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FUNDAMENTOS DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS A palavra competência tem um significado de senso comum, que é o que a maioria das pessoas compartilha. Uma pessoa competente seria aquela que é responsável e que desempenha bem as funções a ela atribuídas. “Tenho um funcionário competente”, isso significaria: tenho em minha empresa um funcionário com quem posso contar e em quem posso confiar com a segurança de que fará um bom trabalho. Essa concepção de senso comum nos ajuda a compreender a competência em termos organizacionais, como uma abordagem com duas vertentes – a estratégica e a behaviorista – que diversas empresas vêm adotando. A primeira se refere a uma visão mais abrangente, que envolve a empresa como um todo, no sentido de pensar as competências individuais e organizacionais com a finalidade principal da busca da vantagem competitiva sustentável. A teoria da estratégia que embasa a Gestão por Competências quando concebida segundo essa vertente é a Resource- Based View (RBV) ou, como tem sido traduzida, a Visão da Empresa Baseada em Recursos (VBR). Autores partem dos pressupostos dessa teoria para desenvolverem a Gestão por Competências, quando o foco é estratégia. A segunda vertente é a behaviorista está mais vinculada à Gestão de Pessoas e toma como base o comportamento das pessoas e a necessidade de alinhá-lo àquilo que consistiria em um perfil ideal de trabalhador segundo o cargo que ocupa. A finalidade dessa vertente é, sobretudo, que o cargo e a pessoa sejam adequados um ao outro. Além dessas duas abordagens, há ainda outra: a construtivista. Esta é mais ligada à área da educação e não à das organizações. Embora nosso foco seja nas duas primeiras vertentes, a terceira também será apresentada, para conhecimento. O tema competência é instigante e mais presente nas organizações e útil para elas do que imaginamos. Depois dessa nossa conversa, sua visão de competências nunca mais será a mesma. Vamos, então, juntos, rumo a essa nova descoberta. • Compreender o que se entende por competências na gestão organizacional • Conhecer as origens teóricas da gestão por competências. • Conhecer a vertente estratégica da gestão por competências. • Conhecer a vertente behaviorista da gestão por competências. • Conhecer a vertente construtivista da gestão por competências. A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A vertente estratégica. • A vertente behaviorista. • A vertente construtivista VERTENTE ESTRATÉGICA. No campo da estratégia temos duas linhas teóricas principais: a Structure Conduct Performance (SCP) e a Resource-Based View (RBV). A SCP tem como principal representante Michael Porter. Para Porter (1986), as empresas deveriam buscar a vantagem competitiva e, para isso, deveriam traçar estratégias competitivas. Essas estratégias, por sua vez, seriam formuladas a partir da análise da indústria da qual a empresa faz parte e de sua relação com esse ambiente. Porter (1986) sinaliza que há cinco forças que atuam no mercado: a rivalidade entre os concorrentes, a ameaça de entrada de novas empresas, a ameaça de produtos e serviços substitutos, o poder de barganha dos fornecedores e o poder de negociação dos clientes. A partir da análise dessas forças, a empresa formularia, então, sua estratégia para alcançar e manter sua vantagem competitiva frente às demais concorrentes. A SCP é, portanto, uma análise voltada à análise do ambiente externo. A ameaça de produtos substitutos é aquela que mais tira o sono de todos os empresários. Todo produto possui seu ciclo de vida útil. Por mais que um produto não saia inteiramente de circulação, esse produto passará por uma inovação mais cedo ou mais tarde. A Resource-Based View (RBV) – ou Visão da Empresa Baseada em Recursos (VBR), como tem sido traduzida nas produções nacionais –, por sua vez, tem como foco principal a análise do ambiente interno: dos recursos das firmas. Enquanto na SCP acredita-se que é a relação com a indústria que determina o grau de sucesso de uma empresa, na RBV é a própria empresa que determina seu grau de sucesso. E que sucesso é esse? Ambas as teorias, com suas origens na economia, compreendem como sucesso o retorno acima da média do setor e a vantagem competitiva sustentável da firma. É na RBV que a Gestão por Competências tem suas origens estratégicas. A economista Edith Penrose, em sua obra The Theory of the Growth of the Firm (A Teoria do Crescimento da Firma), de 1959, traz de modo inovador para a época a análise dos recursos internos da firma. O comum para época era o olhar para o ambiente, “para fora” da firma ou empresa; fazia parte da própria tradição do campo da economia. Todavia, a autora, ao considerar o interior das firmas, realizou um trabalho inovador em termos de análise econômica. Para a autora, a expansão das firmas - tema principal de sua obra - “baseia-se em boa parte nas oportunidades de usarem mais eficientemente os recursos produtivos de que dispõem” (PENROSE, 2006, p. 36). Esses recursos poderiam ser aqueles próprios da firma, os que já foram por ela adquiridos ou “herdados” e, ainda, aqueles que se pode obter no mercado, sejam eles materiais (instalações, equipamentos, recursos do solo e naturais, matérias-primas, estoques não vendidos, entre outros) ou humanos (a força de trabalho qualificada ou não, pessoal para as áreas administrativa, jurídica, técnica e gerencial). Rubin (1973) também deu uma importante contribuição à concepção de recurso ao destacar que os recursos não podem ser valorados de modo objetivo. Isso porque em cada empresa o recurso está contido em uma série de relações, de cultura e de comunicação, que o faz único ali, dentro daquele contexto específico. No mercado, talvez ele tivesse menos valor do que tem para aquela determinada empresa em que está. E agora chegamos em Birger Wernerfelt, o economista e teórico do management que cunhou o termo Resource-Based View em seu artigo de 1984 intitulado A Resource-Based View of the Firm (em português foi traduzido como “A Visão da Empresa Baseada em Recursos”). Nesse artigo, que se tornou o marco da RBV, o autor desenvolve algumas ferramentas de análise da posição dos recursos nas empresas a fim de destacar as opções estratégicas que emergem dessa análise. A ideia era relacionar recursos e rentabilidade a fim de estabelecer “barreiras de recursos” e garantir a vantagem competitiva da empresa (WERNERFELT, 1984). As empresas deveriam procurar recursos que combinassem bem com aqueles que elas já possuem, a fim de serem fortes em determinados aspectos e não empregarem todas as suas forças em todas as frentes. Além disso, recomenda observar sempre o estoque inicial e atual de recursos, sabendo que há uma dependência deles, e com o intuito de potencializar aquilo que já se tem. Foss (1997, p. 4, tradução nossa) destaca que o objetivo da RBV é “explicar a criação, manutenção e renovação da vantagem competitiva em termos do aspecto dos recursos das firmas”. Peteraf (1993) afirma que a maior contribuição da RBV é a de explicar as diferenças que se mantêm no tocante à rentabilidade da empresa e que não podem ser atribuídas à conjuntura da indústria. Grant (1991) dá uma importante contribuição ao propor um modelo de cinco etapas para o uso da RBV para a formulação de estratégias voltadas à busca da vantagem competitiva: 1) a análise dos recursos básicos da empresa; 2) a avaliação das capacidades presentes nela; 3) a análise do alcance da lucratividade potencial dos recursos; 4) a análise das capacidades da empresa; 5) a ampliação e modernização do conjunto de recursos e capacidades da empresa. Temos então presente que a RBV se ocupa da análise dos recursos das empresas e do trabalho com esses recursos, a fim de que os serviços por eles gerados sejam fonte de vantagem competitiva. Mas não para por aí. Barney (1991)acrescentou uma característica fundamental a toda essa análise: que a vantagem competitiva seja sustentável, ou seja, que se mantenha ao longo do tempo. Para que isso ocorra, segundo o autor, os recursos devem ter algumas características: serem valiosos, raros, imperfeitos quando imitados pelos concorrentes e não facilmente substituíveis. Nas palavras de Barney (1991, p. 105-106, tradução nossa), o recurso: a) deve ser valioso, no sentido de que ele explora oportunidades e/ou neutraliza ameaças no ambiente da firma, (b) deve ser raro dentre os concorrentes atuais e potenciais da empresa, (c) devem ser imperfeitos quando imitados; (d) não pode haver substitutos estratégicos equivalentes para esse recurso que sejam valiosos nem raros ou imperfeitos quando imitados. Collins e Montgomery (1995) sugerem que sejam feitos alguns testes para que se possa inferir se um recurso é ou não importante para uma determinada estratégia efetiva. Além da análise de como o recurso é percebido pelo mercado - se é visto como valioso ou não - os autores aconselham que se faça os seguintes testes: 1) O teste da não imitabilidade: o recurso é difícil de ser copiado? [...]; (2) O teste da durabilidade: quão rapidamente esse recurso se deprecia? [...]; (3) O teste da apropriação: quem detém o valor que o recurso cria? [...]; (4) O teste da substituibilidade: um recurso único pode ser superado por um recurso diferente? [...]; (5) O teste da superioridade competitiva: os recursos de quem são realmente melhores? Em suma, a Resource-Based View é uma teoria da estratégia que objetiva explicar as condições sob as quais determinados recursos das firmas podem ser fonte de vantagem competitiva sustentável e a diferença de desempenho entre as empresas. Dois pressupostos embasam essa teoria: os recursos estratégicos são distribuídos de forma heterogênea entre as firmas (heterogeneidade) e essa diversidade é estável ao longo do tempo (imobilidade dos recursos) (BARNEY, 1991). A Resource-Based View é a base da Gestão por Competências quando concebida pela sua origem estratégica. De fato, a Gestão por Competências também tem como objetivo que a empresa obtenha uma vantagem competitiva sustentável e, para isso, utiliza-se dos recursos internos das empresas - nesse caso, mais especificamente, das pessoas que ali trabalham, no sentido de otimizar suas capacidades, visando maiores e melhores resultados de seu trabalho. Temos ainda a outra vertente a ser abordada: a behaviorista. De qualquer modo, se você escolher se aprofundar teoricamente nesse tema, os conceitos e os autores apresentados nessa aula são os elementos-chave para a construção de um referencial teórico da Resource-Based View. • A vertente behaviorista. A vertente behaviorista tem como principais nomes David McClelland, psicólogo americano que, a partir de seu artigo de 1973 intitulado Testing for competence rather than intelligence (“Testando competências ao invés de inteligência”, tradução livre), lançou esse tema no âmbito da psicologia e que logo em seguida foi inserido também no da administração. Posteriormente, Boyatzis (1982), Le Boterf (1995), Parry (1996), Dutra (2001) e Fleury e Fleury (2004) desenvolveram trabalhos importantes nessa linha - alguns deles tangenciando ambas as vertentes, como Dutra (2001), entre vários outros autores. McClelland (1973) propôs a substituição dos testes de inteligência por testes de competências, que considerava mais adequado para analisar e prever o futuro desempenho no trabalho. Todavia, o autor não atrelava competências a desempenho, mas a comportamento. Os testes de competências deveriam ser baseados, principalmente, nos comportamentos dos indivíduos, e não tanto em seu desempenho profissional, e esses comportamentos poderiam ser modificados mediante suas experiências e treinamentos. Boyatzis (1982), também psicólogo, associou competências a desempenho de uma forma mais pragmática, ou seja, como competências sendo a causa do bom desempenho. No entanto, mostrou-se mais cético no tocante ao aprimoramento do indivíduo, considerando o comportamento como algo inato. Podemos inferir que Boyatzis (1982) conduziu o estudo de competências à forma predominantemente organizacional, em que bom desempenho é a meta a ser atingida. Bem, se o bom desempenho é alcançado por meio das competências dos indivíduos, então vamos atrás delas! Embora tenha sofrido críticas de outros autores, o trabalho de Boyatzis (1982) tornou-se uma referência na concepção de competências segundo a abordagem behaviorista. Isso porque, como já disse, ele se aproximou mais daquilo que as organizações almejavam e isso, é claro, rendeu-lhe maior visibilidade que o próprio antecessor do conceito. Le Boterf (1995), por sua vez, tem a visão de competência estritamente relacionada com o conceito de entrega de Dutra (2001), ou seja, para o autor, competência é fornecer à empresa o resultado de seus conhecimentos e habilidades e, ainda, adaptando-se à cultura e à conjuntura empresarial. Você pode observar, caro(a) aluno(a), que esse conceito de entrega aparece com frequência quando o tema é competências. Isso acontece porque a entrega significa a contribuição que de fato a pessoa dá à empresa, por meio de seus conhecimentos,habilidades e atitudes. Na Gestão por Competências o que se pretende é justamente isto: que as pessoas contribuam efetivamente com a empresa, ou seja, que façam continuamente entregas. É o que de concreto a pessoa contribui que gerará os resultados esperados para os gestores. Scott Parry (1996) foi outro autor importante no que diz respeito à abordagem behaviorista de competências. Ele inicia uma proposta de distanciamento da psicologia pura, uma vez que foca na função da pessoa e de seu desempenho nela e não tanto em seus traços de personalidade. A personalidade, para Parry (1996) passa a ser algo secundário e não algo tão relevante quanto àquilo que a pessoa pode desempenhar. As competências como traços ou características pessoais Como a própria referência indica, as competências pessoais são consideradas características inerentes à pessoa - às suas habilidades, aspectos de autoimagem ou papel social. No fundo são competências que derivam de traços pessoais da pessoa e, portanto, estão enraizados na sua personalidade, são capacidades intra-pessoais. Estas competências como traços ou características pessoais permitem ao nível da gestão de recursos humanos fazer a distinção, por exemplo, entre pessoas com atribuições e qualificações semelhantes. Ou seja, são as características pessoais, em termos habilidades, estilo e performance, que tornam cada pessoa única e distinta na empresa, mais ou menos talhada para uma ou outra responsabilidade. Daí que as características pessoais sejam também avaliadas na gestão de competências ao nível dos recursos humanos. Boyatzis (1982), conforme já vimos, acreditava que comportamento era algo inato. Outros autores discordam. A questão é que a crença de que comportamento e personalidade possa ou não ser alterados pode influenciar nas ações dentro das empresas no tocante aos seus funcionários, como no impasse apresentado no Minicaso. Dutra (2001) é um dos expoentes nacionais nesse campo e apresentou diversos conceitos fundamentais, como o de entrega, já mencionado, e a relação entre a complexidade das competências e a relação com os níveis de complexidade daquilo que o mercado ou a atividade requer: O nível de contribuição da pessoa para o contexto onde se insere está relacionado ao nível de complexidade da demanda, quanto maior a complexidade da demanda maior é o nível da contribuição. Desse modo, o desenvolvimento da pessoa é caracterizado por sua capacidade em absorver atribuições e responsabilidades de maior complexidade e não pelo simples fato de acumular mais conhecimentos ou habilidades através da experiênciae formação (DUTRA, 2008, p. 5). Trata-se de um desafio para o profissional, que empregará seus conhecimentos, habilidades e atitudes à execução de atividades que poderão demandar entregas mais complexas do que aquelas as quais um profissional padrão estaria acostumado. Dutra, em seus diversos trabalhos, relaciona a abordagem behaviorista com a estratégica, trazendo elementos comportamentais para a Gestão por Competências ao mesmo tempo que os direciona para a busca da vantagem competitiva, que é objetivo da vertente estratégica. De fato, embora tenham se dedicado a enfoques mais específicos, essas duas vertentes estão relacionadas. De que forma? O comportamento, que é o foco da abordagem behaviorista, se bem alinhado com as competências que se espera de determinado trabalhador, consiste em elemento agregador para a empresa, o que tem o potencial de significar um diferencial competitivo para empresa - foco este da vertente estratégica. A VERTENTE CONSTRUTIVISTA A vertente construtivista está relacionada à área da educação. Trata-se de uma concepção distinta de competência, que apresentarei aqui a título de conhecimento, embora não se aplique diretamente aos nossos estudos voltados às organizações. Na pedagogia, a abordagem por competências assume os pressupostos de que os alunos aprendem por si, aprendem a aprender, e há a construção pessoal do saber através da interação. O conhecimento passa a ter como base a aquisição de competências (DIAS, 2010). Com relação ao aprendizado, estudos têm mostrado que aspectos emocionais, como autoconfiança e força de vontade, são tão ou mais importantes para o aprendizado do que as capacidades cognitivas, como atenção, memória e organização. Alguns especialistas também acreditam que desenvolver a inteligência socioemocional pode ajudar a criar caminhos neurológicos para que as crianças se recuperem mais rapidamente de experiências negativas, já que estimulam o córtex pré- frontal, área do cérebro responsável por planejamento, pensamentos complexos e modulação do comportamento. Dias (2010) apresenta alguns conceitos de competências no âmbito da educação, sistematizados no quadro a seguir: Quais são as qualidades profissionais que o professor deve ter para ajudar os alunos a desenvolver competências? Antes de ter competências técnicas, ele deveria ser capaz de identificar e de valorizar suas próprias competências, dentro de sua profissão e dentro de outras práticas sociais. Isso exige um trabalho sobre sua própria relação com o saber. Muitas vezes, um professor é alguém que ama o saber pelo saber, que é bem sucedido na escola, que tem uma identidade disciplinar forte desde o ensino secundário. Se ele se coloca no lugar dos alunos que não são e não querem ser como ele, ele começará a procurar meios interessar sua turma por saberes não como algo em si mesmo, mas como ferramentas para compreender o mundo e agir sobre ele. O principal recurso do professor é a postura reflexiva, sua capacidade de observar, de regular, de inovar, de aprender com os outros, com os alunos, com a experiência. Mas, com certeza, existem capacidades mais precisas: • saber gerenciar a classe como uma comunidade educativa; • saber organizar o trabalho no meio dos mais vastos espaços-tempos de formação (ciclos, projetos da escola); • saber cooperar com os colegas, os pais e outros adultos; • saber conceber e dar vida aos dispositivos pedagógicos complexos; • saber suscitar e animar as etapas de um projeto como modo de trabalho regular; • saber identificar e modificar aquilo que dá ou tira o sentido aos saberes e às atividades escolares; • saber criar e gerenciar situações problemas, identificar os obstáculos, analisar e reordenar as tarefas; • saber observar os alunos nos trabalhos; • saber avaliar as competências em construção. Fonte: Perrenoud (2000, p. 21). É possível perceber que se trata de um desafio para o profissional da educação. Se, por um lado, essa é uma visão inovadora da educação e com perspectivas de bons resultados futuros, por outro lado, cabe a reflexão de que a formação de educadores terá que ser reformulada para que estejam preparados para esse novo desafio. Ao ser questionado sobre o que o professor deveria fazer para modificar sua prática a fim de desenvolver um modelo educacional baseado em competências, Perrenoud (2000, p. 20) deu a seguinte resposta: “Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural. Os professores devem parar de pensar que dar o curso é o cerne da profissão. Ensinar, hoje, deveria consistir em conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem, seguindo os princípios pedagógicos ativos construtivistas. Para os adeptos da visão construtivista e interativa da aprendizagem, trabalhar no desenvolvimento de competências não é uma ruptura. O obstáculo está mais em cima: como levar os professores habituados a cumprir rotinas a repensar sua profissão? Eles não desenvolverão competências se não se perceberem como organizadores de situações didáticas e de atividades que têm sentido para os alunos, envolvendo-os, e, ao mesmo tempo, gerando aprendizagens fundamentais”. Fonte: Perrenoud (2000, p. 20). ATIVIDADE 1. A Structure Conduct Performance (SCP) e a Resource-Based View (RBV) são duas teorias que concebem a estratégia de forma diferente. Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que representa a principal diferença entre a Structure Conduct Performance (SCP) e a Resource-Based View (RBV). a) A principal diferença entre a SCP e a RBV é o enfoque que se dá à análise: na SCP o enfoque é o ambiente externo (ou a indústria) e na RBV o enfoque é o interior das organizações (e/ou seus recursos). b) A principal diferença entre a SCP e a RBV é o enfoque que se dá à teoria: na SCP o enfoque é estratégico e na RBV o enfoque é nas relações humanas. c) A principal diferença entre a SCP e a RBV é o enfoque que se dá ao setor: na SCP o enfoque a indústria e na RBV o enfoque é o setor de serviços. d) A principal diferença entre a SCP e a RBV é o enfoque que se dá à abrangência: na SCP o enfoque é a organização e na RBV o enfoque é o indivíduo. 2. Apesar de ter sofrido críticas - como as de Porter (1991) - a tipologia de Barney (1991) a respeito das características que os recursos deveriam ter para que fossem fonte de vantagem competitiva sustentável para as organizações é de fundamental importância para a análise dos recursos na Resource-Based View. Quais são essas características? a) rentável, imitável, substituível e homogêneo. b) valioso, raro, imperfeito quando imitado, não facilmente substituível. c) rentável, acessível, imitável, não facilmente substituível. d) abundante, valioso, perfeito quando imitado, facilmente substituível. e) abundante, valioso, imitável, não facilmente substituível. 3. Vimos na abordagem behaviorista, como a própria tradução sugere - comportamental - uma tendência a se observar comportamento. A respeito dessa abordagem, leia as afirmações abaixo: I. Parry (1996) afirma que a personalidade é elemento fundamental para a análise do desempenho do trabalhador. II. O comportamento é considerado nessa abordagem como a base das análises acerca das competências. III. Boyatzis (1982) considera que o comportamento é algo inato. Assinale a alternativa correta: a) Somente I está correta. b) Somente I e II estão corretas. c) Somente II e III estão corretas. d) Somente I e III estão corretas. 4. Acerca das vertentes estratégica e behaviorista na concepção de competências, leia as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta:I. A vertente estratégica tem sua origem na Resource-Based View e está relacionada à busca da vantagem competitiva sustentável das empresas. II. A vertente behaviorista baseia-se no indivíduo e em seu comportamento como base para a análise de suas competências. III. As vertentes estratégica e behaviorista são completamente independentes, não estando relacionadas entre si. Assinale a alternativa correta: a) Somente I está correta. b) Somente I e II estão corretas. c) Somente II e III estão corretas. d) Somente I e III estão corretas. 5. A respeito da abordagem construtivista, assinale a alternativa correta: I. A origem dessa vertente se dá pela psicologia por Noam Chomsky, mas no contexto da linguística. II. A vertente construtivista está relacionada à área da educação. III. Trata-se de uma abordagem diferenciada e inovadora em termos de educação, sobretudo em comparação à perspectiva tradicional. a) Somente I está correta. b) Somente I e II estão corretas. c) Somente II e III estão corretas. d) Somente I e III estão corretas. e) Todas estão corretas. 6. Assinale a alternativa correta que aponta a principal característica da vertente construtivista frente às vertentes estratégica e behaviorista. a) A vertente construtivista está voltada à educação e à pedagogia. b) A vertente construtivista está em contradição com as vertentes estratégica e behaviorista, por apresentar conceitos mutuamente excludentes com relação a essas abordagens. c) A vertente construtivista difere-se da behaviorista por não considerar a psicologia como um dos elementos de sua origem. d) A vertente construtivista difere-se da estratégica por não preparar o indivíduo para o desenvolvimento de suas competências. Resolução das atividades 1. a 2. b 3. c 4. b 5. e 6. a RESUMO Há três principais vertentes teóricas quando se fala em competências: a estratégica, a behaviorista e a construtivista. Com relação à vertente estratégica, podemos dizer que a origem da Gestão por Competências se dá na Resource-Based View (RBV), que é uma abordagem voltada à análise dos recursos internos das empresas. Wernerfelt (1984) foi o primeiro a cunhar o termo Resource-Based View e baseou-se nos trabalhos de Penrose (1959), que tratou na época os recursos da firma de forma inovadora, já que a tradição econômica era a de analisar somente o ambiente externo da empresa. Diversos outros autores contribuíram para o avanço da RBV. Dentre eles, destaca-se Barney (1991) e sua tipologia acerca das características que um recurso deve ter para contribuir para a vantagem competitiva sustentável: valioso, raro, difícil de imitar e de ser substituído. A vertente behaviorista tem como base a psicologia e sua aplicação no campo da administração. O comportamento passa a ser a base das análises acerca das competências. Boyatzis (1982) associou competências a desempenho e mostrou-se mais cético no tocante ao aprimoramento do indivíduo, considerando o comportamento como algo inato. Le Boterf (1995), por sua vez, tem a visão de competência estritamente relacionada com o conceito de entrega de Dutra (2001), ou seja, para o autor, competência é fornecer à empresa o resultado de seus conhecimentos e habilidades e, ainda, adaptando-se à cultura e à conjuntura empresarial de cada momento. Scott Parry (1996) foca na análise na função da pessoa e de seu desempenho, e não tanto em seus traços de personalidade. A personalidade, para Parry (1996), passa a ser algo secundário e não algo tão relevante quanto àquilo que a pessoa pode desempenhar. Dutra (2001) apresentou o conceito de entrega e a relação entre a complexidade das competências e a relação com os níveis de complexidade daquilo que o mercado ou a atividade requer. As vertentes estratégica e behaviorista, embora com características e origens distintas, estão interligadas nos estudos sobre competências. A vertente construtivista, por fim, está relacionada às práticas pedagógicas e à educação. Trata-se de uma abordagem diferenciada e inovadora em termos de educação, sobretudo em comparação à perspectiva tradicional. Os pressupostos assumidos por essa vertente é de que os alunos aprendem por si, aprendem a aprender e há a construção pessoal do saber através da interação. A origem dessa vertente se dá - assim como a behaviorista - pela psicologia por Noam Chomsky, mas no contexto da linguística. Também para os educadores, essa abordagem pedagógica representa um desafio que requer preparo diferenciado daquele que se tem na educação tradicional. APROFUNDANDO Cardoso e Matos (2010) realizaram uma pesquisa cujo objetivo foi analisar as competências organizacionais de duas instituições financeiras públicas - ao que chamaram de Banco A e Banco B - como recursos estratégicos para o alcance de vantagens competitivas que permitam cumprimento da sua missão. Analisaram ainda as competências essenciais e distintivas de cada uma das organizações, estabelecendo uma análise comparativa entre estas. Analisaram ainda as competências essenciais e distintivas de cada uma das organizações, estabelecendo uma análise comparativa entre estas. As principais competências organizacionais mapeadas nos bancos estudados indicaram como recursos estratégicos os recursos humanos, negócios internacionais, capacitação, universidade corporativa, educação empresarial, relacionamento interpessoal, análise sistemática do nível de competência e motivação de sua equipe, gestão de pessoas por competências, ética e prática profissional. As competências essenciais em serviços financeiros, identificadas no Banco A, mostraram que apenas o processamento de transações apresentou vantagem competitiva e de natureza temporária. Já no Banco B, os resultados não apresentaram nenhum serviço financeiro com vantagem competitiva. A principal competência distintiva de uma instituição é ser o maior banco de desenvolvimento da América Latina. Isso acontece por meio de uma política seletiva e pela capacitação dos seus agentes produtivos. Em contrapartida, a outra instituição se posiciona como um banco sem similares na América Latina, atuando em três grandes segmentos, que são a transferência de benefícios, o desenvolvimento urbano e os serviços financeiros, gerando resultados que promovem o cumprimento de sua missão. Do ponto de vista da vantagem competitiva sustentável sob a ótica da visão baseada em recursos, pode-se afirmar pela pesquisa que o Banco A detém maior competitividade em relação ao Banco B, pois seus recursos e competências classificados como vantagem competitiva sustentável nos recursos organizacionais e nas competências essenciais em serviços financeiros são: conhecimentos, sistemas e, em relação aos serviços financeiros, apenas o processamento de transações apresentou vantagem competitiva, porém de natureza temporária. A gestão por competências deve ser vista como parte de um sistema maior de gestão organizacional, sendo importante que esteja em perfeita sintonia com a estratégia organizacional (missão, visão e objetivos). O gerenciamento baseado nas competências representa uma mudança cultural em direção a um maior senso de responsabilidade e autogestão dos funcionários, pois o conceito de competência vai além dos conhecimentos técnicos, incluindo as ações e o comportamento do indivíduo. Assim, pode-se considerar a gestão por competências e a gestão estratégica como importantes meios para identificar o potencial das organizações e de seus funcionários, melhorando o desempenho da equipe e a qualidade das relações entre funcionários e alta administração, além de servir de estímulo aos esforços para alcançar resultados positivos e satisfatórios para o indivíduo e para a organização
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