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10 CONCEITOS FREIREANOS NA EDUCAÇÃO

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DE 
JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO 
POPULAR
CONCEITOS FREIREANOS NA EDUCAÇÃO 
POPULAR: AUTONOMIA, CONSCIENTIZAÇÃO 
E LIBERTAÇÃO
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será ser capaz de:
1. Explicar a dimensão política da educação, relacionado com os conceitos freireanos de autonomia,
conscientização e libertação;
2. contrastar práticas educativas transformadoras com práticas educativas conservadoras.
Para começar nossa aula, vamos a uma reflexão.
Para reconhecer se a educação é ou não popular, numa perspectiva freireana, temos que observar a quem serve
essa educação:
Serve aos empresários?
Serve às elites dominantes?
Serve ao povo?
O que define a educação popular, segundo Paulo Freire, não é a idade dos educandos, mas a opção política
assumida com um necessário e contínuo processo de reflexão que leve a uma prática política entendida e
assumida na prática educativa. Assim a educação popular é consequência de um posicionamento frente à
questão dos objetivos da educação. Portanto, tem tudo a ver com a opção política do educador.
A forma de praticar a educação pode ser considerada como um modelo ou paradigma político educativo, teórico
e metodológico que emergiu na América Latina com extraordinária intensidade nos anos 60 a partir do trabalho
de Paulo Freire. Embora suas experiências de trabalho estivessem ligadas à superação do analfabetismo e à
alfabetização, Paulo Freire não foi "um inventor de métodos milagrosos" como alguns querem estereotipá-lo,
simplificando e reduzindo seu pensamento.
Recordemos que sua experiência profissional começa em Recife com populações adultas, no entanto, se ele
tivesse começado sua prática em uma creche suas reflexões e sua teorização de educação continuaria sendo
popular, pois sua opção política de servir ao povo como educador já havia sido assumida.
Suas reflexões tiveram como foco a questão da produção do conhecimento, e estão relacionadas a questões
antropológicas e de teoria do conhecimento, portanto sua grande contribuição é filosófica e pedagógica. 
Utilizando os recursos metodológicos existentes e combinando-os com sua forma de pensar ele criou respostas
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adaptadas às situações concretas da realidade em que tinha que trabalhar se reinventando constantemente
como educador.
Dessa forma, seu pensamento contribui para o desenvolvimento da prática educativa de qualquer educador, seja
do ensino formal primário, secundário ou universitário bem como na formação de mão de obra ou militando nos
movimentos populares, já que Paulo Freire construiu um autêntico sistema de pensar o fenômeno educativo.
Nesse sistema de pensar o fenômeno educativo, Freire parte afirmando algumas questões fundamentais, a saber:
Em relação ao conhecimento que já trazem os educandos e que não podem ser esquecidos no ato de aprender, o
autor reconhece que o adulto do meio popular é portador de conhecimento e não um copo vazio a ser
preenchido pelo educador. Para ele o conhecimento do sujeito das classes populares é importante e não pode ser
ignorado pelo educador.
Todo conhecimento forma-se na relação com a realidade e vai sendo construído na relação das pessoas entre si e
com o mundo. Esta relação é uma relação transformadora que modifica o mundo. Ao transformar o mundo,
homens e mulheres são também transformados por ele.
Por exemplo: um pedreiro que conclui a construção de uma casa não é mais o mesmo daquele que iniciou essa
construção. Ele terá adquirido novas experiências, novas informações. Irá ampliar seus conhecimentos porque
ao realizar cada ato necessário à construção estará pensando sobre as possíveis alternativas, ou as melhores
formas de realizar seu trabalho. Ou seja, estará refletindo a sua prática, estará analisando, estabelecendo
relações, elaborando sínteses. Quer dizer, estará produzindo conhecimento.
Conhece-se o desconhecido a partir do já conhecido. Para atingir novos conhecimentos é necessário o referencial
do conhecimento velho. Quanto maior referencial conhecido, maior facilidade tem o educador para trabalhar o
desconhecido.
O educador popular precisa tomar como base do seu trabalho o universo de conhecimento que o adulto popular
já domina. Eis a importância de fazer uma leitura significativa deste universo conhecido. Este conhecimento
servirá de referencial para o estabelecimento de relações que permitirão aos adultos conhecer melhor o que já
sabe e conhecer aquilo que ainda não sabe.
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O adulto conhece melhor a sua própria realidade, onde estabelece a quase totalidade das suas relações. Por isto,
o educador de adultos precisa iniciar sua tarefa de professor a partir daquilo que os educandos mais conhecem:
sua própria realidade que além de familiar é política, é regional, é sentimental etc. Realidade que precisa ser
conhecida pelo educador para estabelecer uma ponte entre o conhecimento dos educandos e o dele próprio. Essa
realidade será a mediação no diálogo de ambos para conhecer o mundo. A leitura do mundo possibilitará não só
o confronto dos conhecimentos diferentes que eles possuem dessa mesma realidade, mas permitirá também a
troca de saberes entre educador e educando.
Pensarmos em educação nos endereça necessariamente para a reflexão sobre o inacabamento ou inconclusão
humana. O homem, como afirmava Freire, sabendo-se inacabado, procura permanentemente a si mesmo, busca
ser mais. Esse saber, essa percepção, esse ter ciência do nosso inacabamento nos remete à questão da
consciência.
Ter consciência é estar no mundo. A categoria "consciência" se estuda no âmbito da psicologia. Ela surge no
processo da interação social e pressupõe o funcionamento da linguagem. Deve ser considerada como um
movimento interno específico gerado pelo movimento da atividade humana.
No caso da consciência individual, não se trata apenas de conhecimento nem de um sistema de conhecimento ou
de conceitos adquiridos, trata-se de um movimento interno que reflete o movimento da vida real do próprio
sujeito, o qual ela (a consciência) media. Será nesse movimento que o conhecimento encontra sua relevância
com respeito ao mundo objetivo, bem como a sua eficácia.
A atitude de comunicar-se, comportamento específico do ser humano próprio da interação social, acontece por
meio do diálogo tendo como instrumento a linguagem.
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Essa relação entre as pessoas, esse "entre-dois" é o lugar e o suporte daquilo que se passa entre humanos, onde o
homem volta-se para o outro, o aceita como parceiro e comunica-se com ele como um Tu. Eis a relação dialógica
onde o objetivo é conhecer, aprender, captar algo que está em relação.
Nessa atitude de abertura, não há submissão às ideias do outro, mas sim, tolerância e compreensão que perpassa
o respeito às limitações mútuas. Nisso existe um árduo trabalho diante das diferenças onde se instaura uma
dimensão de comprometimento com a sorte e o destino do homem.
Diferentemente dos meros contatos, aproximações e reações comuns que definem o social, que pode ser visto
como esse "estar um ao lado do outro", será na relação dialógica enquanto responsabilidade, decisão, liberdade,
presença face a face que se define o inter-humano ou esse "estar junto com o outro".
A capacidade humana de transcender, de captar a realidade, de torná-la objeto de conhecimento é o cerne do
fato educativo. A educação, como postulava Freire, existe porque o homem é um ser inacabado em constante
busca.
Cabe à educação, como ato de conhecimento, estimular as opções para que o ser humano se afirme como homem
enfrentando os desafios que a realidade coloca, buscando soluções e transformando-a com seu trabalho, criando
seu próprio mundo.
É imprescindível afastar constantemente o estigma da domesticação humana realizada através dos processos de
"adaptação à sociedade". Domesticar é negar a educação, afirmou o educador quando apontou as suas reflexões
sobre a concepção ingênua da pedagogia.
Uma coisa é o educador buscar compromisso com o processo histórico das massaspopulares pela
democratização fundamental e outra, bem diferente, é existir tal compromisso no educador. Eis o diferencial
entre ingenuidade e criticidade.
O professor ingênuo efetua depósitos de conhecimento. Educa para arquivar conhecimento tornando o homem
uma peça. Como peça, o homem perde sua capacidade criativa, restando-lhe a mediocridade. A relação entre o
professor- bancário e o aluno-peça é autoritária. Com efeito, este professor não educa, ele domestica, buscando
controlar as vidas e ações dos alunos para que aceitem - de forma passiva - o mundo tal qual se apresenta,
impedindo-os de exercer sua capacidade criativa e transformadora sobre ele.
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1 Método de estudo
Advogando por uma educação que forme cidadãos plenos, Freire vê a educação como "processo de
conhecimento, formação política, manifestação ética" (...) "uma educação que não sendo fazedora de tudo é um
fator fundamental na reinvenção do mundo". Plenitude no sentido de libertação, de compromisso consigo
mesmo e com o social.
Para tanto precisa ser uma prática como movimento, como luta, fundada na reflexão, mediada pela
problematização. Na relação dialógica entre educador-educando essa educação vai se configurando como um ato
de saber, como um ato de conhecer, como um método de transformar a realidade que se busca conhecer.
Na medida em que nossa prática educativa, como professores de Educação de Jovens e Adultos, possibilite a
leitura crítica do mundo, estaremos acolhendo não somente as contribuições conceituais da Educação Popular,
mas também as contribuições metodológicas que a caracterizam.
Situar a EJA na Educação Popular implica na compreensão crítica do que ocorre na cotidianidade do meio
popular, o que nos endereça para nossa competência como educadores em promover a assunção dos educandos
como sujeitos de busca que precisam fazer análise de sua "realidade concreta", superando o saber anterior de
pura experiência feito, por um saber mais crítico, menos ingênuo.
Superar o senso comum a partir do próprio educando significa para os educadores populares iniciar os
processos educativos a partir de sonhos, frustrações, dúvidas, medos e desejos da própria experiência existencial
que envolve o educando (FREIRE, 1992).
A Educação Popular facilita a compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de
suas experiências. Sua tarefa fundamental é inserir os grupos populares no movimento de superação do saber do
senso comum pelo conhecimento mais crítico da realidade.
Para tanto, se faz necessário um método de explicitação dos fenômenos culturais, desse mundo de significados e
códigos simbólicos construídos socialmente pelos grupos e compartilhados pelos seus integrantes.
Esforços se apontam para um movimento de superação do senso comum e implicam em outra compreensão da
história. Implicam entender e viver a história como tempo de possibilidade.
Cultura popular se refere não apenas às manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo, mas ao
conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa, aos significados e valores que atribui ao
que faz e aos diferentes modos de trabalhar, aos jeitos de falar, aos tipos de música que cria, às misturas que faz
na religião, na culinária, na brincadeira.
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Cultura popular que, respeitada pelo educador crítico, se transforma no ponto de partida de sua ação pedagógica
em que, com palavras e temas pertencentes à experiência existencial dos educandos venha a facilitar a
compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de suas experiências.
O movimento de ir além do "penso que é" ou "acho que é" se converte na tarefa fundamental da Educação
Popular que tem nos processos sociais seu âmbito de reflexão.
Partir da realidade imediata (aparente) dos educandos realizar abstrações (reflexões, teoria) visando à realidade
concreta (pensada, compreendida), significa um percurso - um método epistemológico cujo caráter materialista
e histórico se desprende da compreensão da "totalidade concreta" pelo movimento dialético do pensamento dos
fenômenos e dos problemas em estudo.
Colocar, assim, a teoria no âmbito da prática cotidiana a partir de um processo dialético de prática – teoria –
prática ou reflexão.
O que vem na próxima aula
Você conclui esta disciplina
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Aprendeu sobre práticas educativas transformadoras e práticas educativas conservadoras.•
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• Aprendeu sobre práticas educativas transformadoras e práticas educativas conservadoras.•
	Olá!
	
	1 Método de estudo
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO