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Brasília-DF. Seguimento Farmacoterapêutico em pacienteS oncológicoS Elaboração Anna Maly de Leão e Neves Eduardo Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO ..................................................................................... 19 CAPítulo 1 PACIENTEs CRôNICOs ........................................................................................................... 19 CAPítulo 2 IdOsOs ................................................................................................................................. 52 CAPítulo 3 CRIANçAs E gEsTANTEs ......................................................................................................... 55 unidAdE ii UsO RACIONAL dE MEdICAMENTOs.................................................................................................... 61 CAPítulo 1 AUTOMEdICAçãO ................................................................................................................. 65 CAPítulo 2 AUTOMEdICAçãO REsPONsávEL ........................................................................................... 68 unidAdE iii RETORNO dOs PACIENTEs ................................................................................................................... 71 CAPítulo 1 FAsEs dO sEgUIMENTO FARMACOTERAPÊUTICOs .................................................................. 71 CAPítulo 2 EvOLUçãO dO TRATAMENTO ................................................................................................. 79 CAPítulo 3 IdENTIFICAçãO dE POssívEIs PRObLEMAs RELACIONAdOs AOs MEdICAMENTOs (PRMs) ...... 81 CAPítulo 4 TOMAdA dE dECIsãO (COMUNICAçãO COM O PROFIssIONAL PREsCRITOR) ........................ 87 PArA (não) FinAlizAr ..................................................................................................................... 92 rEFErênCiAS .................................................................................................................................. 95 AnExo .......................................................................................................................................... 100 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução A evolução da prática profissional e clínica da farmácia passou por diversas fases até o surgimento da atenção farmacêutica como prática profissional. É nesse sentido que esse material começa sua abordagem, a qual resgata a prática clínica da farmácia e a evolução dos conceitos de atenção farmacêutica. Nos dias atuais, os gestores, os formuladores de políticas, pesquisadores e profissionais da área farmacêutica e não farmacêuticos, percebem a importância para a população e também para os governantes, da prestação de todos os serviços farmacêuticos contemplados nas atividades desenvolvidas na atenção farmacêutica: foco no paciente/cliente e usuário de medicamentos visando à obtenção de resultados que reflitam na melhora do estado de saúde do indivíduo, na redução e na minimização de riscos, danos e custos com todo o tratamento terapêutico. A procura pelas redes de farmácias e drogarias e hospitais, e a contratação de profissionais farmacêuticos com atuação na área clínica em todos os níveis assistenciais, tem crescido vertiginosamente nos últimos anos. Pois estes profissionais têm potencial para executar junto ao paciente as atividades clínicas de em esferas diversas, como: o acompanhamento farmacoterapêutico, que é talvez o serviço farmacêutico mais complexo dentre os serviços clínicos prestados pelo farmacêutico junto ao paciente, estando incluído no dentro das atribuições clínicas do farmacêutico previstas na Resolução no 585, de 29 de agosto de 2013, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que trata das atuações farmacêuticas na área clínica. O profissional necessita então, para realizar estes serviços, de forma efetiva e com qualidade, de uma formação clínica sólida e do conhecimento aprofundado dos fundamentos teóricos e práticos de todos os métodos utilizados para o registro e também para o acompanhamento dos resultados farmacoterapêuticos dos usuários de medicamentos (pacientes), bem com conhecer os fatores clínicos, culturais, sociais e psicológicos que são capazes de influenciar o comportamento dos usuários de medicamentos e, consequentemente, os resultados obtidos por meio do seu uso. Como os resultados desta atuação clínica farmacêutica têm sido avaliados como positivos em diminuir os problemas e aumentar os resultados do uso de medicamentos, tem crescido a busca pela população por profissionais capacitados e que estejam capacitados para realizar estas atividades clínicas.Sabendo que o mercado de trabalho é amplo e que o mesmo tende a crescer nos próximos anos, no Brasil e em todo o mundo, para os farmacêuticos que estiverem capacitados e 8 prontos para interagir de forma ampla junto aos seus pacientes, familiares, cuidadores e equipes de cuidado do paciente. Desta maneira, os profissionais capacitados para realizar acompanhamento farmacoterapêutico poderão atuar em todos os seguintes locais de trabalho: » Farmácias e Drogarias. » Serviços Clínicos Hospitalares (farmácia, ambulatório, unidades de terapia intensiva, diálise e hemodiálise). » Unidades Públicas e Privadas de Saúde (UBS, AMA, AME, NASF, UPA entre outros). » Assistência Domiciliar. » Consultórios com atendimento multidisciplinar e Clínicas Especializadas (oncologia, nefrologia, psiquiatria etc.). » Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC) e de orientação a distância. » Serviços de Farmacovigilância (acompanhar possíveis intoxicações). » Centros de Informação de Medicamentos (CIM). » Instituições de longa Permanência para pacientes de todas as idades. » Farmácias-escola, em instituições públicas e privadas. » Docência em graduação, pós-graduação, cursos técnicos e de aperfeiçoamento. A Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica, considerando-se como ponto alto o Acompanhamento Farmacoterapêutico, apresenta como objetivo capacitar os profissionais farmacêuticos, para que eles sejam capazes de exercer a prática clínica em seus ambientes de trabalho com os cuidados e atuações no processo de acompanhamento farmacoterapêutico, através da detecção, prevenção e resolução de Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM) e também dos resultados negativos associados ao Medicamento (RNM) de forma sistemática, contínua e documentada, como metas primordiais de se alcançar os melhores resultados possíveis com o uso de medicamentos na população de maneira geral. A busca pela implantação da Atenção Farmacêutica no Brasil não deve jamais ser entendida como um evento isolado, pois esta nova área de atuação vem ganhando o centro de discussões entre pesquisadores, formuladores de políticas e profissionais, e tem sido introduzida em todo o Brasil com diferentes formas de cuidados e compreensões, sem ter as diretrizes técnicas sistematizadas e muitas vezes ainda sem levar em conta as características próprias do país e também do seu sistema de saúde vigente. 9 Deve-se então, definir e ser adotado um modelo para a prática da atenção farmacêutica, de acordo com o sistema de saúde do país, pois só assim os profissionais, docentes e pesquisadores da área de farmácia e os órgãos reguladores poderão promover a atenção farmacêutica de forma sinérgica e harmônica, e com a obtenção de resultados satisfatórios. O conceito de Atenção Farmacêutica foi definido pela primeira vez por Hepler e Strand (1990) como sendo a provisão responsável do tratamento farmacológico com o objetivo de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. A Organização Mundial da Saúde (OMS), logo em seguida estendeu o beneficio da atenção farmacêutica para toda a população e ainda reconheceu que o farmacêutico era um dispensador de atenção à saúde, que pode e deve participar de modo ativo na prevenção de doenças e na promoção da saúde, junto com todos os outros membros da equipe de saúde (OMS. 1993). Existem hoje diversas metodologias de atenção farmacêutica disponíveis na literatura em todo o mundo. No Brasil, na Espanha, e outros países de origem latina, o termo seguimento farmacoterapêutico se desenvolveu como sinônimo do que, nos Estados Unidos e países anglo-saxões em geral, se entende como Pharmaceutical Care. Nos EUA, o termo Medication-Therapy Management (MTM) foi criado como um serviço clínico voltado para pacientes polimedicados do sistema Medcare. O MTM é realizado seguindo também as etapas que serão aqui descritas logo adiante. Dentre as metodologias mais conhecidas no Brasil estão incluídas: o Método Dáder, o Pharmacotherapy WorkUp e o Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM). Esses métodos de cuidados objetivam oferecer ao profissional farmacêutico algumas ferramentas e um guia de abordagens e procedimentos para que seja realizado o atendimento clínico. Todos estes métodos de atenção farmacêutica e atuação clínica disponíveis se originaram de adaptações do método clinico clássico de atenção à saúde e do sistema de registro SOAP (Subjective, Objective, Assessment, Plan) proposto por Weed na década de setenta. A seguir será descrita uma abordagem ampla do método clínico, baseado no que foi desenvolvido por Weed, utilizando abordagens e ferramentas propostas nos diversos métodos de atenção farmacêutica internacionais, em uma perspectiva adaptada à cultura e realidade brasileira, que é muito peculiar. A atenção farmacêutica não necessariamente tem que se focar em pacientes com condições crônicas e não acompanhar os demais pacientes. Há diversas experiências no Brasil da implantação de seguimento farmacoterapêutico a pacientes hipertensos e diabéticos em farmácias comunitárias, com ótimos resultados, entretanto a maioria desses serviços não prospera e é continuado por mais do que uns anos. Por diversos motivos, entre os quais citamos a baixa qualificação e capacitação do farmacêutico, a 10 falta de um planejamento de longo prazo, a desarticulação do serviço farmacêutico com os serviços de saúde locais e, principalmente na ausência de um plano de remuneração por estes serviços pelo farmacêutico. É muito comum ainda se ouvir de farmacêuticos que durante o acompanhamento de hipertensos e diabéticos, por exemplo, todo o processo permanece sempre ligado e dependente do médico e extremamente ligada às condições estruturais do sistema público de saúde do local específico. Mesmo que muitos desses motivos sejam questionáveis e até reversíveis, todos esses fatores pressionam o farmacêutico no médio prazo a desistir do seguimento farmacoterapêutico e a retornar exclusivamente à dispensação de medicamentos. Sendo assim, a atenção farmacêutica deve estar sempre adequada às demandas dos usuários da farmácia comunitária, drogarias, ou de todos os serviços onde o farmacêutico estiver inserido e apto a transformar a realidade de saúde da população. O farmacêutico deve enfatizar as suas ações e também a sua consulta farmacêutica e nos problemas existentes na sua região de trabalho e nas principais queixas que normalmente são atendidas de maneira insuficiente no balcão da farmácia. Significa que o perfil epidemiológico de cada região e as necessidades dos pacientes devem ser os fatores-guia e primordiais na construção de todo o serviço clínico do farmacêutico. Incluindo aí o atendimento de distúrbios menores, de todos os métodos contraceptivos, o uso de medicamentos pelas gestantes, os problemas dermatológicos (lembrando da atuação farmacêutica na estética) e dermocosméticos, pacientes polimedicados que possuem uma polifarmácia em casa com dificuldades de adesão ao tratamento, os pacientes idosos fragilizados ou ainda todos os pacientes crônicos que necessitam de cuidado contínuo pois usam os medicamentos sem pausa. A consulta farmacêutica é única e individual, com um atendimento por vez e em um local adequado e aconchegante. Têm se produzido de forma constante, no âmbito internacional, em congressos e nos Conselhos da classe, discussões acerca deste tema na busca incessante do entendimento do significado e da aplicação de forma segura desta prática clínica, com o intuito principal da sua adaptação e integração aos sistemas de saúde de cada país ao redor do mundo. No seu conceito original, ela abrange as ações: » uma prática clínica profissional na qual ocorre a interação direta do farmacêutico com o seu paciente/cliente; » objetiva sempre uma farmacoterapia racional e segura; » busca se obter resultados definidos e mensuráveis, voltados sempre para a melhoria da qualidade de vida dos usuários de fármacos.11 São componentes da prática farmacêutica: » educação em saúde – Função Social do Farmacêutico; » orientação e atenção/assistência farmacêutica; » dispensação de medicamentos; » atendimento/consulta farmacêutica; » acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico (SF); » registro sistemático das atividades e avaliação dos resultados obtidos sejam eles positivos ou negativos. A atenção farmacêutica é uma modalidade de atuação profissional na qual o farmacêutico assume de forma ativa um papel em benefício do paciente, ajudando o profissional prescritor (incluindo o próprio farmacêutico) na seleção apropriada e correta do fármaco e na dispensação dos medicamentos, ele assume, assim, responsabilidade direta na colaboração com outros profissionais de saúde e com os pacientes/clientes, para alcançar o resultado terapêutico desejado. É uma atividade clínica e exclusiva do profissional farmacêutico. O câncer é um dos principais problemas de saúde pública no mundo, afetando de várias formas a vida do paciente, provocando impactos econômicos importantes na sociedade, exigindo um tratamento especializado, longo e caro. Por ser uma doença na qual o paciente enfrenta um tratamento na maioria das vezes doloroso, a integração eficaz entre a equipe multidisciplinar se faz de extrema importância para o sucesso no tratamento. Neste contexto, a oncologia é uma área complexa e específica, e para esse fim a RDC no 220/2004 da ANVISA, determina então, a criação de uma Equipe Multiprofissional de Terapia Antineoplásica, impulsionando a presença do farmacêutico no acompanhamento de pacientes oncológicos para solucionar os problemas relacionados aos medicamentos. A avaliação da Qualidade de Vida do paciente oncológico é um importante indicador da resposta do paciente à doença e ao tratamento. Trata-se da avaliação do impacto físico e psicossocial que as enfermidades, disfunções ou incapacidades podem acarretar para as pessoas acometidas, permitindo um melhor conhecimento do paciente e de sua adaptação ao cotidiano. A qualidade de vida está sempre relacionada como uma das principais metas do tratamento e também do controle do câncer, dentre a cura e prolongamento da vida útil. Entre os tratamentos, as principais modalidades são a cirurgia, radioterapia e quimioterapia que é um tipo de tratamento em que se utilizam medicamentos para 12 combater o câncer, os quais em sua maioria, são aplicados na veia, misturam-se com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que se espalhem pelo corpo. Os pacientes com câncer, em geral, submetem-se a tratamento que, na maioria das vezes, provoca uma série de consequências físicas, emocionais e sociais. Essas mudanças requerem atenção e suporte maior por parte da família e da equipe multiprofissional, incluindo a figura do farmacêutico. O acompanhamento do farmacêutico é considerado uma importante ferramenta para a redução de erros no uso da medicação também no tratamento, tornando-o mais eficiente e aumentando a qualidade de vida, pois a cada dia, o papel do farmacêutico é garantir que a terapia medicamentosa dos pacientes esteja devidamente indicada e que a mesma é mais eficaz, segura e conveniente para os pacientes tratados. A Farmácia Oncológica é uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Farmácia e está registrada no Ministério do Trabalho, juntamente com outras duas áreas de atuação: a da Atenção Farmacêutica em Oncologia e a de Farmacêutico Clínico em Oncologia. Acompanhamento farmacoterapêutico Considerado uma parte do cuidado farmacêutico na qual o farmacêutico irá se responsabilizar de maneira absoluta por todas as necessidades do paciente/cliente relacionadas com as medicações mediante a detecção, prevenção e resolução dos problemas relacionados com os medicamentos (PRMs), de maneira contínua, sistematizada e documentada em colaboração com o próprio paciente e com todos os demais profissionais de saúde com o intuito final de se alcançar resultados concretos e duradouros e que melhorem sempre a qualidade de vida do paciente/cliente. Os cuidados farmacêuticos constituem um conceito abrangente que significa a interação entre o farmacêutico e o seu paciente/cliente (cooperando com o médico e com os outros profissionais de saúde), tendo como objetivo atingir a melhoria da qualidade de vida deste. Incluem-se neste conceito as seguintes atividades: dispensação ativa, a consulta clínica e também a indicação farmacêutica, a prescrição farmacêutica, a farmacovigilância, a manipulação magistral, a educação em saúde e principalmente o seguimento farmacoterapêutico, todas estas atividades devem ser dirigidas para um paciente em concreto. O Seguimento Farmacoterapêutico (SF) é uma atividade clínica que permite ao farmacêutico uma atuação ampla dos seus conhecimentos sobre todos os problemas de 13 saúde e medicamentos (medicamentos sujeitos a receita médica e medicamentos não sujeitos a receita médica que são os isentos de prescrição), com o intuito de se alcançar resultados concretos e duradouros que melhorem e levem a uma qualidade de vida dos seus doentes/pacientes, resolvendo os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) utilizada. O SF, como qualquer outra atividade de saúde, necessita de procedimentos de trabalho normalizados e validados pela experiência para ser realizado com a máxima eficiência, de modo a permitir a avaliação do processo, mas sobretudo dos resultados. O seguimento farmacoterapêutico assumido como uma prática profissional no qual o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do doente relacionadas com medicamentos, é realizado através da detecção de Problemas Relacionados com Medicamentos (PRMs) e da prevenção, e resolução dos Resultados Negativos associados à Medicação (RNMs), com o objetivo de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do doente. Estudos demonstram que a implementação do seguimento farmacoterapêutico em ambulatórios ou em hospitais levam a uma melhoria nos resultados pretendidos com a farmacoterapia. Em conclusão, o Seguimento Farmacoterapêutico tem como principal objetivo colaborar com todos os profissionais de saúde de modo que um determinado doente possa, assim, alcançar a máxima efetividade da sua terapêutica. Métodos de acompanhamento farmacoterapêutico dáder » Obtenção da ficha farmacoterapêutica (problemas de saúde e medicamentos que utiliza). » Avaliação do estado de situação obtido em uma determinada data. » Intervenção farmacêutica para prevenir ou resolver PRMs. » Avaliação dos resultados obtidos. O método Dáder é considerado o padrão ouro no seguimento farmacoterapêutico, como uma ferramenta utilizada pelos profissionais farmacêuticos, na qual os mesmos se responsabilizam pelas necessidades do doente relacionadas aos fármacos, por meio da detecção, resolução e prevenção dos Problemas Relacionados com Medicamentos 14 (PRMs). Todo este processo deve ser feito de uma forma contínua, sistemática e documentada com o auxílio do próprio paciente e dos demais profissionais da área da saúde, e tem como desígnio atingir resultados visíveis que melhorem a vida do paciente. De acordo com o Método Dáder, o AFT é uma atividade clínica e exclusiva do farmacêutico, na qual deve ser feito um trabalho de extrema importância e detalhado, mas que deve estar sempre condicionado a uma decisão livre e responsável de um profissional, que se exige a coleta do máximo de informações possíveis para sua realização. Todos os profissionais clínicos precisam então dispor de protocolos, manuais de atuação, consensos etc., para a aplicação adequada desta metodologia. O Método Dáder de AFT foi criado pelo Grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica da Universidade de Granada na Espanha, no ano de 1999, e hoje é utilizado por milhares de farmacêuticos de diversas nacionalidades em grande parte do mundo. É consideradoum método de fácil aplicação, e que permite ao profissional farmacêutico colocar à disposição do paciente os seus conhecimentos sobre problemas de saúde e medicamentos, visando atingir resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos seus doentes, resolvendo os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM). Este método, além de oferecer aos pacientes envolvidos ações bem simples para realizar o seguimento farmacoterapêutico, é um método que exige do farmacêutico uma formação contínua (Programa Dáder), baseada na técnica de “aprender-fazendo”, que permite sempre melhorar a competência e a qualidade da Intervenção Farmacêutica realizada na área da farmacoterapia/ tratamento medicamentoso. Ainda de acordo com os especialistas Hepler e Strand, o envolvimento dos farmacêuticos nas etapas de avaliação dos resultados clínicos obtidos pelo uso dos medicamentos deve contribuir para a redução da morbimortalidade relacionada com os mesmos. Desta forma, se fixa a ideia de que os Cuidados Farmacêuticos tem como objetivo principal ajudar os doentes a obterem o máximo benefício com o uso da sua medicação. Os fármacos permitem tratar ou prevenir uma doença, retardar a progressão desta ou atenuar os seus sintomas, além de auxiliarem no diagnóstico clínico. No entanto, estes mesmos medicamentos podem, em alguns casos, falhar quando provocam efeitos adversos ou apresentar toxicidade ou não alcançam os objetivos terapêuticos para os quais estão destinados. Os fármacos são capazes de causar problemas de segurança e/ ou de eficácia terapêutica. As falhas encontradas na farmacoterapia podem levar a um aumento da morbilidade, da mortalidade e, como consequência, claramente a um aumento dos gastos em 15 saúde, surgindo um problema de saúde pública, quando se verifica o binômio medicamento-doente/paciente. Em 1993, na segunda reunião da OMS sobre as funções do farmacêutico no sistema de cuidados de saúde, foi salientada a necessidade do maior envolvimento dos farmacêuticos na avaliação dos resultados da utilização dos medicamentos, assim como noutros aspectos dos cuidados de saúde. O Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos, no ano de 2001, aprovado pelo Decreto-Lei no 212, de julho de 1979, refere que “a primeira responsabilidade do farmacêutico é para com a saúde e o bem-estar do doente”. O farmacêutico desde então começou a se sentir totalmente responsável com o doente, e inserido em uma equipe em colaboração com os outros profissionais de saúde, para a obtenção de resultados efetivos no que diz respeito ao estado de saúde do paciente que é acompanhado. O processo de Atenção Farmacêutica obedece a uma sequência de passos conhecida como método clínico. O método clínico inclui a coleta de dados, identificação de problemas, implantação de um plano de cuidado e seguimento do paciente. A atenção farmacêutica trata-se de uma atividade clínica focada no paciente, na qual as decisões e as responsabilidades acerca do tratamento medicamentoso são compartilhadas com o paciente e a equipe de saúde. Há várias metodologias de Atenção Farmacêutica disponíveis na literatura. Os farmacêuticos são especialistas em medicamentos e, portanto, têm a função e o objetivo de promover seu uso racional e assim garantir sua máxima efetividade e segurança. Como profissionais da saúde, os farmacêuticos devem ter também uma visão integral do paciente, seu momento entre os ciclos da vida, e prover cuidados em saúde adequados às suas necessidades. O farmacêutico tem nos últimos anos redirecionado a sua formação, para o medicamento, e assim esquecendo que o seu foco principal tem que ser o paciente. Atualmente, modificou-se esse prisma dos serviços farmacêuticos, tornando primordial uma nova relação do profissional farmacêutico assumindo um papel central no seguimento/acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes, principalmente portadores de patologias crônicas. Foi necessária uma reestruturação na profissão farmacêutica, e transformações tem surgido no perfil do profissional, concentrando a formação universitária no cuidado aos pacientes. O curso de Farmácia agora forma um profissional com um currículo generalista, em que o farmacêutico é capacitado para se integrar profissionalmente ao sistema de saúde e em todas as áreas de atuação, assumindo um lugar importante na informação sobre a utilização correta dos medicamentos e no desenvolvimento pleno da atenção e assistência farmacêutica. 16 Na prática diária da Atenção Farmacêutica, o farmacêutico atenderá seus pacientes um a um, em consultas individualizadas. Inicialmente, o objetivo será coletar e organizar dados do paciente. Deve-se fazer as seguintes perguntas: motivo da consulta, dados específicos do paciente, história clínica e história da medicação. Para isso, utilizam-se técnicas de semiologia farmacêutica e entrevista clínica. É aberta uma ficha para registro do atendimento, que será arquivada no prontuário do paciente. De posse de todas as informações necessárias, o farmacêutico será capaz de revisar a medicação em uma abordagem clínica da análise situacional e identificar problemas relacionados à farmacoterapia presentes e potenciais do paciente. O plano de cuidado, em conjunto com o paciente, a partir da definição de metas terapêuticas, que podem incluir intervenções farmacêuticas e/ou encaminhamento a outros profissionais. O mesmo será entregue ao paciente, após o fim da consulta. A Declaração de Serviços Farmacêuticos, que contém os registros e também certifica o atendimento, será também passada ao paciente. Para finalizar o atendimento, o farmacêutico irá agendar o retorno ou a frequência do seguimento, com o intuito de avaliar os resultados de suas condutas. O processo será reiniciado quando novos problemas aparecerem, queixas ou algumas mudanças significativas no tratamento do paciente. O farmacêutico como cuidador, tem que reconhecer e entender de todas as classes de medicamentos em uso pelo paciente, incluindo suas indicações, farmacocinética e farmacodinâmica, regime posológico (dose, via de administração, frequência e duração) e a resposta (efetividade e segurança). Aqueles usados por automedicação são tão importantes quanto os medicamentos prescritos, os mais comuns são: as plantas medicinais, os suplementos vitamínicos e as vacinas, normalmente não considerados pelos pacientes como medicamentos. Toda a intervenção junto ao paciente tem que ser feita com vista a valorizar os conhecimentos do paciente, sua visão dos problemas, sua cultura e condição social e como todos os fármacos se enquadram na sua rotina de vida, seus horários e os seus hábitos. Nesta fase inicial do seguimento farmacoterapêutico, é essencial ao farmacêutico compreender a experiência de medicação relatada pelo paciente. Esta inclui as atitudes, os desejos, as expectativas, os receios, o entendimento e o comportamento do paciente com relação aos medicamentos e é fundamental na tomada de decisões clínicas. A adesão terapêutica do paciente só pode ser entendida de forma segura com essa aproximação e só a partir dela será possível educar o paciente ou influenciar seu comportamento quanto ao uso correto dos medicamentos. As informações sobre o paciente, organizadas pelo farmacêutico durante a entrevista, devem compor o Estado Situacional deste. O estado situacional consiste na relação 17 completa dos problemas de saúde e de toda farmacoterapia, de modo que se conheçam detalhadamente os medicamentos em uso e as condições clínicas não tratadas do paciente. Com estas informações, deve ser possível também avaliar os resultados terapêuticos obtidos até o momento. O estado situacional é à base de informações sobre a qual o farmacêutico realizará a revisão da farmacoterapia e a identificação de problemas do paciente relacionados à farmacoterapia. O propósito de identificar problemas relacionados à farmacoterapia é ajudar os pacientes a atingirem suas metas terapêuticas e a obterem o máximo benefíciodos medicamentos. objetivos » Promover a prevenção, o controle ou a cura das doenças. » Analisar o tratamento farmacoterapêutico dos pacientes. » Compreender os principais problemas relacionados aos medicamentos. » Realizar o acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes, durante todo o tratamento com os medicamentos. » Definir os conceitos gerais de Cuidados Farmacêuticos e de Seguimento Farmacoterapêutico. » Definir o conceito de Problemas Relacionados com Medicamento (PRM) como indicador do processo do uso dos medicamentos. » Colocar o farmacêutico na realização de um caso prático de seguimento farmacoterapêutico. » Favorecer a formação crítica e criativa do aluno pós-graduando, destacando seu papel profissional como farmacêutico clínico oncológico. » Aprofundar os conhecimentos sobre a farmácia clínica oncológica a partir das diversas concepções, reconhecendo suas implicações teóricas e metodológicas para a área hospitalar e clínica. » Ampliar a compreensão de concepções acerca de medicamentos oncológicos e refletir sobre as respectivas implicações para o exercício da farmácia clínica oncológica. » Capacitar o profissional farmacêutico para o seguimento farmacoterapêutico do paciente com câncer. 18 19 unidAdE iACoMPAnHAMEnto FArMACotErAPêutiCo CAPítulo 1 Pacientes crônicos oração ao Farmacêutico Bendito seja tu!...que em horas mortas, Para servir um lar que a dor invade, Vais abrir tua porta com bondade Quando o sono fechou todas as portas! Bendito seja tu!...Que mal suportas, Dos venenos a cruel letalidade E os transforma, por bem da humanidade, Nos bálsamos que arranca das retortas! Quando o mundo chegar a novas eras, Quando os homens, em vez de serem feras, Se unirem pela força dos ideais Erguer-se-ão monumentos de granito Em cujos pedestais se tenha escrito: “Farmacêutico” só! Para quê mais? (Álvaro de Albuquerque) A atenção farmacêutica agrega ao farmacêutico a responsabilidade de assegurar que a terapia farmacológica indicada ao paciente seja adequada, a mais efetiva disponível, a mais segura e seja administrada na posologia prescrita. 20 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO Seguimento do tratamento farmacológico personalizado: acompanhamento farmacoterapêutico de pacientes oncológicos A presença do farmacêutico na equipe multidisciplinar de quimioterapia e procedimentos farmacêuticos deve melhorar e diminuir a frequência de erros de medicação na prescrição de citostáticos. A atenção farmacêutica tem como objetivo prevenir e resolver os problemas relacionados ao medicamento, caracterizando-se ser um procedimento centrado no bem-estar do paciente e não só no medicamento, pois tem como objetivos principais a saúde e o bem estar dos pacientes. O serviço de saúde em um modelo de qualidade deve contar com a presença do profissional farmacêutico, permitindo o cuidado e o acompanhamento individualizado do paciente hospitalizado, ambulatorial e tratado em residência, possibilitando o aconselhamento e supervisão antes ou durante o ciclo de quimioterapia. Na sua atuação deve informar o paciente oncológico sobre a finalidade dos antineoplásicos e terapia de suporte utilizada, mencionar os eventos adversos e possíveis interações medicamentosas. Nos hospitais oncológicos, o farmacêutico atua em diversas frentes do processo de utilização de medicamentos. Mas para atuar na área oncológica, é preciso se especializar. A farmácia hospitalar tem como principal função garantir, a qualidade, da assistência prestada ao paciente por meio do uso seguro e racional de medicamentos e correlatos, adequando sua aplicação à saúde individual e coletiva, nos planos assistenciais, preventivo, docente e investigativo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o papel do farmacêutico na farmácia hospitalar materializa-se, entre outros, por meio das seguintes ações: 1. informação aos docentes sobre utilização correta de produtos farmacêuticos e contribuição para seu uso racional; 2. acompanhamento e avaliação segundo protocolos terapêuticos para os doentes (perfil farmacoterapêutico); 3. aconselhamento aos doentes sobre o uso de produtos farmacêuticos não prescritos (auto tratamento farmacológico) e de produtos médico-farmacêutico; 4. participação em programas de educação para a saúde; 5. colaboração com outros membros da equipe de atenção a saúde; 6. o Conselho Federal de Farmácia estabelece que o farmacêutico deva avaliar a prescrição médica, quanto à quantidade, qualidade, compatibilidade, estabilidade e as interações do medicamento. 21 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I A Agência Nacional de Vigilância Sanitária dispõe que o responsável farmacêutico deve estar atento na preparação da terapia antineoplásica, além de avaliar a prescrição médica no que diz respeito à viabilidade, estabilidade e compatibilidade físico-química dos componentes entre si, também deve examinar a sua adequação aos protocolos estabelecidos pela equipe multidisciplinar da terapia antineoplásica. Os serviços do farmacêutico ao paciente devem consistir também no aconselhamento e supervisão do tratamento. O aconselhamento ao paciente em tratamento oncológico deve abranger os efeitos dos citostáticos e da terapêutica utilizada, localização dos efeitos, técnicas de administração, efeitos adversos e interação medicamentosa. Os serviços farmacêuticos devem estar presentes continuadamente durante todos os ciclos terapêuticos, e completar os cuidados médicos. A presença do farmacêutico na equipe multidisciplinar de quimioterapia e procedimentos farmacêuticos deve melhorar e diminuir a frequência de erros de medicação na prescrição de citostáticos. A atenção farmacêutica tem como objetivo prevenir e resolver os problemas relacionados ao medicamento, caracterizando-se ser um procedimento centrado no bem-estar do paciente e não só no medicamento, pois tem como objetivos principais a saúde e o bem estar dos pacientes. A atenção farmacêutica é capaz de agregar ao farmacêutico a responsabilidade de assegurar que a terapia farmacológica indicada ao paciente seja adequada, a mais efetiva disponível, a mais segura e que seja administrada na posologia prescrita. Apesar de varias alusões anteriores à atenção farmacêutica foi utilizada pela primeira vez na literatura científica, em 1990, por Hepler e Starnd, em que foi sugerido que “Atenção farmacêutica é a provisão responsável do tratamento farmacológico com o objetivo de alcançar resultados satisfatórios na saúde, melhorando a qualidade de vida dos pacientes”. Em 1994, na reunião de peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de atenção farmacêutica foi discutido, aceito e ampliado, tendo sido definido o papel chave do farmacêutico: Estender o caráter de beneficiário dos Cuidados Farmacêuticos ao publico, no seu conjunto e reconhecer, deste modo, o farmacêutico como dispensador da atenção sanitária que pode participar, ativamente, na prevenção das doenças e da promoção da saúde, em conjunto com outros membros da equipe sanitária. Um problema relacionado com os medicamentos (PRM) é um problema de saúde suspeito ou relacionado com a farmacoterapia que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida dos pacientes. 22 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO Para que erros de medicação sejam evitados, os farmacêuticos devem ter conhecimento sobre farmacocinética clinica, em que engloba o conjunto de atividades que tem como objetivo desenhar esquemas posológicos individualizados por meio da aplicação dos princípios farmacocinéticos. A quimioterapia pode ser administrada sistemicamente ou por métodos regionais de libertação. A quimioterapia sistêmica é realizada por administração oral, intravenosa, subcutânea, intramuscular ou intraóssea. Entre tanto, a quimioterapia regional é realizada pela libertação do fármaco diretamente nos vasos sanguíneos que alimentam o tumor ou na cavidade onde o tumor estalocalizado. Contudo, independente da via de administração, é fundamental que o profissional de saúde tome as precauções quanto ao seguimento dos protocolos estabelecidos nos guias específicos e quanto à eliminação dos detritos. Na seleção dos agentes quimioterápicos é importante seguir os seguintes princípios: cada fármaco deve ser ativo quando utilizado isoladamente para determinado tipo de câncer; os fármacos devem ter mecanismo de ação diferente; a resistência cruzada deve ser mínima; os fármacos devem ter efeitos tóxicos diferentes. Os farmacêuticos cada vez mais têm a tarefa de garantir que a terapia medicamentosa do doente esteja devidamente indicada e que seja a mais eficaz, segura e conveniente para os pacientes. A discussão aqui proposta tem por objetivo descrever a atuação do farmacêutico na equipe multidisciplinar no tratamento oncológico bem como analisar os procedimentos adotados pelo farmacêutico durante o processo de tratamento oncológico, apontar os setores onde existe uma maior dificuldade de atuação do farmacêutico e por fim conhecer o perfil do profissional farmacêutico que atua no tratamento oncológico. Atualmente, o farmacêutico esta habilitado a assumir atividades clínico-assistenciais, podendo contribuir para diminuição nos erros de medicação, racionalização administrativa e uma melhor qualidade de vida do paciente em tratamento. A presença do farmacêutico na equipe multidisciplinar de quimioterapia deve melhorar e diminuir a frequência de erros de medicação. Contudo o papel do farmacêutico no tratamento oncológico ainda é pequeno, mas vem evoluindo além da dispensação de medicamentos e das atividades diretamente relacionadas a ela. A prática da atenção farmacêutica a pacientes oncológico é possível devido à detecção de problemas relacionados a medicamentos, para que seja possível amenizar as reações adversas causadas pelos medicamentos quimioterápicos visando uma melhor qualidade de vida para os pacientes em tratamento. 23 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I O Conselho Federal de Farmácia estabelece que cabe ao profissional farmacêutico avaliar os componentes presentes na prescrição médica, quanto à quantidade, qualidade, compatibilidade, estabilidade e suas interações. Segundo os profissionais entrevistados os erros de prescrição mais comuns encontrados são quanto à posologia e doses, e quanto à medicação suporte da quimioterapia sendo ausência ou excesso, relataram ainda que tais erros não são muitos, pois as prescrições seguem um protocolo para cada tipo de câncer. As medidas adotadas pelos profissionais para que possam acompanhar o processo de tratamento oncológico é feita por meio de atualizações e farmácia clínica. Os setores na qual é encontrada maior dificuldade de atuação de acordo com os farmacêuticos clínicos, é a pediatria, pois envolve processo mais detalhado de atenção farmacêutica e a aceitação do corpo clinico. As crianças sempre apresentam características farmacocinéticas e farmacodinâmicas que se modificam ao longo do seu desenvolvimento, tornando-as especialmente vulneráveis quanto à utilização de medicamentos. Sendo assim, por motivos legais, éticos e econômicos, elas não são incluídas em ensaios clínicos para desenvolvimento de novos medicamentos, sendo chamadas de “órfãos terapêuticos”. As raras exceções podem ser encontradas em oncologia pediátrica e no âmbito da imunização ativa. Entretanto, paradoxalmente, a legislação que dificulta a execução de ensaios clínicos em crianças, não tem o poder para restringir ou normatizar a utilização dos medicamentos em pediatria. Apenas na fase IV (pós-comercialização), os medicamentos passam a ser usados em crianças, de forma empírica e muitas vezes questionável. O tratamento oncológico é sabidamente sofrido para qualquer paciente, e ele se torna mais sensível, carente e vulnerável. O paciente oncológico merece todo carinho e atenção por parte da equipe de saúde, e a presença do farmacêutico prestando atenção farmacêutica ajuda a amenizar o sofrimento e torna a farmacoterapia segura, prevenindo e tratando as possíveis reações adversas que surgirem. Com o seu olhar humano e com o seu conhecimento técnico e científico, o farmacêutico clínico, é capaz de transformar a vida do paciente oncológico, lhe assegurando uma farmacoterapia eficiente, e uma melhora considerável da sua qualidade de vida. O papel do farmacêutico é considerado fundamental em cada etapa do processo de cuidados que cercam um paciente com câncer, que precisa de um acompanhamento individualizado e personalizado. 24 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO Serviços farmacêuticos na oncologia Como um especialista em oncologia clínica, o farmacêutico é capaz de acompanhar o paciente e proporcionar uma farmacoterapia efetiva, sendo um profissional capaz de atuar em diferentes frentes de ações, atuando das seguintes maneiras: » Seleção e a Padronização de Medicamentos e Materiais: são atividades que exigirá do profissional uma sabedoria efetiva sobre os protocolos terapêuticos e de um alto suporte na terapia antineoplásica, tomando para si a todas as responsabilidades de selecionar fármacos que atendam às exigências da legislação, supervisionando se as boas práticas de fabricação estão sendo cumpridas, avaliando de maneira técnica e se preciso for, notificando aos órgãos reguladores os problemas encontrados. » Auditorias internas: para se enquadrar nas normas estabelecidas pela legislação específica da área, é fundamental que se realize as auditorias internas que envolve a avaliação estrutural de toda a área de preparo da quimioterapia (fármacos para o tratamento antineoplásico), estocagem dos fármacos e a manutenção preventiva de todo os equipamentos. » Informação sobre medicamentos: a consolidação dos conhecimentos em oncologia do farmacêutico se dá por meio da pesquisa bibliográfica que se origine em fontes científicas seguras e assim os temas relativos à: doses máximas, toxicidade acumulativa farmacocinética, farmacodinâmica, doses usuais, formas e vias de administração, incompatibilidades físico-químicas e estabilidade de fármacos. O profissional atuará como uma ligação entre o paciente e as informações da área, também para a equipe multidisciplinar, de maneira que se aprimore toda a qualidade das prescrições e do tratamento medicamentoso. O Farmacêutico disponibilizará aos pacientes todas as condutas relativas às ações terapêuticas para a diminuição dos sintomas pós-quimioterapia, que são muito desconfortáveis e dolorosos, ficando claro que a atualização tem que ser uma constante para o profissional de saúde atuante em oncologia. » Manipulação dos agentes antineoplásicos Utilizando-se das normas locais e padrões internacionais, o preparo de antineoplásicos é realizado com técnica asséptica, contando com a infraestrutura adequada do ambiente e procedimentos preestabelecidos. O ciclo de manipulações ocorre de forma efetiva e dentro de suas especificações somente mediante o controle de qualidade efetuado 25 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I diariamente, diminuindo assim riscos associados ao manejo inadequado dos medicamentos ou à falta de preparo do manipulador. » Farmacovigilância na terapia antineoplásica, os pacientes são candidatos ao desenvolvimento de potenciais reações adversas devido à poliquimioterapia e suas implicações como estreita margem terapêutica, tempo prolongado de tratamento e concomitância com outros tratamentos de suporte. Tal contexto exige a detecção e identificação das reações adversas, fatores de risco para o desenvolvimento destas, com a seguinte notificação aos órgãos vinculados à farmacovigilância, como a ANVISA ou ao Centro de Vigilância Sanitária (CVS). » Educação continuada e participação em comissões institucionais. A junção entre a teoria e prática caminha no sentido de prover uma melhora da terapia do paciente quando acompanhadacertamente da educação continuada dos profissionais pelo acesso aos artigos científicos, participações em congressos, cursos, dinâmicas entres outros meios de divulgação e educação em saúde. Assim, o comportamento somente técnico dá lugar ao desenvolvimento comportamental do profissional nas competências investigativas, assistências, pesquisa e ensino. O farmacêutico atuante em oncologia deve participar da dinâmica hospitalar por meio de participações na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), promovendo ações de uso racional de antibióticos, Comitê de Ética e Pesquisa Clínica (CEP), avaliando a pesquisa clínica e aprovando a inclusão de projetos de pesquisa na instituição, Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT), buscando a qualificação de fornecedores bem como o acompanhamento no uso dos produtos e avaliação das exigências legais. A portaria do Ministro da Saúde define que a Política Nacional de Atenção Oncológica deve ser constituída a partir dos seguintes componentes fundamentais: 1. promoção e vigilância em saúde; 2. atenção básica; 3. média complexidade; 4. alta complexidade; 5. centros de referência de alta complexidade em oncologia; 6. plano de controle do tabagismo e outros fatores de risco, do câncer do colo do útero e da mama; 26 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO 7. regulamentação suplementar e complementar; 8. regulação, fiscalização, controle e avaliação; 9. sistema de Informação; 10. diretrizes Nacionais para a Atenção Oncológica; 11. avaliação Tecnológica; 12. educação permanente e capacitação; 13. pesquisa sobre o câncer. A Política Nacional de Atenção Oncológica está em processo de revisão, com atualização constante de todos os processos cirúrgicos oncológicos, crescimento da radioterapia e adaptação de um novo modelo de assistência farmacêutica em oncologia, revisão esta, que é realizada em conjunto com a organização de redes hospitalares e clínicas para uma melhoria da prevenção, do diagnóstico e no cuidado integral, na vigilância em saúde, na educação e pesquisa, com objetivos da regulamentação de seus serviços prestados junto à comunidade. Atribuições técnicas e dispositivos legais para atuação do farmacêutico na área oncológica De acordo com a Resolução no 288/1996 editada pelo Conselho Federal de Farmácia em 21/3/1996, compete ao profissional farmacêutico a propriedade de garantir as condições adequadas de formulação, preparo, armazenagem, conservação, transporte e segurança quanto ao uso de medicamentos antineoplásicos. Atribuições privativas do farmacêutico atuando em oncologia: 1. selecionar, adquirir, armazenar e padronizar os medicamentos antineoplásicos; 2. avaliar a prescrição médica, quanto à quantidade, qualidade, compatibilidade, estabilidade e suas interações; 3. proceder a formulação dos antineoplásicos segundo prescrição médica em concordância com preconizado em literatura; 4. manipular drogas antineoplásicas em ambientes e condições assépticos e obedecendo a critérios internacionais de segurança; 27 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I 5. orientar, supervisionar e estabelecer rotinas nos procedimentos de manipulação preparação dos antineoplásicos; 6. preencher adequadamente o rótulo, assinar e carimbar, identificando o paciente, a quantidade e efetuar as devidas recomendações de estabilidade e administração; 7. determinar o prazo de validade para cada unidade antineoplásico de acordo com as condições de preparo e características da substância; 8. assegurar o prazo de validade dos antineoplásicos após o preparo até a administração; 9. registrar cada solução de antineoplásico preparada; 10. assegurar destino adequado para os resíduos dos antineoplásicos; 11. compor a equipe multidisciplinar nas visitas aos pacientes submetidos ao tratamento com antineoplásicos; 12. participar das reuniões, discussões de casos clínicos e atividades didáticas e científicas da equipe multidisciplinar; 13. possibilitar estágios supervisionados a farmacêuticos e acadêmicos de farmácia; 14. participar e atuar em toda divulgação técnica científica vinculada ao marketing do suporte quimioterápico. Um aspecto importante que está sendo debatido com muita frequência é a quebra do modelo de que o termo “Farmácia Clínica” está relacionado somente ao âmbito hospitalar, pois onde houver paciente, haverá atividades focadas nele e, por conseguinte, Farmácia Clínica. Dentro deste contexto então, encontramos o próprio hospital, os postos de saúde, as “Farmácias do Setor Privado” os estabelecimentos de ensino e até os laboratórios de análises clínicas. O serviço de saúde em um modelo de funcionamento e de gestão de qualidade, deve contar com a presença do farmacêutico em seu quadro funcional, permitindo o cuidado e o acompanhamento individualizado do paciente hospitalizado, ambulatorial e tratado em sua residência quando necessário for, possibilitando o aconselhamento e supervisão antes ou durante o ciclo de quimioterapia. A atuação farmacêutica deve complementar os serviços médicos de modo a informar ao paciente oncológico sobre a finalidade dos antineoplásicos (fármacos específicos de combate ao câncer) e terapia de suporte utilizada, orientação completa sobre os eventos adversos e as possíveis interações medicamentosas que podem ocorrer durante o ciclo do tratamento medicamentoso. 28 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO A ocorrência de efeitos adversos após o uso dos medicamentos e como devem ser contornados e evitados também deve fazer parte da interação paciente-farmacêutico. O tratamento oncológico apresenta vários fatores a serem considerados e observados, como: estreita margem terapêutica dos fármacos utilizados, elevada taxa de interações medicamentosas e uma elevada frequência de eventos adversos, sendo assim, fundamental ao farmacêutico o conhecimento do plano terapêutico traçado, permitindo a resolução e prevenção de qualquer problema da terapia medicamentosa, e conseguindo desta forma alcançar os objetivos terapêuticos e prevenindo os eventuais desvios da terapia. No seguimento farmacoterapêutico, o farmacêutico deve sempre assegurar as necessidades do paciente em relação ao medicamento, pelo acompanhamento de todo o processo terapêutico, identificando os Problemas Relacionados ao Medicamento (PRMs) para a prevenção e resolução de Resultados Negativos associados à Medicação (RNMs), de forma sistemática, contínua e documentada, com o intuito de alcançar resultados concretos, com a final melhora da qualidade terapêutica. Conforme proposto pelo Terceiro Consenso de Granada (2007), os PRMs podem ocorrer por várias causas. Os métodos farmacoterapêuticos existentes para a execução junto ao paciente oncológico demonstram a total necessidade do farmacêutico em possuir uma personalidade comunicativa, para que se desenvolva uma relação terapêutica adequada com o paciente. O farmacêutico pode ajudar na solução de Problemas Relacionados com Medicamentos, fazendo-se uso da relação de parceria com o paciente. A relação de parceria e de confiança que deve ser estabelecida entre o farmacêutico e o paciente, promove ao paciente uma confiança necessária para que ele exponha sua situação de saúde e uso de medicamentos, possibilitando assim, uma análise mais autêntica dos dados obtidos e, também, uma identificação mais precisa dos problemas. Após ser instituída a relação de parceria e documentados os problemas, pode-se iniciar a resolução dos problemas identificados, objetivando sempre uma melhoria da qualidade de vida do paciente oncológico. Principais métodos mais utilizados para o seguimento dos pacientes » SOAP (Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Plano), na qual cada um dos termos faz referência a uma etapa do processo de atendimento do paciente, detalhando cada atividade a ser realizada. Este método possui aplicabilidade tida como grande, visto o seu fácil entendimento por todos os profissionais da saúde.› Informações subjetivas desta etapa: são registradas as informações básicas do estado de saúde do paciente que não fazem parte dos 29 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I conhecimentos objetivos. A abordagem farmacêutica busca informações pertinentes ao uso de medicamentos e suas complicações e sua relação com a doença. › Informações objetivas Consistem na obtenção de dados referentes aos sinais vitais do paciente, observação dos exames laboratoriais e exames físicos realizados pelo profissional habilitado para tal. › Avaliação Com a posse das informações subjetivas e objetivas, o farmacêutico pode identificar possíveis problemas relacionados ao uso de medicamentos e posteriormente pretender a resolução dos mesmos com as intervenções farmacêuticas possíveis e competentes ao profissional. › Plano Com os dados obtidos das informações subjetivas e objetivas, o farmacêutico deve informar ao paciente qual o plano terapêutico será utilizado, sempre em acordo com este, para um melhor planejamento das condutas. O paciente será informado da necessidade de seus medicamentos serem analisados pelo prescritor, e a partir daí se estabelecer o acompanhamento dos resultados das condutas utilizadas, em especial quando houver modificações na prescrição médica ou no quadro do paciente. » Estudo Farmacêutico da Terapia Farmacológica (Pharmacist´s Workup of Drug Therapy ou PWDT): Trata-se de um método foi desenvolvido na Universidade de Minnesota por Strand e colaboradores, podendo ser utilizado em farmácias comunitárias e cabível a qualquer paciente. › Objetivos: · suprir as necessidades dos pacientes referentes ao uso de medicamentos, com anterior avaliação da situação, e utilização de recursos existentes; · realização do seguimento farmacoterapêutico com determinação dos resultados obtidos. › Análise de dados: a farmacoterapia é analisada segundo sua efetividade, segurança e adequação, mediante coleta de dados e caracterização da mesma. A avaliação é pautada segundo as necessidades do paciente na utilização de medicamentos e na identificação dos problemas relacionados com medicamentos para que estes não interfiram no andamento da terapia proposta. 30 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO › Plano de atenção: o objetivo é a resolução de problemas relacionados com medicamentos pelo farmacêutico, como também a prevenção de possíveis problemas utilizando para tal o planejamento terapêutico. O plano de atenção deve estar de acordo com a realidade do paciente, passível de acompanhamento e prestação de informações. › Monitorização e avaliação: esta etapa visa verificar em que situação estão os resultados farmacoterapêuticos até o momento alcançados, a reavaliação das necessidades do paciente frente a novas situações terapêuticas, com o eventual surgimento de novos PRMs ou também novos problemas de saúde. Podem ser identificados alguns passos a serem seguidos nesta etapa: estabelecer uma base de dados para cada paciente; Identificar os problemas relacionados com medicamentos; Descrever os resultados terapêuticos desejados; Detalhar as alternativas terapêuticas que se deseja e que podem ser alcançadas; Seleção do tratamento mais adequado; Delineamento de um plano terapêutico adequado e sua documentação. » Monitorização dos Resultados Terapêuticos (Therapeutic Outcomes Monitoring ou TOM): Este método deriva do PWDT sendo utilizado por farmacêuticos. Âmbito da farmácia, levando em consideração os achados de Lawrence Weed o método pode ser descrito: levantamento e interpretação das informações do histórico de saúde do paciente e de sua terapia; as informações abordam o uso de medicamentos, problemas de saúde, dados socioeconômicos e expectativa do paciente com a evolução do seu tratamento; análise da prescrição, informando e orientando o paciente sobre sua terapia; caso necessário, deve se realizar o contato com o prescritor a fim de solucionar eventuais duvidas; adequação do plano terapêutico com a realidade do paciente, comunicando qualquer desvio ao prescritor; Desenvolvimento do plano de monitorização do paciente, considerando os protocolos padrões de terapia, medicamentos e doença; Instrução para o uso racional dos medicamentos; Agendamento dos encontros; Evolução do uso do medicamento, suas falhas e efeitos adversos; resolução dos problemas, com notificação ao médico prescritor; remodelação do plano de monitorização quando necessário. » Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico: o método Dáder foi desenvolvido pelo “Grupo de Investigación em Atención Farmacêutica de la Universidad de Granada” para ser utilizado em farmácias comunitários e hospitalares. 31 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I Passos para a execução do método: › oferta do serviço ao paciente: com a concordância deste é agendado a conversa para ilustração das atividades a serem desenvolvidas; pode-se fazer uso de dados laboratoriais, lista de medicamentos e demais informações da saúde do paciente para os esclarecimentos; › primeira entrevista: o paciente deve relatar suas preocupações e problemas de saúde; o farmacêutico deve estar atento ao grau de conhecimento do paciente em relação aos medicamentos usados, como também prestar esclarecimentos sobre o uso correto destes; revisão dos dados obtidos; › análise situacional: busca a relação entre seus problemas de saúde e o uso dos medicamentos; › fase de estudo: na qual os problemas de saúde e os medicamentos utilizados são estudados para posterior avaliação, são consideradas as características do paciente; › fase de avaliação: estabelece as suspeitas de PRMs que o doente possa apresentar; a fundamentação para tal suspeita decorre da fase de estudo; › fase de intervenção: tem como objetivo elaborar um plano de atuação de acordo com o paciente e implementar as intervenções necessárias para resolver ou prevenir os PRMs; o plano é apresentado ao paciente em um segundo encontro; › resultado da intervenção: o objetivo é constatar se o resultado está de acordo com a proposta na intervenção; › nova análise situacional: em que as mudanças decorrentes desde a intervenção são avaliadas e caso necessário se dá uma nova intervenção. Todos os métodos apresentam suas vantagens e desvantagens, sendo necessária, em seu uso, a obtenção da maior quantidade possível de informações do estado de saúde do paciente, uso de medicamentos, estado socioeconômico e suas dúvidas mais pertinentes sobre o tratamento. Para tal, torna-se necessário uma adequada organização e documentação das informações obtidas, podendo, assim, identificar os PRMs e suas causas, estabelecendo a intervenção farmacêutica para o paciente. Como processo seguinte, encontra-se a monitorização do plano de intervenção e caso necessário o reinicio do processo. A escolha do método deve se adequar à realidade do paciente oncológico, visto a complexidade do tratamento e a grande quantidade de efeitos adversos descritos para 32 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO cada medicamento. A formação do profissional farmacêutico irá influenciar o tipo de metodologia adotada, o que para a terapia oncológico tende a uma metodologia mais detalhada em que a condução do processo se oriente na redução de erros de medicação e também na utilização da terapia não farmacológica, que inclui indicações de exercícios físicos e alimentação regrada, garantindo a diminuição dos eventos adversos e melhora da qualidade de vida do paciente. Atuando na área clínica e hospitalar, é necessário então, que se conheça também, além das atuações farmacêuticas junto ao paciente oncológico, como o farmacêutico clínico e hospitalar deve atuar quando se deparar diante de pacientes que possuem diversas outras enfermidades e patologias. Veremos a seguir, doenças e a atuação clínica do farmacêutico em cada uma delas. Ressalta-se ainda que, os pacientes oncológicos podem muitas vezes possuir estas doençasque serão abordadas logo adiante: A Atenção Farmacêutica a pacientes com doenças crônicas permite detectar, prevenir e solucionar Problemas Relacionados a Medicamentos (PRMs), orientando-os sobre a importância do uso correto dos medicamentos que utilizam. A hipertensão arterial, asma e diabete são patologias que têm alta morbidade e mortalidade, mas que podem ser evitadas com níveis primários de atenção à saúde, por meio da identificação de indivíduos que correm alto risco de desenvolver essas patologias, do tratamento de indivíduos sintomáticos, da detecção precoce e do tratamento das complicações agudas e crônicas. O farmacêutico, pela orientação e educação farmacêutica, pode contribuir com o aumento da adesão do paciente ao tratamento farmacológico e não farmacológico, diminuindo os riscos de interações, toxicidade dos medicamentos, identificando efeitos adversos e problemas relacionados aos medicamentos. Ressalta-se que, os efeitos adversos são um dos principais fatores para a não adesão a terapia pelo paciente e pode influenciar na efetividade, levando a uma progressão da doença. A adesão ou não do tratamento pode envolver diversos fatores como: custo do tratamento, esquemas terapêuticos complexos, relação da equipe multiprofissional com o paciente, bem como as próprias características intrínsecas do paciente. Ajudar indivíduos com doenças avançadas e potencialmente fatais, as chamadas doenças terminais, e seus familiares em um dos momentos mais cruciais de suas vidas é uma atividade ou um modelo de atenção à saúde que vem sendo denominado como “cuidados paliativos”. A assistência paliativa é voltada ao controle de sintomas, sem função curativa, com vistas a preservar a qualidade de vida (QV) até o final. Os cuidados visam à promoção do conforto e são basicamente voltados para higiene, alimentação, curativos e cuidados com ostomias e para atenção sobre analgesia, observando-se, portanto, as necessidades de diminuição de sofrimento e aumento de conforto. 33 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I Tratamento oncológico é o tratamento que utiliza medicamentos que atuam inibindo alguma das fases da reprodução celular, consequentemente interferindo no crescimento dos tumores. Atualmente, o farmacêutico está habilitado a assumir atividades clínico-assistenciais, podendo contribuir para diminuição nos erros de medicação, racionalização administrativa e uma melhor qualidade de vida do paciente em tratamento. A presença do farmacêutico na equipe multidisciplinar de quimioterapia deve melhorar e diminuir a frequência de erros de medicação. Contudo o papel do farmacêutico no tratamento oncológico ainda é pequeno, mas vem evoluindo além da dispensação de medicamentos e das atividades diretamente relacionadas a ela. Como descrito acima, a atuação do farmacêutico juntamente com a equipe multidisciplinar no tratamento oncológico é de suma importância para garantir uma assistência farmacêutica adequada e utilizando fazer uso de mecanismos gerenciais para uma administração eficaz e racional. A atenção farmacêutica em especial, com o acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes, assegura uma terapia adequada e efetiva no tratamento oncológico. Veremos agora como se faz o acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico de pacientes crônicos, que muitas vezes estarão acometidos também pelo câncer. O farmacêutico exercerás junto a estes pacientes um papel fundamental, e a orientação deve se estender para todos os familiares dos pacientes ou os seus cuidadores. Asma A asma é classificada como uma doença inflamatória tipo crônica e possui uma alta prevalência mundial e ainda um elevado índice de morbidade, causando custos e outros problemas ao paciente e a toda a sua família. Deve-se observar com atenção que, na asma, o que mais complica o tratamento é o seguimento feito de modo incorreto ou o abandono do tratamento prescrito pelo paciente. A não adesão à prescrição médica indicada é considerada uma das principais causas de uma terapêutica inefetiva. O baixo índice de aderência do asmático ao tratamento preconizado tem sido frequentemente documentado na literatura médica, visto que apenas metade dos pacientes asmáticos utiliza, de fato, a medicação prescrita. É importante ressaltar que, esse baixo índice de aderência pode estar ligado ao diversos fatores, tais como dificuldade de administração dos medicamentos, benefício não satisfatório obtido pela utilização do medicamento, risco de efeito adverso, duração prolongada do tratamento, uso de múltiplos medicamentos e períodos de remissão dos sintomas. A administração de medicamentos inalatórios é a principal maneira de se tratar os pacientes que possuem alguma doença pulmonar. A utilização de inaladores consegue 34 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO alcançar com eficiência os pulmões, aumentando a concentração do fármaco nas vias aéreas e também diminuindo os efeitos adversos sistêmicos. O sucesso terapêutico do fármaco inalatório depende não somente da formulação e do tipo de dispositivo, mas da habilidade, por parte do asmático, em realizar a técnica inalatória de maneira correta. O Farmacêutico clínico tem um papel muito importante no acompanhamento dos pacientes que possuem asma na forma persistente. A literatura demonstra os diversos benefícios de programas educacionais, conduzidos pelo farmacêutico ao paciente asmático, que conseguem resultar em uma maior aderência ao tratamento terapêutico, promove uma correta utilização dos medicamentos inalatórios, detectam os problemas relacionados aos medicamentos, melhoram a qualidade de vida do paciente e de maneira muito comum e significativa, conseguem reduzir o número de visitas aos serviços de emergência, assim como o de hospitalizações por causa do agravamento da asma. Dados da Europa mostram que existe uma necessidade clara do treinamento específico e detalhado para os pacientes sobre toda a realização correta da técnica inalatória para os diversos e diferentes dispositivos atualmente disponíveis, e essa informação e treinamento deve ser realizado constantemente, para a manutenção da técnica inalatória correta. Os problemas relacionados à adesão ao tratamento são relatados em pacientes com doenças crônicas, e o farmacêutico está em lugar de privilégio, pois ele tem acesso aos problemas de baixa adesão ao tratamento, que afetam significativamente os resultados de saúde do paciente. As estratégias de monitoramento para uma melhoria da adesão estão bem relatadas no plano de atenção farmacêutica. Então, é fundamental que o farmacêutico também participe de uma educação e orientação dos pacientes asmáticos e que domine as técnicas para poder contribuir para o treinamento eficaz do paciente. Apesar do profissional farmacêutico já ter iniciado a sua participação em muitos programas educacionais, e já ter apresentado resultados efetivos e positivos no controle da asma, a sua participação na assistência ao paciente ainda é baixa, em vários países. Aqui no Brasil, esta situação não é muito diferente. É necessário intervir nesse problema ainda nos cursos de Graduação ou de Pós-graduação na área farmacêutica, encorajando o desenvolvimento de projetos de atenção farmacêutica adaptados ao nosso sistema de saúde. A atenção farmacêutica certamente melhorará os níveis de aderência ao tratamento e garantirá a correta utilização dos dispositivos inalatórios, objetivando o controle da asma. diabetes A doença diabetes é classificada como uma síndrome metabólica (marcador de risco cardiovascular) de origens múltiplas, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade 35 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I de a insulina exercer adequadamente seus efeitos, causando um aumento da glicose (açúcar) no sangue. O diabetes se instala porque o pâncreas não é capaz de produzir o hormônio insulina em quantidade suficiente para suprir as necessidades do organismo ou porque este hormônio não é capaz de agirde maneira adequada (resistência à insulina). A insulina promove a redução da glicemia ao permitir que o açúcar que está presente no sangue penetre dentro das células, para ser utilizada como fonte energética. Sendo assim, caso falte esse hormônio, ou mesmo se ele não trabalhar de maneira correta, haverá aumento de glicose no sangue e, a doença se instala. » Diabetes tipo 1: no diabetes tipo 1, é conhecida como uma doença hereditária, na qual o pâncreas perde a sua capacidade de produzir o hormônio insulina em decorrência de um defeito do sistema imunológico, sendo então uma doença autoimune, levando os nossos anticorpos a atacar as células que produzem esse hormônio (células beta do pâncreas). O diabetes tipo 1 atinge cerca de 5 a 10% dos pacientes com diabéticos. » Diabetes tipo 2: no diabetes tipo 2, conhecido como uma doença adquirida, existe uma conjunção de dois fatores: a diminuição da secreção do hormônio insulina e também ocorre uma falha na sua ação, relatada como uma resistência à insulina. Comumente, o diabetes tipo 2 consegue ser tratado com fármacos orais ou injetáveis, mas, com o passar do tempo, pode ocorrer o agravamento da doença. Uma enorme quantidade de pacientes se tornam insulino-dependentes com o passar do tempo. O diabetes tipo 2 acomete cerca de 90% dos pacientes com diabetes diagnosticados. » Pré-diabetes: a pré-diabetes é um termo usado para indicar que o paciente tem potencial para desenvolver a doença, como se fosse um estado intermediário entre o saudável e o diabetes tipo 2, pois no caso do tipo 1, não existe pré-diabetes, a pessoa nasce com uma predisposição genética ao problema e a impossibilidade de produzir insulina, podendo desenvolver o diabetes em qualquer idade. O diabetes não é uma doença transmissível. Existe, em especial no tipo 1, há uma propensão genética para se ter a doença e não uma transmissão. Pode acontecer, por exemplo, de a mãe ter diabetes e os filhos nascerem totalmente saudáveis. Já o diabetes tipo 2 é uma consequência de maus hábitos de vida, como sedentarismo e obesidade, que também podem ser percebidos pela família toda – explicando porque pessoas próximas tendem a ter a doença conjuntamente. 36 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO Existem ainda os subtipos de diabetes que são originários de falhas genéticas e que se associam a várias outras doenças, mas podem surgir também devido ao uso de fármacos. A seguir os subtipos da doença: » diabetes por defeitos genéticos da função da célula beta; » por defeitos genéticos na ação da insulina; » diabetes por doenças do pâncreas exócrino (pancreatite, neoplasia, hemocromatose, fibrose cística etc.); » diabetes por defeitos induzidos por drogas ou produtos químicos (diuréticos, corticoides, betabloqueadores, contraceptivos etc.). Sintomas » Poliúria ─ a pessoa urina demais e, como isso a desidrata, sente muita sede (polidpsia). » Aumento do apetite. » Alterações visuais. » Impotência sexual. » Infecções fúngicas na pele e nas unhas. » Feridas, especialmente nos membros inferiores, que demoram a cicatrizar. » Neuropatias diabéticas provocada pelo comprometimento das terminações nervosas. » Distúrbios cardíacos e renais. recomendações » O tratamento do diabetes exige, além do acompanhamento médico especializado, os cuidados de uma equipe multidisciplinar. Procure seguir as orientações desses profissionais. » A alimentação tem que ser analisada em detalhes. O paciente deve ser orientado a procurar uma ajuda para poder elaborar o seu cardápio de maneira adequada para cada caso específico. Não significa que o paciente terá que se privar para sempre dos alimentos que fazem parte do seu cotidiano. Quando a doença estiver sob controle, os alimentos poderão ser consumidos, mas com cautela e controle, sem excessos. 37 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I » Um programa regular de exercícios físicos irá ajudá-lo a controlar o nível de açúcar no sangue. Coloque-os como prioridade em sua rotina de vida. » O fumo provoca estreitamento das artérias e veias. Como o diabetes compromete a circulação nos pequenos vasos sanguíneos (retina e rins) e nos grandes vasos (coração e cérebro), fumar pode acelerar o processo e o aparecimento de complicações. » O controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol e triglicérides deve ser feito com regularidade. » Medicamentos à base de cortisona aumentam os níveis de glicose no sangue. Não se automedique. » Se obter um diagnóstico precoce da doença, é primordial para que o tratamento seja bem sucedido. O paciente deve procurar um serviço de saúde ao menor sinal, se ele estiver urinando em excesso ou sentindo muita sede durante o dia e também fome em excesso. » O diabetes não pode ser jamais analisado em separado das outras doenças relacionadas aos problemas glandulares. Pois não somente a obesidade, mas vários outros distúrbios de metabolismo como: (excesso de cortisona, do hormônio do crescimento ou ainda uma maior produção de adrenalina pelas suprarrenais) podem se associar ao diabetes e agravar esta doença. » O tipo I é chamado de insulinodependente, pois se exige o uso de insulina por via injetável (um aporte externo) para poder suprir no organismo, esse hormônio que deixou de ser sintetizado pelo pâncreas. A suspensão da medicação, e não adesão terapêutica pode provocar a cetoacidose diabética, distúrbio metabólico que pode colocar a vida em risco. » O tipo II não depende da insulina e pode ser controlado por meio do uso de medicamentos administrados por via oral e também por meio das mudanças de hábitos de vida. A doença quando se torna descompensada pode levar ao coma diabético, uma complicação grave que causa até a morte do paciente. » Uma dieta equilibrada será fundamental para o controle da doença. A orientação de uma nutricionista e o acompanhamento de psicólogos e psiquiatras podem ajudar muito a controlar o peso e, como consequência, criar uma possibilidade de se usar doses mais baixas de fármacos. » Praticar uma atividade física pelo menos de 20 minutos ao dia, ou no mínimo 3 vezes por semana, é importante para se reduzir os níveis de glicose sanguíneos, válido para os dois tipos de diabetes. 38 UNIDADE I │ ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO Fatores de risco » Obesidade (inclusive a infantil). » Fator genético. » Sedentarismo. » Hipertensão. » Níveis altos de colesterol e suas frações e o triglicérides. » Medicamentos, como os corticoesteroides, que elevam a glicemia. » Idade acima dos 30 anos (para o diabetes tipo II). » Fator psicológico. diagnóstico Os médicos pedirão vários exames de sangue para identificar o diabetes. Geralmente, o seu médico pedirá que você evite comer antes de tirar uma amostra de sangue. O farmacêutico pode ajudar a diagnosticar a doença por meio da dosagem da glicemia capilar nas farmácias, e caso o resultado seja muito acima do valor de referência, o paciente deve ser encaminhado ao médico. A principal meta do tratamento do diabetes é controlar seus níveis de glicemia. Controlando os seus níveis de glicemia, o paciente aumenta suas chances de ter uma vida saudável e sem nenhuma complicação. tratamento terapia com insulina Utilizada no diabetes tipo 1, porque o corpo não produz esse importante hormônio. Já no diabetes tipo 2, pode ser que o paciente precise tomar insulina, caso não controle a doença. Existem muitas formas de se tomar insulina, incluindo a tradicional ampola e seringa, as canetas de insulina e ainda a terapia com bomba de infusão de insulina. Ampola e seringa É o método convencional e ainda mais utilizado para a administração da insulina, e requer que a insulina seja injetada pelo menos uma vez por dia. A insulina será retirada de uma ampola e será injetada na camada subcutânea da pele por meio de uma seringa descartável. 39 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO │ UNIDADE I Caneta de insulina As canetas fazem parte de um cartucho
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