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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Departamento de Nutrição Aluna: Suellen Marques Pereira Disciplina: Tecnologia dos Alimentos Conservação dos Alimentos por Salga e Defumação 1. SALGA Os produtos cárneos salgados são aqueles obtidos a partir de carnes de animais de açougue que podem ser ou não desossadas, que são tratadas com sal e podem ou não ser adicionadas de sais de cura ou condimentos, sendo o seu cozimento um processo tecnológico opcional. A aplicação de sal no produto aumenta a pressão osmótica, diminui a atividade de água e, dessa maneira, afeta o crescimento microbiano. Quanto maior a aplicação, maior a desidratação e, consequentemente, maior a vida útil do produto. A redução da umidade fica entre 20% e 30%, sendo necessário assegurar que a distribuição do sal seja homogênea em toda a superfície do produto. A salga pode ser seca ou úmida (salmoura). Na seca, é feita a aplicação do cloreto de sódio diretamente sobre os produtos, enquanto as salmouras consistem de soluções salinas em que as peças de carne são mergulhadas diretamente ou que são injetadas nas peças, utilizando-se agulhas longas. Carne de sol Esse produto possui, em geral, entre 65% e 70% de umidade e de 5% a 6% de sal, e a atividade de água pode variar de 0,92 a 0,97. Há a formação de uma crosta por fora e a carne fica macia e suculenta por dentro, sendo a que apresenta menor tempo de cocção entre as carnes desidratadas. A vida de prateleira é, em média, de 3 a 4 dias em temperaturas variando entre 21 °C e 31 °C, que pode ser estendida para até 8 dias se mantido sob refrigeração (cerca de 5 °C). A carne de sol é um produto que não se enquadra na categoria de umidade intermediária, devido à baixa concentração de sal aplicada (entre 5% e 6%) e à alta atividade de água (0,92). Por esse motivo, está suscetível à ação de microrganismos deteriorantes (como as do gênero Pseudomonas) e até mesmo Gram-positivos patogênicos, como é o caso das bactérias do gênero Staphylococcus. Preparação da Carne de Sol: a) Escolha do corte de carne, que pode ser coxão mole, coxão duro, patinho, alcatra etc. b) Toalete: retirada do excesso de gordura e tecido conjuntivo c) Corte em pedaços chamados mantas, que em geral, tem entre 3 e 4 centímetros de espessura e, ainda, realização de incisões longitudinais na superfície, com cerca de 3 centímetros entre elas, ao longo da peça para facilitar a penetração do sal. O número e a profundidade desses pequenos cortes são variáveis e dependem do tamanho da peça. d) Salga: adição de sal fino comercial, manualmente, na proporção entre 5 e 10%, e as carnes devem ficar nesta fase por um período médio de 3 a 4 horas. e) Salga mista: aplicação de cloreto de sódio diretamente sobre a carne, manualmente, e conforme o líquido (exsudado) é liberado ele não é retirado, formando uma salmoura que contribui para o processo de salgamento. Esse processo é feito em salas com temperatura ambiente entre 25ºC e 26 ºC e as mantas são empilhadas e viradas a cada duas horas, aproximadamente, para facilitar a distribuição do sal na carne. f) Lavagem em água corrente para a retirada do excesso de sal g) Suspensão em ganchos ou o repouso por um período que varia de 20 minutos a duas horas, sendo o tempo médio máximo de 30 minutos. h) Após este período as carnes são embaladas e podem ser refrigeradas até o momento da comercialização. 2. DEFUMAÇÃO A defumação caracteriza-se pela aplicação de fumaça (produzida pela combustão de madeiras selecionadas) aos alimentos. Além de ser um método de conservação, na defumação não há cozimento e nem desidratação, sendo somente uma perda de água na superfície, proporcionando a adição de cor, sabor e aroma característicos (hoje, a principal função desse processo), mas diversos fatores, tais como a temperatura, a umidade relativa, a velocidade do ar e a densidade da fumaça, interferem com o processo e devem ser monitorados. De acordo com a umidade do produto, por exemplo, as substâncias halófilas e lipófilas presentes agem de maneira diferenciada, conferindo características próprias. Quanto mais úmido é o alimento, maior é a proporção de fenóis. Dois processos são possíveis: a defumação tradicional e o uso de fumaça líquida. A fumaça tradicional contém mais de 300 compostos identificados que estão agrupados basicamente em quatro grandes grupos: o dos compostos fenólicos, dos ácidos, dos carbonílicos e dos hidrocarbonetos. Seus efeitos sobre os microrganismos podem ser atribuídos à secagem superficial e também à presença de algumas substâncias bactericidas, tais como compostos fenólicos, álcoois, ácidos benzóico, acético e fórmico. Também tem efeito antioxidante, retardando a oxidação e a hidrólise de gorduras pela ação de mono e dimetil éter do pirogalol. Já os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA), como o 3,4 benzopireno, tem ação cancerígena e pode ser indicador de contaminação em produtos alimentares. Sua concentração no alimento dependerá da tecnologia utilizada no processo de defumação. Já a fumaça líquida é obtida pela combinação da fumaça tradicional (obtida pela queima de madeira maciça) com água e permite uma maior facilidade e uniformidade na aplicação. Defumação de pescados É um dos processos mais antigos de preservação do pescado: une as técnicas de secagem + cocção + atuação da fumaça (que possui ação bacteriostática e antioxidante, ou seja, de conservação). Deve-se procurar uma uniformidade no lote escolhido para defumação, tanto com relação ao tamanho do pescado, quanto ao frescor do mesmo. O sabor do produto final é determinado pelo sal e pelas substâncias da fumaça. A defumação é um processo indicado para o pescado gordo, pois as gotículas de gordura ajudam na retenção dos componentes aromáticos da fumaça, que exercem uma função não só de conferir odor e sabor agradáveis ao produto, mas também, de estender a sua vida de prateleira. Os produtos obtidos pela defumação podem ser consumidos sem necessidade de cozimento, uma vez que já foram cozidos durante o processo. Defumação a quente de pescados O processo de defumação a quente engloba 3 fases: salmouragem, secagem e defumação. • SALMOURAGEM: Leva à diminuição da atividade de água (AW), retardando os fenômenos responsáveis pela decomposição. A carne do pescado se desidrata e adquire maior resistência, apurando-setambém o seu sabor. a) Imersão dos peixes, já eviscerados e lavados, em solução de sal na concentração de 25% e na proporção de 2:1 de salmoura e peixe (volume/peso), por cerca de 1 hora. A quantidade de sal no produto final deve ficar entre 1,5 e 2%. b) Depois da salmouragem de cada partida de peixe, deve-se descartar a salmoura para evitar contaminações. • SECAGEM: Permite a desidratação superficial do produto, tornando-o mais resistente e propiciando uma película que impede grande perda de substâncias da musculatura, o que também contribui para a coloração característica do produto defumado. a) Após a salmouragem, os peixes devem ser lavados em água corrente para a retirada do excesso superficial do sal e levados a secadores artificiais (40 a 50°C/ 40 min) ou naturais (algumas horas). Esta secagem parcial facilita a penetração da fumaça e permite certa exsudação da carne, o que resultará em melhor aparência do produto final. • DEFUMAÇÃO: Leva a uma maior desidratação do produto e confere cor, aroma e sabor, além da ação bactericida dos fenóis. É necessário um cuidado especial para evitar-se o cozimento excessivo da carne, com consequente eliminação de gordura, pois haveria prejuízo na aparência do produto. Como fonte de calor, pode-se utilizar gás, carvão, madeira ou eletricidade. Como fonte de fumaça, visando conferir cor, aroma e sabor ao produto, devem ser utilizadas madeiras duras e não resinosas. As madeiras duras, como o carvalho, assim como madeiras provenientes de árvores frutíferas como laranjeira, limoeiro, pereira e outras, são indicadas. Pode-se utilizar a madeira em pedaços, ou na forma de serragem. A ação bactericida da fumaça se dá pela presença de fenólicos, ácidos orgânicos e aldeídos. a) Colocação do pescado no defumador: a temperatura da câmara (defumador) não deve ser alta logo no início da defumação, porque o pescado tem considerável umidade e a fumaça tem alta umidade relativa, o que propicia a desnaturação das proteínas. Tem-se aqui 3 etapas: • 50 – 60°C / 1 hora sem fumaça. • 60°C / 3-4 horas com fumaça. • 70 – 90°C / 1-2 horas com fumaça, formando uma película que impede que o interior do pescado seja defumado. b) Na fase seguinte, aumenta-se a temperatura, o pescado seca e absorve as substâncias aromáticas da fumaça. c) Higienização: depois de retirados do defumador, os peixes devem ser limpos na sua superfície, para retirar uma eventual fuligem e partes de exsudação. d) Embalagem e acondicionamento: após a higienização, pode-se então, colocá-los inteiros, descabeçados ou filetados em bandejas de isopor e cobri-los com um filme plástico ou embalagem à vácuo. e) A conservação deve ser obrigatoriamente feita sob refrigeração (0 a 4°C), e seu prazo de validade nessas condições é de uma semana. O rendimento médio alcançado é de 70% para o pescado defumado inteiro e 50% no caso de filés defumados. Referências: AQUINO, A. A. Tecnologia de produtos de origem animal. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional, 2017. RAIMUNDO, M. G. M.; MACHADO, T. M. Pescado é Saúde: salga, secagem e defumação . São Paulo: Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios, 2017.
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