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EXAMES PARASITOLÓGICOS AULA 2 - INFECÇÕES OPORTUNISTAS: CRYPTOSPORIDIUM PARVUM, ISOSPORA BELLI, CYCLOSPORA CAYETANENSIS INTRODUÇÃO Infecções oportunistas são aquelas que não ocorrem muito em pessoas imunocompetentes, mas que frequentemente podem chegar a matar pessoas imunodeprimidas. Elas estão entre as principais causas de morbimortalidade em pessoas com AIDS, principalmente aqueles com baixa contagem de células TCD4. CRIPTOSPORIDIOSE/CRIPTOSPORIDÍASE ● É uma doença causada por protozoários coccídios do gênero Cryptosporidium. ● A coloração álcool-acidorresistente modificada é utilizada para corar esse parasito. Morfologia ● Os oocistos são arredondados e medem cerca de 5mm, podendo ser confundidos com leveduras. Nem sempre são visíveis, mas quando maduros apresentam 4 esporozoítos em seu interior, circundados por uma parede cística espessa. Não possuem esporocistos. As outras fases evolutivas não são encontradas em fezes de pacientes. 1 Diagnóstico laboratorial ● A amostra de escolha são as fezes. Pode ser corado pelo lugol ou pela coloração álcool-acidorresistente. ● Lâminas fixadas em formalina e coradas com Giemsa também podem mostrar os oocistos. ● Eles podem, ainda, ser identificados por meio de ELISA ou imunofluorescência indireta. Merozoítos e gametócitos só são vistos em amostras de biópsia. ● Das 27 espécies catalogadas, C. parvum e C. hominis são as principais causadoras de doenças em humanos. Transmissão ● Ocorre pela ingestão de água ou por fezes (de humanos ou animais) infectadas com oocistos esporulados 2 ● São destruídos por amônia 5%, H2O2 e formol 10% ● Grupos de risco: a. Ocupacional: médico veterinário, fazendeiros, manipuladores de animais, médicos, enfermeiros b. Contato com pessoas/animais infectados c. Viajantes d. Imunodeprimidos ● Em pessoas com HIV, ela geralmente se manifesta quando os níveis de linfócito TCD4 são inferiores a 100 células/mm³. Nesse caso, pode causar alterações hepáticas, pancreáticas, biliares, respiratórias e articulares. ● Entre crianças e indivíduos HIV+ foram relatados casos de diarreia, náuseas, vômitos, dores articulares, cefaléia e dor nos olhos causados pela C. hominins, em contraste com a C. Parvum, que apresenta somente relatos de ocorrência de diarreia. ● Não existe um tratamento medicamentoso, apesar da espiramicina ter se mostrado eficaz em alguns casos. Ciclo de vida Existem estágios sexuados e assexuados, mas realizados em um único hospedeiro. 1. Quando a pessoa ingere o oocisto esporulado, ele libera quatro esporozoítos por excistação. Esse processo acontece devido a variação de temperatura, de pH, pela quantidade de CO2, pelas enzimas pancreáticas, entre outros. 2. Os esporozoítos invadem as células da mucosa intestinal (principalmente jejuno e íleo). Todos os estágios seguintes acontecem em um compartimento ao mesmo tempo intracelular e extracitoplasmático, com os vacúolos parasitóforos sendo formados a partir da membrana da célula hospedeira. 3. Dentro da célula, o esporozoíto matura a trofozoíto. Depois, há reprodução assexuada (merogonia ou esquizogonia), formando merontes do tipo I. 4. Eles maturam a merozoítos do tipo I e são liberados no lúmen, podendo infectar outros enterócitos e formar merontes tipo I (recomeçando a merogonia) ou infectá-los e formar merontes tipo II. 3 5. Os merontes tipo II podem produzir até quatro merozoítos e se diferenciam, formando microgametócito e macrogametócito. Esses, após o período de fertilização e de maturação, irão originar o zigoto. 6. O zigoto, após dois ciclos de esporogonia, origina o oocisto, o qual contém quatro esporozoítos. Os oocistos podem apresentar paredes delgadas ou paredes espessas. 7. Oocistos de paredes grossas são as formas infectantes que são liberadas nas fezes do hospedeiro infectado, permanecendo viáveis por muitos meses. 8. Oocistos de paredes finas são responsáveis pela auto infecção, pois se rompem dentro do organismo hospedeiro, iniciando um novo ciclo. Sintomas ● Os principais sintomas em pessoas imunossuprimidas são diarréia crônica, caquexia, distúrbios eletrolíticos, podendo haver acometimento estomacal e pulmonar. No geral, tem-se diarréia autolimitada com média de 2 semanas, febre, vômitos, náusea, perda de peso e dores abdominais. ISOSPORÍASE ● Isospora belli é o principal agente etiológico 4 ● A doença é mais comum em áreas tropicais e subtropicais, sendo endêmica em algumas regiões da África, do sudeste asiático e da América do Sul. ● Está diretamente associada à precarização do saneamento e higiene. Morfologia: ● o oocisto é oval (elíptico, extremidades afuniladas) e transparente, medindo, em média, 30mm de comprimento por 12mm de largura (maior que o do Cryptosporidium sp.) ● Dentro do oocisto está o esporoblasto, uma estrutura arredondada que contém uma célula em seu interior. Ele se divide em 2 durante sua maturação e,a o final, origina dois esporocistos. ● Os esporocistos contém 4 esporozoítos em forma de meia-lua em seu interior. Tanto o esporoblasto quanto o esporocisto é envolvido por uma membrana lisa, incolor e com duas camadas: a parede cística. 5 Diagnóstico laboratorial ● As amostras mais indicadas são fezes frescas e conteúdo duodenal. ● Nas amostras de fezes podem ser encontrados oocistos maduros (esporulados), parcialmente maduros (em processo de esporulação) ou imaturos (não esporulados). Isso porque ele é liberado nas fezes na forma imatura com apenas um esporoblasto e depois sofre maturação, formando dois esporoblastos e posteriormente dois esporocistos. ● Quando o paciente tem baixa parasitemia, uma biópsia intestinal pode mostrar parasitos (e seus estados morfológicos), embora nas fezes eles não estejam presentes. ● Os oocistos podem ser vistos em preparações úmidas diretas ou naquelas feitas após concentração ou flutuação. Por serem transparentes, podem ser difíceis de identificar em preparações úmidas com salina, sendo mais visíveis naquelas com lugol. ● A coloração permanente mais indicada é a coloração álcool-acidorresistente modificada (Ziehl-Nielsen modificada), também podendo ser feita com a coloração auramina-rodamina. ● PCR e imunofluorescência podem ser realizadas para o diagnóstico devido a dificuldade de identificação por MO. Patogenia e quadro clínico ● Reduz as vilosidades intestinais, diminuindo a superfície de absorção do intestino delgado e gerando hiperplasia no local devido a inflamação. ● Há diarreia aguda autolimitante em indivíduos imunocompetentes apesar da baixa prevalência. ● Em pessoas imunocomprometidas, há diarreia grave ou crônica, liberando as formas infectantes do parasita. Pode haver febre, náusea, dores abdominais, cefaléia, perda de peso, vômito e fezes meteóricas. 6 Ciclo de vida 1. Excreção de oocistos não esporulados nas fezes. 2. Esporulação (maturação) do oocisto no ambiente e sua ingestão pela pessoa 3. Ocorre excistação, com liberação dos esporozoítos maduros. Eles se multiplicam, originando o esquizonte produtor de merozoítos, e depois rompem as células. (reprodução assexuada). 4. Esses merozoítos podem invadir novas células (repetindo a etapa assexuada), etapa chamada de merogonia, ou podem realizar gamogonia, que é a produção de micro e macrogametas. 5. Os microgametas rompem os enterócitos e nadam até os macro para realizar a fecundação. Depois, há a esporogonia, onde o zigoto se transforma em oocisto, que é liberado nas fezes. 7 CICLOSPOROSE ● Agente etiológico é o Cyclospora cayetanensis, um protozoário (coccídeo intestinal) patogênico para o ser humano. Morfologia ● Oocistos arredondados medindo entre 7 e 10mm de diâmetro, maiores que o C. parvum e menores que o I. belli. ● Oocistos não esporulados, quando liberados nas fezes, precisam de 2 semanas para se tornarem maduros. ● Oocistos maduros apresentam dois esporocistos ovais, cada um contendo dois esporozoítos. ● A parede cística é evidente e bem definida, contendo glóbulos refratáriosde membrana espessa (coram de castanho com o iodo). Pode ser, ainda, ondulada ou rugosa em algumas preparações. ● Não apresentam morfologia interna bem definida, variando na intensidade da cor (rosa, vermelho, púrpura). O fundo azul também possui intensidade variável. 8 Diagnóstico laboratorial ● Amostras de fezes (concentradas ou não) com ou sem o uso de formalina. ● Adição de dicromato de potássio a 2,5% aumenta as chances de esporulação do oocisto. ● Pode-se usar a coloração áclool-acidorresistente ou fazer flutuação seguido de microscopia de contraste de fase ou de campo. ● Usa-se, ainda, autofluorescência com luz UV e coloração safranina modificada. Patogenia e quadro clínico ● Também causa atrofia das microvilosidades e hiperplasia das cristas devido à inflamação. ● Em pessoas imunocompetentes, o quadro é passageiro, acontecendo diarreia, febre, mialgia, vômitos, fadiga e perda de peso. ● Em pacientes imunocomprometidos, os sintomas são os mesmos, mas a diarreia é mais persistente. em alguns casos, pode haver acometimento biliar. 9 Ciclo de vida 1. A pessoa contaminada elimina o oocisto imaturo nas fezes 2,3,4. Ele precisa de cerca de 2 semanas para esporular e contaminar água e alimentos. 5. e 6. A pessoa ingere o oocisto esporulado e ocorre o desencistamento, liberando os esporozoítos no duodeno e jejuno. Quando infectam essas células, os esporozoítos originam trofozoítos. 7. Os trofozoítos irão realizar merogonia e formar merontes, os quais contém merozoítos. Esse merozoítos irão infectar novas células A fase sexuada acontece com diferenciação de micro e macrogametócitos, que são fecundados e originam o zigoto (oocisto). 10