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Fundamentos da Ginástica Fundamentos da Ginástica Aracaju, 2019 Fabio José Antonio da Silva Fabiana Medeiros de Almeida Silva Copyright © Sociedade de Educação Tiradentes SIB- Sistema Integrado de Bibliotecas Redação: Pró-reitoria Adjunta de Educação a Distância Rua Simão Dias, 236 - Centro CEP: 49010-430 - Aracaju / SE Tel.: (79) 3218-2487 Site: www.unit.br Impressão: Gráfica Gutemberg Telefone: (79) 3218-2154 E-mail: grafica@unit.br Banco de Imagens: istockphoto Jouberto Uchôa de Mendonça Reitor Amélia Maria Cerqueira Uchôa Vice-Reitora Saumineo da Silva Nascimento Superintendente Geral Marcelo Adler Superintendente Administrativo e Financeiro Temisson José dos Santos Superintendente Acadêmico Arleide Barreto Silva Pró-reitora de Graduação Josenito Oliveira Santos Pró-reitor Administrativo Financeiro Luis Carlos Cambauva Beltrami Gerente de Operações de Ead Karen Michelly Moraes e Sasaki Gerente Acadêmica de Ead Lígia de Goes Costa Mirian Cunha Dantas Silva Assessoras Pedagógicas e Correção Ortográfica PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS Lucas Cerqueira do Vale Gerente de Produção Audiovisuais Andira Maltas dos Santos Designer Gráfico Edivan Santos Guimarães Jhully Stefany Lopes Andrade Diagramadores Matheus Oliveira dos Santos Shirley Jacy Santos Gomes Ilustradores Silva, Fabio José Antonio da S586f Fundamentos de ginástica / Fábio José Antonio da Silva, Fabiana Medeiros de Almeida Silva - Aracaju: UNIT, 2019. 178 p. il. ; 23 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7833-424-6 1. Ginástica. 2. Métodos ginásticos. 3. Capoeira regional 4. Ginástica de competição ou desportiva I. Silva, Fábio José Antonio da. II. Silva, Fabiana Medeiros de Almeida III. Título. CDU: 796.41 Apresentaçãor Olá, caros alunos! O conteúdo deste livro de Fundamentos da Ginástica servirá para aprimorar os conhecimentos históricos a respeito da evolução da gi- nástica ao longo dos tempos, proporcionando uma visão holística, relacionando alguns aspectos filosóficos, ideológicos e educacionais no contexto de uma socie- dade ética e cidadã, em seu processo de aquisição de conhecimento dos funda- mentos da ginástica. Neste sentido, iremos analisar a origem e a evolução histórica da ginástica, a teoria e a sua prática nas diversas formas de ginástica, partindo de seus idealiza- dores, bem como seus fundamentos técnicos e teóricos, proporcionando apren- dizado a respeito dos componentes básicos e sua atual diversidade e possíveis aplicabilidade, sendo um elemento da cultura corporal em distintos ambientes, dando suporte direto à prática profissional. O estudo conjunto em EAD oferecerá também a oportunidade de se apri- morar de forma técnica-científica, fazendo refletir sobre a evolução histórica e metodológica da ginástica, analisando criticamente a sua evolução histórico-des- critiva em diversas metodologias ginásticas, aproveitando determinadas fases sócio-político-culturais da Educação Física no Brasil, bem como a possibilidade da modalidade Ginástica como instrumento de desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo. SumÁrio 09 Parte1: NATUREZA, HISTÓRIA E GÊNESE DA GINÁSTICA 11 Tema 1: Classificação, terminologia e definições da Ginástica 13 1.1 História da Ginástica 27 1.2 História da Ginástica no Brasil 35 1.3 Ginástica – elementos constitutivos 45 1.4 Classificação dos exercícios físicos 53 Tema 2: Os Métodos Ginásticos: SUECO, INGLÊS E CALISTENIA 55 2.1 ESTUDO CRÍTICO E VIVÊNCIA DO SISTEMA DE GINÁSTICA SUECA ANTIGA E MODERNA 63 2.2 ESTUDO CRÍTICO E VIVÊNCIA DO SISTEMA DE GINÁSTICA INGLESA 70 2.3 ESTUDO CRÍTICO E VIVÊNCIA DA CALISTENIA 82 2.4 FORMAS BÁSICAS DA GINÁSTICA: LIVRE E COM APARELHOS Parte 2: MÉTODOS GINÁSTICOS 91 tema 3: Os métodos Ginásticos: Alemão, Natural de Hebert e Francês 93 3.1 Estudo crítico e vivência do Método Alemão 95 3.2 Estudo crítico e vivência do Método Natural de Hebert 103 3.3 Estudo crítico e vivência do Método Francês - Exército 111 3.4 Estudo crítico e vivência do Método Francês Escola 118 tema 4: Ginástica de competição ou desportiva 125 4.1 SISTEMA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DESPORTIVA GENERALIZADA 127 4.2 GINÁSTICA NA ATUALIDADE 136 4.3 EXPERIÊNCIAS METODOLÓGICAS DA GINÁSTICA 148 4.4 PRÁTICA DE ENSINO DA GINÁSTICA 157 ReferÊncias 170 Parte 1 NATUREZA, HISTÓRIA E GÊNESE DA GINÁSTICA tema 1 Classificação, termi- nologia e definições da Ginástica Caro aluno, seja bem-vindo ao Tema 1 da disciplina de Fundamentos da Ginástica. Neste tema, serão tratados os conteúdos relativos à História da Ginástica, o seu surgimento até os dias atuais e a História da Ginástica no Brasil, a forma como se deu a entrada dela no cenário educacional brasileiro. Abordaremos também os elementos constitutivos da Ginástica com o esclarecimento das diversas formas de manifestação corporal e, por fim, teremos uma visão classificatória dos exercícios físicos, sem nos esquecermos da diferença clássica entre exercício físico e atividade física. 1.1 HISTÓRIA DA GINÁSTICA A modalidade Ginástica originou-se a partir de inúmeros con- ceitos, tomando para si diversas funções, em que, através dos tempos em diferentes culturas, obteve uma gama de significados e objetivos, conforme a sociedade em que estava inserida e sua época. É claro que a expressão "Ginástica" aplicada ao primata é, de certa forma, incongruente, pois o exercício físico não estava sistema- tizado, regulamentado e estudado cientificamente, mas levando em consideração todos estes quesitos, o homem da pré-história pôde nos mostrar o início de tudo. Pelas condições de sobrevivência, o cotidia- no, naquela época, praticamente se assemelhava muito com o que sabemos sobre Educação Física hoje, pois os primatas daquela épo- ca, para sobreviver, precisam caçar, pescar, fugir de presa, conseguir alimentos e, para isso, corriam, saltavam, arremessavam, nadavam, enfim, realizavam uma série de movimentos que se associava muito ao que chamamos de formas básicas de locomoção. Para nosso estudo, iremos abordar alguns conceitos de ativida- des físicas realizadas na pré-história, dentro dos seguintes aspectos: Natural, Utilitário, Guerreiro, Recreativo e Religioso. 1 - ASPECTO NATURAL: são atividades físicas realizadas de forma instintiva, ou seja, como meio de sobrevivência. Como exemplo, citamos a corrida, para fugir do perigo ou para alcançar a caça; a natação, para atravessar rios e lagos e alimentar-se; a caminhada, à procura da caça, da pesca e do abrigo, entre outras atividades. 14 Fundamentos da Ginástica Desenho ilustrando o modelo de caça na pré- historia 2 - ASPECTO UTILITÁRIO: caçando ou pescando, inúmeras ve- zes a lança foi atirada de forma incorreta, fazendo com que o primata perdesse sua alimentação. Ele percebeu que precisa- va "treinar" aquele gesto, para que, quando surgisse a opor- tunidade, pudesse ter êxito no lance. Essa sistematização de ações fez com que o aspecto instintivo se tornasse algo utilitário, devido a sua intencionalidade. Charge dos homens primitivos famintos Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 15 3- ASPECTO GUERREIRO: com o domínio da natureza, o ho- mem aos poucos cria grupos, em especial, aqueles que do- minam o pastoreio e a agricultura, bem como demais grupos que ainda sobrevivem da caça e da coleta de frutos silves- tres. Ao perceber a fartura daqueles, alguns grupos passam a treinar no manuseio das armas para atacar e apossar-se daqueles alimentos. Os sobreviventes perceberam que não bastava criar o gado e armazenar os cereais, era necessário dedicar atenção ao preparo para lutas e às medidas de segu- rança. Diante disso, via-se a prática da Educação Física sob o olhar guerreiro. Lança utilizada pelos primatas americanaos 4 - ASPECTO RECREATIVO: entre os primatas, também, existia a parte lúdica, recreativas, pois brincavam de correr, saltar em altura, lutavam, dançavam, atiravam ao alvo, faziam en- cenações representandoepisódios de caça, cenas cômicas e de combates, além das pinturas rupestres. Era o aspecto recreativo presente entre os pré-históricos. 16 Fundamentos da Ginástica Composição de uma família na idade da pedra no momento do registro em pinturas rupestres 5 - ASPECTO RELIGIOSO: A fim de reverenciar os deuses e seus espíritos, o primata conduzia atividades rítmicas e danças. Ao som de bastões, tambores, palmas, gritos e ruí- dos, realizavam movimentos característicos da religião, em que os braços, mãos, cabeça, tronco, balanceios, saltitos, passos, corridas e batidas de pés externavam sua adoração. Desenho de um homem primata dançando em volta do Deus Fogo Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 17 Na Antiguidade, quando se pensa nas civilizações mais evolu- ídas, principalmente na porção oriental do planeta, os exercícios físi- cos aparecem em diversas formas, destacando-se a luta, a natação, o remo, a arte de atirar com o arco, presente em alguns jogos, nos rituais religiosos e na preparação guerreira. A modalidade ginástica aparece aqui como representação de um conjunto de atividades físicas, baseada na massagem e nos mo- vimentos respiratórios, com uma frequência diária e com objetivos curativistas e morais. Com algumas particularidades próprias de cada povo, todas as civilizações da antiguidade, que temos conhecimento, retratavam por meio de desenhos e escrituras, algo bastante parecido com a ginástica Quando se pensa em antiguidade, os povos chineses consti- tuem um dos povos mais antigos do globo terrestre. Possuíam uma educação organizada, com escolas de diversos níveis. A Ginástica, além de pertencer ao currículo escolar, estava ha- bituada entre os preceitos morais e religiosos, o que proporcionou a esta população uma representatividade de alto nível mundial. Assim, graças aos clérigos e aos filósofos, a “Educação Física” era encarada com muita seriedade pelo povo chinês. Uma arte marcial bastante evidenciada naquela população, o kung-fu, além de uma filosofia de vida, era um notável tratado de Gi- nástica elaborado pelos monges. A prática do kung fu contava com exercícios ativos, passivos e mistos, exercícios posturais, respirató- rios, diversos tipos de massagens, colaborando para os benefícios fi- siológicos e curativos de cada exercício. Além das práticas morais e higiênicas, os chineses praticavam muitas outras atividades físicas, em formato de esportes, tais como: o 18 Fundamentos da Ginástica arco e a flecha, a luta, o boxe, os jogos imitativos, a esgrima de sabre, o Tsu-Chu (semelhante ao futebol), o voador (peteca), a caça, danças religiosas e pantominas. Saindo da China e chegando à civilização hinduísta, originária do Indico, onde temos como registro de fontes históricas as escritas de alguns livros, como exemplo, os livros Vedas, podemos perceber o quanto nos damos conta de que os hindus praticavam uma espécie de ginástica, exercícios respiratórios, massagens, hidroterapia, equita- ção, boxe, lutas, corridas, natação, dança, pólo, esgrima e alguns lan- çamentos de alguns objetos, sendo considerados guerreiros temíveis. Os hindus possuíam cidades fortificadas, usavam os elefantes nas batalhas como estratégia para conduzir dezenas de arqueiros, favore- cendo, de certa forma, o ataque ao inimigo. A Ginástica, naquela época, se destacava no ambiente escolar, recebendo especial atenção dentro do seio familiar e nos templos re- ligiosos. Os conceitos de higiene faziam parte da essência moral e re- ligiosa do povo hinduísta. Quando olhamos para outros povos, como os egípcios, medos, persas, fenícios e assírios, eram considerados os povos mais conhe- cidos entre os povos da antiguidade localizados no Oriente Próximo. Os registros históricos apontam que a população fenícia possuía uma destreza para navegação inconfundível. Os povos assírios e caldeus possuíam a característica de guerreiros cruéis. Os hebreus deixaram legados preciosos a respeito de higiene, e que os povos chamados Medos e os Persas eram dotados de uma inteligente singular, sendo dinâmicos, honrados e lutadores. Considerado clima quente e recebendo as cheias periódicas do Nilo de forma periódica, era natural que os egípcios desenvolvessem alguns hábitos e costumes, tais como: higiênicos, exercícios, alimen- tares e vestuário. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 19 Por se tratar de um continente repleto de rios, a natação era bastante praticada por homens e mulheres, sendo o remo, a navega- ção e a caça nos rios e pântanos muito apreciados. A ginástica rítmica e as danças tiveram alta expressão no Egito, seja sob o aspecto religioso, profano ou militar. Sob o aspecto militar, além do manejo do arco e da flecha, pra- ticavam a corrida de carros de guerra, arremesso de lança, a esgrima, corridas de velocidade e resistência. Quando chegamos à Grécia, podemos ter a certeza, de acordo com a história, que foi nesta parte do mundo que se definiu o conceito de Ginástica, em que exercícios ginásticos eram praticados sem rou- pas, banhados com óleo, nos ginásios, sob uma determinada orienta- ção realizada por preparadores físicos e alguns filósofos, objetivando a formação humanística, nos aspectos físico, intelectual, filosófico, artístico e moral. Para entendermos melhor este berço da ginástica, a Grécia era dividida basicamente entre duas civilizações: Atenas e Esparta, com suas particularidades bem definidas. Os atenienses, pela harmonia de suas linhas corpóreas, delica- deza de semblante, inteligência, coragem e cultura, foram considera- dos o ícone da beleza humana. O povo espartano era considerado rude, forte, enérgicos, colo- cando o amor à nação acima de tudo, colaborando, de certa forma, para que a educação espartana objetivasse formar soldados eficientes e prontos a morrer pela Pátria. Segundo Bloch (1965), a educação espartana consistia em par- tes uma espécie de Educação Física, em que era deixada de lado a 20 Fundamentos da Ginástica educação cívica, embora os jovens espartanos recebessem apenas al- guns ensinamentos básicos de matemática, leitura e também poesia. Não eram apenas os meninos que recebiam a educação física, mas também as meninas, elas eram incentivadas a participarem de jogos públicos, realizando provas de corridas, manipulação de arco e a fle- cha, chegavam a dirigir carros de combate e lutavam como se fossem homens. Além de terem essa formação guerreira, também tinham a obrigação de se manterem belas, fortes e saudáveis, pois aproximan- dante aos 20 anos de idade estavam prontas para se casarem e gerar filhos saudáveis, mas eram, incansavelmente, instruídas a colocar o amor a Pátria acima do amor maternal, ou seja, se houvesse a neces- sidade de deixar os filhos para lutar, elas partiriam para o combate. Na educação ateniense, os conceitos e as condutas eram bem diferentes. Do nascimento até os sete anos de idade, os meninos fi- cavam integralmente ao cuidado da mãe, brincando livremente, sem qualquer tipo de preocupação. A partir dos sete anos de idade, in- gressavam na escola onde aprendiam a ler e escrever, aulas de can- to, música, jogos e como portar-se na sociedade. Com esse conteúdo curricular, a população ateniense buscava a formação integral do in- divíduo, sendo composta por alma, corpo e mente. Quando o menino atingia a casa dos doze anos de idade, até por vol- ta dos seus quinzes anos, os estudos na escola se especializavam, princi- palmente em artes, astronomia, matemática, algumas leis específicas da época e literatura. A prática da ginástica se tornava cada vez mais rígida. Ao completarem quinze anos até os dezoito anos, os meninos recebiam a ginástica com mais riqueza de movimentos e rigidez, em que acabavam por se dedicar às modalidades de atletismo. E, por fim, dos dezoito aos vinte anos de idade, eles ingressavam num centro de formação militar chamado de na “efebia”, no qual eram instruídos ao treinamento cívico/militar,bem como ensinamentos sobre política, administração e oratória. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 21 Por outro lado, as meninas atenienses eram educadas pela figu- ra materna, sendo toda a educação voltada para o ambiente domésti- co, em que aprendiam a arte de fiar, costurar, bordar, ler, escrever, to- car algum instrumento musical, em especial a citara, dançar e praticar alguns jogos, nada muito comparado com os meninos. Em relação às praticas esportivas e de ginástica, os gregos pos- suíam excelentes locais como: a) Estádio – espaço destinado à realização de corridas de velo- cidade e resistência. b) Palestra – local reservado às práticas de lutas. c) Hipódromo – corridas de cavalo e de carro eram realizados neste local. d) Ginásio – espaço destinado à prática da ginástica, de alguns jogos e em alguns momentos à educação intelectual, realiza- da por alguns pensadores da época. Ao se tratar do templo da ginástica, não podemos deixar de res- saltar os mais célebres jogos, que foram os Olímpicos. Tinha como período de realização de 4 em 4 anos, em honra de Zeus, o rei dos deuses. A primeira edição é datada de 776 A.C., sendo extintos em 394 D.C. pelo imperador romano Teodósio, sendo realizadas, neste perío- do de aproxidamente 1200 anos, em torno de 291 Olimpíadas. Ao se pensar em Olimpíadas, todas as guerras e batalhas que estavam acontecendo na época eram cessadas, para a realização ex- clusiva dos jogos. Neste espírito de paz, todas as cidades se reconci- liavam, e todos tinham livre trânsito para Olímpia, em que ninguém 22 Fundamentos da Ginástica podia ser incomodado e, de forma bastante severa, nenhuma arma entrava na cidade no período dos Jogos. Na véspera do início dos Jogos Olímpicos, realizavam-se, à noite, banquetes, procissões e ritos sagrados e ao clarear o dia, com um ma- jestoso desfile de apresentação dos atletas, iniciavam-se os Jogos. Para se classificar para os jogos, o atleta passava por rigorosos testes e provas, como uma espécie de seletiva em sua cidade de origem, devendo cumprir alguns requisitos prévios, tais como: ser grego de nascimento, homem, não ter nascido de pais idosos, não ter cometido crimes contra o Estado ou a Religião, nunca chegar atrasado para qual- quer evento ou situação e jurar obedecer às regras e às autoridades. De acordo com a história, a primeira Olimpíada que se tem registro contou apenas com a prova de corrida, sendo incluídas, mais tarde, outras modalidades, como: corridas de resistência, arremesses de disco e dardo, lutas, saltos em distância, corridas a cavaIo, de carro e pentatlo. Com estas inclusões, a programação das Olimpíadas passou a durar uma semana. Ao dar por encerradas as disputas, os atletas vitoriosos eram coroados com uma coroa de louros diante do templo de Zeus e rece- biam um ramo de Oliveira, seguindo de outras solenidades religiosas, banquetes e comemorações. Essas premiações marcam a caracterís- tica histórica daquela época. Com o passar dos anos, especialmente após a invasão romana, os Jogos Olímpicos foram perdendo seu caráter espiritual e de pureza moral, fazendo surgir o caráter profissional das competições, mesmo que de forma disfarçada. Corrupções, apostas, vantagens indevidas para os atletas em sua cidade natal, os romanos passaram a ver os jogos como uma espécie de diversão à custa de outros. Essa desca- racterização da essência dos Jogos Olímpicos fez com que o Império Grego entrasse em decadência. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 23 Com a decadência da Sociedade Grega, o Império Romano sur- ge como uma potência diferenciada, embora, algumas características gregas se assemelhavam à cultura romana, pois a população romana, de diversas idades, praticava diariamente uma espécie de Educação Física em um espaço chamado campo de Marte. Neste espaço, eles corriam, nadavam, saltavam, carregavam pesos, arremessavam lan- ças e outros objetos e lutavam, além de praticarem equitação. Os romanos apreciavam grandes espetáculos públicos em que houvesse perigo de vida e corresse sangue. Para que isso acontecesse, notáveis anfiteatros (Coliseu) e circos (Máximus) foram construídos. Jogos de estádio, como as competições atléticas e equestres, eram realizados pelos romanos com bastante expressão, diferente- mente dos jogos de circo e anfiteatro que não tinham tanta adesão. Jogos e festas em homenagem às divindades e algumas datas come- morativas, também eram costumeiramente realizados. Os governan- tes, na vontade de agradar o povo para se manter no poder, estimu- lavam cada vez mais o número de jogos e decretavam mais dias de feriados, em que distribuíam alimentos para a população, característi- ca elementar da célebre frase “Pão e Circo”. Esse relaxamento físico e moral, aliado a outras causas, foi o ponto de partida, o estopim, para a decadência do Império Romano. Chegando à Idade Média, um período caracterizado pela quebra do poder romano, surgem pequenos reinos e senhores em toda a Eu- ropa, denominado feudalismo. Considerando os jogos na velha Grécia como uma oferenda a deuses e em Roma como espetáculos mortais, a religião cristã, con- solidada na época, fez por acabar com toda elas e suas manifestações, em que pregava a ideia de que o corpo era vil e fonte de pecados, e que a Igreja tinha como ideal o culto ao corpo, mas na parte espiritual. 24 Fundamentos da Ginástica Com esse comportamento eclesiástico em relação às praticas corporais, a Educação Física foi esquecida por algum tempo, reto- mando seu lugar de destaque com o surgimento da Cavalaria e das Cruzadas. No período feudal, as atividades físicas consistiam basicamente na caça, na pesca, em jogos infantis, nas danças, alguns jogos popula- res, nas lutas e nos arremessos. Dentre os jogos praticados nos feudos, o mais apreciado era o "soule", uma espécie de futebol, que tinha como objetivo atingir com a bola, jogada de qualquer forma, um alvo defendido pela equipe ad- versária. Ganhava o jogo, a equipe que conseguisse levar a bola até a praça do povoado adversária. A nobreza participava das Justas e dos Torneios. A Justa consistia numa competição “amigável” entre dois cavaleiros que, conduzindo um cavalo e protegidos por armaduras, estando munidos de lança e espada, lutavam um contra o outro, tentando derrubar e dominar o adversário. Com o Renascimento (1400 a 1727), período de transformações e despertamento cultural e ideológico, um período de propagação das ciências e das artes, também serviu para o ressurgimento da cultura física, aquela lá no período grego. O interesse pelo corpo sempre foi um aspecto a ser considerado pelo homem, fez com que no período renascentista, pudesse ressurgir a cultura física, e junto com ela vieram as artes, a música, a ciência e a literatura. A beleza corporal, antes pecaminosa, é novamente explorada, contribuindo para que surgissem grandes artistas como Leonardo da Vinci, considerado por muitos como o responsável pela criação, utilizada até hoje, das regras proporcionais do corpo humano. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 25 O retorno da Educação Física Escolar também teve destaque neste período, em que no ano de 1493, Vitório de Feltre fundou a esco- la "La Casa Giocosa" cujo conteúdo programático incluía os exercícios físicos. O Renascimento foi um período marcante e positivista para a cultura física, fazendo ressurgir o interesse e o prazer pela prática de atividades físicas. Neste mesmo período renascentista, na Inglaterra, o iluminismo ganha corpo, cujo objetivo maior desse movimento era contrário ao abuso do poder no campo social. Foi neste período que Jean-Jaques Rousseau e Johann Pestalozzi se destacaram pelos seus pensamen- tos e ideais. Rousseau ressaltou a importância da Educação Física para a educação infantil. Segundo ele, a prática do movimento gastava ener- gia o suficiente para manter o corpo vivo e pensante. Com essamovimentação toda de pensadores iluministas, é na Idade Contemporânea que ocorre o aparecimento do esporte moder- no, a sistematização da ginástica, e a Educação Física Escolar ganha corpo, e por esse motivo surgem elementos para compreendermos e analisarmos as atuais tendências da educação física mundial. Devido às questões políticas e sociais acontecendo na Europa, em consonância com as situações da Instituições Educacionais in- fluenciadas diretamente por pensadores como Jean-Jacques Rousse- au e Johann Heinrich Pestalozzi, surgem os métodos ginásticos que veremos logo mais no próximo conteúdo, que são os métodos Ale- mão, Natural de Herbert e o Frances, tanto no exército quanto na es- cola (BREGOLATO, 2002). 26 Fundamentos da Ginástica O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO D Classificação das atividades físicas na pré-história dentro dos as- pectos: Natural, Utilitário, Guerreiro, Recreativo, Religioso. D Ginástica na Idade Média (China e Índia). D Ginástica na Idade Moderna (Grécia e Roma). D Ginástica na Idade Contemporânea (Alemanha e França). Leitura Complementar D RAMOS, Jayr Jordão. Exercício Físico na História e na Arte: do homem primitivo aos nossos dias. São Paulo: IBRASA, 1982. Sugestão de leitura como fixação do conteúdo. O aluno deverá ler o capítulo 2, pois terá uma visão ideal de como eram realizados os exer- cícios ao longo da história. D SOUZA, E. P. M. de. Ginástica geral: uma área do conhecimento da educação física. Campinas, 1997. Tese (Doutorado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997. Sugestão de leitura como fixação do conteúdo. A tese em questão traz alguns elementos que agregará ao conteúdo trabalhado neste tópico, favorecendo um entendimento mais rico do assunto. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 27 1.2 HISTÓRIA DA GINÁSTICA NO BRASIL A Ginástica foi inserida no Brasil em meados do século XVIII, visando à preparação física dos soldados da Corte, sendo o método Alemão o primeiro sistema de Ginástica a ser implantado no país (Betti, 1991). Alguns autores ressaltam que o método alemão foi introduzido no Brasil devido ao processo imigratório ocorrido daquele país, princi- palmente os refugiados de guerra. Por se tratar de uma prática reque- rente no território alemão, em 1860, este método foi oficializado como o método do Exército do Brasil. Estilo de praticante de ginástica quando introduzida no Brasil Fonte:http://www.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/eef/historico1.html 28 Fundamentos da Ginástica Em 1822, as práticas de Ginásticas se consolidam no ambiente ecolar, onde Rui Barbosa deu seu parecer sobre o Projeto 224 — Reforma Leôn- cio de Carvalho, Decreto n. 7.247, de 19 de abril de 1879, da Instrução Pública —, no qual defendeu a inclusão da ginástica nas escolas e a equiparação dos professores de ginástica aos das outras disciplinas. Nesse parecer, ele destacou e explicitou sua ideia sobre a importância de se ter um corpo saudável para sustentar a atividade intelectual (BRASIL, 1997, p. 19). As mudanças ocorridas no Brasil, principalmente com as refor- mas no processo educacional, fizeram com que as autoridades reco- mendassem a ginástica como obrigatória para ambos os sexos, e que fosse oferecida para as escolas tradicionais, porém apenas as escolas da corte imperial e as escolas militares passaram a incluir o modelo ginástico em seus currículos escolares. Talvez a não adesão à prática da ginástica militarizada pela escola tradicional ocorreu pelo fato de que, naquela época, a educação física sofria uma influência pontual do movimento escola-novista, objetivando o desenvolvimento inte- gral do cidadão durante as práticas de Educação Física. Devido a esse conflito de ideais, surge a possibilidade de os pro- fissionais da educação discutir os métodos, as práticas e os proble- mas relativos ao ensino da Educação Física Escolar, na III Conferência Nacional de Educação, em 1929. O modelo adotado de Educação Física, nesse período, era base- ado em métodos europeus, iniciados por alguns conceitos do modelo sueco, passando pelo alemão e chegando até o método francês, sendo este último pautado em princípios biológicos. Tais métodos compu- nham um movimento mais amplo, de natureza cultural, política e cien- tífica, conhecido como Movimento Ginástico Europeu, e foi a primeira Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 29 organização científica da Educação Física ocidental, especificamente fora da Europa. Em 1920, o espaço escolar passa a receber influências do Mé- todo Francês, em que vários estados, de forma autônoma, passam a discutir e realizar suas reformas educacionais, incluindo a Educação Física na grade curricular, mas denominada de Ginástica. Diante da consolidação desse método, ele passa a ser obrigatório nas escolas brasileiras até por volta de 1960, quando, então, com as vitórias da seleção canarinho em copas do mundo, insere o esporte no ambien- te escolar. Com essa modalidade sendo inserida na escola, a nomen- clatura “ginástica” perde espaço, sendo utilizada Educação Física, e a Ginástica aos poucos vai deixando de ser a Educação Física para se tornar um conteúdo dela (Ayoub, 2003). Do fim do chamado Estado Novo até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) datada de 1961, um amplo debate ocorreu com foco no sistema de ensino brasileiro. Nesta LDB, determinou-se a obrigatoriedade da Educação Física para o ensino primário e médio daquela época, em que o esporte passou a ocupar cada vez mais espaço nas aulas de Educação Física Escolar. A entrada do esporte nas aulas gerou um processo de esportivi- zação da Educação Física Escolar, contradizendo aos antigos métodos de ginástica tradicionais e uma tentativa de incorporar esporte, agora como uma prática pedagógica adequada e com objetivos estabelecidos. Com a promulgação da lei n° 5.692, a Educação Física foi eleva- da em seu caráter instrumental, pois passou a ser considerada uma atividade eminentemente prática, voltada para a capacidade técnica e física do aluno. No tocante ao espaço escolar, à luz do Decreto n. 69.450, de 1971, considerou-se a Educação Física como “a atividade que, por seus 30 Fundamentos da Ginástica meios, processos e técnicas, desenvolvem e aprimoram forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando”. A falta de direciona- mento e objetivada do referido do decreto, manteve a ênfase na apti- dão física, tanto na elaboração das atividades como no seu controle e avaliação. A iniciação esportiva, a partir da quinta série, tornou-se um dos elementos fundamentais de ensino, em que se almejava a des- coberta de novos talentos que pudessem participar de competições nacionais e internacionais, como forma de representar o país. Nes- se período, o modelo piramidal norteou as diretrizes políticas para a prática da Educação Física, em que a Educação Física Escolar fosse capaz de promover a melhoria da aptidão física da população escolar, objetivando a organização desportiva para a comunidade, compondo o desporto de massa que se colaboraria com a seleção de indivíduos aptos para competir dentro e fora do país (Figueiredo, 2008). Os efeitos desse modelo começaram a ser sentidos e contesta- dos por meio da falta de talentos olímpicos, bem como a ausência de competições esportivas, causando, de certa forma, uma baixa adesão de praticantes às atividades físico-esportivas. Com uma crise de identidade instalada, foram necessárias al- gumas mudanças nas políticas educacionais, em que a educação físi- ca passou a atender as séries da educação básica do país, sendo esta nova inclusão com o objetivo de enfocar o desenvolvimento psicomo- tor do aluno, tirando da escola a função de promover os esportes de alto rendimento, principalmente na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica31 A nova LDB promulgada em 20 de dezembro de 1996 vem bus- car a transformação da identidade que a Educação Física assumiu nos últimos anos, explicitado no art. 26: § 3º, que “a Educação Física, integrada à proposta pe- dagógica da escola, é componente curricular da Educa- ção Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condi- ções da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Diante da nova LDB, a Educação Física passa a ser abordada em toda a escolaridade de primeira a oitava séries. O artigo que trata do exposto acima, foi alterado por duas vezes, sendo incluído o termo obrigatório, por meio da Lei n. 10.328, datada de 12 de dezembro de 2001, e em 1º de dezembro de 2003, pela Lei n. 10.793, incorporando a seguinte redação: § 3º A educação física, integrada à proposta pedagó- gica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: - Que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; - Maior de trinta anos de idade; - Que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da edu- cação física; - Amparado pelo decreto-lei n. 1.044, de 21 de outubro de 1969; - Que tenha prole. Com essa alteração, há avanços, porém, retrocesso. Se, de um lado, avança, ao incluir a Educação Física em todos os períodos de en- sino da educação básica (matutino, vespertino e noturno), de outro, 32 Fundamentos da Ginástica retrocede ao escrito na lei anterior, ao se afirmar que a educação físi- ca, como componente curricular, é obrigatória apenas para os alunos e alunas saudáveis, menores de 30 anos, sem filhos, que não traba- lham, sendo os demais que aqui não estão descritos, facultativos. Além da LDB de 1996, as Diretrizes Curriculares Nacionais, esta- belecidas pelo Conselho Nacional de Educação para a Educação Básica, vêm reforçar o conceito de que a Educação Física tem que igual valor ao dos demais componentes curriculares. Passando a ser considerada como área do conhecimento. A Educação Física deve receber o mesmo tratamento como os demais componentes curriculares recebem, tendo como exemplo dessa fala, ter horário garantido na grade curricular e jamais ser utilizada como “moeda de troca” na negociação disciplinar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) também reco- nhecem a Educação Física como componente curricular responsável por induzir os indivíduos ao universo da cultura corporal, contem- plando inúmeros conhecimentos produzidos e utilizados pela socie- dade a respeito do corpo e seu movimento, tendo como finalidades o lazer, a expressão corporal, afetos e emoções, e com a potencialidade de promover, recuperar e manter a saúde advinda de uma melhora na qualidade de vida do usuário (Darido, 2005). Até, então, falamos de leis e obrigatoriedade, mas não podemos esquecer-nos da necessidade de formação de professores atuantes nas áreas de atividade física e educação corporal, importância esta amparada pela Reforma Couto Ferraz, em 1851, e, três anos depois, com sua regulamentação por meio da Lei nº. 630, que confere a obri- gatoriedade da disciplina de ginástica em ambiente escolar. Relatos históricos afirmam que algumas iniciativas de se esta- belecer centros formadores de instrutores ocorreram no país no início do século XX, tendo a Escola de Educação Física da Força Policial do estado de São Paulo como pioneira neste tipo de instrução, mas que se limitava apenas à capacitação militar. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 33 Ano mais tarde, o Centro Militar de Educação Física no Rio de Janeiro é fundado com o mesmo intuito da Escola de Educação Física da Força Policial de SP. Com o passar do tempo, este centro daria ori- gem a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx). A EsEFEx foi criada com o objetivo de formar algumas espe- cialidades, como instrutores, monitores, mestre d’arma, monitores de esgrima e médicos especialistas para o exército. Seus diversos cursos eram ofertados a militares e, ocasionalmente, a civis. Com a criação de centros formadores, surgiu a necessidade de se propor cursos próprios de Educação Física fora dos estabelecimen- tos militares, em que segundo Darido (2003) afirma que: (...) o primeiro programa sistematizado de Educação Fí- sica no Brasil, foi o curso da Escola de Educação Física do Estado de São Paulo, criado em 1931, mas que só co- meçou a funcionar em 1934. Este curso tinha como pro- pósito a formação de dois profissionais distintos, quais sejam: Instrutor de Ginástica e o Professor de Educação Física. (pg. 182). A ideia de se criar um curso de educação física advém da neces- sidade de saber bem mais do que princípios e métodos ginásticos. De- vem abranger conceitos anatômicos, funcionais, mecânicos, preven- tivos, crescimento e desenvolvimento infantil, exercícios em diversas fases da vida e ludicidade. Com as propostas em andamento, chega-se a um consenso de que a área da educação física seria composta por cinco formações, sendo elas: instrutor de ginástica para o ensino primário, instrutor de ginástica, professor de Educação Física, médico especializado em Educação Física, técnico em massagem e técnico esportista. 34 Fundamentos da Ginástica O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO D Chegada da ginástica no Brasil. D Influência do método Francês na ginástica brasileira. D O militarismo como pioneiros da ginástica. D Introdução legal da ginástica na Educação Física brasileira. Leitura Complementar D TOLEDO, E. de. Proposta de conteúdos para a ginástica escolar: um paralelo com a Teoria de Coll. Dissertação (Mestrado em Educa- ção Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1999 Recomenda-se a leitura dos capítulos 2 e 3 da referência acima, na in- tenção de fixar o conteúdo estudado e associar elementos a Educação Física Escolar. ____________. A ginástica geral como uma possibilidade de ensino da ginástica nas aulas de educação física. Monografia de Graduação. Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1995. Recomenda-se a leitura da revisão de literatura da referência acima, pois há outros autores não abordados neste material e que servirá de conhecimento e acúmulo de novos conceitos. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 35 1.3 GINÁSTICA – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Elementos Corporais Dentre os elementos constitutivos da ginástica, os elementos corporais se apresentam como fundamentais para o desenvolvimento da ação motora. Sendo executados com equipamentos ou livre, cola- boram com a beleza e plasticidade dos movimentos da ginástica, sen- do esta em qualquer modalidade (Peuker, 1973). Diante dos elementos corporais, a ginasta consegue realizar inúmeras ações coreográficas ou não, permitindo que ela atenda os requisitos de uma determinada prova artística, estando em solo ou em contato direto com algum aparelho específico da prova. Os elementos corporais da ginástica se apresentam da seguinte forma: passos, corridas, saltos, saltitos, giros, equilíbrios, ondas, po- ses, marcações, balanceamentos e circunduções. Percebam que a maioria dos elementos corporais compõe as chamadas “formas básicas de locomoção”, que muito tem se falado a respeito de sua importância no processo ensino-aprendizagem em ambiente escolar, pois favorece a aquisição do acervo motor, poten- cializando o crescimento e desenvolvimento da criança e garantindo certa segurança em atividades da vida diária. Jogos, brincadeiras e atividades orientadas com ou sem materiais são exemplos de possi- bilidades para a construção e manutenção dos elementos corporais em crianças. 36 Fundamentos da Ginástica Segundo Conceição (2003), a descrição de cada um desses ele- mentos será tratada a seguir: D passos: movimento pelo qual cada ginasta realiza dentro de uma ação coreografada ou na iminência de realizar um salto ou movimento, estando ou não em contato diretocom al- gum equipamento; D corridas: ação realizada com grande velocidade a fim de atingir um determinado aparelho ou um combinado coreo- gráfico, como exemplo, corrida para realizar um salto com giros; D saltos: movimento realizado em que a ginasta sai do chão através de um impulso e volta a ter contato com o solo o mais rápido possível e sem rotação do eixo transversal do corpo estando ou não em contato com algum equipamento específico da modalidade; D saltitos: movimento similar ao salto, porém a fase área será de amplitude menor e poderá ser realizado com ou sem equipamento; D giros: consistem, basicamente, em rotações do corpo no eixo vertical, saindo do chão, podendo estar em contato com algum equipamento ou sozinho ou combinado com outro elemento corporal; D equilíbrio: o corpo deverá manter-se apoiado de forma uni- pedal e numa posição estática e estável, utilizando ou não algum equipamento. Este tipo de elemento é essencial para alguns equipamentos que dependem dele para continuida- de de uma determinada série. Como exemplo, uma série na trave de equilíbrio; Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 37 D ondas: consistem em movimentos ondulatórios, utilizando diferentes partes do corpo, executado de uma extremidade a outra do corpo, fazendo uso ou não de equipamentos. Este elemento é bastante característico na ginástica artística de solo, sendo capaz de proporcionar plasticidade e beleza du- rante a série de execução; D poses: considerada o marco inicial e final de um determi- nado movimento coreográfico, estando o corpo em posição estática. Geralmente este elemento é bastante marcante, sendo determinante em alguns momentos para o sucesso de uma ação coreográfica; D marcações: momento no qual o atleta se mantém dentro de uma condição rítmica, numa determinada coreografia, aten- dendo as etapas de uma encenação, ou seja, aguardando a pró- xima ação a ser realizada de acordo com o ensaio coreográfico. Muito importante também para que o atleta possa pensar na próxima ação e também um momento de descanso para ele; D balanceamentos: movimento corporal produzido em que há o deslocamento do peso do corpo de um pé para o outro, estando ou não em contato com algum equipamento. As- sim como o elemento corporal, onda, este elemento também proporciona beleza e plasticidade durante a execução de uma determinada série; D circunduções: caracterizado por movimentos circulares de braços, pernas, tronco ou cabeça, executando uma volta de 360°, desenhando um círculo, e para isto deve-se manter a base fixa de apoio, ou seja, as pernas unidas ou afastadas per- manecendo sem locomover, podendo ser realizados tanto de modo simétrico como assimétrico, utilizando ou não algum equipamento. Elemento bastante utilizado na Ginástica Rít- mica, quando a atleta realiza a série com o equipamento bola. 38 Fundamentos da Ginástica Exercícios Acrobáticos Os exercícios acrobáticos são divididos em 5 situações a serem classificados da seguinte forma: D rotações (no solo, no ar ou aparelhos); D apoio (no solo ou aparelhos); D reversões (no solou ou aparelhos); D suspensões (aparelhos); D pré-acrobáticos. Importante ressaltar que todos os exercícios acrobáticos com- põem séries de todas as modalidades ginásticas, sendo a ginástica ar- tística no solo, a ginástica artística com aparelhos, a ginástica rítmica e a ginástica acrobática, e que em cada um desses exercícios, sendo no solo ou em aparelhos, possui uma pontuação específica de acordo com cada modalidade, podendo ser realizados de forma sozinha ou em combinação com outro movimento. Rotações Os exercícios de rotação são todos aqueles exercícios realizados com o giro do tronco sobre seu eixo, tendo como exemplo a estrela e o rodante. Este movimento poderá ser realizado no solo, no ar ou em aparelhos, dependendo da modalidade ginástica. Apoio Os exercícios de apoio são aqueles realizados, preferencialmente, com ambas as mãos ou apenas uma delas estando na posição vertical Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 39 invertida, podendo ser realizados de forma parada ou em desloca- mento, cumprindo uma exigência coreográfica. Este movimento po- derá ser realizado estando o ginasta no solo ou em contato com algum aparelho específico e, também, dependendo da modalidade ginástica envolvida. Reversões Os exercícios de reversões se diferem dos exercícios de rotação, pelo fato do movimento ser realizado longitudinalmente ao eixo do corpo do atleta, já que naquele exercício, o giro é feito de forma trans- versal. O ginasta poderá realizar este movimento estando ele no solo ou em contato com algum aparelho, e depende do tipo de modalidade da ginástica. Suspensão Os exercícios em suspensão são aqueles exercícios em que o corpo estará totalmente fora do solo, sempre em contato direto com um aparelho. Diferentemente dos demais movimentos já trabalhados, a suspensão é realizada apenas com o ginasta em contato direto com o aparelho, sendo para alguns equipamentos, o ponto de partida da série de execução. Este movimento acrobático está presente, exclusi- vamente, na ginástica artística com aparelhos. Pré-Acrobáticos Os exercícios pré-acrobáticos são movimentos corporais ca- racterizados pela inversão dos eixos do corpo, traçando uma linha imaginária atravessando a cabeça, indo em direção aos pés. Também é utilizado o rolamento cujo movimento é realizado no plano sagital, 40 Fundamentos da Ginástica dividindo o corpo em partes superior e inferior. Estes exercícios acro- báticos são muito utilizados na pratica da Ginástica Rítmica e também compondo algumas séries de Ginástica Artística de solo. Mas também servem como exercícios de aquecimento e até mesmo exercícios de fortalecimento de membros inferiores, membros superiores e algu- mas destrezas motoras, como coordenação motora do tipo grossa. Exemplo de exercício pré-acrobático Exercícios de Condicionamento Físico Os exercícios de condicionamento físico dentro da ginástica têm como objetivo a melhora da aptidão física em diversas valências mo- toras, tais como: força, resistência, velocidade, flexibilidade, equilíbrio e coordenação. Estas valências serão melhores avaliadas, treinadas e executadas dependendo do tipo de modalidade de ginástica na qual o atleta está inserido, sendo elas ginástica artística de solo, ginástica artística de aparelhos, ginástica rítmica e ginástica acrobática. Cada uma dessas modalidades de ginástica terá as suas pecu- liaridades envolvidas no processo de elaboração de uma planilha de condicionamento físico. A ginástica artística de solo preza por saltos e Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 41 corridas, ou seja, exercícios específicos de velocidade e de potên- cia estarão inseridos como prioridade na planilha de treino desta modalidade. Já a ginástica artística que envolve aparelhos, a força e a resis- tência serão as valências mais trabalhadas, pois a maioria dos apare- lhos exigirá a sustentação do corpo fora do solo, cabendo a força e a resistência sua ação imediata e em que farão a diferença na execução do movimento, garantindo a manutenção do atleta no aparelho e uma performance de excelência. A ginástica rítmica exigirá, além da coordenação motora, as mesmas valências exigidas da ginástica artística de solo, ou seja, a ve- locidade e a potência, pois as atletas realizarão determinadas perfor- mances utilizando saltos, saltitos, giros e outros elementos corporais que necessitam daquelas valências, a fim de atender as exigências de um código de pontuações específico daquela modalidade de ginástica. E, por fim, a ginástica acrobática, por se tratar de uma moda- lidade que exija força de membros inferiores para saltar no solo ou em aparelhos, tipo trampolim, será dada prioridade para esta valência motora, em conjunto com a coordenação motora e também o equilí- brio. Estas valências em conjunto colaborarãopara o sucesso da exe- cução de uma série proposta. Manejo de Aparelhos Ao realizar as séries de ginástica rítmica, as ginastas devem permanecer em contato com os aparelhos, e estes sempre em mo- vimento, demonstrando suas habilidades através de manobras de manipulação. Cada um dos aparelhos apresenta formas específicas de contato e exigências obrigatórias estabelecidas pelo Código de Pontu- ação da modalidade. Movimentos do tipo lançar e recuperar, rotações e 42 Fundamentos da Ginástica rolamentos dos aparelhos, assim como movimentos em oito, são ma- nipulações típicas dos aparelhos dentro da Ginástica Rítmica (Martin- -Lorente, 2002). Aparelhos, do tipo, bolas, arcos, fitas e maças, são característicos da ginástica rítmica. Na ginástica artística com aparelhos, também haverá inúmeras exigências para que a ginasta possa realizar a sua série e receber a de- vida pontuação de acordo com a sua performance. Idêntica à ginástica rítmica, a ginasta preferencialmente, deverá manter-se em contato di- reto com o aparelho, realizando em alguns momentos largadas e reto- madas, saltos e saltitos, sendo estas ações como componente básico da coreografia ou da série de requisitos impostos por um código de pontuações da respectiva modalidade. Alguns aparelhos são caracte- rísticos da ginástica artística, como barras paralelas, barras assimétri- cas, argolas, cavalo com alça, trave de equilíbrio e salto sobre o cavalo, sendo este último o contato apenas na realização do movimento, utili- zando o salto como elemento corporal prioritário. Exemplo de exercícios com manejo de aparelhos Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 43 O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO D Elementos constitutivos da ginástica e conceituações. D Exercícios acrobáticos e suas divisões. D Exercícios de condicionamento físico, aptidão física e algumas ca- racterísticas condicionantes de cada modalidade ginástica (ginás- tica artística de solo, ginástica artística com aparelhos, ginástica rítmica e ginástica acrobática). D Manejo de aparelhos na ginástica rítmica e na ginástica artística com aparelhos. 44 Fundamentos da Ginástica Leitura Complementar D NUNOMURA, Myrian Tsukamoto; HARUMI, Mariana. Fundamen- tos da Ginástica. São Paulo/SP: Editora Fontoura. 2009. Referência fundamental para aprofundamento nos conceitos e ele- mentos da ginástica. Recomenda-se ler os capítulos 2 e 3 para melhor fixação do conteúdo e uma maior exemplificação dos fundamentos da ginástica. D ARAUJO, Carlos. Manual de ajudas em ginástica 2. ed. São Paulo/SO: Editora Fontoura, 2012. Referência complementar ao estudo proposto pelo capítulo. Recomen- da-se a leitura do capítulo 4 em que se pode associar e complementar elementos abordados neste livro com informações da referência. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 45 1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS Antes de classificarmos os exercícios físicos, será preciso en- tender a diferença conceitual do exercício físico em relação ao con- ceito da atividade física, em que o exercício físico é considerado como uma atividade realizada com sistematização de movimentos orienta- dos, tendo objetivos definidos junto com o praticante e de acordo com sua condição física. Já atividade física é definida como um conjunto de ações que um indivíduo ou grupo de indivíduos realiza sem uma sistematização definida, tão pouco com objetivos específicos e, inde- pendentemente, da condição física do executante. Busca-se por meio da atividade física, além da aptidão física, saúde mental e social (Barros Neto, 1999). A partir dos conceitos acima expostos, percebe-se que a ativi- dade física indica um conceito mais amplo ou geral, atendendo quase que todos os praticantes, enquanto que o exercício físico demonstra ser algo mais restrito ou específico, direcionando o praticante. A classificação dos exercícios físicos ajudará a compreender, de forma bastante clara, seus diversos tipos, suas principais característi- cas e onde poderão ser aplicados (Monti, 2005). Os exercícios físicos, então, poderão ser classificados segundo a sua forma de execução, segundo o esforço e segundo a ação. 46 Fundamentos da Ginástica Vamos começar com a classificação segundo a forma: a) Segundo a Forma de Execução Neste item abordaremos alguns meios possíveis de se dividir os exercícios físicos quanto a sua forma de execução: 1) Exercícios Naturais: exercícios realizados para manutenção e desenvolvimento das necessidades básicas do ser humano. Exemplo disso são as formas básicas de locomoção: andar, correr, saltar, saltitar, pular, rolar, trepar e rastejar. Atualmen- te, o andar e o correr são exemplos de atividades físicas que se tornaram um vício entre muitos indivíduos. Importante frisar que as formas básicas de locomoção são pontos importan- tes a serem trabalhados, principalmente quando se fala em crianças, nas suas fases de crescimento e desenvolvimento, pois sendo como prioritárias, nesta fase, colaboram para a aquisição de uma espécie de acervo motor, o que garante, de certa forma, elementos essenciais para o sucesso no processo de ensino aprendizagem em ambiente escolar. Jogos e brin- cadeiras tradicionais são bons exemplos dessa classificação para a prática na escola. Corrida de rua Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 47 2) Exercícios Rítmicos: exercícios naturais em conjunto com a criatividade e a expressão corporal por meio de músicas, pal- mas, sons instrumentais e ordens de comando. Atualmente, as academias de ginástica ou de condicionamento físico ofe- recem ao público inúmeras atividades com exercícios rítmi- cos que, muitas vezes, se diferenciam entre si na frequência rítmica utilizada, bem como na utilização ou não de aparelhos. Neste tipo de classificação, também é importante pensar na criança, pois é no ambiente escolar que ela passa a maior parte do seu tempo, e associar elementos naturais com ações rítmicas poderão favorecer o seu processo ensino-aprendi- zagem, sendo trabalhadas através de atividades orientadas, coreografadas, exercícios com comandos, brinquedos canta- dos, resgate das brincadeiras de roda etc. 3) Exercícios Formativos: orientado especificamente para o desenvolvimento e/ou manutenção das variáveis de aptidão física pertencentes ao ser humano, tais como a força, flexibi- lidade, resistência, velocidade, equilíbrio e coordenação. Es- ses tipos de exercícios poderão ser realizados em ambiente escolar por meio de circuitos motores ou até mesmo a prática com exercícios específicos, sendo também executados den- tro da Iniciação Esportiva, por meio de jogos pré-desportivos ou o esporte propriamente dito. A classificação apresentada acima não deve ser utilizada apenas de forma individualizada, ou seja, pode-se prescrever, por exemplo, um combinado de exercício físico em que ele possa ser formativo e rítmico ao mesmo tempo, independentemente da faixa etária escolhida. 48 Fundamentos da Ginástica 4) Exercícios Laborais: são exercícios específicos para atender possíveis problemas adquiridos, em especial no local de tra- balho ou congênitos. Atualmente, encontram-se bastante difundidos em ambientes laborais, sendo categorizados em: D Exercícios de Compensação – Exercícios que têm como obje- tivo corrigir descompensações, ou seja, possíveis assimetrias musculares causadas por situações de excessivas cargas de trabalho em determinados grupos musculares. Em alguns ca- sos, quando se realiza um treinamento em excesso, este qua- dro é chamado overtrainning ou uso excessivo motivado pela carga de treinamento, devendo haver uma readequação da carga e o retorno compensatório de áreas descompensadas. Exercício para correção postural em ambiente de trabalho D Exercícios Corretivos – Exercícios realizados após um diag- nóstico médico do problema. Normalmente estão correlacio- nados aos problemas posturais ou maus hábitos. Um exemplo típico seria o usoexagerado de mochilas pesadas em alunos estando em fase de crescimento. Esse comportamento tende a sobrecarregar a região posterior do corpo, podendo levar a dores, desalinhamento muscular e queixas escolares. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 49 Exercício de reabilitação D Exercícios de Manutenção – São exercícios ditos como ide- ais, ou seja, partem de um padrão estipulado, em que alguns pontos serão considerados, como a idade, o ambiente social, o dia a dia, entre outros. Possuem como objetivo principal a manutenção das qualidades físicas adquiridas através da prática de atividade física ou do exercício físico de forma ge- ral ou específica. Este tipo de classificação é muito importante, pois atende um dos princípios do Treinamento Esportivo que é o Principio da Manu- tenção. A manutenção em idosos, por exemplo, é extremamente im- portante, pois garante a ele a redução na velocidade do processo de envelhecimento, favorecendo uma melhor qualidade de vida. Já em crianças, é preciso que haja uma vasta quantidade de estímulos para que ela possa se apropriar deles e, a partir disso, mantê-las ou até mesmo reinventá-las em oportunidades futuras. A classificação apresentada acima não deve ser utilizada ape- nas de forma individualizada, ou seja, pode-se prescrever, por exem- plo, um combinado de exercício físico em que ele possa ser corretivo e de manutenção ao mesmo tempo, independentemente da faixa etária escolhida. 50 Fundamentos da Ginástica b) Segundo o Esforço Esta classificação é considerada, de certa forma, subjetiva, pois está relacionada diretamente com a condição física do aluno e res- paldada pela ficha de anamnese do praticante e também por alguns questionários específicos de aptidão física, como exemplo, o IPAQ e o PAR-Q. Segundo o esforço, os exercícios físicos são divididos em: 1) Exercícios Fracos: são aqueles que o gasto energético para sua realização é pequeno ou considerado de execução leve. Normalmente são pensados e utilizados no início de uma ses- são de treinamento, aula ou ainda por indivíduos iniciantes ou com idade avançada, podendo também ser prescrito para pacientes em recuperação de doenças ou pós-cirúrgicos ou casos clínicos específicos. Exercícios respiratórios, exercícios oculares, uma caminhada leve e alongamentos funcionais para determinadas partes do corpo são exemplos bons de exercícios fracos. 2) Exercícios Médios: são aqueles que despendem moderada quantidade de energia para sua realização ou considerados como nível intermediário de execução. São exercícios pra- ticados ou utilizados por pessoas com considerável aptidão física. Corridas intervaladas, exercícios em circuitos, hidrogi- nástica, danças, pedaladas de curtas distâncias e a prática de algum esporte são bons exemplos de exercícios médios. 3) Exercícios Fortes: são aqueles que para sua realização reque- rem grandes quantidades de energia ou considerados como nível avançado de execução. Neste caso, somente devem ser executados por indivíduos em plena condição atlética ou que estejam praticando há algum tempo. Corridas de longa duração, natação e pedaladas de longas distâncias são bons exemplos de exercícios fortes. Tema 1 Classificação, terminologia e definições da Ginástica 51 c) Segundo a Ação Nesta classificação, o objetivo é identificar a região do corpo hu- mano que o exercício atuará com maior intensidade. Para tanto, eles são classificados da seguinte maneira: 1) Generalizados ou Sintéticos: exercícios que geralmente utili- zam de grandes funções orgânicas. Como exemplo, podemos citar a corrida, que é caracterizada como um exercício natural e, principalmente, destinados à melhoria da capacidade aeró- bica. Este tipo de exercício depende da condição física do alu- no, de sua idade e dos objetivos que se pretendem alcançar com esta prática, podendo ser ajustado conforme o esforço. 2) Localizados ou Analíticos: Relacionado a exercícios que es- pecificam algum grupamento muscular ou que atingem ape- nas algumas cadeias cinéticas, abertas ou fechadas, de mús- culos e/ou articulações que compõem o corpo humano. Da mesma forma da classificação anterior, este tipo de exercício também dependerá da condição física do aluno, de sua idade e dos objetivos que se pretendem alcançar com esta prática e também condicionada ao esforço imposto. Exercício localizado para membros superiores 52 Fundamentos da Ginástica O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO D Conceito sobre atividade física e exercício físico e sua diferenciação. D Classificação do exercício segundo a forma de execução e alguns exemplos. D Classificação do exercício segundo o esforço e alguns exemplos. D Classificação do exercício segundo a ação e alguns exemplos. Leitura Complementar D MENDES, Ricardo Alves e Leite, Neiva. Ginástica Laboral: Princípios e Aplicações Práticas. 3. ed. Editora Manole. São Paulo/SP. 2014. Referência importante para afirmar os conceitos estabelecidos das classificações de exercício. Recomenda-se a leitura dos capítulos 1 e 2, a fim de que se possam contemplar novas informações agregando o estudo proposto. D SOUZA, Ravelli e Cesário, Marilene. Ensinando a Ginástica na Escola: Caderno Pedagógico, 2018. Referência complementar relevante a fim de subsidiar ações didáticas e pedagógicas que contribuam para o ensino da Ginástica na escola. Recomenda-se a leitura do capítulo inicial. tema 2 Os Métodos Ginásticos: SUECO, INGLÊS E CALISTENIA Neste tema serão abordados os sistemas ginásticos sueco e inglês. Serão apresentados os contextos de origem de cada sistema, seus princípios, suas características, tipos de exercícios, a evolução, e como esses sistemas influenciaram as ginásticas na atualidade. Serão abordados, também, os exercícios gímnicos, o conceito, suas características e classificações, os aparelhos que são utilizados nas ginásticas e, ainda, a definição, as características e a evolução da Calistenia. 2.1 ESTUDO CRÍTICO E VIVÊNCIA DO SISTEMA DE GINÁSTICA SUECA ANTIGA E MODERNA ORIGEM DA GINÁSTICA SUECA A ginástica atual possui influência de quatro grandes escolas: a Escola Inglesa, a Escola Alemã, a Escola Francesa e a Escola Sueca. O surgimento da ginástica sueca ou método sueco de ginástica ocorreu em um período de profundas transformações de ordem polí- tica, econômica e social na Europa. No final do século XVIII, a consti- tuição dos Estados-Nação requeria a formação de novos indivíduos e, para tanto, era necessária a massificação da educação. Novas teorias filosóficas e o desenvolvimento da ciência influenciaram as formas de intervenção sobre o corpo (SOARES; MORENO, 2015). É nesse contexto que Pier Henrik Ling (1776-1839) criou a Gi- nástica Sueca. Nascido em Södra Ljunga, Småland na Suécia, Ling vi- veu num fértil ambiente científico. Jovem franzino e com reumatismo tinha predisposição para a tuberculose, doença que era uma epidemia na Europa e chegava à Suécia nessa época. Transferiu-se para Cope- nhagen, Dinamarca, onde teve contato com Nachtegall (1777-1874) e seu instituto, em 1799. Lá, fortaleceu sua saúde e aos 28 anos voltou para a Suécia, onde tornou-se professor de esgrima na Universidade de Lund, em 1805. Ling acreditava que a prática da ginástica deveria ser um propó- sito de Estado, e o sistema escolar deveria ensinar conhecimentos, va- lores e intervir sobre o corpo para a constituição do que se idealizava 56 Fundamentos da Ginástica ser um bom cidadão, consciente de seus deveres e direitos, obediente a regras, cuidadoso de si, de sua moral e de seu corpo (LJUNGGREN, 2011). Com o objetivo de formar especialista no ensino da ginástica, foi fundado o Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (Gymnas- tiska Centralinsitutet --- GCI) e, em 1813, Ling foi nomeado diretor do Instituto, em que colocou em prática suas ideias. A Ginástica Sueca tinha no desenvolvimento do corpo harmonioso sua razão de ser e na ciência médica sua explicação. Lingacreditava na racionalidade científica da ginástica, e seus prin- cípios foram registrados no livro Gymnastikens allmänna grunder. Para Ele, o conhecimento médico e científico é o que deveria fundamentar a gi- nástica, na perspectiva da criação de movimentos precisos e adequados e a forma correta de executá-los. Assim, é posssível perceber os objetivos pedagógicos, estéticos, militares e médicos do seu método. Na Suécia, a proposta de Ling foi bastante difundida e em me- ados do século XIX, a Ginástica Sueca estava presente em todas as escolas, onde cada professor instruía apenas no ramo para o qual ele adquiriu aptidão. Professores não ensinavam ginástica sem ter feito curso no Instituto de Ginástica (POSSE, 1891). Ling morreu em 1839, e seu legado foi desenvolvido por dois su- cessores imediatos que assumiram a direção do Instituto: Gabriel Bran- ting e August Georgii. Seu filho, Hjalma Ling (1820-1886), dedicou-se a pormenorizar a obra do pai, particularmente, a ginástica pedagógica. O método estendeu-se por todo o mundo, principalmente, aos demais países nórdicos (Dinamarca, Noruega e Finlândia). Na Dina- marca, foi chamada de Ginástica Racional por ser fundamentada cien- tificamente e possuir um objetivo claro. Entretanto, foi considerada inapta para as necessidades e interesses da juventude dinamarquesa por ser composta por posições rígidas (RAMOS, 1982). Tema 2 Os Métodos Ginásticos: sueco, inglês e calistenia 57 Em Portugal, sua popularização se deu por meio de compên- dios, manuais e guias em língua portuguesa no final do século XIX e início do XX (SOARES, MORENO, 2015). A Ginástica Sueca foi referên- cia na construção do discurso da educação física moderna, no âmbito político e cultural. No início do século XX, seus preceitos estavam es- tabelecidos entre médicos, militares, políticos, pedagogos, escritores, devido sua fundamentação racional para um programa de educação física dos escolares. A Ginástica Sueca era praticada regularmente em espaços escolares neste país (CARVALHO, CORREIA, 2015). CARACTERÍSTICAS DA GINÁSTICA SUECA A Ginástica Sueca surgiu na perspectiva de acabar com os vícios existentes na sociedade, entre eles o alcoolismo. Com seu caráter social e pedagógico, a ginástica sueca tinha a missão de desenvolver fisica- mente os indivíduos para defenderem sua pátria (SOARES, 2004). O Sistema de Ginástica Sueca recebeu diversas nomenclaturas, tais como: sistema lingiano de ginástica, método sueco, ginástica sue- ca, método racional, ginástica racional e ginástica respiratória. E seus movimentos foram agrupados em lições, com um ou mais exercícios de cada grupo na ordem numerada (MORENO, 2015): 1. introdutórios; 2. arcoflexões; 3. movimentos de braços; 4. movimentos de balanço; 5. movimentos de escápula; 6. exercícios abdominais; 7. movimentos laterais do tronco; 8. movimentos lentos das pernas; 9. pulos e saltos; e 10. exercícios respiratórios. 58 Fundamentos da Ginástica A ginástica sueca foi desenvolvida a partir de sete princípios fundamentais (LJUNGGREN, 2011): 1. princípio da precisão de movimentos; 2. princípio da forma/formalidade do exercício; 3. princípio da seleção; 4. princípio da progressão; 5. a lição de ginástica; 6. a disciplina; e 7. a participação de todos. Os exercícios na ginástica sueca são selecionados de acordo com os efeitos fisiológicos que eles provocam no organismo. Assim, qualquer exercício que possa causar algum tipo de lesão ao praticante é excluído. A premissa fundamental da Ginástica Sueca era a correção postural e aliada à formação de um espírito disciplinado. Na realização dos exercícios, eram utilizadas palavras de co- mando, para que o ginasta pudesse concentrar toda a sua atenção para a prática. Essa metodologia também tinha como objetivo ensinar as crianças a pensarem e fazerem coisas no menor período de tempo possível. Além de servir como uma ferramenta que facilitava o ensino e a correção dos exercícios (POSSE, 1891). Uma das principais características do método era ser basea- do em evidências científicas, por isso era considerado racional. Além disso, era fácil de ser aplicado sem necessidade de aparelhos, com exercícios simples que poderiam ser praticados em qualquer lugar e momento. E apesar das páticas higiênicas defendidas por outros mé- todos, era dispensada na ginástica sueca com um argumento científi- co para isso (MORENO, 2015). Os exercícios eram selecionados pelo seu ‘‘valor ginástico’’, ou seja, movimentos que combinavam o efeito no corpo com a simpli- Tema 2 Os Métodos Ginásticos: sueco, inglês e calistenia 59 cidade e a beleza do desempenho. O movimento devia desenvolver efeitos em um curto tempo e ser simples para uma execução correta e bela, de acordo com a habilidade de cada um (MORENO, 2015). Por isso, os exercícios, que tinham o objetivo de melhorar e/ou manter as necessidades do organismo, assim como corrigir a postura, eram bastante valorizados. Era descartado qualquer movimento que comprometesse uma boa respiração. Isso porque o método defendia a ideia de que para ser um homem forte era necessário saber respirar bem. Assim, muita importância era dada aos exercícios respiratórios e ao desenvolvimento apropriado dos músculos peitorais (POSSE, 1891). Quanto à regularidade do método, tendo em vista que a Ginás- tica Sueca é sistematizada, deveria haver progressão. Assim, além de serem respeitadas as diferenças de idade, sexo, força, entre outros, os exercícios sempre deveriam começar pelo mais simples e, gradual- mente, progredia em complexidade e força. O método sueco não utilizava música em suas lições. Isso por- que, cada movimento deve ser praticado em um determinado ritmo, podendo ser diferente do ritmo da música. Do mesmo modo, cada gi- nasta tem o seu próprio ritmo para executar os movimentos e deter- minar um ritmo por meio da música, que poderia interferir na precisão do movimento. Ling defendia que o seu método era desenvolver a saúde, por utilizar a respiração nos exercícios, e a beleza, por corrigir problemas posturais. Assim, ele o destinou a todas as pessoas, independente- mente de sexo, idade, dividindo-o em quatros partes: D Ginástica Pedagógica ou Educativa: destinada a todas as pessoas, com o objetivo de desenvolver e/ou manter a saúde. 60 Fundamentos da Ginástica D Ginástica Militar: destinada à preparação dos indivíduos para a guerra. D Ginástica Médica e Ortopédica: destinada a corrigir proble- mas posturais. D Ginástica Estética: destinada a desenvolver a harmonia do corpo por meio da dança. Ling criou exercícios livres, sem aparelhos, de execução fácil e es- tética, além de saltos no cavalo, cambalhotas, jogos ginásticos, patina- ção e esgrima, associados ao canto e disciplina militar (RAMOS, 1982). Uma sessão de exercícios livres era composta da seguinte forma: 1º- exercícios de ordem; 2º - exercícios de pernas ou movimentos preparatórios for- mando uma pequena série; 3º - extensão da coluna vertebral; 4º - suspensões simples e fáceis; 5º- equilíbrio; 6º - passo ginástico ou marcha; 7º- movimentos dos músculos dorsais; 8º - movimentos músculos abdominais; 9º - movimentos laterais de tronco; 10º - movimentos de pernas; 11º - suspensões mais intensas que as do nº 4; 12º - marchas ou movimentos de pernas, executados mais rapidamente que os outros para preparar saltos; 13º - saltos; 14º - movimentos de pernas; 15º - movimentos respiratórios. Tema 2 Os Métodos Ginásticos: sueco, inglês e calistenia 61 Em síntese, a Ginástica Sueca, criada por P. H. Ling, é funda- mentada por conhecimentos racionais médico-científicos. Tem por princípio a correção postural associada à aquisição de valores morais modernos e de disciplina. Os exercícios devem ser realizados de forma precisa, de acordo com a forma do movimento. A seleção dos exercí- cios deve considerar o público alvo de praticantes, estabelecendo-se uma série (lição) a ser cumprida de forma livre ou com aparelhos,com disciplina sendo considerada a progressão, sempre sem a utilização de músicas. Assim, a Ginástica Sueca influenciou as ginásticas de consciência corporal e fisioterápicas contemporâneas. O QUE VIMOS NESTE CONTEÚDO D A Ginástica Sueca surgiu no final do século XVIII em um contexto de mudanças políticas, econômicas e sociais. D O criador da Ginástica Sueca foi Pier Henrik Ling. D A Ginástica Sueca tem por premissa a correção postural e aquisi- ção de princípios morais e disciplinares baseados em fundamen- tos racionais. D A Ginástica Sueca possui aspectos pedagógicos e possui princí- pios: precisão, forma, seleção, progressão, lição e participação. 62 Fundamentos da Ginástica Leitura Complementar D MORENO, A. A propósito de Ling, da ginástica sueca e da circula- ção de impressos em língua portuguesa. Rev. Bras Ciênc Esporte, v. 37, p. 128-135, 2015. A leitura deste artigo permitirá ao leitor uma maior compreensão so- bre o sistema sueco de ginástica, abordando, principalmente, a traje- tória de seu precursor. D MORENO, A. De Estocolmo ao Brasil: Circulação e Transformação da Ginástica Sueca (1913-1920). Pesquisa financiada pela FAPEMIG. Disponível em: http://www.sitioftp.com/EventosOPC/programa/ resumenes/Panel/14/14ponencia5.pdf. Acesso: 01.08.2019 A leitura deste artigo é importante para a compreensão do processo histórico do sistema sueco de ginástica. A temporalidade vai de 1813, ano em que Ling funda o Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (Gymnastiska Centralinsitutet – GCI), até a primeira década do século XX – período que foram observados fortes vestígios do sistema sueco de ginástica no Brasil. Tema 2 Os Métodos Ginásticos: sueco, inglês e calistenia 63 2.2 ESTUDO CRÍTICO E VIVÊNCIA DO SISTEMA DE GINÁSTICA INGLESA ORIGEM DA GINÁSTICA INGLESA A Ginástica, na Inglaterra do século XIX, teve um desenvolvimen- to diferente em relação ao restante da Europa. Isso porque a Inglaterra não apresentava riscos de guerra, assim, a defesa nacional não era tão necessária. Nesse sentido, Ginástica Inglesa é mais relacionada aos jogos, atividades atléticas e ao esporte. O movimento esportivo inglês teve relação com as transforma- ções socioeconômicas produzidas pela Revolução Industrial (Rouyer, 1977). Até o final do século XVIII, o esporte era praticado pela nobreza, porém, no século seguinte, isso se modificou, e o esporte passou a ser praticado em outras camadas sociais. A partir de 1857, foram funda- das dezenas de associações esportivas nacionais na Inglaterra. Em meados do século XIX, o modelo esportivo predominante era o da burguesia, que sistematizou várias práticas em esportes, ou seja, os movimentos corporais adquiriram caráter competitivo. Nes- se contexto, houve a organização de jogos com regras, técnicas e pa- drões de conduta para os praticantes. No quadro do capitalismo inglês, o esporte era uma atividade de lazer e um meio de educação social dos filhos da alta burguesia (ROUYER, 1977). No entanto, uma questão que deve ser considerada é o aumento do tempo de lazer do proletariado, uma conquista dos trabalhadores no decorrer da Revolução Industrial, que também pode estar associado ao desenvolvimento desportivo. Por volta de 1870, os 64 Fundamentos da Ginástica trabalhadores passaram a reivindicar e obtiveram uma redução da jornada de trabalho. Com mais tempo para o lazer, o esporte passou a ser mais praticado e, com isso, cresceu o número de clubes desporti- vos e organizações. Portanto, a Inglaterra foi pioneira em divulgar o esporte entre uma sociedade industrial e urbana, tornando-se acessível às classes trabalhadoras inglesas em decorrência de conquistas trabalhistas. O ESPORTE COMO MEIO DE EDUCAÇÃO Em relação à situação, a Inglaterra, comparada aos outros paí- ses europeus, demorou muito para instituir um sistema educacional público controlado pelo Estado. Isso porque, os ingleses consideravam a educação mais responsabilidade da sociedade civil que do Estado. Assim, até as primeiras décadas do século XIX, a educação es- teve nas mãos da Igreja e de entidades particulares de caráter benefi- cente. Por outro lado, as classes média e alta financiavam sua própria educação. Entretanto, com as transformações ocorridas pela Revolução Industrial, o Estado passou a intervir na educação (Luzuriaga, 1979). Em 1833, o Parlamento concedeu uma subvenção às sociedades filan- trópicas para construção de prédios escolares e para administrar os fundos governamentais. Por último, com a criação do Departamen- to de Educação em 1856, deram-se mais dois momentos inportantes para educação pública inglesa: 1) O Ato de Educação de 1870, que for- mou a base da educação primária mantida pelo Estado e 2) A obriga- toriedade escolar em 1876. Tema 2 Os Métodos Ginásticos: sueco, inglês e calistenia 65 As tradicionais Escolas Públicas e as Universidades tiveram participação fundamental no processo de desenvolvimento do espor- te na Inglaterra. Os estudantes das Escolas Públicas promoviam suas próprias práticas esportivas, desafiando a proibição das autoridades educacionais que as consideravam perigosas e violentas. A partir de 1832, a classe média passou a reivindicar maiores privilégios educacionais e, por volta de 1860, conseguiu a criação de novas escolas públicas no modelo das antigas (Mclntosh, 1975). Esta conquista foi decisiva para que os jogos esportivos fossem difundidos. O esporte, como um meio de educação, tem origem inglesa. Na segunda metade do século XIX, Thomas Arnold anulou a ilegalidade de alguns jogos esportivos nas Escolas Públicas. As Escolas Públicas, segundo Mclntosh (1975), tinham a res- ponsabilidade de produzir líderes em vários setores, como na indús- tria, na política, no exército, nas empresas comerciais, entre outros. E, para isso, utilizavam os jogos para promover liderança, lealdade, cooperação, auto-disciplina, iniciativa, tenacidade e espírito esportivo (VAN DALEN E BENNET, 1971). Porém, foi apenas ao final do século XIX e início do século XX que o governo inglês adotou uma política de apoio ao esporte e a gi- nástica nas escolas mantidas pelo Estado. Após o Ato de Educação de 1870, os sargentos passaram a ministrar aulas de Educação Física nas escolas baseados no sistema ginástico sueco de P. H. Ling, que foi introduzido na Inglaterra por graduados do Instituto Central de Ginás- tica de Estocolmo. Em 1904, o sistema sueco foi adotado oficialmente nas escolas inglesas, o que gerou uma dualidade de sistemas na Educação Física Inglesa. De um lado, o esporte desenvolvido na escola secundária e, do outro, a ginástica sueca realizada na escola primária. 66 Fundamentos da Ginástica MOVIMENTO ESPORTIVO INGLÊS É possível afirmar que a ginástica na Inglaterra está associada ao movimento esportivo e se fundamentava na preparação atlética dos estudantes para o bom desempenho nas competições esportivas. Segundo Guttmann (2004), o esporte possui princípios que os caracteriza como uma prática da sociedade industrial moderna. São eles: secularismo, igualdade de condições, racionalização, especiali- zação, organização burocrática, quantificação e o recorde. A competição é a essência do esporte, e para que ela possa ser concretizada, é necessário haver uma organização burocrática. As pri- meiras associações esportivas nacionais de muitas modalidades que existem atualmente surgiram na Inglaterra (MCLNTOSH, 1975). Gra- dualmente, o esporte institucionalizou-se, havendo a criação de regras universais que deveriam ser seguidas pelos competidores. As institui- ções esportivas são responsáveis pela elaboração das regras esporti- vas, bem como pelos regulamentos das competições. Trata-se de nor- mas que são aceitas pelos participantes, como uma forma de contrato. Essas regras preveem que todos os participantes devam seguir as mesmas condutas, para que, em uma disputa justa, seja reconhe- cido o vencedor. Portando, as regras e os regulamentos concretizam
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