da rapamicina; MUC2: mucina 2; MPO: mieloperoxidase; CaSR: receptor sensor de cálcio; MAPK: proteína quina- se ativada por mitógeno; NF-κB: fator nuclear-kappa-B; ERO: esp’’écies reativas de oxigênio, GSH: glutationa; iNOS: óxido nítrico sintase induzível; ACE2: enzima conversora de angiotensina 2; GPCRs: receptores acopla- dos à proteína G; SOD: superóxido dismutase; CAT: catalase; GCN2: cinase não reprimida controlada geral. MONOG R A F I A A M I N N U | 1 9 Processo de digestão e absorção, qual a melhor fonte de aminoácidos essenciais? A digestão fisiológica e a absorção de nutrien- tes no trato gastrointestinal requerem uma interação complexa entre as funções motora, secretora, digestiva e absorvente, vulnerável a uma infinidade de distúrbios em potencial que podem levar a síndromes globais ou espe- cíficas de má absorção (Fig. 5). Em uma situação ideal o intestino delgado proximal absorve os nutrientes de maneira extremamente eficiente: após a perfusão de nutrientes no duodeno proximal a taxas pós-prandiais fisiológicas, até 80% dos triglicerídeos, 60% dos car- boidratos e 50% das proteínas foram absorvidos an- tes de atingir o duodeno distal e os nutrientes que não absorvidos, cerca de 10%, são fonte de energia para a microbiota do cólon (KELLER; LAYER, 2014). A digestão das proteínas começa no estôma- go, onde o pH baixo as desnatura, removendo sua es- trutura secundária e expondo-as à clivagem pela pep- sina. A digestão de proteínas alimentares e endógenas por pepsinas e proteases pancreáticas produz peque- nos polipeptídeos e aminoácidos livres; estes são pos- teriormente hidrolisados por peptidases de borda em escova, por proteases e peptidases derivadas de hos- pedeiros e bactérias, e em seguida são transportados para o enterócito. A absorção ocorre principalmente no jejuno proximal, mas outras partes do intestino delgado também têm capacidade de transporte significativa. O transporte para os enterócitos ocorre pelos principais transportadores ativos de aminoácidos neutros, dibási- cos e dicarboxílicos (MACDONALD et al., 2019) (KEL- LER; LAYER, 2014). Figura 5 - Catabolismo das proteínas no trato gastrointestinal Adaptado de ZHAO, J. et al.2018 MONOG R A F I A A M I N N U | 2 0 O requerimento de nitrogênio da mucosa intes- tinal é alto, devido a rápida renovação celular, produção de proteínas secretoras e a tendência de usar aminoá- cidos como fonte de energia. O destino metabólico de uma fonte de nitrogênio ingerida depende também da cinética da absorção de aminoácidos. A administração de aminoácidos livres contorna a fase digestiva e o perfil de absorção é diferente do das proteínas intactas, pois os níveis plasmáticos de aminoácidos totais e essenciais são mais altos, atingem o pico mais rápido e diminuem mais rapidamente (Fig. 6). Além da qualidade da prote- ína na dieta, ou seja, sua composição de aminoácidos e cinética de digestão e absorção, também a quantidade de proteína ingerida provavelmente modula as taxas de síntese de proteína muscular pós-prandial (MACDO- NALD et al., 2019). Os aminoácidos essenciais também podem modificar a abundância de metabólitos intestinais, aju- dam na regulação de processos inflamatórios, e são as- sim fundamentais para a homeostase do organismo. Por outro lado, a disbiose intestinal altera as propriedades da barreira intestinal e, portanto, pode reduzir a capacidade do organismo em digerir proteínas complexas e indireta- mente reduzir a quantidade de aminoácidos essenciais disponíveis no organismo. A utilização dos aminoácidos essenciais livres, já disponibilizados em menor fração, fornece os ativos que são necessários para restaurar a integridade do intestino e da microbiota natural, bem como, o fornecimento de aminoácidos para a realização das sínteses proteicas necessária para homeostase ce- lular e do músculo esquelético (Fig. 7). Para que a síntese muscular aconteça, diversos estímulos são necessários, mas é fundamental que o corpo tenha aminoácidos livres disponíveis. A recons- trução muscular só acontecerá a partir do momento em que os nutrientes necessários estejam disponíveis e a partir das proteínas, elas devem ser digeridas (no estô- mago), absorvidas (no intestino) e assim estar disponível Figura 6 - Alteração média da linha de base dos aminoácidos plasmático após a alimentação de proteínas inteiras (queijo, cottage) ou uma quantidade equivalente de uma mistura de aminoácidos livres com composição de aminoáci- dos (...) em voluntários saudáveis em jejum Adaptado de MACDONALD et al (2019) MONOG R A F I A A M I N N U | 2 1 para o processo de síntese no músculo. O consumo de proteínas com alta digestibilidade ou uma dieta pobre em proteínas resulta em menos proteína atingindo o có- lon, limitando a quantidade disponível para bactérias fer- mentadoras de proteínas. Observa-se que é um proces- so interligado dentro do organismo, e pode-se concluir que o paciente com disbiose não realiza essas etapas de maneira eficiente e todas as demais funções dependen- tes da disponibilização dos nutrientes serão prejudica- das. Os pacientes com disbiose estão inflamados e com a microbiota intestinal atípica, essas, por sua vez, podem consumir mais nutrientes da dieta para se proliferarem prejudicando a homeostase. Por esses motivos citados, muitas vezes, a biodisponibilidade de aminoácidos é afetada e os pacientes não conseguem ganhar massa magra ou passa por um processo de perdê-la rapida- mente (NI LOCHLAINN et al, 2018). Figura 7 - Proposta de diafonia entre disfunção mitocondrial e inflamação na perda de massa muscular. Adaptado de PICCA et al (2018) MONOG R A F I A A M I N N U | 2 2 Referências Bibl iográf icas : BÄCKHED, F . et al. Defining a healthy human gut microbiome: Current concepts, future directions, and clinical applications. 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MONOG R A F I A A M I N N U | 2 3 MONOG R A F I A A M I N N U | 2 4 Impacto da bariátrica na vida do paciente Obesidade é o acúmulo excessivo de gordura no tecido adiposo e, de forma ectópica, em outros órgãos, como fígado, como resultado de períodos crônicos de balanço energético positivo, caracterizado por um apor- te calórico maior que o gasto energético. A prevalência da obesidade tem aumentado de modo significativo nas últimas décadas, atingindo níveis de pandemia global, fato alarmante atribuído principalmente ao atual estilo de vida, caracterizado por comportamento sedentário e hábitos alimentares não saudáveis. Grande preocupa- ção para a saúde pública é o fato de que a obesidade é frequentemente associada ao desenvolvimento de di- versas doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, esteatose hepática e alguns tipos de câncer (PREVEDELLO, et al., 2009). Neste contexto, os pacientes com obesidade grave devem ser encarados como pessoas que pos- suem menos qualidade de vida e condições clínicas que podem levá-las à morte. Por estes motivos, são neces- sárias abordagens eficientes para promover significativa redução de peso. A orientação dietética, a programação de atividade física e o uso de fármacos antiobesidade são os pilares principais do tratamento (PREVEDELLO, et al., 2009). Segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2018, do Ministério da Saúde, a obesidade afeta 18,8% dos brasileiros e mais da metade (55,7%) tem excesso de peso (BRASIL, 2019). As proje- ções do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde para o Brasil indicam que a obesidade con- tinuará a subir (Gráfico 3) (OLIVEIRA. M. L., 2013). Os hábitos de vida contemporânea favorecem o consumo exagerado de alimentos de alto valor calórico, mas com pobre qualidade nutricional. Essa ingestão excessiva também pode ser desencadeada por transtornos de compulsão alimentar. As abordagens para controle do peso corporal adulto são diversas, mas todas culminam no conceito fundamental de equilíbrio energético. Para manter o peso corporal, a ingestão calórica deve ser equilibrada com o gasto diário de energia (MAGDALON, FESTUCCIA, 2005). Gráfico 3 - Projeção da obesidade (IMC ≥ 30kg/m2 ) em adultos (≥ 18 anos) nas 26 capitais e no Distrito Federal, 2006 a 2022. Fonte: OLIVEIRA. M. L., 2013. MONOG R A F I A A M I N N U | 2 5 Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), pelo menos 15 mil casos de câncer por ano no Brasil po- deriam ser evitados com a redução do peso e o combate à obesidade. Pesquisa feita na Universidade de Mon- treal, Canadá e compartilhada pela Sociedade Brasi- leira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica apontou que obesos perdem até nove anos em sua expectativa de vida. Os riscos inerentes ao excesso de gordura estão demonstrados em vários estudos populacionais, entre eles, um publicado na revista Lancet Endocrinology, em junho de 2018, que avaliou as causas de mortalidade de mais de 3,6 milhões de pessoas e sua associação com a obesidade. A pesquisa fortaleceu o conceito de que quanto mais pesado, maiores são os riscos. Mostrou que para cada 5 pontos a mais no Índice de Massa Corporal (IMC) acima do ideal, em torno de 25, o obeso apresenta chances 20% maiores de morrer. Homens com obesida- de mórbida (IMC>40) têm uma expectativa de vida nove anos menor do que aqueles com peso normal. Isso sem contar o impacto na qualidade de vida, nas limitações de mobilidade, nos distúrbios do sono e outras restrições que enfrentam as pessoas com graus elevados de obe- sidade (SBCBM, 2019). Somos o segundo país com maior número de cirurgias bariátricas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Conforme demonstrado no gráfico 4, em todo o ano de 2018, foram realizadas 63.969 cirurgias bari- átricas no Brasil, sendo 49.521 pela saúde suplementar (planos de saúde), conforme dados da Agência Nacio- nal de Saúde Suplementar (ANS), 11.402 cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 3.046 cirurgias par- ticulares. Avaliando um período de oito anos, o núme- ro de cirurgias bariátricas cresceu 84,73% entre 2011 e 2018, segundo levantamento divulgado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Foram realizados no período aproximadamente, 424 mil cirurgias da obesidade no país (BRASIL, 2019; SBCBM, 2019). Gráfico 4 - Cenário da cirurgia bariátrica no Brasil. Fonte: SBCBM, 2019. MONOG R A F I A A M I N N U | 2 6 É fundamental que o paciente que deseja pas- sar por uma cirurgia bariátrica tenha acompanhamento de uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo, nutricionista, endocrinologista, cardiologista, preparador físico, enfermeiro, fonoaudiólogo. O paciente precisa ter a consciência de que terá uma ferramenta que vai aju- dá-lo a emagrecer, mas ele deve ter sua participação, seguindo todas as recomendações pós-cirúrgicas, in- cluindo o acompanhamento do endócrino para o resto da vida, para que não haja reganho de peso (BRASIL, 2019). A cirurgia bariátrica é indicada para obesos com idade entre 18 e 65 anos, com IMC acima de 40 kg/m² (obesidade grau III) independente de presença de co- morbidades, IMC entre 35 e 40 kg/m² (obesidade grau II) na presença de comorbidades e IMC entre 30 e 35 kg/m² (obesidade grau I) na presença de comorbidades que tenham obrigatoriamente a classificação “grave” por um médico especialista na respectiva área da doença (SBCBM, 2017).Existem vários tipos de cirurgia bariátrica dis- poníveis para os pacientes obesos (Fig. 8). Atualmente, a maior parte das cirurgias são feitas por laparoscopia, minimamente invasiva. Existem 3 técnicas cirúrgicas di- ferentes: Restritivas, disabsortivas e mistas. As restritivas possibilitam, mediante saciedade precoce favorecida pela redução da capacidade gástrica, a diminuição do volume de alimentos ingeridos. Figura 8 - Diferentes técnicas de cirurgia bariátrica. Adaptado de SBCBM, 2017. 1. Bypass Gástrico (gastroplastia com desvio intestinal em “ Y de Roux”) 3. Duodenal Switch 2 . Sleeve ou manga (Gastrectomia Vertical) 4. Banda gástrica ajustável MONOG R A F I A A M I N N U | 2 7 As técnicas disabsortivas, mediante exclusão de um segmento do intestino delgado, propõem a redução da absorção de alimentos, e as mistas, por sua vez, as- sociam uma restrição mecânica ao bolo alimentar a uma má absorção intestinal (SOUSA, 2013). Atualmente as duas técnicas mais utilizadas são Sleeve e Bypass gástrico (Fig. 9). A técnica de Sleeve ou manga é o método que retira parte do estômago sem alterar o intestino. Comumente é recomendada para pacientes que apresentem um quadro menos grave de obesidade. O outro método é chamado de bypass gás- trico (gastroplastia com desvio intestinal em “Y de Roux”. Ele representa 75% das cirurgias realizadas no Brasil, sendo mais praticado no sistema público. Nesse caso, o estômago é reduzido com cortes ou grampos e é feita uma alteração no intestino para reconectá-lo à parte do estômago que irá permanecer funcional. A costura do in- testino que foi desviado fica com formato parecido com a letra Y, daí a origem do nome. Roux é o sobrenome do cirurgião que criou a técnica (SBCBM, 2017). A técnica de bypass gástrico é a técnica que foi mais bem estudada e que há mais tempo é realizada. Consiste na redução do tamanho do estômago, que terá um volume de 30 a 50 ml e será ligado a um segmento do intestino delgado. A perda de peso é bastante sig- nificativa (de 70% a 80% do peso inicial) e rápida, por- que é um procedimento restritivo, ou seja, que limita a quantidade de alimentos que são ingeridos e também um procedimento disabsortivo, porque uma boa parte do intestino não receberá os sucos digestivos e por isso não participará da absorção dos alimentos. A cirurgia aumenta ainda a produção do hormônio da saciedade, o GLP-1, o que diminui a vontade de comer, mas a re- dução da capacidade gástrica é a principal responsável pelo emagrecimento. É bastante efetiva no controle das comorbidades, especialmente no controle do diabetes. Nos casos de pacientes com doença do refluxo gastro- esofágico de difícil controle é a técnica de escolha (FU- JIOKA, 2005; SBCBM, 2017). Figura 9 - Técnicas de cirurgia bariátrica mais realizadas. Adaptado de SBCBM, 2017. MONOG R A F I A A M I N N U | 2 8 Dificuldade de absorção de nutrientes O aumento crescente no número de cirurgias bariátricas realizadas em todo o mundo, intensificou a preocupação sobre os seus efeitos a longo prazo, princi- palmente em relação às alterações dietéticas e nutricio- nais decorrentes. Isto porque a base para esta redução e manutenção de peso é a restrição da ingestão alimentar e/ou má absorção de nutrientes, que pode proporcionar várias deficiências nutricionais, incluindo anemia, perda de massa óssea, desnutrição proteica, neuropatias peri- férica, danos visuais, encefalopatia de Wernicke e mal- formação fetal (BORDALO, MOURÃO, BRESSAN, 2011). Tais alterações são comumente não diagnosti- cadas e, portanto, não tratadas, podendo assim provocar consequências adversas à saúde e comprometendo a qualidade de vida desses pacientes. O perfil de vitami- nas e minerais depende da dieta, tabagismo, idade, sexo, dentre outros fatores. Muitos indivíduos obesos apre- sentam baixas concentrações de vitamina B6, vitamina C, 25 hidroxivitamina D e vitamina E antes mesmo da re- alização de cirurgias bariátricas. A associação entre bai- xas concentrações de micronutrientes no pré-operatório juntamente com as alterações anatômicas e fisiológicas proporcionadas pelas técnicas cirúrgicas pode tornar o paciente muito vulnerável a desenvolver deficiências grave de vitaminas e minerais (BORDALO, MOURÃO, BRESSAN, 2011). A adequação de micronutrientes é importan- te não só para a manutenção da saúde, mas também para obter o máximo sucesso na manutenção e perda de peso em longo prazo. Para isso é necessário o co- nhecimento sobre as principais deficiências nutricionais presentes nestes pacientes para que se possam desen- volver protocolos de intervenção clínica e nutricional. Do ponto de vista nutricional, os pacientes submetidos à ci- rurgia bariátrica deverão ser acompanhados pelo resto da vida, com o objetivo de receberem orientações espe- cíficas para elaboração de uma dieta qualitativamente adequada (AILLS L, 2008). Quanto mais disabsortiva for a cirurgia, maior a chance de complicações nutricionais. Reposições vita- mínicas são feitas após a cirurgia e mantidas por tempo indeterminado. As deficiências nutricionais após cirur- gia bariátrica ocorrem basicamente por: restrição da in- gestão alimentar e/ou redução das áreas de absorção dos nutrientes. Além disso, a diminuição no tempo de trânsito gastrointestinal também pode resultar em má absorção de vários micronutrientes relacionados não só à exclusão do duodeno e jejuno como também ao contato limitado do alimento com a borda em escova. A presença de intolerância alimentar e a não utilização de polivitamínicos/minerais também contribuem nesse processo (BORDALO, MOURÃO, BRESSAN, 2011). A deficiência de vitamina B12 é uma das defici- ências mais frequentes observadas após o bypass gás- trico e pode ocorrer principalmente devido a diminuição do fator intrínseco, produzido pelas células parietais, necessário para absorção dessa vitamina. Se a vitami- na B12 não for suplementada, 30% dos pacientes não conseguirão manter os níveis normais de B12 plasmá- tica. Alguns pacientes (até 10%) não respondem a altas doses de vitamina B12 sublingual ou oral e necessitam de injeções intramusculares mensais de vitamina B12 (FUJIOKA, 2005). A digestão de lipídios após o bypass gástrico ocorre de forma mais lenta devido à ausência de contato das gorduras com o duodeno o que prejudica a atuação da colecistoquinina (CCK), hormônio intestinal neces- sário para a liberação das lipases biliares e pancreáti- cas. Assim há produção limitada de enzimas lipolíticas e reduzida formação de micelas que pode resultar em esteatorréia e deficiência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). Ao contrário das deficiências de vitaminas hi- drossolúveis (B12, B9, B6, B1, Vit C) que se manifestam rapidamente após a cirurgia, as deficiências de vitami- nas lipossolúveis se desenvolvem de forma mais lenta de acordo com a absorção progressiva de gorduras. Além das deficiências vitamínicas, também podem ocor- rer deficiências de minerais, como o ferro, selênio, zinco e cobre (XANTHAKOS, INGE, 2006). Em geral, as vitaminas A, D, E e K, serão defi- cientes em dois terços desses pacientes em quatro anos após a cirurgia. Até 50% terão hipocalcemia e todos es- ses pacientes com baixos níveis de vitamina D apresen- tarão hiperparatireoidismo secundário. Manifestações de todas as diferentes vitaminas lipossolúveis podem ser vistas, variando de erupções cutâneas incomuns, osteomalácia e contusões fáceis. Outros problemas as- sociados a esse tipo de procedimento incluem queda de cabelo grave, doença hepática (geralmente transitória), doença renal e odores corporais incomuns (FUJIOKA, 2005; SLATER et al., 2004). A deficiência de proteína é a mais comumen- te relatada entre os macronutrientes. É principalmente observada após as técnicas cirúrgicas disabsortivas ou mistas. No entanto, tal deficiência não ocorre somente MONOG R A F I A A M I N N U | 2 9 devido ao componente mal-absortivo destas técnicascirúrgicas. Pode estar associada também a outros com- ponentes que levam a diminuição da ingestão alimentar como a anorexia, vômitos persistentes, diarreia, intole- rância alimentar e etilismo ou à reduzida capacidade in- dividual absortiva e adaptativa. A desnutrição proteica representa uma grave complicação metabólica observa- da principalmente no pós-operatório tardio de cirurgia bariátrica. É caracterizada pela presença de hipoalbumi- nemia, anemia, edema, astenia e alopecia (AILLS, et al., 2008). Doenças relacionadas à bariátrica O acompanhamento do paciente bariátrico pode ser convenientemente dividido em duas áreas: as questões de complicações cirúrgicas e perda de peso durante o primeiro ano e as questões nutricionais e me- tabólicas que surgem após o primeiro ano (HSU, et al., 1998). De acordo com estudo feito por FUJIOKA, em 18 a 24 meses após a cirurgia bariátrica, quase todos os pa- cientes declinaram a perda de peso e por consequência mantiveram ou passaram pelo período de reganho de peso (FUJIOKA, 2005). Com o objetivo de verificar a presença de intole- rância alimentar em pacientes submetidos à cirurgia ba- riátrica, foi realizado um estudo retrospectivo por QUA- DROS et al., com 165 pacientes do serviço de nutrição do Nuctrom. Foi relatada a presença de intolerância alimen- tar por 46,67% dos pacientes, sendo que esta ocorreu principalmente no primeiro ano de pós-operatório. Con- forme demonstrado no gráfico 5, a carne e o arroz foram os alimentos menos tolerados durante todo o período de pós-operatório. A dificuldade dos pacientes em ingerir carne, ou seja, proteína, pode dificultar a manutenção da massa magra. Os sintomas mais relatados foram: vômito (7,88%), síndrome de dumping (4,85%), diarreia (4,24%) e obstipação (2,42%). Não foi encontrada correlação en- tre a presença destes sintomas e a de acompanhamento nutricional (p < 0,05), entretanto, deve-se considerar a possibilidade de deficiências nutricionais decorrentes da intolerância alimentar e/ou dos sintomas relatados, caso não seja realizado um acompanhamento nutricio- nal adequado (QUADROS, et al.,2007). Gráfico 5 - Prevalência dos pacientes com intolerância alimentar de acordo com o tempo de pós-operatório e alimentos relatados. A carne foi o alimento menos tolerado pelos pacientes pós-bariátricos. Adaptado de QUADROS et al, 2007. MONOG R A F I A A M I N N U | 30 O vômito quase sempre ocorre durante os pri- meiros meses após a cirurgia e é frequentemente des- crito como “expelindo alimentos que estão presos”. Ge- ralmente acontece de uma a três vezes por semana e geralmente é devido a comer demais ou não mastigar adequadamente os alimentos. O vômito é bem tolerado pela maioria dos pacientes, mas se o vômito se torna mais frequente, ocorrem baixos níveis de potássio e/ou baixos níveis de magnésio, exigindo substituição oral. Os pacientes precisam se ajustar à bolsa gástrica muito menor que agora recebe comida do esôfago. A cirurgia bariátrica diminui a capacidade do estômago de que- brar os alimentos em pequenas partículas. (FUJIOKA, 2005). Um problema que frequentemente pode ocor- rer em pacientes pós-bariátricos é a desnutrição protei- ca, e caso ocorra é necessário observar a ingestão total de alimentos do paciente e avaliar se o paciente está atendendo às suas necessidades calóricas e proteicas. Os suplementos de proteína e aminoácidos são muito úteis, sendo ideal ingerir suplementos ricos em aminoá- cidos e com baixo teor de carboidratos (FUJIOKA, 2005). Perda de massa magra em bariátricos A perda de músculo esquelético em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica é uma consistente ob- servação. O músculo esquelético contém a maior con- centração de proteínas do corpo e perda de músculo esquelético tem implicações importantes para a saúde. O nível de proteína muscular requer um equilíbrio en- tre as taxas de síntese e degradação de proteínas. As evidências atuais sugerem que a taxa reduzida de sín- tese proteica está relacionada à perda de músculo após bypass gástrico. Isso não é surpreendente, devido a uma dieta hipocalórica pós-cirúrgico e, ao contrário de outros macronutrientes, proteínas e aminoácidos não são ar- mazenados no organismo. Além disso, com o tamanho reduzido do estômago, produzindo uma quantidade me- nor de ácido clorídrico, o processo de desnaturação pro- teica fica muito comprometido (KATSANOS, MADURA, ROUST, 2015). A perda de tecido corporal magro após cirur- gia bariátrica é uma preocupação clínica que recebeu atenção apenas recentemente. Manter a massa magra enquanto diminui o tecido adiposo nos meses seguintes à cirurgia é particularmente importante para o pacien- te que anseia em alcançar resultados bem-sucedidos a longo prazo. Também é importante observar que a maio- ria dos pacientes submetidos à intervenção de bypass gástrico tem entre 40 e 50 anos, um período na vida que coincide com o início de perda muscular acelerada as- sociada à idade (KATSANOS, MADURA, ROUST, 2015). A ingestão adequada de proteínas é uma reco- mendação comum para pacientes submetidos ao des- vio gástrico. Contudo, a diminuição da massa corporal magra em pacientes submetidos ao bypass gástrico é observada apesar do aconselhamento alimentar para consumir quantidades adequadas de proteína. A inges- tão de proteínas se torna particularmente importante em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica, ao considerar que nesses pacientes, as concentrações de aminoáci- dos plasmáticos diminuem após o desvio gástrico (TAM- BOLI, 2010). Quando o déficit proteico ocorre na presença de uma ingestão excessiva de calorias na forma de car- boidratos, a hiperinsulinemia inibe a degradação de te- cido muscular e de tecido adiposo. Se os hormônios cor- porais não se adaptarem à reserva proteica, há redução na síntese de albumina e imunidade corporal. Quando não diagnosticada, pode resultar em edema associado à desnutrição proteica caracterizada pela perda de massa magra, porém com inadequada perda de peso em fun- ção do acúmulo de líquido extracelular. Embora a baixa ingestão proteica possa se ajustar ao balanço nitrogena- do negativo, quando essa baixa ingestão é prolongada a deficiência torna-se inevitável sendo caracterizada pela redução de proteínas hepáticas e sintomas caracterís- ticos como atrofia muscular, astenia e alopecia. Além disso, a desnutrição enérgico-proteica é comumente as- sociada à presença de anemia ferropriva, deficiência de vitamina B12, ácido fólico e cobre; e a deficiência protei- ca associa-se à deficiência de zinco, tiamina e vitamina B6 (BORDALO, MOURÃO, BRESSAN, 2011). Apesar da ênfase no aumento do consumo de proteínas, a ingestão recomendada de proteína não pode ser atendida por pacientes com até um ano após o bypass gástrico e uma grande quantidade de tecido corporal magro é perdida. Como a quebra de proteínas musculares diminui após o bypass gástrico, abordagens que efetivamente estimulam a síntese de proteínas nos músculos são de fundamental importância para manter o tecido muscular magro do corpo em pacientes bari- átricos. Após cirurgia, a diminuição nas concentrações plasmáticas de aminoácidos é observada especifica- mente no pool de aminoácidos essenciais. Além disso, a absorção de aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, MONOG R A F I A A M I N N U | 31 isoleucina, valina) aparece reduzida após procedimen- tos de bypass gástrico (KATSANOS, MADURA, ROUST, 2015). A mudança dos hábitos alimentares com au- mento da ingestão de aminoácidos essenciais fornece uma abordagem que pode potencialmente impedir a perda de massa magra corporal e, finalmente, alcan- çar um nível de saúde mais sustentado em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Pacientes com bypass gástrico perdem em média 17% de tecido magro dos membros durante o ano seguinte ao procedimento. Atu- almente, não há abordagens eficazes para evitar a perda de massa magra após o desvio gástrico. Em pacientes que apresentaram
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