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Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos APRESENTAÇÃO Os microrganismos são seres vivos de ocorrência natural na terra; eles desempenham diferentes funções na natureza, sendo importante tanto para plantas e animais, quanto para o ser humano. Ao mesmo tempo que auxiliam na manutenção do equilíbrio ecológico, também são úteis para a alimentação humana. No entanto, muitos microrganismos utilizam o alimento como substrato para seu crescimento e desenvolvimento. Dependendo da espécie de microrganismo, poderá alterar a qualidade do alimento, sendo benéfico, como no caso dos iogurtes, ou deteriorante, como o mofo em pães. O microrganismo pode, ainda, ser tóxico, causando doenças de origem alimentar. O crescimento e o desenvolvimento desses microrganismos no alimento está diretamente relacionado a uma série de fatores, que irão determinar a velocidade de seu crescimento; esses fatores são conhecidos como extrínsecos e intrínsecos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá conceitos importantes sobre os fatores intrínsecos e extrínsecos e sobre como são classificados, conforme o risco de contaminação nos alimentos. Por fim, identificará quais ações de boas práticas devem ser executadas no ambiente de manipulação de alimentos, para garantir a segurança do alimento servido ao consumidor final. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar termos relacionados aos fatores de crescimento microbiano dos alimentos.• Classificar os fatores intrínsecos e extrínsecos do crescimento microbiano dos alimentos.• Relacionar os fatores do crescimento microbiano com as práticas de segurança alimentar.• DESAFIO As adequadas condições higiênico-sanitárias constituem um fator importante para garantir que microrganismos não se desenvolvam em alimentos, causando doenças ao consumidor. Todas as medidas higiênico-sanitárias desenvolvidas em estabelecimentos que manipulam e distribuem alimentos, devem estar atreladas aos fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos. Isso garante que o controle de possíveis contaminações seja mais eficiente. Você trabalha no setor de qualidade em uma grande rede de restaurantes industriais, sendo responsável pela auditoria de condições higiênico-sanitárias das unidades; a cada seis meses, visita cada uma delas para verificar as condições, identificando se os aspectos estão satisfatórios ou necessitam de alguma melhoria. Além disso, é acionado quando ocorrem casos de surtos alimentares. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Com base nessas informações, responda: a) qual o alimento com maior possibilidade de ter gerado o surto alimentar? b) quais as características intrínsecas do alimento fonte da contaminação? c) quais as possíveis causas da contaminação alimentar? d) quais as medidas higiênico-sanitárias que deveriam ter sido tomadas para evitar o surto alimentar? INFOGRÁFICO Para garantir que um alimento esteja seguro, ele precisa estar livre de contaminações químicas, físicas e biológicas. As contaminações biológicas, por exemplo, apresentam grande risco de infecções e intoxicações alimentares, devido à capacidade das bactérias de crescerem e se multiplicarem em um alimento; ou seja, quando encontram nele condições favoráveis, como alto valor nutricional, pH próximo à neutralidade, alta atividade água e temperatura. Confira, no Infográfico, como ocorrem as diferentes fases de crescimento de uma bactéria. CONTEÚDO DO LIVRO Os microrganismos são seres vivos que precisam de uma série de fatores/condições para que possam crescer e se desenvolver em um alimento. Esses fatores são conhecidos como intrínsecos e extrínsecos; ou seja, os fatores que estão relacionados ao crescimento dos microrganismos que fazem parte do próprio alimento e os fatores que fazem parte do ambiente externo. Eles são amplamente utilizados para a elaboração de medidas de controle de crescimento microbiano e visam garantir a saúde do consumidor final. Conhecer esses fatores e conseguir entender como cada um deles age na prevenção de doenças alimentares, faz parte da rotina do profissional nutricionista, no setor de alimentos. No capítulo Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos, da obra Microbiologia e Legislação de alimentos, você vai ver os termos relacionados aos diferentes fatores de crescimento microbiano e entender, nesse contexto, a classificação dos fatores em intrínsecos e extrínsecos. Por fim, vai compreender o processo de elaboração de medidas de boas práticas, para a manipulação segura dos alimentos, que garantam a saúde do consumidor final. Boa leitura. MICROBIOLOGIA E LEGISLAÇÃO DE ALIMENTOS Ivonilce Venturi Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar termos relacionados aos fatores de crescimento microbiano dos alimentos. � Classificar os fatores intrínsecos e extrínsecos do crescimento micro- biano dos alimentos. � Relacionar os fatores do crescimento microbiano com as práticas de segurança alimentar. Introdução Um alimento que é fonte de energia e nutrientes para o ser humano pode se tornar impróprio para o consumo. Isso pode ocorrer de diversas maneiras, tornando o alimento deteriorado, com alterações em relação a textura, sabor, cor, valor nutricional, etc., podendo ter como causa enzimas que fazem parte do processo natural de um alimento ou microrganismos que em contato com a superfície do alimento irão contaminá-lo. Essa contaminação por microrganismos pode causar não só alterações físicas visíveis no alimento como também pode acarretar crescimento de mi- crorganismos patogênicos, os quais resultam em intoxicação alimentar. Os microrganismos crescem rapidamente em condições específicas tanto do meio interno do alimento, conhecido como fatores intrínsecos, como das condições que o meio externo ao alimento oferece, ou seja, fatores extrínsecos. Essas duas categorias de condições podem ser con- troladas por meio de ações de boas práticas higiênico-sanitárias. Portanto, neste contexto, a presença de um profissional nutricionista atuando em todas as etapas do processo de alimentos visa a garantir que este seja contaminado e possa causar danos à saúde do consumidor. Neste capítulo, você vai estudar os principais conceitos que estão relacionados ao crescimento microbiano nos alimentos, que incluem os fatores intrínsecos e extrínsecos. Vai aprender a classificar cada fator de risco, incluindo os pontos de corte que são considerados para cada fator. Por fim, vai compreender como atuar com ações de prevenção em cada fator de risco dentro das práticas rotineiras de um ambiente de manipulação de alimentos. Fatores de crescimento microbiano Fatores de crescimento de microrganismos nos alimentos envolvem conhecer e compreender uma série de termos e expressões que são importantes para a compreensão do todo. Inicialmente, é necessário entender a diferença entre o que é um fator de crescimento intrínseco e um fator de crescimento extrínseco. � Fatores de crescimento intrínseco: são todos os fatores que estão relacionados ao próprio alimento, ou seja, são condições do alimento que afetam diretamente o crescimento do microrganismo. Estão in- cluídos nesta categoria o potencial hidrogeniônico (pH), o potencial de óxido-redução (Eh), a atividade da água (Aw), o valor nutricional do alimento, a presença de compostos antimicrobianos e as barreiras mecânicas à invasão microbiana. � Fatores de crescimento extrínseco: são as condições do meio ambiente em que o alimento se encontra, ou seja, são externos ao alimento. Neste grupo estão incluídas as temperaturas e a composição de gases do ambiente e a umidade relativa do ar (URA),que interferem diretamente no crescimento e no desenvolvimento dos microrganismos (MANDAL et al., 2018). Entre os microrganismos que normalmente são encontrados nos alimentos, que são fungos, bactérias e vírus, as bactérias são os principais causadores de contaminações alimentares, pois são mais tolerantes às alterações ambientais, conseguindo muitas vezes sobreviver em ambientes extremos. Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos2 Os conceitos dos fatores intrínsecos que influenciam no crescimento dos microrganismos e que são importantes para a compreensão de todo o conteúdo são: � Potencial hidrogeniônico (pH): é o logaritmo da concentração de íons de hidrogênio [H+] de um respectivo meio. Adotou-se faixas de pH que indicam se o meio/alimento é ácido, neutro ou alcalino (MAJUMDAR et al., 2018). � Potencial de óxido-redução ou potencial redox (Eh): é uma me- dida de tendência de um sistema reversível de ganhar (redução) ou perder (oxidação) elétrons. Quando um composto perde elétrons, ele é oxidado, quando ele ganha elétrons, é reduzido. No momento em que elétrons são transferidos de um composto para outro, ocorre uma diferença de potencial que é expressa em milivolts (mV) (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015; MAJUMDAR et al., 2018). � Atividade da água (Aw): é a relação entre a pressão de vapor d’água de uma amostra com a água pura, estando as duas na mesma temperatura, considerando-se como 1 a Aw da água pura e 0 a ausência total de água. É a medida da água que está disponível em um alimento (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015). � Valor nutricional do alimento ou teor de nutrientes: é o conteúdo de macro (proteínas, lipídios e carboidratos) e micronutrientes (vita- minas e minerais) e calorias presentes em um determinado alimento, que será utilizado por microrganismos como fonte energética para seu crescimento e desenvolvimento (CHAVASIT et al., 2018; MAJUMDAR et al., 2018). � Presença de compostos antimicrobianos: são compostos químicos presentes naturalmente ou adicionados a alimentos, embalagens ou superfícies de contato com os alimentos, que têm como finalidade inibir ou eliminar a presença dos microrganismos (BARBERIS et al., 2018). � Barreiras mecânicas à invasão microbiana: muitos alimentos de origem vegetal e animal em seu estado original (sem a interferência da mão humana) têm estruturas biológicas que são capazes de impedir a entrada de microrganismos. Cascas de frutas, nozes, pele de animal e película que envolve as sementes e a casca do ovo são alguns exemplos de barreiras mecânicas (MORAL et al., 2018). 3Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos Além dos fatores intrínsecos aos alimentos, há ainda os fatores extrínsecos ao alimento, que são: � Temperatura: é uma medida do nível de agitação das moléculas que está diretamente relacionado à movimentação da energia de um átomo. Está relacionada à transferência de calor de um objeto a outro. É me- dida utilizando termômetros. No Brasil, foi adotada a Escala Celsius, a qual considera como ponto de congelamento a água em 0 ºC e como ponto de ebulição em 100 °C em pressão atmosférica normal (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2013). � Composição de gases do ambiente: são três gases com importância na relação extrínseca com os alimentos, o mais importante é o oxigênio (O2), seguido do dióxido de carbono (CO2) e do ozônio (O3) (MORAL et al., 2018). O O2 e o CO2 são os gases que mais afetam o crescimento e o desenvolvimento microbiano, interferindo também no pH e no Eh dos alimentos (MAJUMDAR et al., 2018). O O2 faz parte da respiração de todo ser humano e também de muitos microrganismos, por isso, a presença de O2 muitas vezes acelera o processo de crescimento dos microrganismos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). O CO2 e o O3 estão sendo muito usados na área de alimentos como inibidores do crescimento de microrganismos, em razão da sua ação antibactericida (SILVA, C.; SILVA, P., 2019). � URA: refere-se à quantidade de vapor de água que existe em um de- terminado ambiente e que influenciará diretamente o teor de Aw dos alimentos (HAMAD, 2012). O fator humano também deve ser levado em consideração como um fator extrínseco, mesmo não sendo considerado como tal, pois é ele quem realizará todas as etapas do processamento do alimento, desde a fazenda até o prato do consumido final, além de ser um veículo de contaminação microbiana. Portanto, conhecer as interações entre o conjunto de fatores relacionados ao crescimento microbiano auxilia no controle higiênico-sanitário, garantindo, assim, a qualidade do alimento. Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos4 Classificação dos fatores intrínsecos e extrínsecos Os fatores intrínsecos e extrínsecos aos alimentos têm classificações que auxiliam no desenvolvimento de medidas de boas práticas de manipulação que garantem a qualidade e a segurança do produto final. Veja a seguir os fatores intrínsecos: Potencial hidrogeniônico A faixa para classificação do pH varia entre 0 e 14, sendo 0 o meio mais ácido, 7 o meio neutro e 14 o meio mais alcalino. Os microrganismos podem crescer em diferentes pH e são classificados conforme sua capacidade de crescer e se desenvolver neles. � Microrganismos acidófilos: conseguem crescer em pH abaixo de 7. � Microrganismos neutrófilos: conseguem crescer em pH neutros. � Microrganismos alcalófilos: conseguem crescer em condições alcalinas (MAJUMDAR et al., 2018). O valor do pH, seja ele ácido ou alcalino, influencia na estabilidade da composição do alimento, influenciando também o crescimento e o desenvol- vimento dos microrganismos. Cada alimento tem características próprias em relação ao pH e, conside- rando que o crescimento dos microrganismos é influenciado pelo pH do meio, foram considerados três pontos fundamentais que classificam o pH para um melhor crescimento e desenvolvimento: pH mínimo, no qual valores abaixo impedem o crescimento de microrganismos, pH ótimo, aquele em que oferece as melhores condições para o crescimento dos microrganismos, e pH máximo, aquele que define o limite máximo para o crescimento microbiano, sendo que, acima dele, não consegue se desenvolver (GAUR; SINGH; TRIPATHI, 2019). De maneira resumida, pode-se descrever algumas categorias de alimentos e seus pH: � Pouco ácidos (pH > 4,5): leites, carnes, pescados e alguns vegetais. � Ácidos (pH entre 4 e 4,5): frutas e hortaliças. � Muito ácidos (pH < 4): sucos de frutas e refrigerantes (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015). 5Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos A Figura 1 ilustra exemplos de alimentos e seus pH. Figura 1. Escala de pH com exemplos de alimentos em cada pH. Fonte: Madigan et al. (2016, p. 166). A grande maioria dos microrganismos se desenvolve em pH próximos à neutralidade, pH entre 6,6 e 7,5. As bactérias crescem mais rapidamente em um ambiente com pH entre 6 e 8. As leveduras conseguem crescer em pH um pouco mais ácido, entre 4,5 e 6. Os fungos ou bolores têm a capacidade de crescer em ambientes mais ácidos com pH entre 3,5 e 4 (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015). Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos6 O Quadro 1 exemplifica alimentos e os graus de pH e os microrganismos que têm mais afinidade para crescer em cada alimento conforme o pH. Fonte: Adaptado de Majumdar et al. (2018). Produto pH Microrganismos Frutas cítricas 2,0 a 5 Acetobacter, Lactobacillus e Leuconostoc Maçãs 2,9 a 3,3 Rhizopus, Erwinia, Botrytis e A. niger Bananas 4,5 a 4,7 Lactobacillus e Leuconostoc Refrigerantes 2.5 a 4 Acetobacter, Lactobacillus e Leuconostoc Cerveja 3,5 a 4,5 Acetobacter, Lactobacillus e Leuconostoc Carne 5,6 a 6,2 Rhizopus, Aspergillus e Penicillium Legumes 4 a 6,5 Pseudomonas e Micrococcus Peixe 6,6 a 6,8 Lactobacillus e Leuconostoc Leite 6,5a 6,8 Alcaligenes viscolactis, Micrococcus, Enterobacter, Lactobacillus, Streptococcus e Bacillus Farinha de trigo 6,2 a 6,8 Fungos Xerofílicos e Saccharomyces bisporus Clara de ovo 8,5 a 9,5 Alcaligenes, Proteus, Pseudomonas e P. fluorescens Quadro 1. Microrganismos que crescem em diferentes pH por grupos de alimentos Potencial de óxido-redução ou potencial redox O Eh de um alimento tem potencial para protege-lo da degradação por mi- crorganismos. O potencial redox é resultado de fatores como pH, disponibi- lidade de oxigênio, razão oxidação/redução e par de agente redutor/oxidante envolvido na reação. De modo geral, os microrganismos aeróbicos precisam de Eh+ (oxidado) e os anaeróbicos precisam de Eh (reduzido) para crescer. A classificação dos microrganismos conforme o Eh é a seguinte: 7Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos � Alto potencial — oxidante — microrganismos aeróbios facultativos. � Baixo potencial — redutor — microrganismos anaeróbios facultativos (SILVA-JUNIOR, 2014; GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015). Alterações nos valores dos agentes oxidantes ou redutores irão determinar o Eh, influenciando o crescimento ou a inibição microbiana. Substâncias consideradas redutoras presentes nos alimentos são ácido ascórbico, açúcares redutores, alimentos com sulfidril (–SH) ou outros compostos considerados como “antioxidantes” (MAJUMDAR et al., 2018). As plantas frescas, como legumes e frutas, e as carnes promovem o cresci- mento dos microrganismos aeróbicos na superfície do alimento em função do Eh+. Já os microrganismos anaeróbicos tendem a crescer nas partes internas de vegetais, frutas e carnes por causa do Eh–. O processamento de um alimento vegetal fresco promove o Eh+, favorecendo o crescimento de microrganismos aeróbicos. O Quadro 2 apresenta alguns exemplos de alimentos e seus Eh correlacio- nando-os com o pH destes. Fonte: Adaptado de Germano, P. e Germano, M. (2015). Alimentos Eh (mV) pH Carne fresca (post rigidez) –200 5,7 Carne fresca picada +225 5,9 Cevada (grão triturado) +225 7 Embutidos cozidos e carnes enlatadas –20 a –150 Aprox. 6,5 Espinafre +74 6,2 Limão +383 2,2 Pera +436 4,2 Trigo (grão inteiro) –320 a –360 6 Tubérculo de batata Aprox. –150 Aprox. 6 Uva +409 3,9 Quadro 2. Potenciais de óxido-redução de alguns alimentos e suas relações com o pH Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos8 Atividade da água Os microrganismos precisam de água disponível para poder se desenvolver em um alimento. Normalmente as bactérias precisam de um alimento com maior Aw que os fungos e os vírus, e as bactérias gram-negativas precisam de mais Aw que as gram-positivas (HðNGARO et al., 2014). Quanto à necessidade de Aw nos alimentos, os microrganismos são clas- sificados como: � Hidrófitos — mínimo de 90%. � Mesófitos — mínimo de 80 a 90%. � Xerófitos — menos de 80%. O Quadro 3 apresenta os grupos de microrganismos e a Aw mínima para que consigam se desenvolver, apresentando juntamente os alimentos e os microrganismos mais comuns. Grupo de microrganismos Aw mínima Microrganismos Exemplo de alimento Maioria das bactérias 0,91 Pseudomonas, E. coli, Proteus, Shigella, Klebsiella, Bacillus e C. perfringens Alimento altamente perecíveis e enlatados Maioria das leveduras 0,88 Candida, Torulopsis, Hansenula e Micrococcus A maioria dos sucos de frutas concentrados, farinha e arroz Maioria dos fungos 0,80 Aspergillus flavus e demais bactérias halofílicas Geleia, marmelada, glacê, frutas e molho de soja Bactérias halofílicas 0,75 Wallemiasebi sp. e Fungos xerofílicos Aveia em flocos, caramelo, marshmallows, geleia e manteiga de amendoim Quadro 3. Microrganismos que crescem em diferentes Aw por grupos de alimentos (Continua) 9Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos Fonte: Adaptado de Majumdar et al. (2018). Quadro 3. Microrganismos que crescem em diferentes Aw por grupos de alimentos Grupo de microrganismos Aw mínima Microrganismos Exemplo de alimento Fungos Xerofílicos 0,65 Aspergillus echinulatas Algumas frutas secas, nozes e manteiga de amendoim Leveduras osmofílicas 0,60 S. bisporus Frutos secos que contenham 15 a 20% de umidade e mel (Continuação) Valor nutricional do alimento ou teor de nutrientes Os microrganismos necessitam de diferentes nutrientes para crescer e desen- volver suas funções metabólicas e a quantidade e o tipo do nutriente variam conforme a espécie dos microrganismos. Os nutrientes usados são carbono, nitrogênio, fosforo, enxofre, oxigênio e hidrogênio, além de outros nutrientes como vitaminas e minerais (ENGELKIRK, P.; ENGELKIRK, J., 2017). Os aminoácidos são usados como fonte de nitrogênio e também como energia e são utilizados pela grande maioria dos microrganismos. Como fonte de nitrogênio também são utilizadas ureia, amônia, creatinina e metilaminas, sendo que as fontes mais importantes de energia para os microrganismos são os açúcares, os álcoois e os aminoácidos (JAY, 2005; MORAL et al., 2018). A exigência nutricional dos microrganismos determinará o nicho de ali- mentos que tem maiores disponibilidades para contaminação. As bactérias gram-positivas são as que têm maior exigência nutricional, seguidas por gram-negativas, leveduras e bolores. As bactérias gram-negativas e os bolores conseguem sintetizar a grande maioria dos compostos necessários ao seu crescimento e desenvolvimento, logo, conseguem sobrevier em alimentos com baixos teores de vitamina B (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015): Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos10 � Alimentos ricos em carboidratos (amido e celulose) — crescem preferencialmente bolores como os fungos filamentosos. � Gorduras e óleos — crescem os microrganismos lipolíticos como fungos filamentosos, leveduras e algumas bactérias (Pseudomonas, Achromobacter e Alcaligenes). Deve-se lembrar que a grande maioria das bactérias não crescem em meio lipídico. � Alimentos ricos em proteínas — crescem microrganismos proteolíticos (aqueles que degradam a proteína). � Alimentos com maior teor de vitamina do complexo B — crescimento de bactérias gram-positivas. � Alimentos com pouco conteúdo de vitamina do complexo B — bac- térias gram-negativas e fungos (MADIGAN et al., 2016). O Quadro 4 apresenta uma relação de micronutrientes que são requeridos pelos microrganismos considerando as funções que esses micronutrientes desempenham. I – Elementos-traço II – Fatores de crescimento Elemento Função Fator de crescimento Função Boro (B) Autoindutor de quorum sensing (comunicação célula-célula) em bactérias; também encontrado em alguns antibióticos policetídeos PABA (ácido p-amino- benzoico) Precursor do ácido fólico Cobalto (Co) Vitamina B12; transcarboxilase (apenas em bactérias do ácido propiônico) Ácido fólico Metabolismo de um carbono; transferência de grupos metil Cobre (Cu) Na respiração, citocromo c oxidase; na fotossíntese, plastocianina, presente em alguns superóxido dismutases Biotina Biossíntese de ácidos graxos; algumas reações de fixação de CO2 Quadro 4. Micronutrientes requeridos pelos microrganismos (Continua) 11Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos Quadro 4. Micronutrientes requeridos pelos microrganismos I – Elementos-traço II – Fatores de crescimento Elemento Função Fator de crescimento Função Ferro (Fe)* Citocromos; catalases; peroxidases; proteínas de ferro e enxofre; oxigenases; todas as nitrogenases B12 (cobalamina) Metabolismo de um carbono; síntese de desoxirribose Manganês (Mn) Ativador de muitas enzimas; componente de algumas superóxido dismutases e da enzima que quebra a molécula de água em fototrófos oxigênicos (fotossistema II) B1 (tiamina) Reações de descarboxilação Molibdênio(Mo) Certas enzimas contendo flavina; algumas nitrogenases, nitrato redutases, sulfito oxidases, DMSO-TMAO redutases; algumas formato-desidrogenases B6 (piridoxal) Transformações de aminoácidos e cetoácidos Níquel (Ni) Maioria das hidrogenases; coenzima F430 dos metanógenos; monóxido de carbono desidrogenase; urease Ácido nicotínico (niacina) Precursor de NAD+ Selênio (Se) Formato desidrogenases; algumas hidrogenases; aminoácido selenocisteína Riboflavina Precursor de FMN e FAD Tungstênio (W) Algumas formato- desidrogenases; oxotransferases dos hipertermófilos Ácido pantotênico Precursor da coenzima A Vanádio (V) Vanádio nitrogenase; bromoperoxidase Ácido lipoico Descarboxilação de piruvato e alfacetoglutarato (Continua) (Continuação) Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos12 Fonte: Adaptado de Madigan et al. (2016). Quadro 4. Micronutrientes requeridos pelos microrganismos I – Elementos-traço II – Fatores de crescimento Elemento Função Fator de crescimento Função Zinco (Zn) Anidrase carbônica; polimerases de ácido nucleico; muitas proteínas de ligação ao DNA Vitamina K Transporte de elétrons Obs.: nem todos os elementos-traço ou fatores de crescimento são requeridos por todos os or- ganismos. *O ferro é normalmente requerido em quantidades maiores do que os outros metais-traço apre- sentados. (Continuação) Presença de compostos antimicrobianos Os compostos derivados de fontes naturais têm sido usados para garantir a segurança dos alimentos, pois têm propriedades antimicrobianas contra uma grande quantidade de microrganismos que são transmitidos por alimentos. Esses compostos podem ser obtidos de plantas, como manjericão e alecrim (linalol), orégano (timol e carvacrol), canela e cravo (eugenol), alho (alicina) e mostarda (alil isotiocianato), ou obtidos de animais, como as enzimas e as fontes de microrganismos como nisina, natamicina e bacteriosina. Outras fontes também podem ser obtidas de ácidos orgânicos, como ácidos sórbico e cítrico, além de algumas algas e fungos que também têm propriedades antimicrobianas. No entanto, a maioria dos compostos antimicrobianos estão relacionados aos produtos de origem vegetal, sendo os óleos essenciais os de grande interesse para a indústria de alimentos em razão do seu alto poder descontaminante (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015; BARBERIS et al., 2018). Os principais grupos de componentes dos óleos essenciais que o tornam um bom antimicrobiano são: saponinas, flavonoides, carvacrol, timol, citral, eugenol, linalol e terpenos. 13Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos Plantas da família das crucíferas, como couve-de-bruxelas, nabo e repolho, têm em sua composição os glicosinolatos, que, após ruptura da membrana, libe- ram o composto isotiocianatos que têm atividade antifúngica e antibacteriana. Barreiras mecânicas à invasão microbiana As estruturas externas que conferem proteção aos alimentos contra os micror- ganismos são consideradas como barreiras físicas (MAJUMDAR et al., 2018). De modo geral, essas barreiras têm baixa Aw e conteúdo nutricional e apresentam compostos antimicrobianos como os ácidos graxos de cadeia curta, o que potencializa a ação antimicrobiana (SILVA-JUNIOR, 2014; GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015). Alguns fatores podem interferir na eficácia da proteção das barreiras, como a maturidade do alimento, que quanto mais imaturo, menor é a proteção exercida pela barreira. Danos físicos também interferem na proteção, pois podem romper a parte externa, deixando a parte interna do alimento exposto a contaminações (MORAL et al., 2018). Temperatura Os microrganismos têm a capacidade de crescer e se multiplicar em tem- peraturas muito variáveis (entre 2 a 70 °C), por isso recebem classificações conforme a afinidade que tem em crescer em diferentes temperaturas, conforme apresenta o Quadro 5. Fonte: Adaptado de Majumdar et al. (2018). Grupo de microrganismos Temperatura (°C) Mínima Ótima Máxima Mesófilos 5 a 15 30 a 45 35 a 47 Psicrófilos -5 a +5 12 a 15 15 a 20 Psicrotróficos -5 a +5 25 a 30 30 a 35 Termófilos 40 a 45 55 a 75 60 a 90 Quadro 5. Microrganismos que crescem em diferentes Aw por grupos de alimentos Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos14 Composição dos gases atmosféricos O oxigênio é o gás mais importante para o crescimento dos microrganis- mos, pois influencia o potencial redox e, consequentemente, o crescimento microbiano. O Quadro 6 apresenta os grupos de microrganismo conforme as necessi- dades relacionadas à captação de oxigênio. Fonte: Adaptado de Germano, P. e Germano, M. (2015). Grupo de microrganismos Necessidades Aeróbios Necessitam de oxigênio livre Bolores e a maioria das leveduras Estritos: Pseudomonas, Acetobacter, Micrococcus e outras Anaeróbios Não necessitam de oxigênio livre Leveduras fermentativas: Saccharomyces Estritos: Clostridium botulinum e C. perfringens Facultativos Necessitam ou não de oxigênio livre Anaeróbios facultativos: enterobactérias, Staphylococcus e Bacillus Microaerófilos Crescem melhor com teor de O2, porém em quantidade determinada: Campylobacter e Listeria Quadro 6. Divisão dos microrganismos segundo a faculdade de captar oxigênio livre O dióxido de carbono é outro gás que afeta diretamente o crescimento mi- crobiano. Sendo usado para o armazenamento de frutas em uma concentração de 10%, é considerado como um antimicrobiano. As bactérias gram-negativas e alguns fungos são mais sensíveis aos ambientes com CO2, já as bactérias gram-positivas e algumas leveduras como a Bretanomyces spp. são mais resistentes a essa atmosfera (MAJUMDAR et al., 2018). 15Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos Umidade relativa do ar É a medida que está inversamente relacionada à Aw de um alimento, pois quando o ambiente está com alta URA e o alimento com baixa Aw, a tendência é que o alimento absorva parte dessa umidade, tornando o meio com melhores condições de crescimento microbiano. Portanto, manter a URA é um importante fator de conservação de alimentos (HAMAD, 2012). Crescimento microbiano e práticas de segurança alimentar O crescimento microbiano pode ser evitado com o uso de boas práticas higiê- nico-sanitárias. Utilizando o conhecimento em relação aos fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos, é possível desenvolver práticas adequadas ao tipo de produto que está sendo produzido, visando a garantir a saúde do consumidor (SILVA-JUNIOR, 2014; KAMALA; KUMAR, 2018). É importante lembrar que a saúde e a higiene do manipulador são extre- mamente importantes para garantir que todo o processo seja realizado com segurança, pois realizar todos os procedimentos de higiene com um manipula- dor que não cumpre a higiene pessoal coloca todo o trabalho em risco. Assim como o manipulador, o ambiente deve também estar em condições adequadas de higiene, evitando o risco de uma contaminação cruzada. Para práticas seguras, deve ocorrer o controle dos fatores intrínsecos e extrínsecos desde a compra, o recebimento, o armazenamento, o pré-preparo, o preparo e o servimento. De acordo com a RDC nº. 216/2004, a RDC nº. 275/2002 e a Portaria CVS nº. 5/2013, as boas práticas devem seguir os seguintes itens: � Compra: no momento da compra dos alimentos, devem ser avaliadas as condições do produto. É preciso avaliar se ele está íntegro, ou seja, se forem frutas, verduras, ovos ou outros, se estão com as cascas íntegras, sem perfurações ou amassadas. As alterações na proteção física dos alimentos podem alterar o pH e o Eh, favorecendo a contaminação microbiana. Outro item é a temperatura dos alimentos, que devem estar a temperaturas entre 0 e 10 ºC, se refrigerados, e menor que 0 ºC, se congelados, observando sempre a recomendação do produtor. Alimentos com alterações nas temperaturasde refrigeração possibilitam o desenvolvimento de microrganismos patogênicos. Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos16 � Armazenamento: o armazenamento de alimentos deve seguir algumas regras, sendo que o armazenamento a seco deve ter controle da umidade relativa do ar, pois os produtos que serão armazenados de um modo geral têm baixa Aw. Logo, se o ambiente estiver com alta URA, esta tenderá a ir para o alimento fazendo equilíbrio, e isso favorece o crescimento de microrganismos, pois reidrata o alimento. O processo de desidratar alimentos, como massas, tem como finalidade reduzir a Aw deste, aumentando, assim, o tempo de vida útil. A redução da Aw nos alimentos inibe o crescimento de microrganismos em razão do estresse osmótico que é gerado (HðNGARO et al., 2014). É importante estar atento aos fungos filamentosos e às leveduras que conseguem se desenvolver em ambientes com baixa Aw (0,80) e aos fungos xerofílicos e às leveduras osmofílicas que conseguem crescer em ambientes com Aw entre 0,65 e 0,61, portanto, deve ter como medida o controle da URA no estoque de secos. Em ambientes refrigerados o armazenamento deve ser mantido em tempe- raturas entre 0 e 10 ºC, evitando, assim, o desenvolvimento de microrganismos. Para o congelamento, as temperaturas precisam ser inferiores a 0 ºC. Nessa condição, poucos são os microrganismos que têm a capacidade de crescer, reduzindo muito o risco de uma contaminação. Sob a condição refrigerada, a carne pode permanecer armazenada por mais tempo quando comparada com o peixe, porque a carne tem um pH em torno de 5,6, enquanto o peixe tem um pH que varia entre 6.2 e 6.6. Como os pH próximos à neutralidade são mais suscetíveis a contaminações, é preciso considerar também o valor da Aw desses produtos, que influenciará o crescimento microbiano. Grande parte das bactérias deteriorantes crescem em ambientes com Aw acima de 0,91, já o Staphylococcus aureus consegue crescer em valores de Aw de até 0,86, portanto, pensar em processos de desidratação dos alimentos para melhorar a conservação e reduzir o risco de contaminação é uma opção viável na área de produção de alimento (MAJUMDAR et al., 2018; CHAVASIT et al., 2018). 17Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos � Descongelamento de alimentos: para evitar que o alimento fique em temperatura ambiente (preferência da grande maioria das bactérias), recomenda-se que o descongelamento seja realizado sob refrigeração até 5 ºC até o seu descongelamento. Essa prática evita a exposição do alimento à temperatura ambiente. � Pré-preparo: durante o pré-preparo, deve-se ter muitos cuidados em relação à manipulação, pois é o momento de realizar cortes nos mais diferentes produtos. Os cortes abrem as barreiras de proteção contra os microrganismos, oportunizando maior superfície de contato com o alimento, aumentando a exposição à presença de O2, modificando o pH e o Eh e favorecendo a contaminação e a multiplicação de micror- ganismos. Por isso, é preciso manter o alimento exposto à temperatura ambiente pelo menor tempo possível, mantando preferencialmente em ambiente refrigerado e evitando a contaminação cruzada. Essas são medidas importantes de higiene. � Cocção: os alimentos submetidos à cocção devem atingir a temperatura de no mínimo 74 °C no centro geométrico ou 70 °C durante pelo menos 2 minutos. Caso a temperatura seja de 65 °C, este deve permanecer por pelo menos 15 minutos. As altas temperaturas conseguem eliminar grande parte das bactérias. Como exemplo, a Escherichia coli é uma bactéria bastante suscetível ao calor, morrendo rapidamente em altas temperaturas, o que já não acontece com os endósporos, que podem sobreviver por longos períodos mesmo em estado de ebulição. Para atingir altas temperaturas durante o processo de cocção, pode ser utilizado calor úmido, calor seco, fritura, fervura, entre outros. A ebulição a 100 °C por um tempo de 10 minutos elimina bactérias vegetativas, a maioria dos vírus e esporos de fungos. A Figura 2 apresenta as faixas de temperatura consideradas como zona de perigo, ou seja, faixa de temperatura mais favorável ao crescimento e desenvolvimento da grande maioria dos microrganismos, bem como as faixas de temperatura que inibem ou retardam o crescimento microbiano. Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos18 Figura 2. Temperaturas de preservação de alimentos. Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 151). Para auxiliar no controle sanitário dos alimentos, é importante fazer uso dos compostos antimicrobianos, usando temperos como alho, sálvia, tomilho, manjericão, entre outros nas preparações. Essa medida é importante não somente pela capacidade de saborizar o alimento, mas como uma importante ferramenta de controle higiênico. � Resfriamento (quando necessário): o frio é bacteriostático, ou seja, os alimentos que passaram por processo de cocção e precisam ser armazenados devem ser resfriados corretamente, ou seja, o alimento que está à temperatura de 60 °C, deve atingir a temperatura de 10 °C em no máximo 2 horas, colocando-o na sequência em um refrigerado com temperatura inferior a 5 °C ou sob congelação em temperaturas inferiores a –18 °C. 19Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos � Espera pós-cocção: antes de ir para o buffet, muitas vezes o alimento fica em espera, sendo que a temperatura não pode baixar de 60 °C. � Distribuição: para a distribuição deve haver dois buffets, um refrige- rado, que irá manter os alimentos em temperatura controlada fria, e um aquecido que não permite que o alimento atinja temperaturas ambientes, preservando, assim, a sua segurança. Todas as etapas do processo de produção de um alimento estão vinculadas ao controle dos fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2015; CHAVASIT et al., 2018; MORAL et al., 2018; HAMAD, 2012). BARBERIS, S. et al. Natural food preservatives against microorganisms. In: GRUME- ZESCU, A. M.; HOLBAN, A. M. (ed.). Food safety and preservation. New York: Elsevier, p. 621−658, 2018. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: relatividade, oscilações, ondas e calor. Porto Alegre: AMGH, 2013. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 275, de 21 de outubro de 2002. Brasília, DF, 2002. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/do- cuments/10181/2718376/RDC_275_2002_COMP.pdf/fce9dac0-ae57-4de2-8cf9- e286a383f254. Acesso em: 8 out. 2019. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 216, de 15 de se- tembro de 2004. Brasília, DF, 2004. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/docu- ments/33916/388704/RESOLU%25C3%2587%25C3%2583O-RDC%2BN%2B216%2 BDE%2B15%2BDE%2BSETEMBRO%2BDE%2B2004.pdf/23701496-925d-4d4d-99aa- 9d479b316c4b. Acesso em: 8 out. 2019. CHAVASIT, V. et al. Use of bacterial growth curve for assessing risk of microbiological pathogens in food products. In: HOLBAN, A. M.; GRUMEZESCU, A. M. (ed.). Microbial contamination and food degradation. New York: Elsevier, 2018. p. 341−365. ENGELKIRK, P. G.; ENGELKIRK, J. D. Burton microbiologia para as ciências da saúde. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. GAUR, R.; SINGH, A.; TRIPATHI, A. Microbial environment of food. In: SINGH, R. L.; MONDAL, S. (ed.). Food safety and human health. New York: Elsevier, 2019. p. 189−218. Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos20 GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos: qualidade das matérias-primas, doenças transmitidas por alimentos, treinamento de recursos humanos. 5. ed. Barueri, SP: Manole, 2015. HAMAD, S. H. Factors affecting the growth of microorganisms in food. In: BHAT, R.; ALIAS, A. K.; PALIYATH, G. Progress in food preservation. New York: Wiley-Blackwell,2012. p. 405−427. HðNGARO, H. M. et al. Food microbiology. In: VAN ALFEN, N. K. (ed.). Encyclopedia of agriculture and food systems. New York: Elsevier, 2014. p. 213−231. JAY, J. M. Microbiologia de alimentos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. KAMALA, K.; KUMAR, V. P. Food products and food contamination. In: HOLBAN, A. M.; GRUMEZESCU, A. M. (ed.). Microbial contamination and food degradation. New York: Elsevier, 2018. p. 1−19. MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. MAJUMDAR, A. et al. Food degradation and foodborne diseases: a microbial approach. In: HOLBAN, A. M.; GRUMEZESCU, A. M. (ed.). 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Disponível em: http://www.ead.codai.ufrpe.br/index.php/geama/article/view/2370/482483025. Acesso em: 8 out. 2019. SILVA JÚNIOR, E. A. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 7. ed. São Paulo: Varela, 2014. TORTORA, G. J.; FUNKE, B.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 21Fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao crescimento microbiano dos alimentos DICA DO PROFESSOR A alimentação é essencial na vida do ser humano. Sem o alimento, o homem não consegue crescer e se manter bem para desenvolver as suas atividades diárias. No entanto, microrganismos podem contaminar esses alimentos, ameaçando a saúde humana. Por isso, a indústria de alimentos vem buscando desenvolver métodos de eliminação desses microrganismos patogênicos, que sejam, ao mesmo tempo, seguros. Na Dica do Professor de hoje, você vai perceber como agem alguns métodos químicos usados para a eliminação de microrganismos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) O crescimento, o desenvolvimento e a sobrevivência de microrganismos estão diretamente relacionados aos fatores intrínsecos e extrínsecos aos alimentos. Entre esses fatores, estão as atividades água e umidade relativa do ar. Assinale a alternativa correta em relação à diferença existente entre esses dois fatores: A) A atividade água refere-se à quantidade total de água que existe em um alimento e a umidade relativa do ar refere-se à água livre disponível no alimento. B) A atividade água refere-se à água disponível no alimento e a umidade relativa do ar, aos vapores de gases presentes do meio ambiente em que o alimento se encontra. C) Atividade água de um alimento é uma medida quantitativa, pois é fácil medir essa atividade; já a umidade relativa do ar é qualitativa, não sendo possível mensurá-la. D) A atividade água e a umidade relativa do ar são dois fatores que referem-se ao mesmo significado, ou seja, quantidade de água presente em um determinado contexto. E) A atividade água refere-se à quantidade de água absoluta em um alimento e à umidade relativa do ar, bem como à quantidade relativa de água no ambiente. 2) Em um ambiente de produção de alimentos, como um restaurante industrial, todos os fatores relacionados ao alimento e ao meio ambiente devem ser controlados, para evitar que haja uma contaminação alimentar que, consequentemente, pode levar a um surto alimentar. Há um fator extrínseco ao alimento, muito importante e usado como medida de controle durante o processo de cocção. Qual é esse fator? Assinale a alternativa correta. A) Potencial hidrogeniônico (pH). B) Umidade relativa do ar (URA). C) Atividade água (Aw). D) Temperatura (°C). E) Potencial de óxido-redução (Eh). 3) O crescimento microbiano está diretamente relacionado às práticas de higiene; assim, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou Resoluções como a RDC 216/2004, a RDC 275/2002 e a CVS 5/2013 que determinam as normas para a execução das boas práticas em estabelecimentos que manipulam e distribuem alimentos. Em relação ao armazenamento de alimentos refrigerados e à temperatura ótima para o crescimento microbiano, assinale a correta. A) O armazenamento refrigerado de alimentos de origem animal deve ser mantido em temperaturas entre 0 e -18°C, evitando, assim, o crescimento de bactérias psicrófilas e mesófilas, entre outras. B) O armazenamento refrigerado de alimentos de origem animal deve ser mantido em temperaturas entre 12 e 15°C, evitando, assim, o crescimento de bactérias mesófilas, psicrófilas e psicrotróficas. C) O armazenamento refrigerado de alimentos de origem animal deve ser mantido em temperaturas entre 0 e 10°C, evitando, assim, o crescimento de bactérias termófilas, mesófilas, psicrófilas e psicrotróficas. D) O armazenamento refrigerado de alimentos de origem animal deve ser mantido em temperaturas acima de 60°C, evitando, assim, o crescimento de bactérias termófilas, mesófilas e psicrotróficas. E) O armazenamento refrigerado de alimentos de origem animal deve ser mantido em temperaturas entre 25 e 30°C, evitando, assim, o crescimento de bactérias termófilas e mesófilas apenas. 4) O controle de oxigênio é um importante fator para evitar o crescimento e a multiplicação de microrganismos nos alimentos. É uma medida importante para aumentar o tempo de vida do alimento e é considerado um fator extrínseco aos alimentos. Os microrganismos foram classificados conforme a necessidade de captação de oxigênio. Em relação ao grupo de microrganismos e sua necessidade de captação de oxigênio, é correto afirmar que: A) São considerados microrganismos anaeróbios aqueles que necessitam de quantidades determinadas de oxigênio para sua sobrevivência. São considerados microrganismos microaeróbios aqueles que necessitam de oxigênio livre B) para sua sobrevivência. C) São considerados microrganismos facultativos aqueles que necessitam de oxigênio para sua sobrevivência. D) São considerados microrganismos anaeróbios aqueles que necessitam de oxigênio livre para sua sobrevivência. E) São considerados microrganismos aeróbios aqueles que necessitam de oxigênio livre para sua sobrevivência. 5) O valor nutricional ou teor de nutrientes dos alimentos é um fator intrínseco, que está relacionado ao crescimento de determinados tipos de microrganismos, conforme a disponibilidade de nutrientes existente nos alimentos. Em relação à exigência nutricional dos microrganismos, assinale a alternativa correta. A) Bactérias gram-positivas apresentam maior exigência nutricional, incluindo a necessidade de alimentos com maior teor de vitamina do complexo B; podem encontrar esse meio ideal em produtos de origem animal. B) Bactérias gram-negativas apresentam maior exigência nutricional, incluindo a necessidade de alimentos com maior teor de vitamina do complexo B; podem encontrar esse meio ideal em produtos de origem vegetal. C) Bactérias gram-positivas apresentam maior exigência nutricional, portanto, são capazes de crescer em meios ricos em óleos e gorduras, como as manteigas e a banha de porco. D) Bactérias gram-positivas apresentam maior exigência nutricional, portanto, são capazes de crescer em meios ricos carboidratos, como pães, biscoitos e massas. E) Bactérias gram-positivasapresentam baixa exigência nutricional e de vitaminas, portanto, são capazes de crescer em meios com baixa atividade água. NA PRÁTICA Vários métodos têm sido desenvolvidos para evitar as Doenças Transmitidas por Alimentos. No entanto, a grande maioria destes métodos de conservação e preservação envolvem a adição de substâncias químicas, que podem causar danos a saúde do consumidor. Por isso, uma das alternativas aos métodos químicos de conservação dos alimentos é o uso dos compostos antimicrobianos naturais dos alimentos. Esses compostos são fatores intrínsecos aos alimentos, resultado do metabolismo secundário de plantas, e podem exercer diversas atividades benéficas, entre elas, a atividade antimicrobiana. O seu uso tem como finalidade garantir a segurança alimentar, evitando o crescimento e o desenvolvimento de microrganismos. Conheça, Na Prática, alguns dos compostos antimicrobianos que agem como fator intrínseco dos alimentos inibindo ou retardando o crescimento microbiano. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Fatores antimicrobianos dos alimentos Os alimentos contêm substâncias que auxiliam na inibição do crescimento de microrganismos patogênicos nos alimentos. Esse fator intrínseco é conhecido como componente antimicrobiano. Um estudo avaliou o efeito de óleos essenciais extraídos de plantas sobre bactérias patogênicas que contaminam alimentos. Saiba mais sobre os resultados deste estudo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e práticas Conhecer as principais fontes de preferência dos microrganismos, os valores de temperatura e pH, são fatores que auxiliam o nutricionista no desenvolvimento das boas práticas, para prevenção de surtos alimentos. Saiba mais sobre esses fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos no Anexo B: microrganismos, lendo as páginas de 936 a 939 da obra indicada. A diferença entre atividade água (Aw) e o teor de umidade nos alimentos A atividade água (Aw) é um dos fatores intrínsecos relacionados ao crescimento e desenvolvimento de microrganismos em alimentos. No entanto, existe uma diferença entre atividade água e teor de umidade no alimento. Saiba mais sobre essa diferença. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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