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HIPERPARATIREOIDISMO Antigamente, o diagnóstico era apenas em fase tardia, no entanto atualmente, o diagnóstico é cada vez mais precoce de hiperparatireoidismo. CÁLCIO: Regulação fina para processos fisiológicos: · Sinalização celular · Comunicação neuronal · Metabolismo ósseo · Contração muscular A paratireóide é responsável por regular o cálcio do organismo (sangue/tecido) PARATORMÔNIO: Paratireóides: · A paratireóide é uma glândula próxima da tireoide, em que tem origem eterimbriológica diferente do tecido tireoidiano. · A paratireóide é composta de 4 glândulas dispostas no trajeto das artérias tireoidianas superiores e inferiores. Logo, quando faz cirurgia da tireoide tenta preservar a paratireoide. · O PTH (Paratormônio) é o principal hormônio secretado pelas paratireóides, em que esse faz a manutenção dos níveis fisiológicos de cálcio no sangue. · As paratireóides têm receptores/sensores de cálcio na membrana celular. · Queda de cálcio sérico → Estimula a SECREÇÃO DE PTH, atuando nos rins, intestino e osso, fazendo com que aumente o cálcio sérico. · Quanto mais cálcio, menor a secreção de PTH · Quando menos cálcio, maior a secreção de PTH Ação do PTH: · RINS → Reabsorção tubular de cálcio, excreção de fósforo, estímulo 1 alfa-hidroxilase renal. · INTESTINO → Hidroxilação - forma ativa da vitamina D (calcitriol) - aumento da absorção intestinal de cálcio e fósforo. · OSSOS → Ação osteoclastos → Reabsorção óssea A função do PTH é controlar o CÁLCIO NO SANGUE. Quando tem aumento de cálcio no sangue, seja pela ação óssea ou ação renal (direta e indireta), vai ter um feedback negativo na paratireoide para diminuir o PTH. Agora quando o cálcio está baixo no sangue vai ter um feedback positivo para estimular a paratireoide. CALCITONINA: · A calcitonina faz um antagonismo com o PTH. · É produzida pelas células C da tireoide (proveniente da crista neural - origem endodérmica) - pode ser foco de tumor (Carcinoma Medular de Tireoide - CA que acontece nas células C da tireoide produtoras de calcitonina). · A calcitonina atua nos osteoclastos fazendo inibição, consequentemente reduz liberação de cálcio e fósforo dos ossos. HIPERPARATIREOIDISMO: Quando tem um desequilíbrio na manutenção do cálcio, as paratireóides podem ter tanto uma hipofunção quanto uma hiperfunção. DEFINIÇÃO: · Excesso de PTH na circulação, consequentemente terá um aumento do cálcio sérico. CLASSIFICAÇÃO: O hiperparatireoidismo pode se apresentar de 3 formas: 1. PRIMÁRIO: · Níveis elevados de PTH com hipercalcemia. · Autonomia - doença da própria paratireóide. · Ex: adenoma de paratireóide - secreta hormônio em excesso. 2. SECUNDÁRIO: · Paratireoides normais - a secreção em excesso do PTH é secundária. · Resposta a alterações metabólicas: · Hipocalcemia → Cálcio baixo no sangue, os receptores da paratireóide percebem e começam a secretar PTH em excesso. · Deficiência de vitamina D → Paciente que não toma sol e ao avaliar a vitamina D está baixo - importante verificar o PTH, pois é bem provável que esteja alto, com intenção de aumentar a vitamina D para absorver mais cálcio intestinal. A própria deficiência é reconhecida, com isso a paratireóide vai liberar mais PTH, consequentemente o PTH vai estimular o rim e esse libera vitamina D. Por fim, terá um aumento de PTH (hiperparatireoidismo). · Doenças hepáticas, renais e intestinais → Paciente renal crônico é muito comum ter hiperparatireoidismo. 3. TERCIÁRIO: · Glândulas estimuladas por muitos anos tornando-se autônomas (Insuficiência Renal Crônica - estímulo secundário) - mesmo corrigindo o problema renal, por exemplo, as paratireoides ainda podem continuar hiperfuncionantes. HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO: Definição: · Uma ou mais glândulas secretam PTH sem estímulo fisiológico - Doença na paratireóide. Causas: · Adenoma único: 85% (única glândula secretando PTH) · Doença multiglandular: 15% (várias glândulas secretando PTH) · Carcinoma de paratireoide: 1% (muito raro) · Glândulas ectópicas: 4-16% (quando tem mais de 4 glândulas em locais não habituais). · Mediastino, em torno do esôfago, dentro da tireóide, ou na região até o ângulo da mandíbula. Etiologia: · Esporádica → Desconhecida · Genética → Associações com síndrome familiares · NEM 1 (Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 1): · Causa mais comum familiar · Mutação no gene MEN1 (gene menin) → herança dominante · Tumores endócrinos: Paratireóide (mais comum), hipófise (prolactinoma) e células entero-pancreáticas (insulinoma ou gastrinoma). · Clínica: Hipercalcemia associada a outros tumores endócrinos (TC,RM) · NEM 2A: · Outra alteração genética - síndrome genética familiar; · Comum o paciente ter: Carcinoma medular de tireóide, feocromocitoma e hiperparatireoidismo primário · Mutação no gene proto oncogene: RET. · Benefício com cirurgia. · Quando se realiza o diagnóstico é importante pesquisar esse gene nos parentes de 1º grau. Epidemiologia: · É considerado como a 3ª desordem endocrinológica mais comum; · Suspeita quando o paciente realiza exame de rotina e o cálcio vem alto. · Incidência aumenta com a idade · Incidência estimada: 27-30 por 100 mil/ano · Pico de incidência: mulheres 50-60 anos. Manifestações Clínicas: · Aumento das concentrações de PTH: · Reabsorção excessiva de cálcio · Fosfatúria → Quando absorve o cálcio excreta fósforo, por isso uma fosfatúria. · Síntese de 125 (OH) vitamina D · Aumento da reabsorção óssea → Pode causar uma osteíte fibrosa cística (foto - osso vai ficando poroso, pois não tem cálcio para o osteoblasto produzir matriz óssea). · Hipercalcemia: · Fraqueza muscular · Adinamia · Alterações comportamentais · Desidratação · Manifestações renais e ósseas · Hipofosfatemia · Perda de osso cortical · Hipercalciúria Hoje em dia é muito difícil encontrar o paciente com esses sintomas - os pacientes são mais assintomáticos. · Paciente sintomáticos: · Nefrolitíase, nefrocalcinose, cólica nefrética, poliúria, polidipsia - pode começar a ter deposição de cálcio. · Osteíte fibrosa cística: aumento reabsorção óssea e substituição fibrovascular (hipodensidade) → Desmineralização óssea generalizada (perda de cálcio ósseo) → Reabsorção subperiosteal nas falanges, aspecto serrilhado e irregular. → Cistos ósseos em ossos longos → Crânio: “Padrão sal e pimenta” · Outras: · Calcificações conjuntivas, córnea ou esclera. · Hipertensão · Gastrointestinais: Anorexia, náuseas, vômitos, constipação, úlcera péptica, pancreatite aguda e crônica. O HIPERPARATIREOIDISMO MODERNO: · Antigamente, o paciente tinha muitas queixas como as citadas acima. No entanto, hoje tem-se um aumento do número de casos assintomáticos. · Hipercalcemia incidental - exames de rotina encontram cálcio muito elevado. · Sintomas “inespecíficos”: Fraqueza, alterações na memória e dificuldade de concentração. · Paciente com alterações bioquímicas (cálcio muito alto) e sintomas típicos é indicado cirurgia para o tratamento. Porém, não são todos os pacientes que vão ser submetidos a cirurgia. · Hiperparatireoidismo assintomático: · Critérios para tratamento: → Idade < 50 anos → Clearance de creatinina (calculados) < 60 ml/min → Cálcio sérico 1 mg/dl (acima do limite da normalidade) HIPERCALCEMIA HIPOCALCIÚRICA FAMILIAR: · Benigno - não precisa de tratamento cirúrgico, apenas acompanhamento. · Famílias com hipercalcemia assintomática - níveis de cálcio elevado quando comparado com uma pessoa saudável, porém para o limiar dela é normal. · Sem sinais de complicações da hipercalcemia ou reabsorção óssea - PTH normais ou elevadas (pouco). · Herança autossômica dominante · Mutação do gene dos receptores de cálcio das paratireóides e no rim elevando seu “set point” · Paciente sem a mutação, o nível X de cálcio se estiver um pouco elevado vai estimular a diminuição do PTH. Já em pacientes com a mutação, níveis um pouco mais altos de cálcio são normais para essa família (ajuste mais elevado para o cálcio). · Não necessitade tratamento cirúrgico · Níveis normais de Vitamina D · Absorção intestinal normal de Cálcio · PTH normal · Aumento da reabsorção renal de Ca e Mg - hipocalciúria e hipermagnesemia (mutação também nos receptores renais por isso tem um aumento na reabsorção de cálcio). HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO: · Estímulo externo às paratireóides - É o mais frequente, comum em pacientes renais crônicos e em algumas deficiências metabólicas. · O problema não está na paratireóide, porém ela é hiperestimulada externamente, · Ausência de hipercalcemia, mas depois desenvolvem. · O grande problema é que ele tem um aumento de PTH por queda na concentração de cálcio. · Estados mal-absorvidos (doenças disabsortivas intestinais): · Doença celíaca, doença inflamatória intestinal, fibrose cística, doenças pancreáticas, cirurgia bariátrica, corticóides · Deficiência de Vitamina D: · A diminuição da Vitamina D estimula a secreção de PTH, pois é o PTH que ativa o calcitriol. · Doença renal crônica; · Causa mais comum · Resposta à retenção de fosfato. · Tem diminuição da síntese de calcitriol e hipocalcemia · Proliferação celular na paratireoide pelo estímulo crônico - Lembrando que esse estímulo secundário por muitos anos pode acabar desencadeando para um hiperparatireoidismo terciário. Tratamento Cirúrgico: · Quando operar? · Cálcio estiver 1 ponto acima da referência, osteoporose, · Fraturas patológicas, alterações da função renal, nefrolitíase e nefrocalcinose. · Paciente < 50 anos. · Exame de localização: É preciso localizar quantas e quais são as paratireoides acometidas. Utiliza-se exames de imagem : · Cintilografia com sestamibi: Doença multiglandular · USG: Afecções sincrônicas nas tireoides. Localização da paratireoide. Muitas vezes, além do USG é preciso pedir uma RM para melhor localização dos adenomas. Imagem de uma cintilografia com sestamibi e tecnécio. Cirurgia: Remover todo tecido hiperfuncionante · Exploração cervical BILATERAL: · Tratamento tradicional e PADRÃO OURO · Identificação das quatros glândulas · Remoção das anormais · Hiperplasia das 4 paratireoidectomia subtotal (3 glândulas e meia) · Não localização das quatro: · Exploração simétrica do pescoço: sulco traqueoesofágico e mediastino posterior, timo, mediastino anterior e bainha carotídea. Sai procurando em toda região do pescoço. · Carcinoma: · Tumores grandes, firmes, pálidos e únicos. · Ressecção em blocos da glândula com lobo tireoidiano ipsilateral e esvaziamento central dos gânglios. · Exploração cervical unilateral: · Aparência morfológica das glândulas com acesso por um lado deixando o contralateral intacto. · Se identificarmos uma anormal associada a uma normal do mesmo lado, o risco é muito pequeno de ter um adenoma do outro lado. · 85% dos adenomas são solitários · Menor hipocalcemia pós operatória · Taxa de cura equivalente à ECB com 98,4% · Técnica menos invasiva. PARATIREOIDECTOMIA ORIENTADA POR IMAGENS: · Paratireoidectomia por acesso mínimo. · Abordagem focada na glândula paratireóide anormal única. · Pré operatório com imagens de localização. · Precisão das técnicas de localização e PTH rápido: · Dosagem de PTH intra-operatório - consegue tirar a paratireóide e vai dosar para certificar que diminui. · PTH intacto tem meia vida e 3 min · Queda > 50% em 10 min, término da cirurgia (critério de Miami) · Imagens com radioisótopos sestamibi marcado com tecnécio 99m. · Sensibilidade de 65-85% para localização de adenomas. · Demonstra doença multiglandular em 1 ⁄ 2 das vezes, em associação com USG aumenta a precisão em 90% dos casos. · Às vezes, um adenoma capta mais do que o outro - fica escondido o que captou menos. · Imagem negativa não deve impedir o tratamento cirúrgico. · Paciente com todos os sintomas e imagem negativa não impede tratamento cirúrgico. CONSIDERAÇÕES FINAIS: · Evolução diagnóstica → Antigamente não se fazia dosagem de cálcio sérico, por isso quando descobria a doença já estava em uma fase avançada com inúmeros sintomas. · Diagnóstico bioquímico → dosagem de cálcio sérico · Evolução do tratamento cirúrgico → PTH rápido · Cirurgião e instituição decidirão a melhor intervenção · Alta taxa de cura e baixa morbidade operatória.