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CAPÍTULO 4 TEORIA DAS RESTRIÇÕES A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Apontar ferramentas para identifi cação das restrições. Identifi car alternativas para otimizar processos. Identifi car as restrições de cada etapa do processo e sua infl uência no processo global. Redesenhar o processo para corrigir possíveis limitações e pontos críticos. 76 DESENHO DE PROCESSOS 77 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 CONTEXTUALIZAÇÃO Quando as primeiras indústrias e atividades produtivas surgiram com os modelos Tayloriano e Ford, buscava-se o aumento da produtividade da empresa, reduzindo o tempo e aumentando a efi ciência do processo produtivo. Este modelo industrial funcionou de forma gloriosa entre os anos 50 e 60, atendendo à demanda pós II Guerra Mundial e do crescimento populacional que se seguiu. Neste ponto, a busca das indústrias centrava-se no aumento contínuo de sua produção, não havia oportunidade para geração de estoques ou saturação do mercado. Contudo, nos anos 1970, com as crises econômicas que se disseminaram globalmente, este cenário sofreu uma drástica reversão. O ciclo de desemprego, redução da demanda, aumento da infl ação, redução no poder aquisitivo etc. levaram as indústrias a repensar seu modelo produtivo. Era preciso avaliar de que maneira e em que quantidade elas continuariam suas cadeias produtivas. A partir desta percepção, nasce o conceito do Just-in-time, proposta japonesa focada na redução de desperdícios e atendimento a demandas específi cas. Assim, para que seja possível manter uma linha produtiva em sincronia completa, é preciso analisar cada etapa de seu processo e identifi car os pontos falhos ou que potencialmente prejudiquem a sequência produtiva. Como visto nos capítulos anteriores, o Desenho de Processo prevê a determinação das etapas produtivas atribuindo sua função e importância, buscando a contínua evolução do seu Desenho de Processo. Um dos fatores mais importantes nesta metodologia é a identifi cação das etapas restritivas, da sua infl uência na sequência produtiva e das possíveis alternativas para solucionar o problema. Assim, o presente capítulo detalhará a Teoria das Restrições e sua relação com o Desenho de Processos as – is, estimulando a discussão de um Desenho de Processos to – be. 78 DESENHO DE PROCESSOS CONCEITO DE RESTRIÇÕES O entendimento do conceito de Restrição vem evoluindo nos últimos anos. Inicialmente, restrição era entendida como os limites orçamentários da atividade, sendo a cadeia produtiva vista como uma máquina de operação ótima contínua. Atualmente, restrição é entendida como toda e qualquer etapa onde o escoamento da demanda seja difi cultado (FURLAN, 2013). Ainda, considerando a necessidade de desenvolver e implementar uma solução para a cadeia produtiva, surgia a Teoria das Restrições, que, segundo Spencer e Cox (1995), é um conjunto de informações envolvendo normas e princípios que em conjunto orientam um processo focado em um gerenciamento otimizado e uma redução contínua de desperdícios. A Teoria das Restrições possui como princípios básicos, conforme Corrêa e Gianesi (2007): • Balancear o fl uxo e não a capacidade total. • As restrições são os fatores limitantes e não a disponibilidade de seus recursos. • Uma hora ganha no desempenho da restrição é equivalente a uma hora ganha para todo o sistema. • As restrições determinam o fl uxo do sistema e o estoque de operação do mesmo. • Os lotes transferíveis para etapas seguintes são variáveis. Assim, a Teoria das Restrições busca aumentar a lucratividade e reduzir os inventários, tomando como base os princípios japoneses de produção just-in- time, quando se reduz o estoque disponível, reduzindo o espaço físico necessário para operação, além de reduzir os riscos associados com acondicionamento inapropriado do material (SANTOS, 2010). Além disso, a produção just-in-time é reconhecida por evidenciar os problemas no sistema produtivo, uma vez que, quando surgem, eles impactam de forma direta e imediata nos processos seguintes. Assim, a metodologia just- in-time possui um sequenciamento produtivo reverso, os subprocessos são impulsionados pelos processos seguintes à medida que surgem as necessidades, uma vez que não há formação de estoque em nenhuma etapa (SLACK et al., 1996). 79 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 Atividade de Estudos: 1) A teoria das restrições, também conhecida como TOC (Theory of Constraints), tem como ideia básica: a) ( ) Elevar a produção da empresa ao nível de capacidade instalada, usando o custo-padrão como forma de controle de custos e determinação das variáveis. b) ( ) Encontrar as restrições que limitam os ganhos da empresa e gerenciar efi cazmente a utilização dessas restrições, garantindo a maximização do lucro. c) ( ) Eliminar os gargalos visando a expandir a produção até o ponto em que alcance o máximo de volume per capita, independente do custo que possa gerar. d) ( ) Transferir as restrições do sistema para a etapa seguinte, de forma a diluir pela cadeia produtiva as limitações observadas em um determinado processo. e) ( ) Restringir as despesas operacionais ao limite do mínimo possível, visando a elevar o lucro independentemente do aumento de produção e vendas. Entende-se ainda que a Teoria das Restrições prioriza o combate à incerteza no ambiente de trabalho por meio da criação de pulmões de estoque (time buffers) entre a restrição e os demais recursos no processo (ALMEIDA JÚNIOR, 2009). Esta interação insere uma garantia adicional da demanda de recursos no momento exato em que surge a necessidade e será inserida a interpretação das restrições em metodologias de análises (a serem discutidas mais adiante). TIPOS DE ELEMENTOS RESTRITIVOS Na busca de identifi car de forma objetiva as etapas restritivas do seu Desenho de Processos, é comum deparar-se com a questão: qual é a restrição mais comumente vista? O conceito de Restrição permite interpretações variadas que podem estar relacionadas de forma direta ou indireta com o sistema produtivo. Ainda, as restrições podem ser internas ou externas e são normalmente associadas com 80 DESENHO DE PROCESSOS dimensionamento inadequado ou défi cits em treinamento da equipe envolvida com a etapa restritiva. As restrições podem ser entendidas como: i) físicas – que envolvem máquina, instalações, sistemas produtivos etc.; ii) não físicas – que envolvem demandas, procedimentos, treinamentos e gerenciamento de colaboradores envolvidos com o processo de produção (WANKE, 2009). De uma forma geral, Castro (2005) defi ne as restrições como processos que ocorrem entre as etapas de planejamento e controle, tais como: • Precisão na previsão de vendas. • Gerenciamento adequado entre os prazos e as prioridades da empresa. • Perdas de efi ciência devido a inovações. • Difi culdades na gestão de recursos humanos. • Difi culdades na gestão de estoques de matérias-primas. Contudo, quando se consideram todas as etapas do Desenho de Processos em seus mais variados graus de maturação, aconselha-se classifi car as restrições conforme proposto por Slack et al. (1996), defi nindo: • Restrições de custos: fl utuações em custo associado com matérias-primas, que agregam valor ao produto fi nal, ou ainda com gastos indiretos durante o processo, devem ser reduzidas de forma a não tornar o orçamento um fator restritivo. Neste ponto é importante analisar os indicadores de desempenho que envolvem a parcela orçamentária do Desenho de Processos. • Restrições de capacidade: parte da proposta just-in-time envolve a redução de estoques de matérias-primas (que podem perder qualidade com o tempo) e redução de estoques de produtos (que igualmente podem sofrer deterioração, além de apresentarem custo associado de estocagem). Adicionalmente, é importanteanalisar a capacidade produtiva em termos de gerar uma sequência de procedimentos onde seja evitada a formação de bolsões ociosos (pontos onde estoque de matéria-prima é insufi ciente) ou bolsões com défi cit (pontos onde há capacidade produtiva inutilizada). 81 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 • Restrições de tempo: a atividade produtiva deve ser dimensionada de forma que o volume produzido esteja em concordância com a demanda esperada para determinada época de disponibilidade. Em momentos onde não há sintonia entre esses aspectos é comum haver saturação do produto no mercado. • Restrições de qualidade: a qualidade da matéria-prima e do produto entre subprocessos deve ser constantemente verifi cada de forma a apontar não conformidades produtivas e identifi car etapas falhas no processo. Por vezes, o produto fi nal apresenta característica inadequada ou indesejada por conta de suprimento de matérias-primas defeituosas. A identifi cação da restrição de qualidade permite a substituição de fornecedor, evitando o custeio de um processo produtivo falho. Recentemente, com as demandas atuais do mercado consumidor, é comum ver empreendimentos investindo e viabilizando estudos que analisem seu Desenho de Processos apontando possíveis restrições, retrabalhos, gargalos e implementando técnicas de feedback interno e externo que potencializem a capacidade produtiva dos empreendimentos. Neste enfoque, estudos como os desenvolvidos por Marinho Junior (2009), analisando as restrições em estabelecimentos reais, têm se tornado cada vez mais comuns. Da análise desenvolvida em uma indústria siderúrgica, escolheu-se trabalhar com os seguintes elementos restritivos (levantados por meio de entrevistas com os colaboradores). 82 DESENHO DE PROCESSOS Quadro 12 - Tipos de restrições identifi cados e os seus detalhamentos Fonte: A autora. IDENTIFICAÇÃO DAS RESTRIÇÕES A identifi cação das restrições é a primeira etapa na busca de solucionar o problema, a correta identifi cação da restrição evita etapas de retrabalho posteriores. Como forma de ilustrar o problema, vejamos o exemplo proposto pelo Sebrae (2008), no caso a seguir. Restrições Detalhamento Técnicas Capacidade técnica de produzir o produto fi nal. Capacidade Determinam a possibilidade produtiva comprometida pela capacidade (mão de obra, equipamento, insumo). Demanda Não há demanda que justifi que o incremento produtivo. Envolvimento da equipe Não há comprometimento ou entendimento da importância dos processos envolvidos por parte dos colaboradores. Tempo de realização das tarefas O tempo de produção é curto considerando as análises necessárias. Mão de obra Número de colaboradores envolvidos com cada procedimento. Manutenção de maquinário A necessidade de manutenção como medida preventiva e periódica representa um tempo de inatividade. Logística interna Análise da capacidade limitada de estocagem entre as etapas de processo e o alinhamento temporal entre elas. Logística externa A gestão de terceiros, envolvendo sua efi cácia e comprometimento com os serviços prestados, torna-se fator restritivo quando fogem do planejamento. Custos Análise de todas as etapas que envolvem custos e associam-se com os preços de venda do produto obtido. Softwares As modelagens realizadas em software nem sempre estão em concordância com a atividade em campo e o treinamento defi ciente compromete a correta utilização do software. 83 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 Atividade de Estudos: 1) Uma empresa de batata palha possui os seguintes equipamentos: - Uma descascadora (50 kg de batata por hora). - Máquina de cortar batata palha (70 kg de batata por hora). - Fritadeira (40 kg de batata por hora) - Mesa para embalagem (100 kg por hora). Quadro 13 - Detalhe do volume de produção da empresa de batata palha Etapa Produção Défi cit Descascadora 50 kg/h Cortadeira 70 kg/h 20 kg/h Fritadeira 40 kg/h 30 kg/h Empacotadeira 80 kg/h 40 kg/h Mesa de embalagem 100 kg/h 20 kg/h Fonte: Adaptado de Sebrae (2008). Note que nesta cadeia é possível identifi car pontos de ociosidade (cortadeira, mesa de embalagem, empacotadeira) e pontos de sobrecarga (fritadeira). As duas principais restrições são, portanto, a produção insufi ciente na descascadora, levando a uma operação abaixo do potencial produtivo da etapa seguinte, e uma atividade inferior ao produto de entrada visto na fritadeira, levando a um delay na produção e possível acúmulo de material antes das atividades seguintes. A problemática neste caso é: devemos aumentar a produção investindo em equipamentos que otimizem as restrições do Desenho de Processos? __________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 84 DESENHO DE PROCESSOS O fenômeno envolvendo saturação de produto no mercado é comumente visto especialmente em épocas festivas e associadas a comemorações universais, tais como Natal, Páscoa, São João, entre outros. Ao tratar de produtos perecíveis, a oscilação no preço de revenda é esperada considerando o baixo tempo de prateleira dos produtos. A problemática do desperdício e os custos associados com a saturação de produtos no mercado vêm recebendo atenção das maiores empresas de alimentos do mundo, que, de forma criativa, adéquam-se às demandas e oscilações do mercado sem comprometer sua lucratividade. Como exemplo, as empresas Kopenhagen e Brasil Cacau recentemente aderiram a seu planejamento recursos tecnológicos capazes de, por meio de simulação computacional, prever a demanda de cada mercado local. Para maiores informações, visite: <http://www.gazetadopovo.com.br/economia/nova-economia/ kopenhagen-e-brasil-cacau-usam-inteligencia-artificial-para-nao- faltar-ovos-de-pascoa-8v9aibp1usrpkljuxzkthn9rn>. OTIMIZAÇÃO DO DESENHO DE PROCESSOS Para auxiliar na identifi cação e abordagem das restrições e seu comportamento no seu processo produtivo global, estudiosos como Cox e Spencer (2002) propõem a metodologia vista no quadro a seguir: 85 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 Quadro 14 - Elaboração do ciclo de análise de elementos restritivos como forma de implementação da melhoria contínua Fonte: Adaptado de Cox e Spencer (2002). Em princípio, a identifi cação das restrições estava associada à programação computacional proposta pelo físico israelense Elyahu M. Goldratt, chamado Optimized Production Technology (OPT), na década de 1970, como forma de prever o comportamento produtivo visando ao aumento da lucratividade de forma contínua (RIBEIRO, 2013). Para maior entendimento dos conceitos aplicados na Teoria de Restrição, é interessante analisar estudos de casos reais onde processos foram, de alguma forma, otimizados a partir da aplicação do nosso objeto de estudo. Assim, para maior aprofundamento do conteúdo, acesse: <http://www.simpoi.fgvsp.br/arquivo/2010/artigos/ E2010_T00482_PCN08110.pdf>. Etapa Desenvolvimento Identifi cação das restrições do sistema É analisado o fl uxo do processo de forma a apontar a etapa que limita o ganho de todo o sistema. Defi nição da abordagem para as restrições São defi nidas novas abordagens para as tarefas restritivas buscando melhorar a efi cácia do Desenho de Processos. Subordinação de todos os outros recursos ao recurso restritivo Direcionam-se esforços para que todas as tarefas envolvidas com a restrição direcionem atenção para melhoria do desempenho da restrição. Elevar a restrição Atribui-se capacidade adicional, aumentando assim a importância atribuída à restrição, trazendo a mesma à tona. Análise da resposta às mudanças. Caso o problema seja sanado,retorne à etapa de identifi cação de novas restrições Uma vez sanada a restrição inicial, é possível que surjam novos elementos restritivos que devem ser abordados. Desta forma, implementa-se a melhoria contínua no sistema. 86 DESENHO DE PROCESSOS Contudo, com a evolução do entendimento moderno e as mudanças vistas no mercado consumidor, surgiram outras propostas e softwares envolvendo a análise econômica dos empreendimentos com base na identifi cação e aplicação da Teoria das Restrições. Tome como exemplo o método Tambor-Pulmão-Corda (TPC) (SANTOS, 2010), onde temos: 1. Tambor: entendido como o gargalo do processo, pode ser abordado como o processo mais lento, ou menos efi caz entre os demais, o que limita o ritmo de produção. Assim, todos os demais processos devem seguir um ritmo determinado, ou subordinados, pelo tambor. 2. Pulmão: é um determinante temporal, o pulmão estabelece um tempo previsto para a atividade restritiva, fazendo com que o elemento restritivo esteja sempre ativo. 3. Corda: consiste em uma linha de comunicação entre o elemento restritivo e a entrada de matérias-primas. Considera-se, ilustrativamente, que em casos onde a comunicação ocorre de forma adequada e imediata, a corda está esticada. Assim, o elemento restritivo (tambor) está funcionando em plena atividade e dentro do previsto (pulmão), comunicando-se com a entrada de matérias-primas de forma a evitar pontos de ociosidade ou de défi cit produtivo (corda). Apesar da vasta aceitação deste método, e dos incrementos vistos nas cadeias produtivas que constantemente adotam a metodologia Tambor-Pulmão- Corda, metodologias que propõem atribuição numérica para a mensuração da etapa “corda” são vistas em literatura buscando aprimorar o método já implementado. A principal vantagem destes recursos propostos é a quantifi cação da “folga” entre demanda e suprimento de forma a analisar propostas de redesenhos ou ainda análises de defasagem em metodologia e/ou equipamentos. Por meio da quantifi cação das unidades de folga presentes na corda, é possível prever momentos de manutenção ou substituição de maquinário, ou ainda analisar défi cits operacionais relacionados à equipe de colaboradores, apontando indivíduos com défi cit em seus treinamentos e capacitações (SOUZA, 2010). Alguns grupos de pesquisa surgem em literatura propondo tais otimizações com metodologias próprias e adequadas para casos particulares. Para aprofundamento na temática em ambientes de produção sob encomenda, acesse: <http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n4/a08v17n4>. 87 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 Assim, com a correta identifi cação das etapas restritivas do processo é possível alinhar as cadeias produtivas de forma a obedecer ao princípio de just- in-time. Adicionalmente, os demais aspectos do Desenho de Processos visto até o presente momento devem ser considerados quando se intente a otimização do Desenho de Processos atual. Uma das práticas mais usuais para identifi car as rotas e aspectos a serem melhorados é o Modelo de 8 Gatilhos de Melhoria de Processos (SEGPLAN, 2012): 1. Resultado de indicadores do processo: com base nos indicadores específi cos defi nidos, foca-se em melhorias de qualidade, custo e tempo, analisando se as metas propostas foram atingidas, e caso não tenham sido, verifi car qual processo restritivo desencadeou esse défi cit. Além disso, caso as metas estejam todas de acordo com o previsto, a análise do resultado de indicadores do processo é capaz de apontar etapas nas quais a efi cácia foi de alguma forma subestimada, apresentando desempenho signifi cantemente superior ao estimado. Os ajustes de metas de indicadores auxiliam no aumento da efi ciência do sistema, uma vez que os processos de hand-off passam a ter parâmetros atualizados. 2. Variação de indicadores do processo: as metas previstas nos indicadores de processo podem sofrer variações sazonais ou periódicas, a depender dos suprimentos ou processos administrativos. Neste caso, estas oscilações devem ser detalhadas e revisadas de forma a identifi car os processos restritivos e criar alternativas auxiliares frente ao surgimento do défi cit entre os indicadores estimados e os obtidos. Por exemplo, indústrias de alimentos comumente dependem da produtividade de safras, ocorrência de chuvas, entre outros, e devem apresentar um plano secundário caso alguma das matérias-primas esteja comprometida em determinada época do ano. 3. Restrições: analisando o procedimento interno do Desenho de Processos, as restrições, como já comentado previamente, são pontos onde tipicamente se forma um delay na entrega do produto para a etapa seguinte. Ao analisar as restrições é preciso ter em mente que elas podem ter caráter físico ou humano, assim, é possível haver restrição associada com dimensionamento falho de demanda e produtos, ou ainda, associada com colaboradores sem as devidas capacitações ou com produtividade abaixo do esperado. A abordagem direta delas garante o funcionamento de forma efi caz e efi ciente do Desenho de Processos. A metodologia mais usual para identifi cação destas é o Desenho do Processo as – is. 88 DESENHO DE PROCESSOS 4. Hand-off: identifi cação da troca de responsabilidade que ocorre entre subprocessos. O funcionamento correto deste procedimento garante a efi cácia, efi ciência, contribuições positivas para processos seguintes, além da segurança e viabilidade do desenho proposto. Logo, o comprometimento da qualidade deste procedimento deve ser identifi cado e sanado. 5. Interações humanas: mesmo em ambientes altamente industrializados, a execução e revisão dos procedimentos propostos no Desenho de Processos depende, em algum grau, de interações humanas. Assim, processos de treinamento, capacitação e conscientização devem ser constantemente propostos e revistos. Nota-se que por vezes o colaborador possui conduta comprometedora, gerando prejuízos e perdas nos indicadores de desempenho por um défi cit de capacitação. 6. Interações externas: a comunicação com o público-alvo, envolvendo divulgação da política empresarial, abordagens midiáticas, divulgação de certifi cação, além do correto procedimento de feedback com avaliações periódicas do mercado, garante a viabilidade econômica e a capacidade competitiva do empreendimento. 7. Regras do negócio: as normas vigentes que regulam o comércio, tanto de caráter legislativo quanto econômico, devem ser respeitadas de forma a manter o balanço comercial da atividade executada. Casos onde há sonegação fi scal, ou ainda, formação de monopólios comerciais devem ser vetados em prol do balanço econômico do mercado consumidor. 8. Gaps: o último gatilho analisado, também conhecido como pontos de retrabalho, envolve a identifi cação de toda e qualquer etapa que apresente uma opção otimizada de execução. Gaps podem envolver desde produtos com qualidade abaixo do requisitado, a colaboradores despreparados executando tarefas de forma irregular e comprometedoras da qualidade fi nal do produto. Os gaps mais comumente vistos são: produto adquirido fora dos padrões, processos sem procedimento padronizado, ergonomia pobre, layout do ambiente de trabalho inadequado, valor agregado baixo ou negativo, falta de credibilidade nos colaboradores, entre outros. Uma vez identifi cados e determinados os oito gatilhos de melhorias de processos, a correção dos mesmos é feita de forma sistemática, obedecendo aos conceitos vistos nos capítulos anteriores para procedimentos de redesenho de processos. 89 TEORIA DAS RESTRIÇÕES Capítulo 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Com o fi m do presente capítulo encerra-se o módulo de Desenho de Processos dentro do presente curso. Neste ponto, o aluno encontra-se apto a realizar o Desenho de Processos para todo e qualquer processo operacional. Assim, ao fi nal deste curso o aluno reconhece de forma linear o que são tarefas, atividades,subprocessos e processos na estruturação do fl uxograma produtivo de um Desenho de Processos. O mesmo é também capaz de associar métricas adequadas para a mensuração de cada tarefa e da conformidade do seu resultado com o estimado na proposta produtiva inicial. Além disso, ao fi m do curso, o aluno deve estar ciente dos conceitos de hand-off, gargalo, feedback, valor agregado, indicadores de desempenho e sua importância no dimensionamento, favorecendo a efi cácia e efi ciência do Desenho de Processos. Por fi m, entendendo o princípio da Teoria das Restrições e como é capaz de guiar os processos de otimização do Desenho de Processos, espera-se que o aluno seja capaz de propor otimizações e análises de melhorias contínuas para garantir a redução de desperdícios, além do aumento da lucratividade do empreendimento estudado. REFERÊNCIAS CASTRO, R. L. Planejamento e controle da produção e estoques: um survey com fornecedores da cadeia automobilística brasileira. 2005. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. COX, J. F.; SPENCER, M. S. Manual da teoria das restrições. Ed. Bookman, 2002. CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N. Just in time, MRP II e OPT: um enfoque estratégico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. FURLAN, J. D. Guia para o gerenciamento de processos de negócio. Corpo comum de conhecimento ABPMP BMP CBOK V3.0. 1. ed. ABPMP, 2013. RIBEIRO, A. F. Gestão de processos – módulo 3. Ed. ENAP/DDG, 2013. SANTOS, A. E. P.; SILVA, E. M. A teoria das restrições como metodologia de 90 DESENHO DE PROCESSOS otimização dos processos de produção em uma indústria de móveis. Anais do SIMPOI, Piracicaba, SP, 2010. SEBRAE – Serviço de Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná, SEBRAE sem distância – Vol. 4. Gestão de Processos. Série Administração Básica, 2008. SEPLAN – Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento. Manual de Melhoria de Processos, Goiânia, 2012. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; HARLAND, C.; HARRISON, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1996. SOUZA, F. B.; BAPTISTA, H. R. Proposta de avanço para o método Tambor – Pulmão – Corda simplifi cado aplicado em ambientes de produção sob encomenda. Gest. Prod. São Carlos, vol. 17, n. 4, p. 735 – 746, 2010. 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