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ESTUDOS CULTURAIS E ANTROPOLÓGICOS Priscila Farfan Barroso Estudos culturais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir estudos culturais. Listar as ideias importantes que surgiram a partir dos estudos culturais. Relacionar os estudos culturais a questões contemporâneas. Introdução Neste capítulo, você vai ver como se deu o surgimento dos estudos culturais e qual é o seu conceito. Assim, vai estudar a construção desse conceito e também as ideias principais que podem ser usadas como ferramentas de estudo nessa área. Para isso, você vai se debruçar sobre três ideias. A primeira delas é a noção de cultura como um modo de en- xergar outras sociedades. A segunda delas é o conceito de etnocentrismo, que se refere ao modo como as pessoas percebem o outro. A última é a noção de diversidade cultural, que tem a ver com a riqueza das formas de existência no mundo. Ao fim do capítulo, você vai ver a importância dos estudos culturais e entender como eles podem ser aplicados a questões contemporâneas. O que são os estudos culturais? O mundo contemporâneo é diverso e composto por inúmeras sociedades. Cada sociedade, por sua vez, age de maneiras específi cas. Assim, ainda que não se possa conhecer a fundo todas as sociedades, saber da existência de culturas diferentes leva a uma compreensão de mundo mais plural e diversa. Entretanto, para compreender o outro, primeiro é preciso compreender a si mesmo. As pessoas nascem imersas numa cultura e é a partir dela que conhecem o mundo ao seu redor. Como afirma Laraia (2001, p. 67), “[...] a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo [...]”. Por isso, você deve ter noção de que alguns aspectos de culturas diferentes da sua lhe parecerão familiares e outros, muitos exóticos. Por isso, você deve ter cuidado para respeitar aquilo que não conhece. Assim como você tem o direito de ser quem é, as pessoas de outras culturas também o tem. Nesse sentido, é preciso pensar em termos de direitos humanos e da pluralidade de formas de vida. A existência de um indivíduo se dá em conjunto com outros membros da sociedade em que ele vive. Tudo o que é produzido por eles expressa o que pensam, o que fazem e o que deixam como legado. Portanto, a produção cultural é um reflexo das manifestações sociais que as diferentes culturas constroem. Nesse sentido, essas manifestações sociais se explicitam por meio das práticas sociais. Como sintetiza Hall (1997, p. 33): “[...] toda prática social tem condições culturais ou discursivas de existência. As práticas sociais, na medida em que dependem do significado para funcionarem e produzirem efeitos, se situam ‘dentro do discurso’, são ‘discursivas’ [...]”. Assim, acessando essas práticas sociais juntamente aos discursos que elas constroem sobre o mundo, você pode apreender o que é relevante para outras sociedades e comparar isso com o que é relevante para a sua realidade. Mas como surge a preocupação de estudar outras culturas? E como é possível estudar essas culturas de modo relevante? Está correto dizer que os estudos culturais se constituíram como disciplina? E como suas ideias se espalharam por outros domínios das ciências humanas e sociais? Como você pode imaginar, não há uma única resposta para essas questões. Contudo, existem algumas pistas para responder a essas e outras perguntas relevantes: Os Estudos Culturais como campo de investigação se iniciaram após a Segunda Guerra Mundial, tendo como marco conceitual o texto “Schools of English and Contemporary Society” de Richard Hoggart, o primeiro diretor do Center for Contemporary Cultural Studies (CCCS), da Universidade de Birmingham, que descrevia sobre os antecedentes históricos e a contribuição para o estudo da cultura e da comunicação do século XX. [...] Caracterizam-se por possibilitar diferentes posições teóricas e políticas que partilham do compromisso de analisar práticas culturais do ponto de vista das relações de poder. [...] Seus métodos são ambíguos e podem ser considerados uma bricolagem. Por isso, os delineamentos relacionados ao conceito de cultura transpõem os eixos da erudição, das tradições artísticas ou de sua hierarquia, abrindo um leque de sentidos amplos e versáteis para o tema. Abandona-se o pressuposto elitista, privilegiando-se a adoção de leituras das populações e do senso comum [...] No Brasil, os Estudos Culturais se estabeleceram em meados de 1990 [...] (KRUSE et al., 2018, p. 2). Ou seja, há a adoção e a difusão de certa maneira de olhar para aspectos de outras culturas. Logo, essa reflexão está de acordo com o que propõe o próprio Estudos culturais2 Hall (1980, p. 7), quando diz que “Os estudos culturais não configuram uma ‘disciplina’ mas uma área onde diferentes disciplinas interatuam, visando ao estudo de aspectos culturais da sociedade [...]”. Por isso, você está convidado a estudar mais a fundo os estudos culturais a fim de compreender a importância de conhecer outras culturas diferentes da sua. Hennigen e Guareschi (2006) evidenciam que a proposição de Wittgenstein para os estudos de linguagem foi determinante para se pensar a respeito dos significados da convivência social. O que era considerado como natural nos modos de vida começou a ser percebido como construído por uma discursi- vidade. Assim, compreender os meandros discursivos permite acompanhar as diversidades de expressões e manifestações humanas no mundo. Nesse sentido, os discursos apresentariam o contexto cultural da sociedade em questão e também a sua complexidade: Os discursos podem ser entendidos como histórias que, encadeadas e enre- dadas entre si, se complementam, se completam, se justificam e se impõem a nós como regimes de verdade. Um regime de verdade é constituído por séries discursivas, famílias cujos enunciados (verdadeiros e não verdadeiros) esta- belecem o pensável como um campo de possibilidades fora do qual nada faz sentido — pelo menos até que aí se estabeleça um outro regime de verdade. Cada um de nós ocupa sempre uma posição numa rede discursiva de modo a ser constantemente “bombardeado”, interpelado, por séries discursivas cujos enunciados encadeiam-se a muitos e muitos outros enunciados. Esse emaranhado de séries discursivas institui um conjunto de significados mais ou menos estáveis que, ao longo de um período de tempo, funcionará como um amplo domínio simbólico no qual e através do qual daremos sentido às nossas vidas. É esse dar sentido que faz de nós uma espécie cultural (VEIGA- -NETO, 2000, p. 56–57). Portanto, acompanhar um discurso é como puxar um fio do emaranhado de lã que tece a cultura na qual o indivíduo está. Desse modo, quando você acompanha esse fio, pode desvendar questões inimagináveis da cultura do outro. Por meio dessas questões, é possível acessar a riqueza das diferentes existências que habitaram ou habitam o mundo. Entretanto, não são somente os homens que constroem os discursos sobre o mundo. Eles também são construídos por esses mesmos discursos. Veja: Na perspectiva dos estudos culturais, não é o sujeito que produz as práticas de significação, são elas que vão constituir os sujeitos. Cada indivíduo tornar-se-á sujeito à medida que se tomar a partir de certas práticas de significação, assim, estará posicionado na rede discursiva de uma determinada forma. As práticas 3Estudos culturais de significação emergem de uma determinada episteme, que cria regimes de verdade. Contudo, as práticas de significação somente se constituem como tal à medida que são tomadas como verdades. […] Isso acontece segundo uma contingência histórica e cultural, pois nessa perspectiva opera-se com um sujeito que nunca é idêntico a si mesmo ao longo do tempo; ao contrário, ele guarda uma abertura para o tempo, tempo histórico que o vai posicionar na diferença e não no mesmo (HENNIGEN; GUARESCHI, 2006, p. 66). Portanto, estudar os indivíduos que atuam em determinada sociedadepossibilita acessar a gama de artefatos culturais disponíveis, bem como os significados que fazem sentido entre esses indivíduos, ainda que esses signifi- cados se transformem com o passar do tempo. Nesse emaranhado de fios que apresentam a cultura do outro, você vai conhecendo outros modos de existir e também refletindo sobre o seu próprio modo de existência. Principais ideias dos estudos culturais Para compreender melhor o que os estudos culturais propõem, é interessante você conhecer algumas ideias principais que orientam o estudo do outro. Você deve ter em mente que estudar outras sociedades permite pensar no próprio conceito de cultura. Isso acontece pois esse estudo “[...] parte do processo geral que cria convenções e instituições, pelas quais os signifi cados a que se atribui valor na comunidade são compartilhados e ativados [...]” (WILLIAMS, 1969, p. 55). Ou seja, compreender o conceito de cultura também possibilita olhar para as signifi cações que são compartilhadas entre os membros das sociedades. Assim, considere esta definição de Cevasco (2003, p. 139): [...] uma cultura em comum seria aquela continuamente redefinida pela prá- tica de todos os seus membros, e não uma na qual o que tem valor cultural é produzido por poucos e vivido passivamente pela maioria. Trata-se de uma visão de cultura inseparável de uma visão de mudança social radical e que exige uma ética de responsabilidade comum, participação democrática de todos em todos os níveis da vida social e acesso igualitário às formas e meios de criação cultural. Por isso, ao conviver com membros de outra cultura, você aprende quais práticas sociais são relevantes em seu meio social, quais motivações são perti- nentes para aquelas pessoas, como elas resolvem os seus problemas cotidianos, como se comunicam e se expressam diante do mundo, entre outros aspectos. Estudos culturais4 Laraia (2001) destaca alguns aspectos relacionados à cultura. Você deve considerá-los em seu estudo sobre o tema. Veja a seguir. a) A cultura condiciona a visão de mundo do homem, pois desde que ele nasce convive com membros da sua cultura, que ensinam a ele como se comportar e a ler o mundo à sua volta. Mas, se uma pessoa vai morar em outro país, por exemplo, também pode aprender a viver nesse outro contexto. b) A cultura interfere no plano biológico, já que o que você come, o modo como se protege do frio e do calor e a maneira como se relaciona com os outros membros podem desencadear doenças ou mesmo aumentar a sua qualidade de vida. c) Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura. Como cada indivíduo assume uma posição na sociedade em que vive, acessa deter- minados elementos vinculados a tal posição. Por exemplo, um sacerdote tem acesso ao mundo religioso da sua cultura de modo totalmente diferente de um simples fiel. d) A cultura tem uma lógica própria, ou seja, cada sociedade explica suas questões sobre o mundo de forma particular. Por exemplo, a vaca na Índia é sagrada e não se pode comê-la. Já em outros países, a carne de vaca é consumida diariamente pelos membros da sociedade sem maiores temores. e) A cultura é dinâmica, pois ela não é estática. A cultura dos esquimós dos anos 1920 pode ser bem diferente daquela que eles cultivam hoje. Por exemplo, o próprio iglu, que é a casa deles, não é mais feito de gelo, e sim de madeira. Para compreender a relação entre quem pesquisa e quem é pesquisado, assista ao documentário Pierre Fatumbi Verger: mensageiro entre dois mundos (1998), de Lula Buar- que. Esse filme, disponível no link a seguir, mostra a relação de Buarque, que também é antropólogo, com a cultura brasileira. Ao mesmo tempo em que fotografa, etnografa e observa o outro, ele se encanta, se apaixona e se sente um pouco pertencente a outras culturas. https://goo.gl/vCTsAe 5Estudos culturais Outra ideia relacionada aos estudos culturais é a noção de etnocentrismo. Segundo Flores (2008, p. 5): A palavra etnocentrismo apareceu no início do século 20, através do soció- logo americano William G. Summer, com o significado que pode ser assim exposto: o nosso grupo é o centro de todas as coisas e os demais grupos são classificados e avaliados em relação a nós mesmos. Assim, do ponto de vista etnocêntrico, a ideia de uma humanidade universal, mesmo que seja possível concebê-la no plano da materialidade das sociedades históricas, não estaria isenta de certas hierarquizações do tipo civilizados e bárbaros, nativos e estrangeiros, industrializados e atrasados, brancos e negros, eu- ropeus e indígenas, nós e eles. Ou seja, se você partir da sua sociedade para estudar outras sociedades e se tiver aprendido que a sua cultura é melhor do que as outras, precisará fazer um esforço epistemológico para deixar de lado essa hierarquização. Não é possível sobrepor uma cultura a outra, mesmo que a tendência seja fazer isso. Ou seja, é necessário compreender que o outro não é nem melhor nem pior, apenas diferente. Assim, como ensina Cuche (2002), você não deve comparar culturas para não deixar de perceber a riqueza das manifestações culturais singulares de cada uma: [...] o conjunto cultural tem uma tendência para a coerência e uma certa autonomia simbólica que lhe confere seu caráter original singular; e [...] não se pode analisar um traço cultural independentemente do sistema cultural ao qual ele pertence e que lhe dá sentido. Isto quer dizer estudar todas as culturas, quaisquer que sejam a priori, sem compará-las e/ou "medi-las” prematuramente em relação às outras culturas (CUCHE, 2002, p. 241). Por último, você deve considerar como uma das principais ideias dos es- tudos culturais o conceito de diversidade cultural. Esse conceito deveria ser difundido nas instituições de educação para que desde a escola os membros da sociedade refletissem sobre outras culturas, exercitando o respeito às diferenças culturais. Essa ideia é reforçada por Gadotti (1992, p. 23): [..] a diversidade cultural é a riqueza da humanidade. Para cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas além da sua. Por isso, a escola tem que ser local, como ponto de partida, mas tem que ser internacional e intercultural, como ponto de chegada. [...] Escola autônoma significa escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas as Estudos culturais6 culturas e concepções de mundo. Pluralismo não significa ecletismo, um conjunto amorfo de retalhos culturais. Significa sobretudo diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre às demais. Nesse sentido, a própria Gadotti (1992) afirma a importância de assumir uma perspectiva multicultural e de estimular uma abordagem de estudo que favoreça o convívio num mundo composto por diversas sociedades. Compre- ender as diferenças contribui para mapear, conhecer e até mesmo valorizar as formas de manifestação humana. Para conhecer mais sobre a formalização do respeito à diversidade cultural, leia a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, de 2002. Ela foi publicada pela UNESCO com o objetivo de explicitar como se dá o respeito à diversidade cultural existente e como ele se articula com os direitos humanos. Veja no link a seguir. https://goo.gl/cCV4Tq Estudos culturais na contemporaneidade Agora que você já conhece os estudos culturais e as principais ideias dessa corrente, que tal discutir a importância desses estudos e a sua aplicação nos dias atuais? Como você viu, tendo em vista a diversidade cultural existente, cabe relativizar algumas diferenças na comunicação com outras culturas. Essa comunicação pode se dar por meio da linguagem ou de outras formas pelas quais as pessoas trocam informações e convivem de forma amigável. Almeida (1999, p. 9) explica que isso se relaciona ao: [...] reconhecimento de uma objetividade que resulta da concordância prag- mática parcial entre sujeitos que adotam diferentes ontologias. O fato de que medidas de peso sejam muito variáveis entreas culturas não é uma barreira para que comerciantes que mal se entendem linguisticamente possam encontrar regras de tradução entre suas medidas — sem que precise haver a adoção de um único padrão de medida, mas chegando-se a aproximações satisfatórias para ambas as partes — ou acordos no plano pragmático. 7Estudos culturais O que é pensado como “acordo” também é um meio pelo qual os membros de culturas diferentes concordam em se relacionar, apesar de suas diferenças. Você pode considerar o comércio, o trabalho, um namoro ou mesmo uma viagem rápida para outro país: em todos esses casos, você precisa se comunicar com outras pessoas, não é? Assim, mergulhar em outra cultura também permite aprender a relati- vizar para conseguir dialogar com pessoas que têm valores diferentes, mas que estão no mesmo mundo que você. Falando nisso, você sabe o que é o relativismo cultural? Segundo Hoebel e Frost (1999, p. 22), esse conceito considera que “[...] os padrões de certo e errado (valores) e dos usos e ati- vidades (costumes) são relativos à cultura da qual fazem parte [...]”. Na sua forma extrema, esse conceito afirma que cada costume é válido em termos de seu próprio ambiente cultural. Logo, num mundo plural e diverso, em que pessoas diferentes habitam o mesmo território, cabe perceber os costumes e tradições de inúmeras culturas. Dessa maneira, Almeida (1999, p. 21) destaca que é preciso considerar outras “[...] culturas tão válidas quanto as nossas, [valorizando] esses [outros] povos cuja própria existência [nos faz] questionar nossa maneira de ser, quebrando o monopólio, que comumente nos atribuímos, da autêntica realização da humanidade no planeta [...]”. Para aprofundar a discussão sobre cultura, você pode ler A invenção da cultura, de Roy Wagner (2012). Esse autor mostra como o próprio conceito de cultura foi criado e pode ser pensado. Essa é uma discussão atual e que contempla a nova forma de refletir sobre as diferentes sociedades. Mas você sabe qual é a importância de estudar essas questões no âmbito dos estudos culturais? A seguir, você pode ver alguns apontamentos de Meneses (1999). A partir deles, você vai ver como aplicar os conceitos que estudou até aqui e como refletir sobre questões relevantes para o relacionamento com o outro no mundo contemporâneo. Considere, então, os elementos a seguir. 1. Respeito sincero pela cultura e sociedade dos outros povos — os diversos comportamentos, como se alimentar, se vestir e se manifestar, devem ser respeitados acima de tudo. Estudos culturais8 2. Cuidado extremo com a objetividade — não se pode simplesmente ofender a cultura do outros. É preciso compreender os significados subjetivos presentes na outra cultura para entender, por exemplo, o uso da burca entre as mulheres mulçumanas. 3. Recusa de interferir e de modificar — quando você não entende as práticas sociais de determinada cultura, a tendência é querer interferir nelas e até mesmo modificá-las, não é? Contudo, é necessário evitar o etnocentrismo. 4. Compreensão do anticolonialismo — não se deve interferir em movi- mentos de libertação nacional que buscam afastar o colonialismo que devastou culturas e impôs seu modo de vida. 5. Reflexão sobre os problemas das minorias étnicas — diante da sobre- posição de culturas, especialmente no contexto colonial, as minorias étnicas foram oprimidas e tiveram suas manifestações culturais des- valorizadas em detrimento da cultura do colonizador. 6. Valorização de movimentos contra a discriminação — uma vez que as culturas são diferentes, cabe englobá-las num contexto mais amplo e não excluí-las. Dentro de uma sociedade, também é preciso valorizar os diferentes perfis das pessoas para não cometer diferenciações no âmbito da própria cultura. 7. Luta pela libertação da mulher — em diversas culturas, as mulheres são percebidas como inferiores em relação aos homens e cabe defender a igualdade e o respeito em relação ao gênero. 8. Novos rumos das missões — é preciso repensar a missão de evangeli- zação que destruiu as crenças e religiões tradicionais de diversos povos no processo da colonização. Além desses aspectos, considere o que afirma Ríos (2002, p. 247): [...] qualquer coisa que possa ser lida como um texto cultural e que contenha em si mesma um significado simbólico sócio-histórico capaz de acionar for- mações discursivas pode se converter em um legítimo objeto de estudo: desde a arte e a literatura, as leis e os manuais de conduta, os esportes, a música e a televisão, até as atuações sociais e as estruturas do sentir. Assim, você também é convidado a se aproximar dessa maneira de enxergar o mundo em que vive. A ideia é transformar a experiência por meio de uma reflexão sobre o outro e sobre si mesmo, aproximando-se daquilo que se considera estranho e estranhando aquilo que se considera natural. 9Estudos culturais Para refletir ainda mais sobre a diversidade das formas de vida e sobre a subjetividade do outro, assista ao filme Moin, un noir (1958), do antropólogo Jean Rouch. O material pode ser encontrado online com legendas em português. A proposta do filme é mostrar o cotidiano de pessoas que migraram para a Costa do Marfim nos anos 1950 e que passaram por um choque cultural ao deixar a África tradicional, que conheciam, e adentrar o mundo moderno, que acabavam de acessar. ALMEIDA, M. W. B. Guerras culturais e relativismo cultural. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 14, n. 41, p. 5-14, 1999. CEVASCO, M. E. Dez lições sobre estudos culturais. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003. CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. FLORES, E. C. 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