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VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br COMPETÊNCIA ESSENCIAL: CONHECIMENTO, CULTURA E GESTÃO ORGANIZACIONAL COMO ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS Prof.ª Me. Nicéia Luzia Selete Silva; Curso de Administração – UNIPAR-Umuarama-PR. RESUMO Competências essenciais são discutidas como fator estratégico nos planos empresariais de longo prazo. Entre as competências destaca-se o conhecimento organizacional que contém em sua definição conceitos de cultura. E, para a otimização no seu uso, há necessidade de fortalecimento das capacidades gestoras. Este estudo analisa a relação entre conhecimento, gestão e cultura das organizações como estratégia eficaz, considerando tais conceitos como um conjunto que pode compor as competências essenciais eleitas ou surgidas naturalmente. Foca a importância da consciência das organizações sobre a potencialidade que possuem no que tange seus conhecimentos e cultura, para que se possam desenvolver capacidades efetivas de gestão relacionadas com suas competências essenciais. PALAVRAS-CHAVE: competências essenciais, estratégia, conhecimento, cultura organizacional, vantagem competitiva. ABSTRACT Essential competences are discussed as strategic aspects in long term entrepreneurial planning. The organizational knowledge which comprises in its definition concepts of culture distinguishes itself among them. In order to optimize its use, it is necessary to enforce managing capacities. This paper analyses the relation among knowledge, management and culture of the organization as effective strategy considering such concepts as a set which might constitute the essential competences naturally chosen or acquired. The importance of the consciousness of the organizations about their potentialities concerning their knowledge and culture to develop effective managing capacities related to their essential competences is focused. KEY WORDS: Essential competences, capacities, strategy, knowledge, organizational culture, managing, competitive advantage. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br INTRODUÇÃO Planejamento estratégico envolve uma série de análises de fatores que influem nas atividades e resultados organizacionais. A estratégia por sua vez possui um conceito abrangente e não concluído que para Mintzberg apresenta ideias como padrão, posição no mercado, perspectiva (visão, missão) e ploy ou truques. Deve gerar para as organizações um diferencial e valor no mercado através do desempenho de atividades diferentes ou de modo distinto dos concorrentes e para tal necessariamente haverá competências essenciais em ação. As competências essenciais são as competências da organização que geram vantagem competitiva. Relacionando essas competências à cultura, conhecimento e modelo de gestão são mais difíceis de serem copiadas pois estão no âmbito do intangível, subjetivo e ainda com variação constante. Este estudo priorizou a análise da cultura, do conhecimento e da gestão como a base das competências essenciais e que devem ser conduzidos para o fortalecimento da estratégia das organizações. Verificou que a aprendizagem contínua pode ser o instrumento para a gestão destacar-se em liderança, capacidade diretiva, uso do poder. Ainda que, a aprendizagem contribui diretamente para a aculturação do grupo organizacional e não há desenvolvimento de conhecimento sem o processo de aprender. As competências essenciais dependem, portanto, do aprendizado do conjunto humano e do equilíbrio entre os recursos interno das organizações. Os recursos internos são formados pela capacitação dos recursos humanos, pela organização do trabalho, pelo modelo de gestão e pelos diversos sistemas de apoio, segundo Wood Jr. (2004). O poder também foi alvo do estudo porque a gestão exerce poder e é elemento da competência essencial e respectivamente da estratégia que gera vantagem competitiva. A relação analisada na primeira parte deste artigo foi das competências essenciais com a gestão e com estratégia, para mostrar a delineação conceitual deste conjunto que representa grande parte da vantagem competitiva das organizações, no que se refere ao intangível. A segunda parte verificou a ligação dos conceitos de conhecimento e cultura e sua relação com o poder e as competências essenciais. O conhecimento, que evoluído no processo de aprendizagem, muda comportamentos que a forma de constatação da sua efetividade. Se há mudança de comportamento a partir do aprendizado e conhecimento, isto acarretará alterações nos padrões culturais da organização. A cultura, neste contexto, é vista como instrumento de poder além das questões sociais e de relações interpessoais surgidas a partir do simbolismo, formando parte indispensável das competências essenciais das organizações. 1. Competências essenciais, gestão e estratégia Organizações de todos os tipos estudam a melhor estratégia para manter seu negócio em crescimento. Para perpetuarem-se as instituições buscam as melhores ações de conquista e manutenção de mercado. Planejar seu futuro de curto, médio e longo prazo é indispensável, VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br mas “como” faze-lo pode ser um desafio para o qual nunca haverá resposta exata. A pergunta sobre a melhor forma e foco do planejamento é incógnita subjetiva. As empresas devem preocupar-se então com uma opção que valorize suas potencialidades. Assim, otimizarão seus recursos com o aproveitamento daquilo que naturalmente apresenta-se como capacidades em destaque dentro e fora das paredes organizacionais. Capacidades em destaque a partir daqui, portanto, serão as chamadas competências essenciais. Na discussão sobre competências essenciais de Bitencourt (2004), são resgatados vários autores para conceituar “competência”. São listadas as ênfases de cada um deles em seus conceitos. Unindo os centros deste conjunto de definições encontra-se o resultado focal de competência como: comportamento, formação, resultado, aptidão, valores, estratégia, ação, interação, aprendizagem, auto-desenvolvimento, mobilização, perspectiva dinâmica e desempenho. Bitencourt (2004) analisa a tendência da definição de competências com base nos vários conceitos que apresenta e mostra duas vertentes da evolução no contexto empresarial. No primeiro modelo destacam-se as questões técnicas e de qualificação profissional. Na outra vertente há uma reformulação do conceito de qualificação que não compreende a técnica como suficiente para o alcance de competência. A ideologia aqui envolve educação para o trabalho de maneira ampla, e não para uma função específica, o que pode ser aceito como parte da formação de cidadão, desenvolvendo nos trabalhadores e empresa competências gerais e não as tecnicistas. Isto gera desenvolvimento das competências essenciais em decorrência da atitude crítica e reflexiva citada por Bitencourt. Prahalad e Hamel (1995) apud Bitencourt (2004) determinam as competências essenciais afirmando que: “[...] constituem o aprendizado coletivo na organização, especialmente como coordenar as diversas habilidades de produção e integrar as múltiplas correntes de tecnologia. [...] Ela também está associada à organização do trabalho e à entrega de valor [...], à comunicação, ao envolvimento e a um profundo comprometimento em trabalhar através das fronteiras organizacionais”. Já na primeira parte desta citação encontra-se uma característica de estratégia quando incluem o processo de coordenação de habilidades de produção e integração de correntes tecnológicas. A produção é parte da essência organizacional, aplicando-se este termo aqui as organizações industriais, comerciais e prestadoras de serviço. A identificação antecipada das habilidades produtivasexistentes, bem como as necessárias para os objetivos determinados pela empresa, devem fazer parte do planejamento estratégico e os elementos que a circundam devem ser monitorados para possíveis alterações e adaptações inevitáveis. Importante nesta fase é determinar objetivamente se tais habilidades são parte ou for0ma total da competência essencial e esta é a questão central. As organizações devem determinar onde concentram as competências que, mais que suas capacidades, aplicam com efetividade e obtém resultados que surpreendem mercados. Conceitualmente, competências essenciais diferem-se das capacidades organizacionais porque são elas que geram vantagem competitiva, é aquilo que a empresa desempenha muito bem, enquanto que suas capacidades são desempenhadas eficientemente, mas sem destacar-se das demais organizações, não contemplando diferenciais. Voltando ao inicio, quando foram listados termos com intenção de concentrar o conteúdo envolvido na definição de competência, apresentou-se resultado e desempenho como palavras que a formam. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br O não comprometimento com o desenvolvimento das competências essenciais das organizações podem causar “desvantagens a competitividade.” Neste ponto Bitencourt (2004) que fala da gestão de pessoas, relaciona a competência individual e grupal com as competências organizacionais. Essas competências podem ser o objeto da estratégia planejada pela organização e, por consequência, alavancar os resultados posicionando melhor a empresa no mercado a cada tempo. Ulrich (1998) relacionou oito desafios competitivos do futuro que atualmente podem ser percebidos no cotidiano organizacional. Destacam-se aqui três deles que enfatizam competências e capacidades humanas como centro de competitividade. O primeiro, fala sobre a cadeia de valor para a competitividade empresarial e os serviços de Recursos Humanos afirmando que “[...] o treinamento com uma perspectiva de cadeia de valor une fornecedores, funcionários e consumidores em equipes”. Neste desafio Ulrich discute a necessidade de redirecionamento da Administração de Recursos Humanos, colocando em evidência uma gestão segundo os critérios do consumidor. Neste sentido é possível concluir que a evolução humana, social, econômica e cultural de um grupo de consumidores determinará o perfil do treinamento e desenvolvimento primordial às organizações das quais fazem parte da cadeia de valor. Em seu quarto desafio neste estudo, Ulrich se aproxima ainda mais das competências essenciais ao discorrer sobre capacidades da organização e que “[...] precisam ser redefinidas a fim de sustentar e integrar as competências individuais”. Mais a frente afirma que tais capacidades “[...] são o DNA da competitividade”, numa analogia que pretende mostrar o vínculo fundamental que existe entre capacidades e competências, entre indivíduos, grupos e organização. Esclarece que podem ser rígidas ou maleáveis. As rígidas, como capacidades tecnológicas e financeiras, são as mais fáceis de alcançar enquanto as flexíveis, como mobilidade rápida no mercado, são mais difíceis. As capacidades flexíveis envolvem mais diretamente mudanças individuais. E, por isto torna o trabalho mais longo e difícil de ser alcançado, uma vez que requer da gestão de recursos humanos um trabalho de “aculturamento” do grupo de trabalho e de comprometimento com a causa da competitividade organizacional. Dave Ulrich cita como exemplo deste tipo de gestão a qualidade total. Atração, retenção e mensuração da competência e do capital intelectual, são os desafios expostos por Ulrich (1998) que se identifica diretamente com o presente estudo. Neste item o autor apresenta a ideia de liderança descentralizada e de gerentes ágeis, globais e expatriados, sendo que as empresas terão vantagem competitiva quando forem capazes de atrair, desenvolver e reter tais indivíduos. Ulrich (1998) define tais líderes como GloPats: “[…] gerentes muito à vontade em diversos contextos globais, que apreciam e podem influir em culturas diferentes e ao mesmo tempo equilibrar economias globais de escala com resposta local”. É perceptível a preocupação que o autor tem com a liderança, o que pode caracterizar a indispensável mudança no perfil dos gestores para que as capacidades e competências organizacionais, sejam elas rígidas ou flexíveis (maleáveis), possam evoluir fazendo com que as empresas consigam a competitividade necessária à sua permanência no mercado e, claro, ao seu sucesso. A postura do gestor influenciará seu grupo/equipe de colaboradores mais que falácias sobre o que deve ser feito detalhamento de processos e regras de comportamento. Assim, cabe ao gerenciamento de recursos humanos trabalhar na “mudança” dos lideres dos vários grupos da organização para somente depois implantar o desenvolvimento de novas competências e aguçar o processo competitivo. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Ulrich deixa claro que para que haja capital intelectual o sistema de informação da empresa deve funcionar de maneira eficaz. A organização deve, segundo ele, “aprender a divulgar mais depressa ideias e informações por toda a empresa”. E de outro lado diz que “assegurar o Capital intelectual ultrapassa o aprendizado e chega até o aprendizado rápido [...] que ocorre quando os gerentes transformam as oportunidades em visão – transformando-a em uma ação que deve ser ajustada aos consumidores”. Capital intelectual como estratégia de negócio pode não ser fácil e rápido de conseguir mas garante, às organizações que alcançam este tipo de competência, certa exclusividade em seu diferencial competitivo, afinal deve ser construído e não é possível ser copiado. Hamel e Prahalad (1995) afirmam que: “[...] a liderança em uma competência essencial representa uma potencialidade que é deflagrada quando a empresa prevê novas formas criativas de explorar essa competência [...] o que impulsiona o processo de desenvolvimento de competências é o simples desejo de liderança mundial na provisão de um benefício pode ser fornecido aos clientes [...] as competências mais valiosas são as que abrem as portas para uma ampla variedade de possíveis mercados de produtos [...] uma competência essencial é um conjunto de habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado benefício aos clientes. [...] o compromisso de uma empresa com o desenvolvimento de uma nova competência essencial é um compromisso com a criação ou aperfeiçoamento de uma classe de benefícios ao cliente e não com uma oportunidade específica de produto-mercado. [...] Freqüentemente, um investimento na liderança de competências essenciais não pode ser justificado pela contribuição da competência para a liderança em uma única categoria de produto. [...] Como o desenvolvimento de competências requer mais aprendizado cumulativo do que grandes saltos de inventividade, é difícil reduzir o tempo de desenvolvimento de competências. Os ciclos de produtos podem estar ficando cada vez menores, mas a luta pela liderança das competências essenciais provavelmente ainda será medida em anos, e não em meses [...] a competição pela liderança em competências normalmente antecede a competição pela liderança em produtos. Destaca-se na ideia de criatividade, a forma como explorar as competências, o aprendizado cumulativo – que leva tempo e não se compara ao tempo do lançamento de novos produtos – o desejo de liderança mundial e ainda um conceito de que competência essencial liga-se a habilidade e tecnologias. De acordo com tais chaves conceituais é possível relacionar diretamente as competências essenciais das organizações ao processo de aprendizagem que gera os conhecimentos necessários à produção e atuação organizacional(gestão) no mercado e ao mesmo tempo à cultura que se desenvolve dia-a-dia nas empresas, a partir desta definição de estratégia voltada às competências. A gestão estratégica depende destes elementos e está impregnada de poder e autoridade, tanto quanto da cultura da organização. O poder neste caso deve ser consciente porque é necessário à ordem empresarial e, por isso cumpre uma função salutar dentro das estruturas, sejam centralizadas ou descentralizadas. Para serem líderes em suas competências essenciais as organizações deverão focar a gestão estratégica e definir o perfil ideal do líder (gestor). Esta é uma das causas pela lentidão organizacional em identificar, assumir e destacar-se na liderança de seu conjunto de competências essenciais. A mudança inicia-se do topo da organização, a partir da conscientização dos gestores em nível estratégico e só após pode ser disseminada às áreas intermediária e operacional. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br 2. Conhecimento e cultura organizacional: relação com poder e competências essenciais Como as competências essenciais envolvem as capacidades das organizações, e estas estão relacionadas aos indivíduos e grupos que fazem parte da estrutura, a análise proposta é uma abordagem do desenvolvimento de responsabilidade social (prática) como uma capacidade que se amplia à esfera da competitividade tornando-se uma competência essencial estrategicamente utilizada pelas empresas. Esta abordagem será utilizada neste item para ilustrar a gestão estratégica aliada às competências, a cultura organizacional e a dependências que as estratégias de negócio tem do conhecimento organizacional e de sua cultura. É possível listar empresas que se destacam, entre outros fatores, por sua ação social como é o caso da Azaléia; Com um foco diferente em suas ações sociais, porém todas em atividades voltadas para o benefício da sociedade e da própria empresa enquanto elemento social. A Azaléia, como apresentou em seu site www.azaleia.com.br (2005), começou com foco em seu grupo de trabalho com a criação de creche, coral e outros atrativos aos funcionários e candidatos, e hoje atinge uma fatia maior da sociedade com ações como o Projeto EPIF/Olympikus para possibilitar a estudantes atividades de atletismo, apoio a entidades que trabalham com crianças e adolescentes, entre outras tantas que representam a estratégia social da empresa. O planejamento foi feito para 2001 e em 2000 iniciou-se o plano para 2010. Neste último, os temas enfatizados são: o desenvolvimento e qualificação humana; valorização, reconhecimento e resgate humano; motivação e retenção de talentos; acompanhamento, desenvolvimento e avaliação humana; relações humanas e interpessoais; gerenciamento de competências; e, investimento em capital humano. A planificação procura seguir as diretrizes da organização que postulam “Lucratividade com Justiça”. Analisando os temas propostos pelo plano de responsabilidade social da Azaléia é fácil identificar os elementos estratégicos organizacionais. A prática da distribuição de resultados aos colaboradores, a partir de 1983, para atender o postulado de lucratividade com justiça, assim como o plano de responsabilidade social, apresenta a posição estratégica que a empresa tem e pretende manter, como mostra através de sua denominação: “Projeto Azaléia 2010 fazer é Perpetuar”. Os conteúdos dos temas estão diretamente ligados ao desenvolvimento das competências essenciais na organização. Em sua atuação no mercado fica claro que o posicionamento desejado é o de cumpridora de suas responsabilidades sociais e, para isto, desenvolve suas competências essenciais que parecem ser as humanas, do conhecimento e da qualidade, envolvidas na força da cultura organizacional. Com o exemplo da Azaléia Calçados, o que se pretende é mostrar que esta é uma empresa de muitas capacidades como a tecnológica, de produção, de preço, de custo, etc., mas que estas não formam, necessariamente, sua competência essencial. As competências essenciais da Azaléia são formadas pelo conjunto de conhecimentos desenvolvidos e capacidade de gerir o ser humano e suas competências individuais. O plano para até 2010 determina que a empresa pretende alcançar o lucro e para isto irá preparar seu recurso humano. Este fato pode ser percebido principalmente à leitura dos temas: desenvolvimento e qualificação humana, motivação e retenção de talentos, gerenciamento de competências e investimento em capital humano. A consciência desta empresa indica que está voltada à gestão estratégica das competências, através dos indivíduos que compõem sua estrutura e da formação de grupos/equipes competentes. Isto não significa ser benevolente com os erros humanos, adotar postura protecionista com seus funcionários e com as comunidades em que atuam, mas exigir qualidade e proporcioná-la investindo co- http://www.azaleia.com.br/ VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br capital humano. Não há aqui a figura da organização paternalista, mas a de organização que centrou suas competências nas pessoas, em seus conhecimentos e cultura, uma vez que este conjunto é intangível e mais difícil de ser copiado (é flexível). Este conjunto de temas tratados pela Azaléia está interligado e seu direcionamento é para o público externo – a responsabilidade social, que faz promoção de nome e marca divulgando uma gestão responsável, mas que não é assistencialismo; ao público interno pode representar fator motivacional – que leva à produtividade – segurança e estabilidade no trabalho, crescimento profissional através da capacitação. O texto do plano sugere as diferenças entre desenvolvimento, qualificação, capacitação do capital humano - que realmente existe – indicando que esta empresa tem sua gestão estrategicamente voltada aos processos de aquisição de conhecimento (aprendizagem) e, ao demonstrar sua responsabilidade social, fortalecimento cultural, apresentando de forma agradável à imagem da empresa à sociedade. Hoje empresas utilizam a responsabilidade social para firmar suas competências essenciais e comercializar melhor seus produtos. A imagem do posicionamento que buscam no mercado pode ser a do “bom samaritano”, conquistando a parcela de mercado, ambicionada no planejamento estratégico. Estas empresas podem ser vocacionadas à ação social – se isto é possível a uma entidade mercantil -, mas esta também pode ser uma competência focada por elas para atingir um público específico para seu produto, ou até um público amplo, em decorrência da disseminação da cultura da responsabilidade social. Deal e Kennedy (1982) in Schermerhorn (2002), afirmam que: “O progresso verdadeiro para a inovação pode começar quando os membros coletivamente acreditam que podem mudar partes importantes do mundo que os rodeia, e que o que parece ser uma ameaça na realidade é uma oportunidade para mudança”. O autor refere-se à integração interna como problema de cultura corporativa, que na concepção de Schermerhorn (2002), lida com a criação de uma identidade coletiva e com a descoberta de formas de combinar métodos de trabalho coma vida. Enquanto, Siqueira (2002), fala das vantagens do estudo da cultura organizacional, apontando a desmistificação de crenças comuns como a primeira delas e, explica sobre as diferenças culturais de nações como ponto de partida para a necessidade de estuda-la. Siqueira (2002) faz menção ao trabalho de Freitas (1991) e apresenta uma série de estímulos elencados na obra, que aqui interessa porque apontam “as mudanças constantes como geradoras de incertezas a respeito dos valores [...] tornando necessária a construção simbólica das organizações; necessidade de uma abordagem holística [...] considerando-as uma organização humana em sua totalidade;e hipótese relacionada à perda da autoridade na sociedade atual”. A preocupação das organizações com as competências essenciais partindo do conhecimento do conjunto humano que possui, do desenvolvimento e qualificação deste grupo mostra a necessidade do momento em seu contexto mercadológico, cultural e social. Contextualizando as afirmações dos autores com a questão da responsabilidade social das empresas, observa-se que a cultura das organizações envolve muito mais que o âmbito da organização, se considerar a mudança de partes do mundo, como afirmam e propõe Deal e Kennedy in Schermerhorn (2002). Ainda há mais profundidade nesta citação porque o mundo que rodeia cada indivíduo não é apenas o mundo do trabalho, há o contexto social, familiar, político, econômico e cultural. Este conjunto de ambientes diversos, que faz parte da estrutura de vida do ser humano, forma a cultura dos indivíduos que depois fazem parte das organizações. Revela-se aqui a identidade do homem com a coletividade de sua empresa, essa integração interna que não significa desligamento de fatores culturais de esferas distintas do VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br trabalho, ao contrário, trazem-nas consigo e distribuem suas partes no todo cultural de sua empresa. Vinculando a ideia de Deal e Kennedy aos estímulos para o estudo da cultura organizacional de Freitas, a ameaça aparente e oportunidade potencial podem estar ocorrendo nos momentos de mudança que levam às incertezas organizacionais e que atualmente pode ter como um dos pontos centrais as alterações sofridas nas relações do trabalho, por exemplo. Competências essências abarcam o conceito de capacidade que são o conjunto de recursos bem utilizados pela empresa. A competência essencial identifica-se como aquele (ou aqueles) recurso que se destacam entre os demais, sendo elemento da vantagem competitiva das empresas, o que pode estar concentrado nas competências sociais, desde que relacionadas à produtividade da organização. Quando a ameaça apresenta um vulto maior que o da oportunidade é tempo de analisar a construção simbólica das organizações e a visão holística que considera a organização como humana em sua totalidade, para Freitas (2000), porque nestes estímulos pode-se perceber a resposta para a dificuldade com a qual se depara a organização. É possível relacionar como símbolos da organização que escolhe a responsabilidade social como competência a ser desenvolvida, mas deve-se verificar se tais símbolos são percebidos pelo meio externo e interno e se influem na lucratividade, determinando se são fatores culturais importantes à gestão estratégica do negócio. No contexto de cultura e poder diretamente ligados ao conteúdo de aprendizagem organizacional, Mintzberg (2003) ao falar de estruturas eficazes em cinco configurações (cúpula estratégica, tecnoestrutura, assessoria de apoio, linha intermediária e núcleo operacional) coloca as pessoas com responsabilidade global no topo da estrutura, denominado por ele de cúpula estratégica. Segundo o autor esta configuração “[...] é encarregada de assegurar que a organização cumpra sua missão de modo eficaz e também que atenda às necessidades dos que a controlam ou que detém poder sobre ela”. Neste conceito o elemento estratégico da gestão está na figura da missão, porém ao falar de eficácia, de necessidades, de controle e poder, determina-se à linha operacional que delineia a realização de tarefas para alcançar os objetivos estratégicos a partir de uma imagem do líder. Mintzberg (2003) afirma que a cúpula estratégica tem três conjuntos de obrigações, a saber: supervisão direta; administração das condições fronteiriças da organização; e, desenvolvimento da estratégia da organização. A supervisão direta é dividida com a linha intermediária que também figura na gestão estratégica assim como em muitas situações, segundo o autor, com o núcleo operacional. Interessa, para este trabalho, a definição de Mintzberg que determina a relação do design organizacional com gestão – poder e liderança – e estratégias a partir das competências organizacionais. Mesmo em estruturas democráticas o exercício do poder pelo líder faz parte da caracterização da estratégia das organizações, e se define também pela forma como se decide e pelo conjunto de decisões (direção que demonstram). As decisões devem ter caráter estratégico e obter os resultados estipuladas objetivados para permanecer nas normas sociais vigentes. Como comprovação disto cita-se Mintzberg (2003) que diz que: “Certo número de fatores de „poder‟ também entram no design da estrutura, notadamente a presença de controle externo da organização, as necessidades pessoais de seus vários membros e a moda do dia, inseridos na cultura em que ela se encontra (na verdade o poder das normas sociais)”. Ao citar cultura e poder em seu discurso – considerando uma entidade mercantil – Mintzberg fala da subjetividade existente nas estratégias organizacionais, já que para sua VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br realização dependem das pessoas. Sobre isto Freitas (2000) declara que “[...] as organizações são também espaços de poder, de conflitos, de diferenças e de convivência negociada. Não lhes interessa a passividade, mas a cumplicidade”. A compreensão desta afirmação pode partir do ideário de criatividade, de troca de informações em processos de negociação e por fim do consenso para a decisão. Segundo a autora não haverá, portanto, criação ou produtividade se houver passividade, mas de outro lado deve existir a cumplicidade entre os indivíduos, desde a gestão à operação. Freitas (2000), ainda conceitua a cultura organizacional: “[...] primeiro como instrumento de poder; segundo, como conjunto de representações imaginárias sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da organização e que se expressam em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade, tornando a organização fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros.” A verificação de que as representações imaginárias são permanentemente reconstruídas provam a dificuldade em copiar os elementos intangíveis da competência essencial e ainda a importância que esses elementos têm para a vantagem competitiva almejada no planejamento estratégico das organizações. Para relacionar gestão com cultura e poder é possível unir o conceito dado por Freitas com Fleury e Fischer (1996). Para as duas últimas autoras: “a atribuição principal do poder é manter a harmonia e o equilíbrio no interior da organização. O poder ordena, na medida em que é legítimo, e também porque estabelece as fronteiras, homologa os processos organizacionais e premia o que organizacionalmente é considerado bom desempenho. O poder não pode deixar de ser enfatizado em seu aspecto de mantenedor, fiador e homologador da cultura da organização”. Ao buscar a compreensão de gestão estratégica, não é possível desvincular este conceito dos princípios de cultura e poder, já que tais elementos são dotados de características como ordem, liderança e principalmente como construtores das relações organizacionais que dão direcionamento ao todo organizacional e proporcionam a identificação e reconhecimento das pessoas através de seus valores, e formas de interpretação. Assim, a aprendizagem das pessoas nas organizações tem a função e responsabilidade de gerar conhecimento, não apenas técnico, mas também da cultura organizacional, proporcionando a sua continuidade. Este conjunto poderá formar por consequência as competências essenciais da organização. Wood Jr. (2004), dissertando sobre trabalho, habilidades e competências, conclui que: “estabeleceu-se relativo consenso de que uma importantefonte de vantagem competitiva seriam os recursos internos de gestão de cada empresa. Esses recursos incluem a capacitação dos recursos humanos, a organização do trabalho, o modelo de gestão e os diversos sistemas de apoio. Da orquestração desses vários componentes, nasce a capacidade de aprendizado e adaptação. E dessa capacidade, surgem as competências essenciais da organização.” O contexto de Wood Jr., é a remuneração e carreira por habilidades e competências que parecem mais fáceis de serem definidas uma vez que as empresas tenham sua estratégia voltada à competência essencial. Mas, o que chama a atenção é a declaração de que da capacidade de aprendizagem e adaptação surgem as competências essenciais, caracterizando a relação destas com o conhecimento dos grupos de pessoas nas organizações. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br As competências essenciais estão vinculadas diretamente aos indivíduos que formam as organizações e que são formados por fatores subjetivos como a criatividade, a capacidade de adaptação e aprendizagem, a capacidade de criar e exercer poder e cultura. As pessoas são recursos organizacionais que caracterizam e dão sentido à existência das organizações. Devem estar em consonância, em seus vários aspectos, com as demais partes da estrutura, com o modelo de gestão e com a missão organizacional porque esta combinação gera e sustenta as competências essenciais. Tratando-se de Planejamento Estratégico a visão volta-se à competitividade e para Davenport (1998): “[...] a única vantagem sustentável que uma empresa tem é aquilo que ela coletivamente sabe, a eficiência com que ela usa o que sabe e a prontidão com que ela adquire e usa os novos conhecimentos. [...] Conhecimento é uma mistura fluída de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. [...].” A radical afirmação do autor quando diz que, o que a empresa sabe em coletividade é a única vantagem sustentável ilustra a realidade da copia. É sustentável como vantagem porque é diferente e não pode ser copiada na integra porque tem a ver com personalidades, comportamentos, cultura dos indivíduos nas empresas e do grupo. Este texto também destaca a agilidade e qualidade na utilização do conhecimento como forma de alcançar a competitividade quando cita a necessidade de eficiência ao usar o conhecimento. Fala da inovação e reciclagem ao citar a prontidão na aquisição utilização de novos conhecimentos. O poder está ligado ao conhecimento se existe a crença de que dominar conceitos e realidades, ambientes e subjetividades que fazem parte das organizações, externa e internamente dão ao gestor ou a organização a capacidade de ordenação dos processos organizacionais perante os grupos de seus ambientes. CONCLUSÃO As práticas organizacionais são estudadas para criar um instrumental às empresas para mantê-las no mercado. A rapidez nas mudanças do ambiente social, econômico e cultural das organizações faz com que a necessidade de inovação e geração de valor mercadológico a produtos, serviços e marcas provoque a gestão das competências essenciais. Na verdade o próprio modelo de gestão faz parte das competências que sustem as estratégias organizacionais e as vantagens geradas por elas. As competências essenciais diferem as organizações umas das outras porque distintamente das capacidades organizacionais não podem ser copiadas. Ausência de cópia não significa que a diferença de uma organização para outra seja, para uma delas, uma vantagem. Diferenciação no sentido estratégico é relativa a vantagem sobre os competidores. Os modelos de gestão e os grupos organizacionais devem agregar conhecimento através de aprendizagem continuada que significa mudança constante. Devem ter uma cultura que direcione todos à mesma visão e os remeta ao alcance da missão da empresa, para a obtenção da vantagem sobre seus concorrentes. As capacidades devem ser inovadas constantemente porque são necessárias as organizações, mas são passíveis de cópia, enquanto as competências essenciais tem a propriedade de não ser plagiada. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Poder não é algo maléfico às empresas e está dentro do conjunto das essencialidades. Do poder emana a ordem estrutural e dos relacionamentos. Ele é fundamental para que as competências essenciais sejam geridas coerentemente. Não é apenas um conjunto de arbitrariedades cometidas pelo gestor pelo fato de deter um cargo, mas é parte das atividades de consenso, da harmonia entre as pessoas detentoras do conhecimento que mantém a organização no mercado. A conscientização dos indivíduos, que fazem partes do conjunto organizacional, sobre a o conhecimento que possuem, da cultura que é o que creem, os hábitos que cultivam, as cerimônias e ritos que realizam e ainda do poder que devem respeitar para o sucesso do plano estratégico, é necessária para que as competências essenciais se tornem vantagem competitiva e eleve os resultados da instituição. BIBLIOGRAFIA BITENCOURT, C. 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