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TREINAMENTO DE FORÇA APLICADO A GRUPOS ESPECIAIS UNIASSELVI-PÓS Autoria: Leonardo Trevisol Possamai Paulo Cesar do Nascimento Salvador Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: P856t Possamai, Leonardo Trevisol Treinamento de força aplicado a grupos especiais. / Leonardo Trev- isol Possamai; Paulo Cesar do Nascimento Salvador. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 174 p.; il. ISBN 978-65-5646-104-5 ISBN Digital 978-65-5646-105-2 1. Treinamento de força. - Brasil. I. Salvador, Paulo Cesar do Na- scimento. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 796 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Metodologia do Treinamento Resistido ................................... 7 CAPÍTULO 2 Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistido ...................................................................................... 59 CAPÍTULO 3 Treinamento Resistido para Populações Especiais ............ 117 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, é com prazer que apresentamos para vocês o livro Treinamento de força aplicado a grupos especiais! Neste livro, veremos diferentes aspectos relacionados à elaboração, planejamento e prescrição do treinamento resistido. Vale aqui uma nota, as nomenclaturas de treinamento de força e treinamento resistido normalmente são usadas para descrever o mesmo tipo de treinamento, ou seja, o treinamento com pesos, halteres ou máquinas utilizados na busca do aprimoramento muscular do organismo. Neste livro, iremos nos referir sempre como treinamento resistido, pois acreditamos que seja uma nomenclatura mais didática e de acordo com a literatura internacional, sendo que consideraremos o treinamento de força um dos tipos do treinamento resistido (treinamento de força máxima e/ou explosiva, por exemplo). O objetivo maior deste livro é proporcionar a você, acadêmico, conhecimentos necessários o suficiente para se trabalhar o treinamento resistido com diferentes populações chamadas de especiais. Populações especiais é um termo utilizado normalmente para se referir a um grupo de pessoas que necessitam de alguns cuidados a mais quando estão envolvidos em algum tipo de atividade, no nosso caso, o treinamento físico. Perpassaremos por conhecimentos aplicados aos diferentes estágios do ciclo da vida, o treinamento resistido aplicado às mulheres grávidas, às crianças, aos adolescentes e jovens, aos adultos com ou sem algum tipo de doença. Nesse ponto, abordaremos a aplicação do treinamento resistido para portadores de diferentes tipos de doenças não transmissíveis, como cardiovasculares. Veremos também os conceitos aplicados na população idosa. No Capítulo 1, o fundamental objetivo será conhecer os principais conceitos e aspectos relacionados à elaboração e prescrição do treinamento resistido que causam as adaptações no organismo. No Capítulo 2, o objetivo é identificar os fatores que influenciam na prescrição do treinamento resistido e compreender como esses fatores podem ser manipulados em cada tipo de treinamento. Já no Capítulo 3, o objetivo principal será compreender as diferentes necessidades das populações especiais e entender as recomendações de prescrição do treinamento resistido para estes grupos e os benefícios advindos desta prática. Desejamos um ótimo período de estudos com a disciplina. Sucesso e uma grande jornada acadêmica! Prof. Dr. Paulo Cesar do Nascimento Salvador Prof. Me. Leonardo Trevisol Possamai CAPÍTULO 1 Metodologia do Treinamento Resistido A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Identificar os diferentes tipos de treinamento que podem ser prescritos. • Conhecer os principais conceitos e aspectos relacionados aos fatores que causam as adaptações no treinamento resistido. • Descrever as respostas causadas pelos diferentes tipos de treinamento resistido. 8 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais 9 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Para iniciarmos os nossos estudos, nesse capítulo, abordaremos aspectos metodológicos relacionados ao treinamento resistido, tendo como objetivo identificar os diferentes tipos de treinamento resistido e conhecer os principais aspectos relacionados às adaptações em cada um desses diferentes tipos de treinamento resistido que podem ser prescritos. No segundo capítulo, cercaremos a nossa discussão na manipulação das diferentes variáveis que serão apresentadas neste capítulo, para que o profissional tenha um maior repertório de informação para efetuar a prescrição do treinamento, de acordo com a adaptação que se pretende atingir. Além disso, discutiremos os aspectos relacionados ao planejamento de um programa de treinamento que serão abordados neste capítulo de forma específica, conforme a adaptação que se pretende atingir. Para finalizarmos, o terceiro capítulo abordará tanto as variáveis passíveis de manipulação quanto a estruturação do programa de treinamento de forma direcionada a cada um dos grupos especiais que vamos estudar. Faremos essa discussão levando em consideração a adaptação que se pretende atingir. É importante ressaltar que o treinamento resistido é uma modalidade de exercício que tem ganhado muita popularidade nos últimos anos, sendo praticado por diferentes populações com diferentes objetivos. Podemos citar tanto o aprimoramento do desempenho esportivo em atletas de diferentes esportes quanto a prática por grupos especiais como idosos, gestantes, crianças e indivíduos em processo de recuperação de diferentes lesões neuromusculares (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Portanto, abordaremos tanto a fisiologia geral e fisiologia do exercício quanto os aspectos biológicos relacionados ao crescimento e desenvolvimento e envelhecimento. Além disso, o seu conhecimento relacionado à Biomecânica e Cinesiologia também poderão somar aos conteúdos que abordaremos ao longo do nosso livro, uma vez que os aspectos relacionados à qualidade do acompanhamento do treinamento, dependem da correta aplicação e correção das variáveis e dos exercícios que discutiremos. Primeiramente, é necessário relembrar que o nosso organismo atua em um estado de equilíbrio constante durante o repouso com o exercício atuando na quebra desse equilíbrio. Esse mecanismo causará modificações no organismo gerando adaptações em diferentes sistemas para se adequar ao estímulo recebido (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). 10 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A adaptação é considerada um dos princípios básicos de qualquer treinamento como resposta à sobrecarga imposta pelo exercício. A especificidade é outro princípio de fundamental importância no treinamento, visto que as adaptações que acontecerão são respostas para o estímulo recebido (POWERS; HOWLEY, 2009). Nesse sentido, verifica-se a importância do conhecimento sobre os diferentes tipos de treinamento resistido e os principais aspectos relacionados às adaptações em cada um desses diferentes formatos de treinamento resistido. Para que você tenha condições de manipularesses aspectos visando o atingimento das adaptações planejadas nos diferentes grupos especiais em que o treinamento resistido seja prescrito, procure aproveitar ao máximo as informações contidas nesse livro. 2 TERMOS E CONCEITOS DO TREINAMENTO RESISTIDO O primeiro conceito que precisamos deixar claro é que adotamos o termo treinamento resistido ao invés de treinamento de força. Isso se dá ao fato de acreditarmos que esse termo está mais atual com a nomenclatura internacional (resistance training) e por considerar que a força é uma valência física e pode ser mencionada como um dos tipos de treinamento resistido. Dessa forma, queremos deixar claro a você, acadêmico, que quando nos referimos ao treinamento resistido é sinônimo de treinamento de força. Antes de iniciarmos a nossa discussão sobre os termos e conceitos do treinamento resistido que devem ser considerados no momento da prescrição, é necessário ressaltar que o treinamento resistido pode incrementar o desempenho de diferentes atletas a partir do aprimoramento na força muscular máxima, potência muscular, hipertrofia, resistência muscular localizada a partir dos incrementos na coordenação motora (KRAEMER; RATAMESS, 2004) e na economia de corrida (DENADAI et al., 2016). Por outro lado, o treinamento resistido tem sido explorado em diferentes contextos e nas populações especiais com maior foco na saúde, aprimorando, além dos aspectos de aptidão física, o bem- estar e a socialização (LIZ; ANDRADE, 2016). Dessa maneira, podemos verificar a importância dessa modalidade de exercício, a qual tem sido recomendado por diferentes organizações como o Colégio Americano de Medicina do Esporte (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2002) e a Associação Americana do Coração (WILLIAMS et al., 2007). o treinamento resistido tem sido explorado em diferentes contextos e nas populações especiais com maior foco na saúde, aprimorando, além dos aspectos de aptidão física, o bem-estar e a socialização 11 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 Para complementar a informação apresentada com relação às recomendações de inclusão do treinamento resistido para pessoas saudáveis, disponibilizamos duas referências para busca direta no site do Colégio Americano de Medicina do Esporte e da Associação Americana do Coração. Neles estão disponibilizadas informações adicionais sobre cada grupo especial e as respectivas recomendações acerca do treinamento resistido. Acesse os links a seguir: ACSM: https://www.acsm.org/. AAC: https://international.heart.org/pt. 2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO RESISTIDO Para a sua melhor compreensão, inicialmente, abordaremos alguns conceitos apresentados no Quadro 1, que, na sequência do nosso conteúdo, serão importantes para o entendimento dos fatores associados às adaptações nos diferentes tipos de treinamento resistido. QUADRO1 – TERMOS E CONCEITOS ASSOCIADOS AO TREINAMENTO Termo Conceito Referência Força muscular máx- ima Quantidade de tensão que um músculo ou grupamento muscular pode gerar durante uma repetição em determinado exercício Prestes et al. (2016) Potência É o produto da força e velocidade potência = (força x distância) /tempo Também é considerada a habilidade de movimentar o corpo ou um objeto no menor período de tempo Prestes et al. (2016) Resistência muscular localizada Habilidade em manter a produção de força por tempo prolongado ou durante diversas repetições em determinado exercício Prestes et al. (2016) Ação muscular con- cêntrica Contração muscular que resulta em encur- tamento do músculo Fleck e Kraemer (2006) Ação muscular excên- trica Contração muscular que resulta em alon- gamento do músculo Fleck e Kraemer (2006) Ação muscular isométrica Contração muscular que não produz movi- mento articular visível Fleck e Kraemer (2006) 12 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Repetição Máxima (RM) Número máximo de repetições completas que podem ser realizadas com determina- da carga Fleck e Kraemer (2006) 1RM Teste para avaliação da força muscular máxima em cada exercício Prestes et al. (2016) Série Execução de um grupo de repetições de forma contínua, sem intervalos relevantes Fleck e Kraemer (2006) Carga Massa utilizada para oferecer resistência na execução do exercício Gentil (2019) Carga Absoluta Quantidade total de carga utilizada no exercício Gentil (2019) Carga Relativa Percentual da carga utilizada em relação a máxima Gentil (2019) Intervalo Período entre o fim de uma série e início da próxima série Gentil (2019) Velocidade de Execução Tempo para completar cada fase de uma repetição Gentil (2019) Intensidade Quantidade total de carga levantada, ex- presso em valores absoluto, relativo ou a potência realizada Fleck e Kraemer (2006) Volume Quantidade total de trabalho realizado, expresso em joules ou a partir de cálculos (repetições x séries; repetições x séries x carga) Fleck e Kraemer (2006) Unidade motora Conjunto formado por um neurônio e as fi-bras musculares por ele inervadas Gentil (2019) FONTE: Os autores A velocidade de execução, também denominada como cadência, é identificada a partir de quatro dígitos. O primeiro indica o tempo da fase excêntrica do movimento, o segundo a transição entre a fase excêntrica e concêntrica, o terceiro refere-se à fase concêntrica e o quarto a transição entre a fase concêntrica e excêntrica. a) Ação muscular concêntrica: quando o peso está sendo levantado durante o exercício de maneira controlada, os músculos envolvidos são encurtados realizando uma ação muscular concêntrica. b) Ação muscular excêntrica: quando o peso está sendo abaixado durante o exercício de maneira controlada, os músculos envolvidos são alongados realizando uma ação muscular excêntrica. c) Ação muscular isométrica: quando um músculo é recrutado e desenvolve força, mas nenhum movimento articular visível é realizado, ocorre uma ação muscular isométrica (FLECK; KRAEMER, 2006, p. 20). Além da numeração, utiliza-se a letra “x” para indicar que a determinada fase deve ser realizada na maior velocidade possível. Na Tabela 1, demonstraremos três exemplos de velocidades de execução (cadência) que podem ser utilizadas 13 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 em diferentes exercícios. Para classificação das velocidades, considera-se lenta <30°/segundo, moderada de 30° a 180°/segundo e rápida acima de 180°/segundo (KRAEMER; RATAMESS, 2004). TABELA 1 – MANIPULAÇÃO DA CADÊNCIA DURANTE O TREINAMENTO EM DIFERENTES EXERCÍCIOS Exercício Velocidade de Execução Descrição Leg press 4020 4 s fase excêntrica/sem pausa na tran- sição excêntrica-concêntrica/2 s fase concêntrica/sem pausa na transição concêntrica-excêntrica Cadeira extensora 3230 3 s fase excêntrica/2 s na transição ex- cêntrica-concêntrica/3 s fase concêntri- ca/sem pausa na transição concêntri- ca-excêntrica Cadeira flexora 40X0 4 s fase excêntrica/sem pausa na tran- sição excêntrica-concêntrica/maior ve- locidade possível na fase concêntrica/ sem pausa na transição concêntrica-ex- cêntrica FONTE: Os autores Com relação à intensidade, pode-se compreendê-la como um aspecto de qualidade, sendo definida como as alterações agudas que o treinamento pode promover no sistema dentro de uma determinada medida quantitativa como o tempo, repetições e séries (FLECK; KRAEMER, 2006). Quando comparado duas séries em que as repetições foram as mesmas, a intensidade será maior naquela em que a carga foi mais alta. Também podemos exemplificar comparando duas séries com a mesma carga e número de repetições, alterando-se apenas a amplitude, a série com maior amplitude apresentará maior intensidade (GENTIL, 2019). A Figura 1 ilustra o exercício para membros superior no banco scott. 14 Treinamento de Força Aplicado a GruposEspeciais FIGURA 1 – AMPLITUDE DE MOVIMENTO NO EXERCÍCIO FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/33iarY5>. Acesso em: 3 ago. 2020. Todos os exercícios apresentam uma amplitude máxima, com a ilustração demonstrando um exercício na qual a amplitude máxima é de 130°. Assim, uma série na qual essa amplitude (máxima) é realizada em cada repetição, resultará em maior intensidade comparada a uma série na qual o mesmo número de repetições e carga for realizado até 50° ou 100°. Nesse sentido, uma técnica chamada de “repetições forçadas” tem sido empregada para aumentar a intensidade do exercício. Nessa técnica (que abordaremos em mais detalhes no Capítulo 2), o praticante executa a série com amplitude total até o atingimento da falha concêntrica do movimento, após, realiza-se uma redução na amplitude do movimento com o objetivo de realizar algumas repetições adicionais com a mesma carga (GENTIL, 2019). Da mesma maneira, podemos citar outra abordagem relacionada ao volume, a qual tem sido utilizada no treinamento resistido, sendo considerada a quantidade total de séries realizadas. Esse formato pode ser utilizado calculando-se as séries por exercício, por grupamento muscular, por treino ou ainda semanalmente (GENTIL, 2019). Por exemplo, levando em consideração que o critério de séries por sessão de treinamento está sendo considerado uma sessão em que foram realizados cinco exercícios com três séries em cada (totalizando 15 séries), apresentará um volume de treinamento menor que uma sessão de quatro exercícios com quatro 15 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 séries em cada (totalizando 16 séries), mesmo com um número total de exercícios menor. Ou seja, a opção por qualquer um dos critérios citados permite o controle do volume do treinamento possibilitando comparações entre grupos musculares ou determinados períodos de treinamento (semanal, mensal, semestral etc.). Cada um dos conceitos anteriormente citados serão discutidos dentro de todo tipo de treinamento resistido, para que facilite a sua compreensão com relação à maneira que cada uma dessas variáveis possa ser manipulada conforme o objetivo e o indivíduo que executará o treinamento. Além dos princípios da adaptação e da especificidade inicialmente citados, também discutiremos o princípio da continuidade, da individualidade e da sobrecarga. Todos esses aspectos apresentam grande importância no planejamento e durante a execução dos programas de treinamento (POWERS; HOWLEY, 2009). Da mesma maneira que o organismo se adapta ao estímulo realizado, é importante compreender que a característica dinâmica do nosso organismo implica na necessidade do estímulo constante, ou seja, do exercício realizado de forma sistematizada para que a adaptação seja contínua ou, pelo menos, que se mantenham as adaptações atingidas em um determinado período de treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Sendo assim, o treinamento deve ser repetido e ter a sua estrutura geral ajustada de maneira contínua para que o indivíduo possa melhorar ou manter os resultados atingidos em médio e, especialmente, longo prazo (GENTIL, 2019). Pode-se exemplificar o funcionamento desse princípio em programas com o objetivo de melhora da hipertrofia, na qual atletas apresentam uma quantidade de massa muscular acima da necessária para realização das atividades diárias, implicando em aumento da necessidade de consumo de calorias, uma vez que o estímulo do treinamento seja interrompido, o organismo se adapta eliminando a massa muscular adicional desnecessária (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). 16 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais O treinamento resistido tem sido explorado na população em geral e nas populações especiais como uma ferramenta importante para que o profissional da saúde possa melhorar a aptidão física geral dessas pessoas, favorecendo a socialização e uma melhora geral na qualidade de vida delas. Sobre os principais termos, conceitos e princípios que discutimos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As ações musculares durante o exercício podem ser divididas em concêntricas, excêntricas e isométricas, sendo que as ações concêntricas apresentam maior capacidade de produção de força muscular. ( ) Os princípios do treinamento são divididos em adaptação, especificidade, continuidade, individualidade e sobrecarga. ( ) A intensidade refere-se a um aspecto de qualidade, sendo definida como as alterações agudas que o treinamento pode promover no organismo. ( ) A cadência é identificada a partir de dois dígitos, com o primeiro indicando o tempo da fase excêntrica e o segundo o tempo da fase concêntrica. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V –V – V – F. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) F – F – V – F. d) ( ) V – V – V – V. 2.2 DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO Um programa de treinamento é composto por diversas variáveis, dentre elas a ação muscular utilizada (concêntrica, excêntrica e/ou isométrica), carga, volume (número total de séries e repetições), seleção dos exercícios, sequência dos exercícios, estrutura do treinamento (quais e quantos grupamentos serão treinados), intervalo, velocidade do movimento (cadência) e frequência do treinamento (FLECK; KRAEMER, 1997). 17 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 A alteração de um ou mais desses fatores afetará o estímulo do treinamento, dessa forma, a correta manipulação dessas variáveis apresenta grande importância para o atingimento da adaptação desejada. Pode-se utilizar ainda na variação do treinamento, atuando na manutenção da motivação do indivíduo pelo exercício (KRAEMER; RATAMESS, 2004). O fator motivação deve ser levado em consideração no programa de treinamento, em especial quando se trabalha com grupos especiais, visto que o índice de aderência ao exercício em indivíduos sedentários que iniciam um programa de treinamento resistido é de cerca de 5% (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2000). 2.2.1 Ações musculares Com relação à ação muscular, os programas de treinamento incluem repetições com ações concêntricas e excêntricas, além de ações isométricas. No entanto, as ações isométricas são menos utilizadas no treinamento, em especial nas modalidades que apresentam gesto motor dinâmico (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Quando analisado as ações excêntricas, verifica-se uma maior produção de força por unidade de massa muscular, por envolver menor ativação de unidades motoras por nível de tensão específica (KOMI; KANEKO; AURA, 1987). A produção ótima de força é verificada em um determinado ângulo, na medida em que o comprimento muscular é aumentado (maior alongamento), verifica-se a soma de uma força extra que se deve aos componentes passivos que apresentam capacidade de oferecer resistência mecânica ao alongamento sem gasto de energia metabólica (HERZOG, 2009). Nesse sentido, analisando-se a eficiência mecanoquímica (gasto de ATP por unidade de tensão), as ações excêntricas são duas ou três vezes maiores que as ações concêntricas, ou seja, para realizar o mesmo trabalho, uma contração concêntrica utiliza duas ou três vezes mais ATP que uma ação excêntrica (RYSCHON et al., 1997). Apesar das contrações excêntricas apresentarem essa característica, o que requer um menor gasto energético por nível de força (EVANS et al., 1983), essas ações apresentam importância fundamental no treinamento resistido, apresentando melhores resultados na força muscular dinâmica, quando incluído essas contrações no programa de treinamento (DUDLEY et al., 1991). As ações musculares isométricas são menos utilizadas nos programas de treinamento, sendo geralmente empregado em atletas que necessitam melhoras na força muscular em ângulos específicos de movimento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 18Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais 2.2.2 Seleção dos exercícios Dois tipos de exercícios podem ser utilizados no treinamento, os exercícios com peso livre ou as diferentes máquinas, podendo ser executados a partir de exercícios multiarticulares ou uniarticulares. Os exercícios uniarticulares são aqueles em que apenas uma articulação e os grupamentos musculares relacionados a essa articulação são envolvidos, já os exercícios multiarticulares são aqueles em que duas ou mais articulações são envolvidas no movimento, recrutando maiores grupamentos musculares, conforme indicado na Figura 2 (FLECK; KRAEMER, 2006). FIGURA 2 – EXEMPLOS DE EXERCÍCIOS MULTIARTICULARES FONTE: <https://previews.123rf.com/images/spotpoint74/spotpoint741708/ spotpoint74170800119/84999194-set-powerlifting-athletes- powerlifters-black-silhouette.jpg>. Acesso em: 3 ago. 2020. Tanto os exercícios multiarticulares quanto aos uniarticulares têm boa efetividade no treinamento, no entanto, exercícios uniarticulares (por exemplo, cadeira extensora) são utilizados nos casos em que há necessidade de estimular um grupamento muscular específico (GARHAMMER, 1991). Outro fator importante de ser mencionado com relação aos exercícios multiarticulares, é que esses devem ser realizados, preferencialmente, no início do treinamento. Essa recomendação leva em consideração o menor nível de fadiga muscular nesse período do treinamento comparado ao final de um treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Além disso, esses exercícios requerem maior nível técnico, portanto, maior tempo para aprendizado e aperfeiçoamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004), nesse sentido, a prescrição de exercícios com essa característica deve ser feita com atenção, em especial para alunos iniciantes. 19 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 2.2.3 Ordem dos exercícios e estrutura do treinamento A sequência dos exercícios e o número de grupamentos musculares recrutados durante o treinamento afetam significativamente a resposta aguda. Podemos citar três estruturas básicas de treinamento: 1) treinamento envolvendo o corpo todo; 2) divisão de membros superiores, tronco e membros inferiores; e 3) divisão por grupamentos musculares (CALDER et al., 1994). Os treinamentos para o corpo todo utilizam-se de exercícios que recrutem todos os grandes grupamentos musculares, com um ou dois exercícios para cada um desses grupamentos treinados. Esse tipo de treinamento é mais comum em indivíduos que procuram aprimoramento geral da aptidão física, dentre eles grupos especiais, atletas de diferentes esportes e weightlifters (KRAEMER; HAKKINEN, 2004). A estrutura que se utiliza da divisão de membros superiores, tronco e membros inferiores é caracterizada pela realização de treinamentos tanto multiarticulares quanto uniarticulares de forma alternada. Esse formato pode ser utilizado por pessoas que buscam um desenvolvimento geral da aptidão física, como também, por atletas de diferentes esportes, power lifters e fisiculturistas (FLECK; KRAEMER, 2006). A divisão por grupamentos musculares envolve um treinamento no qual os exercícios são realizados apenas para os grupamentos musculares que serão treinados naquela sessão de treinamento. Esse formato é mais utilizado por indivíduos intermediário e avançados que buscam maximizar os ganhos de hipertrofia e, principalmente, por fisiculturistas (KRAEMER; RATAMESS, 2004). A principal diferença entre esses modelos é o tamanho da especialização verificada, no entanto, todos esses formatos de treinamento apresentam boa efetividade no desenvolvimento de adaptações, podendo ser utilizados em qualquer população, levando em consideração os objetivos, a frequência, o tempo de treinamento e as preferências pessoais do praticante (CALDER et al., 1994). Além desses fatores, o quadro a seguir apresenta algumas recomendações gerais na prescrição do treinamento, levando em consideração cada uma dessas estruturas apresentadas. 20 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais QUADRO 2 – ESTRATÉGIAS PARA PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO NAS DIFERENTES ESTRUTURAS Modelo Modelo I Modelo II Modelo III Recomendações 1° Exercícios para grandes grupamentos musculares antes dos pequenos Grandes grupamentos musculares antes dos pequenos Exercícios multiarticulares antes dos uniarticulares 2° Exercícios multiarticulares antes dos uniarticulares Exercícios multiarticulares antes dos uniarticulares Alta intensidade antes dos exercícios de menor intensidade 3° Mesclar exercícios agonistas e antagonistas Mesclar exercícios agonistas e antagonistas Modelos: 1º: treinamento para o corpo todo. 2º: Alternando membros superiores/ tronco e membros inferiores. 3º: Separado por grupamentos musculares. FONTE: Os autores 2.2.4 Carga modelos: 1º: treinamento para o corpo todo. 2º: alternando membros superiores/tronco e membros inferiores. 3º: separado por grupamentos musculares A carga é outro fator de grande importância para qualquer programa de treinamento, descrevendo a quantidade de peso que é utilizada em cada exercício, a qual é dependente da ordem dos exercícios, volume, frequência, ação muscular realizada, velocidade da repetição (cadência) e o período de recuperação entre as séries (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Qualquer alteração nas cargas de treinamento pode afetar significativamente as respostas agudas metabólicas, hormonais, neurais e cardiovasculares do treinamento (HÄKKINEN; ALÉN; KOMI, 1985). A prescrição das cargas de treino depende dos objetivos e da aptidão física do indivíduo, em especial, quando se trabalha com qualquer grupo especial. Cargas de treinamento de 45 a 50% de uma repetição máxima (1RM) ou menos, são suficientes para gerar adaptações em populações sedentárias (ANDERSON; KEARNEY, 1982), com essas fases iniciais do treinamento sendo 21 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 Grande parte das adaptações geradas pelo treinamento resistido, independentemente do tipo e do objetivo, passam pelas adaptações neurais em todas as fases de treinamento (iniciante, intermédio e avançado). Discutiremos com mais profundidade no próximo subtópico, porém, podemos exemplificar no caso do treinamento resistido com maior foco na hipertrofia, que as adaptações neurais precedem os ganhos de hipertrofia, sendo importante até mesmo nas adaptações hipertróficas de médio e longo prazo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). O teste de 1RM é realizado para identificação da carga máxima que o sujeito pode executar em uma repetição, sendo que a prescrição do treinamento foi recomendada, durante muito tempo, a partir de determinados percentuais relativos a essa carga, conforme a adaptação proposta. No entanto, esse teste apresenta limitações práticas uma vez que representa a carga máxima para o exercício em que foi avaliado, ou seja, todos os exercícios que se pretende incluir em uma periodização de treinamento devem ser avaliados. FONTE: SHIMANO, T. et al. Relationship between the number of repetitions and selected percentages of one repetition maximum in free weight exercises in trained and untrained men. The Journal of Strength and Conditioning Research, v. 20, n. 4, p. 819-823, 2006. caracterizada por uma melhora no aprendizado da técnica e na coordenação (RUTHERFORD; JONES, 1986). Altas cargas de treinamento não são necessárias nessas fases de treinamento, já que o aprendizado da técnica deve ser priorizado. No entanto, conforme ocorre uma progressão do indivíduo, será necessário incrementar a carga (nível intermediário e avançado). Cargas maiores que 80 a 85% de 1RM são necessárias em indivíduos com níveis avançados de treinamento, sendo importante para manter os estímulos necessários para gerar adaptações a nível neural (melhora no recrutamento e sincronização das unidades motoras) (KRAEMER; RATAMESS,2004). 22 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A progressão de cargas é necessária para continuar a recrutar a maior quantidade de unidades motoras possíveis, em especial, aquelas de alto limiar que apresentam grande importância para induzir hipertrofia (PLOUTZ et al., 1994). Algumas adaptações causadas pelo treinamento resistido como a hipertrofia, força máxima e potência, dependem de um treinamento no qual o maior número de unidades motoras é recrutado, já que os treinamentos leves e moderados não representam um estímulo suficiente para maximizar o recrutamento das unidades motoras, a carga necessitará de ajustes para que se mantenha um estímulo suficiente para gerar essas adaptações (PLOUTZ et al., 1994). a) Unidades motoras de baixo limiar: o recrutamento muscular depende da demanda para produção de força. Normalmente, os primeiros neurônios (unidades motoras) recrutados durante o exercício são aqueles que inervam as fibras do tipo I. b) Unidades motoras de alto limiar: na medida em que a demanda por produção de força continua e que o recrutamento de grande parte das fibras tipo I não são suficientes, as fibras do tipo II são recrutadas, sendo que as fibras do tipo IIx são recrutadas após as fibras do tipo IIa. A ordem do recrutamento muscular segue esse princípio acima descrito, sendo denominado princípio do tamanho, no qual as unidades motoras com baixo limiar (que são compostas por fibras do tipo I) são primeiramente recrutadas em relação às unidades motoras com alto limiar (compostas por fibras do tipo IIa e IIx). Os termos alto e baixo limiar indicam o nível elétrico necessário para ativar essas fibras (FLECK; KRAEMER, 2006, p. 71-72). Além disso, outros tecidos, como o tecido ósseo, também apresenta melhores adaptações a partir de cargas maiores. Essa resposta apresenta grande importância quando o objetivo ou um dos objetivos do treinamento é o aprimoramento da saúde óssea (FLECK; KRAEMER, 1997). Essa importante relação da carga com as adaptações ósseas apresenta grande importância para diversos grupos especiais, com destaque para os idosos (respeitando as limitações de cada indivíduo). Caro acadêmico, após discutirmos sobre a importância da carga para diferentes adaptações, é importante compreender que a carga é dependente do exercício realizado. Ou seja, cada exercício apresentará diferentes respostas (quantidade de repetições, por exemplo) para uma mesma carga, alterando o estímulo gerado e, consequentemente, a adaptação causada (FLECK; RATAMESS, 2004). Para melhor compreensão da questão citada, leve em consideração que uma carga de 80% de 1RM foi correspondente a dez repetições máximas no supino reto, no entanto, essa mesma carga foi correspondente a apenas seis repetições máximas na cadeira flexora, entre seis e sete repetições máximas na rosca direta 23 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 e 15 repetições máximas no leg press (HOEGER et al., 1987). Esses resultados exemplificam bem a dependência carga-exercício, reforçando que a prescrição do treinamento para qualquer população e qualquer objetivo deve ser feita a partir de faixas no número de repetição que favoreça o atingimento da adaptação desejada, ajustando-se a carga em cada exercício para atingimento das repetições planejadas (SHIMANO et al., 2006). Além disso, a prescrição do treinamento resistido deve ser feita com variações na carga fornecendo estímulos variados (FLECK, 1999; KRAEMER et al., 2000). 2.2.5 Volume do treinamento O volume de treinamento pode ser analisado quantitativamente a partir do número total de séries e repetições realizadas em uma sessão de treinamento. Essa variável apresenta grande importância para gerar adaptações, uma vez que o sistema nervoso, hormonal e muscular, além das respostas metabólicas, apresentam grande sensibilidade a essa variável (HÄKKINEN et al., 1987). O treinamento pode ser adaptado de várias maneiras para manipular o volume de treinamento. Pode-se modificar o número de exercícios por sessão de treinamento, o número de repetições por série, o número de séries por exercício, como também, a frequência do treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Apesar do volume de treinamento ser estudado de diferentes maneiras, algumas variáveis têm recebido menor atenção, como o número de séries por grupamento muscular. Lembre-se de que podemos alterar o número de séries por exercício ou o total de séries da sessão. Nesse sentido, algumas recomendações têm indicado a realização de duas a seis séries por exercício tanto para sujeitos treinados quanto para os destreinados (CAMPOS et al., 2002; KRAEMER, 1997), enquanto outras sugerem uma relação de dose-resposta (RALSTON et al., 2017). Adaptações similares têm sido reportadas quando comparada duas e três séries da mesma forma quando comparado duas e quatro séries (OSTROWSKI et al., 1997), sendo verificado diferenças apenas na comparação de uma com três séries (BERGER, 1965). Usualmente, utiliza-se de três a seis séries, no entanto, variações podem ser utilizadas (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Nesse sentido, as séries podem ser modificadas para os grupamentos musculares nos exercícios e no valor total realizado em uma sessão de treinamento, essas modificações devem ser realizadas conforme o objetivo de cada sessão de treinamento ou de cada período previamente estabelecido. 24 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Conforme verificamos, as adaptações no volume podem ser realizadas de diferentes maneiras em diferentes períodos do treinamento, tanto para indivíduos treinados quanto para destreinados. No entanto, levando em consideração que as adaptações na fase inicial do treinamento são relacionadas aos aspectos neurais (RUTHERFORD; JONES, 1986), o volume parece não exercer uma influência crítica no treinamento nas primeiras seis a 12 semanas (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Outra observação importante que parece estar relacionada ao volume de treinamento é a massa muscular utilizada no exercício. Quando comparada uma série a três séries durante seis semanas de treinamento, verificou-se melhores adaptações com três séries no treinamento realizado exclusivamente para membros inferiores (i.e., maior massa muscular), já o treinamento realizado exclusivamente para membros superiores não apresentou diferença nas adaptações causadas por uma ou três séries (PAULSEN; MYKLESTAD; RAASTAD, 2003). Analisando-se o resultado anteriormente apresentado é importante ressaltar que não é necessário realizar todos os exercícios de uma sessão de treinamento com o mesmo volume, tanto em séries quanto em repetições. Períodos com ênfase em maior ou menor volume devem ser ajustados conforme as necessidades do indivíduo e o momento do treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 2.2.6 Intervalo de recuperação O tamanho dos intervalos de recuperação entre as séries durante um treinamento depende da intensidade, do objetivo da sessão de treinamento, da aptidão física do praticante e do sistema energético que se pretende priorizar. O intervalo de recuperação entre as séries afeta agudamente as respostas metabólicas, hormonais e cardiovasculares (SALLES et al., 2009). Além dessas variáveis, é importante destacar que os intervalos de recuperação afetarão o desempenho de todas as séries seguintes (KRAEMER, 1997), consequentemente, alterando as adaptações que serão causadas (PINCIVERO; LEPHART; KARUNAKARA, 1997). Nem todos os exercícios da sessão de treinamento necessita-se a utilização do mesmo período de recuperação. Para exemplificar as alterações agudas que o tempo de intervalo pode causar, comparou-se as repetições máximas realizadas, utilizando-se um ou três minutos de intervalo entre séries em três séries de dois exercícios. Verificou-se que todos os participantes realizaram dez repetições máximas (número requisitado) nas três 25 Metodologia do TreinamentoMetodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 séries dos dois exercícios quando o intervalo entre séries foi de três minutos, resultado que não foi verificado com intervalo de um minuto, atingindo-se as dez repetições apenas na primeira série de cada exercício (KRAEMER, 1997). Com relação aos sistemas energéticos, os treinamentos com cargas altas utilizam-se de tempos de recuperação altos (>três minutos) entre série, o qual estimulam predominantemente a via ATP-CP. Treinamentos com carga moderada e períodos de recuperação moderado (um a três três minutos) a curto (<um minuto) são sustentados predominantemente pela energia da via ATP-CP e glicolítica. Já as sessões de treinamento com carga leve e tempo de recuperação curto, serão predominantemente sustentadas pela energia produzida pela via oxidativa (KRAEMER; RATAMESS, 2004). a) ATP-CP: o método mais rápido de produzir ATP envolve a doação de um grupo fosfato e de sua ligação energética da fosfocreatina para o ADP para formar ATP. Tão rapidamente quanto o ATP é quebrado em ADP + Pi no início do exercício, ele é ressintetizado pela reação da fosfocreatina. No entanto, as células musculares armazenam pequenas quantidades de fosfocreatina, consequentemente, limitando a quantidade total de ATP que pode ser formado por essa reação. A combinação do ATP e da fosfocreatina armazenados é denominado sistema ATP-CP ou sistema fosfagênio, com essa via fornecendo energia para exercícios de curta duração e alta intensidade (duração inferior a cinco segundos). b) Glicólise: a segunda via metabólica capaz de produzir ATP de maneira rápida sem o envolvimento de O2. A glicólise envolve a degradação de glicose ou glicogênio para formar duas moléculas de ácido pirúvico ou ácido lático. De forma geral, essa é uma via anaeróbia utilizada para transferir energia de ligação da glicose para reunir o Pi ao ADP. Essa via energética envolve diversas reações, ocorrendo no sarcoplasma da célula muscular produzindo um ganho de duas moléculas de ATP e duas moléculas de ácido pirúvico ou ácido lático por molécula de glicose. c) Oxidativa: a produção aeróbia de ATP ocorre no interior das mitocôndrias e envolve a interação do ciclo de Krebs e da cadeia de transporte de elétrons. A principal função do ciclo de Krebs é a oxidação (remoção) do hidrogênio dos carboidratos, gorduras e proteínas utilizando a NAD e a FAD como transportadores do hidrogênio. O ATP é produzido na cadeia de transporte de elétron com o oxigênio sendo o receptor do hidrogênio no final da cadeia de transporte de elétron. Considere 3 estágios nessa via para a produção de ATP, com a primeira sendo responsável pela geração de uma molécula de Acetil-CoA, com o segundo estágio sendo a oxidação (remoção dos hidrogênios que contém a energia) dessa molécula (no ciclo de Krebs) e a formação de ATP (denominada fosforilação oxidativa) na cadeia de transporte de elétrons. A entrada no ciclo de Krebs exige a reparação do aceil-CoA, o qual pode ser formado a partir da degradação dos carboidratos, gorduras e proteínas. Lembre-se que o ácido 26 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Ácido lático ou lactato? Os fisiologistas do exercício e a literatura sobre fisiologia do exercício e ciência do esporte, geralmente utilizam os termos “ácido lático” e “lactato” de maneira flexível. Dessa maneira, podem surgir dúvidas se esses termos indicam a mesma molécula. É de fundamental importância a compreensão dessa diferença para que qualquer discussão que mencione as respostas dos metabólitos produzidos durante o exercício, não cause confusão em relação ao que está sendo abordado, visto que diversos estudos na área fisiologia do exercício e da ciência do esporte têm abordado o lactato. Deve-se compreender que o ácido lático e o lactato estão relacionados, mas são moléculas diferentes. Durante o exercício de alta intensidade, o músculo esquelético pode produzir grandes pirúvico é formado na glicólise, sendo que, na presença de oxigênio essa é convertida em duas moléculas de acetil-CoA. Para utilização da gordura como substrato, essa é degradada formando ácidos graxos e glicerol, com o primeiro sofrendo uma série de reações (denominada beta-oxidação) para formar o acetil-CoA e possibilitar a continuidade do ciclo de Krebs (POWERS; HOWLEY (2009, p. 36-42). Os períodos de recuperação considerados altos (>três minutos) são indicados para estimular a via ATP-CP, uma vez que boa parte da recuperação energética ocorre em aproximadamente três minutos (FLECK, 1983). Essa recuperação quase completa é importante para a realização das séries subsequentes com a maior disponibilidade energética possível, permitindo o maior número de estímulos máximos ou próximos do máximo, o qual representa um dos fatores relevantes para ganhos de força muscular máxima (KRAEMER; RATAMES, 2004). Por outro lado, para o estímulo da via ATP-CP em conjunto com a via glicolítica, pode-se utilizar períodos curtos e moderados de recuperação (até três minutos). Esse período de recuperação tem grande potencial para estímulo de hormônios anabólicos, além de aumentar o fluxo sanguíneo local e resultar em grandes produções dos metabólitos (por exemplo, lactato), o qual representa, por exemplo, um fator relevante para os ganhos de hipertrofia (KRAEMER, 1997; KRAEMER et al., 1987). 27 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 quantidades de ácido lático após ser produzido, o ácido lático ioniza (ionização: formação de um íon quando um ácido é liberado) pela liberação de um íon de hidrogênio. A molécula remanescente desse processo é o lactato. FONTE: Adaptado de Powers e Howley (2009, p. 37) Algumas adaptações causadas pelo treinamento resistido apresentam grande associação com a produção de metabólitos (ROONEY; HERBERT; BALNAVE, 1994), nesse sentido, pode-se utilizar diferentes períodos de recuperação visando uma variação nos estímulos que o treinamento resistido pode oferecer ao praticante. Outro fator importante para a seleção dos períodos de recuperação durante uma sessão de treinamento é o número de exercícios que será realizado por grupamento muscular. Quando realizado quatro exercícios com quatro séries em cada e dois minutos de recuperação em todas as séries, verificou-se que os indivíduos não conseguiam realizar as dez repetições máximas em todos os exercícios em todas as séries (representando 70% de 1RM) (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Deve-se levar em consideração que a carga selecionada permite a realização de dez repetições máximas, no entanto, os indivíduos não atingiam esse valor no exercício de desenvolvimento para ombros realizado após o supino reto, indicando que o período de recuperação utilizado não permite a recuperação completa para alguns exercícios multiarticulares. Além disso, a quantidade de exercícios realizados para o mesmo grupamento muscular ou para grupamentos musculares sinergistas devem ser levados em consideração na escolha do período de recuperação entre as séries, ajustando-se esse período ou a carga para que o indivíduo tenha condições de atingir o número de repetições determinadas (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 2.2.7 Velocidade das repetições A velocidade na qual a repetição é executada (cadência) pode alterar as respostas neurais (HÄKKINEN; ALÉN; KOMI, 1985) e metabólicas (BALLOR; BECQUE; KATCH, 1987) que o treinamento resistido causa. É importante ressaltar que a adaptação causada após o treinamento com uma determinada velocidade também pode ser verificada em velocidades pouco acima ou abaixo 28 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais (em torno de 30°s) daquela utilizada no treinamento (FLECK; KRAEMER, 1997). Nesse sentido, utilizar treinamentos com diferentes cadências apresenta grande importância para gerar adaptações em diferentes velocidades de movimento (FLECK; KRAEMER,1997). De maneira geral, o treinamento dinâmico (concêntrico e excêntrico) com resistência externa constante pode ser dividido de duas formas em relação à diminuição da velocidade, o não intencional e o intencional (KRAEMER; RATAMESS, 2004). É importante notar que quanto maior for a cadência (maior tempo em cada repetição) menor será a carga, uma vez que a força é igual à massa multiplicada pela aceleração. A característica não intencional pode ser observada quando realizado cinco repetições máximas no supino reto, no qual as três primeiras repetições foram de 1,2 a 1,6 segundos, já as duas últimas repetições de 2,5 a 3,3 segundos de duração, devido à fadiga, aumentando-se a velocidade para aumento da força (MOOKERJEE; RATAMESS, 1999). Qualquer exercício que venha a utilizar uma determinada carga para atingimento de um número de repetições estipulado, essa característica (aumento não intencional da velocidade nas últimas repetições) poderá ser visualizada. Esse fenômeno pode ser utilizado para que se atinja o determinado número de repetições ou ainda utilizar o controle de uma determinada cadência fixa sem um número de repetições específico a ser atingido (KRAEMER; RATAMESS, 2004). As repetições com baixa velocidade executadas de maneira intencional são, geralmente, visualizadas nas cargas submáximas ou quando o controle da velocidade é o aspecto mais importante. No entanto, a produção de força, em especial na fase concêntrica, é diminuída quando utilizado uma cadência lenta (cinco segundos para excêntrica e concêntrica) comparado a uma cadência normal que pode ser explicada por uma menor ativação neural (KEOGH; WILSON; WEATHERBY, 1999). Comparando-se uma série de dez repetições realizada com cadência muito lenta (cinco segundos para excêntrica e dez para concêntrica) com uma série com cadência lenta (quatro segundos para excêntrica e dois para concêntrica), verificou-se uma carga 30% menor na série muito lenta para atingimento das repetições propostas (KEELER et al., 2001). Esses resultados demonstraram menores ganhos para força após dez semanas de treinamento, utilizando-se a cadência muito lenta (KEELER et al., 2001). Esses resultados indicam que a manipulação da cadência altera o número de repetições realizadas e a carga, nesse sentido, a prescrição deve ser feita 29 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 Um programa de treinamento é composto por diversas variáveis como a ação muscular, carga, volume, seleção e sequência dos exercícios, estrutura do treinamento, intervalo, cadência e frequência do treinamento. A alteração de um ou mais desses fatores afetará o estímulo do treinamento. Sobre o desenvolvimento de um programa de treinamento, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As ações musculares isométricas são menos utilizadas nos programas de treinamento, sendo geralmente empregado em atletas que necessitam melhoras na força muscular em ângulos específicos. ( ) Qualquer alteração nas cargas de treinamento pode afetar significativamente as respostas agudas metabólicas, hormonais, neurais e cardiovasculares do treinamento. ( ) Treinamentos com carga moderada e períodos de recuperação moderado a curto são sustentados predominantemente pela energia da via ATP-CP e glicolítica. ( ) É importante notar que quanto maior for a cadência (maior tempo em cada repetição) maior será a carga no exercício. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F. b) ( ) F – F – F – V. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) F – F – F – F. de acordo com o objetivo. Nos casos em que a força máxima é prioridade, as cadências moderadas e rápidas apresentam melhores resultados, já nas situações em que ocorra necessidade de maiores ganhos de hipertrofia, as cadências mais lentas podem ser utilizadas (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 30 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais 3 DIFERENTES TIPOS DE TREINAMENTO RESISTIDO Caro acadêmico, após este entendimento inicial dos conceitos utilizados e da ideia geral de um programa de treinamento (vale lembrar que o Capítulo 2 especificará mais este assunto), vamos, a partir de agora, olhar mais profundamente as principais formas possíveis na literatura do treinamento resistido. Quando pensamos em realizar qualquer que seja o tipo de treinamento, normalmente nos defrontamos com as seguintes perguntas: • Como fazê-lo? • Por que, para quem e quando treinamos? • Quais os ganhos advindos com isso? Estes questionamentos vão direcionar ou servir como diretrizes para qualquer treinamento em qualquer área de nossas vidas. Quando tratamos de treinamento resistido, buscando seja qual for o objetivo, não é diferente. Assim, neste tópico, buscaremos responder estas perguntas sob o foco da luz científica. Podemos verificar na literatura científica específica da área que há principalmente quatro tipos de treinamento resistido, nomeados: treinamento de hipertrofia, força (pura e/ou máxima), potência muscular e o da resistência muscular localizada. A partir deste tópico, abordaremos os quatro métodos de treinamento buscando entender como, por que e para que devemos utilizar um ou outro método e/ou ainda uma mescla/alternância deles. Torna-se importante ressaltar que esses tipos de treinamento estão baseados de acordo com o objetivo do treinamento resistido ou, ainda, com o ganho que se espera com tal treinamento. O treinamento de hipertrofia busca hipertrofiar (aumentar a massa muscular – aumento de tamanho) os músculos do corpo, ou seja, o objetivo e/ou o ganho esperado deste método escolhido é que classifica ele como tal. Da mesma maneira, o mesmo pode-se dizer para os outros dois métodos que buscam o aumento da força muscular ou da resistência muscular, respectivamente. Portanto, o tipo de exercício adotado, a maneira como será feito, o volume x intensidade adotado, entre outros fatores estão diretamente relacionados ao objetivo proposto. Importante dizer que esses objetivos podem ser traçados dentro da periodização no planejamento anual ou semestral, dentro dos macros ou microciclos (os conceitos relacionados à periodização serão melhor abordados no Capítulo 2) ou até mesmo dentro da sessão de treino. O que queremos dizer com isso, acadêmico, é que conforme o planejamento do treinamento, você ou o aluno que você irá treinar, pode realizar determinado tipo de treinamento resistido 31 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 (hipertrofia por exemplo) em meses diferentes, dias diferentes ou em exercícios diferentes dentro da sessão de treino. De acordo com Zatsiorsky e Kraemer (2006) é possível classificar o treinamento resistido em métodos de atingimento da máxima tensão muscular. Os métodos de treinamento resistido são, muitas vezes, classificados na literatura de acordo com o exercício utilizado (Isométrico e isotônico). Zatsiorsky e Kraemer (2006) preferem utilizar a classificação que eles chamam de taxionomia dos exercícios resistidos ao invés de métodos de treinamento. Segundo os autores, há três maneiras para se atingir a tensão máxima muscular (o ponto 4 não entra na classificação de atingimento da máxima tensão): 1. Exercícios contra uma resistência máxima – método do máximo esforço (para fins didáticos, vamos chamá-lo de treinamento de força). 2. Exercícios com resistência submáxima até a “falha”, ou seja, nas repetições finais o músculo atinge um estado de fadiga – método do esforço repetido (didaticamente, chamaremos de treinamento de hipertrofia). 3. Exercícios com resistência submáxima com a maior velocidade possível – método do esforço dinâmico (o que chamaremos de treinamento de potência). 4. Exercícios de resistência submáxima com um determinado número de repetições sem a levar à fadiga – método do esforço submáximo (ao que estamoschamando de resistência muscular localizada). Torna-se importante pontuar que a organização Mundial da Saúde (World Health Organization – WHO), em suas recomendações globais de atividade física para a saúde (WHO, 2010), preocupada com o alto índice de sedentarismo na população e o nível de mortalidade por doenças crônicas, recomenda que a população adulta também deveria realizar atividades de exercícios resistidos de moderados a alta-intensidade e que envolvam todos os grandes grupos musculares dois ou mais dias por semana. Considerando o contexto deste livro, que trata do treinamento resistido para grupos especiais, essa constatação se torna ainda mais importante. Por exemplo, adultos acima de 65 anos de idade devem realizar atividades de resistência muscular e/ou força pelo menos duas vezes por semana. Crianças e adolescentes com idade de cinco aos 17 anos devem incluir exercícios que fortaleçam os músculos e o sistema esquelético pelo menos três vezes por semana (WHO, 2010). adultos acima de 65 anos de idade devem realizar atividades de resistência muscular e/ou força pelo menos duas vezes 32 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Você sabia que, segundo a Organização Mundial da Saúde, as doenças crônicas como o diabetes, doenças cardíacas e respiratórias são a maior causa de mortes no mundo? Que as doenças crônicas também são a maior causa de mortes no Brasil? E que o sedentarismo e a inatividade física estão diretamente ligados às doenças crônicas? Além disso, você sabia que no Brasil o sobrepeso e a obesidade são importantes causas de doenças crônicas, que a prevalência de sobrepeso em homens e mulheres têm aumentado nos últimos anos e a tendência é continuar aumentando? Ligado a esse fato, é possível constatar que a inatividade física é um dos maiores fatores de risco de mortalidade a nível global. Se você, acadêmico, quiser saber mais sobre estas estatísticas no Brasil e no mundo, acesse o link a seguir: https://www.who.int/ healthinfo/global_burden_disease/GlobalHealthRisks_report_full.pdf who.int/chp/chronic_disease_report/media/brazil.pdf?ua=1. FIGURA 3 – EXERCÍCIO DE SUPINO RETO NA BARRA FONTE: <https://bit.ly/33loFrd>. Acesso em: 2 ago. 2020. Na Figura 3, vimos o exemplo hipotético de um indivíduo realizando o exercício de supino reto. Para esclarecermos didaticamente os tipos de treinamento resistido, imaginemos que esse indivíduo, nosso aluno, o João da Silva, seja capaz de levantar 100 kg em uma repetição máxima (1RM). Assim, o João terá os seguintes parâmetros para seguir em seu planejamento de treinamento. 33 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 • Levantar os 100 kg (treinamento de força, muitas vezes, dito na literatura como Força máxima). • Levantar uma carga menor do que 100 kg, como 70 kg, em repetições até a fadiga no final da série (treinamento de hipertrofia) ou levantar uma carga de 50 kg, por exemplo, com um número alto (alto volume) de repetições (Resistência muscular localizada). • Levantar uma carga de 60 kg com a maior velocidade possível na fase concêntrica do movimento, por exemplo (Treinamento de potência). 3.1 TREINAMENTO DE HIPERTROFIA • Como treinar hipertrofia? • Diferentes formas de hipertrofia. • Ganhos com o treino de hipertrofia. Vamos começar abordando o treinamento de hipertrofia a partir de agora. Como foi ressaltado anteriormente, vamos focar sempre, independente do tópico das perguntas que foram levantadas, como treinar hipertrofia? Antes de falarmos nisso, precisamos lembrar o que significa hipertrofia. Segundo Gentil (2019), hipertrofia muscular é o aumento volumétrico de um músculo, devido ao aumento volumétrico das fibras que o constituem. Em outras palavras, podemos dizer mais especificamente que a hipertrofia ocorre devido ao aumento na seção transversa das fibras musculares e número de miofibrilas. Importante lembrar que apesar de haver uma discussão na literatura e esse assunto ainda não ser um consenso, é dito por alguns pesquisadores que o aumento no tamanho no músculo pode ocorrer devido à hipertrofia e/ou à hiperplasia. Hiperplasia significa o aumento no número de células, em nosso caso, aqui, especificamente, as células musculares. Segundo Gentil (2019), para que ocorra o aumento no número de fibras musculares é preciso que ocorra a gênese de novas fibras a partir de células miogênicas (fusão das células satélites) e/ou a divisão da célula adulta em outras menores. a hipertrofia ocorre devido ao aumento na seção transversa das fibras musculares e número de miofibrilas 34 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Agora que você já entendeu o que é e como pode ocorrer a hipertrofia em nossos músculos, podemos voltar à primeira pergunta que queremos responder: como treinar hipertrofia? Obviamente, é difícil esgotar o assunto em apenas poucas páginas e não há como abordamos todas as linhas de pensamento dos diferentes autores que tratam do assunto. O que gostaria de expor para você, acadêmico, são os pontos principais colocados por autores conceituados e atuais. Como dissemos no ponto 2 do tópico anterior e abordamos no exemplo da Figura 3, estamos considerando, neste livro, a abordagem do treinamento de hipertrofia como aquele baseado num volume médio de repetições, mas que devem ser realizadas até a “falha”. Para explicar melhor àqueles que ainda não estão acostumados com esse termo, ir até a falha significa chegar à fadiga muscular nas últimas repetições. É preciso, então, que o indivíduo que se exercita alcance um ponto dentro da série (conjunto de repetições) em que além daquele ele não consiga mais sustentar, ou seja, não é possível ir além do que a última repetição dentro daquela série. Torna-se importante sempre fazer a distinção entre efeitos agudos e crônicos do treinamento, lembrando que agudos são os imediatos e crônicos são os que perduram. Como já dito anteriormente, essa classificação dos tipos ou métodos do treinamento estão basicamente baseados nos efeitos crônicos do treinamento resistido, ou seja, os ganhos que se quer alcançar (o aumento muscular). Agora podemos pensar na seguinte questão: por que é preciso ir até a “falha” no treinamento com objetivo de hipertrofia? Para podermos entender um pouco melhor esta questão, vamos recorrer ao que os autores Zatsiorsky e Kraemer (2006, p. 82) dizem sobre o assunto. [...] dois fatores são de importância primária para induzir a discrepância na quantidade de proteínas degradas ou novamente sintetizadas. Estes são a taxa de degradação de proteína e o valor total de trabalho mecânico desempenhado. Se o número de levantamentos não é máximo, o trabalho mecânico diminui um pouco. Entretanto se a quantidade de trabalho é relativamente próxima do máximo (e.g., se dez levantamentos são realizados ao invés de um máximo possível de 12), então a diferença não é realmente crucial. Isso pode ser compensado de várias formas, por exemplo encurtando o tempo de intervalo entre as séries subsequentes. Dessa forma, segundo os autores supracitados, é preciso ir até a falha concêntrica (estímulo mecânico – abordagem atual que difere de repetições máximas) para que ocorra a degradação proteica ou síntese de novas proteínas, apesar de que é sabido que existem outros fatores que desencadeiam o aumento da síntese proteica, por exemplo, estímulos hormonais e metabólicos (GENTIL, a distinção entre efeitos agudos e crônicos do treinamento, lembrando que agudos são os imediatos e crônicos são os que perduram 35 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 2019). Vale notar que há um balanço entre a degradação proteica e o trabalho mecânico. Se um diminui o outro tem que aumentar. Assim, entende-se que um trabalho mecânico máximo garantirá os mecanismos necessários. É de senotar também na fala de Zatsiorsky e Kraemer (2006) que uma pequena diminuição no trabalho mecânico pode ser compensada por alterações em outros fatores, como o tempo de recuperação. Por outro lado, é preciso saber que o recrutamento de unidades motoras envolvidas no processo de contração também é fundamental para o entendimento deste assunto. Para Kraemer e Fleck (2009), é preciso buscar um recrutamento máximo de fibras musculares, quando isso não ocorre, resulta em adaptações fisiológicas inferiores e os ganhos de hipertrofia também serão menores. FIGURA 4 – PRINCÍPIO DO RECRUTAMENTO POR TAMANHO DE HENNEMAN Vale notar que há um balanço entre a degradação proteica e o trabalho mecânico. Se um diminui o outro tem que aumentar. FONTE: <https://bit.ly/2Dh374b>. Acesso em: 2 ago. 2020. Para entendermos melhor este assunto, é preciso compreender a teoria do princípio do recrutamento pelo tamanho de unidades motoras de Henneman. Basicamente, podemos afirmar que quando a intensidade do exercício é baixa ou moderada, fibras menores são recrutadas e quando a exigência é maior, fibras maiores serão recrutadas. Como podemos visualizar na Figura 4, existe um limiar de ativação (activation threshold) demonstrado no eixo y e uma dependência da produção de força (force production) no eixo x. Quando o limiar de ativação ou a produção de força é baixa (low), o recrutamento de unidades motoras (UM) menores e predominantes do tipo I (em vermelho) acontece. Quanto mais alta (high) a produção de força ou o limiar de ativação, maior é a necessidade de recrutamento de unidades motoras maiores e principalmente do tipo II (em azul). Quando o limiar de ativação ou a produção de força é baixa (low), o recrutamento de unidades motoras (UM) menores e predominantes do tipo I (em vermelho) acontece. 36 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Você sabe quem foi Henneman? Elwood Henneman foi um neurofisiologista americano que estudou a propriedade dos motoneurônios. Nasceu em 1915 e morreu em 1996 com 81 anos. Henneman se formou no Harvard College, em Cambridge, e ainda realizou pesquisas na famosa universidade Johns Hokins. Em 1957, Henneman publicou experimentos que impactaram o mundo científico demonstrando que os motoneurônios ligados a um mesmo músculo são recrutados na base do seu tamanho, surgindo então o princípio de tamanho de Henneman. Para entendermos um pouco mais do assunto, é preciso dar um “passeio” nas aulas de Fisiologia do Exercício e lembrar alguns conceitos sobre o que é unidade motora e as diferenças básicas entre os tipos de fibra do músculo esquelético. FIGURA 5 – A UNIDADE MOTORA FONTE: Adaptada de Marieb, Wilhelm e Mallatt (2014, p. 264) 37 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 A unidade motora é formada por um único neurônio motor e por todas as fibras musculares que ele inerva (MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014). Podemos observar na Figura 5 a imagem microscópica e esquemática de uma unidade motora com o nervo e os axônios que chegam à fibra muscular na placa motora que faz a ligação nervosa com o músculo, ou seja, a junção neuromuscular. FIGURA 6 – OS TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES Literatura relata basicamente três tipos de fibras musculares em humanos. As fibras lentas oxidativas (LO), as fibras rápidas oxidativas (RO) e as fibras rápidas glicolíticas FONTE: Adaptada de Marieb, Wilhelm e Mallatt (2014, p. 264) Vocês podem observar na Figura 6 que a literatura relata basicamente três tipos de fibras musculares em humanos. As fibras lentas oxidativas (LO), as fibras rápidas oxidativas (RO) e as fibras rápidas glicolíticas (RG). Para Marieb, Wilhelm e Mallatt (2014), as fibras musculares esqueléticas podem ser categorizadas de duas formas: da maneira que produzem energia (ATP) e na velocidade que se contraem. As fibras podem produzir ATP de maneira aeróbia (utilizando oxigênio), chamadas de oxidativas, ou de maneira anaeróbia (sem a utilização do oxigênio na via de produção de energia) via glicólise, chamadas de fibras glicolíticas ou via sistema ATP-CP. A velocidade de contração é medida pela rapidez que uma fibra decompõe o ATP para obter energia necessária para a contração. Dessa forma, a via glicolítica é bem mais rápida que a via oxidativa, pois depende de menos reações (em torno de dez) para disponibilizar energia em forma de ATP. Podemos separar os diferente tipos de fibra de acordo, basicamente, por estes sete fatores: 38 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais quantidade de mitocôndrias, suprimento de capilares, conteúdo de mioglobina (quanto maior a quantidade de mioglobina a coloração é mais avermelhada, por isso alguns definem como fibras vermelhas e brancas), resistência à fadiga, velocidade de contração, capacidade de gerar força/potência e pelo tamanho (MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014). Veja no quadro a seguir um resumo desta classificação. QUADRO 3 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES Características Tipo I Lentas oxidativas Tipo IIa Rápidas oxidativas Tipo IIx Rápidas gli- colíticas Quantidade de mitocôn- drias Alta Grande Baixa Suprimento de capilares Rico Rico Pobre Conteúdo de mioglobina Abundante Alto Escasso Resistência a fadiga Alta Intermediária Baixa Velocidade de contração Lenta Rápida Muito Rápida Capacidade de gerar força/potência Fraca Forte Muito forte Tamanho Pequeno e fino Intermediário Dobro de diâmetro do tipo I FONTE: Os autores Agora, podemos voltar a falar um pouco mais sobre como treinar hipertrofia. Acreditamos que você, acadêmico, já entendeu que além de pensar em fadigar o músculo nas últimas repetições de uma série de exercício, é preciso pensar em mais dois fatores que influenciam no ganho muscular, o recrutamento de unidades motoras e o tipo de fibra muscular que será envolvido na atividade. De acordo com Zatsiorsky e Kraemer (2006), é preciso pensar em dois princípios básicos (além do recrutamento pelo tamanho): 1) somente as Unidades Motoras (UM) recrutadas são treinadas e; 2) as UM recrutadas devem fadigar ou, pelo menos, deveriam ser altamente ativadas (o que significa que a frequência de descarga dos moto neurônios deve ser suficientemente alta). Podemos pensar em um exemplo prático para auxiliar neste entendimento. Imagine você que o nosso aluno, João da Silva, que já foi citado no exemplo da Figura 3, está treinando hipertrofia, realizando o exercício de supino reto com uma carga de 70 kg. O João fará 12 RM numa velocidade de uma repetição por segundo. As UM envolvidas no treinamento apresentarão tempos diferentes de resistência à fadiga, digamos de um a 100 s (porém existes fibras musculares lentas com tempo de resistência à fadiga bem maior, podem ficar vários minutos sem nenhum sinal de fadiga) (ZATSIORSKY; KRAEMER, 2006). No nosso caso, se o João realizar cinco RM serão recrutadas algumas UM e outras não. É preciso pensar em mais dois fatores que influenciam no ganho muscular, o recrutamento de unidades motoras e o tipo de fibra muscular que será envolvido na atividade. 39 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 Vale lembrar que, segundo o princípio de recrutamento por tamanho, as fibras lentas e mais resistentes à fadiga serão recrutadas primeiro. Depois de alguns levantamentos da barra, algumas UM começam a fadigar, obviamente, as que possuem menor resistência à fadiga. Podemos dizer que após oito RM somente as fibras com resistência menor que oito segundos se fadigam. Assim, essas UM já não podem exercer a mesma tensão e novas UM precisam ser recrutadas. As novas UM recrutadas são de alta ativação, rápidas e se fadigam rapidamente, ou seja, fibras tipo IIx glicolíticas. Olhe novamente para a Figura 3. É possível dizer que com esse tipo de treinamento realizadopelo João (12RM), de hipertrofia no exercício de supino reto, haverá no músculo peitoral maior UM recrutadas que não se fadigam, UM fadigadas e aquelas que não foram recrutadas. Se ele parar o exercício em oito RM, aquelas UM maiores e de alta ativação (principalmente fibras tipo glicolíticas) não serão recrutadas e, portanto, não treinadas. Agora, se o João realizar a série completa (12 RM) até a falha ou muito próximo disso, o panorama pode ser diferente, com UM recrutadas e não fadigadas e as que se fadigam, ou seja, um maior número de UM motoras treinadas inclusive aquelas maiores, rápidas e glicolíticas (ZATSIORSKY; KRAEMER, 2006). Em suma, o treinamento de hipertrofia tem suas vantagens e desvantagens. As três principais vantagens são: tem grande influência no metabolismo muscular e, consequentemente, na indução de hipertrofia; envolve em maior grau diferentes UM a serem treinadas; e possui um menor risco de lesão em comparação ao treinamento de força máxima. É preciso lembrar que a intenção deste subtópico era de descrever um dos diferentes tipos de treinamento resistido e que, no Capítulo 2 deste livro, vamos voltar ao assunto da prescrição do treinamento resistido, inclusive de hipertrofia. Certamente, é importante refletir e discutir sobre a aplicação do treinamento de hipertrofia em populações especiais. Poderia uma criança, uma mulher grávida ou um idoso realizar treinos de repetições máximas buscando a fadiga no final da série de exercício? Obviamente, são vários fatores a serem considerados e é preciso analisar bem o contexto de cada situação para decidir se é possível ou não, porém este é um assunto que será abordado com mais profundidade no Capítulo 3 deste livro. As novas UM recrutadas são de alta ativação, rápidas e se fadigam rapidamente, ou seja, fibras tipo IIx glicolíticas. 40 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Acreditamos que agora você, acadêmico, é capaz de responder o que é e como treinar hipertrofia. Pensamos que você também seria capaz de dizer quais os ganhos com este tipo de treinamento. Que tal realizarmos um exercício de memória relembrando estes pontos? Descreva rapidamente o que é, como deve ser feito e para quê realizar o treinamento de hipertrofia. R.: ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3.2 TREINAMENTO DE FORÇA MÁXIMA E POTÊNCIA • O que é o treino de força? • Como treinar força máxima? • Como treinar força explosiva ou potência? • Ganhos com o treinamento de força. Caro acadêmico, passaremos a abordar o treinamento de força máxima, ou como classificado anteriormente por Zatsiorsky e Kraemer (2006), na classificação que eles chamam de taxionomia dos exercícios resistidos quando se atinge a tensão máxima muscular em exercícios contra uma resistência máxima – método do máximo esforço (que chamaremos treinamento de força máxima) ou exercícios com resistência submáxima com a maior velocidade possível – método do esforço dinâmico (o qual chamaremos de treinamento de potência). Segundo Prestes et al. (2016), foi a partir de 2002 que o American College of Sports Medicine (ACSM) começou a publicar um posicionamento sobre o treinamento resistido para adultos saudáveis. Na publicação de 2009, o ACSM ampliou os conceitos do treinamento de força. Em síntese, o colégio americano (RATAMESS et al., 2009) postulou que o treinamento de força, de acordo com os objetivos, pode ser realizado da seguinte forma: resistência de força, hipertrofia, força máxima e força explosiva e deve ser planejado para diferentes níveis de treinamento: O treinamento de força, de acordo com os objetivos, pode ser realizado da seguinte forma: resistência de força, hipertrofia, força máxima e força explosiva e deve ser planejado para diferentes níveis de treinamento: iniciantes, intermediários e avançados. 41 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 iniciantes, intermediários e avançados. Torna-se importante ressaltar que para alguns autores existem diferentes tipos de treinamento de força, principalmente quando se trata de atletas, mas para fins didáticos, vamos focar neste livro na força máxima e de potência. Vale lembrar que em algumas fontes você encontrará que estes dois tipos de treino são uma subdivisão do treinamento de força máxima. Acreditamos que, antes de mais nada, devemos voltar aos princípios básicos da Física para entendemos essas diferentes valências físicas que queremos abordar. Segundo a Física, qual é o conceito de Força (F)? Você lembra? De acordo com a segunda Lei de Newton, a força é o produto da massa pela aceleração de um determinado objeto: F = m . a. Agora que você lembrou o conceito de força, saberias dizer qual o conceito de potência? De maneira bem básica e didática, para a nossa intenção deste tópico, podemos descrever potência (P) da seguinte forma: P = F . v. Lembrando que velocidade (v) é o produto da distância (D) pelo tempo (t): v = D . t. Assim, a partir de agora, vamos estudar sobre o que é o treinamento de força máxima. 3.2.1 Força máxima Como já dito anteriormente, basicamente esse tipo de treino é baseado no máximo esforço, segundo Zatsiorsky e Kraemer (2006), ou seja, levantar o máximo de peso possível realizando o máximo de força possível para determinado exercício. A carga, nesse caso, é a máxima resistência ou o máximo peso a ser levantado. Para Prestes et al. (2016), a intensidade máxima depende de várias variáveis do programa de treino, como o volume, a ordem dos exercícios, a ação muscular e tempo de intervalo entre as séries e os exercícios. No treinamento de força existe uma relação direta entre a intensidade e o volume, por exemplo, podemos dizer que quanto maior a resistência ou o peso levantado, menor será o número de repetições (volume). Normalmente, a intensidade pode ser prescrita em percentual de um RM ou por um número de RM realizados até a falha. De modo geral, no treinamento de força máxima as cargas que são utilizadas devem ficar entre um e seis RM. Segundo Mcardle, Katch e Katch (2015), parece haver uma relação entre a massa corporal e a capacidade máxima de levantar peso (1RM) para homens e mulheres. Os autores ainda destacam que as diferenças na produção de força A intensidade máxima depende de várias variáveis do programa de treino, como o volume, a ordem dos exercícios, a ação muscular e tempo de intervalo entre as séries e os exercícios. 42 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais absoluta entre homens e mulheres diminuem consideravelmente quando são relativas à massa corporal. Segundo Prestes et al. (2016), o entendimento das adaptações ao treinamento de força, a sinalização das vias biomoleculares e a sinalização intracelular ainda não é consenso e passível de novos estudos. Os autores relatam que a estimulação elétrica de alta frequência promove um potente estímulo na via Akt-mTOR (Akt = proteína quinase B; mTOR = alvo da rapamicina em mamíferos, via relacionada à hipertrofia), enquanto a estimulação elétrica de baixa frequência aumenta a atividade da AMPK (adenosina monofosfato ativada por proteína quinase, via antagônica a via Akt-mTOR). Dessa forma, os autores salientam que isso parece sugerir que estímulos de alta intensidade promovem o crescimento muscular e intensidades baixas com maior duração promovem o aumento da resistência muscular. É possível ver na Figura 7 o diagrama de um resumo das principais vias de sinalização da síntese proteica. FIGURA 7 – SÍNTESE PROTEICA MUSCULAR FONTE: <https://bit.ly/2XmjDqo>. Acesso em: 2 ago. 2020. O treinamento de força máxima é mais apropriado para aprimorar a coordenação intramuscular e intermuscular. Os músculos e o sistema nervoso central (SNC) se adaptam a este tipo de treinamento. Assim,um número máximo de UM é ativado com uma ótima frequência de disparo. Um indivíduo é capaz de aprender a melhorar e memorizar essas mudanças na coordenação motora em nível subconsciente (ZATSIORSKY; KRAEMER, 2006). Ainda, segundo Zatsiorsky e Kraemer (2006), se o objetivo do treinamento é treinar a técnica do movimento (coordenação intra e intermuscular), a recomendação do número de repetições por série é de um a três, porém, quando o objetivo é o ganho de força no músculo, ao invés do movimento em si, o número de repetições pode ser maior. Os autores também ressaltam que esse método tem várias limitações e não é Os músculos e o sistema nervoso central (SNC) se adaptam a este tipo de treinamento. Assim, um número máximo de UM é ativado com uma ótima frequência de disparo. 43 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 recomendado para iniciantes. A principal limitação é o alto risco de lesão. Outra limitação é que quando o treinamento for de apenas uma ou duas repetições, a probabilidade de induzir hipertrofia é pequena. Lembrando o conceito destes autores que já foi dito anteriormente, nesse caso, a quantidade de trabalho mecânico desempenhado é pequena e a quantidade de proteínas contráteis degradas é limitada. Quanto ao treinamento de força máxima, Ratamess et al., (2009) em suas recomendações do treinamento resistido para adultos saudáveis, também coloca a importância deste tipo de treinamento, mas com ressalvas para os iniciantes. Eles classificam iniciantes c aqueles indivíduos não treinados com nenhuma experiência no treinamento resistido ou que já não treinam por alguns anos, esses sujeitos não deveriam realizar treinamento de força máxima. Colocamos aqui uma ressalva pessoal, acadêmico, cabe ao profissional que acompanhará tais indivíduos a avaliação, ponderação e prescrição ou não do treinamento de força máxima, sempre prezando pela saúde do ser humano. Ratamess et al., (2009) ainda coloca que indivíduos de nível intermediário (aqueles com aproximadamente seis meses de treinamento resistido de forma consistente) ou avançados (aqueles com anos de experiência) já possam periodizar treinamento de força máxima (um a seis RM) com períodos de recuperação entre as séries de três a cinco minutos, desempenhados numa velocidade contração moderada (um a dois s concêntrico, um a dois s excêntrico). Gentil (2019) usa uma classificação distinta para o treinamento resistido. Basicamente, segundo o autor, existe o treinamento metabólico e o tensional. O treinamento metabólico utiliza um número maior do que dez repetições até a falha concêntrica buscando o acúmulo de metabólitos intracelular (como o ADP), acúmulo de lactato sanguíneo e diminuição do pH celular e sanguíneo. Esse tipo de treinamento foi o que definimos e tratamos no subtópico anterior, o qual chamamos de treinamento de hipertrofia. Agora, nos interessa analisar um pouco melhor o que Gentil (2019) chama de treinamento tensional, porque, de certa maneira, é o que estamos tratando neste subtópico como força máxima. As repetições nesse treinamento devem ser menores do que seis. A interrupção ocorre diante da impossibilidade de mover a carga em duas tentativas consecutivas. Segundo Gentil (2019), a velocidade deve ser lenta enfatizando a fase excêntrica, principalmente nas duas últimas repetições. Deve-se utilizar pequenas reduções de carga (~10%) após cada falha. Ainda, o descanso entre as séries deve ser de dois a quatro minutos entre elas. O objetivo desse treinamento é atingir altos níveis de tensão por tempo prolongado com potencial de gerar microlesão e ativar a mecanotransdução. Um ponto importante que foi tocado no parágrafo anterior, foi o tempo de Cabe ao profissional que acompanhará tais indivíduos a avaliação, ponderação e prescrição ou não do treinamento de força máxima, sempre prezando pela saúde do ser humano. 44 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais recuperação entre as séries. No treinamento de força máxima o que se recomenda geralmente são intervalos de dois a cinco minutos. Isso acaba gerando uma certa dificuldade para a realização deste tipo de treinamento por poder se tornar muito longo. Por que o treinamento de força máxima deve ter intervalos tão longos de recuperação? Um dos pontos já mencionados anteriormente é o não acúmulo de metabólitos e de acidose celular para que a tensão exercida pelas fibras possa ser o mais efetiva possível (GENTIL, 2019). Segundo Prestes et al. (2016), o período de intervalo entre as séries é de significante importância para as adaptações do treinamento de força. Quando o intervalo é curto, há um aumento do hormônio de crescimento (GH) que auxilia nos ganhos de hipertrofia muscular. Entretanto, intervalos curtos prejudicam o desempenho nas séries subsequentes e prejudicam o aumento da força muscular a nível crônico quando comparados a intervalos longos. Os intervalos curtos podem aumentar a atividade da AMPK e inibir a síntese proteica. Assim, intervalos de recuperação mais longos (e.g., dois a três minutos) resultam em aumentos superiores de força muscular, além da manutenção da intensidade do treino. De acordo com Prestes et al. (2016), há evidências de que intervalos maiores que cinco minutos não são necessários. No entanto, o “porquê” da utilização de intervalos mais longos geralmente está relacionado à depleção e ressíntese da fosfocreatina e do ATP. Para Kraemer e Fleck (2009), o tempo estimado de restauração dessas fontes de energia é de cerca de três minutos. Se o tempo suficiente para recuperação dessas fontes não for concedido, haverá um decréscimo na intensidade subsequente do exercício. Para esses autores, exercícios que envolvem uma única articulação e com ênfase no aumento da força máxima, pode-se utilizar intervalos de uma a dois minutos. Obviamente, a recuperação dos fosfatos de alta energia está ligada a sua depleção, quanto maior a depleção maior deverá ser o intervalo de recuperação. GRÁFICO 1 – CURVA DE RECUPERAÇÃO DA FOSFOCREATINA. O “porquê” da utilização de intervalos mais longos geralmente está relacionado à depleção e ressíntese da fosfocreatina e do ATP. FONTE: Szendroedi e Roden (2008, p. 2155-2167) 45 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 É possível observar no Gráfico 1 a curva de recuperação da fosfocreatina de um exercício (exercise) hipotético para diferentes populações. Indivíduos adultos saudáveis na linha sólida, sujeitos obesos na linha tracejada, pacientes com diabetes mielitus tipo II na linha pontilhada-tracejada e pacientes com ataxia de Friedreich na linha pontilhada. Perceba que indivíduos saudáveis recuperarão mais rapidamente a fosfocreatina (em % da concentração inicial – initial concentration) em relação a obesos ou outros pacientes (parte da curva após o exercício subindo de maneira mais vertical). Perceba também que os pacientes com diabetes tipo II ou com ataxia de Friedreich, representados no gráfico, recuperam mais lentamente em relação a indivíduos obesos. O que gostaríamos de chamar atenção no gráfico, é que a recuperação da fosfocreatina é exponencial, ou seja, haverá uma recuperação rápida inicial em que a maior parte da energia é restaurada e depois uma recuperação lenta que leva mais tempo para recuperar totalmente. Dessa forma, quando se pensa nos intervalos de recuperação durante o treinamento resistido, em especial o treinamento de força máxima, além do que já foi mencionado, é preciso saber ou prever a recuperação da fosfocreatina. Obviamente, na prática é muito difícil estar medindo esses fatores e, por isso, utiliza-se as recomendações de órgãos, institutos e estudos sérios que analisaram este tipo de resposta fisiológica e são passíveis de generalização, sempre com parcimônia e cautela. 3.2.2 Treinamento de potência Otreinamento de potência partirá do princípio da Física, ou seja, força x distância/tempo ou força x velocidade. Importante ficar claro para você, acadêmico, pois o entendimento desse método de treino fica facilitado quando compreendemos esse conceito. Como a potência é o produto da força pela velocidade, quanto maior for um dos dois fatores, maior será o produto, ou seja, a potência gerada. Exemplificando isso na nossa área de atuação e deixando um pouco de lado o conceito físico, pense que o nosso aluno João da Silva resolveu começar um treinamento de potência durante seu treinamento resistido, ele gostaria de treinar usando a pliometria. Como a potência é o produto da força pela velocidade, quanto maior for um dos dois fatores, maior será o produto, ou seja, a potência gerada. 46 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A pliometria é um método comumente utilizado com crianças e jovens de diferentes modalidades esportivas que se utiliza de diferentes saltos com sobrecarga ou peso corporal. O movimento pliométrico envolve o alongamento rápido seguido por encurtamento de um grupo muscular durante um movimento dinâmico, proporcionando produção de potência máxima (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Para mais exemplos de um treinamento de pliometria, acesse o link: https://www.ativo.com/triathlon/treinamento-triathlon/pliometria-mais- potencia-pulo/ FIGURA 8 – DIFERENTES TIPOS DE TREINAMENTO DE PLIOMETRIA FONTE: Adaptada de Mcardle, Katch e Katch (2015, p. 783) Imaginemos que nosso amigo João pese 70 kg e realizará o treinamento pliométrico com objetivo de treinar membros inferiores, utilizando apenas o peso corporal. Se pensarmos somente na corrida de dez m que ele realizará antes do salto, digamos numa velocidade de 5,2 m/s (18,8 km/h), que é a máxima velocidade que ele consegue atingir, ele estará produzindo uma potência em watts maior que 1300 W. Toda vez que ele “saltar o caixote” (com uma altura de aproximadamente 40 cm), que é dos tipos de treinamento de pliometria, executará o levantamento do seu peso corporal, resultando numa potência em torno de 3700 W. Lembrando que potência em Watts no sprint seria igual à fórmula: Potência máxima (W) = massa corporal x (distância percorrida)2/ (tempo do sprint)3 47 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 Assim, a potência gerada pelo João a cada salto no caixote durante seu treino de pliometria, tem uma complexidade maior, pois é preciso levar em conta a altura do salto. Segundo Zatsiorsky e Kraemer (2006), por causa da existência do déficit de força explosiva, é impossível atingir força máxima com movimentos rápidos contra uma resistência intermediária. Portanto, o método do treinamento de potência é usado para aumentar somente a taxa de desenvolvimento de força e a força explosiva, mas não a força máxima. De acordo com Kraemer e Fleck (2009), o treinamento de potência pode ser realizado com uma a três séries de uma a três repetições (podendo chegar até seis repetições), com uma intensidade muito alta e um volume baixo. Para os autores, respeitando o sistema de prioridade que considera que, em primeiro lugar, treina-se os exercícios que são o foco da sessão, permitindo uma maior capacidade de concentração na técnica correta e o emprego das cargas mais pesadas possíveis, os exercícios de potência deveriam ser realizados no começo da sessão. Isso porque o indivíduo poderia treinar a potência máxima sem que a fadiga prejudicasse seu desenvolvimento. Em algumas situações e em alguns esportes específicos, pode-se treinar a potência no final da sessão com o desenvolvimento de uma fadiga leve. GRÁFICO 2 – CURVA DE FORÇA-POTÊNCIA E VELOCIDADE Os exercícios de potência deveriam ser realizados no começo da sessão. Isso porque o indivíduo poderia treinar a potência máxima sem que a fadiga prejudicasse seu desenvolvimento. FONTE: Os autores Torna-se importante lembrar que existe uma relação entre a máxima força produzida e a velocidade, como é possível ver na Gráfico 2, em outras palavras, podemos dizer que quanto maior a velocidade de execução de um movimento, 48 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais menor será a força empregada e vice-versa. Existe também uma curva em forma de “U” invertido que representa a relação entre potência e velocidade, sendo que existe uma velocidade ótima de contração para produzir a maior potência possível. Para encerrar este subtópico, vale a pena dizer que, para Mcardle, Katch e Katch (2015), o treinamento de potência pode ser realizado com uma carga pesada maior que 80% do RM quando o objetivo maior está nos ganhos de força e; com cargas de 30 a 60% do RM quando o objetivo está mais centrado nos ganhos de velocidade sempre de maneira periodizada. 3.3 TREINAMENTO DE RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA (RML) • O que é o treino de RML? • Como treinar? • Ganhos com o treinamento de RML. Acadêmico, agora que já passamos pelos conhecimentos e conceitos básicos do treinamento de hipertrofia, força máxima e força explosiva ou potência, vamos nos focar no último, mas não menos importante tipo de treinamento resistido, abordado neste capítulo do livro, o treinamento de resistência muscular localizada ou geralmente referido na prática como RML. Vamos buscar novamente responder as nossas três perguntas norteadoras dos tipos de treinamento, começando pelo o que significa o treinamento de RML. Segundo Prestes et al. (2016), o treinamento de RML ou o que os autores chamam de resistência de força seria: a habilidade de manter a produção de força por um tempo prolongado ou durante muitas repetições em determinados exercícios. É uma manifestação da força importante para que a pessoa tenha capacidade física para realizar as tarefas do dia a dia. Também contribui substancialmente para modalidades como lutas, ciclismo, natação e fisiculturismo (PRESTES et al., 2016, p. 32). Tanto o Colégio Americano de Medicina Esportiva (RATAMESS et al., 2011), que é uma autoridade respeitada mundialmente quando se trata de recomendações de atividade/exercício físico, quanto a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) tratam da importância e recomendam a utilização do treinamento resistido para o desenvolvimento e manutenção da aptidão musculoesquelética. Em suas recomendações, Ratamess et al. (2011) coloca que o treinamento resistido deveria ser feito numa frequência de duas a três vezes por semana por adultos saudáveis, buscando exercitar os principais grupos musculares. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) vai um pouco além, É uma manifestação da força importante para que a pessoa tenha capacidade física para realizar as tarefas do dia a dia. 49 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 separando a população em três faixas etárias, de crianças e jovens (dos cinco aos 17 anos), adultos (18-64 anos) e idosos (acima de 65 anos) e recomendando o treinamento resistido para todos, por pelo menos duas vezes por semana. Para crianças e jovens, os principais benefícios são aumento da resistência muscular e a saúde óssea. Para os adultos, os benefícios vão da melhora da aptidão musculoesquelética, aumento da saúde musculoesquelética e diminuição dos riscos de desenvolver doenças metabólicas (como diabetes) e do risco de doenças crônicas não transmissíveis. Quanto aos idosos, estes se beneficiam com a melhora da qualidade de vida, do equilíbrio, da saúde óssea e melhora da qualidade musculoesquelética. No capítulo 3, voltaremos a abordar sobre o treinamento resistido para as diferentes populações especiais. • Como pode ser o treino de RML? Ratamess et al. (2009) faz um apanhado geral das recomendações do treinamento de RML. Para o Colégio Americano, a carga/intensidade de treinamento de RML deve ser menor do que 50 % de uma repetição máxima,o que eles chamam de intensidade leve a moderada para melhorar a resistência muscular. Uma variedade de equipamentos pode ser utilizada ou a utilização dos exercícios com o peso corporal. Entre 15 a 20 repetições são recomendadas para aprimorar a resistência muscular e uma a duas séries já parecem ser efetivas. Segundo Ratamess et al. (2009), parece haver uma relação entre os aumentos na força e a RML, sendo que o treinamento de força por si só já poderia melhorar a resistência até certo ponto. Entretanto, é preciso lembrar do princípio da especificidade, e se lembramos dele, é preciso respeitá-lo. É como se disséssemos que não é possível ser um bom jogador de futebol se não treinamos a técnica do esporte com bola. Portanto, o treinamento de RML parte do princípio de que o indivíduo deve desempenhar um alto número de repetições, séries de longa duração com um tempo longo de tensão muscular e/ou minimizar o tempo de recuperação entre as séries (RATAMESS et al., 2009). As demandas metabólicas são um importante estímulo para as adaptações no músculo necessárias para melhorar a RML (aumento do número de mitocôndria e capilares, transições no tipo de fibra e capacidade de tamponamento). A fadiga é um importante e necessário componente para o treinamento de resistência muscular (RATAMESS et al., 2009). Por isso, muitos autores como Teixeira (2015) e Gentil (2019) tratam do método de treinamento metabólico. Para Teixeira (2015), no treinamento definido como estresse metabólico, geralmente as cargas utilizadas são mais baixas para aumentar o tempo sob tensão com tempo de intervalos reduzidos entre as séries, ou seja, respeitando os princípios já postulados pelo o ACSM. Assim, para o autor, o treino metabólico seria: O treinamento de RML parte do princípio de que o indivíduo deve desempenhar um alto número de repetições, séries de longa duração com um tempo longo de tensão muscular e/ou minimizar o tempo de recuperação entre as séries. 50 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais • Cargas leves/moderadas, geralmente menores que 60 % de 1RM. • Muitas repetições, geralmente mais que 15 RMs. • Intervalos curtos, geralmente menores do que um minuto. • Ênfase nas ações concêntricas e isométricas. Para Ciccolo e Kraemer (2014), o treinamento de RML pode ser realizado com intervalos de recuperação de um a dois minutos para as séries chamadas, por estes autores, de alta repetição (15-20 repetições ou mais), e intervalos com menos de um minuto para as séries chamadas moderadas (dez a 15 repetições). Estes autores colocam que o treinamento de RML requer um espectro de velocidades com várias estratégias de carga que proporcionem uma duração prolongada das séries. Intencionalmente, velocidades mais lentas são recomendadas para as séries moderadas (dez a 15 repetições) e velocidades mais rápidas são recomendadas quando séries de alta repetição (15-25 ou mais repetições) são realizadas. • Quais os ganhos com o treinamento de RML? Voltando à classificação já mencionada de Zatsiorsky e Kraemer (2006), que diferencia os tipos de treino que estamos tratando neste tópico, os autores alegam que a diferença entre o treinamento de RML para o de hipertrofia está somente no número de repetições por série, que é intermediário para o RML e máximo até a falha no treino de hipertrofia. Os autores alegam que o estímulo para que ocorra a hipertrofia muscular é similar para os dois métodos. Esse tipo de treinamento (i.e., RML) pode ter uma duração de algo em torno de 20-40 s. A principal via metabólica mobilizada nesse tipo de ações musculares será a via anaeróbia lática. A principal fonte de energia através da via glicolítica será a glicose, ocorrendo um aumento dos metabólitos no meio intracelular (e.g., lactato, íons de hidrogênio) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; TEIXEIRA, 2015). Se os intervalos forem curtos entre as séries, não permitindo o remoção deste metabólitos, eles tendem a aumentar a cada série, sendo um importante estímulo para sinalização da síntese proteica, o que leva também a um “inchaço celular”, o que pode contribuir para o aumento da taxa de síntese proteica (TEIXEIRA, 2015; GENTIL, 2019). Além do mais, tempos prolongados de contração muscular, com pequenos intervalos de recuperação, podem levar a um estado de isquemia e hipóxia no músculo (diminuição da disponibilidade de sangue e oxigênio), o que aumentaria a produção de espécies reativas de oxigênio, elevando a secreção de hormônios específicos que participam no processo de hipertrofia muscular. É possível, ainda, preconizar que o treinamento de RML seria capaz de recrutar A principal via metabólica mobilizada nesse tipo de ações musculares será a via anaeróbia lática. A principal fonte de energia através da via glicolítica será a glicose, ocorrendo um aumento dos metabólitos no meio intracelular. 51 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 Existem diversos tipos de treinamento resistido na literatura. Podemos classificá-los em quatro categorias: treinamento de hipertrofia, treino de força máxima, força explosiva ou potência e resistência muscular localizada. Cada um dos tipos de treinamento possui peculiaridades na forma de treinar. Quanto às especificidades dos tipos de treinamento, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) No treinamento de força explosiva é preciso realizar na maior velocidade possível, geralmente na fase concêntrica do movimento. ( ) A hipertrofia muscular, ou seja, crescimento do músculo, pode ocorrer através da resistência muscular localizada por conta do estresse metabólico gerado. ( ) Treinamento de hipertrofia são caracterizados por um número de repetições máximas realizados até a falha e são o único tipo capaz de gerar hipertrofia. ( ) O sistema nervoso central se adapta ao treinamento de força máxima e um número máximo de unidades motoras é ativado com uma ótima frequência de disparo. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – F. b) ( ) F – V – F – V. c) ( ) V – V – F – V. d) ( ) V – F – V – F. uma maior quantidade de fibras tipo I oxidativas, um estímulo ao crescimento destas fibras também (TEIXEIRA, 2015). Se quiser aprender mais sobre o treinamento de resistência muscular localizada, indicamos a leitura do livro: Treinamento do core: anatomia ilustrada. FONTE: ELLSWORTH, A. Treinamento do core: anatomia ilustrada. Barueri: Manole, 2012. 52 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O treinamento resistido tem ganhado atenção com relação às populações especiais, deixando de ser uma modalidade praticada apenas por atletas ou pessoas que buscam aprimoramento da aptidão física. Os programas de treinamento devem ser prescritos conforme as especificidades e os objetivos de cada indivíduo. Levando em consideração os três formatos básicos de estruturar um treinamento (corpo todo, membros superiores/tronco e membros inferiores e grupamentos musculares), o profissional poderá manipular as diferentes variáveis que foram apresentadas para atingir os objetivos do indivíduo, assim como na tentativa de manter essas pessoas na realização de um treinamento de médio e longo prazo, buscando a aderência desses grupos especiais ao exercício. Basicamente, abordamos, nesse capítulo, que existem quatro tipos ou métodos de treinamento resistido, são eles: o treinamento de hipertrofia, o treino de força máxima, o método da força explosiva e o treinamento de resistência muscular localizada. O treinamento de hipertrofia busca o aumento no tamanho muscular ou na área de seção transversa do músculo, geralmente é realizado com um percentual alto da capacidade máxima do indivíduo de levantar ou suportar uma resistência até a fadiga muscular dentro da série de exercício. O treino de força máxima tem por objetivoo aumento da força muscular e da coordenação intramuscular e intermuscular. Geralmente, realizado com baixo volume, ou seja, baixo número de repetições totais e intensidade máxima e intervalos longos entre as séries para a recuperação do organismo. Normalmente, é planejado em períodos específicos do treinamento por possuir um alto risco de lesão. O método de treino de potência parte do princípio da relação entre força e velocidade e pode ser treinado com objetivo de aprimorar mais a força (por exemplo, 80% 1RM) ou a velocidade (por exemplo, 50% 1RM) muscular, lembrando que esse tipo de treinamento aprimora a taxa de desenvolvimento de força e a força explosiva, mas não a força máxima e tem uma aplicabilidade para diversos esportes. Para tal, é preciso trabalhar a combinação das cargas submáximas sempre buscando realizar o movimento o mais rápido possível. Por fim, aprendemos que o treinamento de resistência muscular localizada deve ser realizado com um alto volume de repetições, cargas submáximas e intervalos curtos de recuperação para melhor a endurance muscular e tem potencial para gerar hipertrofia muscular, também devido ao estresse metabólico gerado. 53 Metodologia do Treinamento Metodologia do Treinamento ResistidoResistido Capítulo 1 REFERÊNCIAS AMERICAN College ff Sports Medicine. Position stand: progression models in resistance training for healthy adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, Medison, v. 34, n. 2, p. 364-380, 2002. ANDERSON, T.; KEARNEY, J. T. Effects of three resistance training programs on muscular strength and absolute and relative endurance. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 53, n. 1, p. 1-7, 1982. BALLOR, D. L.; BECQUE, M. D.; KATCH, V. L. Metabolic responses during hydraulic resistance exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise, Medison, v. 19, n. 4, p. 363-367, 1987. 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Neste capítulo, abordaremos, de forma específica, cada tipo de treinamento resistido, os aspectos discutidos no capítulo anterior relacionados ao desenvolvimento do programa de treinamento (ação muscular, carga, volume, seleção e sequência dos exercícios, cadência, período de intervalo, frequência e estrutura do treinamento). Entenda que esse capítulo tem fundamental importância para compreensão das possibilidades de utilização de cada uma dessas variáveis citadas em cada tipo de treinamento resistido, possibilitando uma prescrição de treinamento mais efetiva conforme o objetivo de cada indivíduo. Nesse sentido, o objetivo que é usualmente considerado por diferentes populações, é o aprimoramento de certos componentes da aptidão física (força, potência, resistência etc.) visando saúde ou desempenho, além de aspectos relacionados ao desenvolvimento estético (hipertrofia) (KRAEMER; RATAMES, 2004). Para que qualquer objetivo possa ser alcançado, o programa de treinamento deve ser sistematicamente alterado com o objetivo de fornecer estímulos contínuos, para que o indivíduo se mantenha em constante adaptação (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Essa alteração sistemática do treinamento (progressão) está associada aos princípios da adaptação, continuidade e sobrecarga que foram discutidos no nosso primeiro capítulo. Para isso, utilizam- se princípios básicos de progressão necessários em qualquer tipo de treinamento, independente do objetivo, para que se mantenha um estímulo constante para gerar novas adaptações a médio e longo prazo. Esses princípios são divididos em: 1) progressão da carga; 2) variação; e 3) especificidade (KRAEMER; RATAMES, 2004). Visto que se deve levar em consideração esses princípios, abordaremos cada um deles de forma pontual antes de iniciarmos a nossa discussão acerca dos efeitos de cada variável que compõem a prescrição (intensidade, volume, cadência etc.) dentro de cada tipo de treinamento resistido. A progressão da carga refere-se ao incremento gradual da sobrecarga imposta ao organismo durante o treinamento, sendo que a tolerância desse Para que qualquer objetivo possa ser alcançado, o programa de treinamento deve ser sistematicamente alterado com o objetivo de fornecer estímulos contínuos, para que o indivíduo se mantenha em constante adaptação. 62 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais incremento é individual e deve ser monitorado continuamente pelo profissional para que alguma modificação possa ser feita, caso necessário (GENTIL, 2019). O processo adaptativo do organismo humano apenas acontecerá se continuamente for imposto uma sobrecarga a todo o sistema. Considerando que as adaptações fisiológicas a um treinamento padrão (sem alterações em nenhuma variável) ocorreram apenas durante um período curto de treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004), o incremento contínuo nas demandas fisiológicas é necessário para futuros ganhos. Destacando-se a necessidade do incremento contínuo na sobrecarga, você pode se perguntar como o profissional pode fazer esses ajustes? Quais as variáveis que podem ser modificadas para que se mantenha uma sobrecarga contínua? As respostas para essas perguntas estão nas variáveis discutidas no capítulo anterior, apresentadas na figura a seguir. FIGURA 1 – TREINAMENTO RESISTIDO E VARIÁVEIS ASSOCIADAS A PRESCRIÇÃO FONTE: Os autores Para que se mantenha um estímulo constante para o desenvolvimento da hipertrofia, força, potência e resistência muscular localizada, o profissional pode: 1) modificar a intensidade (carga); 2) modificar as repetições para umamesma carga; 3) alterar a cadência para o mesmo número de repetições; 4) alterar o período de recuperação; 5) alterar o número de séries e/ou exercícios; e 6) alterar 63 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 o tipo de exercício ou fazer diferentes combinações entre essas variáveis. Pode-se observar um alto grau de especificidade envolvida no treinamento e nas adaptações subsequentes (BAKER; WILSON; CARLYON,1994). As adaptações fisiológicas são específicas para a ação muscular utilizada (DUDLEY et al., 1991), velocidade do movimento (KANEHISA; MIYASHITA, 1983), amplitude do movimento (KNAPIK; MAWDSLEY; RAMOS, 1983), grupo muscular treinado (KRAEMER et al., 2004), sistema energético envolvido (SCHUENKE; MIKAT; MCBRIDE, 2002), além da intensidade e volume do treinamento (CAMPOS et al., 2002). A variação no treinamento requer que alterações em uma ou mais variáveis do programa sejam feitas ao longo do tempo para que se mantenha um estímulo adequado para gerar adaptações. Para exemplificar, tem sido verificado que variações sistemáticas no volume e intensidade são mais efetivas para a progressão de longo prazo, comparado a programas de treinamento que não efetuem alterações agudas em nenhuma variável (FLECK, 1999). A importância da variação no treinamento passou a ser mais discutida e ganhar espaço como resultado do trabalho de um pesquisador chamado Selye (1976). A teoria de Selye (1976), chamada de síndrome da adaptação geral, propõe que o corpo se adapta a partir de três fases após receber estímulos de: 1) período de choque; 2) adaptação; e 3) estabilização. O período de choque representa as respostas à fase inicial de um treinamento, com os aprimoramentos em todos os sistemas fisiológicos acontecendo após esse momento no período de adaptação, sendo que, depois desse período, o organismo não produzirá novas adaptações caso o estímulo não seja alterado, verificando-se um platô. Durante um determinado período de treinamento (periodização), as variações sistemáticas têm sido utilizadas no contexto do esporte para maximizar o desempenho e a recuperação (POTTEIGER et al., 1995). No entanto, o uso dessas variações durante a periodização não é limitado a esse público, o que pode ser aplicado nos grupos especiais nos programas de treinamento resistido que visam aprimoramentos na saúde e na aptidão física geral. 64 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Se você quiser saber mais sobre as comparações entre treinamento periodizado e não periodizado, além das características e comparações dos diferentes modelos de periodização, disponibilizamos alguns estudos sobre esse assunto. • Treinamento periodizado vs. não periodizado (WILLOUGHBY, 1993). • Periodização clássica vs. ondulatória vs. não periodizado (BAKER et al., 1994). • Periodização clássica vs. ondulatória (RHEA et al., 2002). As adaptações fisiológicas que o exercício causa podem ser de ordem aguda ou crônica. As adaptações agudas são aquelas que acontecem em resposta à sessão de treinamento realizada, sendo subdividida em respostas agudas imediatas (logo após o final da sessão) e tardias (até 72 horas). Por outro lado, as adaptações crônicas são resultantes da prática sistemática de exercício, sendo representada pelas alterações morfofuncionais (aprimoramento da aptidão física geral), que diferenciam um indivíduo fisicamente ativo de um indivíduo não treinado. FONTE: ARAÚJO, C. G. S. Fisiologia do exercício físico e hipertensão arterial: uma breve introdução. Revista Hipertensão, v. 4, n. 3, p. 30-35, 2001. Apesar de existirem diferentes formas de se variar uma sessão de treinamento (conforme citado) de forma aguda, diferentes modelos de periodização têm sido discutidos e comparados na literatura, visando a manutenção das adaptações de forma crônica. No entanto, o modelo de periodização clássica e o modelo de periodização ondulatório tem sido os mais estudados (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 65 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 2 TREINAMENTO DE HIPERTROFIA Antes de iniciarmos a nossa discussão acerca das possibilidades de manipulação das variáveis visando hipertrofia, discutiremos os diferentes fatores atuantes e os mecanismos para hipertrofia. É importante destacar que a hipertrofia é o aumento volumétrico de um músculo causado pelo aumento no volume das fibras que os constituem (GENTIL, 2019). A Figura 2 demonstra uma imagem de uma fibra muscular pré-treinamento (imagem a esquerda) e a mesma fibra muscular após um programa de treinamento (imagem a direita). FIGURA 2 – HIPERTROFIA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO FONTE: Adaptada de <http://www.webquest.uff.br/ imagens/hiper2.jpg>. Acesso em: 4 ago. 2020. Podemos citar alguns fatores atuantes que são importantes no processo de hipertrofia como as células satélites, insulina, hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), testosterona, miostatina e fatores genéticos. Além desses, abordaremos os mecanismos relacionados à hipertrofia como as microlesões, mecanotransdução, eixo mTOR, síntese proteica, hipertrofia sarcoplasmática e hipertrofia miofibrilar. 2.1 MECANISMOS ATUANTES NO PROCESSO DE HIPERTROFIA A partir de agora, abordaremos os estímulos que são necessárias para induzir diferentes sinalizações e processos que causam hipertrofia. Discutiremos sobre as microlesões induzidas pelo treinamento, a mecanotransdução, as sinalizações pelo eixo mTOR, o processo de síntese proteica e as diferentes formas de hipertrofia (sarcoplasmática e miofibrilar). As microlesões podem ser causadas por diversos fatores, em relação ao treinamento são mais evidentes nas ações excêntricas, no entanto, as ações 66 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais concêntricas também apresentam capacidade de induzir microlesões (GIBALA et al., 1995). Geralmente, essas microlesões apresentam maior expressão nas linhas Z, porém, outras estruturas (como o sarcolema e o retículo sarcoplasmático) também podem ser afetadas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Para compreendermos como as microlesões podem induzir a hipertrofia, temos que abordar algumas respostas fisiológicas que ocorrem após uma lesão. Quando um tecido é lesionado (no nosso caso, tecido muscular), ocorre uma sequência de eventos com dilatação dos vasos sanguíneos locais, aumento da permeabilidade dos capilares e respostas das células do sistema imunológico (GUYTON; HALL, 2011). Nos primeiros minutos após a lesão, os macrófagos (células que destroem elementos estranhos) atuam como uma primeira linha de defesa. Depois da primeira hora, os neutrófilos (células do sistema imunológico) invadem a região inflamada (no nosso caso, a célula muscular treinada) exercendo uma função similar aos macrófagos, destruindo elementos estranhos causados pela lesão (SCHOENFELD, 2012a). Quase que simultaneamente à invasão dos neutrófilos na região lesionada, uma segunda ação dos macrófagos é iniciada. Essa ação ocorre a partir de uma invasão dessas substâncias na região atuando de forma gradual, com cerca de dois dias até tornar-se efetiva (GUYTON; HALL, 2011). O principal objetivo dos macrófagos é destruir restos celulares (processo denominado fagocitose) resultantes das microlesões. Observe esse processo na Figura 3. FIGURA 3 – ETAPAS DO PROCESSO DE FAGOCITOSE FONTE: <https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/img/2015/11/ fagocitose.jpg>. Acesso em: 4 ago. 2020. 67 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Após os macrófagos invadirem a célula (segunda ação), eles vão capturar os restos celulares resultantes das microlesões, envolvendo-se a essas partículas e formandouma “bolsa” chamada de fagossomo (etapa 2). No interior do fagossomo, as enzimas liberadas pelos lisossomos destroem os restos celulares (etapa 3) com os fragmentos restantes (etapa 4), sendo eliminados pelas células (etapa 5). O processo de deterioração das estruturas da fibra muscular após o exercício são acompanhadas pela difusão de componentes intracelulares para o plasma da célula atraindo monócitos (células do sistema imunológico), que são convertidos em macrófagos nas áreas da lesão, para que o processo anteriormente descrito aconteça. Como resultado da necrose (morte) celular e de uma pressão tecidual elevada decorrente do edema local, ativam-se receptores de dor que resultam no desconforto muscular sentido pelo praticante após uma sessão de treino, processo causado pelo fenômeno da dor muscular tardia (TRICOLI, 2001). Levando em consideração o desconforto causado, substâncias que visam amenizar ou inibir esse sintoma têm sido utilizadas, com especial destaque para os anti-inflamatórios. No entanto, a discussão sobre a eficácia de tal prática permanece em aberto, uma vez que essas substâncias têm demonstrado não afetar o desempenho durante sessões de treinamento resistido (CORREA et al., 2013), além disso, não se conhece com clareza possíveis efeitos colaterais dessa utilização em longo prazo (SCHOENFELD, 2012a). Apesar de algumas discussões permanecerem em aberto com relação à ação direta dos neutrófilos na hipertrofia, indica-se que essas substâncias causem diferentes sinalizações por meio da sua ação em outras moléculas (SCHOENFELD, 2012b). Os macrófagos apresentam importância fundamental para o processo de regeneração e consequente hipertrofia, regulando a atividade das células satélites e dos fatores de crescimento durante a sua ação na célula lesionada (SCHOENFELD, 2012b). Para reforçar essa ideia, resultados demonstraram que concentrações diminuídas (a partir de manipulações farmacológicas) dos macrófagos prejudicam a regeneração do tecido, porém, uma resposta aumentada causa elevação na proliferação e diferenciação das células satélites (TIDBALL; WEHLING- HENRICKS, 2007). Esse mecanismo em resposta a uma concentração reduzida é verificada em especial na segunda fase de ação dos macrófagos (que ocorrerá de dois a quatro dias após a lesão tecidual), nesse período, a principal resposta verificada nos casos de maior concentração dos macrófagos é o favorecimento da regeneração da membrana celular, além da maior resposta para proliferação de células satélites (TIDBALL; WEHLING-HENRICKS, 2007). 68 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Deve-se levar em consideração que a capacidade migratória das células satélites depende da integridade estrutural da fibra. Ou seja, lesões de maior porte que atingem a membrana basal, permitem que as células satélites migrem para todas as fibras próximas. Já em danos menores que não atingem a lâmina basal, a migração ocorre do local intacto para os locais de lesão (GUYTON; HALL, 2011). O processo de mecanotransdução refere-se à transformação de um determinado estímulo em outro. No nosso caso, esse processo é definido como a conversão de um estímulo mecânico (causado pela sobrecarga no exercício) em sinalizações fisiológicas (GENTIL, 2019). Sugere-se que os estímulos mecânicos possam gerar hipertrofia mesmo com a ausência de outros fatores considerados importantes para o processo (nutrição e hormônios) (GENTIL 2019). Além disso, também tem sido proposto que mesmo sem a ocorrência de microlesões, a hipertrofia muscular pode acontecer em resposta à sobrecarga imposta (ANTONIO; GONYEA, 1993). Sugere-se que os estímulos mecânicos do treinamento possam ser traduzidos através do citoesqueleto (conjunto das fibras túbulos proteicos) de diferentes formas, dentre elas, estímulo direto através de proteínas presentes na membrana celular, por canais de íons ligados à membrana ou pela via do eixo mTOR (GUYTON; HALL, 2011). Essas alterações que são iniciadas em resposta aos estímulos mecânicos do treinamento, causam uma cascata de reações (anteriormente citadas) que afetam a atividade das células satélites, dos ribossomos e dos fatores de transcrição alterando a expressão genética, que resultará em uma maior síntese proteica (GENTIL, 2019). A mecanotransdução sofre grande influência do tipo de ação muscular realizada, sendo mais evidente em contrações excêntricas e isométricas comparado a ações concêntricas. O alongamento passivo também é capaz de gerar sobrecargas que resultem em estímulos, no entanto, em menor magnitude comparado às ações musculares citadas (MARTINEAU; GARDINER, 2001). A partir de agora, iniciaremos a nossa discussão acerca do complexo enzimático mTOR, destacamos que esse mecanismo está envolvido com respostas bioquímicas, as quais apresentam maior complexidade para o entendimento. Portanto, sugerimos que a leitura seja feita com bastante atenção. 69 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 O complexo enzimático mTOR regula diversos processos fisiológicos importantes que estão relacionados ao crescimento, sobrevivência, mortilidade e proliferação das células. Sendo que, esse eixo pode ser estimulado através da sobrecarga, dos fatores de crescimento e aminoácidos (COFFEY; HAWLEY, 2007). A via envolvida na ativação do complexo mTOR, conhecida como eixo mTOR, exerce grande importância na regulação da resposta do músculo esquelético à sobrecarga, sendo estimulada a partir de diversas reações enzimáticas (GENTIL, 2019). Devido à complexidade do eixo e a grande quantidade de proteínas e enzimas envolvidas, limitaremo-nos à discussão acerca da proteína quinase B (conhecida como AKT), levando em consideração a sua importante atividade para a hipertrofia a partir de diferentes mecanismos. Apesar da grande importância dessa proteína para o eixo, ela não é a única relacionada ao processo de hipertrofia, conforme podemos observar na Figura 4. FIGURA 4 – SINALIZAÇÕES DO EIXO MTOR PARA A HIPERTROFIA MUSCULAR 70 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais FONTE: Adaptada de Prestes et al. (2016. p. 40) Os estímulos da sobrecarga do treinamento causam a ativação de enzimas que resultam na produção da AKT. No organismo humano, a AKT apresenta três variações (AKT1, AKT2, AKT3), com as duas primeiras sendo mais expressas no músculo esquelético, enquanto que a terceira variação é mais expressa no cérebro (GUYTON; HALL, 2011). A AKT1 está associada ao desenvolvimento muscular, já a AKT2 é relacionada ao metabolismo da glicose (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A ação da AKT na hipertrofia muscular está associada a diversos processos. Por exemplo, A AKT2 bloqueia uma enzima que exerce efeito inibitório sobre a síntese proteica, com a AKT1 ativando o eixo mTOR que abrange dois complexos proteicos, o mTORC1 e o mTORC2 (GENTIL, 2019). O mTORC1 é responsável pelo aumento da síntese proteica, agindo a partir de duas enzimas (S6K e 4E-BP1), ativando a primeira e inibindo a segunda. As enzimas S6K são divididas em duas (S6K1 e S6K2), com a primeira regulando o tamanho da fibra muscular e a segunda exercendo influência sobre a hipertrofia (COFFEY; HAWLEY, 2007). Já a enzima 4E-BP1 é uma inibidora do processo de tradução (fundamental para hipertrofia), com o mTORC1 inibindo a atividade dessa enzima e, consequentemente, facilitando o processo de tradução. Por outro lado, o mTORC2 promove a inibição de diferentes proteínas que são importantes sinalizadores do catabolismo muscular (COFFEY; HAWLEY, 2007). Caro acadêmico, os processos bioquímicos apresentam grande complexidade, portanto, sugerimos que refaça essa leitura com bastante atenção. 71 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Ressaltamos,ainda, conforme citado anteriormente, que o eixo mTOR pode ser ativado a partir da sobrecarga, dos fatores de crescimento e dos aminoácidos. As informações apresentadas até aqui cercam os aspectos relacionados aos aminoácidos que formam as proteínas e enzimas que foram discutidas. Para finalizarmos esse importante mecanismo de estímulo para hipertrofia, não se esqueça que os fatores de crescimento (em especial o IGF-1) e a sobrecarga também apresentam capacidade de estimular o eixo mTOR (ZANCHI; LANCHA, 2008). No caso da sobrecarga, destaca-se a possibilidade da mecanotransdução direta, estimulando a ativação do eixo mTOR independentemente da AKT1 e AKT2 (PHILP; HAMILTON; BAAR, 2011). Nesse sentido, verifica-se que a ativação do eixo mTOR produz tanto respostas anabólicas quanto respostas anticatabólicas, o que pode ressaltar a sua importância para a hipertrofia. Conforme discutido, um dos mecanismos desse eixo relaciona-se à resposta sobre a síntese proteica, a qual discutiremos em mais detalhes. Sabe-se que o treinamento resistido causa alterações agudas de forma direta e indireta na atividade do RNAm de determinadas proteínas, especialmente das proteínas contráteis. Devido ao crescente aumento na compreensão sobre o funcionamento do eixo mTOR, elementos importantes têm sido elucidados acerca da síntese proteica. Nesse sentido, alguns resultados têm demonstrado que o exercício parece influenciar a velocidade do processo de tradução, apesar de não apresentar resultados sobre a quantidade de RNAm (transcrição) (KUBICA et al., 2005). Além dessa alteração, destaca-se também a maior disponibilidade de aminoácidos causada por alterações no fluxo sanguíneo (BIOLO et al., 1995). Apesar das alterações na síntese proteica ser iniciada logo após o treinamento, um valor mais elevado será verificado apenas algumas horas após a sessão, tornando-se mais significativa entre duas a quatro horas. Resultados nesse sentido têm demonstrado que três a quatro horas após o treinamento, a síntese proteica atinge valores entre 50 e 100% acima do repouso, com o pico (109% maior que o repouso) sendo atingido em aproximadamente 24 horas após. No entanto, esses níveis apresentam uma queda rápida atingindo um valor de 14% acima do basal após 36 horas (BIOLO et al., 1995; DREYER et al., 2010). Os efeitos agudos da síntese proteica em resposta ao treinamento resistido, são usualmente estudados em jovens do sexo masculino, no entanto, há evidência mostrando similaridade nas respostas da síntese proteica em idosos (YARASHESKI et al., 1995). 72 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Para relembrarmos, a Figura 5 apresenta um resumo da síntese proteica, a qual podemos dividir em duas fases: etapa de transcrição e a etapa de tradução (POWERS; HOWLEY, 2009). FIGURA 5 – PROCESSO DE SÍNTESE PROTEICA FONTE: <https://bit.ly/31ge6D7>. Acesso em: 4 ago. 2020. O processo inicia com um sinal (no nosso caso, os diferentes estímulos discutidos no subtópico anterior) para ativação de um gene, o qual resultará no processo de transcrição, resultando na formação de uma mensagem (RNAm). Essa mensagem deixa o núcleo celular percorrendo o citoplasma até o ribossomo (organela na qual ocorre a síntese proteica), onde essa mensagem é traduzida em uma proteína específica. É importante ressaltar o papel fundamental dos aminoácidos nesse processo, visto que, após a etapa de transcrição, os aminoácidos presentes no sarcoplasma (resultante da ingestão de proteínas) serão transportados (RNAt) até o ribossomo para que o processo de tradução aconteça, sintetizando uma nova proteína (POWERS; HOWLEY, 2009). Para finalizarmos o nosso subtópico acerca dos processos que são fundamentais para a hipertrofia em qualquer população, discutiremos uma teoria que foi inicialmente proposta pela escola Russa e que aparece em livros clássicos da área da fisiologia/treinamento. Segundo Bompa, Pasquale e Cornacchia (1998), a hipertrofia pode ser manifestada a partir de duas adaptações morfológicas distintas, a hipertrofia miofibrilar e a hipertrofia sarcoplasmática, conforme ilustrado na Figura 6. 73 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 FIGURA 6 – MORFOLOGIA DA HIPERTROFIA MUSCULAR FONTE: <https://bit.ly/31ibtkb>. Acesso em: 4 ago. 2020. A hipertrofia sarcoplasmática teria como característica básica o aumento do volume muscular com menos ganhos em força, justificando que essa adaptação se manifeste a partir de aumentos transitório no líquido sarcoplasmática e demais organelas, com exceção as miofibrilas. Já a hipertrofia miofribrilar, manifesta-se a partir do aumento no volume das miofibrilas, sem aumento correspondente das demais organelas, o que levaria a ganhos mais significativos na força máxima desproporcional aos ganhos no volume muscular (BOMPA; PASQUALE; CORNACCHIA, 1998). Segundo essa teoria, esses componentes morfológicos apresentam maior ou menor grau conforme as características de treinamento do atleta/indivíduo. Nesse sentido, a hipertrofia sarcoplasmática poderia ser mais observada em atletas/ indivíduos que concentram grande parte do seu treinamento em séries com mais de dez repetições (dentre outras características). Já a hipertrofia miofibrilar, poderia ser observada em resposta a treinamentos com características próximas a dos levantadores de peso (abaixo de seis repetições). Inicialmente, descreveremos dois estudos realizados em humanos com diferentes características de treinamento e que apresentam evidências contrárias a essa teoria. No segundo momento, apresentaremos duas evidências que demonstram diferenciação nessas adaptações morfológicas. A primeira evidência que demonstraremos verificou alterações nas fibras musculares de atletas de força (levantadores de peso e fisiculturistas), atletas de resistência (maratonistas), indivíduos saudáveis fisicamente ativos e indivíduos sedentários em resposta a diferentes treinamentos. A análise realizada envolveu tanto fibras do tipo I quanto fibras do tipo II do tríceps sural, verificando-se que as fibras musculares eram 2,5/ 1,7/ 1,6 vezes maior em atletas de força, de 74 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais resistência e fisicamente ativos, respectivamente, comparados ao grupo controle. Os volumes relativos do retículo sarcoplasmático, sarcoplasma e miofibrilas eram iguais em todos os grupos e entre os dois tipos de fibra (ALWAY et al., 1988). Da mesma maneira, um protocolo de treinamento realizado por 18 semanas apresentou aumento tanto do volume absoluto das miofibrilas quanto do volume intermiofibrilar, sem alterações no volume relativo. Concluindo-se que ocorre aumento dos componentes da fibra muscular de forma proporcional ao aumento da fibra propriamente dita (WANG et al., 1993). Por outro lado, grande parte dos estudos que verificaram alterações nesses componentes morfológicos em resposta ao treinamento, foram feitos em condições patológicas ou induziram tais condições (tanto em humanos quanto em animais). Destacaremos dois estudos nesse sentido. Verificou-se que animais com cardiomiopatia hereditária possuem densidade miofibrilar menor (cerca de 10%) e volume sarcoplasmático maior que animais saudáveis (FITZ et al., 1998). A ocorrência desse fenômeno (hipertrofia sarcoplasmática) também foi verificada em humanos que desenvolveram tal condições em resposta a uma patologia na válvula da aorta (SCHAPER; SCHWARZ; HEHRLEIN, 1981). Nesse sentido, a diferenciação da hipertrofia pode estar associada a condições patológicas, principalmente associadas ao coração e não a características distintas de treinamento e as respostas em diferentes populações. Após discutirmos informações essenciais para entendimento dos processos que são fundamentais para gerar hipertrofia, abordaremos no subtópico a seguir as possibilidades de manipulaçãonas diferentes variáveis (intensidade, volume, cadência etc.) apresentadas no Capítulo 1, para que o profissional tenha ferramentas para diversificar o treinamento. Dessa forma, pode-se manter os estímulos necessários que favoreçam os ganhos de hipertrofia mantendo o treinamento desafiador e quebrando a monotonia. 75 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Diferentes mecanismos são relacionados ao processo de hipertrofia, a compreensão desses fatores apresenta fundamental importância para melhor ajustar o treinamento fornecendo estímulos que favoreçam essa adaptação. Sobre os fatores estimulantes no processo da hipertrofia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os fatores estimulantes que são importantes no processo de hipertrofia são: microlesões, mecanotransdução, as sinalizações pelo eixo mTOR, síntese proteica e a hipertrofia sarcoplasmática e miofibrilar. ( ) As células satélites são pequenas estruturas localizadas no espaço externo da fibra muscular, respondendo aos estímulos do treinamento, proliferando-se e se fundindo entre elas ou com fibras já existentes. ( ) A mecanotransdução sofre grande influência do tipo de ação muscular realizada, sendo mais evidente em contrações concêntricas comparado a ações excêntricas e isométricas. ( ) A sobrecarga também apresenta capacidade de estimular o eixo mTOR a partir da mecanotransdução direta, independentemente da AKT1 e AKT2. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V –V –F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – V – V. d) ( ) F – F – F – F. 2.2 FATORES ATUANTES NO PROCESSO DE HIPERTROFIA As células satélites são pequenas estruturas localizadas no espaço externo da fibra muscular, essas estruturas respondem aos estímulos do treinamento se proliferando e se fundindo entre elas (causando o surgimento de novas fibras) ou com fibras já existentes (ocasionando o surgimento de novos núcleos) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). 76 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Conforme abordamos, a hipertrofia causa aumento no volume muscular, o qual necessita de uma manutenção na atividade genética (quantidade apropriada de núcleos). Um núcleo tem capacidade de resposta (de desenvolver sua função) em uma região limitada, o que torna fundamental o aumento no número de núcleos para que o volume muscular resultante do treinamento seja sustentado e a célula possa manter a sua função, já que o núcleo atua no controle de todas as funções desenvolvidas pela célula. Esse processo pode ser exemplificado em estudos que verificaram a associação entre tamanho da fibra e quantidade de núcleos (KADI; THORNELL, 2000). Nesse sentido, as células satélites apresentam grande importância, já que os núcleos das fibras musculares adultas não têm capacidade de realizar mitose (processo de divisão celular) com as células satélites induzindo proliferação e diferenciação celular, resultando no fornecimento extra de núcleos a partir da fusão dessas estruturas às fibras musculares preexistentes (ANTONIO; GONYEA, 1993). Para exemplificar, quando analisado estudos que fizeram a inibição das células satélites, foi verificado um efeito inibitório parcial (BARTON-DAVIS; SHOTURMA; SWEENEY, 1999) ou até total (ROSENBLATT; PARRY, 1992) na hipertrofia muscular. Em seres humanos a atividade e quantidade das células satélites é reduzida na infância e velhice, o que pode justificar os maiores ganhos de hipertrofia em jovens comparados a idosos (PETRELLA et al., 2006). Entre outros, podemos citar o IGF-1 e a testosterona como fatores de influência positiva nas células satélites (GENTIL, 2019). Antes de iniciarmos a discussão sobre os aspectos relacionados ao IGF- 1 e a testosterona, abordaremos o hormônio do crescimento (GH) para melhor compreensão do próprio funcionamento do IGF-1. O hormônio do crescimento (GH) é formado por uma cadeia de 191 aminoácidos, sendo secretado pela hipófise anterior (POWERS; HOWLEY, 2009). Alguns fatores que estimulam a liberação do GH são: sono, hipoglicemia, refeições com alta concentração de proteína, estresse e exercício (GENTIL, 2019). Existem duas hipóteses para explicar a atuação do GH no processo de hipertrofia. A primeira é denominada hipótese da “somatomediação”, com o GH atuando na produção e liberação do IGF-1 no fígado e músculos como também aumentando a quantidade de receptores para os IGFs prolongando o tempo de atuação desses peptídeos (GENTIL, 2019). A segunda é denominada hipótese do “efeito duplo”, no qual o GH, além de atuar de forma indireta nos IGFs, exerce um efeito direto nas células como fator de crescimento atuando na diferenciação das células satélites (ADAMS; MCCUE, 1998). 77 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Alguns estudos têm demonstrado que o uso do GH com o treinamento resistido não apresenta melhoras na força máxima (TAAFFE et al., 1994; YARASHESKI et al., 1995). Além disso, verificou-se que os resultados previamente associados à hipertrofia podem ser provenientes de adaptações geradas nas proteínas não contráteis e retenção de fluídos, a qual foi verificada após aumentos na síntese de colágeno mas não de proteínas miofibrilares, em resposta à administração de GH tanto no pré quanto no pós treinamento (DOESSING et al., 2010). Apesar do treinamento resistido não promover aumento nos valores de repouso do GH (MCCALL et al., 1999), os aumentos na concentração desse hormônio ocorrem porque algumas alterações fisiológicas que estimulam a hipertrofia também são estimuladores da liberação desse hormônio, por exemplo, quando analisado os protocolos de treinamento que resultam em altos valores na concentração de lactato sanguíneo, sendo associado à maior resposta do GH (BOTTARO et al., 2009). Devido à baixa afinidade do GH com as proteínas plasmáticas, ele é rapidamente eliminado, com o termo "meia-vida" sendo empregado para a descrição do tempo necessário para que o organismo elimine metade da concentração total de um determinado hormônio. O IGF-1 é liberado de forma mais lenta se unindo a uma proteína específica, apresentando uma meia-vida longa de aproximadamente 20 horas, comparado ao período curto (20 minutos) do GH (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Cerca de 90% do IGF-1 presente no organismo é produzido no fígado e liberado na corrente sanguínea, porém, algumas células têm capacidade de produzir e liberar esse peptídeo fazendo com que atue de forma autócrina (hormônio atua na própria célula/glândula secretora) e parácrina (hormônio atua em locais próximos a célula/glândula secretora) (GUYTON; HALL, 2011). Apesar do IGF-1 endócrino (sintetizado pelo fígado e liberado na corrente sanguínea) e do autócrino/parácrino apresentarem uma estrutura química similar, os efeitos fisiológicos são diferentes (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Com relação à resposta endócrina, o IGF-1 exerce efeito similar ao GH, causando ganhos de massa magra (composta por músculos, órgãos, ossos e líquidos corporais) sem favorecer a hipertrofia muscular (WATERS et al., 1996). A resposta autócrina/parácrina apresenta certa independência, visto que o GH exerce grande influência na liberação do IGF-1 endócrino, o que não é identificado na resposta autócrina/parácrina. Estudos realizados em animais que tiveram a hipófise (glândula secretora 78 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais de GH) removida mostraram que mesmo em concentrações sanguíneas extremamente baixas de GH e IGF-1, a hipertrofia muscular ainda acontecia em resposta ao treinamento devido à liberação local de IGF-1 (ADAMS; HADDAD, 1996). Indica-se que o principal efeito do IGF-1 está associado à regeneração muscular, atuando principalmente nas células satélitese na ativação do eixo mTOR (GUYTON; HALL, 2011). Para desenvolver sua função, o IGF-1 deve apresentar grandes quantidades nas células (> 35 µg/L) (MARTINELLI JUNIOR et al., 2002) com alterações na estrutura química e a inativação por determinadas proteínas, sendo possíveis explicações para a baixa eficiência relacionada às concentrações sanguíneas do IGF-1, fazendo com que baixas quantidades cheguem ao tecido muscular limitando o seu potencial anabólico (GUYTON; HALL, 2011). Apesar do IGF-1 ter alta relação com o GH em condições de repouso, as respostas agudas parecem não apresentar essa relação, sendo verificado que 24 horas após uma sessão de treinamento os níveis sanguíneos de GH foram elevados em dez vezes, sem aumento nas concentrações sanguíneas de IGF-1 (KRAEMER et al., 1995). Ou seja, analisando-se agudamente o treinamento parece elevar os níveis locais (na célula) e diminuir os níveis circulantes (no sangue) de IGF-1, sendo reportado aumentos locais de 500% (SINGH et al., 1999). Uma observação importante é a limitação na quantificação, já que os exames usualmente realizados mensuram as quantidades circulantes, o que não reflete necessariamente as quantidades na célula da determinada substância. A longo prazo (efeitos crônicos), pode-se supor que o aumento no número de núcleos em resposta à hipertrofia possa promover maiores liberações locais de IGF-1 por uma maior disponibilidade de material genético (GENTIL, 2019). A testosterona é um hormônio esteroide responsável pelo desenvolvimento das características masculinas, com a sua produção ocorrendo nas células de Leydig, localizadas nos testículos, ocorrendo de forma reduzida nos ovários e glândulas adrenais (GUYTON; HALL, 2011). Nos homens a produção desse hormônio pode variar entre 2,5 a 11,0 g/ dia e nas mulheres verifica-se uma variação de 0,2 a 0,4 g/dia (GUYTON; HALL, 2011). Essa diferença é mantida em resposta ao treinamento resistido, no entanto, permanece em aberto a discussão sobre o efeito do treinamento resistido de longo prazo sobre as concentrações de repouso em ambos os sexos (FLECK; KRAEMER, 2006). Grande parte da produção verificada nas mulheres 79 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 é convertida em hormônios femininos no tecido adiposo pela enzima aromatase (BASARIA; WAHLSTROM; DOBS, 2001). Esse hormônio pode exercer os seus efeitos a partir de mecanismos diretos e indiretos. O mecanismo direto está relacionado à entrada desse hormônio na célula, ligando-se a um receptor androgênico permanecendo ativo por algumas horas. Após a ativação do receptor, ele migra para o núcleo da célula se unindo ao DNA, causando a produção de RNAm (mensageiro químico) que estimulará a síntese de proteínas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A concentração dos receptores androgênicos é um dos fatores que podem explicar as diferenças verificadas na hipertrofia de grupamentos musculares distintos, no qual os grupamentos da região superior do tronco apresentam maiores quantidades de receptores comparado à região inferior nos homens (KADI et al., 2000). Nesse sentido, esse é um dos fatores que pode explicar as diferenças na distribuição da massa muscular entre homens e mulheres, com as mulheres apresentando maior quantidade de receptores nos membros inferiores (ABE; KEARNS; FUKUNAGA, 2003). A atuação a partir dos receptores é mais conhecida, porém, alguns mecanismos indiretos como o efeito anticatabólico, o eixo IGF-1/testosterona e as células satélites e núcleos são indicados para explicar a atuação da testosterona. Antes de iniciarmos a nossa discussão, lembre-se de que os receptores são proteínas localizadas na membrana celular, no sarcoplasma celular ou no núcleo, e cada célula apresenta de dois a 100 mil receptores. A primeira etapa de ação dos hormônios é a partir da ligação com o seu receptor específico, na célula- alvo. Quando o hormônio se combina com seu receptor, forma-se o complexo hormônio-receptor ativando na célula os efeitos hormonais (GUYTON; HALL, 2011). A Figura 7 demonstra que o hormônio secretado só exercerá efeito após a ligação com o seu receptor específico em uma célula que contenha esse receptor. 80 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais FIGURA 7 – MECANISMO DE AÇÃO HORMONAL A PARTIR DE RECEPTORES FONTE: <https://bit.ly/33qW7N2>. Acesso em: 4 ago. 2020. Os receptores androgênicos e os glicocorticoides apresentam semelhanças na sua estrutura, o que leva a uma grande afinidade da testosterona pelos receptores glicocorticoides. Dessa maneira, os andrógenos competem com hormônios catabólicos (cortisol, por exemplo) pelos receptores, diminuindo a atuação do cortisol evitando a degradação proteica (GUYTON; HALL, 2011). Conforme a hipótese da atuação no eixo IGF-1/testosterona, os androgênios podem estimular a produção local do IGF-1, independente dos níveis sanguíneos deste e do GH, atuando também na diminuição da concentração de peptídeos que inibem o IGF-1 causando um aumento na sua atividade (URBAN et al., 1995). A hipótese das células satélites é menos conhecida, porém com resultados interessantes relatando que a testosterona pode estimular essas estruturas. Nesse sentido, pode-se citar um estudo relatando relação entre a quantidade de testosterona e o número de células satélites após cinco meses de administração do hormônio em indivíduos saudáveis (SINHA-HIKIM et al., 2003). Apesar da importância da testosterona para a hipertrofia, ela não é necessária, com resultados demonstrando que mesmo após a inibição na produção desse hormônio, verificaram-se adaptações (KVORNING et al., 2006). Além disso, comparações entre homens e mulheres também demonstram que mesmo em quantidades baixas é possível verificar melhoras (DREYER et al., 2010). 81 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Os efeitos agudos do treinamento sobre a testosterona permanecem em debate, com resultados demonstrando queda (BAMMAN et al., 2001), aumento (GOTSHALK; LOEBEL, 1997) e nenhuma diferença (SMILIOS et al., 2003) nas concentrações circulantes desse hormônio após o treinamento. Sugere-se que os treinamentos de maior intensidade produzem maiores alterações nos níveis circulantes (KRAEMER et al., 1990), além disso, alguns metabólicos como o lactato sanguíneo tem sido associado à resposta da testosterona (LIN et al., 2001). Outro fator que tem sido discutido é a influência do trabalho muscular (quantidade) realizado durante o treinamento, porém esse efeito (volume) também apresenta resultados contraditórios com treinos de uma série, apresentando menor alteração na testosterona comparado a três séries para cada grupamento muscular (GOTSHALK; LOEBEL, 1997). Por outro lado, pode- se verificar resultados que não verificaram diferença nas concentrações desse hormônio comparando duas, quatro e seis séries para cada grupamento muscular (SMILIOS et al., 2003). Assim, sugere-se cautela na interpretação de resultados relacionados à resposta aguda desse hormônio. No entanto, uma das principais evidências vinculadas à resposta da testosterona para a hipertrofia é a sua ação nos receptores e nas células satélites. Nesse sentido, verificou-se dois dias após uma sessão de treinamento que a quantidade de RNAm (mensageiro para síntese proteica) para o receptor androgênico é duplicada (BAMMAN et al., 2001), ainda, atletas (com maior hipertrofia) apresentam maiores quantidades de células satélites do que indivíduos destreinados (KADI et al., 1999). Levando em consideração que o receptor androgênico é sintetizado a partir dos núcleos das células musculares, sugere- se que a hipertrofia em longo prazo, com consequente aumento no número de núcleos, promoverá uma elevação na quantidade de receptores androgênicos aumentandoa eficiência da testosterona. Para finalizar a nossa discussão em relação aos hormônios mais importantes no processo de hipertrofia, abordaremos a insulina. Esse hormônio é composto por 51 aminoácidos, com a sua síntese ocorrendo nas células beta das ilhotas de Langerhan no pâncreas (GUYTON; HALL, 2011). Esse hormônio é liberado no sangue e sua forma livre apresenta uma meia-vida curta (cerca de seis minutos) sendo completamente removido entre dez e 15 minutos, tempo para que o hormônio se ligue aos receptores antes de ser degradado pela enzima insulinase no fígado, rins e músculos (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A insulina é o hormônio mais anabólico do nosso organismo por uma alta capacidade de 82 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais aumentar o volume dos tecidos a partir do acúmulo de proteínas, carboidratos e gorduras (POWERS; HOWLEY, 2009). Não temos evidências para afirmar que o treinamento atua diretamente na insulina, no entanto, o exercício causa alterações na concentração dos principais mediadores da insulina, dentre eles, a proteína transportadora de glicose (GLUT- 4), a lipoproteína lipase (LPL) e enzimas envolvidas no metabolismo proteico (GENTIL, 2019). O treinamento resistido causa aumento na concentração de GLUT-4 a qual é mantida por até 90 horas (HOLTEN et al., 2004). Essa alteração causa um grande aumento na eficiência da insulina no transporte da glicose sendo verificado até três horas após o exercício (BIOLO et al., 1999). Além disso, a insulina apresenta um papel lipogênico importante, visto que o exercício causa alterações na LPL a qual é estimulada pela insulina, quebrando os triacilgliceróis (gordura armazenada) em ácidos graxos livres, permitindo a entrada desses na célula muscular para ser utilizado como substrato energético (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Apesar de não estar esclarecido os efeitos do exercício resistido na insulina, os mecanismos citados apresentam grande importância para gerar adaptações, além disso, alguns efeitos anabólicos têm sido associados ao IGF-1 (FARRELL et al., 1999). Apesar dos fatores ambientais discutidos apresentarem grande importância nas adaptações hipertróficas, os fatores genéticos têm sido explorados e parte dos resultados podem ser relacionados a esse aspecto (HAGBERG et al., 2011). Algumas estimativas têm indicado que 30 a 50% dos ganhos na hipertrofia são explicados por fatores genéticos (ARDEN; SPECTOR, 1997), os quais podem estar relacionados, por exemplo, a maior composição de fibras musculares tipo II. Esses fatores genéticos parecem influenciar em maior magnitude indivíduos jovens, no entanto, uma discussão mais aprofundada acerca dessa influência em idosos permanece na literatura (STEWART; RITTWEGER, 2006). Além de influenciar diretamente no fenótipo muscular, os fatores genéticos também têm sido associados à resposta no treinamento (BRUTSAERT; PARRA, 2006). No entanto, analisando-se a alfa actina 3 (ACTN3), proteína importante na estrutura da fibra muscular (em especial, fibras tipo II), sugeriu-se que a ausência dessa proteína poderia causar prejuízos nas contrações musculares de alta intensidade, reforçando essa ideia a partir de resultados que demonstraram que atletas (em especial de força e potência) raramente apresentam a mutação que causaria à ausência dessa proteína, o que é mais comumente observado em atletas de resistência (GENTIL et al.,2011). 83 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Resultados demonstraram que a ACTN3 não influenciou nas adaptações hipertróficas (GENTIL et al., 2011). Sugere-se que o estudo e a busca por genes individuais que possam exercer influência sobre a hipertrofia deve ser feito com cautela, uma vez que os genes atuam de forma conjunta se adaptando aos estímulos continuamente (TIMMONS, 2011). Para finalizarmos a nossa discussão acerca dos fatores atuantes no processo de hipertrofia, abordaremos a miostatina. Esse gene é responsável pela regulação (negativa) do crescimento muscular, ou seja, limitando a hipertrofia. Apesar das discussões ainda serem feitas, sugere-se que ela atue induzindo morte celular, além de inibir a proliferação das células satélites e influenciar o metabolismo proteico (GENTIL, 2019). Por meio de manipulação genética em modelos animais, demonstrou-se que a indução na deficiência do gene da miostatina produziu maiores ganhos de hipertrofia (MCPHERRON; LAWLER; LEE, 1997). A partir disso, associou- se à possibilidade desse gene exercer o mesmo efeito em humanos, como uma possível explicação dos fatores genéticos em relação à composição corporal de um indivíduo, indicando que quanto maior os níveis de miostatina menor serão os ganhos de hipertrofia. De fato, resultados em humanos saudáveis e patológicos apresentaram correlação negativa entre a miostatina e a quantidade de massa muscular (GONZALEZ-CADAVID et al., 1998). Outros resultados que podem ser somados a esse indicam maiores níveis da miostatina em indivíduos com atrofias crônicas (REARDON et al.,2001) e idosos (SCHULTE; YARASHESKI, 2001), o que pode reforçar a atuação negativa desse gene na hipertrofia, já que ele é verificado em níveis maiores em condições fisiológicas catabólicas, as quais são características de diversas patologias. Identificou-se, ainda, que a imobilização de um membro também pode aumentar a expressão da miostatina, no entanto, o treinamento promove queda nessa expressão (JESPERSEN et al., 2011). Caso você queira mais informações sobre as implicações da miostatina em humanos, indicamos um estudo que realizou o acompanhamento de uma criança até os quatro anos de idade, sendo que essa criança é originária de uma família com atletas e pessoas com alto grau de hipertrofia. Essa criança nasceu com aparência de muscularidade incomum e ao longo desse período de acompanhamento apresentou resultados impressionantes na força 84 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A hipertrofia é o aumento volumétrico de um músculo causado pelo aumento no volume das fibras que os constituem. Sobre os fatores atuantes no processo da hipertrofia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os fatores atuantes que são importantes no processo de hipertrofia são: células satélites, insulina, hormônio do crescimento (GH), IGF-1, testosterona, miostatina e fatores genéticos. ( ) As células satélites são pequenas estruturas localizadas no espaço externo da fibra muscular, respondendo aos estímulos do treinamento se proliferando e se fundindo entre elas ou com fibras já existentes. ( ) A testosterona é um hormônio esteroide responsável pelo desenvolvimento das características masculinas, com a sua produção ocorrendo nos testículos, ovários e glândulas adrenais. ( ) A miostatina é responsável pela regulação negativa da hipertrofia, atuando na indução de morte celular, inibição da proliferação das células satélites e no metabolismo proteico. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) F – F – V – F. d) ( ) V – V – V – V. e hipertrofia muscular. Diversos testes não identificaram alterações neurais, funcionais, endócrinas ou motoras, sendo identificado, após análises genéticas, uma perda de funcionalidade no gene da miostatina. FONTE: SCHUELKE, M. et al. Myostatin Mutation Associated with Gross Muscle Hypertrophy in a Child. The New England Journal of Medicine, v. 350, n. 26, p. 2682-2688, 2004. 85 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 2.3 MANIPULAÇÃO DAS VARIÁVEIS NO TREINAMENTO DE HIPERTROFIA Com relação ao treinamento de hipertrofia, discutiremos as variáveis: ação muscular, carga, volume, cadência, intervalo de recuperação entre séries,ordem dos exercícios e amplitude do movimento. Uma das teorias indicam que as ações musculares são produzidas da mesma maneira pelo sistema nervoso, com diferenças apenas no torque muscular que poderá ser maior, igual ou inferior à força causada pela carga externa, produzindo ações concêntricas, isométricas ou excêntricas, respectivamente. Algumas evidências têm sugerido que as diferentes ações produzem diferentes padrões motores, nesse sentido, verificando-se maior ativação das unidades motoras maiores (glicolíticas) nas ações excêntricas (NARDONE; ROMANO; SCHIEPPATI, 1989). Comparando-se um protocolo de treinamento de ações excêntricas e concêntricas com volume e intensidade equivalente e uma carga de 80% de 1RM, verificou-se que 82% das fibras musculares do músculo treinado excentricamente apresentavam microlesões, com apenas 37% sendo verificado nas fibras treinadas concentricamente (GIBALA et al., 1995). Um resultado interessante, que reforça a importância da utilização dessas ações no treinamento é que o estudo anteriormente citado foi realizado com sujeitos destreinados, no entanto, resultados similares foram encontrados também em indivíduos treinados (GIBALA et al., 2000). Nesse sentido, a mesma carga promove menor ativação de unidades motoras em ações excêntricas, assim, mesmo sendo realizado o mesmo trabalho, a ocorrência de microlesões será mais significativa durante as contrações excêntricas. No entanto, deve-se levar em consideração alguns aspectos, dentre eles, a maior ocorrência de lesão durante esse tipo de contração (FANG et al., 2001). Além disso, levando em consideração que as ações excêntricas produzem maior torque em um mesmo ângulo articular comparado a uma ação concêntrica, mesmo com um menor número de unidades motoras ativadas (LASTAYO et al., 2003), verifica- se a possibilidade da aplicação de cargas maiores durante as ações excêntricas, o que pode gerar complicações sobre o aspecto técnico do exercício em relação à qualidade do movimento durante a fase concêntrica, expondo o indivíduo à maior predisposição a lesão (FLECK; KRAEMER, 2006). 86 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Não é necessário que todos os exercícios que serão realizados na sessão de treinamento apresentem o mesmo número de séries e/ou repetições. No entanto, tem sido sugerido que o treinamento com séries múltiplas apresenta os melhores resultados, especialmente em longo prazo, comparado a séries únicas tanto em sujeitos destreinados quanto em treinados (FLECK; KRAEMER, 2006). Nesse sentido, demonstrou-se que quatro séries apresentam melhores resultados comparado a uma série em indivíduos treinados e não treinados (RALSTON et al., 2017). Deve ser destacado que as séries simples também apresentam resultados positivos independente de outras variáveis relacionadas ao volume, entretanto esses resultados são usualmente verificados em curto prazo (RALSTON et al., 2017). O volume de treinamento pode ser manipulado conforme a intensidade de cada sessão ou o grupamento que se pretende priorizar, uma vez que parece apresentar uma relação de dose-resposta (RALSTON et al., 2017). A resistência (carga) aplicada em um exercício é um fator de grande importância para o treinamento. É necessário relembrar que existe uma relação negativa entre a carga e o volume do treinamento. O uso de repetições máximas, ou seja, da resistência específica que permite o desenvolvimento de uma determinada quantidade de repetições tem sido apresentado como o meio mais prático para determinação da carga (FLECK; KRAEMER, 2006). Pode-se utilizar um valor fixo (exemplo, dez repetições) ou uma zona-alvo (exemplo, de cinco a dez repetições). Nesse sentido, tem sido indicado cargas que permitam a realização de oito a 12 repetições para um melhor estímulo da hipertrofia (FLECK; KRAEMER, 2006). A utilização de variações na carga pode ser utilizada, demonstrando a importância da periodização de treinamento, levando em consideração que adaptações neurais precedem a hipertrofia (FLECK; KRAEMER, 2006). Indica-se a utilização de zonas de repetição para maior facilidade no controle da carga de treinamento, pois um valor fixo de 1RM pode gerar grandes diferenças no número de repetições realizadas quando comparado homens e mulheres e comparando-se diferentes exercícios. Para exemplificar, levando em consideração 80% de 1RM, homens treinados realizaram 19 repetições enquanto mulheres treinadas realizaram 22 repetições no leg press. Ainda, homens não treinados realizaram 15 repetições e mulheres não treinadas 11 repetições para a mesma carga no mesmo exercício. Nesse sentido, verifica-se a grande variabilidade na medida para a mesma carga relativa quanto comparado homens 87 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 e mulheres e diferentes níveis de treinamento (FLECK; KRAEMER, 2006). Na medida em que o aluno progride, normalmente pode-se visualizar a busca por maiores cargas, sendo usualmente verificado diminuições na amplitude do movimento. As contrações musculares a partir de posições alongadas causam alongamento irregular dos sarcômeros, aumentando o potencial de ocorrência das microlesões (LYNCH; FAULKNER, 1998). Para exemplificar, comparou-se os efeitos da amplitude do movimento durante a fase excêntrica de uma flexão de cotovelo realizada entre 50° e 130° e outra entre 100° e 180°. Os resultados demonstraram que o membro treinado em encurtamento (50 a 130°) realizou mais trabalho mecânico, porém verificou- se mais microlesões no trabalho alongado (100 a 180°) (NOSAKA; SAKAMOTO, 2001). Esses resultados indicam que apesar do maior trabalho mecânico na amplitude encurtada, as mudanças fisiológicas (microlesões) foram mais evidentes no trabalho alongado (NOSAKA; SAKAMOTO, 2001). Somado ao aspecto fisiológico, o fator biomecânico também pode ser relacionado à questão da contração muscular em posição alongada. Analisando- se o braço de resistência (distância entre o eixo articular e o ponto de aplicação da resistência) e o braço de potência (distância entre o eixo articular e o ponto de aplicação da força), pode-se identificar se o exercício está sendo realizado em vantagem ou desvantagem mecânica. Na medida em que a amplitude do exercício é aumentada o braço de resistência é aumentado gerando uma desvantagem mecânica (CAMPOS, 2000). Essa desvantagem mecânica indica que o músculo necessita de uma produção de força maior do que a resistência (carga) que está sendo utilizada para realização do movimento. Dessa maneira, a sobrecarga imposta é maior, o que pode explicar as respostas fisiológicas mais evidentes em trabalhos com maior amplitude de movimento. Nesse sentido, podemos destacar dois estudos que comparam exercícios realizados com amplitude parcial e total. No primeiro, a flexão de cotovelo foi realizada de 50° a 100° e de 0° a 130°, apesar do volume de treinamento ser menor para o grupo que realizou maior amplitude, os efeitos na hipertrofia ainda foram maiores para esse grupo. Já no segundo, comparou-se o agachamento parcial (0 a 60°) ao agachamento completo (0-120°) após 12 semanas de treinamento, verificando melhores resultados na hipertrofia utilizando-se a maior amplitude (BLOOMQUIST et al., 2013). Se o objetivo do treino é um maior trabalho fisiológico, o qual apresenta grande importância para a hipertrofia, a qualidade do movimento (amplitude) deve ser levada em consideração durante os exercícios (GENTIL, 2019). Além 88 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais da amplitude, a velocidade do movimento também pode ser identificada como um aspecto importante da qualidade do exercício. No entanto, a cadência é dependente da carga do treinamento e da fadiga. Para exemplificar a relação da cadência com a carga, o uso de cargas acima de 85% de 1RM necessitarão de um esforço máximopara movimentação da carga, o que é verificado apenas em velocidades mais altas. Além disso, verificou-se que o tempo de uma ação concêntrica na primeira repetição foi de 1,2 segundos, já a quarta e quinta repetição apresentaram 2,5 e 3,2 segundos, respectivamente (MOOKERJEE; RATAMESS, 1999). Nesse sentido, a comparação de protocolos de treinamento usuais (velocidade concêntrica e excêntrica de 1-2 segundos) com um protocolo de alta cadência (dez segundos para concêntrica e qautro para excêntrica), indicaram resultados interessantes. Pode-se destacar que os aumentos de hipertrofia tanto das fibras IIa quanto IIx, foram maiores no grupo com cadência tradicional. Além disso, outro resultado interessante demonstrado foi uma maior diminuição da área total das fibras tipo IIx e um maior aumento da área das fibras tipo IIa no treinamento de alta cadência comparado a cadência usual (SCHUENKE et al., 2012). Esse resultado indica que as altas cadências apresentam baixa capacidade de recrutamento das fibras de alto limiar. Portanto, indica-se uma cadência de um até oito segundos para maximizar a hipertrofia, com cadências acima dos dez segundos apresentando resultados inferiores no estímulo dessa adaptação (SCHOENFELD; OGBORN; KRIEGER, 2015). A manutenção da intensidade do treinamento não deve ser o foco quando o objetivo é o desenvolvimento de hipertrofia, nesse sentido, estudos têm demonstrado que os períodos curtos (< um minuto) de recuperação entre séries devem ser priorizados visando essa adaptação, por estimularem maiores respostas hormonais mesmo com um volume de treinamento equalizado (SALLES et al., 2009). Para exemplificar, citaremos dois estudos que realizaram comparações de intervalos curtos e longos entre as séries em diferentes respostas. No primeiro estudo, um grupo realizou um protocolo de três séries de oito exercícios com um minuto de intervalo, com um segundo protocolo de cinco séries de cinco exercícios com três minutos de intervalo. Os resultados demonstraram que as elevações hormonais foram maiores no protocolo com intervalo curto, em especial, a resposta do GH (KRAEMER et al., 1990). O segundo estudo comparou três protocolos de treinamento, sendo um de intensidade moderada e intervalo curto (30 segundos), o segundo com intensidade 89 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 alta e recuperação alta (3 minutos) e um protocolo combinando de alta e baixa intensidade com intervalo curto (30 segundos). Os resultados demonstraram maiores respostas hormonais agudas no treinamento com intensidade moderada e intervalo curto e maior resposta de hipertrofia no treinamento combinado com intervalo curto (GOTO et al., 2004). As respostas hormonais e a hipertrofia não apresentaram diferenças entre dois protocolos de treinamento com dois e cinco minutos de intervalo. Um aspecto importante desse estudo é que o treinamento com intervalo maior permitiu a manutenção da sessão em intensidades mais altas, no entanto, o volume foi equalizado entre os treinamentos, indicando que essas respostas hormonais parecem ser independentes da intensidade (quando o volume é equalizado) (AHTIAINEN et al., 2005). Por outro lado, quando analisado o número de repetições, o período de recuperação exerce grande influência. Comparando-se três séries com um ou três minutos de intervalo e a mesma carga, verificou-se que o número de repetições foi o mesmo (10RM) nas três séries do protocolo com intervalo de três minutos, já o protocolo com intervalo de um minuto apresentou queda de 10RM na primeira série para 8RM e 7RM na segunda e na terceira série, respectivamente (KRAEMER, 1997). A taxa de fadiga (TF) leva em consideração o volume total (VT; carga x repetições), sendo a diferença percentual entre a primeira e quarta série de cada exercício (TF = VTSÉRIE1 – VTSÉRIE4/VTSÉRIE1 x 100) (SFORZO; TOUEY, 1996). Essa variável tem sido considerada na análise dos estudos que visam comparar o efeito da ordem dos exercícios. Nesse sentido, quando realizado o exercício de tríceps na polia e o exercício de desenvolvimento de ombros foi realizado previamente ao supino reto, verificando-se um volume total reduzido no supino reto, associado a uma alta taxa de fadiga (SFORZO; TOUEY, 1996). Esse estudo demonstra que tanto o exercício uniarticular quanto o multiarticular resultaram em queda no exercício realizado na sequência. Realizou-se, ainda, em homens treinados uma comparação entre uma sequência com cinco exercícios do maior para o menor (supino reto, puxador alto, desenvolvimento de ombros, rosca bíceps e tríceps na polia) e outra sequência do menor para o maior grupamento muscular. Os resultados demonstraram que independentemente da sequência, realizou-se um número menor de repetições nos últimos exercícios, outro resultado interessante é que o exercício realizado no meio de ambas as sequências (desenvolvimento de ombro) não apresentou diferença no número de repetições quando comparado às sequências (SIMÃO et 90 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais al., 2005). Portanto, a seleção da sequência dos exercícios deve ser realizada seguindo uma ordem de prioridade para o grupamento ou músculo desejado. Uma vez que a ordem do exercício afeta o número de repetições e o volume do treinamento, sendo maior quando o exercício é realizado no início do treinamento, independente da massa muscular envolvida (SIMÃO et al., 2012). Para seleção dos exercícios, o profissional deve realizar avaliações biomecânicas para identificar padrões de movimento alterados (por exemplo, encurtamento muscular) que afetem negativamente a execução do exercício. Dessa maneira, identifica-se de forma individual quais exercícios não podem ser realizados pelo praticante naquele momento do treinamento. O profissional deverá fazer ajustes conforme as possibilidades do praticante, optando pelos exercícios no qual a técnica de movimento é preservada desenvolvendo não apenas a hipertrofia, mas correções posturais (FLECK; KRAEMER, 2006). Analisando-se o nível de treinamento, recomenda-se para alunos iniciantes de quatro a oito exercícios por sessão, além disso, uma estrutura de treinamento alternada por segmento (por exemplo, dorsal após peitoral e bíceps após tríceps) ou em circuito, para favorecer a aprendizagem motora a partir de estímulos múltiplos com foco em exercícios multiarticulares (GENTIL, 2019). Indivíduos de nível intermediário podem utilizar divisões do treinamento por grupamento muscular e musculatura sinergista (por exemplo, dorsal e bíceps). Outro detalhe importante que pode ser explorado são as repetições máximas, além disso, utiliza-se de dois a quatro exercícios (multi e monoarticulares) com até seis séries por exercício. Para os indivíduos de nível avançado, a divisão por grupamento muscular, número de séries e exercícios segue a recomendação para intermediários, no entanto, deve-se utilizar com maior frequência as repetições máximas com especial atenção aos aspectos qualitativos como a amplitude de movimento (GENTIL, 2019). Após discutirmos sobre as diferentes manipulações que podem ser feitas nas variáveis visando o desenvolvimento de hipertrofia, apresentamos algumas recomendações gerais para prescrição do treinamento resistido com foco no desenvolvimento de hipertrofia (Quadro 1). 91 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 QUADRO 1 – RECOMENDAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DAS DIFERENTES VARIÁVEIS NA PROGRESSÃO DO TREINAMENTO DE HIPERTROFIA Variáveis Iniciante Intermediário Avançado Ação muscular EXC e CON EXC e CON EXC e CON Seleção do exer- cício Uni e multiarticular Uni e multiarticular Uni e multiarticular Ordem dos exer- cícios GGM<PGM Multi<uniarticular Alta<baixa inten- sidade GGM<PGM Multi<uniarticularAlta<baixa intensidade GGM<PGM Multi<uniarticular Alta<baixa inten- sidade Carga 60-70% 1RM 70-80% 1RM 70-100%1RM Ênfase 70-85% 1RM Volume 1-3 x 8-12 reps Multi x 6-12 reps Multi x 1-12 Ênfase 6-12 reps Intervalo <1 min <1 min 2-3 min (carga alta) <1 min (carga média) Cadência Lento a moderado Lento a moderado Lento, moderado e rápido Frequência 2-3 sessões/se- mana 2-4 sessões/semana 4-6 sessões/semana EXC: ação muscular excêntrica; CON: ação muscular concêntrica; GGM: grandes grupamentos musculares; PGM: pequenos grupamentos musculares; REPS: repetições. FONTE: Adaptado de Kraemer e Ratamess (2004) 92 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A manipulação das diferentes variáveis do treinamento é importante para promover o melhor estímulo possível para gerar a adaptação planejada, além de dinamizar o treinamento evitando a monotonia. Sobre as variáveis importantes no processo da hipertrofia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Períodos curtos de recuperação entre séries devem ser priorizados por estimularem maiores respostas hormonais. ( ) Apesar do maior trabalho mecânico em amplitudes encurtadas, os maiores estímulos fisiológicos foram evidentes no trabalho alongado. ( ) Altas cadências apresentam baixa capacidade de recrutamento das fibras de alto limiar, indicando-se cadências de até oito segundos para a hipertrofia. ( ) A mesma carga promove menor ativação de unidades motoras em ações concêntricas, assim, mesmo sendo realizado o mesmo trabalho, a ocorrência de microlesões será mais significativa durante as contrações concêntricas. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – V – F. d) ( ) F – F – F – V. 3 TREINAMENTO DE FORÇA MÁXIMA E POTÊNCIA Previamente, a nossa discussão sobre as variáveis passíveis de manipulação no treinamento de força máxima e potência, discutiremos alguns mecanismos fisiológicos responsáveis pelas adaptações geradas nesses treinamentos. Abordaremos três aspectos que apresentam grande importância para qualquer treinamento, porém, em particular no treinamento de força máxima e potência, sendo eles, a 1) ativação muscular (unidade motora); 2) junção neuromuscular; e 3) mecanismos inibitórios (proprioceptores). 93 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 A primeira etapa de adaptação do treinamento de força máxima e potência referem-se à ativação muscular a partir da inervação muscular. Lembre-se do termo unidade motora abordado no Capítulo 1, referindo-se ao neurônio alfa e todas as fibras musculares que esse neurônio inerva. Cada fibra muscular é inervada por um ou mais neurônios alfas e quanto menor o número de fibras, menor será a capacidade dessa unidade motora desenvolver força e potência quando for recrutada (GUYTON; HALL, 2011). Os neurônios estão envolvidos em diversas funções fisiológicas distintas, sendo que essas estruturas possuem três elementos básicos: os dentritos, o corpo celular e o axônio. De forma geral, os dentritos recebem a informação de outros neurônios, o corpo celular processa essa informação e o axônio envia a mensagem para outros neurônios ou tecidos (POWERS; HOWLEY, 2009). Um ponto importante dos neurônios é uma camada de conteúdo lipídico que envolve os axônios, denominada bainha de mielina. As fibras nervosas que apresentam essa estrutura são denominadas fibras mielinizadas, sendo identificadas como fibras amielinizadas aquelas que não possuem essa estrutura. Essa camada de mielina impede que os impulsos nervosos sejam transferidos para fibras vizinhas (dissipados), além de aumentarem a velocidade com que esses impulsos são transmitidos entre as fibras nervosas (GUYTON; HALL, 2011). Essas estruturas sofrem adaptações consideradas fundamentais para o aprimoramento da força e potência muscular, causadas por uma melhora na sincronização e ativação das unidades motoras durante o exercício (FLECK; KRAEMER, 2006). Para exemplificar, um estudo muito interessante verificou após nove semanas de treinamento (duas sessões/semana) em exercício isolado para o quadríceps esquerdo, com três a seis séries de 12RM, um aumento na força muscular de 14% no músculo treinado, no entanto, um resultado interessante verificado foi que o quadríceps direito (não treinado) apresentou uma melhora de 7% na força máxima. Além disso, quando analisado a resposta de hipertrofia, o quadríceps esquerdo apresentou melhora de 5%, não sendo verificadas mudanças no quadríceps direito (PLOUTZ et al., 1994). Outros resultados importantes verificados, nesse mesmo estudo, foram menores ativações musculares no pós-treinamento comparado ao pré-treinamento em cargas máximas e submáximas. Ou seja, verificou-se uma redução do esforço muscular necessário para realização do exercício na mesma intensidade (PLOUTZ et al., 1994). Levando em consideração que os treinamentos de potência muscular usualmente utilizam cargas submáximas, as adaptações neurais causam redução na quantidade necessária de fibras musculares ativadas para execução de uma 94 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais mesma carga, demonstrando, assim, a grande importância desses mecanismos de ativação e adaptação para os ganhos de força máxima e potência. Esses mecanismos citados, em especial a sincronização das unidades motoras, referem-se à condução do estímulo nervoso entre os neurônios. No entanto, esse estímulo deve ser transmitido para a fibra muscular em que diversos mecanismos fisiológicos locais acontecerão, resultando na produção de força/potência. Nesse sentido, a junção neuromuscular é a estrutura morfológica que atua como interface entre o neurônio motor alfa e a fibra muscular (FLECK; KRAEMER, 2006). A junção neuromuscular também pode sofrer adaptações tanto no treinamento de baixa intensidade quanto no treinamento de alta intensidade. Levando em consideração o treinamento de alta intensidade (força máxima e potência), produz alterações no tamanho do perímetro e da área dessa estrutura. Outra adaptação importante verificada foi na dispersão dos receptores de acetilcolina, um neurotransmissor do estímulo entre os neurônios e entre o neurônio e a junção neuromuscular (DESCHENES et al., 2000). Essas alterações fornecem importantes informações para a compreensão da melhora da força máxima e potência a partir das adaptações na ativação e sincronização das unidades motoras. O comprimento e a tensão no músculo e tendão são continuamente monitorados por receptores sensoriais localizados nos músculos e tendões, denominados proprioceptores. As informações são transmitidas dessas estruturas para o sistema nervoso central, mantendo a informação sobre os movimentos que estão sendo realizados (POWERS; HOWLEY, 2009). Dentre esses proprioceptores, destacam-se o fuso muscular, tendo como função monitorar o comprimento do músculo e a realização da contração para reduzir o comprimento muscular. Além desse, os órgãos tendinosos de Golgi respondem a tensão realizada no tendão e na diminuição dessa tensão, quando essa se torna potencialmente perigosa para a estrutura (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). A inibição da ação muscular a partir dos proprioceptores tem sido sugerida como fator limitante, em especial, na produção da força máxima. Para exemplificar, verificou-se valores de 3 a 25% superiores na produção de força em ações unilaterais somadas comparado às ações bilaterais. Essa diferença de força entre ações bilaterais e a soma da força em cada membro de forma independente é denominada déficit bilateral, sendo que esse déficit é especialmente verificado em contrações musculares rápidas (treinamento de potência) (FLECK; KRAEMER, 2006). 95 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento ResistidodeTreinamento Resistido Capítulo 2 O déficit bilateral é associado à redução da estimulação de unidades motoras, sendo a maior parte unidades motoras de alto limiar. Essa estimulação reduzida é um exemplo da atuação dos proprioceptores. Outro resultado verificado que tem sido atribuído à ação dos proprioceptores são maiores valores de força verificados imediatamente após a realização de uma ativação dos músculos antagonistas. Sugere-se que essa pré-contração pode inibir os proprioceptores permitindo ações musculares mais intensas (FLECK; KRAEMER, 2006). 3.1 MANIPULAÇÃO DAS VARIÁVEIS NO TREINAMENTO DE FORÇA MÁXIMA E POTÊNCIA Com relação ao treinamento de força máxima e potência, discutiremos as variáveis: ação muscular, carga, volume, cadência, intervalo entre séries e ordem dos exercícios. A maior produção de força máxima é verificada em ações excêntricas, no entanto, deve-se destacar que o exercício puramente excêntrico resulta em maior resposta na dor muscular de início tardio (especialmente em indivíduos menos treinados) comparado às ações concêntricas e isométricas (FLECK; KRAEMER, 2006). Portanto, o treinamento de força máxima e potência usualmente utilizam ações concêntricas e excêntricas, já as ações musculares isométricas são menos utilizadas por gerar adaptações na força muscular máxima no ângulo especificamente treinado (DUDLEY et al., 1991). A cadência empregada apresenta grande importância para o treinamento de força máxima e potência, uma vez que a produção de força em ações concêntricas é maior nas menores velocidades e menor em maiores velocidades (FLECK; KRAEMER, 2006). Essa relação pode ser representada pela curva de força-velocidade (Figura 8). 96 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais FIGURA 8 – CURVA FORÇA-VELOCIDADE FONTE: <https://bit.ly/2EMzuIt>. Acesso em: 4 ago. 2020. As implicações dessa curva indicam que o treinamento em baixa velocidade e alta carga é efetivo para o treinamento de força. Já o treinamento em altas velocidades é efetivo para o aperfeiçoamento da potência. No entanto, variações podem ser utilizadas visando a melhora tanto da força máxima quanto da potência (FLECK; KRAEMER, 2006). Para exemplificar, comparou-se um protocolo no qual o supino foi realizado com 55% de 1RM com a fase concêntrica e excêntrica durando cinco segundos (velocidade baixa), um protocolo com 30% de 1RM com a fase concêntrica sendo executada o mais rápido possível (treinamento balístico) e, por último, um protocolo com uma carga de 6RM (treinamento tradicional). Os resultados indicaram que tanto o treinamento com baixa velocidade quanto o balístico resultaram em níveis menores de força durante as ações concêntricas e excêntricas, indicando que o treinamento tradicional (cargas até seis repetições) resulte em maiores ganhos de força máxima (KEOGH; WILSON; WEATHERBY, 1999). Com relação à carga, tem sido indicado que a faixa de 1RM a 6RM foi mais efetiva no incremento da força muscular máxima (FLECK; KRAEMER, 2006). Já a potência muscular máxima tem sido verificada entre 30 e 60% de 1RM (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Levando em consideração a força máxima, cargas até 60% de 1RM têm sido indicadas para indivíduos não treinados como intensidade suficiente para gerar adaptações, com cargas até 80% de 1RM sugeridas para indivíduos treinados, 97 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 ou seja, as cargas podem apresentar variações respeitando esses valores para que se tenha um estímulo necessário para gerar novas adaptações (FLECK; KRAEMER, 2006). Já relacionado à potência, deve-se levar em consideração o componente de tempo e o componente de força. Ou seja, o treinamento deve ser estruturado pensando no aprimoramento da força máxima (nas cargas acima citadas) e no aprimoramento da velocidade, a qual 30% de 1RM foi reportado como carga ótima para desenvolvimento da potência (WILSON et al., 1993). Apesar de algumas discussões permanecerem em aberto, em especial, comparações entre treinamento periodizado e não periodizado, a utilização de séries múltiplas parece superior a séries únicas tanto em indivíduos destreinados quanto em treinados no incremento da força máxima e potência (KRAEMER, 1997). O mesmo número de séries não é necessário para todos os exercícios, levando em consideração que a recomendação mais recente indica uma relação de dose resposta entre volume e o ganho de força máxima (RALSTON et al., 2017), o volume da sessão e/ou do treinamento semanal (ou conforme a periodização), deve ser ajustado de acordo com a intensidade que se pretende aplicar nas sessões, com incrementos no volume podendo ser utilizados em grupamentos musculares prioritários (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Algumas recomendações têm indicado de dois a três minutos de intervalo entre séries para grupamentos musculares maiores, com períodos de um a dois minutos para grupamentos musculares menores tanto no treinamento de força máxima quanto de potência (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2002). No entanto, verificou-se que um intervalo de três minutos resultou em melhora da força máxima comparado a intervalos de 90 e 30 segundos, porém sem diferenças para a potência muscular (ROBINSON et al., 1995). Outro resultado que pode ser discutido, verificou-se que quatro semanas de treinamento de ações concêntricas e excêntricas realizadas a 90°/segundo, resultou em maior torque, potência média e trabalho total quando utilizado intervalos de 160 segundos comparado a séries com 40 segundos (PINCIVERO; LEPHART; KARUNAKARA, 1997). Apesar de alguns resultados conflitantes, de forma geral, períodos longos de recuperação (três a cinco minutos) apresentam melhores resultados tanto para o treinamento da força máxima quanto da potência (SALLES et al., 2009). Esses resultados podem estar relacionados a uma recuperação maior verificada nos intervalos longos (> três minutos), ocasionando em maior ativação de unidades 98 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais motoras e permitindo a manutenção da intensidade ao longo do treinamento (SALLES et al., 2009). Com relação à influência da ordem do exercício para os ganhos de força máxima, comparou-se dois protocolos de treinamento (com cinco exercícios) em sujeitos destreinados durante oito semanas. O primeiro protocolo iniciava com exercícios para grandes grupamentos progredindo para pequenos grupamentos musculares, já o segundo protocolo apresentava sequência invertida. Os resultados demonstraram que ambos os grupos incrementaram a força máxima, não sendo verificado diferenças entre os grupos na melhora da força para os exercícios de grandes grupamentos musculares. No entanto, um resultado interessante demonstrou maior incremento na força máxima nos grupamentos musculares pequenos no grupo 2. Nesse sentido, sugere-se que a ordem do exercício deve ser levada em consideração, em especial para os grupamentos musculares menores (CALDER et al., 1994). Para a potência muscular, as diretrizes seguem o mesmo direcionamento em relação à inclusão dos exercícios que são prioridade no início da sessão. Destaca-se também que os exercícios multiarticulares apresentam grande importância no aprimoramento da potência, sendo indicado a realização desses no início da sessão devido à menor fadiga nesse momento do treino (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Usualmente, são utilizados exercícios multiarticulares (pode-se utilizar monoarticulares) para grandes grupamentos musculares (agachamento, supino, remada etc.). No entanto, a recomendação para treinamento de força máxima e potência segue o apresentado no treinamento de hipertrofia, com o profissional realizando avaliações biomecânicas para identificar padrões de movimento alterados que afetem a qualidade do movimento, alterando exercícios no qual o indivíduo apresente dificuldadepara realizar (FLECK; KRAEMER, 2006). Analisando-se o nível de treinamento, a principal característica observada deve ser a frequência de treinamento em ambos os casos (força máxima e potência), visto que períodos longos de recuperação (até 72 horas) podem ser necessários em alguns treinamentos para iniciantes, indicando-se treinamentos para o corpo todo, pois a frequência será reduzida. Para níveis intermediários e especialmente o avançado, a frequência de treinamento deverá ser maior, sendo indicada a divisão de treinamento por segmento superior (braços e tronco) e inferior (pernas), levando em consideração que ambos os treinamentos (força máxima e potência) são caracterizados por exercícios multiarticulares, especialmente nesses níveis de treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 99 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Recomenda-se para alunos iniciantes até oito exercícios por sessão, com níveis intermediários e avançados podendo realizar até oito exercícios por segmento. Para todos os níveis, indica-se de duas a seis séries por exercício (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Após discutirmos sobre as diferentes manipulações que podem ser feitas nas variáveis, visando o desenvolvimento de força máxima e potência, apresentamos algumas recomendações gerais para prescrição do treinamento resistido com foco no desenvolvimento de força máxima (Quadro 2) e potência muscular (Quadro 3). QUADRO 2 – RECOMENDAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DAS DIFERENTES VARIÁVEIS NA PROGRESSÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA Variáveis Iniciante Intermediário Avançado Ação muscular EXC e CON EXC e CON EXC e CON Seleção do exer- cício Uni e multiarticular Uni e multiarticular Uni e multiarticular Ordem dos exer- cícios GGM<PGM Multi<uniarticular Alta<baixa inten- sidade GGM<PGM Multi<uniarticular Alta<baixa inten- sidade GGM<PGM Multi<uniarticular Alta<baixa inten- sidade Carga 60-70% 1RM 70-80% 1RM 70-100% 1RM Volume 2-3 x 8-12 reps Multi x 6-12 reps Multi x 1-12 Intervalo 1-2 min 2-3 min core 1-2 min outros ̴ 3 min core 1-2 min outros Cadência Lento a moderado Moderado Lento a rápido Frequência 2-3 sessões/semana 2-4 sessões/semana 4-6 sessões/semana EXC: ação muscular excêntrica; CON: ação muscular concêntrica; GGM: grandes grupamentos musculares; PGM: pequenos grupamentos musculares; REPS: repetições. CORE: musculatura da região abdominal e lombar. FONTE: Adaptado de Kraemer e Ratamess (2004) 100 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A manipulação das diferentes variáveis do treinamento é importante para promover o melhor estímulo possível para gerar a adaptação planejada, além de dinamizar o treinamento evitando a monotonia. Sobre as variáveis importantes para desenvolvimento da força muscular máxima e potência, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O treinamento de força máxima e potência utilizam predominantemente ações concêntricas e excêntricas, com as ações isométricas sendo menos utilizadas por induzirem adaptações no ângulo especificamente treinado. QUADRO 3 – RECOMENDAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DAS DIFERENTES VARIÁVEIS NA PROGRESSÃO DO TREINAMENTO DE POTÊNCIA Variáveis Iniciante Intermediário Avançado Ação muscular EXC e CON EXC e CON EXC e CON Seleção do exercício Multiarticular Multiarticular Multiarticular Ordem dos exer- cícios GGM<PGM EAC<EMC Alta<baixa inten- sidade GGM<PGM EAC<EMC Alta<baixa intensidade GGM<PGM EAC<EMC Alta<baixa inten- sidade Carga 60-70% 1RM - F 30-60% 1RM - V 70-80% 1RM - F 30-60% 1RM - V >80% 1RM - F 30-60% 1RM - V Volume 2-3 x 8-12 reps 2-3 x 3-6 reps 3-6 x 1-6 reps Intervalo 2-3 min core 1-2 min outros 2-3 min core 1-2 min outros >3 min (carga alta) 1-2 min (carga média) Cadência Moderado Rápido Rápido Frequência 2-3 sessões/semana 2-4 sessões/semana 4-6 sessões/se- mana EXC: ação muscular excêntrica; CON: ação muscular concêntrica; GGM: grandes grupamentos musculares; PGM: pequenos grupamentos musculares; REPS: repetições; EMC: exercícios de alta complexidade; EMC: exercícios com menor complexidade; F: força; V: velocidade. FONTE: Adaptado de Kraemer e Ratamess (2004) 101 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 ( ) Para força máxima, indica-se cargas de 60% de 1RM para indivíduos não treinados e 80% de 1RM para indivíduos treinados. Já a potência muscular, cargas de 30 a 60% de 1RM. ( ) A produção de força em ações concêntricas é menor nas menores velocidades e maior nas maiores velocidades. ( ) Períodos curtos de recuperação apresentam melhores resultados tanto para o treinamento da força máxima quanto da potência. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V. b) ( ) V – V – F – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. 4 TREINAMENTO DE RESISTENCIA MUSCULAR LOCALIZADA Com relação ao treinamento de resistência muscular localizada, discutiremos as variáveis: ação muscular, carga, volume, cadência, intervalo de recuperação entre séries e ordem dos exercícios. Quanto às ações musculares, a indicação segue a mesma que o treinamento de força máxima, potência e hipertrofia, com as ações concêntricas e excêntricas sendo mais utilizadas comparado a ações isométricas, em especial, devido à característica dinâmica da maioria dos esportes e atividades físicas gerais que requerem um determinado desenvolvimento de resistência muscular localizada (KRAEMER; RATAMESS, 2004). O volume apresenta grande importância no treinamento para aprimoramento da resistência muscular localizada. De forma geral, verifica-se superioridade nas séries múltiplas comparado a séries simples, por outro lado, apresenta uma característica importante relacionada ao número de exercícios, sendo indicado no mínimo seis exercícios por grupamento muscular ou por treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Além disso, altas quantidades de repetições também devem ser utilizadas nos exercícios, o que é permitido pela associação com cargas leves a moderadas que são características nesse treinamento (KRAEMER; RATAMESS, 2004). 102 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais As cargas utilizadas nesse treinamento são ajustadas para a realização de pelo menos 15RM. No entanto, alguns estudos têm reportado 80 até 146 RM (com cargas de 40% de 1RM) em diferentes populações (FLECK; KRAEMER, 2006), além disso, verificou-se que um protocolo de treinamento de altas repetições (20- 28 RM) apresentou um aumento de 18% na quantidade de capilares com aumento de 4% após protocolo de baixas repetições (3-5 RM) (CAMPOS et al., 2002). Usualmente, utiliza-se a prescrição de intervalos de recuperação curtos para treinamentos que visam o desenvolvimento da resistência muscular localizada. Esses períodos curtos são indicados por serem suficientes para uma completa recuperação, que também é associada à baixa carga nesse tipo de treinamento (STONE; COULTER, 1994). Para exemplificar, examinou-se o efeito de cinco períodos de intervalo entre séries (30 segundos, um, dois, três, quatro e cinco minutos) em dois protocolos de treinamento. Conforme esperado, a maior redução no desempenho foi verificada nos intervalos curtos (< um minuto), no entanto, o consumo de oxigênio aumentou progressivamente conforme o menor tempo de recuperação, além disso, verificou- se maior consumo de oxigênio no protocolo com maior número de repetições (RATAMESS et al., 2007). Esses resultados demonstram que intervalos curtos resultam em maior consumo de oxigênio, o qual apresenta desfechos importantes relacionados à adaptação que o treinamento gera (RATAMESS et al., 2007), em especial no estímulo para biogênese mitocondrial e aumento da densidade capilar que são importantes para melhora da resistência muscular localizada (STONE;COULTER, 1994). Diferentes estratégias relacionadas à cadência podem ser utilizadas, com resultados indicando que treinamentos (no isocinético) em velocidades altas (180°/segundo) são mais efetivas do que velocidades lentas (30°/segundo) no aprimoramento da resistência muscular localizada (ADEYANJU; CREWS; MEADORS, 1983). No entanto, quando analisado ações musculares dinâmicas, cadências maiores, menores e moderadas também podem ser utilizadas (CAMPOS et al., 2002). Um aspecto fundamental nesse treinamento é promover a maior duração possível de uma série, a qual pode ser realizada utilizando-se repetições moderadas com velocidade lenta ou altas repetições com velocidade moderada e rápida. 103 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 Treinamentos com cargas leves e baixa velocidade (cinco segundos para concêntrica e excêntrica), fornecem uma tensão contínua ao músculo treinado por um período de tempo prolongado, causando uma maior demanda metabólica comparado a velocidades moderadas e rápidas, quando o mesmo número de repetições é realizado (KRAEMER; RATAMESS, 2004). A realização de alta quantidade de repetição associada à baixa velocidade apresenta dificuldades, nesse sentido, as velocidades moderadas e altas podem ser utilizadas permitindo a realização de um número maior de repetições (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Apesar de um número reduzido de estudos analisando o efeito da ordem do exercício na resistência muscular localizada, comparado à força máxima, potência e hipertrofia, essa variável parece não apresentar influência significativa no desenvolvimento da resistência muscular localizada (SIMÃO et al., 2012). Lembre-se de que os exercícios realizados no começo de uma sessão de treinamento, apresentam maior volume comparado a um exercício realizado ao final, nesse sentido, alterações podem ser realizadas caso ocorra a necessidade de se priorizar algum exercício específico. Utiliza-se tanto exercícios multiarticulares quanto monoarticulares para grandes e pequenos grupamentos musculares. No entanto, a recomendação segue o apresentado no treinamento de hipertrofia/força máxima/potência, com o profissional realizando avaliações biomecânicas para escolha dos exercícios que serão utilizados (FLECK; KRAEMER, 2006). Analisando-se o nível de treinamento, as recomendações são similares ao treinamento de hipertrofia, com relação a alunos iniciantes, utilizar de quatro a oito exercícios por sessão, como também estruturas de treinamento alternado por segmento ou, preferencialmente, em circuito (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Indivíduos de nível intermediário e avançado podem utilizar divisões por grupamento muscular com quatro a oito exercícios por grupamento. Um ponto importante é a utilização de séries múltiplas associado a séries com mais de 20 repetições, em especial, para avançados (KRAEMER; RATAMESS, 2004). Após discutirmos sobre as diferentes manipulações que podem ser feitas nas variáveis visando o desenvolvimento de resistência muscular localizada, apresentamos algumas recomendações gerais para prescrição do treinamento resistido com foco no desenvolvimento da resistência muscular localizada (Quadro 4). 104 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais A manipulação das diferentes variáveis do treinamento é importante para promover o melhor estímulo possível para gerar a adaptação planejada, além de dinamizar o treinamento evitando a monotonia. Sobre as variáveis importantes para desenvolvimento da resistência muscular localizada, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Com relação às ações musculares, indica-se a utilização das ações musculares isométricas em maior magnitude comparado a ações concêntricas e excêntricas.. ( ) Intervalos curtos de recuperação resulta em maior consumo de oxigênio, o qual apresenta desfechos importantes relacionados a adaptações que favorecem o desenvolvimento da resistência muscular localizada. QUADRO 4 – RECOMENDAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DAS DIFERENTES VARIÁVEIS NA PROGRESSÃO DO TREINAMENTO DE RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA Variáveis Iniciante Intermediário Avançado Ação muscular EXC e CON EXC e CON EXC e CON Seleção do exer- cício Uni e multiarticular Uni e multiarticular Uni e multiarticular Ordem dos exer- cícios Variar Variar Variar Carga 50-70% 1RM 50-70% 1RM 30-80% 1RM Volume 1-3 x 10-15 reps Multi x 10-15 reps Multi x 10-25 reps Intervalo 1-2 min (reps altas) <1 min (reps médias) 1-2 min (reps altas) <1 min (reps médias) 1-2 min (reps al- tas) <1 min (reps mé- dias) Cadência Lento (reps médias) Moderado (reps al- tas) Lento (reps médias) Moderado (reps altas) Lento (reps mé- dias) Moderado (reps altas) Frequência 2-3 sessões/semana 2-4 sessões/semana 4-6 sessões/se- mana EXC: ação muscular excêntrica; CON: ação muscular concêntrica; GGM: grandes grupamentos musculares; PGM: pequenos grupamentos musculares; REPS: repetições. FONTE: Adaptado de Kraemer e Ratamess (2004) 105 Prescrição dos Diferentes Tipos Prescrição dos Diferentes Tipos de Treinamento Resistidode Treinamento Resistido Capítulo 2 ( ) A ordem do exercício não apresenta a mesma influência no desenvolvimento da resistência muscular localizada comparado a força máxima, potência e hipertrofia. ( ) Analisando-se o volume, as séries múltiplas associadas à realização de um alto número de exercícios é indicado. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V – V. b) ( ) V – F – F – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesse capítulo, procuramos identificar e compreender os fatores que influenciam e que podem ser manipulados durante o treinamento resistido, para que o indivíduo possa alcançar as adaptações planejadas prezando pela eficiência. Além disso, as informações discutidas visam a possibilidade da prescrição e da organização de um processo de treinamento de longo prazo buscando à aderência do praticante. É importante destacar que apesar do nosso capítulo discutir as adaptações possíveis com o treinamento resistido de forma separada, o praticante não é obrigado a direcionar o seu treinamento a apenas um desses aspectos. O profissional tem a possibilidade de variar os estímulos visando um desenvolvimento geral da aptidão física, melhorando a saúde e facilitando a aderência desses indivíduos devido à característica diversificada do treinamento. No próximo capítulo, abordaremos os aspectos da prescrição do treinamento resistido e das adaptações de maneira direcionada aos grupos especiais. É fundamental compreender que os conteúdos abordados nesse capítulo servem como base para uma prescrição de treinamento generalizada e que as especificidades de cada grupo especial será melhor discutida no nosso Capítulo 3. 106 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais REFERÊNCIAS ABE, T.; KEARNS, C. F.; FUKUNAGA, T. Sex differences in whole body skeletal muscle mass measured by magnetic resonance imaging and its distribution in young Japanese adults. British Journal of Sports Medicine, v. 37, n. 5, p. 436- 440, 2003. ADAMS, G. R.; HADDAD, F. The relationships among IGF-1, DNA content, and protein accumulation during skeletal muscle hypertrophy. Journal of Applied Physiology, Washington, v. 81, n. 6, p. 2509-2516, dez. 1996. ADAMS, G. R.; MCCUE, S. A. Localized infusion of IGF-I results in skeletal muscle hypertrophy in rats. Journal of Applied Physiology, Washington, v. 84, n. 5, p. 1716-1722, 1998. ADEYANJU, K.; CREWS, T. R.; MEADORS, W. J. 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Foi visto também sobre a prescrição nos diferentes tipos de treino, nomeada de treinamento de hipertrofia, de força máxima e potência e o treinamento de resistência muscular localizada. Vamos utilizar, agora, todo o conhecimento adquirido para entender melhor o TR para populações especiais. Especificamente, trataremos da prescrição do treinamento para idosos e Portadores de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), bem como o TR para crianças e gestantes. A Organização Mundial da Saúde (WHO) e outras entidades, como o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM), têm alertado cada vez mais sobre os perigos do sedentarismo e sua relação com as DCNT cardiovasculares e metabólicas, como o diabetes. Outro problema que geralmente afeta o sedentário é o mau hábito alimentar, isso tudo ligado a distúrbios, como ansiedade, desmotivação e falta de produtividade. Nesse sentido, a atuação de profissionais da saúde e os da área de Educação Física, bem capacitados, têm se tornado cada vez mais importante e necessária ao combate ao sedentarismo. Vale lembrar o quejá foi dito em outro momento neste livro, o sedentarismo é uma das principais causas de morte em nossos dias. Por outro lado, a busca por um estilo de vida mais saudável e pela prática de exercícios físicos de maneira prazerosa, tem crescido nos mais diferentes tipos de populações no Brasil. O público idoso da terceira idade ou “melhor idade”, tem sido um dos nichos de mercado para muitos profissionais que se especializam nas necessidades específicas desse público, para atendê-los da melhor forma. O público infantojuvenil com a necessidade de se manter ativo, principalmente em grandes centros e das classes mais altas da sociedade e/ou o público gestante na busca de uma gestação cada vez mais saudável para a mãe e para o desenvolvimento do bebê, bem como na busca estética e de percepção corporal, também tem sido um mercado em expansão nos diversos setores da economia, inclusive o do fitness. Assim, a importância de se estudar profundamente o TR para as populações ditas especiais, visto que esse tipo de treinamento é um dos meios mais procurados pelas pessoas e possibilita ganhos na saúde e bem-estar destes indivíduos. A partir de agora, abordaremos as principais nuances do TR em dois principais tópicos, tratando da prescrição para os idosos e portadores de alguns A importância de se estudar profundamente o TR para as populações ditas especiais, visto que esse tipo de treinamento é um dos meios mais procurados pelas pessoas e possibilita ganhos na saúde e bem-estar destes indivíduos. 120 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Para muitos, a terceira ou melhor idade começa após os 60 anos de idade. Para as políticas públicas, isso varia de região para região, mas a WHO (2010) trouxe recomendações globais de exercícios de fortalecimento muscular para as diferentes populações, classificando este público como aqueles com 65 anos de idade ou mais. Para dar um start na nossa conversa sobre o TR para o público idoso, acesse os sites: http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_frame. asp?cod_noticia=85. https://www.educacaofisica.com.br/saude-bem-estar/terceira- idade/importancia-do-treinamento-resistido-musculacao-no- envelhecimento/. tipos de doença não transmissível e a prescrição para as crianças e para as gestantes. 2 PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO PARA IDOSOS E PORTADORES DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) A partir deste subtópico, abordaremos principalmente os aspectos da prescrição do TR tanto para o público idoso quanto para portadores de doenças cardiovasculares e diabetes e outras doenças metabólicas. Existem vários benefícios da atividade física e dos exercícios sistematizados para estes públicos, como os exercícios aeróbios (corrida ou pedalada), portanto, focaremos na prescrição e nos benefícios do TR na terceira idade e para aqueles portadores de alguma DCNT. Quais os tipos de TR devemos ou podemos usar nestas populações? Que princípios devemos aplicar no planejamento e na prescrição? Que benefícios estes públicos terão com um TR sistematizado? Se compreendermos a resposta para estas três perguntas durante este capítulo, atingiremos com sucesso nosso objetivo. O que você, acadêmico, entende por terceira idade? Como distinguir o público idoso dos demais? Essa parcela da população terá características e peculiaridades importantes que precisamos entender. Quais os tipos de TR devemos ou podemos usar nestas populações? Que princípios devemos aplicar no planejamento e na prescrição? Que benefícios estes públicos terão com um TR sistematizado? 121 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 2.1 O PÚBLICO DA TERCEIRA IDADE Caro acadêmico, precisamos explicitar primeiramente que vamos dividir o público da terceira idade em idosos saudáveis e portadores de alguma DCNT. Geralmente, nessa idade, os indivíduos apresentam alguma disfunção de ordem metabólica, como a síndrome metabólica, ou seja, doenças como hipertensão arterial e/ou colesterol elevado (LDL – da sigla em inglês Low Density Lipoprotein) que podem levar ao aumento do risco de doença cardíaca. No entanto, isto será assunto do próximo subtópico, em que abordaremos o TR para idosos ou não, com algum tipo de DCNT. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010), as atividades físicas para o grupo idoso incluem atividades no tempo de lazer, caminhada ou pedalada como meio de transporte, as atividades ocupacionais para aqueles que ainda trabalham, tarefas domésticas, jogos e brincadeiras, esportes e exercícios planejados e atividades do contexto diário, familiar e comunitário. Ainda, segundo a organização, idosos deveriam realizar, além de atividades aeróbias e de melhora do equilíbrio, exercícios de fortalecimento muscular envolvendo grandes grupos musculares em dois ou mais dias na semana, para melhorar a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde funcional e óssea, reduzir o risco de DCNT, depressão e declínio cognitivo. Para o público idoso, ainda é muito importante uma melhora na qualidade de vida no sentindo de melhorar a capacidade de exercer as atividades básicas da vida diária que exigem, principalmente, as valências de força e equilíbrio. Agora, porém, nos vem a pergunta: de que forma devemos planejar e prescrever o TR para este público? Um dos desafios é que há um grande número de idosos que são sedentários ou inativos fisicamente, não atingem as recomendações globais de atividade/exercício físico. Além disso, a capacidade para realizar exercícios tende a diminuir com a idade, os idosos geralmente apresentam menor capacidade para se exercitar do que os indivíduos mais jovens (WHO, 2010). Assim, o primeiro passo é saber que os idosos precisarão de um planejamento com um menor volume e uma menor intensidade absoluta, apesar que, em níveis relativos, ou seja, individuais, a relação volume/intensidade será similar a dos sujeitos com maior aptidão (WHO, 2010). Vejamos o que Mcardle, Katch e Katch (2015) dizem sobre os efeitos do avançar da idade nos aspectos da força muscular, que pode nos ajudar a compreender melhor como trabalhar com o exercício durante o envelhecimento: A força concêntrica da maioria dos grupos musculares declina lentamente no início e mais rapidamente depois da meia- Idosos deveriam realizar, além de atividades aeróbias e de melhora do equilíbrio, exercícios de fortalecimento muscular envolvendo grandes grupos musculares em dois ou mais dias na semana. 122 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais idade. A perda acelerada de força na meia-idade coincide com a perda de peso e com o aumento nas doenças crônicas, tais como AVE (acidente vascular), diabetes melito, artrite e doença da artéria coronária. Os músculos dos adultos mais velhos contraem-se com menos força, têm taxas de relaxamento mais lentas e demonstram queda em sua relação força-velocidade. A capacidade para geração de potência declina mais rapidamente que aquela para a força máxima. Os declínios na força excêntrica começam em uma idade mais avançada e progridem mais lentamente do que para a força concêntrica. A perda de força começa em uma idade mais avançada nas mulheres quando comparada aos homens. A força dos membros superiores para homens e mulheres deteriora-se mais lentamente que a força dos membros inferiores (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015, p.1245). Com essas primeiras observações já é possível ter uma certa direção a seguir ao se pensar em prescrever o treinamento para idosos. Além de volume e intensidade reduzidos, podemos pensar na relação concêntrica-excêntrica dos exercícios, sendo que é possível que a carga excêntrica seja mantida por mais tempo. A velocidade de execução dos movimentos também é um outro ponto importante, já que com perdas na relação força-velocidade, o ritmo de execução terá que ser menor e, pensando na taxade recuperação, o tempo para tal deverá ser maior. A adaptação dos exercícios deve ocorrer de maneira mais rápida para membros inferiores do que para os superiores. Na figura 1, temos uma imagem de ressonância magnética de um corte transversal da coxa de um adulto fisicamente ativo, de 21 anos acima, e de um idoso sedentário, de 63 anos abaixo. FIGURA 1 – IMAGEM DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DE UM ADULTO E DE UM IDOSO FONTE: Adaptada de <https://www.scielo.br/img/revistas/ rbr/v46n6/06f1.gif>. Acesso em: 5 ago. 2020. 123 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 É possível notar na Figura 1 que a parte em branco que demonstra a gordura subcutânea e intramuscular está aumentada no idoso, enquanto a parte escura, que representa a massa muscular, é maior no indivíduo jovem. Com o passar da idade, ocorre uma redução significativa da massa muscular. Essa redução que começa com 1 a 2% após os 30 anos pode chegar a 10% após as primeiras cinco décadas. A redução progressiva na área em corte transversal do músculo, com uma diminuição na massa e na função muscular esquelética é denominada de sarcopenia (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Segundo Mcardle, Katch e Katch (2015), a remodelagem das unidades motoras deteriora-se gradualmente na idade avançada. O resultado disso é denominado de atrofia muscular por desnervação, uma degeneração irreversível das fibras musculares, principalmente das do tipo II. São várias as alterações que levam o músculo esquelético à atrofia, entre elas destacam-se as hormonais (como redução no hormônio do crescimento GH), inflamação crônica, mudanças estruturais (menor número e capacidade das mitocôndrias) e genéticas (alterações no núcleo celular). Essas mudanças na quantidade total de massa muscular confirmam a redução da força na terceira idade e a necessidade de um olhar diferenciado e específico ao que tange o treinamento para esta população. Principalmente a perda específica de fibras do tipo II nos faz repensar o timing do treinamento, bem como os exercícios que exigem potência ou os movimentos que exigem velocidade de membros para o TR com este público. Com o passar da idade, ocorre uma redução significativa da massa muscular. Essa redução que começa com 1 a 2% após os 30 anos pode chegar a 10% após as primeiras cinco décadas. Para se aprofundar neste assunto, sugerimos uma interessante leitura de um artigo de revisão publicado, em 2006, na Revista Brasileira de Reumatologia, intitulado Sarcopenia associada ao envelhecimento: aspectos etiológicos e opções terapêuticas de Tatiana Alves de Araujo Silva e colaboradores. Segue o link: h t t p s : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ arttext&pid=S0482-50042006000600006. 124 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Segundo Ciccolo e Kraemer (2014), a sarcopenia refere-se apenas à perda de massa muscular relacionada à idade e, por isso, foi introduzido um novo termo chamado dinapenia que se refere à perda de força muscular com o envelhecimento, não causada por doenças neurológicas ou musculares. Na dinapenia, o que ocorre é a perda de força ou potência muscular e não a perda de massa muscular. Segundo os autores, a perda de força muscular está associada, em 90% dos casos, com uma fraca performance física ou inabilidade comparada com a perda de massa muscular que se associa em 35% dos casos. Assim, aprimorar a força muscular ao invés da massa muscular, torna-se mais importante para melhorar/manter a funcionalidade e a performance de atividades físicas da vida diária, e deveria ser o foco principal de um programa de TR para idosos. Muitos são os motivos que levam à perda de força com a idade, entre eles os intrínsecos da célula muscular e os fatores neurais. Podemos destacar fatores, como falha no processo de excitação-acoplamento, alterações bioquímicas na junção neuromuscular e no retículo sarcoplasmático, levando uma diminuição da liberação de cálcio pelo retículo e uma menor força contrátil. Ainda, um encurtamento no comprimento das fibras musculares devido um menor número de sarcômeros em série e uma diminuição no ângulo de penação devido à redução dos sarcômeros em paralelo (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Acadêmico, voltando ainda para a pergunta de como planejar e prescrever exercícios resistidos nesta população específica, de acordo com Powers e Howley (2009), assim como para qualquer população especial, com o público idoso não é diferente, e um exame médico completo é uma recomendação razoável na detecção de problemas ou fatores de risco que podem afetar a decisão quanto a iniciar num programa de treinamento. Consequentemente, o programa de exercícios deve ser constituído por atividades de resistência, flexibilidade e força dentro da capacidade da população de idosos que está sendo atendida com o foco de melhorar estes componentes específicos da aptidão física. É preciso destacar as mudanças hormonais que ocorrem com a idade, por exemplo, os baixos níveis séricos de estrogênio e/ou testosterona que levam a massa óssea (geralmente mensurada pela densidade mineral óssea) a diminuir. Outra questão, é que glicocorticoides ou medicações anti-inflamatórias prescritas para doenças crônicas, podem estimular a atividade de reabsorção óssea e causar perda de densidade mineral óssea. Assim, é importante que seja estimulada a ingestão de cálcio numa quantidade diária de 1200 a 1500 mg para auxiliar e retardar a perda óssea relacionada à idade (POWERS; HOWLEY, 2009). Aprimorar a força muscular ao invés da massa muscular, torna-se mais importante para melhorar/manter a funcionalidade e a performance de atividades físicas da vida diária, e deveria ser o foco principal de um programa de TR para idosos. 125 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Ao que parece, um dos efeitos importantes do estrogênio é suprimir a atividade dos osteoclastos, as células responsáveis por reabsorver o osso. Como na menopausa (ou quando a mulher apresenta amenorreia prolongada) que geralmente ocorre por volta dos 50 anos, ocorre uma deficiência de estrogênio e a reabsorção é aumentada e, por conseguinte, a perda óssea. Segundo Powers e Howley (2009), para a Dra. Susan Bloomfield, especialista nas adaptações dos ossos ao exercício e ao desuso, as relações funcionais dos músculos e dos ossos, é muito importante o treinamento com pesos e com a sustentação de peso na saúde óssea. Esse treinamento envolve forças de impacto que provêm estímulos adequados ao esqueleto. Além disso, um programa de exercício diversificado, que utiliza uma ampla variedade de grupos musculares com padrões de movimentos frequentes e variados, será melhor que um sinal monótono ao osso (por exemplo, corrida ou ciclismo). De acordo com Ciccolo e Kraemer (2014), que aponta para as diretrizes do Colégio Americano de Medicina Esportiva (RATAMESS et al., 2009), idosos devem realizar TR por pelo menos duas vezes por semana em intensidades moderadas a vigorosas. Dessa forma, já teríamos um apontamento da frequência semanal de TR na terceira idade. Contudo, os autores apontam para a intensidade do treinamento também, então, o que seria intensidade moderada a vigorosa? A intensidade moderada é definida com um valor de cinco e seis e a intensidade vigorosa de 7 e 8 numa escala de zero a dez (A escala de dez pontos de Borg). Segundo os autores supracitados, ainda há outra indicação do Ratamess et al. (2011) provendo recomendações baseadas em evidências para adultos de todas as idades e especificando que idosos deveriam se exercitar em intensidades de 40-50% de 1RM para melhora da força. 126 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais FIGURA 2 – ESCALA DE BORG ADAPTADA DE 0-10 PONTOS FONTE: <https://i1.wp.com/www.nopico.pt/wp-content/uploads/2020/03/PSE-Adulto.png?w=768>. Acesso em: 5 ago. 2020. Obviamente, como o teste de 1RM já é difícil de se realizar com jovens e adultos, possuindo suas limitações, com a população idosa fica ainda mais complicado. Assim, apesar de subjetiva a utilização da escala de percepção de esforço ou PSE, é uma maneira de basear a sobrecarga do treinamento em quão difícil está sendo o trabalho para tal indivíduo. Se a opção for realizar o 1RM, é preciso familiarizar muito bem o indivíduo (ao que parece no mínimo cinco testes de familiarização são necessários) com o teste e balancear os benefícios para a prescrição do treinamento com a carga baseada em 1RM com os riscos de lesões. Existem também, na literatura, baterias de testes funcionais que podem ser realizados com os idosos, fica a sugestão do trabalho de Mariane Eichendorf da Silva intitulado Erro de medida de testes funcionais em idosos para quem quiser saber mais sobre o assunto. Quanto ao tipo de treinamento que podemos utilizar com a terceira idade, será possível utilizar todos eles? Ratamess et al. (2009) faz uma recomendação ao uso de métodos tradicionais para o TR progressivo ou o uso da calistenia com suporte de peso (oito a dez exercícios envolvendo grandes grupos musculares com oito a 12 repetições cada). Métodos tradicionais para o TR progressivo ou o uso da calistenia com suporte de peso (oito a dez exercícios envolvendo grandes grupos musculares com oito a 12 repetições cada). 127 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Caro acadêmico, acreditamos que você saiba o que são os exercícios calistênicos ou de calistenia, que relembrando, nada mais é que o uso do próprio corpo para se exercitar, ou seja, exercícios livres sem a utilização de máquinas ou aparelhos de academia, utilizando o peso do próprio corpo. Se você quiser saber um pouco mais sobre exercícios de calistenia na terceira idade, acesse o site: https://www.ativo.com/fitness/treinamento-fitness/treinos-na-terceira- idade/. A partir de agora, veremos os principais benefícios nos diferentes tipos de treinamento abordados neste livro. Importante ressaltar que no público idoso um dos principais objetivos do treinamento deve ser melhorar a capacidade funcional do indivíduo para as atividades diárias, diminuir a possibilidade de quedas e fraturas e aprimorar a saúde óssea. Vamos iniciar falando dos benefícios do TR na hipertrofia para o tamanho e a arquitetura muscular. Apesar de ser um assunto ainda controverso, parece que o TR é capaz de aumentar a área de secção transversa nos músculos de idosos do sexo feminino e masculino, e parece que idosos são tão capazes quanto indivíduos jovens para apresentar essas melhoras (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Existem achados na literatura demonstrando isso, a maioria dos estudos reportam que o treinamento induziu aumentos na área de seção transversa total do músculo em torno de 5 a 10%, quando os indivíduos foram envolvidos num programa de treinamento de pelo menos dez a 12 semanas (PETERSON et al., 2010). Os autores realizaram um interessante estudo de meta-análise, que é um tipo de revisão na qual se faz uma análise estatística de vários outros estudos na literatura sobre um determinado assunto, verificando a efetividade do TR em provocar aumentos de força em idosos, particularmente, com o treinamento de alta intensidade. Assim, teríamos uma noção do volume mínimo necessário para que o TR gere melhoras para a terceira idade. É possível também observar que ocorrem melhoras na síntese proteica das fibras tipo I e tipo II em indivíduos mais velhos. A arquitetura muscular também é alterada, sendo que ocorrem mudanças tanto no comprimento do fascículo (comprimento da fibra muscular em série) quanto no ângulo de inserção do fascículo (ângulo de penação). Essas melhoras dependem do programa de treinamento, assim como de uma variabilidade individual para as adaptações do treinamento (CICCOLO; KRAEMER, 2014). O treinamento induziu aumentos na área de seção transversa total do músculo em torno de 5 a 10%, quando os indivíduos foram envolvidos num programa de treinamento de pelo menos dez a 12 semanas. 128 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Acadêmico, o que podemos dizer então dos efeitos do TR na força muscular em idosos? As melhoras na força podem ser devido a fatores neurológicos e morfológicos. Mudanças morfológicas da musculatura esquelética podem levar a um aumento na força devido a alterações no tipo de fibra muscular e na composição destas fibras, bem como mudanças na arquitetura muscular. Ao que parece, o aumento na força com o TR pode exceder o aumento da massa muscular nos idosos (CICCOLO; KRAEMER, 2014). O treinamento causa mudanças substanciais na função neuromuscular, levando ao aumento da força muscular devido um aumento no grau da ativação da unidade motora, assim como um aumento na frequência de disparo do motoneurônio (ORSSATTO; WIEST; DIEFENTHAELER, 2018). Existe uma discussão na literatura se indivíduos idosos podem melhorar a força tanto quanto indivíduos mais jovens. No entanto, indivíduos com idade avançada, até mesmo os com 80 e 90 anos, apresentam melhora na força muscular após um programa de treinamento (PETERSON et al., 2010). Muitas variáveis do programa de treinamento podem influenciar a magnitude da resposta, porém a intensidade do TR parece ser o fator mais importante nos ganhos de força. Os estímulos de alta intensidade (por exemplo, 80% de 1RM) produzem maiores magnitudes de aumento na força comparados aos estímulos de baixa intensidade (<60% 1RM) ou moderada intensidade (entre 60-80% de 1RM) (PETERSON et al., 2010; ORSSATTO; WIEST; DIEFENTHAELER, 2018). O volume de treinamento também parece ter um papel importante e protocolos de uma série (ao invés de três séries por exercício) para indivíduos idosos têm demonstrado superiores adaptações na força (GALVÃO; TAAFFE, 2005). Em contrapartida, a frequência de treinamento parece não influenciar a magnitude dos ganhos de força em períodos de curto prazo, embora progressivos aumentos na sobrecarga são necessários (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Melhoras na resistência muscular localizada (RML) são um importante fator com a avançar da idade, pois é necessária para as atividades da vida diária e a independência funcional. Com relação às melhoras da RML com o TR, ao que parece, qualquer programa de treinamento que aumente a massa muscular ou a força muscular terá um efeito positivo na RML reduzindo ativação dos motoneurônios em atividades submáximas, assim como adaptações bioquímicas e metabólicas que ocorrem dentro da musculatura (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Nos idosos, exercícios com intensidade moderada a alta (50-80% de 1RM) causam aumentos robustos na resistência muscular. É preciso salientar que as intensidades mais altas (50-80% de 1RM) no TR com idosos apresentam melhoras na resistência muscular maiores comparadas com as de baixa intensidade (<50% de 1RM) Melhoras na resistência muscular localizada (RML) são um importante fator com a avançar da idade, pois é necessária para as atividades da vida diária e a independência funcional. 129 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Entrevistamos o prof. Dr. Ewertton de Souza Bezerra questionando sobre o treinamento resistido em idosos, veja a seguir essa interessante conversa. O prof. Dr. Ewertton de Souza Bezerra é licenciado em Educação Física pela Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (FEFF) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), 1999. Mestre em Educação Física pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP), 2006. Doutor em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2018. Docente da Faculdade de Educação Físicae Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas. Professor Credenciado no Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFAM, e no Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Ciências do Movimento Humano da FEFF/UFAM, ademais, é filiado ao Grupo de Pesquisa de Estudo do Desempenho Humano; Líder do Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Reabilitação. Atualmente, aborda pesquisa na área do TR e análise biomecânica do exercício. Autores: — Quais os tipos de treinamento resistido devemos ou podemos usar nesta população? Prof. Ewertton: — Os modelos de treinamento resistido (TR) aplicáveis à população idosa são bem diversos, desde modelos tradicionais que usam cargas em torno de 70% de 1RM (conhecido como treinamento para hipertrofia) até modelos que usam baixa carga 30% de 1RM, porém com alta velocidade na execução do exercício (treinamento de alto velocidade). Embora, nesse contexto, a denominação de alta velocidade a medida direta da velocidade da carga deslocada é bem contestada. Modelos de TR que controlam a velocidade de forma direta ainda não são tão comuns para esta população, mesmo tendo ampla aplicação no meio esportivo. Em uma recente carta ao editor da revista médica do Chile (disponível em: https://bit.ly/3bwOzZl), exponho alguns desenhos possíveis. De forma resumida, além dos anteriormente citados, modelos cluster set, no qual você aplica intervalos de até 20s entre curtas (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Entretanto, quando o volume de treinamento é equivalente tanto intensidades baixas (40% de 1RM) como intensidades mais altas (80% de 1RM) produzem melhoras similares na resistência muscular de idosos. 130 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais repetições (exemplo: três reps – 20” – três reps – 20” – três reps, totalizando nove repetições) mostram ter bastante aplicabilidade em idosos (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29909049). Ainda assim, modelos que misturam estímulos dentro da mesma sessão, podem ser outra alternativa (exemplo: primeira série: 5RM, cargas altas); segunda série: seis reps (carga leves, com movimento mais rápido possível na fase concêntrica); e terceira série: 10RM; com dois minutos de intervalo entre as séries) (https://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/30052598). Um ponto determinante para a escolha do modelo é a condição de locomoção do idoso. Autores: — Que princípios devemos aplicar no planejamento e na prescrição? Prof. Ewertton: — O primeiro passo é realizar uma avaliação de desempenho motor. Em um estudo que participei, tem alguns exemplos deste tipo de teste (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/28836137). De forma direta, a velocidade da marcha no teste de caminhada de quatro ou seis m pode ser interessante, pois é uma medida fácil de se obter em qualquer ambiente, basta uma câmera e cronômetro. O segundo passo, será a seleção dos exercícios, aqui o membro inferior é prioridade, seguido da musculatura estabilizadora (CORE) e do membro superior, em um recente estudo de revisão, um grupo de pesquisadores brasileiros aponta o caminho para tal entendimento (https://bit.ly/3dHwYzx). E para controle durante a sessão, sugiro de forma prática o uso da escala de percepção de esforço. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30569775). Autores: — Que benefícios este público terá com um treinamento resistido sistematizado? Prof. Ewertton: — Os benefícios são enormes, desde aumento da força máximas e potência de membro inferior, indicadores de melhora do sistema neural até o aumento da massa muscular e massa óssea. De forma associada, melhoria de função motora em atividade da vida diária e desempenho cardiorrespiratório. Ainda que de forma secundária, melhora no desempenho cognitivo (https:// www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29997056). 131 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 2.2 PORTADORES DE DOENÇAS NÃO TRASMISSÍVEIS Neste subtópico, caro acadêmico, trataremos dos efeitos do TR em portadores de alguma doença crônica não transmissível (DCNT). Existem diversos tipos de DCNTs, portanto, fica muito complicando abordar todas elas. Focaremos em dois temas que acreditamos ser mais importantes: portadores de doenças cardiovasculares e portadores de doenças metabólicas (diabetes tipo II, por exemplo). Como já dito anteriormente, essas doenças estão sempre associadas ao sedentarismo e há um risco de morte considerável quando se trata da união destes fatores: inatividade física e DCNT cardiovascular ou metabólica. Como também já comentado, com o avançar da idade ocorre um maior risco de possuir alguma DCNT, mas isso não é uma particularidade da terceira idade, e DCNTs podem atingir indivíduos das diversas faixa etárias. A maior causa de mortes por ano, em nível mundial, são as doenças crônicas, e o nível de inatividade física que tem crescido cada vez mais todos os anos, é o quarto maior fator de risco para todas as mortes (WHO, 2010). Na Figura 3, é possível ter uma ideia desse problema, analisando o quanto as doenças cardiovasculares levam pessoas à morte, com dados baseados nas divulgações oficiais feita pela WHO em seu site. Pesquisas com adultos americanos, em 2011, demonstraram que apenas ~24% deles atingiam as recomendações de agências como o ACSM (RATAMESS et al., 2009) para o TR (ou atividades envolvendo força muscular). É importante destacar que houve diversas campanhas nas últimas duas décadas para promover o engajamento de indivíduos em atividades aeróbias, com o objetivo de se atingir o mínimo de 150 minutos semanais de exercício. Obviamente, foi um esforço digno, pois o exercício aeróbio é capaz de reduzir o risco de mortalidade por todas as causas e está associado com uma diminuição nas doenças cardiovasculares e diabetes tipo II, por exemplo. 132 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais FIGURA 3 – NÚMERO DE MORTES POR DOENÇA CARDIOVASCULAR FONTE: <https://bit.ly/3dVNMTy>. Acesso em: 5 ago. 2020. No entanto, é preciso ressaltar que isso é uma verdade também para os efeitos do TR e a promoção dele pode ter um efeito aditivo no risco de doenças e sua regularidade pode, significativamente, influenciar o curso da doença (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Assim, a partir de agora, trataremos dos efeitos do TR nas doenças do sistema cardiorrespiratório e vascular. 2.2.1 Efeitos do treinamento resistido em doenças cardiovasculares Caro acadêmico, antes de falarmos do TR, propriamente dito, e seus efeitos no sistema cardiorrespiratório, precisamos de pelo menos um entendimento básico da doença. Segundo Powers e Howley (2009), existe uma dificuldade bem grande no estabelecimento da causa de uma doença crônica. A doença cardiovascular, por exemplo, possui diversas causas devido a fatores genéticos, ambientais e comportamentais que estão envolvidos de um modo bem complexo. O modelo epidemiológico rede de causas auxilia na compreensão do estabelecimento das causas dessas doenças. A Figura 4 traz uma rede de causas para as doenças cardiovasculares. No inferior da figura, é possível ver os fatores de risco que levam as causas no nível intermediário que levarão à doença cardiovascular. Na figura 4, podemos ver um modelo epidemiológico simplificado, adaptado de Powers e Howley (2009), sobre a interação complexa entre os fatores de Os efeitos do TR e a promoção dele pode ter um efeito aditivo no risco de doenças e sua regularidade pode, significativamente, influenciar o curso da doença. 133 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 risco associados ao desenvolvimento de doenças degenerativas crônicas cardiovasculares. É interessante observar uma combinação de fatores genéticos, como a hereditariedade, fatores ambientais como estresse e comportamentais, dentre eles, destaca-se a prática de atividadefísica. É importante notar que todos esses fatores podem levar à obesidade, podendo levar ao enrijecimento das artérias que levará à cardiopatia ou ao acidente vascular cerebral, o famoso AVC. FIGURA 4 – REDE DE CAUSAS APLICADA A DOENÇAS CARDIOVASCULAR FONTE: Os autores A doença coronária, por sua vez, está associada a um estreitamento gradual das artérias que suprem o coração em decorrência de um espessamento da camada interna da artéria. Esse processo que é denominado arterosclerose, é o principal contribuinte para as mortes por infarto do miocárdio e para as mortes por AVC. A inatividade física é um fator de risco independente para a doença coronariana, o risco de doença coronária decorrente da inatividade é similar ao da hipertensão e do colesterol elevado (POWERS; HOWLEY, 2009). Precisamos lembrar que, como grande parte da população não atinge o mínimo de atividade física/exercício necessário e recomendado, e essa porcentagem da população tem aumentado cada vez mais, é possível ver o impacto que essas mudanças têm nos hábitos de atividade física sobre o risco de doença coronária. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (GHORAYEB et al., 2013), a cardiomiopatia hipertrófica é uma doença autossômica dominante, que se caracteriza por um desarranjo miofibrilar dos miócitos, acompanhado de hipercontratilidade, hipodiastolia, hipertrofia septal assimétrica com ou sem obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo. Existem alguns genes que são A inatividade física é um fator de risco independente para a doença coronariana, o risco de doença coronária decorrente da inatividade é similar ao da hipertensão e do colesterol elevado. 134 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais envolvidos na gênese dessa doença e há mutações genéticas relacionadas às proteínas contrateis do miocárdio. O mais importante, para nós, é sabermos que os portadores dessa doença podem ser totalmente assintomáticos ou apresentar tonteiras, síncope, especialmente relacionadas ao exercício, dispneia, palpitações e angina. Ainda, segundo o mesmo documento citado anteriormente, existe também a alteração do músculo cardíaco de causa genética que é conhecida como displasia arritmogênica do ventrículo direito (DAVD) ou também cardiomiopatia do ventrículo direito. O que ocorre é uma alteração na formação dos desmossomos que se caracteriza por uma substituição fibrogordurosa patológica do miocárdio ventricular direito, mas que pode chegar a acometer o ventrículo esquerdo (GHORAYEB et al., 2013). FIGURA 5 – DOENÇAS CARDIOVASCULARES FONTE: <https://www.fisioterapiaparatodos.com/p/wp-content/ uploads/2018/04/Enfarte-AVC-trombo.jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020. Segundo Mcardle, Katch e Katch (2015), podemos elencar três categorias de cardiopatia que causam deterioração funcional. As doenças do miocárdio predominam e qualquer um dos termos indica doença do miocárdio: cardiopatia degenerativa; doença cardiovascular arteriosclerótica e doença da artéria coronária ou cardiopatia coronariana. Além disso, a hipertensão representa um risco primário para cardiopatia coronariana, por isso, é preciso ter um entendimento dela e pensar nas recomendações para diminuir hipertensão arterial. A hipertensão crônica lesiona os vasos arteriais sendo um risco primário para arteriosclerose, cardiopatia, acidente vascular encefálico e insuficiência renal. O exercício físico regular proporciona uma defesa para tratar a hipertensão leve (140 a 159 mmHg de pressão sistólica; 90-99 de pressão diastólica) e a hipertensão moderada (160- 179 de pressão sistólica; 100-109 mmHg de diastólica). Lembrando que a pressão arterial ótima fica entre <120 mmHg para sistólica e <80 mmHg para a diastólica (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). 135 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 QUADRO 1 – CARDIOPATIAS QUE CAUSAM DETERIORAÇÃO FUNCIONAL Doenças que afetam o múscu- lo cardíaco Doenças que afetam as valvas do coração Doenças que afetam o sistema nervoso do coração Cardiopatia coronariana Febre reumática Arritmia Angina Endocardite Taquicardia Infarto do miocárdio Prolapso da valva mitral Bradicardia Pericardite Deformações congênitas Insuficiência cardíaca conges- tiva Aneurisma FONTE: Adaptado de Mcardle, Katch e Katch (2015, p. 1299) Pense em alguém que você conhece ou talvez um familiar, muito provavelmente que alguém na sua família seja portador de alguma DCNT cardiovascular ou pelo menos de fatores de riscos associados (obesidade por exemplo), como você poderia motivá-lo a mudar os fatores comportamentais, como dieta e atividade física e como você poderia auxiliar essa pessoa a iniciar um programa de TR. Outra questão que é um pouco óbvia, mas que é necessário ressaltarmos neste momento, é que independente da doença cardiovascular é preciso ter muito cuidado para iniciar e prescrever um programa de treinamento sistematizado a essa população. Assim, o primeiro passo será uma avaliação médica e a liberação da prática regular de atividade física. O profissional de Educação deverá estar muito bem informado e atento aos possíveis sinais de irregularidade ao trabalhar com estes indivíduos, bem como alinhado às recomendações médicas. A partir disso, antes de se iniciar a prática, é preciso fazer uma anamnese dos sujeitos para verificar qualquer questão importante. Um questionário muito utilizado e validado na literatura é o Questionário de disposição para a atividade física, também conhecido como PAR-Q da Sociedade Canadense de Fitness e Fisiologia do Exercício (Canadian Society of Exercise Physiology and Fitness). Existem outros questionários que podem ser aplicados, o importante é avaliar as condições iniciais do indivíduo. A avaliação antropométrica e de composição corporal é o próximo passo para verificar o percentual de gordura, massa magra e diâmetros ósseos que também podem ser verificados. 136 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Para você que quer saber mais sobre os testes de avaliação da aptidão cardiorrespiratória em portadores de DCNT cardiovascular, fica a dica de leitura do Capítulo 15 do livro Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho, escrito pelos doutores Scott K. Powers e Edward T. Howley, o capítulo trata dos diversos protocolos tradicionais que existem. FONTE: POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. Barueri: Manole, 2009. FIGURA 6 – ERGOESPIROMETRIA COM ELETROCARDIOGRAMA FONTE: <https://img.pebmed.com.br/wp-content/uploads/2018/02/27130446/ teste-ergom%C3%A9trico.jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020. Por fim, há necessidade de se aplicar um teste de aptidão cardiorrespiratória para aqueles que não podem ou não possuem condições de realizar um exame de ergoespirometria. Obviamente, a ergoespirometria realizada em conjunto com um eletrocardiograma em exercício, é o exame mais recomendado a esses pacientes antes de iniciarem um programa de exercícios. Para aqueles que possuem aval médico ou condições não tão graves, bem como aqueles que são hipertensos ou apenas apresentam as condições de risco de doença cardiovascular existem diversos protocolos e modelos de testes de campo e de laboratório de caminhada, corrida, pedalada etc. que podem ser utilizados. Obviamente, a ergoespirometria realizada em conjunto com um eletrocardiograma em exercício, é o exame mais recomendado a esses pacientes antes de iniciarem um programa de exercícios. 137 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Os protocolos de treino em circuito geralmente são aqueles que intercalam diferentes exercícios para diferentes grupos musculares, com um moderado a alto número de repetições, cargas mais leves e curto tempo de recuperação.Normalmente, realiza-se uma série em cada exercício passando-se rapidamente para o próximo. Por essas características, os circuitos apresentam uma considerável exigência aeróbia. Outra maneira, é após quatro ou cinco exercícios realizar um curto período de exercício aeróbio (exemplo cinco minutos) entre as séries. Acadêmico, vamos, a partir de agora, analisar os efeitos do TR nas doenças cardiovasculares e nos fatores de riscos associados. Buscaremos também resumir as principais recomendações de treinamento nesta população. De que forma você acredita que um cardiopata, por exemplo, poderia iniciar e realizar um programa de TR? A Associação Americana do Coração (American Heart Association – AHA) e o ACSM têm promovido com evidências científicas (WILLIAMS et al., 2007; RATAMESS et al., 2009; RATAMESS et al., 2011) que o TR de intensidade moderada, como um complemento nos programas de exercício aeróbio, é capaz de prevenir e auxiliar no tratamento e controle da hipertensão, fator de risco direto de cardiopatias. Kelley e Kelley (2000) realizaram uma revisão no formato de meta-análise para verificar os efeitos do TR como intervenção única (estudos em que o TR foi aplicado de maneira isolada por pelo menos quatro semanas) na pressão arterial de adultos sedentários normotensos e/ou hipertensos sem apresentar outras doenças concomitantes. Diminuições de aproximadamente 2% para pressão arterial sistólica (PAS) e de 4% para a pressão arterial diastólica (PAD), em repouso, foram encontradas como efeito do TR. Esse foi um resultado significativamente estatístico. Vale ressaltar que não foram observadas diferenças na pressão arterial em repouso entre os estudos que usaram regime de TR convencional (cargas moderadas a altas e períodos longos de recuperação) e aqueles que usaram os protocolos de circuito, ou seja, ambos os tipos de treinamento foram eficazes. 138 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais De acordo com Ciccolo e Kraemer (2014), diminuições de aproximadamente três mmHg (2% no estudo supracitado) na PAS é o que tem sido visto na literatura. Apesar de parecer ser um efeito modesto do TR, para a média da população, reduções dessa magnitude apresentam uma estimativa de redução de morbidade cardíaca entre 5-9%; ataque cardíaco de 8-14% e mortalidade por todas as causas de 4%. Precisamos lembrar, no entanto, que a recomendação é que o TR seja um aditivo do treinamento aeróbio, pois o controle da pressão arterial é muito importante nos indivíduos que já têm hipertensão e o TR parece ainda não apresentar evidências de melhoras nos quadros mais graves. O enrijecimento das artérias que é um fator de risco direto de doenças cardíacas, pode levar à hipertrofia ventricular e estar associado a uma alta prevalência de insuficiência cardíaca (POWERS; HOWLEY, 2009). O TR de alta intensidade e alto volume é capaz de diminuir a complacência (ou seja, aumentar a rigidez) arterial de jovens, homens e mulheres de meia-idade (CICCOLO; KRAEMER, 2014). Os mesmos autores reportam que estudos com frequência semanal de três vezes e volume total maior que três meses apresentaram diminuição na complacência ou aumentos da rigidez das artérias em indivíduos jovens saudáveis. No entanto, segundo os autores, ainda não está estabelecida uma relação entre o TR e o enrijecimento das artérias e que a literatura apresenta diversos achados de não haver mudanças na função arterial. Ao que parece os resultados mais recentes apontam para não alteração da rigidez arterial com TR de curta duração. Os autores ainda lembram que protocolos de treinamento de alto volume (mais que seis séries por exercício) e alta intensidade, geralmente, são indicados para indivíduos atletas e não recomendados para a maioria da população. As recomendações gerais para o TR com pacientes de doenças cardiovasculares podem ser feitas de acordo com a AHA (WILLIAMS et al., 2007) em suas recomendações gerais sobre este tipo de treinamento nessa população. De forma geral, é colocado que pacientes com doenças cardíacas devem realizar uma série de dez a 15 repetições, com oito a dez exercícios por sessão e uma frequência de dois a três dias por semana. No entanto, em recomendações mais específicas, pacientes que sofreram infarto ou passaram por cirurgias do miocárdio, por exemplo, poderiam iniciar atividades de TR de carga bem baixa, como o uso de elásticos ou halteres leves após três semanas do ocorrido. As recomendações consideram que, para o início do programa de treinamento, deve-se usar halteres com ~1 kg ou pesos de pulseiras com o protocolo de treinamento mencionado anteriormente (uma série de dez a 15 repetições), numa fadiga Apesar de parecer ser um efeito modesto do TR, para a média da população, reduções dessa magnitude apresentam uma estimativa de redução de morbidade cardíaca entre 5-9%; ataque cardíaco de 8-14% e mortalidade por todas as causas de 4%. De forma geral, é colocado que pacientes com doenças cardíacas devem realizar uma série de dez a 15 repetições, com oito a dez exercícios por sessão e uma frequência de dois a três dias por semana. 139 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 moderada, PSE de 12 a 13 numa escala de Borg de seis a 20, equivalente entre três e cinco da escala de dez pontos (Figura 1). Williams et al. (2007) ainda sugerem que os incrementos na sobrecarga devam ocorrer de maneira bem gradual (um quilograma por semana, por exemplo) dependendo dos sinais e sintomas e a adaptação ao programa de treinamento. Uma vez que os pacientes passaram pelo período de convalescença de recuperação, usualmente, quatro a seis semanas após o evento, halteres e exercícios em máquinas podem ser inclusos. É preciso lembrar que todo cuidado e segurança deve ser priorizado. Se em indivíduos saudáveis já é necessário ter cautela na prescrição, em portadores de doenças cardíacas todo cuidado é pouco. Sujeitos pós-cirúrgicos deveriam evitar qualquer tipo de treinamento de resistência que exerça pressão no esterno, num período de três meses de cirurgia de ponte de safena ou esternotomia. Além disso, a estabilidade do esterno deve ser checada por um profissional da saúde experiente, sempre antes do início de um programa de TR, em qualquer paciente de ponte de safena ou a qualquer momento que sintomas de desconforto no peito apareçam (WILLIAMS et al., 2007). FIGURA 7 – REABILITAÇÃO CARDÍACA E TREINAMENTO RESISTIDO FONTE: Adaptada de <https://cdnstatic8.com/primecardiologia.com.br//wp- content/uploads/slider-reabilitacao-cardiaca.jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020. Ainda, segundo as recomendações da AHA, a adaptação da sobrecarga do treinamento pode-se dar com ~1-2 kg para os braços e ~2-5 kg para as pernas, por semana. A partir das recomendações iniciais de dez a 15 repetições para todos os pacientes, é possível que sujeitos com risco moderado possam se exercitar numa escala de PSE de 15 ou menos (equivalente a seis e sete na escala de Borg de dez pontos), enquanto que pacientes de baixo risco poderiam progredir até a fadiga voluntária após, aproximadamente, quatro a seis semanas de um período de adaptação (WILLIAMS et al., 2007). É preciso ressaltar que a prescrição do TR para pacientes de doenças cardiovasculares, É preciso ressaltar que a prescrição do TR para pacientes de doenças cardiovasculares, irá diferir de acordo com o padrão da doença e concomitante comorbidades que podem estar associadas. 140 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais irá diferir de acordo com o padrão da doença e concomitante comorbidades que podem estar associadas (hipertensão ou diabetes, por exemplo), assim como a associação a limitações neurológicas, vasculares e ortopédicas que levam a diferentes níveis de disfunção do ventrículo esquerdo. Ainda, apesar de ser um assunto controverso naliteratura, novas pesquisas têm demonstrado resultados promissores, o treinamento puramente isométrico para a reabilitação cardíaca deve ser evitado, segundo a Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica (BOCCHI et al., 2009). Sucintamente, podemos dizer que, na prática, a prescrição do TR em portadores de doença cardiovascular, podem seguir as recomendações da Americam Heart Association (AHA) com uma frequência semanal de duas a três vezes com um volume de treino de oito a dez exercícios por sessão (uma série de dez a 15 repetições) e intensidade baixa a moderada, respeitando o diagnóstico da doença, o estado clínico e o progresso do paciente. 2.2.2 Efeitos do treinamento resistido sobre a obesidade Caro acadêmico, neste subtópico, abordaremos alguns aspectos do TR para indivíduos que estejam com sobrepeso ou obesidade. Como a obesidade é um fator de risco para as doenças cardiovasculares, como já foi dito anteriormente, e que sofre influência dos fatores genéticos, comportamentais e ambientais, podendo levar à disfunção do ventrículo esquerdo, insuficiência cardíaca e arritmias, torna-se importante que tenhamos pelo menos um panorama geral desse assunto. Além disso, é preciso lembrar que a obesidade está ligada a outras doenças metabólicas, como a resistência à insulina, diabetes tipo 2 e a hipertensão. Assim, programas de treinamento que levem à perda de peso, mesmo em pequeno grau, podem prevenir diversos fatores de risco de doenças cardiovasculares associadas (POWERS; HOWLEY, 2009; RATAMESS et al., 2011; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Segundo Donnelly et al. (2009), em um posicionamento do ACSM, o sobrepeso e a obesidade afetam mais de 66% da população adulta. Nesse documento, os autores afirmam que seria necessário atividade física de moderada intensidade entre 150-250 min por semana para prevenir ganhos de peso. Essa relação volume-intensidade prove apenas perdas de peso modestas, apesar de que 3-5% de redução de peso já indica menores riscos para a saúde. 141 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Deixamos, aqui, a recomendação de dois artigos que explicam melhor os conceitos de comportamento sedentário e inatividade física, para aqueles que quiserem se aprofundar no assunto. Você pode acessar o artigo Comportamento sedentário: conceito, implicações fisiológicas e os procedimentos de avaliação de Joilson Meneguci e colaboradores no link: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646- 107X2015000100016. Já o estudo de Daiane Aragão e colaboradores, intitulado Inatividade física em crianças: uma revisão sistemática de estudos realizados no Brasil, pode ser acessado em: https://bit.ly/2TqzuCq. Seria necessário, então, um volume semanal de atividade física maior que 250 min para perdas de peso significante e de longo prazo e manutenção do peso. Ainda, para Donnelly et al. (2009), o treinamento resistido não aprimora a perda de peso, mas pode aumentar a massa livre de gordura e aumentar a perda de massa gorda associado a reduções no risco para a saúde. Vale notar que, o TR também auxilia na manutenção da taxa metabólica basal, complementando o treinamento aeróbio para a redução de peso e promove independência e auxilia na prevenção de quedas na terceira idade. O TR também auxilia o organismo no gasto calórico através de um aumento na massa magra (WILLIAMS et al., 2007). Para Middelbeek e Breda (2013), tanto a dieta como o nível de atividade física têm sido amplamente reconhecidos como os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento do sobrepeso/obesidade. Segundo estes autores, a obesidade é um dos maiores desafios para as políticas de saúde pública no século XXI e sua prevalência tem triplicado em muitos países, desde 1980, e os números continuam aumentando, com uma preocupação particular no público infantil. Outra preocupação que está ligada a ela, é que geralmente a obesidade ou o sobrepeso estão ligados ao comportamento sedentário e/ ou à inatividade física. Ganhos de peso aumentam drasticamente as chances de uma pessoa desenvolver DCNTs, incluindo doenças cardiovasculares e diabetes (MIDDELBEEK; BREDA, 2013). O sedentarismo tem crescido muito nas últimas décadas, os avanços tecnológicos, mudanças gerais na sociedade e as mudanças nas formas de trabalho têm contribuído para muitas pessoas apresentarem comportamento sedentário (HALLAL et al., 2012) nos dias de hoje, mesmo aquelas que são fisicamente ativas. Seria necessário, então, um volume semanal de atividade física maior que 250 min para perdas de peso significante e de longo prazo e manutenção do peso. 142 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais FIGURA 8 – O SEDENTARISMO EM NÍVEL MUNDIAL FONTE: <http://congressocarioca.com.br/wp-content/uploads/2019/08/ mapa-do-sedentarismo-mundial.gif>. Acesso em: 5 ago. 2020. A Figura 8 mostra um mapa produzido com base no estudo de Hallal et al. (2012), publicado numa das revistas cientificas mais respeitadas do mundo, a Lancet, mostrando um dado alarmante, há mais de oito anos, o Brasil já tinha praticamente a metade de sua população sedentária. Agora a pergunta que fica é: onde entra o TR nessa história? Já vimos alguns benefícios como a melhora na composição corporal e a diminuição dos fatores de risco para a saúde, bem como menor chance de doenças cardiovasculares. Vimos também recomendações de volume semanal (150-250 min/semana) e intensidade (moderada). Vamos finalizar essa parte com mais alguns detalhes de como aplicar o TR nesta parcela da população. Segundo Wilhelm e Pinto (2019), uma das maneiras de se utilizar do TR para melhora na composição corporal e até mesmo reduzir os fatores de risco de doença cardiometabólica, é a utilização do chamado treino concorrente, também conhecido como treinamento combinado, que nada mais é que a combinação de exercícios aeróbios e exercícios de TR. A combinação dos dois tipos de exercícios pode se dar tanto dentro de uma sessão de treinamento quanto dentro de ciclo semanal de treinamento. Como exemplo, hipotético, vamos pegar o pai do nosso aluno João da Silva, lá do Capítulo 1, Pedro da Silva. O Pedro tem 60 anos, 83 kg de massa corporal e 1,7 m de altura. O índice de massa corporal do Pedro será Uma das maneiras de se utilizar do TR para melhora na composição corporal e até mesmo reduzir os fatores de risco de doença cardiometabólica, é a utilização do chamado treino concorrente. 143 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 28,7 (kg/m2), ele está um pouco acima do peso para sua idade, é que diríamos se ele fosse nosso cliente, mas, na realidade, a classificação é sobrepeso e/ou pré-obesidade. Pois bem, o Pedro pode escolher o treino que será de treinamento aeróbio seguido pelo TR em dias intercalados por um dia de repouso, o treino dois que será o TR seguido pelo treinamento aeróbio, também em dias intercalados (ambos concorrente na mesma sessão) ou, ainda, o treino três que será treino aeróbio e TR em dias alternados (treino aeróbio dia um, TR dia dois, aeróbio dia três, TR dia quatro). Ao que parece de evidência na literatura, o treinamento concorrente é mais eficaz para mudanças na massa gorda quando realizado em dias diferentes (modelo três) (EKLUND et al., 2016; WILHELM; PINTO, 2019). Se quiser saber mais sobre o treinamento concorrente e os efeitos na composição corporal, acesse o trabalho de Fabrício Rossi e colaboradores, intitulado Efeitos do treinamento concorrente na composição corporal e taxa metabólica de repouso em mulheres na menopausa, através do link: https://bit.ly/2AK6ajN. Segundo Ciccolo e Kraemer (2014), podemos dizer que o TR é capaz de aumentar a massa magra em um ou dois kg em um protocolo com duração suficiente. O aumento de um kg na massamuscular deveria representar um aumento de 21 kcal por quilograma no gasto de energia em repouso, que é um indicador do dispêndio de energia diário. Aliado a isso, o TR auxilia na manutenção da massa muscular com o passar dos anos. Ainda, o TR pode diminuir o tecido adiposo visceral que está mais relacionado ao desenvolvimento de hipertensão, diabetes e doenças do coração. Ao que parece, uma duração de 16 semanas de TR já apresentaria tais efeitos. Infelizmente, existe pouca literatura discutindo os protocolos de TR para a perda de peso ou melhora da composição corporal, mas parece não haver diferença entre o treinamento de moderada intensidade (RML-hipertrofia), duas séries começando 20 RM e aumentando para oito RM comparado com o TR de baixa intensidade (duas séries de 30 RM) durante 20 semanas (DONNELLY et al., 2009). Por fim, segundo Donnelly et al. (2009), o posicionamento do ACSM é que o corpo de evidência para os efeitos do TR na obesidade e na perda de peso ainda é carente e o resultado do TR é modesto, aproximadamente 3% do peso corporal inicial. O TR pode aumentar a perda de massa gorda quando combinado com o exercício aeróbio, que é caso dos treinamentos em circuitos e treino concorrente que já mencionamos antes. De maneira geral, o TR em obesos pode ser da seguinte O TR pode diminuir o tecido adiposo visceral que está mais relacionado ao desenvolvimento de hipertensão, diabetes e doenças do coração. 144 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais forma: um volume semanal de 150-250 minutos e de intensidade moderada. Essa relação volume-intensidade deveria ser incrementada para um volume semanal maior que 250 minutos para perdas de peso significantes e de longo prazo. 2.2.3 Efeitos do treinamento resistido em pacientes de diabetes Da mesma forma como fizemos para a obesidade, vamos verificar alguns aspectos relacionados ao TR e aos portadores de diabetes ou resistentes à insulina. O diabetes tem sido considerado uma das principais doenças metabólicas e, na maioria dos casos, está associado à obesidade e/ou sobrepeso. Geralmente, indivíduos que são diabéticos também apresentam outras doenças metabólicas, como hipertensão ou colesterol (LDL) elevado (POWERS; HOWLEY, 2009; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Precisamos primeiro lembrar que resistência à insulina, diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2 são disfunções diferentes no organismo e, por isso, a prescrição do treinamento precisa levar isso em conta. Torna-se, também, necessário olharmos pelo menos os principais mecanismos relacionados à produção de insulina e ao controle da glicemia. FIGURA 9 – CONTROLE DA GLICOSE SANGUÍNEA FONTE: <http://www.cenapro.com.br/images/noticias/ Regulao_1.jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020. 145 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 A resposta hormonal do pâncreas está intimamente ligada ao controle dos níveis de glicose na corrente sanguínea. Os dois princi- pais hormônios responsáveis por este mecanismo de controle são a insulina e o glucagon, ambos secretados pelo pâncreas pelas célu- las beta e alfa, respectivamente, das ilhotas de Langerhans (MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014). Observe na Figura 9 que há um me- canismo de feedback negativo, ou seja, uma alta concentração de glicose estimula as células beta de Langerhans a produzirem insulina para a corrente sanguínea, podendo agir nos tecidos-alvo através de receptores específicos, mais à frente, falaremos do mecanismo de entrada da glicose na célula. A insulina também estimula o fígado a absorver a glicose que está “sobrando” no sangue e armazenar em forma de glicogênio. Por outro lado, se a glicose está baixa na corrente sanguínea, as células betas serão inibidas e as do tipo alfa estimuladas a produzir glucagon que agirá no fígado estimulando este último a fazer a glicogenólise (que- bra de glicogênio) e liberar glicose na corrente sanguínea (POWERS; HOWLEY, 2009; MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015). O conhecimento desse mecanismo fisiológico é muito importante ao se planejar a prescrição do treinamento nessa população, pois, aliado ao controle da ingestão de alimentos, evitar-se-á qualquer problema com risco de hipoglicemia ou hip- erglicemia. FIGURA 10 – ABSORÇÃO DA GLICOSE PELA CÉLULA A resposta hormonal do pâncreas está intimamente ligada ao controle dos níveis de glicose na corrente sanguínea. Os dois principais hormônios responsáveis por este mecanismo de controle são a insulina e o glucagon. FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-ma8vPybc-5c/VHUoAxSdLKI/AAAAAAAAAKs/ PHF1QsSXIpw/s1600/insulina-glicose.jpg>. Acesso em: 5 ago. 2020 Com dissemos anteriormente, a insulina se liga a receptores específicos nas células para sinalizar a entrada da glicose. A Figura 10 apresenta um esquema didático de como esses mecanismos acontecem. De forma resumida, podemos dizer que quando a insulina se liga a esses receptores (tirosina-cinase), uma casca- ta complexa de eventos ocorre, e por vias de segundo mensageiro os transporta- 146 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais dores de glicose (GLUT4 no músculo e no tecido adiposo) se movem para a membrana plasmática por exocitose e as células através do GLUT4 absorvem a glicose do líquido intersticial por difusão facil- itada (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2015; SILVERTHORN, 2017). Vale ressaltar que, na ausência de insulina, a atividade do GLUT4 na membrana é muito reduzida, mas, interessantemente, o tecido muscular esquelético quando exercitado não é dependente da ativi- dade da insulina, para que a glicose possa entrar na célula. Quando os músculos contraem, os transportadores GLUT4 são inseridos na membrana, mesmo na ausência de insulina (SILVERTHORN, 2017). Esse também é um mecanismo importante ao se pensar no contexto do treinamento pois, dessa forma, exercícios físicos poderão auxiliar no controle glicêmico mesmo para aqueles indivíduos que têm fal- ha na produção de insulina. Outra questão importante, é a capacidade do tecido adiposo em absorver glicose. Quando o consumo de açúcar (carboidrato) é alto, ocorre um pico de insulina no sangue buscando diminuir o “açúcar no sangue”, sinalizando tecidos-alvo a captar glicose e, por isso, quando estamos em repouso, o tecido adiposo também capta este “açúcar” transformando em gordura (adipóci- tos) no tecido adiposo, o que, em muitos casos, gera consequências graves para a saúde, como o sobrepeso. Agora que já passamos por esta breve descrição fisiológica do controle da insulina e da glicose no organismo, fatores diretamente ligados ao nosso assun- to de treinamento para diabéticos, vamos explanar sucintamente a tipologia da doença, ou seja, quais as diferenças entre resistência à insulina, diabetes do tipo 1 e do tipo 2. Resistência à insulina – Na resistência à insulina, a produção deste hormônio pelas células beta do pâncreas geralmente não está comprometida e os níveis de insulina produzidos no sangue são con- siderados normais, o que ocorre é uma maior resistência por parte das células aos efeitos deste hormônio. A resistência à insulina tam- bém é considerada como pré-diabetes e apesar de não apresentar sintomas, geralmente, está associada a altos níveis de triglicerídeos e LDL no sangue, pois como as células musculares e adiposas não conseguem absorver a glicose, elas metabolizam gorduras poden- do levar ao diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares (SILVERTHORN, 2017). O pré-diabetes clinicamente é considerado quando os níveis de glicose sanguínea em jejum estão elevados acima do normal (>100<125 mg/dl), mas ainda não o suficiente para considerar diabetes. É preciso dizer também que a síndrome metabólica muitas vezes é tratada como sendo resistência à insulina, mas de acordo com Silverthorn (2017), a síndrome me- tabólica deve ser considerada como a combinação dos fatores de propensãode Os transportadores de glicose (GLUT4 no músculo e no tecido adiposo) se movem para a membrana plasmática por exocitose e as células através do GLUT4 absorvem a glicose do líquido intersticial por difusão facilitada. O pré-diabetes clinicamente é considerado quando os níveis de glicose sanguínea em jejum estão elevados acima do normal (>100<125 mg/ dl), mas ainda não o suficiente para considerar diabetes. 147 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 pessoas com excesso de peso apresentar diabetes tipo 2, aterosclerose e pressão arterial alta. De acordo com o autor, o diagnóstico de síndrome metabólica se dá pela apresentação de pelo menos três desses critérios: obesidade (visceral) cen- tral, pressão arterial de 130/85 mmHg, glicose plasmática em jejum de 110 mg/ dl, níveis elevados de triglicerídeos no plasma em jejum e baixos níveis de HDL (High-Density Lipoprotein), lipídeos de alta densidade. Diabetes melito tipo 1 – É o tipo mais grave da doença, era também conhe- cido como diabetes dependente de insulina. Parece ter um fator hereditário impor- tante e se desenvolve rapidamente, em geral, antes dos 15 anos de idade. Uma resposta autoimune destrói as células beta no pâncreas e a insulina deixa de ser secretada. Pessoas com diabete do tipo I precisam aplicar injeções de insulina em diferentes momentos do dia, para o controle da glicose plasmática (MARIEB; WIL- HELM; MALLATT, 2014). Dois fatos interessantes são: nos casos de hiperglicemia no sangue, ocorre a diurese osmótica e poliúria que nada mais é que o aumento na quantidade de glicose na urina e o aumento da necessidade de urinar, o que pode levar à desidratação nesses sujeitos. Um dos sintomas do diabetes tipo 1 (e tipo 2 também) é a sede aumentada. O outro fator é que, como os neurônios do centro de saciedade são sensíveis à insulina, na ausência dela a glicose não é captada por este centro e com os níveis de glicose intracelular baixos, o centro au- menta a ingestão alimentar. Excesso de vontade de comer é um clássico sintoma associado ao diabetes tipo I não tratado (SILVERTHORN, 2017). Diabetes melito tipo 2 – O diabetes tipo 2 é o que ocorre na maioria dos casos (90%) e desenvolve-se mais lentamente, geralmente após os 40 anos de idade. Também conhecido como não dependente de insulina. O que ocorre no diabetes do tipo 2 é uma sensibilidade reduzida aos níveis do hormônio insulina. Indivíduos portadores deste tipo de diabetes geralmente produzem alguma quan- tidade de insulina. Este tipo é menos grave que o tipo I e pode ser normalmente controlado por modificações na dieta, nos hábitos alimentares (menor consumo de alimentos altamente calóricos, por exemplo) e pelo exercício regular. Se tais medidas não são suficientes, medicações orais são necessárias na busca de au- mentar os níveis de insulina ou diminuir os níveis de glicose no sangue. Nos casos mais extremos ou crônicos, injeções de insulina também são necessárias. Um fator importante a ser mencionado é que o TR ou exercícios com peso aumenta a atividade dos osteoblastos que são células responsáveis pela produção óssea. Os osteoblastos produzem um hormônio chamado osteocalcina e este hormônio estimula a secreção pancreática de insulina e induz os adipócitos a produzirem um hormônio para aumentar a sensibilidade das células à insulina auxiliando, assim, o controle glicêmico (MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014). 148 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Muito ainda poderia ser falado sobre os aspectos fisiológicos e diagnósticos do diabetes, as disfunções associadas e sua relação com outras doenças. Para efeitos didáticos, deixamos, aqui, nossa sugestão de leitura: Fisiologia humana: uma abordagem integrada, especialmente o capítulo 22 na parte de controle homeostático do metabolismo nas páginas 709 a 720. FONTE: SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Segundo a Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association – ADA), em um posicionamento realizado em 2010 com o ACSM sobre exercício e diabetes tipo 2, as evidências para os efeitos benéficos do TR no tratamento do diabetes tipo 2 ainda são de baixa qualidade metodológica ou inconclusivas (COLBERG et al. 2010). Na última década, esse corpo de evidência não foi tão alterado na literatura mundial, mas há resultados promissores recentes. O estudo de Liu et al. (2019) buscou analisar com uma meta-análise os efeitos da intensidade do TR (baixa a moderada ou alta intensidade) na hemoglobina glicada (HbA1c), insulina e glicose sanguínea em pacientes de diabetes tipo 2. Os autores concluíram que existem evidências adicionais de que o TR de alta intensidade tem maiores benefícios quando comparado ao treinamento de baixa a moderada intensidade, demonstrando atenuação da HbA1c e da insulina nesses pacientes. No estudo de Nery et al. (2017), foi realizado uma outra revisão (sistemática) na qual o objetivo foi de avaliar o efeito do TR comparado ao exercício aeróbio, sem o uso de insulina, nas respostas clínicas e metabólicas em pacientes com diabetes tipo 2. Esta revisão concluiu que, baseado em evidências de estudos (de baixa qualidade estatística e metodológica), o treinamento resistido comparado ao exercício aeróbio como protocolos com duração de pelo menos 12 semanas parece ser efetivo em promover melhoras no consumo máximo de oxigênio em pacientes de diabetes. Entretanto, a efetividade deste tipo de exercício no controle glicêmico e no perfil lipídico (HDL e triglicerídeos, por exemplo) ainda é inconclusiva. De maneira geral e mais conclusiva, é mais cauteloso ficar como o parecer da ADA mesmo sendo de 2010. Colberg et al. (2010) afirmam que, quanto aos efeitos agudos do TR em pré-diabéticos (glicose sanguínea >100 - < 125 mg/ dl), foi observado menores níveis de glicemia nas 24h após o treino com maiores reduções para o maior volume (séries múltiplas vs. Séries únicas) e maior intensidade (vigorosa vs. moderada). Quanto aos efeitos crônicos, as evidências 149 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 A prescrição do treinamento físico tem se tornado cada vez mais importante no combate à epidemia do sedentarismo. De maneira geral, foram vistos vários efeitos do treinamento resistido (TR) para os idosos e portadores de alguns tipos de doença não transmissível. Essas melhoras podem ser metabólicas ou sistêmicas. Sobre alguns dos benefícios para este público, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O TR é capaz de melhorar a ação da insulina em pacientes com diabetes tipo 2. ( ) O TR não é capaz de induzir aumentos na área de seção transversa do músculo em idosos. ( ) O TR gera mudanças no comprimento do fascículo e no ângulo de inserção do fascículo em idosos. ( ) O TR diminui a pressão arterial sistólica e diastólica em hipertensos de maneira moderada. ( ) O TR de maneira isolada é uma excelente estratégia para a melhora da composição corporal. já são mais promissoras e é possível dizer que o TR é capaz de reduzir os níveis de glicose no sangue, melhorar a ação da insulina e a oxidação de gorduras. O TR combinado ao exercício aeróbio pode trazer benefícios adicionais aos diabéticos e pré-diabéticos. As recomendações gerais são as mesmas para a população em geral (pelo menos 150 min por semana), mas diabéticos deveriam fazer TR numa frequência semanal de pelo menos duas a três vezes, em dias não consecutivos e de intensidade moderada (e.g., 50% de 1RM) a vigorosa (75-80% de 1RM). Cada sessão de treinamento deve incluir como volume de treino pelo menos cinco a dez exercícios para os maiores grupos musculares e com características de treinamento de hipertrofia, dez a 15 repetições próximas da fadigacom progressão para oito a dez repetições com o tempo. A progressão do treinamento deve ser lenta, com aumentos no peso ou resistência ocorrendo primeiro, mas somente após a verificação de que todas as repetições estão sendo feitas corretamente e a série completa facilmente, seguido por aumento nas séries de uma para três séries por exercício, e,assim, aumento na frequência semanal (CICCOLO; KRAEMER, 2014; COLBERG et al. 2010). Um ótimo objetivo para um planejamento de seis meses poderia ser três sessões semanais de três séries por exercício de oito a dez repetições a 75-80% de 1RM com oito a dez exercícios (COLBERG et al. 2010). O TR é capaz de reduzir os níveis de glicose no sangue, melhorar a ação da insulina e a oxidação de gorduras. 150 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F – F. b) ( ) V – F – V – F – F. c) ( ) V – F – V – V – V. d) ( ) V – F – V – V – F. 3 A PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO RESISITIDO PARA CRIANÇAS E GESTANTES Caro acadêmico, vamos entrar em um assunto, de certa forma, diferente do subtópico anterior. A partir de agora, trataremos do treinamento resistido para crianças na segunda infância (cinco anos até o início da puberdade) e na puberdade ou adolescência, período que termina com o final da maturação. Na outra parte deste subtópico, o assunto muda quase que completamente e entra na questão do TR para as mulheres no período de gestação, tanto pré-natal quanto pós-natal. A linha que une estes dois subtópicos é o TR para populações especiais. Particularmente, não gostamos muito deste termo, preferimos algo do tipo “treinamento para populações que precisam de algum cuidado especial e/ou diferenciado”. Além de muito longo, talvez não fosse o mais adequado, pois se pensarmos no princípio da especificidade do treinamento e no princípio da individualidade biológica principalmente, todos os indivíduos precisam de cuidados especiais e diferenciados. Para além da discussão da terminologia aqui, o que importa é que veremos as recomendações gerais quanto à prescrição do treinamento para esses públicos: crianças, adolescentes (ou pré-adolescentes) e gestantes. Novamente, buscaremos seguir na mesma linha de momentos anteriores neste livro, respondendo algumas perguntas básicas e essenciais na teoria e metodologia do Treinamento Esportivo, para quem? Com o quê? E para quê? Ou seja, mais detalhadamente podemos dizer o seguinte: quais as recomendações e cuidados gerais para cada um desses públicos na prescrição do treinamento? Como devo proceder na prescrição do TR especificamente para estes públicos? Quais os cuidados e o que evitar? Quais os principais benefícios do TR nestes públicos? Bom, nos próximos subtópicos, vamos tentar responder esses questionamentos da melhor maneira possível. 151 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 3.1 O PÚBLICO INFANTOJUVENIL Começaremos tratando dos aspectos que envolvem o TR para crianças até o final do período de maturação. Serão dois subtópicos, no primeiro trataremos do TR para crianças no período chamado de segunda infância e, no seguinte subtópico, vamos abordar o TR para o público adolescente, mais especificamente. Estes são os dois primeiros subtópicos que resolvemos chamar de “O TR e o público infantil” e “O TR e o público juvenil”. Como não é tão simples definir faixas etárias nesse período da vida, vamos seguir com a classificação proposta pelos autores Malina, Bouchard e Bar-Or (2004) que são muito bem conceituados e respeitados na área. Segundo os autores, os períodos etários durante o crescimento pós-natal são os seguintes: início da infância, pré-adolescência que contempla a primeira e a segunda infância e a adolescência. O início da infância é considerado o primeiro ano de vida, período de rápidas e grandes mudanças. A pré-adolescência é dividida entre a primeira infância, que vai desde o primeiro ano de vida até os cinco anos de idade, após essa fase, o indivíduo entra na segunda infância, que vai até o início da adolescência. A segunda infância em comparação aos dois estágios anteriores, é um período de progresso relativamente estável em crescimento físico, mas propício para o aprimoramento de diferentes qualidades físicas, como o equilíbrio e a agilidade. A adolescência é um período difícil de definir o começo e fim pelas mudanças fisiológicas que ocorrem de maneira variável e dependente do sexo, mas a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) define adolescência com o período que vai dez aos 18 anos de idade. Independente da faixa etária, sabe-se que durante a adolescência os sistemas corporais tornam-se adultos em funcionalidade e estrutura alcançando a maturidade biológica total (MALINA; BOUCHARD; BAROR, 2004). Acadêmico, você poderá verificar algumas no próximo LEO (indicação de leitura). Acreditamos que é importante termos uma visão de como ocorre o crescimento durante esta fase da vida. São diversas formas de se avaliar o crescimento, entre elas: o padrão-ouro é o método do raio X de dupla energia ou também conhecido como densitometria. De qualquer forma, o acompanhamento do crescimento em peso e estatura e dos segmentos corporais já nos dá uma boa ideia das alterações ficológicas que ocorrem nesse período em crianças e adolescentes. Os períodos etários durante o crescimento pós-natal são os seguintes: início da infância, pré-adolescência que contempla a primeira e a segunda infância e a adolescência. Independente da faixa etária, sabe- se que durante a adolescência os sistemas corporais tornam-se adultos em funcionalidade e estrutura alcançando a maturidade biológica total. 152 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Deixamos aqui algumas dicas de leitura para você conhecer mais do processo do crescimento durante a infância e a adolescência, bem como um melhor entendimento dos aspectos maturacionais. RÉ, A. H. N. Crescimento, maturação e desenvolvimento na infância e adolescência: implicações para o esporte. Motricidade, v. 7, n. 3, p. 55–67, 2011. ROWLAND, T. W. Fisiologia do exercício na criança. 2. ed. Barueri: Manole, 2008. (principalmente os dois primeiros capítulos). GRÁFICO 1 – CURVA DE VELOCIDADE DE CRESCIMENTO EM ESTATURA FONTE: <https://anglo.plurall.net/sites/default/files/imagens/compartilhadas/questoes/ unesp/2016/questao_075_268_15764_1004352_.png>. Acesso em: 5 ago. 2020. 153 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Olhando para a curva do Gráfico 1 de crescimento em estatura, é possível ter uma mínima noção das mudanças fisiológicas e quando ocorrem. A curva de velocidade de ganho de peso por ano segue um padrão semelhante. Geralmente, o estirão de crescimento ocorre entre os dez e 15 anos de vida e ocorre antes nas meninas (entre dez e 13 anos) em comparação aos meninos (12-15 anos). É preciso lembrar que existe o chamado pico de crescimento. Após o pico, ocorre a desaceleração do crescimento até atingir a maturação total, fechamento das epífises ósseas, por exemplo (ROWLAND, 2008). No entanto, sugerimos que você busque um maior e melhor conhecimento acerca do assunto para poder trabalhar e prescrever exercícios para este público em especial. Antes de entrarmos no assunto do TR para o público infantil propriamente dito, é preciso dizer que, nas diretrizes da WHO (2010), indivíduos na faixa etária dos cinco aos 17 anos deveriam acumular pelo menos 60 minutos de atividades físicas moderadas a vigorosas diariamente. Para esse grupo, atividades físicas incluem jogos, brincadeiras, esportes, transportes, recreação, educação física ou exercício físico planejado, no contexto familiar, escolar e nas atividades comunitárias. Os benefícios, de maneira geral, são a melhorada aptidão muscular e cardiorrespiratória, a saúde óssea, biomarcadores de saúde cardiovascular e metabólica e redução dos sintomas de depressão e ansiedade. Segundo as diretrizes, existe uma relação de dose-resposta, quanto maior as “doses” de atividade física, maiores seriam os benefícios nos indicadores de saúde metabólica e cardiorrespiratória, bem como uma maior chance desses indivíduos se tornarem ativos e saudáveis na vida adulta. O interessante para o nosso contexto, aqui, é a ênfase dada por esse órgão aos exercícios que fortaleçam os músculos e ossos, pelo menos três vezes por semana. Segundo a WHO (2010), tanto para crianças quanto para adolescentes a participação de atividades que exijam da musculatura, como o TR duas a três vezes por semana, melhoram significativamente a força muscular. Exercícios com suporte de peso podem impor uma carga saudável ao osso e aumentar a densidade e conteúdo mineral ósseo (RÉ, 2011). Esses exercícios podem ser planejados e incluídos em atividades como jogos, corridas, estafetas e saltos (WHO, 2010). Existe uma certa controvérsia e discussão sobre o uso de exercícios com pesos livres e halteres em pré-adolescentes e adolescentes, ou seja, o TR como conhecemos na sua forma mais tradicional para adultos. Por muito tempo se discutiu na literatura se o excesso de carga em um exercício poderia ser benéfico ou não para indivíduos com a sua estrutura óssea em formação com as crianças (RÉ, 2011). O que tentaremos abordar nos próximos dois subtópicos são as recomendações mais atuais do TR e como ele deve ser aplicado nesta população, começando por aqueles da segunda infância. Existe uma relação de dose-resposta, quanto maior as “doses” de atividade física, maiores seriam os benefícios nos indicadores de saúde metabólica e cardiorrespiratória, bem como uma maior chance desses indivíduos se tornarem ativos e saudáveis na vida adulta. 154 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais 3.1.1 O TR e o público infantil “É um erro grave submeter crianças aos programas de treinamentos dos adultos. Afinal de contas, crianças não são simplesmente adultos em miniatura”. Com essa frase dita pelo Dr. Tudor Bompa, especialista em Treinamento Desportivo, começamos abordar esse assunto. Colocamos também para a reflexão a frase de Vrijens: “parece que o desenvolvimento da força está intimamente relacionado à maturação sexual. Portanto, o treinamento específico da força pode somente ser eficaz na idade pós-púbere” (VRIJENS, 1978 apud ROWLAND, 2008, p. 152). Resolvemos colocar essas duas declarações, pois ainda se discute sobre os possíveis benefícios e malefícios do TR em crianças. Podemos dizer que há basicamente duas linhas ou correntes de pensamento, aqueles como Virgilio (2015) que, para sermos claros, didaticamente chamaremos de “conservadores”, pois seguem, de certa forma, o princípio apontado por Vrijens e preferem não realizar o TR resistido nessa faixa etária. As próprias recomendações da WHO (2010) para o fortalecimento muscular de crianças podem se encaixar no “partido conservador”. Virgilio (2015) chega a afirmar que prefere utilizar o termo aptidão muscular, pois as crianças não devem realizar exercícios relacionados à força. Segundo ele, diante do perigo de lesões por uso excessivo, tensão nas principais articulações e desequilíbrio muscular, crianças nessa idade deveriam realizar exercícios de aptidão muscular utilizando principalmente o peso do próprio corpo em jogos, brincadeiras e estafetas planejadas pelo professor para o desenvolvimento dessa aptidão. Por outro lado, tem os que chamaremos, didaticamente, de “democratas”, pois entendem o TR como outra possibilidade de prática de exercícios para crianças pré-púberes com exercícios sistematizados, planejados e supervisionados para o ganho de força muscular. Rowland (2008) seria um dos autores nessa linha, ele chega a afirmar que Vrijens, hoje, provavelmente se arrependeria de suas palavras, e que nas últimas décadas houve um grande número de pesquisas mostrando, de forma convincente, que tanto meninos quanto meninas em idade pré-púbere são capazes de melhorar a força com o TR. “É um erro grave submeter crianças aos programas de treinamentos dos adultos. Afinal de contas, crianças não são simplesmente adultos em miniatura”. Com essa frase dita pelo Dr. Tudor Bompa. 155 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Eu (Paulo Cesar do Nascimento Salvador), como um dos autores deste livro, gostaria de expressar minha opinião nesse sentido. Particularmente, acredito que seria do “partido conservador” e prefiro pensar no treinamento físico para crianças no período da segunda infância, seja ele resistido/força, aeróbio ou anaeróbio ou para qualquer outra qualidade física, a partir de jogos estruturados, atividades recreativas pensadas e planejadas para alcançar um objetivo traçado, como no caso específico, ganhos na capacidade musculoesquelética e na saúde muscular e óssea de crianças. No entanto ressalto que é a minha opinião, baseada nas minhas experiências e forma de ver a prescrição do treinamento e, também não me posiciono contra a prescrição do TR na sua forma mais sistematizada para pré-púberes, desde que seja baseado em evidências científicas, com rigor metodológico e prezando acima de tudo pela saúde global e a longo termo dos praticantes. Há ainda outros autores “democratas” que trazem indicações e/ou sugestões de como montar, planejar ou prescrever o TR em crianças. Vamos ver o que dizem os estudos de Faigenbaum (2014) e Malina (2006) quanto a essa temática. De acordo com Faigenbaum (2014), apesar das preocupações de pais e da sociedade em geral sobre se o TR seria ineficiente ou com potencial de lesões para indivíduos na idade escolar, a segurança e a eficácia do TR para esta população e na atualidade muito bem documentada e o aceite do TR para crianças e adolescentes por órgãos competentes da saúde e da medicina esportiva, tem sido ampla. Segundo os autores supracitados, o risco de lesão para o TR na infância e adolescência, prescrito de acordo com as diretrizes apropriadas e sob supervisão profissional, é baixo. Além disso, parece não haver evidência de que o TR pode prejudicar o crescimento das cartilagens durante a infância. Na verdade, já em 2006, um dos mais conceituados autores na área do treinamento esportivo, crescimento e maturação, o PhD. Robert Malina afirmou que os protocolos de TR com pesos e máquinas e com supervisão, são relativamente seguros e não impactam negativamente o crescimento e a maturação de pré- e púberes indivíduos. Programas experimentais com exercícios isotônicos em máquinas ou com pesos livres, duas ou três vezes por semana, por períodos de oito a 12 semanas de treinamento, tem demonstrado melhoras significantes na força muscular na infância. Esses protocolos não apresentaram mudanças (ou alterações pequenas) no crescimento em estatura, peso e na A segurança e a eficácia do TR para esta população e na atualidade muito bem documentada e o aceite do TR para crianças e adolescentes por órgãos competentes da saúde e da medicina esportiva, tem sido ampla. 156 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais composição corporal para pré-púberes, apresentando um baixo risco de lesão (MALINA, 2006). É preciso acrescentar a essa argumentação que muitos estudos quando, tratam do TR para o público infantil, ou são estudos com crianças por volta dos dez anos de idade ou mais (nove a 13 anos) ou são revisões falando do TR para pré-púberes, mas sempre considerando estes estudos. Um dos autores muito respeitado na área, o PhD Avery Faigenbaum, vem há muitos anos buscando estudar o efeito do TR em crianças mais jovens (sete a dez anos). Ele, inclusive, é o autor principal do posicionamento da National Strength ConditioningAssociation (Associação Nacional de Força e Condicionamento – NSCA) dos EUA sobre o TR para esse público, afirmando que o TR é benéfico de diversas maneiras nessa parcela da população, sugerindo o uso de exercícios em máquinas e com pesos (FAIGENBAUM et al., 2009). Vamos olhar as recomendações desse autor, para o TR em crianças na idade dos sete aos dez anos de idade (em conjunto com Westcott), no seu livro intitulado Youth strength training programs for health, fitness and sport (Programas de treinamento de força em jovens, para a saúde, desempenho e esportes, numa tradução própria). Segundo o livro, embora treinos mais pesados ou difíceis possam produzir melhores resultados, com meninos e meninas dos sete aos dez anos de idade, é sugerido trabalhos com sessões de treinamento curtas e números de repetições mais altas (dez aos 15) com cargas moderadas pelo menos durante as primeiras semanas de treinamento. Ainda, é sugerido o condicionamento da maioria dos principais grupos musculares com uma frequência semanal de duas a três vezes (FAIGENBAUM; WESTCOTT, 2009). QUADRO 2 – EXEMPLOS DE EXERCÍCIOS PARA O TR COM CRIANÇAS. Com meninos e meninas dos sete aos dez anos de idade, é sugerido trabalhos com sessões de treinamento curtas e números de repetições mais altas (dez aos 15) com cargas moderadas pelo menos durante as primeiras semanas de treinamento. Exercícios com máquinas apropriadas Exercício Exemplo de músculos trabalhados Séries/repetições Leg press, cadeira exten- sora/flexora, supino, rema- da, lombar e abdominal Quadríceps, glúteos, latíssimo do dorso e eretor espinhal 1-2/10-15 Exercícios com halteres Agachamentos, afundos/ avanço, step Quadríceps, glúteos, panturrilhas 1-2/10-15 Supino, remada unilateral, elevação de ombros, lom- bar e abdominal Peitoral, deltoide, tríceps/bíceps, latíssimo do dorso e eretor espinhal, reto abdominal 1-2/10-15 (para ab- dominais e lombar tantas repetições quanto possíveis de maneira confortável) 157 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Exercícios com medicine ball Os mesmos listados para a realização com halteres adaptados ao uso da bola Quadríceps, glúteos, panturrilhas, peitoral, deltoide, tríceps/bíceps, latíssimo do dorso e eretor espinhal, reto abdominal 1-2/10-15 FONTE: Adaptado de Faigenbaum e Westcott (2009, p. 181) Faigenbaum e Westcott (2009) ressaltam que um dos fatores chaves do TR nessa faixa etária é a supervisão profissional e que é preciso que os profissionais envolvidos lembrem que é necessário assistir à criança no desenvolvimento da técnica correta do movimento, progressos graduais em níveis de dificuldade e no entendimento do conceito e dos benefícios do TR. É possível ainda que o TR seja realizado com máquinas apropriadas para o tamanho desses indivíduos, ou com pesos livres e halteres, também com medicine balls ou com elásticos ou o próprio peso corporal. Na Quadro, 2 tentamos resumir essas recomendações. Por fim, é preciso dizer que em aulas de educação física pode ser mais apropriado desenvolver circuitos cujas crianças devem realizar uma série de exercícios de força e/ou levantamento de peso ao redor da quadra esportiva, por exemplo, com diferentes estações. Um circuito de desempenho pode incluir exercícios com halteres, medicine balls, elásticos ou o próprio peso corporal. Sucintamente, podemos dizer que as sugestões práticas para a prescrição do TR em crianças são: frequência semanal de duas a três vezes, com o volume de treino considerando a maioria dos principais grupos musculares em sessões de treinamento curtas de uma a duas séries de dez a 15 repetições com intensidade moderada, usando o peso corporal ou pesos leves ou resistências elásticas (FAIGENBAUM; WESTCOTT, 2009). 3.1.2 O TR e o público juvenil Vamos dar continuidade ao assunto numa mesma linha de pensamento e raciocínio do subtópico anterior. Basicamente, o que queremos dizer é que vamos continuar a reflexão sobre a maneira e como o TR deve ser feito com adolescentes e quais os possíveis benefícios advindos da prática. Como o corpo de literatura dentro deste tema em específico já é maior, para não sermos repetitivos e mantermos o foco no objetivo principal dessa assertiva (o TR durante a puberdade), vamos direto ao assunto. De maneira bem suscinta, podemos dizer que da mesma forma quanto ao TR em crianças, existem basicamente dois grupos de pesquisadores/profissionais que se dividem entre aqueles que acreditam na prescrição do TR de maneira sistematizada e similar aos programas de adultos e aqueles que pensam no desenvolvimento das valências físicas de força e potência muscular através de outras atividades. 158 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Vale a pena lembrar que quando tratamos do TR de maneira mais tradicional, as variáveis do programa agudo que devem ser consideradas quanto ao planejamento do treinamento incluem: 1) escolha da ordem dos exercícios; 2) intensidade do treinamento; 3) volume do treinamento; 4) intervalo de recuperação; e 5) a velocidade da repetição (FAIGENBAUM, 2014). De maneira geral, Faigenbaum (2014) coloca as seguintes recomendações para o TR com jovens: • instrução e supervisão qualificada; • garantia de que o ambiente de treinamento é seguro e livre de perigos; • foco no desenvolvimento da técnica apropriada; • desempenho de uma a três séries de seis a 15 repetições para os exercícios de força; • realização de uma a três séries de seis ou menos repetições para potência muscular; • realização de exercícios para todas as partes do corpo; • incluir exercícios que requeiram equilíbrio e coordenação; • frequência semanal de duas a três vezes por semana em dias não consecutivos; • manter o programa desafiador usando variações sistemáticas. FIGURA 11 – TREINAMENTO RESISTIDO EM ADOLESCENTES As variáveis do programa agudo que devem ser consideradas quanto ao planejamento do treinamento incluem: 1) escolha da ordem dos exercícios; 2) intensidade do treinamento; 3) volume do treinamento; 4) intervalo de recuperação; e 5) a velocidade da repetição. FONTE: <https://rocklandpeakperformance.com/2014site/wp-content/uploads/2019/09/ Youth-Training-Top-Joint-1-768x499.png>. Acesso em: 5 ago. 2020. 159 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 É importante lembrar que o pico de incidência de fraturas ocorre entre os 12 e 14 anos para os meninos e precede o pico de velocidade em estatura ou o estirão de crescimento. Uma maior taxa de fraturas parece ser devido a uma falha na parte cortical do osso e problemas na mineralização óssea quando comparado ao crescimento normal ósseo. Portanto, controlar a resistência usada durante o TR entre as idades dos 12 e 14 anos, torna-se de suma importância. A mesma linha de evidência pode ser aplicada para as garotas na idade entre os dez e 13 anos (ZATSIORSKY; KRAEMER, 2006). Segundo Zatsiorsky e Kraemer (2006), no TR traumas agudos pode ser a causa de problemas na lombar em adolescentes tanto quanto em adultos. Esses traumas podem ser causados pelo levantamento de cargas máximas ou próximas do máximo e o desempenho de muitas repetições. Segundo eles, em muitos casos, problemas nas costas são associados à forma inadequada de desempenhar exercícios, como agachamento ou levantamento terra e recomendam desempenhar esses exercícios na posição ereta usando as pernas o máximo possível. Outro ponto importante que precisamos destacar, é que o período próximo da puberdade, ou seja, durante o estirão de crescimento o qual é muito difícil de dizer quando começa e termina, não é apenas um momento de crescimento em peso e estatura. Muitas outras mudanças fisiológicas ocorrerão, como alterações hormonais, maturidade óssea, maturidade no sistema reprodutivoe mudanças emocionais, só para citar algumas. A maturação tem sido definida como o progresso para a vida adulta. Todas essas alterações afetarão a maneira de como o TR deve ser aplicado e prescrito para essa população, entre outros, como o potencial genético, os aspectos nutricionais e a qualidade do sono (MALINA, 2006; ZATSIORSKY; KRAEMER, 2006; ROWLAND, 2008; FAIGENBAUM; WESTCOTT, 2009). Além disso, algo que diferenciará totalmente a maneira como o TR será prescrito é o objetivo principal do indivíduo envolvido. Nesta idade, é comum que muitos adolescentes estejam envolvidos em práticas esportivas e muitos estarão em um momento da vida no qual serão direcionados ou não ao esporte de alto rendimento ou recreacional. Assim, a prescrição e a prática dos exercícios vão ser totalmente dependente do desenvolvimento e desempenho que se quer alcançar, para manutenção ou ganhos na saúde dos indivíduos ou desempenho atlético. Um fator importante a ser lembrado é a diferença entre a idade cronológica e biológica. Cada indivíduo terá um ritmo de crescimento biológico que pode ser parecido com o cronológico ou não. Nesse caso, normalmente eles são classificados como maturação precoce, maturação tardia ou normomaturos (MALINA, 2006; RÉ, 2011). A maturação normomatura é quando a idade biológica (esquelética) é similar à idade cronológica (geralmente num intervalo -1 ano e +1 Controlar a resistência usada durante o TR entre as idades dos 12 e 14 anos, torna-se de suma importância. A mesma linha de evidência pode ser aplicada para as garotas na idade entre os dez e 13 anos. A maturação tem sido definida como o progresso para a vida adulta. 160 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Se você quiser saber mais sobre os estágios de crescimento, as maneiras e métodos de como avaliar estes estágios e dicas de prescrição do treinamento para crianças e jovens, recomendamos a leitura do livro da Uniasselvi intitulado Treinamento desportivo em educação física, especialmente o Capítulo 3. Você pode conseguir ele facilmente em seu polo e/ou entrando em contato conosco. FONTE: SALVADOR, P. C. do N.; SALVADOR, A. F.; TEIXEIRA, A. S. Treinamento desportivo em educação física. Indaial: Uniasselvi, 2017. ano), a maturação precoce ocorre antes da cronológica e a tardia ocorre depois, tendo como referência o pico de crescimento. A prescrição do TR precisa levar em conta os aspectos maturacionais e ser planejada e diferenciada para cada um dos estágios de crescimento, principalmente respeitando o crescimento biológico. Levando em consideração tudo o que foi abordado até agora quanto ao TR com jovens, como a necessidade supervisão adequada, o cuidado com o risco de lesões com um planejamento de volume e intensidade correta, os aspectos maturacionais e a idade biológica, é preciso, ainda, lembrar que a recuperação dos estímulos é muito importante. Uma vez que os diferentes componentes da aptidão física vão melhorando durante a infância e adolescência. Como resultado natural do desenvolvimento biológico, um fator chave na estruturação e planejamento de qualquer programa de TR, é equilibrar as demandas do treinamento com a necessidade para a recuperação entre os diversos estímulos (TEIXEIRA, 2017). Fleck e Kraemer (2014) dividem as recomendações gerais do treinamento para o público juvenil em três faixas etárias: • 11 a 13 anos – Ensine as técnicas básicas de todos os exercícios; continue progredindo lentamente a carga de cada exercício; dê ênfase nas competências técnicas; introduza exercícios um pouco mais avançados com pouca ou nenhuma resistência. • 14 e 15 anos – Progrida para programas de treinamento de força de nível intermediário; adicione componentes específicos ao esporte praticado pelo adolescente; aumente o volume e intensidade gradualmente. • 16+ anos – Entre em programas de treinamento de força mais avançados após adquirir as competências técnicas necessária nos estágios anteriores. 161 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Próximo ao estirão de crescimento, adolescentes experimentarão rápidos ganhos no crescimento dos membros e, às vezes, de maneira desproporcional, o que pode levar a desconforto e falhas momentâneas na coordenação motora. Assim, o primeiro foco do TR deve ser no aprendizado da técnica correta de execução dos movimentos, após o pico de crescimento, em que ocorre também um aumento da massa muscular, é possível progredir com sessões de treino com incrementos na sobrecarga em cada exercício (FAIGENBAUM; WESTCOTT, 2009; LLOYD et al., 2014; TEIXEIRA, 2017). De maneira geral, podemos resumir as sugestões práticas para a prescrição do TR em adolescentes da seguinte forma: frequência semanal em torno de três vezes em dias alternados; o volume de treino deve ser de uma a três séries com seis a 15 repetições com oito a 12 exercícios por sessão, para os diferentes grupos musculares com exercícios de cadeia cinética aberta e fechada mono e multiarticulares. A intensidade deve ser de baixa a moderada no início de um programa de treinamento, para o aprendizado da técnica principalmente, ir progredindo conforme as adaptações ocorram e de acordo com o processo de crescimento natural do indivíduo (FAIGENBAUM; WESTCOTT, 2009; FLECK; KRAEMER, 2014; LLOYD et al., 2014; TEIXEIRA, 2017). Sobre os aspectos relacionados ao TR para público juvenil, poderíamos nos aprofundar nas questões maturacionais, nos aspectos fisiológicos, na prescrição para diferentes parcelas da população adolescente como os atletas e/ou adolescentes obesos ou com alguma DCNT. No entanto, acreditamos que didática e suscintamente abordamos alguns dos principais pontos para que os profissionais que lerem este material possam através das fontes utilizadas e sugeridas se aprofundar nestes diversos aspectos. Por fim, vale a pena lembrar que o uso do TR de maneira correta e supervisionada com crianças e adolescentes pode trazer diversos benefícios na saúde e nas habilidades físicas desses indivíduos, como: melhora na composição corporal e diminuição do risco de desenvolver obesidade ou outras DCNT metabólicas e cardiovasculares; fortalecimento muscular, melhoras na saúde óssea e na mineralização óssea; desenvolvimento de qualidades físicas como agilidade, equilíbrio e coordenação motora, aprimoramento na performance motora e gerar um estilo de vida ativo que pode perdurar para a vida adulta (WHO, 2010; LLOYD et al., 2014). Assim, o primeiro foco do TR deve ser no aprendizado da técnica correta de execução dos movimentos, após o pico de crescimento, em que ocorre também um aumento da massa muscular, é possível progredir com sessões de treino com incrementos na sobrecarga em cada exercício. 162 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais No final deste tópico, gostaríamos de expressar nossa opinião em forma de reflexão a todos nós da área. Será que o treinamento resistido (na forma de treino de musculação) é a melhor opção para melhorar a aptidão muscular de crianças e adolescentes? Será que não existem outras atividades esportivas como as lutas, rúgbi, futebol americano, natação, entre outros, que envolvam as qualidades físicas de força, velocidade, potência muscular, agilidade e coordenação que poderiam de uma maneira mais motivacional envolver esta população? Será que estas atividades supracitadas não trariam os mesmos ou melhores benefícios que o TR propriamente dito? Deixaremos estas perguntas para a reflexão dos profissionais que queiram trabalhar com este público em especial. Afinal, muitos profissionais da Educação Física trabalharão em escolas ou clubes com crianças e adolescentes, por exemplo, ou aqueles profissionais da saúde de outras áreas além da Educação Física, que queiram trabalhar com o público infantojuvenil precisarão refletir sobres estes aspectos.3.2 O PÚBLICO GESTANTE Neste subtópico, temos como objetivo principal tratar do TR para as gestantes nos diferentes períodos da gestação, os possíveis efeitos e benefícios do TR evidenciados na literatura durante a gravidez para as mulheres e na saúde do bebê. Essa é uma fase bastante peculiar na vida de uma mulher e por que não dizer de uma família, não é mesmo? A mulher grávida passa por muitas alterações fisiológicas no seu corpo que acabam influenciando ou sendo influenciadas pelos diferentes sistemas do organismo. São mudanças no sistema hormonal, na composição corporal, no trabalho cardiovascular e no sistema circulatório, entre várias outras que ocorrem. Todo o corpo trabalha e se ajusta para o desenvolvimento da nova vida. Algumas perguntas que podemos fazer inicialmente são: como podemos contribuir para que este estágio de grandes mudanças na vida de uma mulher seja o mais saudável possível? Como profissionais da área da saúde, o que podemos fazer para atingir estes objetivos? Como podemos trabalhar na prescrição do treinamento para gestantes prezando a saúde da mulher, bem como a segurança 163 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 e desenvolvimento saudável do bebê? Estas e outras perguntas são fundamentais quando formos elaborar o planejamento do TR para esta população. FIGURA 12 – TREINAMENTO RESISTIDO PARA GESTANTES FONTE: <https://bit.ly/33u0Mh3>; <https://bit.ly/39ZgtOr>. Acesso em: 5 ago. 2020. Vale a pena lembrar que a prática de exercícios físicos de intensidade leve e moderada pode e deve ser realizada por grávidas saudáveis. Existem diversos benefícios da prática regular de exercícios físicos na saúde da mulher e não há evidências de malefícios na saúde do feto/recém-nascido (POWERS; HOWLEY, 2009). No entanto, existem dados preocupantes quando se trata de exercícios regulares durante a gestação. A grande maioria das mulheres tornam-se inativas fisicamente ou até mesmo sedentárias quando estão grávidas. Evidências demonstraram que quase todas as mulheres deixam de praticar exercícios físicos em algum momento da gravidez (NASCIMENTO et al., 2014). É preciso dizer que na literatura há uma grande recomendação para a prática de exercícios aeróbios durante a gravidez. Na maioria dos casos, a recomendação é de exercícios de caminhada e natação. Outros tipos de exercício na água (hidroginástica, por exemplo), ciclismo estacionário (na bicicleta ergométrica) e até mesmo corridas são recomendados. Há também a recomendação quanto ao que não se deve fazer, nesse caso, os exercícios de alta risco de queda ou perda do equilíbrio, atividades esportivas com riscos de queda ou de contato corporal forte e trauma abdominal, por exemplo, esportes com bola e as ginásticas (NASCIMENTO et al., 2014; SZUMILEWICZ et al., 2019). No entanto, o Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras (ACOG, 2020) coloca que o exercício físico regular é um importante componente para a saúde física durante a gestação. Mulheres fisicamente ativas ou atletas antes da gravidez são estimuladas a continuar com os exercícios físicos e as outras mulheres são encorajadas a iniciar a prática de exercícios físicos seguros. Entre os benefícios, a ACOG (2020) lista a diminuição de diabetes gestacional, nascimento por cesariana ou parto vaginal operatório, ganho de peso gestacional excessivo, hipertensão gestacional, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e o tempo de recuperação pós- 164 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Quanto ao treinamento resistido na gravidez, vamos fazer a leitura do que diz Nascimento et al., (2014) sobre os aspectos gerais. O possível benefício do fortalecimento muscular é a manutenção do condicionamento muscular ou o aumento de força muscular global, permitindo melhor adaptação do organismo materno às alterações posturais provenientes da evolução gestacional e contribuindo para a prevenção de traumas e quedas, bem como para a prevenção e o tratamento de desconfortos musculoesqueléticos. O fortalecimento deve priorizar a musculatura paravertebral lombar, a cintura escapular e, preferencialmente, envolver grandes grupos musculares. Deve-se preferir, como critério de escolha, utilizar o próprio peso corporal e faixas elásticas no lugar de aparelhos de musculação ou pesos livres. Deve-se também evitar cargas elevadas, exercícios isométricos intensos repetidos e posturas que coloquem a gestante em risco, principalmente aquelas que possam afetar seu equilíbrio. Os exercícios de resistência muscular devem ser adaptados com muito cuidado a cada período gestacional. Alguns exemplos de exercícios de resistência muscular que as gestantes podem realizar são: Yoga, Pilates, musculação com cargas leves, treinamento funcional e treino com circuito. Vale ressaltar que existem pouquíssimos estudos avaliando algumas das práticas citadas anteriormente, como o Pilates e o treinamento funcional, no entanto, levando-se em conta todos os cuidados recomendados para o período e uma prática supervisionada por profissional capacitado muitos deles poderão ser bem adaptados para os interesses da gestante. parto. A atividade física regular também aumenta as chances de parto normal e é considerada por este órgão como um fator essencial na prevenção de desordem depressiva pós-parto. No entanto, salienta- se que certas mudanças nas rotinas de treino precisam ser feitas por causa das mudanças anatômicas e fisiológicas na mulher e pelas necessidades do feto. Agora, acadêmico, o que podemos dizer quanto ao treinamento resistido no período da gestação? Vejamos estas primeiras informações básicas de acordo com Nascimento et al., (2014). No entanto, salienta-se que certas mudanças nas rotinas de treino precisam ser feitas por causa das mudanças anatômicas e fisiológicas na mulher e pelas necessidades do feto. 165 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Um estudo aleatorizado que incluiu 160 gestantes, no qual 80 realizaram treino de resistência muscular leve (dez a 12 repetições envolvendo vários grupos musculares, com pesos leves, ≤3 kg ou faixas elásticas) três vezes por semana, durante o segundo e o terceiro trimestres da gestação, não revelou diferença em relação ao peso do RN e mostrou que aquelas gestantes que participaram do treino de fortalecimento muscular tiveram menor ganho de peso gestacional. FONTE: NASCIMENTO, S. L. et al. Recomendações para a prática de exercício físico na gravidez: uma revisão crítica da literatura. Revista Brasileira de Ginecologia Obstetrícia, Rio de Janeiro, v. 36, n. 9, p. 423-431, 2014. Duração da sessão 30-60 minutos Frequência semanal Três a quatro vezes até, diariamente Intensidade Menor que 60-80% da frequência cardíaca máxima predi- ta para a idade (sugerido não ultrapassar 140 bpm) Ambiente Controlado ou termoneutro (evitar exposição prolongada ao calor) Percepção de esforço Intensidade moderada (12-14 na escala de Borg de 20 pontos) Quando parar? Até o nascimento (ou até quando tolerar) QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DE REGIME DE EXERCÍCIO DURANTE A GRAVIDEZ. FONTE: Adaptado de ACOG (2020, p. 183) Estimado acadêmico, no quadro anterior, vimos as sugestões gerais para a prescrição do treinamento seja ele resistido ou não, de acordo com as recomendações do ACOG (2020). É preciso lembrar também determinados cuidados, segundo Powers e Howley (2009), quanto aos aumentos da temperatura corporal durante o exercício, principalmente na região do ventre, por isso a recomendação de prática em ambientes com temperatura controlada e hidratação adequada. Outros cuidados, segundo os autores, é não realizar exercícios até a exaustão e a fadiga, pois é preciso lembrar que a oxigenação e a entrega de nutrientes para o feto precisam ser mantidas e, nos exercíciosde alta intensidade com a redistribuição do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo, isso pode ficar comprometido. Ainda, embora a Aos aumentos da temperatura corporal durante o exercício, principalmente na região do ventre, por isso a recomendação de prática em ambientes com temperatura controlada e hidratação adequada. 166 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais frequência cardíaca seja indicada para controlar a intensidade do exercício a PSE pode ser uma ferramenta mais segura e adequada (POWERS; HOWLEY, 2009). É preciso ressaltar sempre que o ideal é que o treinamento seja realizado sob a supervisão de um profissional da área bem preparado e capacitado para trabalhar com este público. Olhemos para algumas contraindicações relacionadas à prática de exercícios de gestantes no quadro a seguir. QUADRO 4 – CONTRAINDICAÇÕES PARAO EXERCÍCIO DURANTE A GESTAÇÃO Contraindicações absolutas Contraindicações relativas Doença cardíaca Anemia Doença pulmonar restritiva Arritmia cardíaca Incompetência istmo-cervical Bronquite Gestação múltipla Diabetes não controlado Sangramento durante a gestação Hipertensão Placenta prévia Epilepsia Trabalho de parto prematuro Obesidade extrema ou desnutrição Ruptura prematura da membrana Fumantes em excesso FONTE: Adaptado de Nascimento et al. (2014, p. 425) Apesar disso, de acordo com o documento de recomendações mais recente da ACOG (2020), a maioria das mulheres grávidas podem e devem se exercitar durante e após o período de gestação, são poucas as condições médicas em que realmente o exercício é totalmente contraindicado. Ainda, de acordo com este documento, não há evidências de que o descanso e a restrição de atividades físicas sejam saudáveis para gestantes e não deveriam ser recomendadas. Agora, vamos olhar um pouco mais especificamente as questões relacionadas diretamente com o TR. Em um interessante documento de posição do órgão de Medicina Esportiva da Austrália (HAYMAN et al., 2016), eles atestam que mulheres fisicamente inativas antes da gestação, deveriam iniciar cuidadosamente o treinamento durante a gravidez, com atividades com características mais aeróbias (como caminhadas, por exemplo), sempre acompanhadas de prescrição médica e, de preferência, sob os cuidados de um profissional da área da saúde. No entanto, para aquelas mulheres saudáveis que eram fisicamente ativas antes de engravidarem, o aconselhamento é que continuem os treinamentos até o momento que se torne desconfortável para fazer. Segundo os autores supracitados, o TR pode ocorrer numa frequência semanal de duas vezes com intensidades submáximas, usando o peso corporal, pesos leves ou resistências elásticas. O programa deve considerar todos os grandes grupos musculares, com uma série de 12-15 repetições para oito a dez exercícios (HAYMAN et al., 2016). Não há evidências de que o descanso e a restrição de atividades físicas sejam saudáveis para gestantes e não deveriam ser recomendadas. 167 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 Outro documento que nos serve como guia para o TR na gestação é o posicionamento do Fitness Austrália (2013) produzido pelos experts Dianne Edmonds, Denise Furness e Lisa Westlake. Neste documento, vemos que o aquecimento e o volta à calma são enfatizados para serem realizados para evitar problemas na circulação sanguínea. De maneira geral, o TR deveria focar no fortalecimento da musculatura postural, do core e do assoalho pélvico. Exercícios de posição supina devem ser trocados por aqueles de quatro apoios, em bolas de ginásticas ou laterais. Exercícios que imponham significante carga sobre a musculatura abdominal ou assoalho pélvico como o exercício abdominal e as pranchas devem ser evitados. O Fitness Austrália (2013) ainda traz algumas recomendações quanto ao treinamento no período pós-natal. No período de zero a três semanas deve-se focar em exercícios do assoalho pélvico e fortalecer os músculos internos do abdômen. Até a sexta semana é recomendado que as mulheres se aconselhem com seu médico sobre a volta aos treinamentos normais. Da terceira a oitava semana é possível fazer exercícios para manter a postura, com pesos leves e sem prender a respiração. Da oitava a 12ª semana é possível aumentar o peso e/ou a intensidade, também progredir no fortalecimento do core e do assoalho pélvico. Hayman et al. (2016) trazem também um posicionamento quanto ao treinamento do assoalho pélvico durante o período pré/pós-natal. Segundo os autores, há fortes evidências de que este tipo de exercício fortalece os músculos do períneo, ajudando a suportar as estruturas pélvicas como a uretra, vagina e o reto. Esses exercícios consistem em movimentos voluntários para frente e para traz contraído o assoalho pélvico com repetidas contrações. Um típico programa de treinos prescrito para essa musculatura pode ser (HAYMAN et al., 2016): • Frequência: pelo menos oito a 12 contrações três vezes ao dia, três a quatro vezes por semana. • Intensidade: é encorajado a realização de contrações máximas com movimentos para dentro e para cima. • Tempo: variar a duração de quatro a 30 s com a uma mistura de movimentos lentos e controlados e contrações rápidas e descontroladas. • Tipo: posição sentada com o peso para frente (mãos nos joelhos) e sentada ereta para recrutar tanto os músculos anteriores quanto os posteriores. Pode ser feito também em pé, com as pernas semiflexionadas e afastadas e lateralmente deitada. Por fim, segundo Szumilewicz et al. (2019), a maioria dos documentos atuais apenas tratam da importância da realização do TR durante o período de gestação. Poucos tratam da necessidade de atenção na técnica correta. Alguns abordam sobre a necessidade de cuidar com a perda de equilíbrio e agilidade, evitar prender a respiração por conta da manobra de Valsava e evitar 168 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais Para saber mais sobre as nuances do treinamento no período pré-natal e pós-natal, fica a dica do artigo de Simony Lira do Nascimento e colaboradores (2014) que reúne uma ampla gama de recomendações em uma leitura rápida e prazerosa. FONTE: NASCIMENTO, S. L. do et al. Recomendações para a prática de exercício físico na gravidez: uma revisão crítica da literatura. Revista Brasileira de Ginecologia Obstetrícia, Rio de Janeiro, v. 36, n. 9, p. 423-431, 2014. Disponível em: https://www. scielo.br/scielo.php?pid=S0100-72032014000900423&script=sci_ arttext. Acesso em: 6 ago. 2020. exaustão. Segundo os autores, dois documentos que são de grande importância quando se trata da prescrição do TR para gestantes são os que foram produzidos pela Fitness Austrália (2013) e pelo órgão de Medicina Esportiva da Austrália (HAYMAN et al., 2016). Szumilewicz et al. (2019) resumem as duas diretrizes dizendo que mulheres grávidas devem evitar a realização de exercícios como agachamentos, afundo ou qualquer exercício unilateral que coloque carga excessiva na sínfise púbica. É preciso lembrar que uma informação que se repete na maioria dos documentos é que grávidas deveriam evitar exercícios na posição supina, principalmente após a 20ª semana de gestação, pois pode levar à hipotensão (NASCIMENTO et al., 2014; SZUMILEWICZ et al., 2019; ACOG, 2020). Referente à prescrição do TR em grávidas com sobrepeso ou obesas e/ou as especificidades o treinamento resistido em gestantes atletas, sugerimos a leitura do artigo Recomendações para a prática de exercício físico na gravidez: uma revisão crítica da literatura, para você se aprofundar no tema. Resumindo as sugestões práticas para a prescrição do TR em gestantes, vemos o seguinte: frequência semanal de duas vezes com o volume de treino considerando todos os grandes grupos musculares, com uma série de 12-15 repetições para oito a dez exercícios. A intensidade deve ser submáxima, usando o peso corporal,pesos leves ou resistências elásticas (HAYMAN et al., 2016). Mulheres grávidas devem evitar a realização de exercícios como agachamentos, afundo ou qualquer exercício unilateral que coloque carga excessiva na sínfise púbica. 169 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 A prescrição do treinamento esportivo é uma arte. No treinamento resistido não é diferente. São vários os princípios que precisam ser considerados ao montar um programa de treinamento, entre eles, individualidade biológica e especificidade. No treinamento com gestantes é preciso ter um cuidado redobrado e aplicar todo o conhecimento possível. Sobre o programa de treinamento resistido para uma gestante, assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Grávidas podem realizar exercícios em qualquer temperatura ambiente sem se preocupar com o aumento da temperatura corporal. ( ) Mulheres grávidas devem realizar treinamento resistido até, no máximo, o quinto mês de gestação. ( ) A intensidade moderada é a mais recomendada e pode ser melhor controlada pela percepção de esforço. ( ) Exercícios como agachamento ou afundo devem ser evitados, pois colocam carga excessiva na sínfise púbica. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F. b) ( ) F – F – V – V. c) ( ) V – F – V – V. d) ( ) F – V – V – F. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Acadêmico, chegamos ao fim do nosso capítulo e ao final do nosso livro. Acreditamos que tenha sido uma interessante jornada até aqui. Para nós, autores, foi. Vimos diferentes aspectos do treinamento resistido na sua vertente para populações especiais. Aprendemos como o treinamento resistido pode ser aplicado em crianças, adolescentes e jovens, idosos e portadores de alguma doença metabólica ou cardiovascular, por exemplo, o diabetes ou a doença coronariana. Vimos os aspectos do treinamento em outros grupos especiais também, como as gestantes e os benefícios do treinamento resistido nas mulheres grávidas e na futura vida. De qualquer modo, passamos por quase todo os estágios do círculo da vida, do nascimento até o envelhecimento e como estes 170 Treinamento de Força Aplicado a Grupos Especiais indivíduos poderiam se beneficiar de uma prática de estilo de vida mais saudável a partir dos exercícios que exijam a valência força e suas vertentes. A linha de raciocínio principal deste capítulo foi tentar abordar e responder da melhor maneira, três perguntas: para quem? Qual a melhor maneira/método? e quais os principais benefícios? Estas três perguntas foram arguidas e discutidas com base na literatura científica e nas evidências existentes que suportam ou não o treinamento resistido nas mais diferentes populações especiais. Nem sempre foi discutido com interrogações diretas, mas sempre a reflexão foi a partir de um dos questionamentos. A revisão de literatura foi a mais atual possível e, dessa forma, conseguimos perceber e resumir que, com os devidos cuidados, o treinamento resistido pode sim ser aplicado nos diferentes públicos especiais. Sempre que possível, vimos as afirmações e posicionamentos dos mais diferentes órgãos nacionais e internacionais no campo da Medicina Esportiva e ou Treinamento Esportivo, todos respeitados e reconhecidos mundialmente. A orientação das mais diferentes instituições de maneira geral acompanha a Organização Mundial da Saúde em seu posicionamento recomendando o uso do treinamento resistido nos diferentes públicos nas diferentes idades ou condições físicas abordadas neste capítulo. Os principais cuidados passam pela avaliação médica, testes físicos e de aptidão antes de iniciar um programa de treinamento, a supervisão profissional qualificada e acima de tudo, o prezar pela saúde e bem-estar dos indivíduos. Os benefícios são numerosos e existem para cada parcela da população especial. Podemos destacar suscintamente o combate ao sedentarismo e a obesidade que têm assolado o planeta, diminuindo o risco de desenvolver doenças diversas, mas, principalmente, as de nível cardiovascular, a melhora da capacidade musculoesquelética e da saúde óssea, aspectos cognitivos e psicossociais e o desenvolvimento de um estilo de vida ativo e que possa perdurar por muito tempo. O treinamento resistido quando aplicado de maneira correta e seguindo os princípios do Treinamento Esportivo é sim benéfico e pode ser recomendado para as populações especiais. 171 Treinamento Resistido para Treinamento Resistido para Populações EspeciaisPopulações Especiais Capítulo 3 REFERÊNCIAS ACOG. Physical Activity and Exercise During Pregnancy and the Postpartum Period: ACOG Committee Opinion Summary, Number 804. Obstetrics And Gynecology, v. 135, n. 4, p. 178-188, abr. 2020. BOCCHI, E. A et al. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. 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