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AULA 2 DISCIPLINA: RETENÇÃO DE PESSOAS Prof. Dori Luiz Tibre Santos 02 CONVERSA INICIAL Na aula anterior, voltamos rapidamente no tempo, reconstruindo três eras importantes no cenário mundial e conhecendo suas mudanças e transformações. Essas eras estudadas são a Era da Industrialização Clássica, a Era Industrial Neoclássica e a Era da Informação. Vale lembrar que estamos construindo uma trajetória a partir do que chamamos Era do Conhecimento, contextualizando e aprofundando o tema de forma a embasá-lo até chegarmos à Retenção de Pessoas. Essa construção é importante para que consigamos entender por que, nos dias de hoje, fala-se tanto em Retenção de Pessoas (ou de Talentos), mas não se discute como se chega a essa retenção propriamente dita. Cabe à organização ter não só um departamento de Gestão de Pessoas, mas, principalmente, uma mentalidade e uma atitude de Gestão. Isso porque a mudança de nome de um departamento, ao longo da história, por si só não define as atitudes, os comportamentos e a competência de gerir uma organização. CONTEXTUALIZANDO Retomamos agora a nossa questão norteadora, elaborada na aula anterior: afinal, como reter uma pessoa em uma empresa? Como dissemos, algumas empresas ainda estão com um pensamento do século passado: apenas mudaram o nome do antigo departamento de RH (Recursos Humanos) para Gestão de Pessoas (ou Gestão de Gente). Como discutimos anteriormente, a Gestão de Pessoas é mais do que uma entidade física ou um departamento: trata-se de uma filosofia também. Para dar continuidade a essa reflexão, precisamos dissertar um pouco mais sobre as atividades relativas à Gestão de Pessoas. Essa é uma área que abrange um amplo leque de atividades, como recrutamento de pessoal, descrição de cargos e competências, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, políticas de remuneração, saúde do trabalhador etc. TEMA 1 – AS ATIVIDADES DE GESTÃO DE PESSOAS Para facilitar a classificação, essas atividades podem ser agrupadas em certo número de categorias amplas, muitas vezes designadas sistemas. Como, porém, essas atividades estão intimamente relacionadas entre si, influenciando- 03 se reciprocamente, fica difícil estabelecer um sistema de classificação capaz de abranger todas as atividades, de forma que nenhuma seja excluída. Vejamos o quadro abaixo: Quadro 1 – Classificação das atividades de gestão de pessoas Sistemas de RH Atividades Suprimento ou Agregação • Identificação das necessidades de pessoal • Pesquisa de mercado de recursos humanos • Recrutamento • Seleção Aplicação • Análise e descrição de cargos e competências • Planejamento e alocação interna de recursos humanos Compensação ou Manutenção • Salários • Benefícios • Carreiras • Higiene e segurança no trabalho • Relações com sindicatos Desenvolvimento ou Capacitação • Treinamento e desenvolvimento de pessoal • Desenvolvimento e mudança organizacional Controle ou Monitoração • Avaliação de desempenho • Banco de dados • Sistemas de informação gerenciais • Auditoria de recursos humanos Fonte: Gil, 2014. Os sistemas apresentados no quadro anterior são bastante amplos, de forma que qualquer um deles envolve grande número de atividades. Assim, o sistema de suprimento refere-se a todas as atividades realizadas com a finalidade de incluir novas pessoas na empresa. O sistema de aplicação envolve as atividades relacionadas ao desenho das atividades que as pessoas irão realizar na empresa, bem como a orientação e o acompanhamento de seu desempenho. O sistema de capacitação trata as atividades destinadas a capacitar e desenvolver profissionalmente as pessoas que atuam na organização. O sistema de manutenção abrange todas as atividades realizadas com a finalidade de criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para a atuação das pessoas. Por fim, o sistema de controle refere-se às atividades relacionadas ao acompanhamento e controle das pessoas e à verificação dos resultados de seu trabalho. 04 TEMA 2 – E A GESTÃO? Como exposto no início desta aula, a construção lógica de um departamento que venha a gerir pessoas terá que, salvo pequenas mudanças, cumprir as categorias desenhadas. Então, teoricamente, se uma empresa conseguir cumprir todas essas categorias contidas no sistema de RH (ou de Gestão de Pessoas), conseguirá ter o empenho máximo de seus colaboradores e a retenção dos mesmos ocorrerá naturalmente? Bem, sim e não. Para atender a essas categorias, precisamos nos atentar às entrelinhas. A adoção deste ou daquele processo simples e puramente não significa ainda o sucesso em uma Gestão de Pessoas. É necessário um pouco mais. Na organização atual, as funções estreitamente definidas devem ceder lugar a uma série contínua de processos que aborde a maneira como as pessoas ingressam na organização, como evoluem dentro dela, como seu desempenho pode ser maximizado e, por fim, como deixam a organização. Sob esse novo paradigma, a ação de RH deve ser vista não a partir da perspectiva do profissional dessa área, mas partindo das perspectivas dos empregados e dos clientes: do que os empregados necessitam para ajudá-los a se tornarem ativos organizacionais mais produtivos e valiosos? Do que os clientes internos, geralmente gerentes e supervisores de linha, necessitam para ajudá-los a liderar e utilizar esses importantes ativos humanos com mais eficácia? E o inverso: o que os colaboradores podem fazer para também se tornarem mais produtivos e valiosos? Flannery, Hofrichter e Platten (1997), já no fim dos anos 1990, alertavam que a estrutura de recursos humanos departamentalizada e altamente voltada para as funções deveria dar lugar a uma organização menor, mais enxuta. Os processos de recursos humanos deveriam ser deslocados das unidades administrativas centralizadas para integrar-se às operações de negócios mais amplas. Gerentes de linha deveriam (e devem!) assumir muitas das atividades até então desempenhadas pelo departamento de recursos humanos. TEMA 3 – OS PAPÉIS DE RH NA PERSPECTIVA DA GESTÃO DE PESSOAS Com todas essas mudanças e transformações no mundo todo, a área de RH passou (e ainda passa!) por profundas mudanças. E, como você já deve ter percebido, nem poderia ser diferente. 05 Na verdade, os papéis assumidos pelos profissionais de RH são múltiplos e principalmente estratégicos. Vejamos o quadro a seguir: Quadro 2 – Papéis de RH Papel de RH Resultado Característica principal Atividades Administração de estratégias de Recursos Humanos Execução da estratégia Parceiro estratégico para ajudar a alcançar objetivos organizacionais Ajuste das estratégias de RH à estratégia empresarial: diagnóstico organizacional para detectar forças e fraquezas organizacionais Administração da infraestrutura da empresa Construção de uma infraestrutura eficiente Especialista administrativo para reduzir custos e aumentar valor Reengenharia dos processos da organização: serviços em comum para melhoria contínua Administração da contribuição dos funcionários Aumento do envolvimento e da capacidade dos funcionários Defensor dos funcionários para treinar e incentivar as pessoas Ouvir e responder aos funcionários: prover recursos aos funcionários para incentivar contribuições Administração da transformação e da mudança Criação de uma organização renovada Agente de mudança e inovação para melhorar a capacidade de mudar Gerir a transformação e a mudança: assegurar capacidade para mudança e identificação e solução de problemas Fonte: Chiavenato, 2004. O que nos mostra o quadro anterior? A necessidade de uma constante atualização da prestação do serviço do RH para a organização. Nunca antesna história da administração moderna viu-se tamanha e contínua mudança do papel do RH: ele torna-se estratégico. Até porque, como prega Gil (2014), existem princípios universais que dever ser reafirmados: • A produção e distribuição de bens e/ou serviços requer a administração da aplicação de recursos escassos; • A redução dos níveis hierárquicos, a delegação de responsabilidades e a reestruturação em torno de processos não eliminam a necessidade de administração e de administradores; • Até nos grupos de trabalhos autônomos acaba por surgir uma hierarquia, em que seus membros permitem a um ou mais entre eles a “administração de tarefas” e a outros a “administração das relações. TEMA 4 – OS DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS O que se pode afirmar com propriedade é que o RH vem sendo cada vez mais desafiado a superar a um número crescente de problemas decorrentes da transição pela qual passa o mundo contemporâneo, como vimos na aula anterior. 06 Gil (2014) afirma que essa transição corresponde ao declínio da economia de base industrial e ao surgimento de uma nova ordem econômica caracterizada por um novo recurso básico: o conhecimento. Dessa forma, a Gestão de Pessoas, mais do que qualquer outro ramo da Administração, vem sofrendo esses desafios, sobretudo porque sua matéria-prima é exatamente o conhecimento. Todas as grandes transições verificadas ao longo da história da humanidade geraram características dramáticas. A Revolução Industrial, por exemplo, reestruturou a sociedade em trabalhadores e empresários (dono do capital), mudou o local de trabalho das pessoas e seu modo de trabalhar, transformou os sistemas educacionais e criou condições para o aparecimento de filosofias revolucionárias como o socialismo e o comunismo. A nova transição, pela qual passamos atualmente, apresenta sinais bastante significativo, sendo o mais evidente o desemprego. Como aponta Ulrich (2000, p. 39), “a grande tarefa que está sendo proposta aos gestores de pessoas neste novo milênio é a de superar os grandes desafios que envolvem a atual transição. O grande desafio é o da mudança e mais mudança”. Ainda de acordo com o mesmo autor (2000), “as pessoas nas organizações devem ser capazes de aprender com rapidez e continuidade, de inovar incessantemente e de assumir novos imperativos estratégicos com maior velocidade e naturalidade”. Vejamos o quadro a seguir Quadro 3 – Desafios da Gestão dos Recursos Humanos AMBIENTAIS ORGANIZACIONAIS INDIVIDUAIS Revolução da informação e da comunicação Avanços tecnológicos Identificação com a empresa Globalização Competitividade Conduta ética Participação do Estado Integração dos empregados à cadeia de valor Produtividade Ampliação do setor de Serviços Descentralização Segurança no emprego Diversificação da força de trabalho Downsizing Empowerment Alteração da jornada de trabalho Autogerenciamento de equipes Qualidade de vida Ampliação do nível de exigência do mercado Administração virtual Manutenção de talentos Responsabilidade social Cultura organizacional Fonte: Elaborado com base em Gómez-Mejia, Balkin e Cardy, 1998. É importante ressaltar, a partir da análise do quadro anterior, que os desafios ambientais são forças externas às organizações. Elas influenciam 07 significativamente seu desempenho, mas estão em boa parte fora de seu controle. Cabe aos gestores estarem permanentemente atentos ao ambiente externo visando aproveitar suas oportunidades e superar suas ameaças. De acordo com Gómez-Mejia et al (1998, p. 7): Os desafios organizacionais decorrem de problemas internos das organizações. Eles podem em boa parte ser considerados subprodutos das forças ambientais, pois nenhuma empresa opera no vácuo. As organizações, no entanto, costumam apresentar melhores condições para enfrentar esses desafios do que os determinados pelo ambiente. Gestores competentes detectam problemas dessa natureza e são capazes de lidar adequadamente com eles antes que se tornem maiores. Ainda em Gomez-Mejia et al (1998, p. 7) postula-se que à medida que estejam bem informados acerca das principais questões de recursos humanos e dos desafios organizacionais, esses gestores conseguem ser proativos, ou seja, capazes de tomar as providências necessárias para que o problema seja enfrentado antes que fuja do controle da organização. Por fim, os desafios individuais referem-se às posturas adotadas pelas empresas em relação a seus empregados. Estes estão diretamente relacionados aos desafios organizacionais, constituindo, muitas vezes, reflexos do que ocorre com a empresa inteira. A maneira como a empresa trata seus empregados pode, contudo, afetar o impacto dos desafios organizacionais. Segundo autores como Gil (2014), Chiavenato (2004) e Vergara (2016), os desafios individuais, como empowerment e segurança no emprego, são os mais importantes para que uma empresa possa ser identificada no estágio de Gestão de Pessoas. TEMA 5 – A EVOLUÇÃO Conforme diz Marras (2002), “a American Management Association (AMA) fez uma pesquisa na qual 84% dos executivos entrevistados disseram que realizam pelo menos uma mudança em suas empresas. O mais interessante nesta pesquisa é a falta de gerenciamento destas mudanças por meio do RH”. As principais razões pelas quais os esforços de mudanças podem falhar relacionam- se a questões de RH. Algumas delas são: • Não estabelecer noção de urgência. • Não criar coalizão poderosa para orientar o esforço. • Falta de líderes que tenham visão. • Falta de líderes que comuniquem a visão. 08 • Não remover obstáculos para a nova visão. • Não planejar sistematicamente nem conseguir “vitórias” em curto prazo. • “Cantar” vitória antes do tempo. • Não ancorar mudanças na cultura corporativa. No que tange a essa disciplina de Retenção de Pessoas (leia-se também Retenção de Talentos), é preciso refletir que, à medida que se reconheça ser o principal capital da empresa o intelectual, é razoável admitir que a organização estará cada vez mais sujeita a perder seus empregados para outras empresas. As empresas que empregam alta tecnologia são particularmente sensíveis a esse problema (apesar de não ser um problema restrito apenas a esse tipo de organização). Sobre esse tema, Gil (2014) é enfático: A evasão de talentos pode afetar negativamente os processos de inovação e provocar atrasos no lançamento de novos produtos ou na prestação de serviços. Daí por que as empresas são desafiadas a desenvolver mecanismos capazes de amenizar essas defecções. Fica claro, porém, que a evasão de talentos não poderá ser evitada apenas mediante compensação salarial ou oferecimento de benefícios indiretos. Será necessário criar condições para que os empregados desejem realmente permanecer na empresa, sintam a contribuição significativa para seu desenvolvimento profissional e pessoal. FINALIZANDO Estamos chegando ao fim da aula 2, mas não esgotamos o assunto! Há muito ainda a ser pesquisado, interpretado e refletido quando abordamos a Gestão de Pessoas. Para aquele que ainda não tenha entendido o porquê destas discussões, é importante enfatizar que estamos fazendo uma construção temporal. Estamos retomando algumas discussões sobre a Gestão de Pessoas e sua evolução a partir da Revolução Industrial. Por que estamos fazendo isso? Para entendermos o processo de Retenção de Pessoas! Estamos fazendo uma análise do movimento que culminou no que chamamos de Gestão de Pessoas, para entendermos as tarefas e atribuições desse departamento e dessa filosofia, para que possamos analisar, sob o ponto de vista da organização, o que se pode fazer para reter pessoas. Nos próximos temas, esmiuçaremos mais essas discussões. Também teremos que analisar o ponto de vista do empregado, realizando assim uma construção dialética, afinal, pensa-se muito no que as empresasestão fazendo 09 para reter seus funcionários, mas também temos que pensar o que os funcionários estão fazendo para serem reconhecidos e retidos. Chegaremos a essas discussões no tempo devido. Na próxima aula, abordaremos os temas habilidades, competências e talentos. Afinal, que categorias são essas? E qual sua significância na discussão sobre a Retenção de Pessoas? Até a próxima! 010 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. GIL, A. C. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014. KIERNAN, M. 11 mandamentos da administração do século XXI: o que as empresas de ponta estão fazendo para sobreviver e prosperar no turbulento mundo dos negócios da atualidade. São Paulo: Makron Books, 1998. MARRAS. J. P. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 5 ed. São Paulo: Futura, 2002. MORAN, H. Desenvolvendo organizações globais. São Paulo: Futura, 1996. ULRICH, D. Os campeões de recursos humanos: inovando para obter os melhores resultados. São Paulo: Futura, 2000. VERGARA, S. Gestão de Pessoas. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2016.