Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL problema 1: comigo não, violão! PROBLEMA 1: COMIGO NÃO, VIOLÃO! Depois de algum tempo, mesmo com medo de ficar como seu vizinho de roça, Joaquim, agricultor, 70 anos, confidenciou à sua mulher que vinha sentindo dores na região lombar e que estava com dificuldade para urinar. Resolveu então, depois de muita insistência dos familiares, procurar a UPA. Lá foi medicado com buscopan composto e orientado a procurar assistência ambulatorial. Somente depois de dois meses conseguiu ser atendido por um especialista, o qual, após anamnese, realizou exame físico completo, inclusive com o toque retal, o que o deixou muito constrangido e envergonhado. “E aí, doutor? Aquela doença está em mim?” O médico sorriu para tranquilizá-lo, mas, percebendo um aumento da próstata, optou em solicitar a biópsia. Joaquim pegou resultado do histopatológico e, movido pela natural ansiedade, leu o laudo: “Espécimes obtidos por biópsia transretal de próstata constando de oito fragmentos preparados em hematoxilina eosina que demonstram ao microscópio células com núcleos hipercromados, diversas mitoses, alguns núcleos duplos, volumes celulares irregulares, vasos neoformados e tortuosos, desarranjo estrutural tecidual e áreas de necrose. As células predominantes são atípicas e indiferenciadas, preenchendo linfáticos e veias. O quadro histológico é característico de neoplasia de tecido prostático de alto grau de indiferenciação”. Experimentou um momentâneo alívio porque, naquele resultado, não encontrou a palavra câncer e comentou com sua mulher: não disse a você? Comigo não, violão! Conversaria com o médico no mês seguinte. Na consulta, para sua surpresa, foi informado que se tratava de uma neoplasia maligna. Naquele primeiro momento não entendeu nada. Como assim, se no papel não estava escrito câncer?! Então, o médico lhe explicou, com riqueza de detalhes como uma célula normal pode se transformar numa célula maligna, como a doença se instala e se desenvolve, além dos fatores predisponentes. OBJETIVO 1: DESCREVER O CICLO CELULAR (DIVISÃO CELULAR POR MITOSE; PONTOS DE REGULAÇÃO, FATORES QUE PODEM LEVAR A PERDA DA REGULAÇÃO, SURGIMENTO DA NEOPLASIA) FASES E PONTOS DE CONTROLE NO CICLO CELULAR • O ciclo celular representa uma sequência autorregulada de eventos que controla o crescimento e a divisão das células. A meta do ciclo celular é produzir duas células-filhas, cada uma contendo cromossomos idêntico aos da célula-mãe. O ciclo incorpora duas principais fases: interfase, que representa o crescimento contínuo da célula, e a fase M (mitose), caracterizada pela partição do genoma. As fases G1 (intervalo1), fase S (síntese) e a fase G2 (intervalo2) são subdivisões da interfase. As populações de células humanas de renovação rápida progridem através do ciclo celular completo em aproximadamente 24 horas. Ao longo do ciclo, vários mecanismos de controle de qualidade ou pontos de controle representados por vias bioquímicas controlam a transição entre os estágios do ciclo. O ciclo é interrompido em diversos pontos de controle e somente pode prosseguir se determinadas condições forem atendidas – por exemplo, se a célula tiver alcançado um determinado tamanho. Os pontos de controle monitoram e modulam a progressão das células ao longo do ciclo celular em resposta a sinais intracelulares ou ambientais. • A FASE G1 É A MAIS LONGA E A MAIS VARIÁVEL DO CICLO CELULAR , e começa no final da fase M. Durante a fase G1, a célula reúne nutrientes e sintetiza o RNA e as proteínas necessários para a síntese de DNA e a replicação cromossômica. O progresso da célula através dessa fase é monitorado por dois pontos de controle: 1- Ponto de controle de restrição, que é sensível ao tamanho da célula, ao estado dos processos fisiológicos da célula e suas interações com a matriz extracelular; Ciclo Celular e Câncer de Próstata 2 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) 2- Ponto de controle de lesão do DNA em G1, que monitora a integridade do DNA recém-replicado. ▪ Por exemplo, se o DNA tiver algum dano irreparável, o ponto de controle de dano do DNA em G1 detecta os níveis elevados de proteína supressora tumoral p53 e não possibilita que a célula entre na fase S. Assim, é mais provável que a célula sofra apoptose (morte celular programada). Ponto de restrição (ou “ponto sem retorno”) é o ponto de controle mais importante do ciclo celular. Nele, a célula autoavalia seu próprio potencial replicativo antes de decidir se entra na fase S e no próximo ciclo de divisão celular, ou se deixa o ciclo celular. ▪ A célula que deixa o ciclo na fase G1 geralmente começa a diferenciação terminal entrando na FASE G0. Por conseguinte, a fase G1 pode durar apenas algumas horas (média de 9 a 12 horas) em uma célula de divisão rápida, ou pode durar toda a vida em uma célula que não se divide. ▪ Esse ponto de controle é mediado por interações da proteína de suscetibilidade ao retinoblastoma (pRb) e uma família de fatores de transcrição essencial (E2F) com promotores-alvo. ▪ Nas célula normais, a interação correta de pRb e E2F desliga muitos genes e bloqueia a progressão do ciclo celular. • NA FASE S, O DNA É REPLICADO . O inicio da síntese de DNA marca o começo da fase S, cuja duração é de aproximadamente 7,5 a 10 horas. O DNA da célula é duplicado durante a fase S, e novas cromátides são formadas, que ficarão evidentes na prófase ou metáfase da divisão mitótica. A replicação dos cromossomos é iniciada em muitos locais diferentes denominados réplicons ao longo do DNA cromossômico. Cada réplicon dispõe de uma estrutura de tempo especificamente designada para replicação durante a fase S. A existência do ponto de controle S de lesão do DNA nessa fase monitora a qualidade do DNA que está sendo replicado. • NA FASE G2, A CÉLULA PREPARA -SE PARA A DIVISÃO CELULAR. Durante essa fase, a célula examina o seu DNA na preparação para a divisão celular. Trata-se de período de um crescimento celular e de reorganização das organelas citoplasmáticas antes de sua entrada no ciclo mitótico. A fase G2 pode ser curta, de apenas 1h, nas células em divisão rápida, ou de duração quase indefinida em algumas células poliploides e células como o oócito primário, que ficam paradas em G2 por longos períodos de tempo. Dois pontos de controle controlam a qualidade do DNA: o ponto de controle G2 de lesão de DNA e o ponto de controle do DNA não replicado. Esse ultimo ponto de controle impede a progressão da célula para a fase M antes que a síntese de DNA esteja completa. • A MITOSE OCORRE NA FASE M. A mitose quase sempre inclui tanto a cariocinese (divisão do núcleo) quando a citocinese (divisão da célula) e dura em torno de 1h. A separação de duas células-filhas idênticas conclui a fase M. 3 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) Tal fase contém dois pontos de controle: o ponto de controle de montagem do fuso, que impede a entrada prematura da anáfase, e o ponto de controle de segregação dos cromossomos, que impede o processo de citocinese até que todos os cromossomos tenham sido corretamente separados. • A catástrofe mitótica causada pelo mau funcionamento dos pontos de controle do ciclo celular pode levar à morte celular e ao desenvolvimento de células tumorais. O mau funcionamento de qualquer um dos três pontos de controle do DNA nas fases G1, S e G2 do ciclo celular e dospontos de controle de montagem do fuso na fase M pode provocar uma catástrofe mitótica. Esta é definida como uma falha em parar o ciclo celular antes da mitose ou na mitose, resultando em segregação cromossômica aberrante. Em condições normais, a morte dessas células ocorrerá pela ativação do ciclo apoptótico. As células que falham em executar o ciclo apoptótico em resposta à lesão do DNA ou do fuso mitótico provavelmente se dividem assimetricamente no estágio seguinte da divisão celular. Isso leva à geração de células aneuploides (células que contêm números de cromossomos anormais). Por conseguinte, a catástrofe mitótica pode ser considerada como um dos mecanismos que contribuem para a oncogênese (desenvolvimento de células tumorais). O mau funcionamento do ponto de restrição na fase G1 também pode resultar em transformações malignas das células. As células malignas perdem a inibição por contato, um processo normal em que as células inibem sua divisão quando entram em contato com outras células. As células malignas em cultura continuam a se dividir e podem crescer umas em cima das outras em vez de interromper o seu crescimento quando a placa de cultura está completamente coberta com uma monocamada de células. O mau funcionamento do ponto de controle de restrição pode ser facilitado pelas proteínas virais de vários vírus causadores de câncer, como o antígeno T do vírus símio (SV40) que se liga à pRb. ▪ Essa ligação altera a configuração do complexo pRb-antígeno T e torna o ponto de controle de restrição inoperante, o que facilita a progressão da célula da fase G1 para S do ciclo celular. O mecanismo de carcinogênese ocorre no mesotelioma (câncer do epitélio de revestimento das cavidades pleurais do tórax), no osteossarcoma (um tipo de neoplasia óssea) e no ependimoma (tumor cerebral infantil). • A população de células-tronco de reserva pode se tornar ativa e reentrar no ciclo celular. As células identificadas como células-tronco de reserva podem ser consideradas como células em G0, que podem ser induzidas a reentrar no ciclo celular em resposta à lesão de células dentro dos tecidos do corpo. Se o dano for muito grave, até mesmo as células-tronco de reserva morrem, e não há nenhuma possibilidade de regeneração. REGULAÇÃO DO CICLO CELULAR • A passagem ao longo do ciclo celular é impulsionada por proteínas que são sintetizadas e degradadas ciclicamente durante o ciclo. Vários complexos proteicos citoplasmáticos regulam e controlam o ciclo celular. Algumas dessas proteínas funcionam como osciladores bioquímicos, cuja síntese e degradação são coordenadas com fases específicas do ciclo. Os eventos celulares e moleculares induzidos durante o aumento e a diminuição dos níveis de diferentes proteínas monitoram ativamente a qualidade dos processos moleculares nos diferentes pontos de controle distribuídos por todo o ciclo. Os complexos proteicos nos pontos de controle podem orientar a célula para dentro e para fora do ciclo celular, estimulando o crescimento e a divisão quando as condições forem favoráveis e, por outro lado, interrompendo ou reduzindo a velocidade de divisão celular quando as condições não forem favoráveis. • Um complexo de duas proteínas, consistindo em ciclina e uma quinase dependente de ciclina (CDK), ajuda a acionar as células através dos pontos de controle da divisão do ciclo celular. A MPF é uma proteína denominada fator de promoção da maturação e controla o início da mitose. Ela consiste em duas proteínas: A Cdc2 (também conhecida como Cdk-1), um membro de 32 kDa da família das proteínas Cdk. 4 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) A ciclina B, um membro de 45 kDa da família das ciclinas, que são reguladores essenciais do ciclo celular. As ciclinas são sintetizadas como proteínas constitutivas; contudo, seus níveis durante o ciclo celular são controlados pela degradação mediada pela ubiquitina. Atualmente, sabe-se que o complexo ciclina-Cdk atua em diferentes fases do ciclo celular e tem como alvo diferentes proteínas para controlar as funções dependentes do ciclo celular. A passagem ao longo do ciclo celular requer aumento na atividade da ciclina-Cdk em algumas fases, seguido de declínio dessa atividade em outras fases. A atividade aumentada da ciclina-Cdk é obtida pela ação estimuladora da ciclinas e é contrabalançada pela ação inibidora de proteínas com Inks (inibidores de quinase), Cips (proteínas inibidoras da Cdk) e Kips (proteínas inibidoras da quinase). MITOSE • A divisão celular é um processo crucial que aumenta o número de células, possibilita a renovação de população de células e promove o reparo de feridas. • A mitose um processo de segregação dos cromossomos e divisão nuclear, seguida de divisão celular, produzindo duas células- filhas com o mesmo número de cromossomos e conteúdo de DNA da célula-mãe. O processo de divisão celular inclui a divisão tanto do núcleo (cariocinese) quanto do citoplasma (citocinese). O processo de citocinese resulta em distribuição das organelas não nucleares em duas células-filhas. Antes de entrar na mitose, as células 5 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) duplicam o seu DNA; essa fase do ciclo celular é denominada fase S ou fase de síntese. No início, o número de cromossomos é de (2n), e o conteúdo de DNA também é de (2d); no final, o número de cromossomos permanece o mesmo (2n), e o conteúdo de DNA duplica para (4d). • A mitose segue-se à fase S do ciclo celular e é descrita em 4 fases. PRÓFASE: começa quando os cromossomos replicados se condensam e se tornam visíveis. Com o processo de condensação dos cromossomos, cada um dos quatro cromossomos derivados de cada par homólogo consiste em duas cromátides. As cromátides-irmãs são mantidas unidas pelo anel de proteínas denominadas coesinas e pelo centrômero. No final da prófase ou prometáfase (algumas vezes identificada como uma fase separada da mitose), o envoltório nuclear começa a se desintegrar em pequenas vesículas de transporte e assemelha-se ao REL. O nucléolo, que ainda pode existir em algumas células, também desaparece por completo na prometáfase. Além disso, um complexo proteico altamente especializado, denominado cinetócoro, aparece em cada cromátide oposta ao centrômero (Figura 3.13). Os complexos proteicos que formam os cinetócoros na região do centrômero da cromátide estão fixados a sequências repetitivas específicas de DNA, conhecidas como DNA satélite, que são semelhantes em cada cromossomo. Os microtúbulos do fuso mitótico em desenvolvimento ligam-se aos cinetócoros e, portanto, aos cromossomos. 6 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) METÁFASE: começa quando o fuso mitótico, que consiste em três tipos de microtúbulos, torna-se organizado ao redor dos centros de organização de microtúbulos (MTOCs; do inglês, microtubuleorganizing centers), localizados nos polos opostos da célula. Os microtúbulos dos cinetócoros e suas proteínas motoras associadas direcionam o movimento dos cromossomos para um plano situado no meio da célula, conhecido como placa equatorial ou metafásica. ANÁFASE: começa com a separação inicial das cromátides-irmãs. Essa separação ocorre quando as coesinas que estavam mantendo as cromátides unidasse desintegram. Em seguida, as cromátides começam a se separar e são puxadas para os polos opostos da célula pelos motores moleculares (dineínas) que deslizam ao longo dos microtúbulos do cinetócoro em direção ao MTOC. TELÓFASE: é marcada pela reconstituição de um envoltório nuclear ao redor dos cromossomos em cada polo. Os cromossomos se desenrolam e tornam-se indistintos, exceto em regiões que irão permanecer condensadas no núcleo da interfase. Os nucléolos reaparecem, o citoplasma se divide (citocinese) para formar duas células-filhas. A citocinese começa com a sulcagem da membrana plasmática a meia distância entre os polos do fuso mitótico. A separação no sulco de clivagem é obtida por um anel contrátil, que consiste em um conjunto muito fino de filamentos de actina, posicionado ao redor do perímetro da célula. No interior do anel, ocorre montagem de moléculas de miosina II, formando pequenos filamentos que interagem com os filamentos de actina, resultando em contração do anel. À medida que ocorre constrição do anel, a célula se divide em duas células-filhas. Como os cromossomos das células-filhas contêm cópias idênticas do DNA duplicado, as células-filhas são geneticamente idênticas e encerram o mesmo tipo e número de cromossomos. As células-filhas são (2d) quanto ao conteúdo de DNA e (2n) quanto ao número de cromossomos. 7 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) RESUMINDO • Quando uma célula nasce, ela cai no G1, então acontece: Aumento da massa celular – fator importante para que ela passe para a próxima fase (S). Síntese de nutrientes, lipídeos, carboidratos. No final do G1, há um ponto de checagem em que a célula vai responder: O DNA está danificado? O tamanho da célula está adequado? O corpo precisa da divisão dessa célula? ▪ SE A CÉLULA SAIR DO G1 E FOR PARA O S DEFEITUOSA NÃO TEM MAIS VOLTA. ▪ CASO A CÉLULA NÃO CUMPRA COM O NECESSÁRIO, ENTRA EM G0 – momento de não divisão, ela não estará mais preocupada com a divisão celular. Ex: neurônios. ▪ Mas o G0 não é irreversível. • A célula entra na fase S (síntese de DNA). A célula faz a replicação semi conservativa do DNA. Isso implica numa mudança significativa na estrutura dos cromossomos. Antes do período S, cada cromossomo possui apenas 1 molécula de DNA (1 cromátide). Depois do período S, cada cromossomo passa a ter 2 cromátides (cromátides irmãs). Ou seja, após o período S, a célula possuirá 46 cromossomos e 92 moléculas de DNA. • O G2 é o ultimo momento da interfase antes da mitose. Possui outro ponto de checagem que verifica: Se o DNA foi realmente todo duplicado, se não foi, tem que terminar de duplicar antes de se dividir. A célula continua recebendo sinais externos, só que se ela recebe uma sinalização para não entrar em mitose, sendo uma célula saudável, ela pode entrar em apoptose, pois não tem como voltar atrás. Se a célula for defeituosa (cancerosa), ela vai ignorar o sinal dos pontos de checagem e vão continuar. No G2 também ocorre a duplicação dos centrossomos. É a partir dos centrossomos que as células organizam seus microtúbulos. O fuso mitótico é feito de microtúbulos. O centrossomo então se encarregará de montar o fuso mitótico. Dentro do centrossomo tem um par de centríolos (que não tem relação com a formação do fuso), quem forma o fuso é o centrossomo. Até o final do G2, o centrossomo terá sido duplicado e a célula terá estrutura para montar o fuso mitótico e iniciar a mitose. • O ciclo celular está sob o comando de 2 proteínas: QUINASE E CICLINAS. A quinase é uma enzima que liga um fosfato a outra molécula. As quinases que controlam o ciclo só se tornam ativas quando ligadas a uma ciclina, por isso são conhecidas como CDK – QUINASES DEPENDENTES DE CICLINAS. Durante o ciclo a concentração de quinases é praticamente constante o tempo inteiro, mas a de ciclinas não. A produção de ciclinas começa no final do período S e se acumula no período G2. Perto do final do G2 já há uma boa quantidade de quinases ligadas às ciclinas. Uma vez que elas se ligam, as quinases se tornam ativa e vai fosforilando (ligando fosfatos) a uma série de proteínas. Quando o fosfato se liga a uma proteína, ela se torna ativa e isso leva a célula a passar pelo ponto de checagem G2 e entrar na mitose. Durante a mitose, as ciclinas continuam ligadas às quinases, tendo maior concentração na metáfase. Quando chega a anáfase, as ciclinas são degradadas fazendo as quinases ficarem soltas e inativas, preparando para o retorno ao período G1 do ciclo, onde o processo irá se repetir. 8 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 1: descrever o ciclo celular (divisão celular por mitose; pontos de regulação, fatores que podem levar a perda da regulação, surgimento da neoplasia) • Na mitose, forma 2 células geneticamente idênticas à célula-mãe. O ser humano possui 46 cromossomos no núcleo de suas células. Depois do período S da interfase, cada cromossomo possui 2 DNAs, ou seja, há 46 cromossomos com 92 moléculas de DNA, que terá que ser separado na mitose. PRÓFASE: os centrossomos formam o fuso mitótico. Há compactação dos cromossomos. PROMETÁFASE: (ainda faz parte da prófase). Precisa colocar os cromossomos em contato com o fuso, então ela fragmenta o envelope nuclear, então os cromossomos ficam soltos e podem se ligar ao fuso. Para que o cromossomo se ligue ao fuso, no centrômero surge o cinetócoro então o fuso se encaixa ao cinetócoro, um em cada cromátide irmã, um de cada lado. METÁFASE: alinha todos os cromossomos no meio, na placa equatorial. Possui seu próprio ponto de checagem que verifica se todos os cromossomos estão devidamente unidos ao fuso. É nessa fase que é melhor observado o cromossomo em microscópio. ANÁFASE: separa metade do DNA para cada lado. TELÓFASE: célula descompacta o DNA para que a célula possa voltar a sua atividade normal no G1. Volta a montar o envelope nuclear de cada lado. Ocorre citocinese, divisão do citoplasma, gerando duas células geneticamente idênticas. 9 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 2: conceituar e classificar neoplasia (benigna/maligna) OBJETIVO 2: CONCEITUAR E CLASSIFICAR NEOPLASIA (BENIGNA/MALIGNA) • Todos os tumores, benignos e malignos, têm dois componentes básicos: PARÊNQUIMA – constituído por células neoplásicas ou transformadas; Determina principalmente seu comportamento biológico, e é desse componente que deriva seu nome. ESTROMA – constituído por tecido conectivo, vasos sanguíneos e células inflamatórias derivadas do hospedeiro. É crucial para o crescimento da neoplasia, pois contém suprimento sanguíneo e dá suporte ao crescimento das células parenquimatosas. NEOPLASIA BENIGNA: caracteriza-se por apresentar células bem semelhantes às do tecido original, ou seja, apresentam diferenciação; crescem de forma lenta; são bem vascularizadas; comprimem os tecidos vizinhos, no entanto, não os infiltram. A migração dessas células só ocorre em caso de lesão ou rompimento do tecido. Embora seja denominada de benigna, essa neoplasia também pode gerar complicações, pois comprime órgãos e vasos, além de poder causar a secreção em excesso de algumas substâncias, o que pode ser prejudicial. Um exemplo de neoplasia benigna que pode causar complicações severas são as pancreáticas, pois podem desencadear uma secreção excessiva de insulina, podendo levar a uma hipoglicemia fatal. As neoplasias benignas estão mais relacionadas com fatores genéticos. NEOPLASIA MALIGNA: também chamada de tumor maligno ou câncer, caracteriza-se por um crescimentomais rápido do que a benigna e suas células são menos diferenciadas, o que faz com que muitas percam a sua função no tecido original. Como essas células apresentam uma redução das estruturas juncionais e moléculas de adesão, elas apresentam maior mobilidade, invadindo os tecidos adjacentes. Além de serem agressivas localmente, as neoplasias malignas podem também se propagar pelo organismo em um processo denominado de metástase, em que há a formação de uma nova massa tumoral a partir de uma primeira sem que haja, no entanto, continuidade entre elas. Isso ocorre porque as células da massa tumoral primária podem desprender-se e entrar na corrente sanguínea ou vasos linfáticos, deslocando-se pelo organismo e fixando-se em outro local, no qual dará origem a um novo tumor. NEOPLASIAS BENIGNAS MALIGNAS DIFERENCIAÇÃO CELULAR - Células bem diferenciadas que se assemelham estreitamente a suas contrapartes normais. - Normalmente as mitoses são raras e sua configuração é normal. - Ampla gama de diferenciações celulares parenquimatosas, desde as bem diferenciadas até as completamente indiferenciadas. - Há também o moderadamente bem diferenciado. - A quantidade de tecido conjuntivo estromal determina a consistência da neoplasia. - Células indiferenciadas: anaplasia – característica de malignidade. Configura a desdiferenciação. Mitoses numerosas e distintamente atípicas. PADRÃO DE CRESCIMENTO - Influências que aumentam a velocidade: níveis circulantes de estrógeno (leiomioma); adequação de suprimento sanguíneo; restrição de pressão. - Normalmente a taxa de crescimento correlaciona-se inversamente com o seu nível de diferenciação → tumores mal diferenciados tendem a crescer mais rápido do que os bem diferenciados. VELOCIDADE DE CRESCIMENTO - Crescimento geralmente lento. - Crescimento normalmente mais rápido. CAPACIDADE DE INVASÃO LOCAL E À DISTÂNCIA - Permanece localizado em seu sítio de origem. - Não possui capacidade de invadir ou metastatizar- se. - A maioria desenvolve uma cápsula fibrosa envoltória que os separa do tecido hospedeiro. Sua falta não significa malignidade. - Crescem por meio de infiltração, invasão, destruição e penetração do tecido circundante. - Capaz de metástase e de causar morte. - Não desenvolve cápsulas bem definidas. - Além da metástase, a invasividade local é a característica mais confiável na distinção de maligno e benigno. Os tumores malignos de crescimento rápido geralmente contém áreas centrais de necrose isquêmica, porque o suprimento sanguíneo tumoral, derivado do hospedeiro, falha em manter o mesmo ritmo para atender as necessidades de oxigênio da massa em expansão. 10 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL objetivo 2: conceituar e classificar neoplasia (benigna/maligna) NOMENCLATURA DE NEOPLASIA BENIGNA E MALIGNA 11 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL • O critério mais adotado é o histomorfológico – a neoplasia é identificada pelo tecido ou célula proliferante. SUFIXO -OMA: é empregado na denominação de qualquer neoplasia, benigna ou maligna, mas geralmente é benigna. CARCINOMA: indica tumor maligno que reproduz epitélio de revestimento e glandular; quando usada como sufixo, também indica malignidade (ex.: adenocarcinoma). SARCOMA: refere-se a uma neoplasia maligna mesenquimal; usado como sufixo, indica tumor maligno de determinado tecido (ex.: fibrossarcoma). BLASTOMA: pode ser usada como sinônimo de neoplasia e, quando empregada como sufixo, indica que o tumor reproduz estruturas com características embrionárias (ex.: neuroblastoma). • Forma mais usual de nomear um tumor: Lipoma: tumor benigno que reproduz lipócitos. Hemangioma: tumor que reproduz vasos sanguíneos. Condrossarcoma: tumor maligno que forma cartilagem. Hepatoblastoma: tumor maligno que reproduz hepatócitos com características embrionárias. Adenoma: tumor benigno que reproduz glândulas. Adenocarcinoma: tumor maligno que forma glândulas. • Além disso, pode conter outros termos para indicar propriedades da lesão ou sua diferenciação: Carcinoma epidermoide: o epitélio neoplásico produz ceratina, tendo portanto diferenciação semelhante à epiderme. Adenocarcinoma cirroso: o estroma do tumor é muito desenvolvido e duro, dando consistência muito firme à lesão. NOMENCLATURA RESUMIDA DOS TUMORES ESTRUTURA PROLIFERADA E/OU ORIGEM DO TUMOR TUMOR BENIGNO TUMOR MALIGNO Tecidos epiteliais: Epitélio de revestimento Epitélio glandular Fibroma Adenoma Carcinoma Adenocarcinoma Tecidos conjuntivos Tecido fibroso Tecido adiposo Tecido cartilaginoso Tecido ósseo Tecido mucoso Tecido hemolinfopoiético Células do sangue Órgãos linfoides Fibroma Lipoma Condroma Osteoma Mixoma Fibrossarcoma Lipossarcoma Condrossarcoma Osteossarcoma Leucemia Linfoma Tecidos musculares Liso Estriado Leiomioma Rabdomioma Leiomiossarcoma Rabdomiossarcoma Tecido nervoso Neuroblasto Neuroepitélio Células da glia Nervos periféricos Meninges Ganglioneuroma Ependimoma Astrocitoma, Oligodendroglioma Neurinoma (schwannoma) Meningioma Ganglioneuroblastoma, Neuroblastoma Ependimoma maligno Glioblastoma Neurinoma (schwannoma) maligno Meningioma maligno Vasos Sanguíneos Linfáticos Hemangioma Linfangioma Angiossarcoma Linfangiossarcoma Sistema melanógeno Nevo Melanoma maligno Trofoblasto Mola hidatiforme Coriocarcinoma Células multi ou totipotentes Teratoma benigno Teratoma maligno Nome da célula/tecido/órgão + OMA/SARCOMA/CARCINOMA 12 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 3: conceituar metástase e seus mecanismos (via linfática, hematogênica, por contiguidade) RESUMINDO CARACTERÍSTICAS DAS NEOPLASIAS BENIGNAS E MALIGNAS Características Neoplasias benignas Neoplasias malignas Taxa de crescimento Baixa Alta Figuras de mitose Raras Frequentes Grau de diferenciação Bem diferenciadas Desde bem diferenciadas até anaplásicas Atipias celulares e arquiteturais Raras Frequentes Degeneração, necrose Ausentes Presentes Tipo de crescimento Expansivo Infiltrativo Cápsula Presente Geralmente ausente Limites da lesão Bem definidos Imprecisos Efeitos locais e sistêmicos Geralmente inexpressivos Geralmente graves e às vezes letais Recidiva Em geral ausente Presente Metástases Ausentes Presentes OBJETIVO 3: CONCEITUAR METÁSTASE E SEUS MECANISMOS (VIA LINFÁTICA, HEMATOGÊNICA, POR CONTIGUIDADE) Metástase (do grego metástatis = mudança de lugar, transferência) é a formação de um novo tumor a partir do primeiro, mas sem continuidade entre os dois. A capacidade de se disseminar e de formar metástases constitui a diferença fundamental entre um tumor benigno e um maligno. Metástases são, com certeza, o selo definitivo de malignidade (por definição, neoplasias benignas não originam metástases) e sinal de mau prognóstico. Em muitos pacientes, as metástases são a primeira manifestação clínica de um câncer. Há cânceres, como carcinoma basocelular da pele e gliomas do sistema nervoso de alto grau de malignidade, que são localmente invasivos mas não dão metástases. Os dois processos são sucessivos, correndo as metástases somente depois de ter havido invasão, embora a formação delas possa começar precocemente junto com a invasão. Diante de uma biópsia de neoplasia metastática com sítio primário desconhecido, o patologista precisa usar uma combinação de dados epidemiológicos, morfológicos e moleculares para determinar o sítio de origem, sendo essa identificação essencial para o tratamento mais adequado. Para cada combinação de gênero, idade e sítio metastático, há uma lista de neoplasiasque mais comumente são capazes de se manter indetectáveis no sítio primário. Nesses casos, o patologista seleciona alguns anticorpos (marcadores imuno-histoquímicos) que permitem, na maioria dos casos, reconhecer o sítio primário da neoplasia. Tal abordagem é prática diária no diagnóstico em oncologia e tem custo e logística amplamente favoráveis em relação à pesquisa do sítio primário por métodos de imagem e endoscópicos combinados. Em cerca de 5% dos casos, porém, nenhum sítio primário de uma metástase clinicamente evidente é identificado, e o tratamento quimioterápico é decidido baseado em outras informações. A existência de metástases de carcinomas sem identificação do tumor primitivo nem sempre tem explicação satisfatória. Tais metástases podem originar-se de: (1) tumor primitivo que involuiu; (2) tumor primário muito pequeno para ser detectado; (3) células que migraram precocemente de lesões pré-cancerosas que completaram o processo de malignização no nicho em que se alojaram, enquanto a lesão pré-cancerosa sofreu involução. • A formação de metástases é um processo complexo que depende de inúmeras interações entre células malignas e componentes dos tecidos normais, especialmente do estroma. A formação de metástases envolve: 1) destacamento das células da massa tumoral original; 2) deslocamento dessas células através da matriz extracelular (MEC); 3) invasão de vasos linfáticos ou sanguíneos; 4) sobrevivência das células na circulação; 5) adesão ao endotélio vascular no órgão em que as células irão se instalar; 13 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 3: conceituar metástase e seus mecanismos (via linfática, hematogênica, por contiguidade) 6) saída dos vasos nesse órgão (diapedese); 7) proliferação no órgão invadido; 8) indução de vasos para o suprimento sanguíneo da nova colônia. • Certas neoplasias formam metástases preferencialmente em alguns órgãos, enquanto outros, como baço, estômago e músculos esqueléticos, são sedes pouco comuns de metástases. • Teoria da semente e do solo: células malignas destacam-se do tumor e adquirem, ainda antes de caírem na circulação, as propriedades necessárias para implantar-se em um determinado órgão. Demonstrou-se que o tumor primário promove alterações em órgãos distantes, preparando-os para receber as células que irão implantar-se e originar metástases. É por isso que as metástases dependem de a semente encontrar um solo preparado para a sua implantação e o seu desenvolvimento. Portanto, não basta que as células cancerosas caiam na circulação para que originem metástases, mas é necessário que elas estejam preparadas para se instalar em órgãos com nicho previamente preparado. 14 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 3: conceituar metástase e seus mecanismos (via linfática, hematogênica, por contiguidade) VÍDEOS - COMO A METÁSTASE ACONTECE: Vídeos - https://www.youtube.com/watch?v=BCT33TiCQ_8 e https://www.youtube.com/watch?v=bdWRZd19swg VIAS DE DISSEMINAÇÃO DE CÉLULAS CANCEROSAS VIA LINFÁTICA VIA SANGUÍNEA OUTRAS VIAS • Principal via de disseminação inicial. • Regra: o primeiro sítio das metástases é o primeiro linfonodo na via da drenagem linfática do tumor, chamado linfonodo sentinela. Como este pode ser identificado com precisão por meio de contrastes ou outros marcadores, sua retirada e seu exame histológico para pesquisa de metástases constituem hoje procedimentos importantes na conduta de muitos cânceres. • Após comprometimento da cadeia linfonodal mais próxima, outros linfonodos situados imediatamente adiante podem ser acometidos. • Algumas vezes, no entanto, as metástases “saltam” o primeiro linfonodo e aparecem no seguinte ou surgem em linfonodos não relacionados topograficamente com a sede do tumor. • Os linfonodos com metástases em geral encontram-se aumentados de volume e, às vezes, tornam-se confluentes, formando massas volumosas; linfonodos ou massas podem ser palpados se estiverem localizados em cadeias superficiais ou ser detectados por exames de imagens (radiografia, ultrassonografia, tomografia etc.) quando em cadeias profundas. • Nem toda linfadenomegalia próxima de um câncer significa metástase: como produtos antigênicos de • Células cancerosas que penetram na corrente sanguínea podem ser levadas a qualquer parte do corpo. • Embora a metastatização não seja aleatória nem determinada somente pela anatomia da circulação, tumores de órgãos tributários do sistema porta dão metástases inicialmente no fígado. • Em cânceres localizados próximo da coluna vertebral (p. ex., tireoide), as células malignas podem ganhar o plexo venoso paravertebral e originar metástases nas vértebras. • No entanto, só o critério anatômico não explica a localização preferencial de metástases, pois estas dependem de fatores ligados tanto às células malignas como ao nicho pré-metastático. • O número de células malignas que conseguem penetrar em um vaso sanguíneo é muito maior do que o número daquelas que originam metástases. Aliás, a presença de células malignas na circulação não indica obrigatoriamente a formação de metástases. • A imensa maioria (> 99%) das células cancerosas na circulação é destruída pelas forças de cisalhamento da corrente sanguínea, pelo sistema do complemento, pela resposta imunitária do hospedeiro, por apoptose, pela defesa não imunitária (macrófagos, células NK) e pelo choque mecânico que sofrem com a parede vascular. • Pode ser feito também por canais, ductos ou cavidades naturais; os movimentos das vísceras ou dos líquidos dessas cavidades deslocam as células para diferentes sítios, onde podem implantar-se. • Quando atingem a pleura ou o peritônio, por exemplo, células neoplásicas podem originar metástases na serosa e nos órgãos subjacentes. • Quando as metástases de carcinomas são difusas no peritônio, fala em carcinomatose peritoneal. • Metástases podem implantar- se no trajeto de feridas cirúrgicas ou de agulhas utilizadas para punções- biópsias. Felizmente, essa complicação de biópsias por punção com agulha fina ou grossa é pouco frequente, não invalidando seu uso como método prático e eficaz para diagnóstico de muitos tumores. https://www.youtube.com/watch?v=BCT33TiCQ_8 https://www.youtube.com/watch?v=bdWRZd19swg https://www.youtube.com/embed/BCT33TiCQ_8?feature=oembed https://www.youtube.com/embed/bdWRZd19swg?feature=oembed 15 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. tumores são levados ao linfonodos, estes reagem por meio de hiperplasia, às vezes pronunciada, que também resulta em aumento de volume do órgão. • Por outro lado, um linfonodo pequeno, de tamanho normal, pode conter metástases microscópicas. • A sobrevivência das células na circulação é, pois, um elemento importante no aparecimento de metástases. • A sobrevivência de células neoplásicas na circulação é maior quando formam agregados entre si e com plaquetas, linfócitos e fibrina. • Trombocitopenia ou tratamento com heparina, por exemplo, reduzem o número de metástases experimentais. Em resumo, fica claro que componentes tanto da célula como dos diferentes órgãos são essenciais para o aparecimento e a localização de metástases. Tudo isso serve para sustentar a hipótese da semente e do solo, segundo a qual a célula maligna que tem potencial de originar metástases (a semente) só forma novo tumor quando encontra um ambiente favorável (o solo). OBJETIVO 4: DESCREVER A EPIDEMIOLOGIA E OS FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICOPRECOCE E ORIENTAÇÕES DE PREVENÇÃO PARA NEOPLASIA DE PRÓSTATA. EPIDEMIOLOGIA Trata-se de importante problema de saúde pública para os homens. As estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) sinalizam para a ocorrência de 61.200 casos novos deste câncer no ano de 2016, válido também para 2017, correspondendo a um risco de 61,82 casos/100.000 homens. Será a neoplasia mais incidente no sexo masculino em todas as regiões do país, sem considerar os tumores de pele não melanoma (BRASIL, 2015a). FATORES DE RISCO Existem alguns fatores que podem aumentar as chances de um homem desenvolver câncer de próstata. São eles: Idade: o risco aumenta com o avançar da idade. No Brasil, a cada dez homens diagnosticados com câncer de próstata, nove têm mais de 55 anos. Histórico de câncer na família: homens cujo pai, avô ou irmão tiveram câncer de próstata antes dos 60 anos, fazem parte do grupo de risco. Sobrepeso e obesidade: estudos recentes mostram maior risco de câncer de próstata em homens com peso corporal mais elevado. A etiologia do câncer de próstata não é totalmente conhecida. Sabe-se que os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença são a presença de testosterona e a idade. Além disso, dieta rica em gorduras e herança genética são fatores de risco secundários aceitos na etiologia do tumor. Sabe-se também que homens com parentes diretos portadores de câncer de próstata têm risco maior de desenvolver a doença. Esse risco é 2, 4 e 10 vezes maior que o da população geral quando 1, 2 ou 3 parentes diretos são portadores, respectivamente. Outro fator que corrobora a hereditariedade como fator de risco é a presença de genes sabidamente envolvidos no adenocarcinoma de próstata familiar. Por exemplo, o HPC1 (hereditary prostate cancer 1) é um proto-oncogene encontrado no braço longo do cromossomo 1 envolvido no câncer de próstata familiar. Especula-se o envolvimento de outros fatores no desenvolvimento do câncer de próstata, como vasectomia, atividade sexual e ingesta de licopenos, mas nenhum destes teve influência comprovada. Parâmetros para definir o prognóstico dos pacientes: 1. Estádio inicial: pacientes com estádios T1 e T2 apresentam grande possibilidade de cura definitiva após tratamento local. Os que apresentam estádio T3 têm menor índice de cura e aqueles com estádios T4, N1 ou M1 apresentam cura virtualmente inexistente. 2. Valor de PSA: os níveis séricos de PSA normalmente relacionam-se com extensão e estadiamento da doença. Consequentemente, na maioria dos casos, quanto maior o PSA, pior o prognóstico. Sabe-se que pacientes com PSA maior que 16 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. 20 ng/mL têm grande chance de apresentar doença extraprostática, enquanto aqueles com PSA maior que 100 ng/mL praticamente quase sempre apresentam doença metastática. 3. Grau de Gleason: pacientes com Gleason 8 a 10 apresentam doença pouco diferenciada e agressiva e, portanto, têm pior prognóstico. 4. Volume de neoplasia: quando o volume tumoral é menor que 3 cm3, os pacientes normalmente apresentam doença localizada e quase sempre são curados com o tratamento local. Por outro lado, 80% dos pacientes com volume tumoral maior que 12 cm3 apresentam metástases linfonodais ou ósseas. ETIOPATOGENIA • Androgênios: ocorre uma certa dependência (crescimento e sobrevivência) que se estende aos cânceres estabelecidos, os quais regridem durante um tempo em resposta à castração química ou cirúrgica. Os androgênios oferecem “solo fértil” (contexto celular) para desenvolvimento do câncer prostático. Existem tumores resistentes a terapia antiandrogênica, pois esses realizam mutações e continuam se ligando aos receptores androgênicos mesmo na ausência do hormônio. • Hereditariedade: risco aumentado entre os parentes de primeiro grau dos pacientes com câncer de próstata. Baixo risco em asiáticos, altíssimo em afro-descendentes e alto em escandinavos. • Ambiente externo: mudança de uma região para outra (imigração asiática para os EUA) pode estar associada ao aumento dos índices. A alimentação ocidentalizada também pode influenciar, mas ainda não é certo. • Mutações somáticas adquiridas: condutores da transformações celulares. Rearranjos genéticos que criam genes de fusão que consistem no promotor regulado por androgênio do gene TMPRSS2 e na sequência codificadora dos fatores de transcrição da família ETS, interferindo na diferenciação das células epiteliais prostáticas. Outras mutações comumente levam à ativação da via sinalizadora do oncogene Pi3K/AKT, entre as quais as mais comuns são as mutações que inativam o gene supressor de tumor PTEN, freia atividade do P13K. DIAGNÓSTICO PRECOCE – RASTREAMENTO • PSA – antígeno prostático específico. É uma proteína produzida pelo epitélio glandular prostático normal e tanto nos casos benignos de hiperplasia prostática, infecções etc., como nos casos de neoplasia prostática, seus níveis séricos, em geral estão elevados. A realização do exame de PSA e sua difusão como método de rastreamento propicia um aumento na detecção de câncer de próstata em jovens e em estádios iniciais, quando o tumor está confinado à próstata, sendo, portanto curável. • O diagnóstico definitivo do câncer da próstata é feito pelo estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia, a qual deve ser considerada sempre que houver anormalidades no toque retal ou na dosagem do PSA. • Sistema de Gleason tem sido também introduzido para ajudar a prever a evolução e predizer o estágio patológico. Os estudos anátomo patológicos determinam o escore de Gleason, informando sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à disseminação, além de ajudar na determinação do melhor tratamento para o paciente. Na graduação histológica de Gleason, as células do câncer são comparadas às células prostáticas normais. Quanto maior a diferença celular, mais agressivo será o tumor e mais rápida será sua disseminação. A graduação do escore de Gleason baseia-se na diferenciação glandular e no padrão de crescimento em relação ao estroma. Nesta graduação, não se consideram as atipias nucleares e, até hoje, não foi demonstrado superioridade da avaliação nuclear em relação ao padrão glandular no adenocarcinoma da próstata. • O Exame de toque prostático é recomendável no estadiamento da doença, bem como para definição do tratamento, sendo sensível, porém pouco específico. • A RM é o exame de imagem mais fiel par rastrear neoplasia de câncer por ser capaz de detectar com mais detalhes o parênquima prostático, e consequentemente qualquer alteração. • A USG transretal não é específica para neoplasia, pode ser usada para guiar a biópsia de agulha grossa. • A TC não é um bom exame para avaliar a próstata, no entanto pode ser útil no rastreio de metástases. • A classificação TNM é aplicável em casos de adenocarcinomas. Os procedimentos para avaliação das categorias são; T (tamanho do tumor), N (linfonodos regionais) e M (metástases). Os mesmos parâmetros devem ser utilizados para a pesquisa de metástases linfáticas, utilizando-se métodos de imagem pélvica como o ultrassom, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética. 17 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. ESTADIAMENTO T – Tumor primário Tx Tumor primário não acessível T0 Sem evidência de tumor primário Ta Carcinoma papilar não invasivo Tis Carcinoma in situ: “flat tumour” T1 Tumor invade tecido conectivo sub-epitelial T2 Tumor invade camada muscular T2a: Tumor invade camada muscularsuperficial T2b: Tumor invade camada muscular profunda T3 Tumor invade tecido peri-vesical T3a: Microcopicamente T3b: Macroscopicamente (massa extra-vesical) T4 Tumor invade qualquer um dos órgãos: próstata, útero, vagina, parede pélvica, parede abdominal T4a: Tumor invade próstata, útero ou vagina T4b: Tumor invade parede pélvica, parede abdominal N - Linfonodos Nx Linfonodos regionais não podem ser avaliados N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais N1 Metástase em um único linfonodo na pelve verdadeira (hipogástrico, obturatório, ilíaca externa ou pré-sacral) N2 Metástases em múltiplos linfonodos na pelve verdadeira (hipogástrico, obturatório, ilíaca externa ou pré-sacral) N3 Metástases nos linfonodos da ilíaca comum M – Metástases à distância Mx Metástases à distância não podem ser acessadas M0 Ausência de metástases à distância M1 Metástases à distância presentes ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO A estratificação de risco é ferramenta útil para estimativa de risco de recorrência ou progressão auxiliando na definição de estratégias de tratamento. Risco muito baixo Estádio T1c; Escore de Gleason ≤ 6; PSA < 10 ng/mL; Menos de 3 fragmentos de biópsia positivos com ≤ 50% de comprometimento em cada fragmento; Densidade do PSA < 0,15 ng/mL/g; Risco baixo Estádio ≤ T2a; Escore de Gleason ≤ 6; PSA < 10 ng/mL, excluídos os pacientes com características de risco muito baixo (acima). Risco intermediário Estádio T2b ou T2c; Escore de Gleason 7; PSA 10-20 ng/mL. Risco alto Estádio ≥ T3; Escore de Gleason ≥ 8; PSA > 20 ng/mL. Nos últimos anos, campanhas nacionais promovidas por hospitais, sociedades médicas e outras organizações para estimular o rastreamento do câncer de próstata têm proliferado, em consonância com iniciativas mundiais conhecidas como Novembro Azul. Essas campanhas recomendam a utilização do toque retal acompanhado da dosagem sérica do antígeno prostático específico (PSA, da sigla em inglês correspondente a prostatic specific antigen) para homens a partir de faixas etárias definidas. A motivação subjacente seria a detecção precoce da neoplasia, com redução de sua mortalidade e das complicações e impactos associados ao seu tratamento. O PSA foi introduzido nos anos 1980 como um marcador tumoral para detecção de recorrência e progressão da doença durante o tratamento. O teste tem baixas sensibilidade e especificidade e não existem evidências claras do limiar para indicar a biópsia. O limiar comumente utilizado (>4 ng/mL) tem 70% de resultados falso-positivos (MULHEM et al., 2015). Elevações do PSA precedem 18 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. em 5 a 10 anos o aparecimento de doença clínica, mas seus níveis também aumentam em condições benignas, como hiperplasia prostática benigna, prostatites e infecções do trato urinário inferior (DRAISMA et al., 2003). A dosagem do PSA pode ser utilizada tanto em pacientes com sintomas (funcionando como método de diagnóstico), como em indivíduos assintomáticos, para fins de rastreamento. Seu valor benéfico no diagnóstico de indivíduos com suspeita clínica da doença é bem documentado na literatura. O rastreamento da neoplasia de próstata não tem o objetivo de prevenir o câncer, apenas de realizar sua detecção precoce, antes do surgimento de sintomas da doença, o que poderia aumentar teoricamente a probabilidade de sucesso do tratamento, elevando a sobrevida ou melhorando a qualidade de vida (WILSON; JUNGNER, 1968). Seu uso no rastreamento populacional em indivíduos sem quaisquer sintomas é alvo de grande controvérsia nas publicações científicas (DRAISMA et al., 2009). Para melhor se entender a controvérsia, dois conceitos relativos à detecção do câncer de uma forma geral precisam ser compreendidos. Um é o chamado lead time ou tempo de ganho, que corresponde ao tempo médio de ganho do diagnóstico proporcionado pelo rastreio (Figura 1). Figura 1 - Rastreamento para câncer de próstata e viés de antecipação Em alguns estudos, o rastreamento parece aumentar falsamente a sobrevida, mas o que ocorre de fato é que os anos vividos “a mais” são aqueles antes do diagnóstico, sem adiamento do momento do óbito, o que é denominado de viés de antecipação (lead- time bias) (JANSEN et al., 2013). Esse tipo de viés é particularmente importante no caso de tumores indolentes e de crescimento lento (Figura 2). Figura 2 - Rastreamento para câncer de próstata e características do tumor https://scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/ https://scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/ 19 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. O diagnóstico precoce, nesses casos, apenas diminui a qualidade de vida, com a ansiedade gerada e as consequências indesejadas do sobretratamento (overtreatment) (HEIJNSDIJK et al., 2009). Outro conceito fundamental é o de sobrediagnóstico (overdiagnosis), que se relaciona à detecção de lesões que nunca seriam identificadas ao longo da vida dos indivíduos, que poderiam morrer por outras causas antes da manifestação clínica das neoplasias. Esse último aspecto tem sido elencado como preocupação importante no rastreamento dos cânceres de próstata, mama e pulmão (WELCH; BLACK, 2010). Em estudos de autópsia, aproximadamente metade dos homens acima de 80 anos apresentam células malignas na próstata, mesmo sem terem apresentado sintomas enquanto vivos (JAHN et al., 2015). Ou seja, grande quantidade de tumores malignos localizados ou in situ identificados pelo rastreamento não interfeririam na sobrevida ou na qualidade de vida do paciente, porque seriam vencidos pela própria imunidade ou teriam uma evolução muito lenta. É difícil estimar a proporção de homens com sobrediagnóstico de câncer de próstata, que pode variar de 23% a 66% (DRAISMA et al., 2009). Muitos dos pacientes assim diagnosticados são submetidos a procedimentos diagnósticos (biópsias) e ‘curativos’ (cirurgia, radioterapia) associados a elevadas morbidade e mortalidade, que seriam desnecessários. Isto resulta em sobretratamento, o qual também agrega custos indevidos (CHOU et al., 2011). Essa situação é agravada porque a dosagem do PSA em populações assintomáticas não reduz de forma significativa a mortalidade. Metanálise publicada pela Biblioteca Cochrane em 2013 identificou cinco ensaios clínicos controlados randomizados que utilizaram dosagem de PSA, com ou sem a utilização de toque retal, envolvendo 341.342 participantes de 45-80 anos (ILIC et al., 2013). Não houve diferença na mortalidade específica por câncer prostático entre os pacientes randomizados para rastreamento e os controles (risco relativo [RR] 1,00, IC 95% 0,86-1,17). Nessa metanálise, um alto risco de viés foi identificado em três estudos que não apontavam para benefício na mortalidade (LABRIE et al., 2004; KJELLMAN et al., 2009; SANDBLOM et al., 2011). Os outros dois trabalhos incluídos, avaliados como tendo baixo risco de viés - European Randomized Study of Screening for Prostate Cancer (ERSPC) e US Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian Cancer Screening Trial (PLCO) - trazem resultados conflitantes. O estudo PLCO, realizado com 76.693 participantes de centros americanos, não evidenciou qualquer benefício do rastreamento (ANDRIOLE et al., 2009). O seguimento de 13 anos desse estudo mostrou taxas de mortalidade cumulativa nos grupos intervenção e controle de, respectivamente, 3,7 e 3,4 mortes/10,0000 pessoas-ano, resultando em uma diferença não estatisticamente significante (RR 1,09, IC 95% 0,87-1,36) (ANDRIOLE etal., 2012) Já o ERSPC envolveu 13.515 participantes de 55 a 69 anos, de oito países europeus, relatando reduções no RR de mortalidade específica por câncer no grupo submetido ao rastreamento: de 15% após nove anos de seguimento e de 21% após 13 anos, com redução absoluta de 0,11/1000 participantes-ano, representando uma morte evitada por câncer prostático a cada 781 indivíduos rastreados. A despeito desses números, os autores concluem que a quantificação e redução dos danos associados ao rastreamento deve ser considerada (SCHRÖDER et al., 2014). Parte da discrepância entre os trabalhos parece ser explicada por diferenças nas populações e tipo de estudo (diferentes critérios de elegibilidade, de esquemas de randomização e das estratégias de rastreamento e seguimento), bem como pela contaminação entre os braços (proporções altas nos grupos controle de homens submetidos a rastreamento) (SCHRÖDER; ROOBOL, 2010). Mais recentemente, um estudo que tenta conciliar os resultados divergentes dos ensaios ERSPC e PCLO, utilizando modelos matemáticos e de microssimulação, concluiu que o rastreamento reduz a mortalidade, mas que esta redução, embora seja de 20% a 30% em termos relativos, é muito pequena em termos absolutos: seria necessário rastrear 1.000 homens para prevenir uma única morte por câncer de próstata (TSODIKOV et al., 2017). Ao mesmo tempo, é importante levar em consideração os danos que o rastreamento e as intervenções médicas podem causar. Níveis elevados de PSA frequentemente levam à biópsia prostática guiada por ultrassom, que se associa à dor, febre, hematúria, hematospermia, e hospitalização por prostatite e urosepse (ROSÁRIO et al., 2012). No ensaio ESPRC, um em cada cinco homens rastreados sofreram biópsia por resultado falso-positivo. Os tratamentos com o objetivo curativo incluem prostatectomia radical, radioterapia externa e braquiterapia, aos quais se associam elevados riscos de sangramento, incontinência urinária e disfunção erétil, sem contar com impactos psíquicos como ansiedade e depressão (DRAISMA et al., 2009). 20 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. Apesar dessas evidências, algumas sociedades médicas de outros países continuam recomendando a dosagem de PSA para todos os homens acima de 50 anos, enquanto outras instituições adotam postura contrária a esse rastreamento (Tabela 1). Até recentemente, a Sociedade Brasileira de Urologia seguia essa indicação (NARDI, 2014), mas em publicação mais recente, datada de 2017, passou a recomendar que homens a partir de 50 anos conversem com seus urologistas sobre os exames de detecção precoce e que aqueles com fatores de risco, como histórico da neoplasia na família, negros e obesos, realizem essa consulta aos 45 anos (SBU, 2017). Como em países como a Austrália (NATIONAL HEALTH AND MEDICAL RESEARCH COUNCIL, 2016), Canadá (BELL et al., 2014) e Reino Unido (LOUIE, 2016), a U.S. Preventive Service Task Force (USPSTF, 2017), o Ministério da Saúde e o INCA não recomendam o rastreamento populacional para o câncer da próstata, baseados em evidências científicas de boa qualidade de que este produz mais dano que benefício. Indicam sua detecção precoce para homens que apresentem sintomas relacionados ao sistema urológico ou histórico familiar e reforçam que os riscos inerentes aos procedimentos devem ser apresentados e discutidos com o paciente (BRASIL, 2015b). Sociedade brasileira de Urologia - setembro de 2018. O câncer de próstata permanece como a neoplasia sólida mais comum e a segunda maior causa de óbito oncológico no sexo masculino. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), estão estimados 68.220 novos casos em 2018 no Brasil, constituindo o tipo de câncer mais incidente nos homens (excetuando-se o câncer de pele não melanoma) em todas as regiões do país. Apesar dos avanços terapêuticos, cerca de 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença1. Atualmente, cerca de 20% ainda são diagnosticados em estágios avançados, embora um declínio importante tenha ocorrido nas últimas décadas em decorrência, principalmente, de políticas de rastreamento da doença e maior conscientização da população masculina2. O rastreamento universal de toda população masculina (sem considerar idade, raça e história familiar) apresenta controvérsias, pois pode diagnosticar, entre outros, câncer de próstata de baixa agressividade, que não necessita de tratamento, cujos pacientes são submetidos a biópsias, que têm potencial de complicações (infecção local), e, eventualmente, tratamentos radicais com potencial impacto na qualidade de vida. Individualizar a abordagem é fundamental neste sentido. A identificação de pacientes com risco de desenvolver a doença de forma mais agressiva, por meio de parâmetros clínicos ou laboratoriais, pode ajudar a individualizar a indicação e frequência do rastreamento. Entre diversos fatores, a idade, a raça e a história familiar apresentam-se como os mais importantes3. Análise recente de dois estudos avaliando tardiamente os resultados quanto à mortalidade câncer-específica mostra vantagem a favor desses programas com diminuição da taxa de mortalidade de 25% a 31% (estudo ERSPC) e de 27% a 32% (estudo PLCO) em comparação aos pacientes que não foram randomizados4. Para pacientes diagnosticados com tumores de baixo risco, a visão contemporânea é o oferecimento do regime de observação vigilante como conduta e consiste em avaliações periódicas por meio de toque retal e dosagens do PSA, reservando-se a ressonância magnética da pelve e/ou biópsia prostática para ser realizada em intervalos variados. O tratamento definitivo deve ser indicado caso seja identificada progressão da doença em pacientes com expectativa de vida maior que 10 (dez) anos, poupando pacientes com tumores “indolentes” das consequências do tratamento. Por outro lado, pacientes portadores de tumores classificados como de risco de progressão alto ou moderado podem, em fases iniciais, ser adequadamente tratados e curados. Como esperado, as consequências da equivocada resolução da U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF, EUA, 2011), contrária ao rastreamento sistemático, começam a aparecer. Trabalho apresentado no “2015 Genitourinary Cancers Symposium” provocou ainda mais discussão sobre o tema e reforçou o papel do rastreamento. Foram avaliados retrospectivamente 87.562 novos casos diagnosticados entre 2003 e 2013 em 150 instituições nos EUA. Demonstrou-se que após a recomendação da U.S. Preventive Services Task Force houve aumento de 3% ao ano no diagnóstico de tumores de risco intermediário e de alto risco3. Outra publicação recente https://scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/ 21 Mayra Alencar @maydicina | TUTORIA – PROLIFERAÇÃO CELULAR | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL Objetivo 4: descrever a epidemiologia e os fatores de risco, fisiopatologia, diagnóstico precoce e orientações de prevenção para neoplasia de próstata. mostrou redução no número de diagnósticos de tumores agressivos, o que cria preocupação de que o diagnóstico tardio em casos de câncer de próstata de alto risco possa acarretar maior impacto para a saúde pública e resultados oncológicos no futuro. A Sociedade Brasileira de Urologia mantém sua recomendação de que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado, para avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O rastreamento deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benefícios, em decisão compartilhada com o paciente. Após os 75 anos, poderá ser realizado apenas para aqueles com expectativa de vida acima de 10 anos. Posicionamento Oficialda Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) – Rastreio de Câncer de Próstata. Os danos potenciais da triagem incluem eventuais resultados falso-positivos. O que tem sido supervalorizado, no entanto, são os danos do tratamento cirúrgico (prostatectomia) os quais incluem disfunção erétil, incontinência urinária e sintomas intestinais. Cerca de um em cada cinco homens que se submetem à prostatectomia radical desenvolvem incontinência urinária e dois em três homens experimentam disfunção erétil a longo prazo. A partir destas informações, a USPSTF concluiu que, para homens com idades entre 55 e 69 anos, a decisão de se submeter à triagem periódica baseada na medida do PSA deve ser individual e deve incluir a discussão dos possíveis benefícios e danos da triagem com seu médico. Ao determinar se o exame é apropriado em casos individuais, os pacientes e médicos devem considerar o equilíbrio de benefícios e danos com base na história familiar, raça/etnia, condições médicas e comorbidades. Cabe lembrar que este intervalo etário é relativo a indivíduos sem história familiar de câncer de próstata e que não está recomendado o rastreamento em homens com 70 anos de idade ou mais. Fontes: Bogliolo, Ross Sociedade de urologia, sociedade de oncologia clínica https://scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/# https://portaldaurologia.org.br/medicos/noticias/nota-oficial-sbu-e-sbpc-ml-rastreio-de-cancer-de-prostata/ https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-molecular-biology/stem-cells-and-cancer/a/cancer https://scielosp.org/article/physis/2018.v28n2/e280209/ https://portaldaurologia.org.br/medicos/noticias/nota-oficial-sbu-e-sbpc-ml-rastreio-de-cancer-de-prostata/ https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-molecular-biology/stem-cells-and-cancer/a/cancer
Compartilhar