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A caquexia é uma síndrome multifatorial, na qual há perda contínua de massa muscular, com ou sem perda de massa gorda. Não é totalmente reversível, conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo. As manifestações clínicas podem incluir: exacerbada perda de peso involuntária (massa magra), anorexia (perda do apetite), alterações no paladar, vômito, saciedade precoce, má absorção intestinal, astenia (↓da força física), ↓de habilidades motoras, apatia (falta de motivação/emoção), perda da imunocompetência, caos metabólico, desequilíbrio iônico, alterações hormonais e disfunção hipotalâmica. Por gravidade, é dividida em 3 categorias: Os parâmetros analisados para a classificação são: Concentração ([ ]) de PCR no soro; [ ] de albumina sérica; Avaliação da anorexia; Fatores correlatados (↓do apetite, alteração na percepção gustativa e olfativa, motilidade gastrointestinal ↓, dor, constipação, entre outros...); Metabólitos que indicam catabolismo; Massa e força muscular; Manifestações psicossociais. A fisiopatologia da caquexia conta com dois processos que acontecem concomitantemente no paciente: Caquexia primária: relacionada às consequências metabólicas da presença do tumor associada a alterações inflamatórias. Resulta em consumo progressivo e irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo; Caquexia secundária: resultante da ↓ da ingestão e absorção de nutriente por obstruções tumorais do TGI, anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. Decorre da interação indivíduo + seu status social e psicológico + resposta endócrino-metabólica desencadeada pela patologia e tto. Metabolismo dos carboidratos: As células neoplásicas (CN) preferem a glicose como substrato energético, sendo muito mais rápidas na capitação dessa. Isso indica que a presença do tumor aumenta o consumo da glicose. Seria esperado então que, com o consumo aumentado, o nível de glicose ↓, mas isso não acontece. O que ocorre é o ↑ da gliconeogênese pelo fígado, ou seja, transformação de substratos como aminoácidos musculares e lactato em glicose. Essa glicose produzida pelo fígado chega até as CN e é degradada por elas e, novamente, o lactato é convertido e glicose no fígado (ciclo de cori). Essa reconversão gasta 6 moléculas de ATP, levando a uma espoliação energética → degradação tecidual e perda de peso e massa corporal nesses pacientes. Em resumo, o que acontece é: ↑ de consumo de glicose pelas CN → consumo de aminoácidos musculares e lactatos p/ produzir + glicose → CN degradam ela em lactato novamente → gasta energia para reconverter o lactato em glicose +1x → paciente em emagrecimento por demanda energética excessiva. Quanto + emagrecido o paciente, + ↑ atividade do ciclo de cori = pcts sem perda de peso gastam menos energia. O gasto energético desse ciclo é de 300kcal/dia. Em etapas avançadas do câncer no paciente emagrecido, há desenvolvimento de 1) intolerância à glicose por ↓ da sensibilidade dos receptores das células beta e 2) resistência à insulina por ↓ da sensibilidade dos tecidos periféricos. Comum em metástase. Metabolismo dos lipídios: Em uma pessoa normal, 90% da energia vem dos lipídeos. Em um paciente neoplásico, há intensa degradação dos lipídeos e consequente perda maciça dessas reservas. Ela acontece por: Aumento da lipólise por liberação de fatores tumorais lipolíticos e ↑ da lipase hormônio-sensível (LHS); Diminuição da lipogênese por diminuição da lipase proteica (LP). P/ tirar os lipídeos estocados nos adipócitos, existe a enzima LHS, regulada pelas catecolaminas que a ativam e a insulina que a inibe. Quando há falta de insulina, a LHS se ativa e tira os triglicerídeos dos adipócitos, que são lançados na corrente sanguínea em forma de ácidos graxos livres e captados pelos hepatócitos. Lá, originam novamente os TG. A LP é a enzima que catalisa a hidrólise dos TG dos quilomícrons e das lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL). Essa reação ocorre na superfície endotelial dos capilares sanguíneos, onde a lipase fica presa, sendo que esse mecanismo possibilita o armazenamento de gordura. Neoplasia → ↓ da lipase proteica → hiperlipidemia, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia e ↑ de ácidos graxos livres → depleção dos estoques de gordura. Pcts em processo de caquexia excretam a urina o Fator Mobilizador de Lipídeos (LFM), que age nos adipócitos, hidrolisando os TG e ácidos graxos livres e glicerol, por meio do ↑ células do AMPc, c/ consequente mobilização e utilização dos lipídeos. Em resumo: ↑ degradação de lipídeos, ↓ a síntese de lipídeos, ↑ consumo dos lipídeos → perda de peso. Catabolismo ↑↑ Não responsivo ao tto do câncer Baixo score de desempenho Expectativa de vida <3 meses Perda de peso >5% ou IMC<20 e perda de peso >2% ↓ de ingestão alimentar Inflamação sistêmica Perda de peso <5% Anorexia Alterações metabólicas Metabolismo das proteínas: O catabolismo está ↑ para fornecer aminoácidos para a gliconeogênese já citada → depleção da massa muscular esquelética. A síntese proteica está ↓ por ↓ da [ ] plasmática de insulina e da sensibilidade do músculo esquelético à insulina e porque há necessidade de aminoácidos para a síntese que estão sendo consumidos pela gliconeogênese. Ademais, a perda de ativ. física em pacientes caquéticos também suprime a síntese proteica. A perda de proteína corporal ↑ o nível do fator indutor de proteólise (PIF), que degrada e induz a síntese proteica. O PIF está presente em pacientes neoplásicos c/ ↑ perda de peso e ausente nos neoplásicos c/ pouca perda de peso. Pelo ponto de vista clínico a diminuição da massa proteica e atrofia esquelética predispõem o canceroso a: reparo inadequado de feridas, maior susceptibilidade a infecções, fraqueza e diminuição da capacidade funcional. Metabolismo energético: É a soma das reações químicas e integradas, por meio das quais os pcts obtém energia do ambiente, mantendo assim o funcionamento dos processos biológicos. Isso quer dizer: Gasto energético em repouso (GER) + Gasto energético voluntário (GEV) + Gastos envolvidos no processo de digestão, absorção, transporte e incorporação de nutrientes no organismo. Um dos maiores determinantes da perda de peso da caquexia no câncer é o ↑ do gasto energético. O GER de um paciente oncológico é de quase 150% a mais que o valor de um paciente normal. O GEV pode estar ↓ por apatia, fadiga e depressão. Nos estágios avançados das neoplasias, é comum um estado de hipermetabolismo ou catabolismo presente. Isso pode ser explicado por: avidez das CN na captação da glicose → quanto mais maligno o câncer, maior é a captação. Alterações Hormonais: Quem controla a ingestão alimentar é o hipotálamo, o eixo hipotálamo-hipófise e o sistema autonômico (simp/parass). Esse controle é feito por mecanismos de ordem comportamental ou fisiológicos, como: Ingestão de alimentos; Padrões de atividade e sono; Tº corporal, gasto energético, resposta ao estresse. São alguns neuropeptídios centrais (serão citados abaixo) que interferem na regulação da ingestão de alimentos e no gasto energético. Alterações naqueles podem contribuir p/ caquexia. Leptina: hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo que faz parte da homeostase do apetite. Quando o pct não se alimenta/restrição calórica e consequente perda de peso, a leptina diminui. A [ ] de leptina ↓ é um sinal p/ o hipotálamo (sinal orexígeno) para estimular o apetite, suprimir o gasto energético e diminuir sinais anorexígenos, que fazer o efeito contrário deste. Já a [ ] de leptina ↑ é um sinal anorexígeno p/ o hipotálamo, inibindo o apetite eestimulando o gasto energético. AUMENTA A LEPTINA = PERDE A FOME DIMINUI A LEPTINA = AUMENTA A FOME O paciente neoplásico produz citocinas em resposta ao tumor que estimulam a expressão de leptina e/ou mimetizam os efeitos hipotalâmicos sinalizados pela leptina, impedindo a execução normal e mecanismos compensatórios, diante da diminuição da ingestão alimentar e aumento da perda de peso. É importante lembrar que ↑ níveis de leptina inibem a ação do neuropeptídio Y. Neuropeptídio Y (NYP): + potente neuropeptídio orexígeno (estimulante do apetite), ativado pela ↓ da leptina. O NYP pode estimular a fome por si só ou liberando outros peptídeos orexígenos, como galanina, insulina, peptídeos opioides, hormônio concentrador de melanina (MCH), orexina, entre outros. Grelina: hormônio secretado predominantemente pelas células epiteliais do fundo gástrico. Os níveis dele estão ↓ quando há SAC por um bloqueio na resposta adaptada ao jejum, por ↓ da expressão do RNAm da grelina no estomago, ↓ assim o apetite. Citocinas: glicoproteínas solúveis produzidas por macrófagos e linfócitos do pct em resposta aos estímulos tumorais. Altos níveis de citocinas circulantes refletem hiperestímulo de produção e perda dos mecanismos da homeostase. São a chave principal de fatores humorais envolvidos na caquexia do câncer, e é possível que passem a circular em outros tecidos e atuem como fatores endócrinos com o progredir da doença. TNFa: também conhecido como caquexina, está citocina está associada ao ↑ da lipólise, inibição da lipase proteica e proteólise. IL-1: citocina produzida por células de defesa que induz à saciedade, antagonista ao NYP. A IL-6 tem o mesmo efeito, mas é menos potente. Interferon g (IFNg): produzidas pelos linfócitos T e as NK, potencializam o efeito do TNFa, provocam ↓ da ingesta alimentar e inibição da lipase proteica nos adipócitos. Alterações Sensoriais: Muitos pacientes dizem que perderam o apetite por alterações desagradáveis do paladar e olfato. O que acontece é que há ↑ do limiar de reconhecimento p/ doce, azedo e salgado e ↓ do limiar de reconhecimento para o amargo, esse resultando muitas vezes em aversão à carne vermelha. Assim, as respostas alteradas aos sabores causam aversão a alimentos nutritivos contribuem para a caquexia e ↓ da ingestão. Quando os pacientes sentem o gosto ruim eles param de comer aquele alimento, por isso, durante a quimioterapia (QT) é indicado evitar seus alimentos preferidos. A supressão do paladar é mais severa ainda em pacientes com tratamento radioterápico na região da orofaringe. Saciedade precoce também é comum no paciente oncológico, presente em aproximadamente 50% dos pct, por alteração na motilidade GI e redução da capacidade gástrica. Essa última pode ser causada por uma neuropatia autonomia neoplásica, em virtude do tratamento quimioterápico que altera o feedback autonômico do SNC. A caquexia implica, indiscutivelmente, em mau prognóstico. Pacientes com caquexia respondem menos à QT. A toxicidade da droga da QT é maior em pcts c/ caquexia. Quanto + grave o quadro de caquexia, menor é o tempo de sobrevida do paciente e da qualidade de vida. O tratamento para caquexia neoplásica implica na Terapia Nutricional (TN), sendo essa não suficiente para reverter o quadro completo, mas o suporte nutricional pode sim reverter alterações. A TN deve ser planejada conforme o estado nutricional (EN) do paciente e quantidade e qualidade alimentar dele. São sugestões para o acréscimo proteico-calórico em preparações alimentares para pacientes oncológicos que estejam fazendo alimentação via oral: Acréscimo calórico: Geleia de fruta no iogurte, leite, pães, torradas, biscoitos; Leite condensado, mel, creme de leite, granola, sorvetes; Batata, inhame, macaxeira em sopas e saladas; Queijo parmesão, azeite e sementes oleaginosas. Acréscimo proteico: Queijos nas sopas e saladas; Leite em pó diluído em leite líquido; Ovos acrescidos em sopas/mingaus; Omeletes de queijo, carne, frango ou peixe; Carne, frango ou peixe desfiados em sanduíches ou saladas; Acréscimo lipídico: Manteiga, margarina ou creme de leite nas sopas e pães; Molho à base de maionese para sanduíches e saladas; Sorvetes de massa e suas preparações, ex.: milk-shake; Leite de coco em preparações doces ou salgadas. Se a alimentação via oral não for suficiente, ou seja, supra <60% das necessidades calóricas, indica-se suplementos calóricos e nutritivos para aumentar o aporte proteico-calórico da dieta. É melhor que a alimentação acontece na parte da manhã em frações pequenas e frequentes, uma vez que os pacientes reclamam da capacidade alimentar diminuída conforme o dia progride. Quando a TN oral é insuficiente → TN agressiva, como Nutrição Enteral ou Nutrição Parenteral, conforme funcionamento do TGI. Se essas terapias forem introduzidas, os familiares e paciente devem ser orientados sobre os procedimentos envolvidos, ex.: passagem de sonda/cateter, entre outros. Mesmo que essas nutrições estejam acontecendo, sempre que o paciente pedir alimentação via oral, essa deve ser estimulada. Nutracêuticos: Ácidos graxos polinsaturados (PUFAs): O Ácido Eicosapentaenóico (EPA) e o Ácido Docosahexaenóico (DHA) são PUFAs essenciais para nossos organismos, os quais não são produzidos então precisam ser incorporados através da alimentação. Eles pertencem a família do ômega 3 (o3) e estão associados com: ↓ volume tumoral e da anorexia e melhora do peso corporal por sua ação anti- inflamatória. O o3 é capaz de suprimir a produção de citocinas, ↑ síntese de oxido nítrico e a [ ] de acetilcolina do SNC e proteger os neurônios das ações toxicas do TNFa. Eles inibem o PIF que tem ação aumentada no catabolismo proteico, reduzem a fadiga e ↑ o ganho de peso. A suplementação pode ser feita com capsulas de óleo de peixe + vitamina E p/ evitar efeitos adversos. Glutamina e Arginina: Ajudam na preservação do musculo esquelético, por aumentar síntese proteica e diminuir proteólise muscular. Além disso, melhoram o balanço nitrogenado em pcts grave, ↑ função das células imunes não aumentando a produção de citocinas. A suplementação desses aminoácidos também ↑ a tolerância à RT e QT por proteção contra lesão intestinal e toxicidade do tratamento, uma vez que eles são fonte de energia para as células do i.delgado e linfócitos, sendo importante para a proliferação dessas células e manutenção dos tecidos. Ademais, ↑ a imunidade células e mantem a imunidade da mucosa do TGI, ↑ a ativação de linfócitos T, promove crescimento + lentos de CN. Estimulantes do apetite: Acetato de Megestrol (AM): Derivado sintético do progesterona; no esquema posológico de 160mg/dia (40mg 4x/dia) tem sido visto ↑ do apetite, maior captação de calorias, ↑ de peso corporal e sensação de bem- estar. O AM estimula o apetite por estimular o NPY, através de modulação do canal de Ca presente em células do núcleo ventro-medial (VMH) do hipotálamo, um centro da saciedade. Ademais, inibe as citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNFa). Corticosteroides: Têm sido utilizados como paliativo nos sintomas associados ao câncer. Melhora em curo prazo: apetite, ingestão alimentar, performance e qualidade de vida, mas não asseguram ganho de peso. O tto prolongado pode levar a delírio, fraqueza, etc. Dronabinol: Derivado sintético da maconha na forma oral de tetrahidrocannabinol (THC). Utilizado como antiemético no tto com QT, ele melhora o humor, apetite e peso corpóreo nos pacientes com câncer. Efeitos adversos: euforia, sonolência, etc. Não se sabe mec. de ação exato, mas postula-se que tem ação nos receptores da endorfina, inibindo a secreção de IL-1. Melatonina: Hormônio da glândula pinealcapaz de ↓ níveis circulantes de TNFa em pacientes com neoplasia avançado. Também ↓ a mielosupressão, neuropatia e caquexia em paciente com condições precárias, portadores de câncer de pulmão. A prática de se dividir os casos de câncer em grupos, de acordo com os chamados estádios, surgiu do fato de que as taxas de sobrevida eram maiores para os casos nos quais a doença era localizada do que para aqueles nos quais a doença tinha se estendido além do órgão de origem. O estádio da doença, na ocasião do diagnóstico, pode ser um reflexo não somente da taxa de crescimento e extensão da neoplasia, mas também do tipo de tumor e da relação tumor- hospedeiro. A determinação da extensão da doença e a identificação dos órgãos por ela envolvidos auxiliam nas seguintes etapas: Obtenção de informações sobre o comportamento biológico do tumor; Seleção da terapêutica; Previsão das complicações; Obtenção de informações sobre o prognóstico do caso; Avaliação dos resultados do tratamento; Investigação em oncologia: pesquisa clínica, publicação de resultados e troca de informações. Os parâmetros de estadiamento devem incluir os fatores relacionados ao tumor e ao hospedeiro, quais sejam: Órgão e tecido de origem do tumor; Classificação histopatológica do tumor; Extensão do tumor primário: tamanho ou volume; invasão dos tecidos adjacentes; comprometimento de nervos, vasos ou sistema linfático; Locais das metástases detectadas; Dosagem de marcadores tumorais; Estado funcional do paciente. Diversos sistemas de estadiamento poderiam ser concebidos, tendo por base uma ou mais das variáveis mencionadas. O sistema de estadiamento mais utilizado é o preconizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC), denominado Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos. Este sistema baseia-se na extensão anatômica da doença, levando em conta: 1. As características do tumor primário (T); TX O tumor primário não pode ser avaliado. T0 Não há evidência de tumor primário. Tis Carcinoma in situ. T1, T2, T3, T4 Tamanho crescente e/ou extensão local do tumor primário. 2. As características dos linfonodos das cadeias de drenagem linfática do órgão em que o tumor se localiza (N); NX Os linfonodos regionais não podem ser avaliados. N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais. N1, N2, N3 Comprometimento crescente dos linfonodos regionais. 3. A presença ou ausência de metástases à distância (M). MX A presença de metástase à distância não pode ser avaliada. M0 Ausência de metástase à distância. M1 Metástase à distância. Subdivisões do TNM: As subdivisões de algumas categorias principais estão disponíveis para aqueles que necessitam de maior especificidade (p. ex.: Tla, 1b, ou N2a, 2b). Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS, revista em 2002, “Cuidado Paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”. Não se fala mais em terminalidade e sim doença que ameaça a vida; Indica-se o cuidado desde o diagnóstico, isso porque a doença desde o início provoca alterações de diferentes aspectos no paciente. Não falaremos também em impossibilidade de cura e sim na possibilidade ou não de tratamento modificador da doença, desta forma afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer”. A abordagem inclui a espiritualidade dentre as dimensões do ser humano. A família é assistida também após a morte do paciente, no período de luto. Princípios dos Cuidados Paliativos 1. Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis. Ocorre em indivíduos que vivenciam uma série de desconfortos de caráter físico (nocicepção), psíquico, social e espiritual que influenciam na expressão e queixa de dor. É necessário conhecimento específico para a prescrição de medicamentos, adoção de medidas não farmacológicas e abordagem dos aspectos psicossociais e espirituais que onde todos estes fatores podem contribuir para a exacerbação ou atenuação dos sintomas, devendo ser levados em consideração na abordagem. 2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida. A morte como um evento natural e esperado na presença de doença ameaçadora da vida, colocando ênfase na vida que ainda pode ser vivida. 3. Não acelerar nem adiar a morte. Um diagnóstico objetivo e bem embasado, o conhecimento da história natural da doença, um acompanhamento ativo, acolhedor e respeitoso e uma relação empática com o paciente e seus familiares nos ajudarão nas decisões. 4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente. A doença traz uma série de perdas, com as quais o paciente e família são obrigados a conviver, quase sempre sem estarem preparados para isto. As perdas da autonomia, da autoimagem, da segurança, da capacidade física, do emprego, de poder aquisitivo e consequentemente de status social, trazem angústia, depressão e desesperança, interferindo objetivamente na evolução da doença, na intensidade e frequência dos sintomas que podem apresentar maior dificuldade de controle. A abordagem desses aspectos sob a ótica da psicologia e espiritualidade se faz fundamental. Sempre lembrando que o sujeito é o paciente, sua crença, seus princípios. 5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte. 6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto. Todo o núcleo familiar e social do paciente também “adoece” e seu sofrimento deve ser acolhido e paliado. 7. Abordagem multidisciplinar para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto. Os problemas do paciente e família envolvem múltiplos aspectos, sendo relevante observar estes problemas sob diferentes óticas, a fim de se alcançar um cuidado uniforme, através de estabelecimento de metas em comum, objetivando promover o cuidado integral e a dignidade no processo de morrer. 8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença. 9. Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes. Devem ser iniciados desde o diagnóstico. Desta forma iremos cuidar do paciente em diferentes momentos da evolução da sua doença, portanto não se deve privá-lo dos recursos diagnósticos e terapêuticos que o conhecimento médico pode oferecer. Devemos utilizá-los de forma hierarquizada, levando-se em consideração os benefícios que podem trazer e os malefícios que devem ser evitados. Uma abordagem precoce também permite a prevenção dos sintomas e de complicações relacionadas à doença de base, além de propiciar o diagnóstico e tratamento adequados de doenças que possam cursar paralelamente à doença principal. Uma boa avaliação embasada nos exames necessários, além da definição da capacidade funcional do paciente são indispensáveis para a elaboração de um plano integral de cuidados, adequado a cada caso e adaptado a cada momento da evolução da doença. Eutanásia O termo eutanásia significa morte sem dor, sem sofrimento desnecessário. Atualmente, é entendida como uma prática para abreviar a vida, a fim de aliviar ou evitar sofrimento para os pacientes. Ao invés de deixar a morte acontecer a eutanásia age sobre a morte, antecipando-a.Assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em pessoa com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal e movida pela compaixão ou piedade. Distanásia Consiste em empregar recursos para que a morte chegue lentamente. Também conhecida como “obstinação terapêutica”. Tudo necessita ser feito ainda que cause sofrimento ao paciente. Isso porque a distanásia apenas prolonga a vida biológica do paciente, sem qualidade de vida e sem dignidade e com intenção de se fixar somente na quantidade de tempo dessa vida e de instalar todos os recursos possíveis para prolongá-la ao máximo. Ortotanásia Consiste em: suspender medicamentos ou medidas que aliviem a dor e deixar de usar os meios artificiais para prolongar a vida de um paciente. Ortotanásia é a morte por seu processo natural. Neste caso o doente já está em processo natural da morte e recebe uma contribuição do médico para que este estado siga seu curso natural sem interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e percurso da doença. Portanto, evitam-se métodos extraordinários de suporte de vida, como medicamentos e aparelhos, em pacientes irrecuperáveis. A morte induzida é, em geral, aliviada com a utilização de sedativos, que, além de reduzirem a dor, tornam menos traumática a angústia do momento final. Permite ao doente, cuja doença ameaça gravemente sua vida ou que já entrou numa fase irreversível, e aqueles que o cercam, enfrentar a morte com certa tranquilidade porque, nessa perspectiva, a morte não é uma doença a curar, mas sim algo que faz parte da vida.