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ASPECTOS SEMIOLÓGICOS DO DISCURSO
DA OBRA AO TEXTO - DISCURSO, PODER E 
CULTURA
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Estudar as distinções entre o texto literário e o não literário;
2. analisar a função estética e a função utilitária do texto;
3. distinguir o plano da expressão do plano do conteúdo;
4. identificar as formas simbólicas de expressão cultural no discurso.
Podemos perceber que há dois tipos de texto: o não literário e o literário. O primeiro direciona a leitura para
obtermos informações que tanto podem ser notícias de jornais ou revistas e culturais como os livros didáticos ou
científicos. Nesse caso temos a função utilitária do texto e prevalece o plano do conteúdo.
O segundo, o texto literário, tem como foco o plano da expressão que predomina sobre o do conteúdo. Ele recria
a realidade, o mundo, é polissêmico, usa recursos sonoros e figurados. A função do texto literário é a estética e
predomina a forma como se diz e não o que é dito.
1 Distinções entre o texto literário e o não literário
Vamos analisar alguns textos:
1) Mulher comete suicídio depois de discussão com marido
 Jornal da Cidade.Net - 16/11/2011 - 07:48
Mulher comete suicídio depois de discussão com marido
O fato ocorreu na noite desta terça-feira (15) em Campo do Brito.
Na noite desta terça-feira (15), por volta das 18h, uma mulher cometeu suicídio no município de Campo do Brito.
Aparecida Francisca de Jesus, de 40 anos, foi encontrada morta com uma corda amarrada ao pescoço e
pendurada no telhado de sua casa.
De acordo com informações policiais, o suicídio ocorreu depois que ela e o marido tiveram uma discussão. O
homem, ao chegar em casa e ver a mulher pendurada ainda tentou socorrê-la, mas já era tarde, ela já havia
morrido.
Aparecida era mãe de quatro filhos e era natural do Estado da Bahia.
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No texto 1, observamos um texto organizado em título e subtítulo a fim de informar a morte de uma mulher que
cometeu suicídio. Esse recurso procura despertar o interesse do leitor para o tema, fazendo a síntese do assunto
a ser desenvolvido nos parágrafos informativos. O texto é conciso, isto é, construído com frases curtas, o
vocabulário apresenta uma adequada seleção de palavras para melhor compreensão. Por ser veiculado em um
jornal, tem linguagem objetiva que responde as perguntas: O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Por quê? É um
texto não literário, predomina o plano do conteúdo.
2) Suicídio
SUICÍDIO
A palavra suicídio (etimologicamente = si mesmo; - = ação de matar) foi utilizada pela primeira vez porsui caedes 
Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional autoinflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de
escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
De acordo com dados atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3.000 pessoas por dia cometem
suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Estima-se que para cada pessoa
que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a
cada ano poderia ser prevista e evitada.
O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos,
embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos.
Ainda conforme informações da OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular
nos países em desenvolvimento. Cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e
amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos.
(Newsletter ABC da Saúde): Portal direcionado ao público em geral que tem por objetivo a informação,
divulgação e educação sobre temas de saúde com mais de 750 artigos escritos exclusivamente por mais de 30
especialistas. Audiência: 29 milhões de visitas em 2010. Parte superior do formulário.
No texto 2, também observamos que se trata de um texto cujo objetivo é didático em função do nível textual
explicativo. Apresenta conhecimentos específicos de uma determinada área de estudo, visando elucidar
possíveis dúvidas sobre o assunto em questão. Apresenta dados e aponta causas. É um texto não literário,
predomina o plano do conteúdo.
3) Notícia de jornal – Manuel Bandeira
Notícia de jornal
Manuel Bandeira
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
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Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
No texto 3, começamos a perceber que é preciso uma leitura atenta, reflexiva. O texto apresenta uma linguagem
subjetiva e o leitor precisa detectar através de releituras a intenção do autor. Embora o vocabulário seja simples,
o poeta já apresenta a personagem com um nome sugestivo que pode gerar falsa expectativa ou curiosidade ao
leitor. Há relações implícitas de acordo com as convenções socioculturais, mas a conclusão causa surpresa
porque o leitor vai sendo induzido, com frases curtas, assindéticas e ritmadas, a imaginar um final feliz. É um
texto literário, predomina o plano da expressão.
Notícia de Jornal
Fernando Sabino - 10/08/09
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis,
pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na
calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e
comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem
prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome. Um homem que morreu de fome. O comissário de
plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância,
especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe
dele, senão que morreu de fome.
Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um
vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa -
não é um homem.
E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos
passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo
piedade, ou sem olhar nenhum.
Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem
perdão.
Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da rádiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada?
Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
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E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-
se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades.
As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse,
para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da
cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome.
No texto 4, o autor começa com uma notícia informativa, publicada em um jornal diário. No entanto, no decorrer
da narrativa, com o uso de palavras e expressões repetidas, vamos percebendo um clima denso. O texto não é
neutro como ocorre no primeiro, expressa a visão do mundo do autor, reflete o contexto histórico em que é
produzido e visa atuar sobre os leitores, buscando persuadi-los de determinados valores. A ironia é um recurso
presente o tempo todo e pode ser melhor identificada nos parênteses (um homem, morrer de fome), nas
perguntas (por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso?), nas gradações(Um bêbado.
Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa,
um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum). É um texto literário,
predomina o plano da expressão.
Acompanhe a letra da música no link: https://www.youtube.com/watch?v=ytCukqe6C5Y
2 Função utilitária e a função estética do texto
Velha mesa
“É uma velha mesa esta sobre a qual bato hoje a minha crônica. Pouco mais de metro por uns quarenta
centímetros de largura. Móvel digno, com duas gavetas laterais, um verniz escuro cobria em outros tempos seu
jacarandá. Às vezes me dá vontade de parar de escrever, descansar minha cabeça no seu duro regaço e ficar
lembrando a infância longínqua.
É uma . Foi lixada para parecer mais nova, mas mostra ainda por toda parte as quevelha querida mesa rugas
lhe causaram minha inquietação juvenil. O canivete entalhou fundo em sua fibrosa e ainda é possívelcarne
distinguir nomes de antigas amadas, quase esvanecidos.
Lembro que aqui à direita ficava o teu nome pequeno e louro, ó minha namorada de oito anos. Na ponta
esquerda, lá onde existe um nódulo escuro, havia uma cruz assim:
https://www.youtube.com/watch?v=ytCukqe6C5Y
https://www.youtube.com/watch?v=ytCukqe6C5Y
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- como a prenunciar um eterno suplício. A palavra Poesia gravada em caracteres largos, não mais se vê, mas o
pequeno violão desenhado a gilete, com uma clave de sol ao lado, resistiu ao carpinteiro.
(Vinícius de Moraes. . Rio de Janeiro: Editora do autor. 1962)Para viver um grande amor
Ao lermos esse trecho da crônica de Vinícius de Moraes, Velha mesa, vamos logo observando que as palavras
ganham sentidos diferentes a partir do sentimento do autor em relação ao objeto descrito. Não é uma mesa
velha, mas uma velha mesa que é digna, tem regaço, rugas e carne.
É um texto com predominância metafórica, uso da função emotiva da linguagem, personificação da mesa que é
tratada afetivamente pelo autor, mas também apresenta informações objetivas descritas pelas dimensões, tipo
de madeira.
As palavras não apresentam um sentido único. Dependendo da forma como são utilizadas ou da situação em que
são empregadas, podem assumir sentidos diferentes. No texto literário as palavras podem surpreender.
Quando a palavra é utilizada com o seu sentido comum, aquele que aparece no dicionário, fazemos uso da 
denotação.
Quando a palavra é utilizada com o sentido diferente do comum, dizemos que houve conotação.
A linguagem literária, especialmente a poética, é caracterizada por cuja base é a conotação.plurissignificação
O valor conotativo de uma palavra no texto depende sempre da situação sócio-histórica e cultural em que se
situa. Os sentidos fazem-se e se refazem. É a função estética do texto literário.
Vamos comparar a crônica de Vinicius de Moraes com outro texto:
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Peça: Mesa
Comprimento: 237 cm
Largura: 105 cm
Altura: 87 cm
Descrição da peça: Mesa baiana com tampo, saia rendada em peroba, estilo marroquino, com moldura em
jacarandá.
O que percebemos nesse texto é a função utilitária, pois seu objetivo é informar, convencer, documentar.
3 Formas simbólicas de expressão cultural no discurso
O discurso simbólico pode ser entendido como o poder de construir a realidade, isto é, ser capaz de fazer crer ou
transformar a visão de mundo. O valor simbólico do discurso é construído na interação do conteúdo
representado e da expressão em um texto. É a trama das significações.
A linguagem proposta no discurso simbólico apresenta uma dimensão da cultura do mundo, seja reestruturando
o passado, seja projetando o futuro ou ressignificando o presente. O diálogo possível está naquilo em que é
partilhado, dialógico.
Vamos ouvir a letra da música de Chico Buarque, Cálice no link abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=RzlniinsBeY
Na letra da música de Chico Buarque podemos encontrar o discurso simbólico, pois, ao contar o drama da
tortura no Brasil na época da ditadura dos anos sessenta, foi preciso disfarçar a denúncia sob forma de
metáforas. Ao dizer: “Pai, afasta de mim esse cálice”, usa o termo ou o vocábulo fonológico paracálice cale-se
suplicar que terminasse aquele período.
Busca na religiosidade do Pai e do Cálice uma forma de aproximação entre o sofrimento de Cristo no calvário e o
de um povo acuado pela tortura e mortes. No verso “(cálice) De vinho tinto de sangue”, o cálice é o objeto que, na
Bíblia, contém o “sangue de Cristo” e metaforicamente, na música, faz alusão ao sangue derramado pelos que não
aceitaram o governo autoritário e morreram, vítimas de perseguição político-ideológica.
George Hebert Mead (1863-1931) entende que a sociedade humana resulta de sentidos compartilhados, pois são
criadas expectativas e comportamentos comuns na formação do mundo social. Nessa interação, o homem é
sujeito e agente porque compreende e simboliza.
Saiba mais
Clique no link e veja outros textos simbólicos: http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos
https://www.youtube.com/watch?v=RzlniinsBeY
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Fábula é um gênero narrativo que surgiu no Oriente, quando era feito um conjunto de pequenas histórias, de
caráter moral, cujos papéis principais eram desenvolvidos por animais e, por meio dos diálogos entre os bichos e
das situações que os envolviam, procurava-se transmitir sabedoria de caráter moral ao homem, assim, os
animais tornavam-se exemplos para o ser humano.
Cada animal simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a
raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho. Assim, a fábula é uma narrativa com fundo didático. Quando os
personagens são seres inanimados ou objetos, a fábula recebe o nome de apólogo.
O que vem na próxima aula
• Modos de produção de textos e discursos verbais, bem como suas condições de recepção histórico-
cultural;
• textos com diferentes modalidades ou tipologias, tais como descrição, narração e dissertação;
• produção textual verbal através da exploração de leituras plurais;
• hermenêutica comprometida com os limites dos signos.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Estudar as distinções entre o texto literário e o não literário;
• identificar o plano do conteúdo e o da expressão;
• analisar as formas simbólicas de expressão cultural no discurso.
Clique no link e veja outros textos simbólicos: http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos
/gon030/pdfs/aula_08_textos_simbolicos.pdf
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	Olá!
	
	1 Distinções entre o texto literário e o não literário
	2 Função utilitária e a função estética do texto
	3 Formas simbólicas de expressão cultural no discurso
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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