Buscar

23 - Conciliação - Conceito e Princípios

Prévia do material em texto

Tópico 7.1 – Conceito e princípios 
“A conciliação pode ser definida como um processo autocompositivo 
breve no qual as partes ou os interessados são auxiliados por um 
terceiro, neutro ao conflito, ou por um painel de pessoas sem 
interesse na causa, para assisti-las, por meio de técnicas adequadas, 
a chegar a uma solução ou a um acordo”. (AZEVEDO, 2015, p.21). 
O Brasil vem passando por mudanças significativas no seu 
ordenamento jurídico, evoluindo de uma concepção singularista, com suporte 
na decisão do juiz, para uma justiça estruturada em um sistema pluralista, onde 
as partes tem condições de escolher o caminho que desejam seguir na busca 
das soluções. 
Neste lastro de mudanças, a conciliação é um procedimento que 
ganha novos contornos, saindo de um procedimento intuitivo e meramente 
protocolar para um procedimento técnico, conforme bem a caracteriza o 
Manual de Mediação Judicial: 
“Atualmente, com base na política pública preconizada pelo Conselho 
Nacional de Justiça e consolidada em resoluções e publicações 
diversas, pode-se afirmar que a conciliação no Poder Judiciário 
busca: i) além do acordo, uma efetiva harmonização social das 
partes; ii) restaurar, dentro dos limites possíveis, a relação social das 
partes; iii) utilizar técnicas persuasivas, mas não impositivas ou 
coercitivas para se alcançarem soluções; iv) demorar suficientemente 
para que os interessados compreendam que o conciliador se importa 
com o caso e a solução encontrada; v) humanizar o processo de 
resolução de disputas; vi) preservar a intimidade dos interessados 
sempre que possível; vii) visar a uma solução construtiva para o 
conflito, com enfoque prospectivo para a relação dos envolvidos; viii) 
permitir que as partes sintam-se ouvidas; e ix) utilizar-se de técnicas 
multidisciplinares para permitir que se encontrem soluções 
satisfatórias no menor prazo possível.” (AZEVEDO, 2015, p.22). 
Vejam que a conciliação objetiva uma relação positiva entre as 
partes em disputa, preocupando-se com uma solução construtiva, que permita 
uma diminuição do impacto do conflito. O conciliador não pode impor uma 
solução, mas tem liberdade de sugerir opções de ganho mútuo. 
Um aspecto que caracteriza essa conciliação técnica é o uso de 
ferramentas que provoquem mudanças e dentre elas as técnicas de 
negociação, já abordadas no módulo II deste curso. 
“Art. 166 
§ 3o Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de 
proporcionar ambiente favorável à autocomposição.” (BRASIL, Lei 
13.105 de 16/03/2015). 
Aqui cabe registrar a importância da negociação como uma das 
bases operacionais do processo de mediação e conciliação. Estudando 
diversos modelos de mediação ao longo dos últimos anos, o que se constata é 
que num modelo ou em outro, sempre se chega a uma etapa onde a 
negociação é imprescindível. Costumamos dizer que o “miolo” da conciliação e 
da mediação, sempre é uma etapa ou estágio de negociação. É bom lembrar 
que a negociação pode ser direta, entre as próprias partes, e indireta, como no 
caso da mediação e da conciliação. Por isso o conceito mediação como uma 
negociação assistida. 
Lembrando do curso no CNJ, onde o professor dizia que um 
mediador e conciliador precisam saber muito de negociação, e das palavras 
iniciais deste módulo acerca do pensamento na pós-modernidade, 
consideramos relevante registrar que negociar significa uma disposição de 
ajudar o outro a fazer o que eu quero que ele faça. É nessa relação com o 
outro, reconhecendo as suas necessidades e interesses, tendo uma atitude 
colaborativa ao invés de competitiva (como nos mostra a Teoria dos Jogos) 
que encontramos a possibilidade de uma negociação integrativa, que atenda os 
interesses de ambas as partes. 
Tanto a conciliação quanto a mediação, estão orientadas por 
princípios que norteiam a sua prática, com o objetivo de garantir a vontade das 
partes e a ética do mediador/conciliador. 
 
a) Princípio da independência – o mediador e o conciliador devem 
exercer suas atividades sem receber ou sofrer qualquer tipo de pressão 
externa ou interna, o que lhe garante a possibilidade de recusar, suspender ou 
pedir o afastamento de determinado caso, declarando-se impedido, quando 
sua independência estiver ameaçada. 
 
b) Princípio da imparcialidade – este é o princípio que diz respeito 
à isenção do mediador/conciliador em relação às partes e ao conflito. É o que 
se diz normalmente em relação a “não tomar partido”, tampouco permitir que 
apenas uma das partes seja beneficiada. O mediador/conciliador precisa atuar 
em busca de ganhos mútuos. 
 
c) Princípio da autonomia da vontade – este é o princípio que 
garante que ninguém será obrigado a participar de uma sessão de 
conciliação/mediação se não quiser, salvo as conciliações do Juizado Especial. 
Mais ainda, ninguém é obrigado a fazer um acordo que não atenda aos seus 
interesses. Por isso a importância de as partes serem bem acolhidas e 
esclarecidas acerca dos procedimentos propostos. 
d) Princípio da confidencialidade – É dever do mediador e do 
conciliador manter sigilo de tudo o que for tratado durante as sessões, sendo 
vedado qualquer tipo de relatório ou informação sobre as partes, exceto o 
termo de acordo, caso este seja alcançado. É este princípio que garante ao 
mediador não ser arrolado como testemunha em processo que envolvam as 
mesmas partes e sua função de tê-las mediado em algum momento. Essa 
confidencialidade também se estende às partes e advogados, razão pela qual é 
muito importante que seja bem esclarecida na declaração de abertura da 
mediação ou conciliação. Significa que, caso não cheguem a autocomposição 
acerca das questões em disputa, ninguém poderá usar informações 
apresentadas nas sessões como prova em processo judicial em tramitação ou 
futuro. 
“Nesse sentido, o art. 154 do Código Penal dispõe acerca do tipo 
penal de violação de segredo profissional ao apenar a conduta de 
revelar, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa 
produzir dano a outrem. De forma semelhante o art. 229, I, do Código 
Civil, estabelece que ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato a 
cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo. 
Ademais, entendemos que, se não há tratamento legal específico e 
detalhado acerca da autocomposição na legislação brasileira, há 
dispositivos abrangentes referentes à autocomposição (e.g. art. 227, 
§ 1º, do Código de Processo Civil) que recomendam a adoção de 
técnicas eficientes.” (AZEVEDO, 2015, p.246). 
e) Princípio da oralidade – A base da mediação e da conciliação 
está na comunicação produtiva entre todos os participantes. Quanto mais as 
partes se sentirem à vontade e confiarem na competência do 
mediador/conciliador, mais se comunicarão de forma franca e direta. 
Diferentemente de um processo judicial, na mediação e na conciliação não se 
produz provas. 
 
f) Princípio da informalidade – Este princípio, bastante difundido 
desde a Lei 9.099/95, dos Juizados Especiais, também norteia a prática da 
mediação e da conciliação e caminha junto com a simplicidade dos 
procedimentos (também reconhecido como economia processual). Daí o fato 
de que tudo quer for acordado informalmente e for reduzido a termo que 
traduza a vontade das partes, não infringindo nenhuma norma jurídica, será 
homologado pelo juiz, juntando-se apenas o essencial de documentos. 
 
g) Princípio da decisão informada – Para que se garanta este 
princípio, as partes devem ter conhecimento de seus direitos e da realidade na 
qual se encontram. O mesmo também norteia a aplicação de algumas técnicas 
e as partes devem ser informadas de que se trata de uma técnica, como no 
caso da inversão de papéis, por exemplo.

Continue navegando

Outros materiais