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26 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II Unidade II 3 EVOLUÇÃO DA HOSPITALIDADE Neste momento será apresentado o desenvolvimento da hospitalidade ao longo da história. Para traçar esse caminho, optou-se por demonstrar os principais fatos que contribuíram para evolução desse setor de acordo com o período histórico correspondente. Apesar da ubiquidade da hospitalidade doméstica permear toda a história do desenvolvimento dessa área, o foco principal será mostrar a evolução da hospitalidade comercial ao longo dos tempos, ressaltando os principais fatos que caracterizaram o progresso do setor. Enaltecendo o fato da hospitalidade se apresentar de diversas maneiras no decorrer da História, Chon e Sparrowe (2003, p. 3) apontam que: A ideia de hospitalidade, data, é, claro, de épocas muito anteriores, desde as evidências históricas encontradas nos primeiros centros da civilização, como a Mesopotâmia (atual Iraque), às referências bíblicas à tradição de lavar os pés dos hóspedes, até os posteriores registros dos donos de hospedaria inglesas que, com uma caneca de cerveja, recebiam viajantes cansados. O conceito de hospitalidade, no entanto, permaneceu o mesmo ao longo da história: satisfazer e servir os hóspedes. 3.1 Os primórdios da civilização A origem da hospitalidade está ligada à própria evolução do ser humano e da sua capacidade de comunicação com os outros. Desde o princípio da humanidade, o homem cultivou o ato de viajar. Os primeiros registros de viagens foram notados em paredes de cavernas há cerca de 13 mil anos. De acordo com Peyer (1998, p. 437): Ao que tudo indica, nas culturas primitivas, os grupos sociais que viviam sem contato com o mundo exterior e que hostilizavam – ou matavam – os estrangeiros desenvolveram progressivamente, tanto por motivos mágicos e religiosos como utilitários, uma primeira forma de hospitalidade: a acolhida amigável. Assim, como será visto ao longo de toda história, inclusive nos primórdios da hospitalidade brasileira, os viajantes eram recebidos com distinção não somente por motivos religiosos, que envolvia os princípios de caridade e acolhimento ao próximo, mas por essa interação abrir a possibilidade de conhecer outros povos e culturas. 27 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA O ato de oferecer hospitalidade e proteger o viajante desenrolou-se desde a Pré-História, com variações entre os diversos povos da Antiguidade. Peyer (1998, p. 437) expõe: Civilizações que ainda ignoravam o uso do dinheiro, ou que só lhe conheciam as formas primitivas, dão ao visitante abrigo, proteção e alimentação por um tempo limitado, em geral três dias. Essa hospitalidade criava uma ligação estreita entre hospedeiro e visitante. Se esta obrigava o anfitrião a tomar partido do hóspede e a abraçar sua causa, qualquer que fosse ela, tornava-o também o representando de seu convidado face ao mundo exterior, assim como seu herdeiro caso ele viesse a falecer sob seu teto. Posteriormente, a difusão do uso do dinheiro nas transações comerciais, o desenvolvimento da escrita e a invenção da roda permitiram, na Antiguidade, que o número de viagens se ampliassem. Por decorrência, há a criação dos empreendimentos voltados para hospitalidade com objetivo de oferecer abrigo, alimentos e bebidas aos viajantes. As principais motivações de viagens do ser humano em seus primórdios eram: • encontrar alimentos; • viajar para encontrar abrigo; • fugir de climas inóspitos e tribos hostis; • participar de celebrações religiosas. A partir do momento que o homem se fixou nas cidades e desenvolveu a agricultura e a pecuária, houve a necessidade de comercializar os excedentes da produção. Dessa maneira, abriu-se a oportunidade de serem construídos albergues e tabernas ao longo das rotas comerciais. Dá-se, portanto, o surgimento da indústria da hospitalidade, diretamente interligado à necessidade de se viajar para realizar negócios. 3.2 Hospitalidade na Antiguidade O período da Antiguidade compreende desde o surgimento da escrita até o século V d.C., quando ocorreu a ruína do Império Romano do ocidente. Divide-se a Antiguidade em oriental (que inclui os povos egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e os persas) e a Antiguidade Clássica ou ocidental (que abrange os povos gregos e romanos). Os sumérios, um dos povos da Mesopotâmia, e os fenícios foram as civilizações que estabeleceram as primeiras rotas de comércio, introduziram a cunhagem de moedas e fizeram mapas, facilitando para as pessoas o ato de viajar. Sobre a importância desses povos para o desenvolvimento da hospitalidade, Chon e Sparrowe (2003, p. 3) apontam o seguinte fato: 28 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II Muito tempo atrás, por volta de 3000 a.C., os comerciantes sumérios que viajavam de uma região a outra do reino da Mesopotâmia, para vender grãos, necessitavam de abrigo, comida e bebida. Pessoas empreendedoras encontraram maneiras de satisfazer essas necessidades. Entre a ascensão e a queda de impérios na Mesopotâmia, na China, no Egito e, mais tarde, em outras partes do mundo, as rotas de comércio se expandiram e os estabelecimentos de hospedagem prosperaram. Os sumérios também cultivavam grãos que transformavam em bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja. Para o consumo da população e viajantes, eles construíram as tabernas, onde havia comida e bebida, e o convívio entre os pares. Essas tabernas foram algumas das primeiras empresas de hospitalidade comercial, que geralmente eram locais administrados por mulheres; entretanto, o público nesses estabelecimentos era, sobretudo, masculino. Observação A figura feminina exerceu papel fundamental para o desenvolvimento e produção da cerveja. As taberneiras eram responsáveis pela fabricação das cervejas consumidas em seus locais. Belchior e Poyares (1987, p. 14) enaltecem as qualidades hospitaleiras desses povos do Oriente Médio: Em nenhuma outra região do mundo o culto à hospitalidade superou o do Oriente Médio, pois abria àqueles a quem solicitavam invejável oportunidade de cumprir imperativo moral prescrito nos livros sagrados. Apesar da vida nômade de muitos povos, sempre havia uma tenda pronta a receber o estranho, sem que lhe perguntassem o nome. O hábito de acolher o estranho sem mesmo lhe perguntar o nome também se manteve na Grécia e em Roma, onde o viajante era recebido sem ressalvas nas casas desses povos. O Egito e a Grécia desempenharam um papel importante nos primórdios da hospitalidade comercial, pois tanto as pirâmides quanto os Jogos Olímpicos foram as principais atrações que catapultaram as viagens. Aqueles que visitavam esses locais tinham necessidade de encontrar lugares para comer, beber e dormir. Os primeiros Jogos Olímpicos ocorreram em 776 a.C. na cidade de Olímpia. Para sua realização, foram construídas diversas estruturas de hospedagem, alimentação e transporte ao longo do trajeto para atender aos participantes e espectadores do evento. As viagens realizadas para assistir os Jogos Olímpicos na Antiguidade estão entre as primeiras exercidas com o caráter de lazer. O ambiente e as atrações eram bem diferentes dos Jogos Olímpicos atuais, já que, de modo geral, ocorria um número menor de eventos esportivos. Somente os homens livres podiam competir. 29 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Os atletas ficavam alojados em um espaço conhecido por Leonidaion – nome proveniente de Leônidas, que era um dos patrocinadores do evento. Aqueles de maior posse e os membros das delegações oficiais construíam tendas e pavilhões para se protegerem. Por outro lado, os espectadores, que iam para somente assistiraos Jogos, dormiam em sua maioria a céu aberto. Havia vendedores de alimentos para comercializar seus produtos para o público. O programa de atrações dos Jogos era amplo e incluía cerimônias religiosas, discursos, banquetes e celebrações. 3.3 Hospitalidade entre os gregos Os gregos entendiam que a hospitalidade se revestia de uma forma pública (entre Estados) ou privada (entre particulares). O estrangeiro, independentemente de sua índole e ideias políticas, estava protegido por Zeus. Para os gregos, oferecer a hospitalidade significava uma questão de honra. O visitante devia ser bem recebido: primeiramente, lavando seus pés e proporcionando-lhe abrigo, depois ofertando alimento e bebida. O forasteiro, durante sua permanência, estava protegido por seu anfitrião. A transgressão dos direitos de hospitalidade era considerada um crime. É interessante ressaltar que no início da hospitalidade no Brasil observa-se que a mesma tradição hospitaleira grega e romana da lavagem dos pés dos visitantes ocorria com os que aqui chegavam, demonstrando humildade e subserviência ao hóspede. Existem relatos dos mesmos costumes no Oriente. Essa tradição de lava-pés é encontrada no depoimento de Oscar Canstatt, (1868) referindo-se à hospitalidade recebida em uma fazenda em 1868, nos Arredores de Itabira, Minas Gerais: Vieram-me à mente os costumes orientais quando, logo depois de me ter livrado do grosso da poeira, uma negra trouxe-me um banho para os pés, prestando-me ao mesmo tempo ao modo do país os seus serviços. Este ato faz parte da hospitalidade na maioria das casas brasileiras no campo [...]. As casas dos gregos eram concebidas para ter uma parte reservada aos estrangeiros, com entrada separada, característica que ilustra com clareza o caráter hospitaleiro dos habitantes das cidades gregas. Para o Estado grego, era vital que as cidades causassem uma boa impressão aos visitantes. Assim, com o intuito de facilitar a recepção e hospitalidade dos viajantes, eram designados cidadãos chamados proxenos, os quais tinham a responsabilidade de acolher e proteger os estrangeiros e também de orientá- los sobre a cidade que os recebia. As festas e banquetes eram momentos importantes para os gregos, pois podiam exercer, nessas ocasiões, a prática da comensalidade, que significava obedecer às regras associadas ao comportamento adequado em público e as boas maneiras que deveriam ser adotadas nos rituais dos banquetes. O exercício da comensalidade era uma forma de diferenciar o homem civilizado. Portanto, a hospitalidade ocupava lugar de destaque na hierarquia de valores desse povo, materializada, sobretudo, nos banquetes 30 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II e nos symposions, que eram festas dedicadas às conversas e discussões políticas e onde eram servidas bebidas para confraternização, mas sem exageros. Flandrin e Montanari (1998, p. 108) descrevem da seguinte maneira a importância da comensalidade e sociabilidade para o povo grego: No sistema de valores elaborado pelo mundo grego e romano, o primeiro elemento que distingue o homem civilizado das feras e dos bárbaros é a comensalidade: o homem civilizado come não somente (e menos) por fome, para satisfazer uma necessidade elementar do corpo, mas, também (e sobretudo) para transformar essa ocasião em um momento de sociabilidade [...]. Além da prática da comensalidade, os gregos valorizavam os tipos de alimentos consumidos. Em especial, o pão e o modo de cozinhar, que deveria estar relacionado com a dietética. Esses três princípios caracterizam o homem civilizado grego. Sobre a valorização dos alimentos pelos gregos, em especial o pão, Flandrin e Montanari (1998, p. 108) estabelecem: O pão – exemplo absoluto de artifício, de produto totalmente “cultural” em todas as fases de sua complexa preparação – que é o símbolo da civilização, da distinção entre o homem e o animal. O pão – e é preciso acrescentar a ele também o vinho e o óleo – é o sinal que distingue uma sociedade que não repousa sobre recursos “naturais”, mas que é capaz de fabricar, ela própria, seus recursos, de criar – com a agricultura e a criação de animais – suas próprias plantas e seus próprios animais. Castelli (2005, p. 270) traz uma observação sobre os rituais gregos que faziam parte da despedida do hóspede. Diz o autor: Por ocasião da despedida, o hóspede era contemplado com presente e, inclusive uma téssera era rompida em duas partes, ficando uma com o hospedeiro e outra com o hóspede, como um meio de se reconhecerem caso um dia se encontrassem novamente e, assim, renovar os laços de amizade e hospitalidade. Esse mesmo ritual foi também praticado pelos romanos. Observação A téssera hospitalis era uma peça de metal ou marfim que era dividida ao meio no ato da despedida e oferecida pelo anfitrião ao hóspede, cada um ficava com uma metade. Dessa maneira, mesmo depois de vários anos, um descendente desse hóspede poderia ser reconhecido e recebido pelo anfitrião (ou sua família) ao se juntar as partes da téssera. 31 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Os gregos viajavam por diferentes motivos. As viagens poderiam ter caráter religioso ou para tratar da saúde nas águas termais. Os representantes religiosos gregos como missionários, sacerdotes e peregrinos formavam uma grande parte do público viajante. Os locais de hospedagens eram primeiramente administrados por escravos que pertenciam aos templos ou locais sagrados. Com o passar do tempo, gradualmente os homens livres os substituíram, mas esse encargo tinha pouco prestígio social. Sobre as diferentes formas de hospedagem encontradas pelos viajantes, Peyer (1998, p. 438-439) destaca: Expandia-se em todo o mundo grego um tipo de serviço de hospedagem profissional, remunerada, com tabernas e locais em que se vendia carne assada. Esses hotéis ofereciam a sua clientela lugares onde dormir e estrebarias. Os autores Chon e Sparrowe (2003, p. 3) relatam a qualidade da hospedagem e alimentação oferecida nas hospedagens gregas: Os Lesches, lugares de encontros sociais da Grécia Antiga, tinham reputação de servir boa comida. Os hóspedes podiam escolher entre uma variedade de guloseimas, como queijo de cabra, pão de cevada, ervilhas, peixe, figos, carne de cordeiro, azeitonas e mel. O conceito de hospitalidade adotado na atualidade tem, pois, muito a ver com as ideias, crenças e os valores apregoados pelos cidadãos da Grécia antiga. Conforme coloca Castelli (2005, p. 33), as boas maneiras à mesa e saber conviver em público, tão enfatizados pelos gregos, passaram a fazer parte da educação de todos os povos, constituindo-se em pressupostos básicos da hospitalidade. 3.4 Hospitalidade entre os romanos Os romanos, por obra dos legisladores, tinham a obrigação de receber o estrangeiro e protegê-lo. As tradições de hospitalidade eram semelhantes aos gregos, seja para a hospitalidade privada, seja para a pública. O hóspede recebia o pão, o vinho e sal antes mesmo de banhar-se e de degustar o banquete. De acordo com Chon e Sparrowe (2003, p. 3), a sociedade romana teve uma influência singular na indústria da hospitalidade: Muitos de seus cidadãos eram suficientemente ricos para viajar por prazer, e as bem construídas estradas facilitavam o acesso para a maior parte do mundo conhecido. Conforme os soldados conquistavam novas áreas, os cidadãos romanos podiam visitar lugares exóticos com conforto. Os romanos das classes superiores viajavam por prazer para a Grécia e Egito. Usavam nesses deslocamentos guias de viagens, conhecidos como periegesis, que foram os antecessores dos atuais 32 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II guias turísticos. Eles traziam informações sobre as cidades a serem conhecidas, asobras de arte, os monumentos mais importantes e costumes da população. O Império Romano foi responsável por construir mais de 80 mil km de estradas em toda a Europa. Consequentemente, possibilitou um acesso muito mais simples para as diferentes áreas do seu território, tornando as viagens muito mais fáceis de serem realizadas. Com o auxílio de suas estradas, os romanos expandiram sua cultura para diversos locais. Também foram capazes de estabelecer leis que trouxeram a paz e a segurança para as pessoas viajarem. O desenvolvimento desses caminhos também propiciou o incremento da hospitalidade comercial. Devido à duração das viagens, que era geralmente extensa, surgiram múltiplos locais de parada que ofereciam alimentação, hospedagem, banhos e trato para os cavalos. Os principais hóspedes desses locais eram militares, comerciantes, peregrinos e viajantes. O intenso intercâmbio comercial e movimentações militares deram origem não apenas a um maior costume das viagens de lazer, como também às próprias palavras que passaram a designar os diversos locais que ofereciam hospitalidade. Conforme destacam Chon e Sparrowe (2003, p. 3): Na verdade, muito da terminologia relacionada à hospitalidade vem do latim. Hospe significa hóspede ou hospedeiro; hospitium significa acomodação de hóspede, hospedaria ou alojamento. Outras palavras relacionadas incluem “hospício”, “hostel”, “hospital” e “hotel”. A oferta de hospedagem, alimentos e bebidas ocorria em diferentes locais no Império Romano. Seguem algumas dessas designações. A caupona referia-se a um tipo de hospedaria dedicada à população de classe inferior e popular entre os viajantes com poucos recursos. Seu público frequentador incluía condutores de gado e prostitutas. Havia também cauponas para receber pessoas das classes mais altas. A mansio (plural mansione) era uma hospedagem oficial mantida pelo governo no percurso das estradas romanas. Era destinada para uso de oficiais militares e homens de negócios durante suas viagens ao redor do império. Ao longo do tempo, esses locais foram adaptados para acomodar os viajantes com recursos, e não necessariamente ligados ao governo, como os nobres. Algumas tabernas romanas não restringiam seus serviços a bebidas e refeições, incluindo o comércio e venda de frutas, pão, vinho, azeite, peixe, carne e especiarias. Em muitas das cidades romanas que tinham portos, esses locais também vendiam mercadorias importadas, joias e outros artigos de luxo. A expansão do Império levou a um aumento do número de tabernas, e esses estabelecimentos acabaram se tornando muito importantes para a economia das cidades romanas. 33 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Havia ainda as mutationes, que eram locais que ofereciam serviços direcionados apenas para o cuidado do transporte e o descanso e troca dos animais. Normalmente, não havia hospedagem e refeições. Já os stabulum eram locais que forneciam hospedagem e possuíam um estábulo para descanso e alimentação dos animais. Outros locais que forneciam hospedagem, bebida e alimentação eram os diversorium e as popinae. Esses estabelecimentos se proliferaram nas cidades e, progressivamente, nos pontos de parada onde ocorria a troca de cavalos e veículos ao longo das estradas. A alimentação oferecida nesses locais era simples e compunha-se normalmente de sopa de peixe e os onipresentes pão e vinho. Raramente aparecia a carne nas refeições ofertadas aos viajantes lá. As termas de água também figuravam entre os principais locais que ofereciam hospitalidade para os romanos. Não eram destinadas exclusivamente para banhos públicos, pois possuíam também salas para banhos a vapor, piscinas, salas para descanso e de massagens. Foram os romanos que criaram o hábito de frequentar locais para lazer como as praias. O papel dos meios de hospedagem romanos foi muito importante para evolução de sua sociedade, visto que muitas aldeias e cidades foram erguidas no entorno desses locais. É interessante perceber que a mesma forma de ocupação seria verificada no Brasil com diversas vilas e cidades surgindo a partir dos locais onde ficavam os ranchos de tropeiros. Entre os principais fatores que ilustram o progresso das viagens entre os romanos, temos: • O amplo domínio territorial estimulou o desenvolvimento e multiplicação do comércio, o que fez despontar uma classe média com condições para viajar. • A moeda romana era aceita em todos os locais no percurso das viagens, facilitando o intercâmbio monetário. • As estradas eram extensas e tinham boas condições. • A comunicação era simples, visto que o latim era uma das principais línguas faladas, juntamente com o grego, simplificando a comunicação durante toda a viagem. • Havia garantia de segurança nas estradas para o viajante. 3.5 Hospitalidade na Idade Média A Idade Média refere-se ao período da História que se apresenta desde a queda do Império Romano do ocidente, no século V, e se estende até o século XV. A partir do declínio do Império Romano, as estradas deixaram de ser seguras, tornando o ato de viajar mais arriscado, cuja situação se prolongou por vários anos. 34 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II A hospitalidade, nesse período, esteve extremamente ligada à religião. A partir da evolução do cristianismo, os monges e padres são os principais disseminadores da hospitalidade e seus fiéis são importantes para a continuidade das viagens, pois realizam as peregrinações aos monastérios. A hospitalidade monástica desempenhou um papel crucial para evolução da hospedagem e alimentação no período, visto que a recepção do viajante era feita muitas vezes dentro dos próprios conventos e mosteiros. A Igreja considerava a hospitalidade um ato de fé e caridade. Assim, ao abrigar os viajantes e acolhendo as diversas peregrinações, permitiu a perpetuação das tradições hospitaleiras. Apesar da insegurança, o movimento nas estradas era efetuado em especial pelo peregrino. As principais peregrinações que ocorriam no período eram para os seguintes locais: • Os cristãos dirigindo-se a Jerusalém. • Os peregrinos com destino a Roma. • Os peregrinos em busca do caminho para Santiago de Compostela. • Os muçulmanos em direção a Meca. Observação A origem da palavra romeiro vem das peregrinações religiosas com direção a Roma. Assim, o romeiro era aquele que ia em visita a Roma. Entre o século IV ao XI, a Igreja Católica Romana manteve a indústria da hospitalidade ativa por meio do estímulo às viagens dos peregrinos aos monastérios e catedrais da Europa. Estradas foram construídas e mantidas pelos monastérios locais e alojamentos foram erguidos no interior e nas proximidades das igrejas, que ofereciam um lugar para comer e dormir. Não havia cobrança por essas acomodações, apesar de se esperar em retorno que os viajantes fizessem uma contribuição para a igreja que os recepcionou. As viagens e o comércio aumentavam gradualmente na Europa. Os monastérios permaneceram como os principais estabelecimentos de hospedagem tanto para os que viajavam a negócios quanto para os que viajavam a lazer (CHON; SPARROWE, 2003). Saiba mais O livro O Nome da Rosa e sua adaptação cinematográfica com o mesmo título tratam do ambiente dos mosteiros na Idade Média. O NOME da Rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud. França, Itália, Alemanha: Warner Home Video, 1986. 131 minutos. ECO, H. O nome da rosa. Rio de Janeiro: Record, 2009. 35 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA No Oriente, por volta de 1200, estações de correios e postos de estadia para os viajantes foram criadas na China e Mongólia. Em 1282, na cidade de Florença, na Itália, um grupo de proprietários de hospedarias se uniram para criar uma associaçãocom o objetivo de transformar a hospitalidade em um negócio. A partir desse momento, a hospitalidade irá deixar de ter seu caráter altruísta para evoluir para a hospitalidade comercial oferecida nos diversos tipos de empreendimentos. Com a abertura de várias hospedarias na Idade Média, houve um estímulo para que em diversos países da Europa se desenvolvessem hospedagens de melhor qualidade. Essas hospedarias ofereciam, principalmente, serviços de alimentação, bebidas, acomodação e cuidados relativos ao transporte, como locais de descanso e alimentação para os animais. Peyer (1998, p. 437) destaca o seguinte sobre o desenvolvimento da hotelaria: A hotelaria – ou seja, o conjunto dos estabelecimentos sempre abertos aos estrangeiros ou à população local, aos quais oferecem, mediante pagamento, hospedagem e comida por um período determinado – só se desenvolveu de fato na Europa nos séculos XIII e XIV, a partir de diferentes formas bem mais antigas de hospitalidade. A origem das normas que atualmente ditam o funcionamento dos restaurantes e demais meios de hospitalidade se deu com a introdução das primeiras regulamentações para os proprietários e clientes das tabernas no Código de Hamurabi. Conforme relato de Chon e Sparrowe (2003, p. 3): Durante o governo de Hamurabi no Antigo Império Babilônico, de 1792 a 1750 a.C., ele desenvolveu o que foi considerado um sábio e justo “código de leis”. O código obrigava as proprietárias de tavernas a denunciar qualquer hóspede que planejasse um crime. O código também proibia adicionar água às bebidas ou enganar quanto à dose servida. A punição para esses “crimes” era morte por afogamento. As primeiras leis que regulamentavam os estabelecimentos de hospedagem foram fixadas em 1254 na França. Em 1407 foram criadas leis reguladoras para os empreendimentos de hospitalidade na França que obrigavam os hoteleiros e as casas privadas que alugavam quartos a manter registro de todas as pessoas que estavam alojadas. Essa medida foi tomada com o objetivo de aumentar a segurança para hóspedes e proprietários. No século XVI, na Inglaterra, foram definidas pelos proprietários de tabernas algumas regras de hospitalidade para os visitantes. Chon e Sparrowe (2003, p. 3) apresentam algumas dessas leis, peculiares a nossos olhos atualmente: • não era permitido mais de cinco pessoas na mesma cama; 36 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II • não era permitido deitar de botas na cama; • não era possível acolher nenhum amolador ou construtor de lâminas; • era proibida a presença de cachorros na cozinha; • tocadores de realejo tinham que dormir nos sanitários. Embora muitas dessas regras pareçam incoerentes, elas foram importantes para solidificar a expansão da indústria da hospitalidade. Analisar a evolução da hospitalidade ao longo da história permite conhecer suas raízes e como ocorreu seu desenvolvimento nas diferentes épocas. Sobre a relevância das tabernas nessa época, Peyer (1998, p. 441) coloca que: Soberanos, monastérios e nobres as criaram nas cidades, nos portos, nos locais de peregrinação, para vender vinho, cerveja e gêneros de primeira necessidade. Às vezes, essas tabernas ofereciam também pousada. Frequentemente ligadas a postos de arrecadação de impostos senhoriais, elas constituíam minúsculos mercados regulares sob um só teto. Os consideráveis ganhos que acarretavam para seus rendeiros faziam delas um direito senhorial cobiçado; ainda que frequentadas por camponeses, pequenos comerciantes, carreteiros etc., nem por isso deixaram de ser mal- afamadas, sendo absolutamente condenadas pelo clero e pela nobreza. Sucintamente, as principais razões que motivaram as viagens até o fim da Idade Média foram: • a busca de um lugar sagrado pelo peregrino; • o mercador ou comerciante em busca de prosperidade; • o explorador à procura de novos mundos e riquezas; • as peregrinações na esperança de uma cura para enfermidades; • os nobres percorrendo os domínios de suas terras. Lembrete A origem da indústria da hospitalidade está ligada às viagens para realizar negócios. 37 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA 3.6 Hospitalidade na Idade Moderna A Idade Moderna é o período da história que tem início em 1453 e perdura até o ano de 1789, data da Revolução Francesa. Dentro desse período da História, destacam-se alguns fatos como a expansão marítima europeia, a revolução comercial e o Renascimento. Na Inglaterra, em 1539, o rei inglês Henrique VIII decretou que as terras que pertenciam à Igreja precisariam ser doadas ou vendidas. Como consequência dessa determinação, houve o crescimento das hospedarias particulares, uma vez que a Igreja teve de abrir mão de suas propriedades. Ao fim da Idade Média, com o crescimento das cidades e o início da revolução mercantil, houve um maior desenvolvimento das estalagens e hospedarias, que ofereciam os serviços de alojamento, as refeições e bebidas como cervejas e vinhos. Adicionalmente, disponibilizavam cuidados e alimentação para os cavalos e serviços de manutenção e limpeza para charretes e outros tipos de veículos. Importante observar que o desenvolvimento da hospitalidade, do turismo, da hotelaria e da gastronomia está intrinsicamente ligado à evolução dos meios de transportes. O serviço de transporte por meio de carruagens entrou em funcionamento por volta de 1650 e elas viajavam entre as principais cidades inglesas, parando onde os passageiros desejavam descer. Diversas hospedagens foram construídas ao longo desse percurso, especialmente em locais onde, devido ao trajeto percorrido, havia a necessidade da troca de cavalos. Nessa época, a maioria das viagens era realizada pelos peregrinos, militares e comerciantes que viajavam principalmente por razões como religião, comércio, administração e fins militares. No ano de 1589, foi editado na Inglaterra o primeiro guia de viagem. Nesse guia constavam os diferentes tipos de hospedagem e alimentação oferecidos em diversas localidades do país. No século XVII, o Estado desenvolve um papel mercantilista, criando indústrias, escritórios comerciais e outros aparelhos de produção. Nesse momento, cresce na sociedade o entusiasmo pelas viagens e pelos costumes e hábitos estrangeiros. Nesse período também se retoma o costume dos banhos nas fontes de água minerais e termais, destinadas majoritariamente para fins medicinais, cujos locais voltaram a ser frequentados e foram importantes pontos turísticos destes tempos. Com a evolução das ferrovias e maior facilidade de deslocamento, houve a expansão do hábito de se viajar para as termas. Algumas das mais famosas ficavam em Baden-Baden, na Alemanha, e Vichy, na França. Os SPAs (Salut per Aqua, significando saúde pela água) e as termas paulatinamente deixaram de ser locais que ofereciam somente tratamento de saúde e passaram também a oferecer serviços para lazer, eventos sociais e outras formas de entretenimento. No decorrer do século XVI e XVII, tornou-se frequente uma longa viagem realizada pela Europa por jovens aristocratas, principalmente ingleses, chamada Grand Tour. 38 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II Sua realização objetivava completar a educação dos nobres, e para isso percorriam diversas cidades italianas como Nápoles, Veneza, Roma e Florença. Esses locais tinham grande importância por possuir as principais obras de relevância artística, cultural e histórica do período. Os lugares mais visitados por esses jovens nobres eram as galerias de artes, museus, igrejas e mosteiros. A hospedagem e alimentação desses viajantes era comumente feita junto aos familiares, tendo em mente que normalmente os nobres possuíam laços de sangue com outras cortes europeias. Entretanto, havia o uso da hospitalidadecomercial nos inns e lodges, que eram locais para comer, hospedar-se e descansar os cavalos, além de se poder realizar pequenos consertos nas carruagens. Essa forma de acolhimento ocorria por toda extensão das estradas que levavam às cidades e às atrações culturais. Um dos primeiros guias especializados em viagens descrevia como planejar o Grand Tour e foi elaborado por Thomas Coryat após uma viagem de cinco meses pela Europa. A publicação descrevia os detalhes a serem observados na viagem, como segurança, transporte, hospedagem, alimentação, tavernas e documentação exigida. 3.7 Hospitalidade na Idade Contemporânea A Idade Contemporânea se inicia em 1789, período da Revolução Francesa, e vigora até os dias atuais. Em toda a Europa no século XVIII houve a ampliação de construção de estradas de ferro e o desenvolvimento de redes de comunicação necessárias à circulação dos trens. Intrinsecamente relacionados, surgem com isso as viagens com permanências mais longas e os empreendimentos da hospitalidade precisam se adaptar. Em 1798 são instituídos os primeiros postos de alfândega nas fronteiras das províncias francesas. A legislação para os empreendimentos de hospitalidade se desenvolve e passa a determinar a responsabilidade dos hoteleiros enquanto depositários das bagagens trazidas pelos viajantes e o direito sobre elas no caso de falta de pagamento. Os requisitos que fazem parte da boa recepção nos locais que fornecem hospitalidade, como organização, limpeza, honestidade, alimentos e bebidas em fartura e cortesia no atendimento passam a ser muito valorizados. Lembrete As primeiras leis que regulamentavam os estabelecimentos de hospedagem foram fixadas em 1254, na França. Durante o século XVIII, a história da hospitalidade registra uma etapa importante com o aparecimento dos restaurantes (1769). A palavra restaurante tem o significado de restaurador, fortificante, e aplicava-se a certos tipos de caldos e sopas que eram indicados depois de uma doença ou de um grande esforço. 39 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Ao contrário do que se apresentava anteriormente em albergues ou tabernas, os restaurantes eram mais limpos, com mais conforto, e possuíam um ambiente e uma cozinha mais qualificados. Nesse momento, o francês Grimond de la Reynière traz uma grande contribuição para a gastronomia ao lançar suas publicações: Manual dos Anfitriões e, principalmente, O Almanaque dos Gourmands, em 1803. O Almanaque dos Gourmands foi o primeiro guia gastronômico publicado e oferecia a relação parisiense dos restaurantes e de lojas de especialidades em alimentos e bebidas. Ele foi muito importante para difusão da gastronomia, uma vez que as classes emergentes europeias tinham demonstrado maior interesse em saber o que e como comer, além de querer ter orientação de como se comportar em refeições e banquetes. Dessa forma, o almanaque também funcionava como um manual de boas maneiras e práticas de cozinha, pois descrevia os deveres recíprocos de anfitriões e convidados, ensinava como destrinchar carnes, comentava sobre a composição dos cardápios e estabelecia o método de servir prato após prato como o mais adequado para efetuar o serviço. Grimond de la Reynière foi responsável por definir o padrão de qualidade e referência da cozinha parisiense e francesa, divulgando ainda os grandes chefs que marcaram esse período. Como o almanaque também era lido em outros países, foi um dos meios que contribuiu para a fama de Paris e da França como polo gastronômico. Ele também criou um selo de qualidade para os pratos e empreendimentos gastronômicos, surgindo dessa avaliação o conceito de classificar os locais por símbolos, como as estrelas do Guia Michelin, de acordo com sua categoria. Essa forma de classificação ainda perdura para diversos tipos de empreendimentos da hospitalidade. Os franceses Grimond de la Reynière, Brillat-Savarin e Alexandre Dumas foram muito importantes para a história contemporânea da gastronomia, uma vez que eles podem ser considerados os precursores dos jornalistas e críticos gastronômicos. Saiba mais O escritor Alexandre Dumas, autor de obras como Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, era um grande admirador da gastronomia e também escreveu livros sobre o tema, como a sugestão de bibliografia a seguir: DUMAS, A. Grande dicionário de culinária. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. ___. Memórias gastronômicas de todos os tempos, seguido de pequena história da culinária. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. No século XVIII ocorrem significativas mudanças para hospitalidade e transportes, como a ampliação de canais, portos e estradas que são construídas por toda parte, multiplicando as formas de hospedagem e alimentação. 40 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II Em 1814, Georges Stephenson desenvolve a locomotiva a vapor. Em 1825 foi criada a primeira ligação ferroviária entre Stockton e Darlington (Inglaterra). A expansão das ferrovias, que tem impacto significativo no desenvolvimento da tecnologia do século XIX, está intensamente unida ao desenvolvimento da máquina a vapor. A chegada das ferrovias modifica significativamente os empreendimentos de hospitalidade existentes na época. Novamente, a hospitalidade terá de moldar-se à evolução dos meios de transporte que surgiram. As hospedarias, hotéis e locais que forneciam alimentação passam a ser construídos nas redondezas das estações de trens, e não mais ao longo das vias por onde passavam as diligências. Aqueles negócios que não se adaptaram as novas formas de transporte tiveram que fechar. Buscando evitar a poluição causada pela fumaça dos trens a vapor, foi desenvolvido o primeiro trem elétrico em Berlim, na Alemanha, em 1879. Outras cidades adotaram a rede elétrica, principalmente nas construção e modernização das linhas de metrô. Vários países perceberam que o custo de produzir eletricidade era mais econômico que queimar carvão. Gradativamente, passaram a eletrificar as redes de trens e metrôs. A mesma necessidade de adaptação às mudanças da realidade econômica se deu também com o desenvolvimento dos transportes. Os transatlânticos, primeiramente, tinham a função de conduzir os imigrantes, porém, a partir do momento que houve uma diminuição dessa necessidade, esses navios foram reformados, aprimorados e transformados em cruzeiros marítimos. Os cruzeiros passaram a ser um atrativo para as classes mais abastadas, que unificou o meio de transporte com a hospedagem e transformaram essas viagens em momentos de negócios e lazer. Os progressos do século XIX nas formas de transporte e comunicação tornaram o ato de viajar mais rotineiro e mais acessível a diferentes camadas da população. Os navios a vapor e as ferrovias reduziram radicalmente o tempo que se consumia para percorrer os países da Europa. A indústria de viagens e turismo que conhecemos desenvolveu-se durante essa época para atender às demandas de uma classe média emergente. O turismo, na sua forma atual, foi implantado por Thomas Cook, que proporcionou viagens para centenas de pessoas, com a colaboração das estradas de ferro e de navegação. O marco inicial do desenvolvimento do turismo ferroviário foi a venda antecipada, em 1841, de 570 passagens para o percurso entre Leicester e Loughborough pela agência Cook de Londres. A viagem tinha como principal propósito a participação em uma manifestação antialcoólica. Thomas Cook: • desenvolveu as primeiras formas negociações de desconto para grupos de passageiros; • elaborou o primeiro roteiro descritivo de viagem; • realizou a primeira viagem com um guia-acompanhante; • proprietário da primeira agência exclusiva de um evento, levando 165 mil visitantes à 1ª Exposição Universal de Londres; • criou o voucher e o traveller check (cheque de viagem), documentosde viagens essenciais na era pré-internet. 41 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Uma outra referência importante da hospitalidade é César Ritz. O rei Edward VII chamava-o de “rei dos hoteleiros e o hoteleiro aos reis”. Ele abriu, em 1898, o hotel Ritz, na Place Vendôme, em Paris, em conjunto com as habilidades culinárias de Auguste Escoffier, considerado na época o melhor chef de cozinha do mundo. O hotel foi sinônimo de grandeza, com serviço e jantar impecáveis. César Ritz foi pioneiro em relação ao conforto e sofisticação dos hotéis na gastronomia e na hospedagem. As principais inovações implantadas por ele foram: • instalação de banheiro privativo nos quartos; • armários embutidos nos apartamentos; • uniformização dos empregados; • criação de galerias de lojas junto ao hotel; • concertos musicais durante as refeições. César Ritz também determinava que o hotel possuísse uma ficha com informações sobre os clientes na recepção. Por conseguinte, quando eles chegavam ao hotel, podiam ser mais bem tratados e o serviço seria personalizado. Em 1906 foi promulgada na França uma lei sobre a obrigação de dar aos trabalhadores o repouso semanal. Como consequência, as pessoas passaram a ter maior tempo livre destinado ao descanso e lazer. No século XX, além do desenvolvimento acelerado dos transportes, o período denominado de Belle Époque, até 1914, caracteriza-se por inovações marcantes ligadas à descoberta do telefone e do telégrafo. Nos Estados Unidos, originalmente, houve a influência da hotelaria inglesa. Posteriormente, o sistema hoteleiro americano passa a se fundamentar em uma visão de igualdade para todos, ou seja, desde que haja condições econômicas para tanto, qualquer pessoa pode se hospedar em um hotel. Essa visão se distingue da hotelaria europeia, cujo propósito era servir aqueles que pertenciam à aristocracia. Ainda nos Estados Unidos surgiram, ao longo dos rios navegáveis, hotéis de apoio aos barcos fluviais, frequentemente luxuosos, que ofereciam hospedagem, cassino e demais diversões aos clientes. No século XX, a viagem turística se desenvolve e amplia sua identidade com o interesse pelas particularidades de cada povo, culturas e tradições e pela gastronomia. De sua origem simples como propriedade particular e negócio operado de maneira independente, a indústria da hospitalidade cresceu em complexidade e tamanho. As empresas de hospitalidade, hoje, interagem de uma maneira local e ou global de acordo com suas características, portanto, devem ficar atentas ao que acontece na sociedade para estabelecer diferenciais. 42 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II 4 PRINCÍPIOS DA HOSPITALIDADE NO BRASIL A carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, Dom Manuel, traz o primeiro registro da hospitalidade portuguesa no Brasil. Um fragmento da carta narra o contato inicial entre as duas principais tradições de hospitalidade presentes no início da formação do país: a hospitalidade indígena e a hospitalidade portuguesa. Relatando o primeiro contato dos indígenas com a esquadra de Cabral, Pero Vaz de Caminha narra que: Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora (A CARTA, 1500). As raízes da hospitalidade portuguesa que irão permear o Brasil combinam os princípios do cristianismo e influências étnicas de diferentes povos, como os árabes. Sobre a hospitalidade indígena brasileira, Gabriel Soares de Sousa (1971), referindo-se à hospitalidade oferecida pelos índios Tupinambás, coloca que: Costumam os tupinambás que vindo qualquer um deles de fora, em entrando pela porta, se vai logo deitar na sua rede [...] e como acabam de chegar, lhe dão as boas-vindas e trazem-lhe de comer, em um alguidar, peixe, carne e farinha, tudo junto posto no chão, o que ele assim deitado come [...] As formas iniciais de hospitalidade encontradas em diversos locais do Brasil são de origem doméstica, na qual os viajantes eram hospedados nas residências dos anfitriões, e a religiosa, com a hospedagem ocorrendo em conventos e igrejas. Discorrendo sobre a hospitalidade brasileira proporcionada aos viajantes, Belchior e Poyares (1987, p. 34) expõe que: As descrições dos viajantes que andaram pelas cidades e vararam os sertões acentuam a hospitalidade de seus habitantes. Principalmente no interior [...]. E essa se dava não somente pelo sentimento de gratificação, como também por lhe facultar contato com um mundo distante, do qual não contavam com seguidas oportunidades para conhecer as novidades. 43 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Observa-se, nesses casos, que havia uma hospitalidade que ia além da reciprocidade, uma vez que um dos principais fatores motivadores que justificavam o acolhimento dos viajantes era ter novas experiências interculturais: escutar as histórias das viagens e poder ter contato com informações sobre outros lugares e países desconhecidos pela população. A generosa acolhida brasileira – herança portuguesa –, em particular a paulistana, é demonstrada fisicamente pela frequente presença do quarto de hóspedes na planta das residências desde a época bandeirista (DIAS, 1996). Os quartos de hóspedes eram onipresentes nas melhores casas em todo o Brasil e eram utilizados para recepção dos forasteiros. Essa acolhida não se devia exclusivamente em razão das tradições e do dever cristão de amparar os viajantes, mas também porque a generosidade do anfitrião era um fator de prestígio na sociedade. Em alguns casos poderia haver interesses extras nessa relação entre anfitrião e hóspede, por exemplo, a troca de mercadorias por hospedagem. Hércules Florence, desenhista da comitiva do cônsul da Rússia, Barão de Langsdorff, em Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas, livro no qual registra o diário da expedição em que percorreu o São Paulo, Mato Grosso e Pará entre 1825 a 1829, refere-se aos habitantes e a cidade de São Paulo como: Hospitaleiros, francos e amigos dos estrangeiros[,] são em extremos sóbrios [..]. Fui hospedar-me em casa de um parente dos meus dois companheiros de viagem, primeiro teto brasileiro em que fruí as doçuras da hospitalidade e daí por diante tive sempre ocasião de reconhecer os cuidados afetuosos e tocantes com que o povo brasileiro exercita esse dever de caridade [...]. Há hotéis e hospedarias: no interior é cousa que não se encontra. O viajante sabe que em qualquer parte em que houver um morador há de ser por ele acolhido e tratado, não tendo mais do que apresentar-se à sua porta (ACAYABA, 2001, p. 97). A partir da independência do País em 1822, houve a transferência econômica da região Nordeste para o Sudeste, sobretudo para os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O enfoque maior será dado no desenvolvimento da hospitalidade nessa região, em especial na cidade de São Paulo. 4.1 Início da hospitalidade comercial Notadamente, países como Portugal, Inglaterra e França, experientes na administração de empreendimentos de hospitalidade, foram as influências no início do desenvolvimento da hospitalidade comercial no Brasil. De acordo com relatos dos viajantes, sabe-se que em São Paulo o forasteiro que chegasse à cidade na segunda metade do século XVI teria muito poucas opções de lugares para se acomodar e alimentar. Sobre esse aspecto, o historiador Afonso Taunay assinala que: Em fins do primeiro século, já o poder municipalachava preciso que a Vila de São Paulo tivesse qualquer coisa que, não chegando ainda a ser uma 44 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II hospedaria, fosse pelo menos um arremedo de restaurante. O procurador do conselho mostrou em 1599 que era necessário haver quem vendesse “coisas de comer e beber, que viva por isto e tenha forasteiros em persendissem de comer”. Foi nomeado hoteleiro oficial Marcos Lopes, que teria de fornecer carne, beiju, farinha e outras coisas. Em 1603, a cigana Francisca Rodrigues abriu na povoação uma estalagem do mesmo estilo (BRUNO, 1954, p. 294). Portanto, é bem provável que a partir desse período, seguindo o crescimento da vila e de sua população, outros empreendimentos de hospitalidade, como os ranchos para tropeiros, as tavernas, pensões e estalagens tenham começado a se estabelecer e a se desenvolver com diferentes nomes, mas com a mesma função, de oferecer abrigo e alimento para os viajantes. No início de século XVII, as terras do interior do País começaram a ser mais frequentemente exploradas. Para os portugueses, era preciso colonizar o Brasil, e isso significava explorar o seu interior em busca de riquezas. Para esse propósito é que foram criadas as expedições dos bandeirantes. Em muitos dos caminhos abertos pelos bandeirantes, que seriam posteriormente utilizados na circulação de pessoas e produtos, surgiram os principais meios de hospedagem dessa época no Brasil, os ranchos. Os bandeirantes, até o século XVIII, e os tropeiros, a partir desse século com a expansão da cultura cafeeira, foram os principais responsáveis pela difusão da hospitalidade comercial no Brasil. Os ranchos foram fundamentais para as viagens dos tropeiros, que transportavam mercadorias pelas estradas que ligavam o litoral ao interior do Brasil. Os percalços da viagem com as estradas malconservadas, aliados a inevitável pausa e descanso dos homens e animais ao longo do caminho, impuseram a criação desses estabelecimentos. Normalmente, ficavam a uma distância de 20 a 25 quilômetros entre eles e eram construídos e administrados em sua maioria por proprietários de fazendas ou sítios, onde ficavam situados. O viajante Auguste de Saint-Hilaire, em 1816, ao pousar em um rancho próximo à cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro, apresenta uma descrição bem clara dessa hospedagem e sua importância para época: Pela primeira vez desde o começo de minha estada no Brasil, dormi em um rancho. Dá-se este nome a alpendres mais ou menos vastos destinados a abrigar os viajantes e suas bagagens. Encontramo-lo, geralmente, no interior do Brasil, à margem das estradas chamadas “reais”, e são numerosos na que eu percorria. São os habitantes, cujas terras estão próximas à estrada, que os fazem construir. Não se paga hospedagem, mas ao pé do rancho há uma venda em que o proprietário vende o milho que serve de alimento aos animais dos itinerantes; indeniza-se, assim, amplamente da despesa que fez para levantar o rancho, e citaram-me o nome de proprietários que possuem até cinco ranchos à beira da estrada (SAINT HILAIRE, 1974, p. 40). 45 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Como observa-se na descrição, uma forma comum de alojamento na época que era oferecida nos ranchos e outros meios de hospedagem era a chamada hospedagem casada, na qual o viajante somente recebia acomodação e alimento se usasse um outro tipo de serviço complementar, como o emprego de guias, o aluguel de escravos, locação de cavalos e mulas, entre outros. Uma variação dessa forma de serviço era oferecer a hospedagem ao viajante sem cobrança mediante a compra de pasto e o milho para os animais. Na maioria dos casos, o aposento era muito ruim e não havia refeição, que era de responsabilidade dos hóspedes, que deviam levar seus mantimentos. Destaca-se a observação de Jean-Baptiste Debret (1816/1831) sobre a alimentação dos tropeiros nos ranchos: “Come-se também a jacuba, mistura a frio de farinha de milho, rapadura e água, alimento muito procurado pelo tropeiro ao chegar no rancho” (DEBRET, 1940, p. 178). Em 1822, na segunda viagem de Auguste de Saint-Hilaire ao Brasil, ele tece uma importante observação no tocante à segurança dos ranchos a época: Continuando o caminho, alcançamos pequeno rancho onde nos detivemos. Depende de uma venda que está entregue a uma criança de dez a doze anos. A venda, o rancho, a casa vizinha, onde se criam galinhas e porcos, pertencem a um tio da criança, e esta ficou como guarda da casa durante a ausência de seu parente. Isto prova a segurança de que se goza neste lugar e quão raros são os roubos aqui (SAINT-HILAIRE, 1974, p. 31). O uso dos ranchos como opção de hospedagem, principalmente no interior do País, persistiu até o princípio do século XX, sendo ocupado pincipalmente pelos tropeiros que transportavam os rebanhos de gado e cavalos. O papel dos ranchos nos primórdios da hospitalidade no país foi, além de fornecer acolhimento aos viajantes, a possibilidade, de acordo com Castelli (2005), do deslocamento das fronteiras econômica e demográfica para o interior do Brasil. Conforme Almeida (1981): Depois de estabelecidos os ranchos, os fazendeiros não tardavam em erguer uma capela, símbolo de sua devoção, em seguida instalava-se uma pequena venda para suprir as necessidades básicas dos tropeiros e viajantes em geral que por ali trafegassem. Depois, algumas famílias fixavam moradia no entorno e estava dado o ponto de partida para o estabelecimento de mais uma vila no interior do país. Muitas das pequenas vilas de outrora constituíram prósperas cidades como Campinas e Jundiaí, em São Paulo, e Pouso Alegre, em Minas Gerais. Os ranchos estavam presentes nas cidades e nas estradas do interior, espalhados por diversos estados brasileiros. Tinham como função abrigar, abastecer e fazer manutenção das tropas de viajantes e suas 46 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II montarias. Em muitas regiões tiveram grande influência no modo de vida dos moradores, uma vez que representavam a principal economia do local. Pode-se dizer que os ranchos são os precursores da hotelaria no Brasil. Com o desenvolvimento das relações comerciais em São Paulo no século XVIII, observa-se aumento da oferta de meios de hospedagem, como as estalagens e os ranchos para tropeiros. No entanto, esses estabelecimentos apresentavam condições precárias em relação ao conforto e limpeza oferecidos. 4.2 A influência dos estudantes no oferecimento da hospitalidade em São Paulo De forma distinta do Rio de Janeiro – onde a principal influência para o desenvolvimento da hospitalidade comercial ocorreu a partir de 1808 com a chegada da Família Real –, a cidade de São Paulo somente terá um crescimento nos empreendimentos de hospitalidade com a abertura da Academia de Direito. A fundação da Academia de Direito em São Paulo, em 1827, modifica profundamente a oferta da hospitalidade comercial na cidade. A vinda dos alunos e de outras pessoas que os acompanhavam de diversas regiões do País teve por consequência imediata a demanda por hospedagem, alimentação e entretenimento para essa nova população. De acordo com Morse: A vida nas repúblicas provocou um rompimento abrupto do austero código do sobrado e da família. Os estudantes introduziram novas modas no vestuário. As caçadas, a natação, o flerte, as bebidas, as festas e o hábito de se reunirem para discussão e divertimento levaram a vida para as ruas, ao ar livre, criaram a necessidade de tavernas e livrarias, e inauguraram o sentimento da comunidade (BRUNO, 1954, p. 454). Originalmente, a Faculdade de Direito de São Paulo foi estabelecida no Convento de São Francisco, com o consentimento dos frades. No princípio de sua história, o Convento e a Escolade Direito permaneciam juntos. Nos primeiros anos, alguns alunos moravam em igrejas, conventos e na própria Academia de Direito, em celas antes ocupadas pelos frades franciscanos. Lembrete Desde o início da história da hospitalidade, tradicionalmente era comum buscar hospedagem em igrejas e conventos, uma vez que essa forma de acolhimento valorizava a hospitalidade como virtude. Outra forma de hospedagem utilizada pelos estudantes da época foram as pensões. Sobre a utilização desses locais para hospedagem estudantil, assinala Spencer Vampré que: 47 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA Entre 1872 e 1876 começou a aparecer uma ou outra casa de pensão em que se hospedavam acadêmicos. Em geral, essas eram “de tratamento e preços democráticos”. Uma apenas se mostrava mais nobre e, por certo, mais cara: a da Viúva Reis (BRUNO, 1954, p. 1255-1256). O Almanaque da Província de São Paulo para 1885 menciona a pensão da Viúva Reis como a melhor e mais cara alternativa de hospedagem para os estudantes da cidade. O local ficava em um velho sobrado que tinha sido anteriormente residência de uma família de grandes posses. O almanaque também registrava o Hotel das Famílias, que cobrava preços especiais para os alunos e era um dos preferidos pelos calouros da Academia de Direito. Pode-se dizer que muitas pensões apresentam sua inserção histórica em São Paulo como alternativa de hospedagem e alimentação para estudantes na oportunidade gerada pela da abertura da Faculdade de Direito em 1827. Essa fotografia, retratada alguns anos depois, demonstra esse fato. Figura 1 – Pensão Ítalo-Brasileira Conforme Pontes (2003), a fotografia mostra a travessa de São Francisco, em 1910, vista a partir da ladeira do Ouvidor em direção à ladeira de São Francisco, no fundo. O primeiro detalhe a verificar nessa figura é a proximidade da pensão da região do largo São Francisco, onde situa-se a Faculdade de Direito, indicando seu apreço pelos estudantes e demais pessoas como alternativa de hospedagem e alimentação. A fotografia também demonstra, através do nome do estabelecimento, o costume de empregar a língua estrangeira para enaltecer a origem do proprietário com intuito de atrair mais clientes dessa procedência. As fotografias a seguir também fornecem uma amostra das pensões inseridas no contexto histórico da hospedagem e alimentação na cidade de São Paulo no início do século XX. 48 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II Figura 2 – Pensão Giordano Bruno Conforme Pontes (2003, p. 64), na imagem anterior é retratada a praça Verdi em 1915, vista a partir da esquina da rua Formosa com a rua do Seminário em direção à rua de São João. Essa fotografia caracteriza um importante fato em relação à oferta de alimentação comercial nas cidades: as pensões figuravam como uma das opções de refeições para os hóspedes e de vendas de produtos alimentares. Em alguns casos, esses locais ofereciam também alternativas de alimentação para o público geral e algumas realizavam entregas das refeições em seus entornos. Ainda quanto aos locais que forneciam alimentação na cidade no início do século XIX, Bruno (1954, p. 689-690) observa o seguinte fato: Em 1847, o americano Samuel Greene Arnold escrevia que havia na cidade uma única pousada: “pequeno estabelecimento”. Hotéis propriamente ditos não existiam, funcionando na cidade apenas dois restaurantes que em geral não davam hospedagem. Sabe-se que durante esse tempo, em São Paulo como em outras cidades brasileiras, as casas comerciais fizeram as vezes de hotéis, hospedando seus fregueses do interior. No começo do século XIX, as pensões, estalagens, hotéis, hospedaria, tabernas, ranchos e casas de pasto exerciam as principais funções da hospitalidade comercial de oferecer alimentação e hospedagem aos viajantes. Belchior e Poyares (1987, p. 52) ponderam acerca da importância das pensões para o fornecimento de hospedagem e alimentação no período: Forneciam refeições para os hóspedes ou não hóspedes (em mesa redonda ou em domicílio) e as quais chegaram a ocupar instalações de vulto, mesmo luxuosas, a ponto de serem reconhecidas por muitos como hotéis. 49 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA A imagem a seguir apresenta uma pensão de origem francesa situada na avenida São João, em 1920. Figura 3 – Pension Pour Artistes Nas fotos anteriores, notam-se pensões de diferentes etnias (italiana e francesa), que serviam como referência para hospedagem dos residentes e estrangeiros. No início da hospitalidade comercial no País, percebe-se uma grande influência europeia, tanto na forma de identificação da hospedagem e dos locais de alimentação, como na sua administração. Geralmente eram escolhidas pessoas oriundas do mesmo país para compor o quadro de funcionários. Resumindo, os estudantes que vinham para São Paulo no período tinham como opções de hospedagem os conventos, os hotéis, as pensões e outros meios, além das residências alugadas (os mais nobres) e, principalmente, as repúblicas. Bruno (1954, p. 1.256) revela o crescimento das repúblicas destinadas aos estudantes na cidade: O sistema predominante de hospedagem para estudantes era o das repúblicas. Geralmente, eram agrupadas em determinadas ruas ou áreas da cidade. No começo do século atual sabe-se de repúblicas de estudantes localizadas quase sempre nas imediações do largo da Sé ou travessas das ruas do bairro da Liberdade e da Glória. Ressalta-se que, em São Paulo, bairros como o da Liberdade atualmente ainda abrigam uma grande concentração de pensões e repúblicas estudantis. 4.3 A evolução das formas de hospedagem Os primeiros hotéis que se instalaram em São Paulo, em meados do século XIX, hospedavam somente forasteiros, isto é, os viajantes não suficientemente importantes a ponto de serem recebidos nas residências da elite local (PIRES, 2001). O historiador Afonso A. Freitas (BRUNO, 1954, p. 694) corrobora essa premissa: “A vida coletiva dos hotéis feria a suscetibilidade da população com o aspecto de uma promiscuidade perigosa e intolerável. Mulher que frequentasse hotel então caia logo na boca do mundo”. 50 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II Bruno (1954, p. 694-695) faz ainda a seguinte observação quanto ao uso de carta de recomendação pelos viajantes: Somente em torno de 1854 começaram a aparecer os primeiros hotéis que “davam hospedagem”, sem carta de recomendação. O movimento desses hotéis não devia ser dos menores a julgar pela observação de Emílio Zaluar de que em 1860 “as hospedarias em São Paulo viviam apinhadas de viajantes”. A hospitalidade nas residências era oferecida de boa vontade aos viajantes e aos que pertenciam a mesma classe social. As pensões, estalagens, ranchos e hotéis eram normalmente para aqueles menos abastados como pequenos comerciantes, tropeiros, carregadores de mulas, entre outros. A primeira classificação para as hospedarias paulistanas foi realizada pelo viajante inglês Richard Burton no século XVIII, determinando as seguintes categorias: • Primeira categoria: simples pouso de tropeiro, local onde os tropeiros e viajantes acampavam para preparar o almoço ou passar a noite ao relento. • Segunda categoria: representada pelo telheiro coberto ou rancho ao lado das pastagens. Tinha, algumas vezes, paredes externas e mais raramente compartimentos interiores. Dormia-se na terra batida tal como no pouso. • Terceira categoria: venda, correspondente a pulperia dos hispano- americanos. Consistia numa casa de moradia e um alpendre para abrigar a carga das mulas. Algumas mercadorias eram vendidas e os forasteiros hospedavam-se em quartos precários a preçosexorbitantes, era uma mistura de venda e hospedaria. • Quarta categoria: estalagem ou hospedaria. • Quinta categoria: hotéis. Nessa época, os principais hotéis da cidade, como o dos franceses Charles e Fontaine, somente hospedavam quem possuísse carta de recomendação (BRUNO, 1954, p. 311). Acerca da evolução da hospedagem em São Paulo, Bruno (1954, p. 697) observa: Com o estabelecimento da Estrada de Ferro Inglesa, a situação mudou um pouco. Não apenas quanto aos edifícios em que passaram a funcionar algumas hospedarias e ao conforto que elas podiam dar aos seus hóspedes, como quanto ao conceito que a população passou a fazer das pessoas que frequentavam um hotel. A partir de 1870, na cidade de São Paulo, ocorre um acelerado desenvolvimento urbano, levando a melhores condições econômicas e de empregos. Decorrente disso, há uma expansão da 51 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA classe média e um maior número de comerciantes e profissionais que ampliam a oferta de serviços e atividades. Perde-se, em parte, o significado das relações pessoais da hospitalidade; porém, são criadas as circunstâncias ideais para a criação de hotéis de melhor classe. Em conjunto com esses estabelecimentos, desenvolve-se a também o setor de banquetes e eventos e um maior refinamento na cozinha. Lembrete As evoluções dos meios de transporte e expansão das rotas e estradas foram decisivas para o crescimento do setor da hospitalidade no Brasil. 4.4 O oferecimento da hospitalidade comercial no Rio de Janeiro Antes da vinda da Família Real, eram escassos os meios de hospedagem no Rio de Janeiro. Os poucos que existiam apresentavam condições precárias de uso. As estalagens, casas de pasto e albergues existentes recebiam majoritariamente os viajantes que não possuíam importância, nem cartas de recomendação para serem acolhidos nas residências. Nesse período, os tripulantes dos navios não possuíam autorização para permanecer em terra firme durante a noite, portanto, dormiam a bordo dos navios. Até mesmo os visitantes que possuíam autorização para pernoitar em solo muitas vezes optavam por passar a noite no navio, pois muitos estabelecimentos de hospedagem não ofereciam estrutura adequada e apresentavam condições precárias de higiene, com relatos de problemas com insetos, como mosquitos, baratas e roedores. Logicamente, em 1808, todo o cenário da hospitalidade comercial se transforma. A vinda da Família Real trouxe junto milhares de imigrantes (cerca de 10 mil pessoas) e a demanda por novos tipos de serviços de hospitalidade, como hotéis, cafés, restaurantes, confeitarias, entre outros. A designação hotel é usada pela primeira vez na imprensa em 1817. Com a evolução dos transportes na cidade, os hotéis saíram da região central e começaram a se deslocar para locais mais remotos, resultando em bairros como Copacabana e Ipanema. No fim do século XVIII, os estabelecimentos localizados próximos às praias começaram a indicar e oferecer o banho de mar como benefício para saúde. Em 1870, surgiram os telefones e a eletricidade, que permitiu a iluminação dos quartos e a instalação de elevadores. O papel dos hotéis na vida social das cidades foi muito importante. Os mais luxuosos no Rio de Janeiro e em São Paulo foram os primeiros a ofertar eventos como jantares e banquetes para sociedade, festas e bailes de carnavais, interlaçando, assim, o entretenimento, a hospedagem e a alimentação. O primeiro grupo organizado de turistas que chegou ao Rio de Janeiro (e ao Brasil) veio em 27 de junho de 1907 a bordo do navio à vapor Byron, em excursão promovida pela agência inglesa Cook and Son, a mesma a realizar a primeira viagem agenciada no mundo (PIRES, 2001). 52 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II 4.5 A transformação da hospitalidade comercial no Brasil A estrutura de hospitalidade também se desenvolveu na metade do século XIX nas demais regiões do País. No Rio Grande do Sul, a cidade de Porto Alegre inaugurou, em 1870, o Hotel del Siglo. Tido como luxuoso e sofisticado, ficava localizado na praça da Alfândega. Em Minas Gerais, o Hotel Caxambu foi criado em 1881 e o Grand Hotel Pocinhos, instalado na cidade de Caldas, em 1886. O evento mais transformador para a evolução da hospitalidade no Brasil, em especial da gastronomia, foi a chegada de imigrantes que desembarcaram no país no início do século XX. Com eles vieram a experiência europeia nos serviços de gastronomia, turismo e hotelaria. Em São Paulo, de 1895 a 1900, a população foi de 130 mil habitantes para 240 mil. Todos os imigrantes contribuíram com conhecimentos gastronômicos e de hospitalidade, impactando o desenvolvimento de novos negócios no Brasil. Em 1905, desembarcaram em São Paulo os primeiros sírios e libaneses. Mais de 50 mil sírios chegariam nas décadas seguintes. Em 1908, chegaram as primeiras 165 famílias japonesas. Anos depois, principalmente a partir da Segunda Guerra, viriam mais de 500 mil. Em 1914, o estado já abrigava 1,8 milhão de imigrantes, dos quais 845 mil eram italianos. O estímulo à industrialização no Brasil, provocado pela Primeira Guerra Mundial, gerou um grande surto de desenvolvimento na região (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO, 2005, p. 27). Após a Segunda Guerra Mundial, com as grandes transformações tecnológicas e o desenvolvimento industrial e econômico, a hospitalidade comercial no Brasil passou a se aperfeiçoar e diferenciar as diversas categorias de estabelecimentos hoteleiros e gastronômicos, geridos por regras e normas do setor. Resumo Nesta unidade foi feita uma análise histórica da evolução da hospitalidade desde os primórdios da civilização até a Idade Contemporânea, destacando a contribuição dos principais povos para o progresso da hospitalidade. Relataram-se fatos marcantes que colaboraram para evolução desse setor de acordo com o período histórico correspondente. A abordagem histórica da hospitalidade oferecida aos viajantes desde a Antiguidade, a apresentação das formas de hospedagem encontradas nos primórdios da hotelaria e o desenvolvimento da hospitalidade no Brasil foram pontos propostos para a elaboração dessa unidade. A hospitalidade, em um primeiro momento, na recepção e alimentação, teve maior vínculo ao ambiente privado/doméstico do que ao aspecto comercial. Entretanto, seu caráter comercial está ligado à evolução dos restaurantes, eventos, meios de hospedagem e turismo. 53 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA A necessidade de oferecer hospitalidade e proteger o viajante desenrolou-se desde a pré-história, com variações entre os diversos povos da Antiguidade. Com o incremento das relações comerciais houve a necessidade de abrigar e alimentar os viajantes, isto é, o surgimento da indústria da hospitalidade está interligado à necessidade das viagens de negócios. Em conjunto ao desenvolvimento dos transportes, os meios de hospedagem foram se adaptando às necessidades da sociedade. A história da hospitalidade está integrada ao desenvolvimento das civilizações. Os inúmeros negócios criados para oferecer aos viajantes abrigo, bebidas e alimentos foram importantes para o progresso das cidades e, atualmente, representam uma das indústrias economicamente mais ativas. Os gregos, com a prática da comensalidade e valorização dos banquetes e alimentos, os romanos com a construção de estradas seguras para a realização das viagens, os mosteiros e a relevância da igreja no acolhimento das pessoas na Idade Média, a realização do Grand Tour na Idade Moderna, o pioneirismo de César Ritz em relação ao conforto e sofisticação da gastronomia nos hotéis, são exemplos importantes para difusão desse espírito da hospitalidade. Exercícios Questão 1.(Enade 2009). Em 1991, no Japão, foi proposto um empreendimento turístico inovador, o “hotel cápsula”, descrito pela imprensa do seguinte modo: Os hóspedes, (...) não dormem em quartos, mas sim em cubículos de plástico superpostos, com um metro e meio de altura e pouco mais do que isso de comprimento. Para entrar nos tais cubículos as pessoas precisam engatinhar. Um hóspede (...) declarou é (...) como dormir num sarcófago. BARRETO, M Manual de iniciação ao estudo do turismo. SP: Papirus, 2000. Tal equipamento representa um exemplo adaptado à necessidade mercadológica e de espaço. No caso do Brasil, por ser ele um país de dimensões continentais, a realidade apresenta-se distinta daquela verificada no Japão. PORQUE A tendência, no Brasil, é exatamente o outro extremo do espectro. A preocupação com a qualidade, os investimentos em estrutura de lazer, a inovação de serviço, o compromisso com o charme e a preservação ambiental conduzem a um mercado que busca atender a uma oferta diferenciada. Surgem desde hotéis econômicos, que se espalham pelo interior, até aqueles associados ao mercado mundial de alto luxo, em que a grife conta cada vez mais. 54 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 Unidade II A partir da leitura dessas afirmativas, é correto afirmar que: A) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa da primeira. B) As duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. C) A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. D) A primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira. E) As duas afirmativas são falsas. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial, o que se traduz em um fator que influencia o turismo de uma forma geral quando comparado a um país de dimensão bem menor e desenvolvido como o Japão. II – Afirmativa correta Justificativa: na atualidade, o ramo hoteleiro vive em intensa expansão devido ao crescimento do setor turístico, além de outros fatores. Nesse meio, a necessidade de inovação é uma constante, pois este é um mercado bastante competitivo. Muitos são os desafios a serem enfrentados pelo empreendedor deste setor, como a concorrência acirrada e a modificação dos hábitos dos clientes, tanto no Brasil, quando no Japão. Apesar de ambas as afirmativas estarem corretas, esta não explica a anterior ou é uma justificativa da mesma. Questão 2. (ENADE 2018) A favela de Santa Marta, que já foi palco de videoclipes de cantores internacionais famosos, constitui um reconhecido local turístico do Rio de Janeiro. Em 2010, o programa Rio Top Tour, organizado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, criou ali o primeiro projeto público de Turismo de Base Comunitária em uma favela, trazendo avanços no turismo local, definindo que as atividades passariam a ser conduzidas pela própria comunidade do Santa Marta. MANO, A. D. ; MAYER, V. F. ; FRATUCCI, A. C. Turismo de base comunitária na favela Santa Marta (RJ): oportunidades sociais, econômicas e culturais. Rev. Bras. Pesq. Tur. São Paulo, v. 11, n. 3, p. 413-435, set./dez, 2017 (adaptado). Com base nas informações do texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I – A experiência turística em favelas pode ser uma das formas de manifestação do turismo de base comunitária, que busca promover essa atividade de forma responsável, sustentável e acessível. 55 GA ST - R ev isã o: F ab ric ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 9/ 09 /2 01 7 HOSPITALIDADE: TURISMO, HOTELARIA E GASTRONOMIA PORQUE II – Para se assegurar o sucesso do projeto do turismo na favela de Santa Marta, é necessário que o seu planejamento e gestão sejam ancorados principalmente na parceria com o Estado. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Resolução desta questão na plataforma.
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