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Fundamentos e alimentos para o consumo Profª. Aline Soares Cascaes Teles Descrição Os fundamentos de bromatologia na compreensão dos alimentos, bem como sua importância para as Ciências da Saúde e a segurança dos consumidores, especialmente em relação à classificação dos alimentos para consumo. Propósito Auxiliar os profissionais de saúde na orientação dos consumidores em relação às escolhas de alimentos mais apropriados e seguros ao consumo. Objetivos Módulo 1 Bromatologia Reconhecer os fundamentos da bromatologia. Módulo 2 Alimentos próprios e impróprios Empregar os conceitos de alimentos próprios e impróprios para o consumo. A bromatologia compreende um conceito amplo no estudo dos alimentos e está envolvida com diferentes aspectos, como a composição dos alimentos, seu valor nutricional, sua avaliação por diferentes métodos, bem como a classificação dos alimentos quanto ao consumo, à qualidade, à segurança etc. A partir desse conhecimento, veremos a importância do estudo sobre os diversos parâmetros dos alimentos, que influenciam sua qualidade e segurança. Também veremos a relação da bromatologia com as Ciências da Saúde, as características gerais dos alimentos, o que são os padrões de identidade e de qualidade, os diferentes tipos de análise efetuadas para avaliação dos alimentos e a importância do controle de qualidade. Aprenderemos, além disso, a importância da classificação dos alimentos como próprios ou impróprios para o consumo, e os aspectos envolvidos nessa classificação. Desse modo, será possível reconhecer as diferenças entre os alimentos próprios e impróprios, assim como os tipos e as características responsáveis por tornar um alimento impróprio. Por fim, veremos o que é uma fraude e aprenderemos a reconhecer os tipos de fraudes aplicadas em alimentos. Introdução 1 - Bromatologia Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os fundamentos da bromatologia. Introdução à bromatologia Definição e objeto de estudo A bromatologia pode ser conceituada como a ciência que estuda a composição dos alimentos. De fato, a palavra bromatologia deriva do grego bromato, que significa alimentos, e logos, que significa estudo. Dessa forma, a bromatologia constitui o estudo dos alimentos. O estudo dos alimentos pode ser extremamente complexo, considerando sua composição, as reações químicas e bioquímicas que podem ocorrer e os processamentos aos quais essa matriz pode ser submetida. Por isso, há várias ciências que estudam os alimentos, as reações e os processos envolvidos na sua produção, como a tecnologia e a microbiologia de alimentos, por exemplo. A bromatologia, nesse contexto, pode ser classificada como a ciência que estuda os alimentos sob a ótica de sua composição química, com especial ênfase aos componentes: Macronutrientes Água, proteínas, carboidratos, lipídios. Micronutrientes Vitaminas e minerais. Também são considerados os metais, especialmente, os metais pesados, como o chumbo; as micotoxinas, a aflatoxina, por exemplo; os açúcares, como a lactose , os aminoácidos etc. Podemos considerar que a bromatologia é um campo de estudo interdisciplinar, já que envolve conhecimentos básicos de outras ciências, como Química, Botânica, Biologia, Bioquímica, Zoologia, entre outras. Esse campo de estudo é responsável pela avaliação de tudo o que é considerado um alimento para os seres humanos, de forma que está relacionado a etapas como o transporte da matéria-prima, a produção, a venda, a rotulagem, o envase correto e a esterilização. A bromatologia também é responsável pela avaliação da presença de contaminantes, adulterantes, aditivos prejudiciais à saúde, e das não conformidades em relação aos aspectos e especificações legais que regem os alimentos. A análise dos alimentos é utilizada pela bromatologia como forma de determinar suas características quantitativas e qualitativas. Para tal, são avaliados: Bromatologia e Ciências da Saúde A bromatologia é uma ciência de extrema importância para as Ciências da Saúde, uma vez que os alimentos têm uma relação estreita com a promoção de saúde. Dessa forma, a bromatologia pode dar informações importantes a respeito dos alimentos, garantindo a nutrição, a qualidade e a segurança da alimentação dos humanos. É imprescindível, portanto, que os profissionais da área da saúde conheçam as propriedades dos alimentos, tal como se apresentam na Macronutrientes (proteínas, lipídios e carboidratos) Micronutrientes (minerais e vitaminas) Propriedades químicas, físicas e presença de toxinas (por exemplo, as micotoxinas) Valor calórico Presença de contaminantes natureza e quando são processados industrialmente. Veja, a seguir, como esses processos podem agir na composição dos alimentos: Perda de nutrientes Muitos processos industriais modificam as características químicas, físicas e sensoriais dos alimentos, podendo resultar na perda de alguns nutrientes – como vitaminas – durante processos de secagem. Prevenção do crescimento microbiano No entanto, também podem auxiliar na manutenção de várias de suas características, prevenindo o crescimento microbiano, evitando modificações sensoriais e mantendo sua qualidade e segurança. Os profissionais da saúde podem auxiliar na promoção de práticas alimentares saudáveis por meio do conhecimento sobre as características dos alimentos, avaliando a ingestão de nutrientes necessários para uma dieta equilibrada, bem como a ingestão de alimentos específicos no tratamento de algumas doenças, como a obesidade. Atenção Existem estudos que correlacionam a alimentação de determinadas populações à ocorrência de algumas doenças específicas. Portanto, o conhecimento sobre as propriedades dos alimentos como um todo pode auxiliar os profissionais de saúde a prevenir e minimizar os efeitos de algumas doenças por meio da orientação e reeducação dos hábitos de consumo da população. A rotulagem dos alimentos também exerce importante influência nos aspectos de saúde. Por meio dela, os consumidores podem ter acesso a determinadas informações, como os ingredientes presentes em um alimento e seu valor nutricional, além de ser a principal ferramenta de controle de qualidade e segurança dos consumidores. A rotulagem permite que os consumidores escolham o que vão consumir. Qualidade e análise dos alimentos A qualidade dos alimentos também pode ser um campo de estudo na bromatologia. Nesse contexto, é feita a avaliação dos alimentos próprios e impróprios para o consumo, além de serem avaliadas as fraudes na produção dos alimentos e verificados os possíveis meios para sua avaliação – seja por um analista treinado ou por um consumidor leigo. Os órgãos fiscalizadores – como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Vigilância Sanitária – são responsáveis pela fiscalização do padrão de qualidade e destaque de irregularidades que possam colocar o consumidor em risco. Tais órgãos também são os responsáveis pela determinação de decretos, resoluções e leis que devem ser respeitadas na cadeia de produção dos alimentos. Na bromatologia, a análise de alimentos compreende a determinação analítica dos diversos componentes dos alimentos, tais como: Controle de qualidade de processos Tal análise pode ser aplicada no controle de qualidade de processos já bem fundamentados – por exemplo, o processo de produção de vinagre –, mas também de processos e tecnologias emergentes e no desenvolvimento de novos alimentos. Especificações na legislação Por meio das técnicas de análise de alimentos, é possível verificar se o alimento em questão atende ou não a determinadas especificações presentes na legislação. Elucidação do valor nutricional Além disso, no desenvolvimento de novos alimentos, este tipo de análise auxilia na elucidação do valor nutricional, na melhoria de nutrientes específicos, bem como no aumento do tempo de vida útil pelaadição de ingredientes e compostos bioativos, por exemplo. Aspectos essenciais da bromatologia Como a bromatologia é responsável pelo estudo dos alimentos na sua forma mais ampla, alguns de seus aspectos são essenciais, como: Características gerais e classificação dos alimentos (próprios e impróprios para consumo) Padrão de identidade e qualidade (PIQ) Tipos de análise de alimentos Controle de qualidade Vejamos cada um desses aspectos, mais detalhadamente, a seguir. Características gerais dos alimentos e classificações Os alimentos são definidos como: toda substância ou mistura de substâncias, no estado sólido, líquido, pastoso ou qualquer outra forma adequada, destinadas a fornecer ao organismo humano os elementos normais à sua formação, manutenção e desenvolvimento. (DECRETO-LEI Nº 986/1969) Apesar da simples definição, os alimentos costumam ser matrizes extremamente complexas, constituídas por proteínas, lipídios, ácidos orgânicos, compostos voláteis, água, pigmentos etc. Desse modo, os alimentos podem ser modificados durante as etapas de processamento ou armazenamento, resultando na perda de qualidade, em modificações nutricionais ou ambas. Os alimentos são classificados por diferentes aspectos, podendo ser divididos em relação à sua composição, como: Compostos Apresentam uma composição química complexa, com várias substâncias (carnes, vegetais, leite, bebidas, etc.). Simples São metabolizados em substâncias mais simples pela ação das enzimas digestivas e suco gástrico. Metabólitos ou diretos São diretamente absorvidos após o metabolismo (água, aminoácidos, etc.). Para a análise de alimentos, no entanto, a classificação mais importante está relacionada à qualidade para consumo. Nesse aspecto, os alimentos são divididos em: Próprios para o consumo Impróprios para o consumo No módulo 2, discutiremos esses aspectos detalhadamente. Quanto aos nutrientes presentes em um alimento, é possível agrupá-los em: Macronutrientes Trata-se dos maiores componentes de um alimento, responsáveis pelo fornecimento de energia. São representados pelos carboidratos, pelas proteínas e pelos lipídios, por exemplo. Micronutrientes São encontrados em menor quantidade nos alimentos e são muito importantes para auxiliar as reações químicas que ocorrem no organismo. Por exemplo, são utilizados para a regulação do metabolismo e a produção de hormônios. Alguns representantes desse grupo são os minerais e as vitaminas. O teor dos nutrientes presentes nos alimentos é de extrema importância em sua qualidade, já que estão relacionados ao fornecimento de energia e às diversas reações químicas importantes para o metabolismo humano. No desenvolvimento de novos alimentos, muitas vezes, o tipo de processamento pode afetar a quantidade de nutrientes, havendo perda nutricional. Nesses casos, pode ser necessário modular a formulação e o processamento para que o alimento não tenha uma grande perda no teor de vitaminas, lipídios ou outro componente de interesse. Padrões de identidade e qualidade (PIQ) O PIQ é conjunto de propriedades qualitativas e quantitativas que identifica o alimento (identidade) e verifica se é seguro para o consumo (qualidade). De acordo com a lei, ele deve ser: estabelecido pelo órgão competente do Ministério da Saúde dispondo sobre a denominação, definição e composição de alimentos, matérias- primas alimentares, alimentos in natura e aditivos intencionais, fixando requisitos de higiene, normas de envasamento e rotulagem medidos de amostragem e análise. (DECRETO-LEI Nº 986/1969) Diferentes tipos de metodologias, portanto, podem ser utilizados para verificar se um alimento está dentro do preconizado pelos PIQs. Entre eles, temos os métodos de identificação, os métodos de qualidade e a análise sensorial, que serão discutidos no próximo tópico. Os padrões de identidade e qualidade são específicos para cada alimento ou para determinados grupos de alimentos, como carboidratos, lipídios e proteínas. Tipos de análises de alimentos A análise de alimentos compreende uma importante área na ciência de alimentos, pois está presente em diferentes etapas da produção para o controle de qualidade e durante a estocagem. Dessa forma, tem papel imprescindível na segurança de alimentos. A principal função da análise de alimentos é elucidar a composição química, as propriedades físicas, as substâncias tóxicas ou contaminantes, as adulterações, as fraudes, o valor nutritivo e a ação dos alimentos no organismo. Portanto, é possível compreender que a análise de alimentos, além de atuar na garantia de qualidade, segurança e verificação de não conformidades, também estabelece informações sobre os PIQs de cada alimento. Métodos Diferentes métodos de análise de alimentos podem ser utilizados para a verificação do PIQ de cada alimento ou de grupo de alimentos. Vejamos: Têm a função de identificar os elementos (substâncias e nutrientes) que compõem o alimento e que são intrínsecos. Nesse caso, pode identificar substâncias ilegais, que são, geralmente, adicionadas com a intenção de mascarar características indesejadas do alimento, como a baixa qualidade. Avaliam a existência ou a inexistência de substâncias e/ou de microrganismos que possam ser responsáveis por danos à qualidade do alimento. Utiliza as preferências do analista e/ou do consumidor como ferramenta para avaliar parâmetros subjetivos do alimento – sabor, aparência, aroma, textura etc. – que são importantes e apresentam ligação com sua qualidade, já que muitas das alterações afetam as propriedades sensoriais dos alimentos. Aplicações Métodos de identificação Métodos de qualidade Análise sensorial A análise de alimentos pode ser utilizada para diversos fins. Um deles é, por meio de métodos oficiais, fiscalizar se as regras preconizadas pela legislação foram atendidas. Também é aplicada para controlar as diferentes etapas do processo de produção, por meio de técnicas simples, por se tratar de uma prática rotineira. Desse modo, visa-se garantir a qualidade do produto. Também pode ser utilizada para ciência e pesquisa já que, muitas vezes, é necessário avaliar e quantificar substâncias específicas por meio de técnicas e/ou de metodologias não convencionais e/ou emergentes (Quadro). Fiscalização A fiscalização é realizada pelos órgãos governamentais para verificação das conformidades e não conformidades de acordo com a legislação vigente. Para tal, órgãos como a ANVISA e o MAPA, responsáveis por essa verificação, utilizam metodologias analíticas oficiais. Tais metodologias são caracterizadas pela simplicidade, precisão e exatidão. Controle de qualidade O controle de qualidade pode ser realizado pela própria indústria durante o processo de produção. Nesse caso, pode ser denominado controle de qualidade de rotina, em que é verificado se o alimento produzido está apto para o consumo. Ciência e pesquisa A análise de alimentos para a ciência e pesquisa não possui, necessariamente, a característica de ser simples e rápida, entretanto, essas propriedades são desejáveis. Nesse caso, as análises são realizadas por institutos de pesquisa e universidades, e vão desde as análises mais comuns (convencionais) até as mais rebuscadas, como as instrumentais, podendo utilizar equipamentos mais caros e complexos. No entanto, há um grande esforço no desenvolvimento de metodologias analíticas cada vez menos onerosas e mais eficientes. Quadro: Elaborado por Aline Soares Cascaes Teles. Para que a análise de alimentos possa desempenhar suas funções, é necessário considerar a coleta de amostra e o seu tratamento. Tais etapas são determinantes para a obtenção de dados confiáveis, já que, se a amostra for coletada ou tratada de maneira incorreta, o resultado final poderá ser comprometido, não apresentando a confiabilidade necessária. Dessa maneira, são utilizados diferentes métodos de análise. Vejamos a seguir. Métodos convencionais e instrumentaisEntenda a diferença entre os métodos de análise convencionais e instrumentais: Métodos convencionais Esses metodos podem ser realizados por meio de equipamentos e metodologias mais simples com aparatos (vidrarias, reagentes etc.) mais comuns e de fácil execução. Por essa razão, são mais práticos e econômicos. Métodos instrumentais Necessitam de um laboratório bem equipado com aparatos mais modernos, metodologias mais complexas e de difícil execução, além de mão de obra especializada. Contudo, apresentam resultados muito mais precisos, específicos e sensíveis. Métodos oficiais e não oficiais Também é possível classificar as metodologias de análise de alimentos em outros dois grupos – os métodos oficiais e os não oficiais: Métodos oficiais São utilizados pelos órgãos reguladores com objetivo de comprovar o cumprimento da legislação vigente. Eles são aprovados para utilização por laboratórios competentes após sua validação por meio de vários testes e, geralmente, depois de estudos interlaboratoriais em que diferentes laboratórios verificam a validade do método. Métodos não oficiais Os métodos não oficiais não são utilizados pelos órgãos reguladores para comprovação do cumprimento das leis. Em geral, não são métodos validados por laboratórios competentes e são utilizados com outra finalidade, como a verificação de um analito, somente para conhecimento. Os métodos não oficiais são mais utilizados em ciência e pesquisa, já os métodos oficiais são utilizados para fiscalização e controle de qualidade. Escolha do método A escolha do tipo de método vai depender de diversos fatores, como a precisão necessária, a composição da amostra, a concentração do componente a ser analisado na amostra e os recursos disponíveis no laboratório. Vejamos, a seguir, como cada um desses fatores influencia a escolha do método: Em muitos casos, é necessário ter alta precisão ou exatidão nos resultados, e esse fator também vai depender da concentração do componente de interesse. Quando o componente está em uma concentração acima de 10% na amostra, geralmente, é possível conseguir exatidão de até 99% na análise, mesmo utilizando métodos convencionais. No entanto, quando essa concentração é mais baixa, pode ser que esse valor seja inferior, perdendo a precisão. Precisão A composição da amostra também é um fator determinante, pois os alimentos são uma matriz muito complexa e, geralmente, há a presença de compostos classificados como interferentes. Quando se realiza uma análise, na maioria das vezes, há interesse em analitos específicos e os outros, como o próprio nome sugere, interferem no resultado final da análise. Dessa maneira, pode ser necessário realizar etapas prévias, como extração e/ou separação, diminuindo esses interferentes na amostra. A concentração do componente ou a quantidade relativa do componente de uma amostra pode facilitar ou dificultar sua determinação. Como mencionado anteriormente, a concentração de um componente pode ser menor do que 10% em uma amostra, por exemplo. Dessa forma, a concentração do componente de interesse pode ser classificada como maior, quando apresenta mais do que 1%, menor (0,01% até 1%), micro (< 0,01%) ou traço, quando apresenta quantidade iguais a parte por milhão (ppm) ou parte por bilhão (ppb). Os recursos disponíveis também devem ser considerados para a escolha do método analítico, pois há metodologias que exigem laboratórios altamente equipados com material muito caro, além da necessidade de analistas muito especializados e experientes na execução da metodologia. Com isso, muitas vezes, é necessário adequar as análises ao material, aos equipamentos e laboratórios disponíveis. Análise de controle e fiscal As análises de alimentos podem ainda ser classificadas, de acordo com seu objetivo, em dois tipos distintos – análise de controle e análise fiscal. Vejamos: Composição da amostra Concentração do componente Recursos disponíveis Em ambos tipos de análise, a obtenção de amostra é realizada por meio de uma coleta única ou em triplicata. A coleta em triplicata é a forma mais utilizada e ocorre em três etapas: prova, contraprova e testemunha. A primeira obtenção da amostra (prova) é realizada por laboratório oficial com emissão do laudo. Caso o produtor discorde do resultado, geralmente, condenatório, é realizada a contraprova no mesmo Análise de controle É realizada em alimentos destinados ao consumo para verificar se o produto está em conformidade com a formulação registrada no seu PIQ. Desse modo, esse tipo de análise comprova se o alimento está dentro dos padrões de identidade e qualidade preconizados, apresentando valor jurídico. Análise fiscal É efetuada em caráter de rotina ou para apurar uma infração de lei ou desvios em relação à qualidade na produção do alimento. Por isso, é realizada de acordo com o regime da vigilância sanitária e possui valor jurídico. laboratório que efetuou a análise e emitiu o laudo inicial como um direito de defesa do produtor. Controle de qualidade O controle de qualidade pode ser considerado um sistema que permite a verificação de um padrão predefinido para um produto ou processo, e que pode utilizar ajustes com objetivo de que esse produto ou processo seja fidedigno ao padrão predefinido. A qualidade dos alimentos é algo complexo, pois está relacionada a diversos atributos, como ausência de contaminantes, valor nutritivo, composição e características sensoriais, por exemplo, aroma, sabor, cor, textura etc. Nesse sentido, essa qualidade está diretamente relacionada à saúde e à segurança do consumidor, de modo geral, e ao fato de como o consumidor “enxerga” o alimento. Considerando tais fatores, o controle de qualidade é extremamente importante em todas as etapas da produção, estocagem e comercialização de um alimento, até o momento do seu consumo. Embora existam padrões para o controle de qualidade dos alimentos, tais padrões podem apresentar mudanças, e isso tem sido observado ao longo dos anos. Essas mudanças são constantes e estão relacionadas às necessidades do consumidor, que está cada vez mais informado e mais exigente quanto aos alimentos, à sua origem e ao seu processamento. Desse modo, para atender às novas expectativas dos consumidores, o controle de qualidade deve ser adaptado aos novos alimentos, processos etc. Atenção Para guiar os alimentos nos padrões de qualidade, os alimentos devem obedecer à legislação vigente pertinente, que serve para os rótulos dos produtos. Para garantia da qualidade dos alimentos, há ferramentas que auxiliam, minimizando possíveis problemas que possam oferecer risco à saúde do consumidor. Entre essas ferramentas, estão a análise de pontos críticos de controle (APPCC), a auditoria de processo produtivo, as boas práticas de fabricação (BPF) e os procedimentos padrões de higiene operacional (PPHO). Com respeito à análise de alimentos, o controle de qualidade pode ser utilizado como forma de padronizar todo o processo de realização da análise, bem como os equipamentos utilizados, os materiais, as técnicas e/ou metodologias, além de ter o objetivo de obter possíveis melhorias das análises e garantir resultados confiáveis. A padronização das análises garante a sua reprodutibilidade, seja de maneira intralaboratorial (reprodução da análise no mesmo laboratório) ou interlaboratorial (reprodução da análise em diferentes laboratórios). Com isso, grande parte dos laboratórios utilizam metodologias oficiais, já que elas são realizadas de acordo com figuras de mérito necessárias a um método, como: reprodutibilidade, precisão, exatidão, segurança, reconhecimento por órgãos oficiais, sensibilidade, velocidade, de simples operação, baixo custo etc. A importância do conhecimento da bromatologia para o profissional de Nutrição Neste vídeo, a especialista Aline Soares Cascaes Teles reflete sobre a importância do conhecimento da bromatologia para o profissional de Nutrição. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 01 - Vem que eu te explico! Bromatologia e Ciências da Saúde Módulo 01 - Vem que eu te explico! Classi�cação dos alimentos Módulo 01 - Vem que eu te explico! Métodos de análise de alimentos Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Uma vez que a bromatologia compreende o estudo dos alimentos, podemos afirmar que a bromatologia é: A O estudo dos alimentos no seu mais amplo sentido. B O estudo dos alimentos e sua microbiota. C O estudo dos alimentos, ou seja, da sua composição química. D O estudo dos alimentos, ou seja, das suas características sensoriais. E O estudo dos alimentos, ou seja, de sua qualidade e segurança. Parabéns! A alternativa A está correta. A bromatologia é o estudo dos alimentos no sentido mais complexo da palavra, ou seja, trata-se do estudo dos diversos aspectos que envolvem um alimento, como sua composição físico-química, seus nutrientes, sua microbiota, sua qualidade, suas propriedades sensoriais, etc. Desse modo, não é possível atribuir apenas um desses elementos ao conceito da bromatologia. Questão 2 A bromatologia possui relação com as Ciências da Saúde, sendo extremamente importante nessa área. Nesse sentido, durante o desenvolvimento de um novo alimento, a bromatologia pode auxiliar: A Impedindo que o alimento seja industrializado, já que pode haver perda de nutrientes durante o processamento. B Por meio de informações a respeito das diversas propriedades do alimento, direcionando e garantindo a produção de um alimento com qualidade. C Por meio de informações a respeito das propriedades sensoriais do alimento, direcionando e garantindo a produção de um alimento com qualidade. D Impedindo que o alimento seja comercializado in natura, pois alimentos industrializados e sem nenhum tipo de processamento podem perder seus nutrientes. E Por meio de informações a respeito das propriedades sensoriais do alimento, direcionando e garantindo a produção de um alimento com qualidade e de aceitação por parte do consumidor. 2 - Alimentos próprios e impróprios Ao �nal deste módulo, você será capaz de empregar os conceitos de alimentos próprios e impróprios para o consumo. Qualidade como critério para a classificação dos alimentos Uma das ramificações de estudo da bromatologia é a qualidade dos alimentos. Nesse sentido, o conhecimento de alguns conceitos, como alimentos próprios, impróprios, fraudes em alimentos e sua função nessa ciência, são de extrema importância. Parabéns! A alternativa B está correta. A bromatologia pode contribuir para o conhecimento de diversas características relacionadas aos alimentos. Dessa forma, quando há o desenvolvimento de um novo alimento, é necessário que ele apresente as propriedades necessárias em termos de qualidade, segurança e saudabilidade. Isso significa que, além de apresentar boas características sensoriais, deverá apresentar nutrientes que podem ser mantidos e até mesmo melhorados após um processamento, ou também podem ser perdidos por um processamento inadequado. Isso vai depender do conhecimento sobre as propriedades de interesse no alimento que se deseja desenvolver. Como vimos anteriormente, os alimentos podem ser classificados de diferentes maneiras. Nesse contexto, os conceitos sobre alimentos próprios, ou aptos para o consumo, e impróprios, ou não aptos para o consumo, são classificações utilizadas do ponto de vista analítico. Isso significa que são usados na área de análise de alimentos para agrupar os alimentos em relação à sua qualidade e segurança para o consumo humano. Considerando os conceitos de qualidade dos alimentos, também devemos considerar as fraudes que podem ser realizadas nas diferentes etapas de obtenção de um alimento. Tais fraudes comprometem a qualidade e a segurança do alimento, podendo colocar a saúde do consumidor em risco. Alimentos próprios ao consumo Os alimentos próprios ou aptos ao consumo são aqueles que estão em conformidade com os PIQs específicos de cada alimento. Desse modo, os alimentos respondem às especificações da lei em vigor para rotulagem, além de não apresentarem substâncias que caracterizem adulteração. Tais alimentos também podem receber as seguintes denominações: Alimentos genuínos São aqueles que não apresentam nenhuma substância não autorizada e que, além disso, estão dentro dos padrões especificados na legislação. Alimentos in natura ou naturais C d t d li t j d i t l O consumidor, no entanto, pode ter dificuldades para classificar um alimento, na prática, como próprio para consumo. Por esse motivo, algumas medidas podem ser realizadas para facilitar essa classificação, como: Se a embalagem do alimento apresentar defeitos, estiver amassada, rasgada ou violada de alguma forma, a qualidade do alimento pode ter sido prejudicada de alguma forma, seja sensorialmente, microbiologicamente etc. Portanto, quando a embalagem não apresentar integridade, o alimento não de ser comprado pelo consumidor. Todo alimento possui suas propriedades sensoriais características, como: cor, aroma, textura, viscosidade etc. Caso o alimento apresente alteração em alguma dessas características sensoriais, ele pode estar microbiologicamente contaminado e/ou ter sofrido outro tipo de alteração. Nesse caso, não deve ser consumido. O rótulo constitui um fator importante a ser observado nas embalagens dos alimentos, pois traz informações fundamentais. Correspondem a todo alimento, seja de origem vegetal ou animal, que pode ser consumido imediatamente, necessitando somente da remoção das partes não comestíveis e de procedimentos que garantam sua perfeita higienização e conservação para ingestão. Observação da embalagem do alimento Observação das propriedades sensoriais Verificação do rótulo Verificação das condições de armazenamento e aspecto do local Observar as condições de armazenamento é fundamental para ter indícios sobre a qualidade dos alimentos, já que muitos devem ser armazenados sob condições específicas, como refrigeração. Além disso, o aspecto do local de comercialização dos alimentos também pode fornecer informações, pois, se a falta de higiene for perceptível, significa que, provavelmente, os alimentos não estarão próprios ao consumo. Ainda que todas essas características sejam avaliadas, não há garantia de que os alimentos estejam próprios ao consumo. Por isso, o ideal é que o consumidor avalie bem as marcas que consome e também os locais em que faz suas compras, dando preferência às marcas e aos locais de confiança que não apresentem histórico de infrações à legislação. Alimentos impróprios ao consumo São classificados como alimentos impróprios ao consumo humano todos aqueles que não atendem às especificações da legislação para os seus padrões de identidade e qualidade, podendo ser potencialmente perigosos à saúde humana. Tais alimentos apresentam modificações nas suas propriedades genuínas, ou seja, sofreram alterações em suas propriedades químicas, biológicas, físicas e sensoriais. Segundo a Lei nº 8.137/1990 é proibido vender, ter em depósito para venda ou deixar em exposição qualquer produto impróprio para o consumo, sob pena de 2 a 5 anos ou multa. Os produtos impróprios para o consumo são: Aqueles cujos prazos de validade estejam vencidos; deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação ou ainda, os produtos que por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. (ART. 18, § 6º, I, II, III DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR) Classificação Um alimento pode ser considerado improprio para o consumo por diferentes motivos. Dessa forma, eles podem ser classificados em gruposde acordo com a característica responsável por torná-lo impróprio, podendo ser chamado de alimento alterado, alimento contaminado, alimento adulterado ou alimento falsificado, como demonstrado no quadro abaixo: Alimentos alterados É todo alimento que sofre mudanças nas suas características sensoriais, químicas e nutritivas por causas naturais, seja de natureza física, química ou biológica, em decorrência do tratamento tecnológico inadequado. As latas de conserva estufadas são um dos exemplos de alimentos alterados mais comuns observados no comércio. Alimentos contaminados São os alimentos que contêm componentes estranhos à sua composição normal. Tais componentes podem ser organismos vivos – como vírus, bactérias, fungos, etc. – ou substâncias químicas orgânicas ou inorgânicas, tóxicas ou não tóxicas, sempre que estiverem acima dos níveis permitidos. Frutas e verduras com contaminação visível de microrganismos são exemplos de alimentos contaminados. Alimentos adulterados São alimentos privados de seus componentes úteis ou característicos, de forma parcial ou total, devido a uma substituição ou não por outros que afetem muito pouco as propriedades, como aparência e gosto. Também são considerados alimentos adulterados aqueles que sofreram a adição de um agente (independentemente da natureza) com objetivo de dissimular ou ocultar suas deficiências. Desse modo, a adulteração pode ser realizada pelo acréscimo de algum agente ou pela retirada de algum componente característico do alimento. Alimentos falsificados São os alimentos que apresentam, em termos gerais, as mesmas propriedades dos alimentos legítimos (ou genuínos), mas foram produzidos por outro fabricante, não autorizado. Nesse caso, os alimentos não apresentam, necessariamente, má qualidade ou risco à saúde do consumidor. No entanto, por serem produzidos por fabricantes não autorizados, são impróprios ao consumo. Quadro: Elaborado por Aline Soares Cascaes Teles Agentes causadores de alterações nos alimentos Sabemos que os alimentos impróprios podem ser classificados em diferentes grupos, sendo separados de acordo com a causa ou as causas da impropriedade. Também é possível considerar que o conjunto de características que os tornam impróprios podem ter diversas origens. Em alguns casos, como dos alimentos alterados e contaminados, é possível classificar o agente causador da mudança como agentes de origem química, biológica e física, conforme apresentado no quadro a seguir: Origem Ocorrência Química Ocorre quando os alimentos apresentam contaminação com algum tipo de substância química imprópria, como agrotóxicos, produtos de limpeza, metais pesados – arsênio, chumbo, mercúrio, por exemplo. A ingestão de um alimento contaminado com algum desses agentes é extremamente perigosa, já que muitos deles estão associados a anomalias neonatais e desenvolvimento de doenças, como câncer. Biológica Esse tipo de contaminação/alteração ocorre pela presença de organismos vivos, por isso, é denominada biológica. Sua ocorrência se deve, majoritariamente, à ação dos microrganismos e suas toxinas, especialmente fungos e bactérias, mas vírus e parasitas também podem ser responsáveis. Por exemplo, há infecções alimentares causadas por Salmonella ou doenças causadas por micotoxinas, como aflatoxina. Os alimentos que apresentam alteração biológica também são potencialmente perigosos, pois estão envolvidos em infecções alimentares e no desenvolvimento de doenças de longo prazo (para ingestão de micotoxinas, por exemplo). Origem Ocorrência Física Nesse tipo de alteração, estão incluídos os alimentos que foram contaminados por algum objeto ou pelo produto de alguma reação de origem física com outros compostos – por exemplo, pregos e partes de animais. Da mesma maneira que os outros agentes, também pode ser responsável pelo desenvolvimento de doenças e até ferimentos, no caso da ingestão de objetos cortantes presentes no alimento com alterações físicas. Quadro: Elaborado pela Aline Soares Cascaes Teles. Fraudes em alimentos As fraudes em alimentos também são um tema importante no contexto da qualidade e segurança de alimentos, de modo que configuram uma preocupação por parte dos órgãos de vigilância. Com o crescimento da população mundial, também aumenta a demanda por alimentos e, em alguns casos, para atender essa demanda, o risco de fraudes em alimentos pode crescer paralelamente à demanda por alimentos. As fraudes em alimentos podem ser definidas como: Fraudes em alimentos Alterações, falsificações, adulterações ou substituições realizadas propositalmente nos ingredientes, na matéria-prima, no produto final ou na embalagem, além de informações errôneas que tenham como objetivo final o lucro econômico. Mascarando problemas As fraudes podem ocorrer para atribuir uma característica que o alimento não possui ou para mascarar problemas causados por condições higiênico-sanitárias ruins durante sua produção e/ou manipulação. Apesar de as fraudes serem um problema antigo em alimentos e dos avanços na tecnologia – nesse caso, especialmente voltada à análise de alimentos –, o problema ainda existe, pois os fraudadores são muito criativos. Além disso, com exceção das fraudes mais grosseiras, os consumidores costumam ter dificuldade para identificar possíveis fraudes em alimentos. Atenção Grande parte das fraudes não descaracteriza as propriedades sensoriais do alimento, que são as mais perceptíveis, mas podem ter graves consequências nas propriedades nutricionais. Dessa maneira, a atuação dos órgãos de fiscalização é de extrema importância, garantindo a punição dos responsáveis pelas fraudes. As fraudes em alimentos são divididas em 4 tipos: Fraudes por alteração Fraudes por falsificação Fraudes por adulteração Fraudes por sofisticação A seguir, vejamos cada um dos tipos mais detalhadamente. Fraudes por alteração Podem acontecer por alteração enzimática, microbiana, macrobiana e, ainda, por agentes químicos ou físicos. A principal característica dessa fraude é a alteração das propriedades do alimento com mudança no seu PIQ. Como essas alterações, geralmente, não são provocadas pelos indivíduos, o que caracteriza a fraude é a comercialização dos alimentos mesmo sob o conhecimento do comerciante/fabricante de que o alimento não está apto ao consumo. Fraudes por falsificação Há diversas formas de fraude por falsificação. Vejamos: Ocorrem quando um alimento de qualidade inferior é misturado ao de maior qualidade para confundir o consumidor ou, ainda, quando um alimento de qualidade ruim é vendido como outro de boa qualidade. Como exemplo, podemos mencionar peixes de categoria inferior sendo vendidos como finos. O mesmo pode ocorrer para cortes de carnes de segunda sendo vendidos como carne de primeira, além de frutas e verduras em estágio de decomposição sendo misturados aos mesmos produtos em bom estado. Ocorre quando, por exemplo, um alimento é pesado em uma balança descalibrada, resultando em um peso maior do que o verdadeiro. A falsificação por peso também pode ocorrer pela pesagem de carnes com adição de umidade e sal. Ocorre quando o fraudador tenta iludir o consumidor por meio do preço e/ou do peso na embalagem, como a utilização do termo 1 dz, que remete o consumidor a 1 dúzia. Falsificação em relação à qualidade Falsificação em relação ao peso Falsificação em relação à propaganda Falsificação quanto à procedência Pode ser assim caracterizada quando um alimento de origem estrangeira é vendido como um de origem nacional, e vice-versa, a depender do que for mais interessante para o consumidor. Por exemplo, a venda de café de origem africana como se fosse o café brasileiro, ou queijos nacionais sendo vendidos como queijos importados. Também tem o objetivo de iludir o consumidor, assim como as falsificações por propaganda. Nesse caso, os fraudadores utilizamas mesmas cores de embalagem, letras parecidas, símbolos iguais e todo tipo de imitação para que um alimento de qualidade inferior ou novo no mercado pareça com outro melhor ou mais conhecido. Fraudes por adulteração Ao contrário das fraudes por alteração, as fraudes por adulteração são sempre intencionais. Esse tipo de fraude também não afeta ou afeta muito pouco as características sensoriais do alimento, sendo de difícil percepção do consumidor. Desse modo, são necessárias avaliações específicas realizadas por meio das análises de alimentos. Existem muitos tipos de fraudes por adulteração, mais especificamente, 11 tipos, que são: Falsificação quanto à apresentação Adição de substâncias inferiores ao alimento A fraude é assim classificada quando for adicionado outro alimento ou ingrediente diferente, geralmente, de qualidade i f i P l di ã d ilh fé á inferior. Por exemplo, a adição de milho ao café, água ao leite, semente de mamão na pimenta-do-reino. Adição de agentes não permitidos ou adição de substâncias não reveladas Ocorre quando há adição de qualquer agente ao alimento que não seja permitido pela legislação, ou quando há adição de algum agente não descrito na rotulagem. Alguns exemplos são: adição de cloreto de cálcio ao macarrão para evitar que haja formação de goma; adição de amido no iogurte com objetivo de aumentar seu volume; adição de anilina em aves para deixar a coloração parecida com a de aves caipiras etc. Substituição de alimento original por artificial Esse tipo de fraude acontece quando há substituição do alimento por outro agente artificial. Apesar de ser parecida com a fraude por falsificação, nesse caso, o agente substituto é declarado no rótulo. Um exemplo é a venda de guaraná quando na verdade a bebida é uma mistura de diversos ingredientes, como açúcar, flavorizante, acidulante etc. Substituição dos constituintes no produto Ocorre pela substituição de um ou mais constituintes do alimento, como no caso da substituição do ovo em massas alimentícias ou produtos de panificação por corante. Também pode acontecer na substituição total ou parcial da carne de produtos embutidos por partes de carnes não utilizadas na alimentação humana. Subtração e adição de constituintes Ocorre quando um dos componentes do alimento é diminuído para ser parcialmente substituído por outro agente. Alguns exemplos são: substituição de parte do azeite de oliva por outro óleo vegetal para compor o azeite, bombons com chocolate parcialmente substituído por manteiga de cacau. Subtração dos constituintes do alimento Trata-se da retirada de algum dos componentes dos alimentos, como a retirada da cafeína do café, retirada do creme do leite. Substituição da matéria-prima anunciada na embalagem por outra parecida, de menor valor Neste caso, o alimento é substituído por outro de menor valor, como ocorre na substituição de filé de peixe mais nobre por outro de valor comercial inferior – por exemplo, filé de bonito vendido como cação. Simulação de quantidade de alimento especificada Essa fraude tem relação com a quantidade especificada na embalagem, quando há diminuição do conteúdo de conservas pelo aumento do líquido de cobertura. O i ã d i i d Fraudes por falsificação Esse tipo de falsificação é sofisticado, de modo que o consumidor não consegue perceber que o alimento foi fraudado. Geralmente, são utilizadas as embalagens dos produtos originais, bem como seus rótulos, suas etiquetas e afins. Uma das práticas mais comuns nesse tipo de fraude é utilizar garrafas de bebidas importadas para vender outra bebida de menor valor comercial e qualidade inferior. Fraudes em alimentos e os Omissão de constituintes constantes da fórmula de registro de fabricação Ocorre quando um alimento é produzido sem algum dos ingredientes da sua fórmula original, que foi previamente entregue aos órgãos competentes. Aproveitamento de alimentos degenerados Ocorre quando o alimento ou a matéria-prima está degenerado e é utilizado na venda ou no preparo de produto, como é o caso da comercialização de azeites de oliva rancificado nos mercados. Recuperação fraudulenta de alimentos Ocorre quando alguma substância não permitida é utilizada para recuperação das propriedades sensoriais de um alimento em estado de degeneração, como na aplicação de mercúrio cromo em carnes estragadas e com coloração diferente para que recuperem a coloração vermelha. riscos à saúde Neste vídeo, a especialista Aline Soares Cascaes Teles abordará as fraudes nos alimentos e os riscos à saúde. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 02 - Vem que eu te explico! Alimentos próprios ao consumo Módulo 02 - Vem que eu te explico! Classi�cação dos alimentos impróprios para o consumo Módulo 02 - Vem que eu te explico! Tipos de fraudes em alimentos Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sabemos que os alimentos próprios para o consumo são os que estão dentro dos PIQs específicos para os alimentos, e que os alimentos impróprios são os que não estão dentro desses padrões e não atendem às especificações da lei em vigor. Nesse caso, é possível afirmar que o consumidor poderá classificar um alimento em próprio ou impróprio para consumo: A Somente a partir da verificação do aspecto do local em que está sendo vendido. B Somente a partir da verificação do aspecto do local em que está sendo vendido e dos funcionários. C Algumas medidas, como a verificação da embalagem e as condições de armazenamento podem ser tomadas, entretanto, elas não garantem a classificação correta dos alimentos. D Algumas medidas, como a verificação da embalagem e das condições de armazenamento, podem ser tomadas para garantir a classificação correta dos alimentos. E A verificação do rótulo é a única medida que garante a classificação correta dos alimentos. Parabéns! A alternativa C está correta. Apesar de existirem algumas medidas que podem ser adotadas pelo consumidor para a classificação dos alimentos como próprios ou impróprios ao consumo humano – como a verificação das embalagens, do rótulo, do local e forma de armazenamento –, essas observações não oferecem a garantia de que o alimento será classificado de maneira correta, pois há problemas que não são perceptíveis ao consumidor. No entanto, essas observações podem ser adotadas como uma medida de segurança e prevenção. Questão 2 As fraudes são um problema recorrente em alimentos e podem ser classificadas em diferentes tipos. Dessa maneira, quando um uísque produzido em território nacional é vendido na embalagem de um uísque internacional, contendo rótulo e outros parâmetros pertencentes à marca do vinho internacional, podemos dizer que se trata de uma fraude: A Por adulteração, pois o conteúdo da embalagem foi adulterado. B Por substituição da matéria-prima anunciada na embalagem, por outra parecida, porém de menor valor, pois um vinho de valor comercial inferior está sendo vendido como um de valor comercial superior. C Por substituição da matéria-prima anunciada na embalagem, por outra parecida, porém de menor valor, pois um vinho sem qualidade está sendo vendido como um de valor alta qualidade. D Por sofisticação, já que, nesse caso, um alimento de menor valor comercial está sendo vendido como um de maior valor comercial, utilizando sua embalagem original, bem como outros constituintes (rótulo, etc.). E Por sofisticação, já que, nesse caso, um alimento de menor valor nutricional está sendo vendido como um de maior valor nutricional, utilizando sua embalagem original, bem como outros constituintes (rótulo, etc.). Parabéns! A alternativa D está correta. A fraude por sofisticação pode ser caracterizada pela utilização de embalagens, rótulos, etiquetas e quaisquer outras partes que componham o alimento original. Nesse sentido, são utilizadas “figuras”presentes na apresentação do alimento original, mas seu conteúdo é diferente, como mencionado no exemplo dessa questão (vinho), mas não, necessariamente, apresenta valor nutricional inferior ou diferenças sensoriais, etc. Considerações finais Vimos que os principais fundamentos da bromatologia e os aspectos dos alimentos próprios e impróprios para o consumo são temas importantes para outros segmentos, especialmente ciência de alimentos e ciências da saúde, por estarem correlacionados a essas áreas. Desse modo, tais conceitos podem ser considerados um dos requisitos aos profissionais de saúde, já que eles necessitam compreender as propriedades dos alimentos, incluindo sua composição físico-química, nutricional, microbiana, etc., para que possam atuar direcionando e orientando a população em um caminho mais saudável de consumo dos alimentos. Nesse sentido, vimos que o conceito de qualidade em alimentos abrange diversos aspectos, sendo complexo e não podendo ser considerado apenas pela composição química ou nutricional, por exemplo. Dessa forma, o conceito de qualidade pode, inclusive, ser associado ao bem-estar e à segurança dos consumidores. Por fim, pudemos conhecer a classificação dos alimentos em próprios ou impróprios para o consumo, bem como seus conceitos e as causas pelas quais um alimento pode ser classificado em um desses grupos. Além disso, vimos o que são fraudes em alimentos e como elas podem ser classificadas. Podcast Neste podcast, a especialista Aline Soares Cascaes Teles demonstrará como o nutricionista atua com as análises físico-químicas para detecção de fraudes em alimentos. Referências ANDRADE, E. C. B. Análise de alimentos: uma visão química da nutrição. São Paulo: Livraria Varela, 2015. BRASIL. Decreto-Lei nº 986, de 21 de outubro de 1969. Dispõe sobre normas básicas sobre alimentos dos Ministérios da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar. Diário Oficial da União, 1969. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2017. Consultado na internet em: 24 jul. 2021. CECCHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. Campinas, SP: UNICAMP, 2003. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. São Paulo: Atheneu, 2003. p. 652-652. GAVA, A. J.; SILVA, C. A. B. da; FRIAS, J. R. G. Tecnologia de Alimentos – Princípios e Aplicações. São Paulo, SP: Nobel, 2008. Explore + Para saber mais sobre os assuntos abordados neste conteúdo, leia: O artigo Os padrões de identidade e qualidade dos alimentos: uma análise de suas transformações no Brasil, de David, M. L. e Guivant, J. S., 2020. O artigo Fraudes em alimentos industrializados, de Oliveira, S.R.B., Moraes, L. D. S., e Coelho, C. P., 2021. O artigo Restaurantes self-service: segurança e qualidade sanitária dos alimentos servidos, de Alves, M. G. e Ueno, M., 2010. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF() Metodologia analítica, composição e rotulagem nutricional Profª. Carolina Beres Descrição Principais etapas das análises de alimentos e sua aplicação na determinação da composição dos alimentos e consequente função na formação da rotulagem. Propósito Compreender que seguir de maneira adequada as principais etapas das análises de alimentos é essencial para que os procedimentos sejam feitos de modo correto e para que os resultados obtidos sejam confiáveis. Uma das aplicações mais relevantes na análise química de alimentos é a composição centesimal, sendo possível elaborar rótulos e tabelas, os quais são importantes para recomendações nutricionais e utilização por parte de consumidores e da indústria de alimentos. Preparação Antes de iniciar seu estudo, pesquise sobre as principais tabelas de composição dos alimentos e visite alguns rótulos de alimentos. Objetivos Módulo 1 As principais etapas das análises de alimentos Listar as principais etapas das análises de alimentos. Módulo 2 A análise de composição dos alimentos na elaboração da rotulagem nutricional Empregar a análise de composição dos alimentos na elaboração da rotulagem nutricional. As análises de alimentos apresentam importância em diversas áreas do conhecimento e de aplicação comercial. Na indústria de alimentos, as análises químicas são determinantes na manutenção do controle de qualidade dos alimentos, das etapas do processo e da água utilizada na formulação dos produtos ou em etapas produtivas. Análises químicas são ferramentas de controle aplicadas nos produtos acabados, nas embalagens, na determinação da vida de prateleira dos produtos desenvolvidos e na respectiva adequação às condições de estocagem. Em institutos de pesquisa e universidades, as análises químicas são utilizadas no desenvolvimento e aprimoramento das metodologias de controle, no desenvolvimento de novos produtos, na Ciência em Alimentos e até em prestação de serviço para comunidade ou para indústrias. Os órgãos governamentais têm por função deliberar as legislações, normas e recomendações de alimentos. Desse modo, é necessária a utilização de análises químicas de alimentos para que ocorra, de maneira eficiente, a fiscalização nos processos de produção, venda e distribuição dos alimentos. Introdução Diante do exposto, faz-se necessário o conhecimento das técnicas e metodologias de análises químicas para que haja aplicação do analista responsável na rotina do controle de qualidade. Esse controle é utilizado para fazer uma avaliação desde a matéria-prima até o produto acabado pronto para comercialização, além de outros estágios do processo produtivo. Ao longo da rotina de produção, demanda-se uma maior agilidade na obtenção dos resultados, sem que ocorra perda do produto ou mesmo da rotatividade do processo produtivo. Desse modo, os métodos analíticos instrumentais são mais utilizados por serem mais rápidos que os convencionais. Nas análises de fiscalização feitas pelos órgãos específicos, o determinante para a escolha dos métodos é a exatidão e a confiabilidade. Já na área acadêmica, os métodos devem se adequar às condições do laboratório e atender às demandas do objeto de pesquisa. De preferência, os métodos devem ser exatos, precisos, sensíveis, rápidos, simples e de baixo custo. Muitas áreas da ciência tentam justamente aprimorar e melhorar as técnicas já existentes. Essas linhas de pesquisa objetivam melhorar os procedimentos de análise utilizados em todas as esferas das análises químicas de alimentos. O conhecimento sobre as análises e suas aplicabilidades em diferentes áreas é importante para o desenvolvimento de analistas com as habilidades necessárias para tal fim. AVISO: orientações sobre unidades de medida. Orientações sobre unidades de medida Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. 1 - As principais etapas das análises de alimentos Ao �nal deste módulo, você será capaz de listar as principais etapas das análises de alimentos. Preparo de soluções Para garantir a confiabilidade dos resultados, é necessário que algumas etapas sejam executadas de forma correta. Dentre essas etapas, destacam-se o preparo de soluções, a obtenção das amostras e a escolha da análise propriamente dita. A correta adequação das etapas é responsabilidade do analista que irá executar as análises dos alimentos em questão. É importante que haja confiança nos resultados, uma vez que serão a base para determinar se o alimento atende à adequação às normas vigentes. Os resultados irão, ainda, possibilitar a identificação de possíveis fraudes, além da composição centesimal do alimento para formação da rotulagem nutricional ede tabelas nutricionais. O que é uma solução? Por definição, uma solução é considerada uma dispersão homogênea de duas ou mais substâncias. Tomando as dimensões como parâmetro, uma solução apresenta tamanho de partícula menor que o encontrado em dispersões coloidais. Exemplo As gelatinas e as gomas são consideradas soluções coloidais por serem moléculas de maior diâmetro do que uma solução de água com açúcar. A solução consiste, portanto, em uma fase única, em que o soluto e o solvente formam uma mistura homogênea com aspecto uniforme. Nesse caso, ao ser centrifugada, a mistura não sofre separação das partículas nem há partículas retidas em filtração. Além disso, não é possível observar essas partículas quando utilizado o microscópio. Classificação das soluções De acordo com a quantidade de soluto dissolvido, as soluções podem ser classificadas como: As soluções também podem ser classificadas de acordo com a consistência do solvente, como soluções: Solução insaturada Solução com quantidade menor de soluto diluído em uma concentração menor que sua solubilidade na temperatura analisada. Solução saturada Em dada temperatura, a solução contém quantidade de soluto igual à sua solubilidade. A solução saturada pode conter precipitado no fundo. Concentração de soluções São parâmetros químicos utilizados para auxiliar na elaboração das soluções. A concentração de uma solução é a relação entre a quantidade do soluto e a do solvente. A quantidade de solvente e soluto pode ser dada em massa, volume ou quantidade de matéria. Há diversas maneiras de se expressar a concentração de soluções, as mais utilizadas são: Concentração em gramas por litro Utilizado para indicar a relação entre a massa (m) do soluto e o volume (v) da solução. As unidades utilizadas são grama para massa e litros para o volume. Veja a fórmula a seguir. $$C=\frac{m}{V}$$ Molaridade (M) Relação que utiliza apenas massa do soluto, desse modo não é necessário levar em consideração a temperatura do soluto. Veja a fórmula a seguir. Solução sólida O solvente é sólido e o soluto pode ser sólido, líquido ou gasoso. Ex.: aço. Solução líquida O solvente é geralmente líquido e o soluto pode ser sólido, líquido ou gasoso. Ex.: salmoura $$\mathrm{M}=\frac{\text { número de mols }}{\text { Volume }}$$ Normalidade (N) Relação entre o número equivalente/grama do soluto e o volume da solução, expresso em litros. Veja a fórmula a seguir. $$\mathrm{N}=\frac{\text{número de Eqg }}{\mathrm{V} (\mathrm{L})}$$ Fatores que influenciam as análises Os métodos utilizados na análise de alimentos estão relacionados com os objetivos dessas análises. Por exemplo, análises organolépticas relacionadas ao sabor, odor e cor; características físicas e químicas para detecção de característica físicas e/ou da presença de substâncias ou alterações químicas. Atenção! Quimicamente, as análises são importantes para determinar padrões nos alimentos além de métodos biológicos para determinação da presença de microrganismos. De uma maneira geral, os métodos começam na seleção da amostra estabilizada e no preparo desta, para que se iniciem as reações químicas ou físicas relacionadas ao objetivo em si. Por fim, os dados devem ser coletados e interpretados para que então haja a devida tomada de decisão. A escolha do método utilizado deve considerar que o alimento é uma amostra complexa, com vários elementos na matriz, os quais podem interferir no resultado da análise. Desse modo, é possível que um método considerado apropriado para identificação de um elemento em um alimento pode não ter a mesma performance em outro alimento. Por exemplo, a determinação de vitaminas em frutas com alto teor de lipídios, como um abacate, usa uma metodologia diferente da determinação de vitaminas em uma fruta com menor teor de lipídio, como um morango. Portanto, a matriz do alimento é determinante na escolha do método. Outros fatores devem ser considerados na escolha dos métodos analíticos. Veja a seguir. Alguns componentes se encontram em baixas concentrações no alimento. De acordo com a quantidade que podem ser identificados no alimento, os elementos se classificam como: maiores (com aproximadamente 1% da matriz do alimento), menores (encontrado em 0,01% a 1% na matriz alimentar), micros (com teores menores que 0,01%) e traços (com quantidade na ordem de ppm, partes por milhão, ou ppb, partes por bilhão). Para a identificação de elementos nessas concentrações, são necessários métodos mais sensíveis. Um exemplo de elemento detectado em concentrações do tipo traço são os pesticidas. No caso de componentes em maiores concentrações, os métodos mais convencionais são facilmente aplicados. Quando um composto está disponível em aproximadamente 10% da matriz alimentar, os métodos convencionais podem alcançar grau de exatidão de 99,9%. Quando o elemento é encontrado em concentrações menores que 10%, a exatidão dos métodos convencionais reduz muito, podendo ser necessário o uso de métodos instrumentais. Quantificação do componente alvo Exatidão necessária Devido à complexidade da matriz alimentar, alguns elementos podem interferir na identificação e quantificação de outros elementos. Desse modo, em análise de matrizes muito complexas, etapas de separação ou extração dos interferentes podem ser necessárias, ou até concentração da molécula alvo, como a etapa preliminar à medição final. A disponibilidade de equipamentos e de pessoal especializado pode ser um fator limitante para a escolha da análise química de alimentos, pois alguns equipamentos e reagentes são de alto custo. A complexidade da matriz alimentar exige uma especialização do analista para que haja confiabilidade das análises. Atender a esses requisitos permite que as análises químicas sejam realizadas obtendo os resultados desejados, seja na produção seja no controle de ingredientes e matérias-primas. Entretanto, outros fatores devem ser considerados para que a escolha das análises seja adequada ao objetivo pretendido. Um fator importante é a quantidade de amostras que deve ser analisada, caso seja representativa do total. Ter uma amostra representativa depende da natureza da amostra, do estado físico (sólido, líquido) e das suas dimensões. Na prática: as etapas da análise de um alimento Neste vídeo, a partir da prática, a especialista Carolina Beres demostra as etapas da análise de um alimento. Composição química da amostra Recursos disponíveis Processo de amostragem O processo de obtenção das amostras é determinante para o alcance de resultados adequados. Além disso, as amostras devem permanecer inalteradas durante o transporte e o armazenamento até o momento da análise. O ideal é que as amostras sejam armazenadas pelo menor tempo possível. Durante o deslocamento e o armazenamento, é necessário que haja procedimentos para retardar a ação biológica mediada por microrganismos, por hidrólise enzimática de compostos químicos ou por redução da volatilização. As amostras podem ser submetidas a certo número de operações e manipulações antes da análise instrumental dos compostos como preparo das amostras. O número e a natureza dessas operações geralmente dependem de algumas especificidades para separação ou detecção final dos elementos alvo: Natureza e nível de concentração dos compostos alvo Matriz C i f Como realizar a preparação das amostras? A preparação das amostras inclui processamento mecânico, como a homogeneização das amostras recebidas para qualquer tipo de medição gravimétrica ou volumétrica e tratamentos efetuados para decompor a estrutura da matriz a fim de realizar fracionamento, isolamento e enriquecimento ou concentração de elementos alvo. A coleta da amostra constitui a primeira etapa da análise química do produto. As amostras de produtos alimentícios destinadas à análise poderão ser coletadas nos locais de: Fabricação Preparo Depósito Acondicionamento TransporteExposição à venda Atenção! Componentes interferentes Seletividade Sensibilidade da técnica analítica Explicação A coleta adequada da amostra, com atenção às recomendações, viabilizará as condições ideais para o processo de análise, caso contrário, esse processo será comprometido ou impossibilitado. A amostra deve ser obtida em quantidade suficiente para a realização da análise, e precisa ser acondicionada de forma a evitar qualquer alteração. Ainda, deve ser corretamente identificada, pois a identificação adequada é importante na elaboração final do laudo analítico. As amostras mais suscetíveis a processos de deterioração devem ser conservadas em refrigerador ou congelador. Além disso, a conservação da amostra deve ser feita desde a coleta até a análise o mais rápido possível. É fundamental compreender que a análise começa com a coleta da amostra. Assim, torna-se necessário que esse procedimento seja realizado atendendo a todas as recomendações. Nos laudos ou relatórios emitidos, deverão ser registradas todas as condições em que a amostra foi recebida, tais como: tipo de embalagem, temperatura de coleta e de armazenamento, rotulagem, entre outras. A pessoa responsável pelo processo de amostragem deve ter sido treinada tanto na parte tecnológica como na analítica. O treinamento tecnológico, no que se refere ao processo de fabricação dos alimentos, possibilitará a aquisição de informações úteis que devem ser registradas no termo da coleta. Essas informações ajudam no rastreio de obtenção da amostra e, quando necessário, auxilia nas medidas corretivas ao produtor, que podem ocorrer em equipamentos ou em etapas do processamento. A amostra deverá ser representativa do lote, ou seja, uma quantidade que seja equivalente à quantidade de produto existente no local da coleta. Por isso, é recomendado que a coleta seja previamente planejada. Contudo, obter uma amostra representativa é um desafio. Em média, recomenda-se que haja o recolhimento de 12 a 36 unidades da amostra a ser analisada, sendo cada unidade de recipientes ou lotes diferentes. Atenção! Quando a amostra é direcionada para análise de agências de fiscalização, ela deve ser coletada em triplicata. Uma amostra é armazenada pelo produtor para ser usada como contraprova se necessário, e as outras duas devem ser encaminhadas ao laboratório para análise química. Em caso de não ser possível uma coleta em triplicata, deve-se enviar apenas uma amostra para agência reguladora. Os procedimentos devem seguir aqueles descritos na legislação. Onde as análises são realizadas? As análises são realizadas nos laboratórios dos órgãos de competência. O objetivo das análises realizadas por órgãos reguladores é observar se a conformidade do produto atende ao padrão de identidade e qualidade. Nas análises de controle, serão observadas as normas estabelecidas para a análise fiscal. A análise de controle também é necessária para a liberação de alimentos importados em postos alfandegários, de modo a manter a integridade da saúde dos consumidores locais. O produto não homogêneo é um desafio no momento da coleta, apresentando, por exemplo, separação de fases. Quando isso ocorre, o ideal é que haja a obtenção da amostra de vários pontos ou de diferentes recipientes. Desse modo, será possível chegar a uma conclusão da qualidade média de toda a amostra. Veja a seguir, as principais etapas e a sua importância para uma coleta adequada, permitindo assim que a análise química seja correta e qu os resultados reflitam a realidade. Explicação Acondicionamento Amostras coletadas devem ser acondicionadas imediatamente. O objetivo é impedir qualquer tipo de alteração (microbiológica ou enzimática) na amostra. A escolha do método de acondicionamento deve ser feita de acordo com o estado físico do produto (líquido, sólido ou semissólido). O tipo de análise que será submetida deve ser levado em consideração. Por exemplo, se a amostra for destinada a análises microbiológicas, ela deverá ser acondicionada em recipientes estéreis. Para alimentos industrializados, é recomendada a coleta de uma unidade do recipiente original. Alimentos ricos em gordura, fritos, úmidos ou higroscópicos devem ser acondicionados em embalagens de vidro. Para análise de pesticidas, recomenda-se o uso de embalagens de papel. A lacração das amostras destinadas à fiscalização deve evitar qualquer alteração química ou biológica do conteúdo da embalagem. A vedação pode ser realizada com uso de lacre e vedação hermética. É aconselhado o uso de selos ou lacres caso haja alguma violação. As embalagens mais utilizadas para adequada lacração são as plásticas. Usualmente, as informações são escritas à mão em etiquetas ou diretamente na embalagem. Nos recipientes em que não é possível escrever, podem ser fixados e amarrados rótulos ou etiquetas onde estejam descritas as características da amostra. No caso de amostras já embaladas, é necessário evitar que a descrição do produto e outros detalhes importantes na embalagem original não sejam ocultados pelo rótulo de identificação adicionado no processo de amostragem. A amostra deverá ser enviada para o laboratório de análise o mais rápido possível. O objetivo é manter as características originais da amostra sem que haja alteração devido a um Lacração Rotulagem Transporte transporte inadequado, por exemplo em razão de temperatura alterada ou de um trajeto demorado. O analista responsável pela coleta deverá encaminhar um documento com todas as informações necessárias para o analista que fará as análises, tais como: data e motivo da coleta; origem da amostra e data de sua produção ou aquisição; tipo e duração do armazenamento; nome e endereço do fabricante; quantidade em estoque da mercadoria; os números dos lacres e lotes das amostras. É indicado fazer uma descrição sucinta do local onde foi apreendida a amostra. No caso de alimentos perecíveis que necessitem de refrigeração, é fundamental indicar a temperatura em que se encontravam no momento da coleta. A obtenção e o preparo das amostras são etapas preliminares essenciais para todas as análises químicas e bromatológicas realizadas na determinação da qualidade dos alimentos. Além da obtenção, ao chegar ao laboratório, a amostra pode ser submetida a etapas de preparo que podem ser longas e trabalhosas, como os métodos oficiais (AOAC - Association of Official Methods of Analysis - 990). Portanto, no planejamento das análises, é necessário levar em conta o tempo e o custo de todas as etapas. 990 É o código do método oficial para preparo de amostra. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Preparo das soluções Módulo 1 - Vem que eu te explico! Termo de coleta Fatores que in�uenciam as análises Módulo 1 - Vem que eu te explico! Relação das principais etapas para a obtenção adequada de amostras de alimentos destinadas às análises químicas Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 As soluções podem ser classificadas de acordo com o teor de soluto na mistura. Com base nessa afirmação, considere a seguinte definição: “Quantidade de soluto maior que sua solubilidade e presença de precipitado no fundo da solução.” Assinale a alternativa correta que corresponde ao tipo de solução descrita acima. A Saturada B Diluída C Concentrada D Superconcentrada E Muito concentrada Parabéns! A alternativa D está correta. Dentre as classificações apresentadas, a definição indicada no enunciado está relacionada com as soluções consideradas supersaturadas, ou seja, quando o teor de soluto na solução é alto a ponto de precipitar no fundo do recipiente. Questão 2 Uma etapa determinante no processo de análise de alimentos é o transporte. Assinale a alternativa correta em relação à etapa mencionada. A O transporte deve ser refrigerado paraevitar multiplicação microbiana. B O transporte pode ser lento. C O transporte não influencia na qualidade da amostra. D O transporte deve ser feito em temperatura ambiente. E O transporte pode ser feito por qualquer indivíduo. Parabéns! A alternativa A está correta. O transporte refrigerado é essencial para manutenção da integridade da amostra. Se houver variação de temperatura, pode ocorrer multiplicação microbiana, o que pode alterar a composição do alimento. 2 - A análise de composição dos alimentos na elaboração da rotulagem nutricional Ao �nal deste módulo, você será capaz de empregar a análise de composição dos alimentos na elaboração da rotulagem nutricional. Determinação química da composição centesimal A composição centesimal consiste no conjunto de análises. Juntas, essas análises fornecem informações sobre as principais frações que constituem o alimento. As cinco principais frações que compõem o alimento são: Umidade Cinzas Proteínas Atenção! Essas frações são identificadas e quantificadas usando como princípio características individuais de cada fração. Umidade A fração umidade consiste na determinação da quantidade de água do alimento. É importante para classificá-lo de acordo com sua perecibilidade, ou seja, se é perecível, não perecível ou semiperecível. A quantificação da água é baseada na sua propriedade físico-química de volatilizar à temperatura de 105°C, visto que o seu ponto de ebulição é de 100°C. Existem diferentes métodos para determinação da quantidade de água no alimento. Vamos conhecer alguns deles a seguir. Secagem em estufa É o método mais utilizado em alimentos. Está baseado na remoção da água por aquecimento com ar quente, o qual é absorvido por uma camada muito fina do alimento e, em seguida, conduzido para o interior do alimento. Essa transferência de calor por condução é lenta, logo costuma levar muito tempo para o calor atingir as porções mais internas do alimento. Quanto tempo pode levar esse método? Lipídios Carboidratos Esse método pode levar aproximadamente de 6 a 18 horas em 100 a 105°C, ou até peso constante, ou seja, até que não haja mais alteração do peso do alimento. O processo de evaporação apresenta algumas limitações: uma remoção incompleta da água se estiver fortemente ligada por pontes de hidratação ou se sua evaporação for reduzida por formação de crosta na superfície. Além disso, na evaporação até peso constante, pode ocorrer uma superestimação do teor de umidade por perda de substâncias voláteis ou por reações de decomposição. Esse método apresenta vantagens como ser simples e de fácil execução, pois necessita de poucos objetos, como uma estufa e cadinhos para colocar as amostras. Contudo, a exatidão do método é influenciada por diferentes fatores, como a temperatura de secagem que deve ser um pouco acima de 100oC, para evaporar a água à pressão atmosférica na estufa simples. Na estufa a vácuo, essa temperatura pode ser reduzida a aproximadamente 70oC, preservando a amostra e evitando a formação de crostas na superfície. A amostra do alimento deve ser moída com tamanho menor possível para aumentar a superfície de contato e facilitar a evaporação da água. Existem diferentes tipos de cadinhos utilizados para secagem de amostras. Eles diferem nos seguintes aspectos: Materiais Como alumínio, platina, vidro e porcelana. Formatos Como maiores e menores, e fundos e rasos. Acredita-se que a combinação de cadinhos maiores, mais rasos e de alumínio acelere o processo de secagem, entretanto, deve-se adequar o método da análise às condições laboratoriais disponíveis. A estufa pode ser de ventilação ou simples. A secagem com ventilação acelera o processo por permitir uma maior interação entre o vapor Explicação quente e a amostra. Ao ser removida da estufa, a amostra está em alta temperatura. Para que não haja interferência na medição, a amostra deve ser resfriada em dessecador para, em seguida, ser inserida na balança de medição. Saiba mais As estufas mais utilizadas são as simples, as simples com ventilação e as estufas a vácuo. As estufas são importantes uma vez que são usadas em amostras de alimentos que se decompõem em alta temperatura. No início do processo de determinação da umidade, as amostras devem ser preparadas para que haja a correta aplicação do método. De acordo com as características das amostras, procedimentos podem ser adotados para potencializar ou até permitir o processo de evaporação. As amostras líquidas, como sucos e sopas, por exemplo, precisam ser previamente evaporadas em banho-maria para que alcancem uma consistência mais pastosa, e apenas então serão acondicionadas na estufa. As amostras açucaradas têm uma maior tendência a formar uma crosta dura que impede a evaporação da água. Dica Uma alternativa para evitar a formação dessa crosta nas amostras açucaradas é a adição de areia ou pó de pedra-pomes misturada na amostra para aumentar a superfície de contato e, portanto, intensificar a evaporação. Em média, o peso utilizado para análise de umidade varia entre 2 e 5g, e o ideal é que ela seja espalhada uniformemente no cadinho. Alguns cuidados devem ser tomados ao longo do processo para que haja uma adequada performance da análise de umidade, tais como: Assegurar-se de que a cápsula, ou o cadinho utilizado na análise, esteja seca e previamente tarada. O contato entre o analista e a cápsula deve ser sempre com pinça ou papel a fim de evitar passagem de umidade da mão para o cadinho. O conjunto cápsula e amostra seca deve ser acondicionado em dessecador até atingir temperatura ambiente para adequada medição. O peso da água evaporada vai ser igual à diferença entre o peso da amostra úmida e o peso da amostra seca. É importante se lembrar de sempre descontar o peso da cápsula vazia para obter o peso da amostra seca. O método de determinação de umidade por secagem apresenta as seguintes limitações: Produtos com alto teor de açúcar e carnes com alto teor de gordura devem ser secos em estufa a vácuo em temperatura não excedendo a 70°C, para evitar possíveis alterações na matriz alimentar. O método não é indicado para amostras com alto teor de substâncias voláteis, como os condimentos, por exemplo. A razão dessa contraindicação é a possibilidade de ocorrer a volatilização dessas substâncias, com perda de peso na amostra, que acaba sendo computada como perda de água. Primeira limitação Segunda limitação Alguns produtos são muito higroscópicos, ou seja, absorvem água do meio, portanto devem ser mantidos no dessecador tampado ao saírem da estufa e pesados rapidamente após chegarem à temperatura ambiente. A reação de caramelização em açúcares é acelerada a altas temperaturas. Portanto, produtos nessas condições devem ser secos em estufa a vácuo a 60°C. Alimentos contendo açúcares redutores e proteínas podem sofrer escurecimento por reação de Maillard, com formação de compostos voláteis, como CO2, pequenos hidrocarbonetos, e produtos intermediários, como aldeído e hidroximetilfurfural. Esses compostos voláteis serão contabilizados de forma equivocada, como água evaporada na estufa. Secagem por radiação infravermelha Apresenta como vantagem o fato de permitir melhor penetração do calor no interior da amostra, tornando-se um método mais efetivo, reduzindo em até 30% o tempo de secagem. O método consiste em uma lâmpada de radiação infravermelha de 250 a 500 watts, cujo filamento emite calor na ordem de 700oC. Terceira limitação Quarta limitação Quinta limitação A distância entre a lâmpada e a amostra é importante no processo de secagem e deve ser de 10cm para não haver decomposição da amostra. A amostra deve ter uma altura de 10 a 15mm no recipiente. O tempo de secagem varia de acordo com a natureza da amostra, por exemplo: 20 minutos para produtos cárneos e 10 minutos para grãos, que são naturalmente mais secos. O peso da amostra deve variar entre 2,5 a 10g. Equipamentos
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