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COZINHA HOSPITALAR Professora Esp. Carolina Gratão Navarro Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenação Pedagógica do Curso Matheus Carvalho Edição de Arte, Diagramação, Design Grá ico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia F385m sobrenome, nome nome livro / nome autor. nome /coordenador (coord.) - Marília: Unimar, 2021. PDF (00p.) : il. color. ISBN xxxxxxxxxxxxx 1. tag 2. tag 3. tag 4. tag – Graduação I. Título. CDD – 00000 2 BOAS-VINDAS Ao iniciar a leitura deste material, que é parte do apoio pedagógico dos nossos queridos discentes, convido o leitor a conhecer a UNIMAR – Universidade de Marília. Na UNIMAR, a educação sempre foi sinônimo de transformação, e não conseguimos enxergar um melhor caminho senão por meio de um ensino superior bem feito. A história da UNIMAR, iniciada há mais de 60 anos, foi construída com base na excelência do ensino superior para transformar vidas, com a missão de formar profissionais éticos e competentes, inseridos na comunidade, capazes de constituir o conhecimento e promover a cultura e o intercâmbio, a fim de desenvolver a consciência coletiva na busca contínua da valorização e da solidariedade humanas. A história da UNIMAR é bela e de sucesso, e já projeta para o futuro novos sonhos, conquistas e desafios. A beleza e o sucesso, porém, não vêm somente do seu campus de mais de 350 alqueires e de suas construções funcionais e conectadas; vêm também do seu corpo docente altamente qualificado e dos seus egressos: mais de 100 mil pessoas, espalhados por todo o Brasil e o mundo, que tiveram suas vidas impactadas e transformadas pelo ensino superior da UNIMAR. Assim, é com orgulho que apresentamos a Educação a Distância da UNIMAR com o mesmo propósito: promover transformação de forma democrática e acessível em todos os cantos do nosso país. Se há alguma expectativa de progresso e mudança de realidade do nosso povo, essa expectativa está ligada de forma indissociável à educação. Nós nos comprometemos com essa educação transformadora, investimos nela, trabalhamos noite e dia para que ela seja ofertada e esteja acessível a todos. Muito obrigado por confiar uma parte importante do seu futuro a nós, à UNIMAR e, tenha a certeza de que seremos parceiros neste momento e não mediremos esforços para o seu sucesso! Não vamos parar, vamos continuar com investimentos importantes na educação superior, sonhando sempre. Afinal, não é possível nunca parar de sonhar! Bons estudos! Dr. Márcio Mesquita Serva Reitor da UNIMAR 3 Que alegria poder fazer parte deste momento tão especial da sua vida! Sempre trabalhei com jovens e sei o quanto estar matriculado em um curso de ensino superior em uma Universidade de excelência deve ser valorizado. Por isso, aproveite cada minuto do seu tempo aqui na UNIMAR, vivenciando o ensino, a pesquisa e a extensão universitária. Fique atento aos comunicados institucionais, aproveite as oportunidades, faça amizades e viva as experiências que somente um ensino superior consegue proporcionar. Acompanhe a UNIMAR pelas redes sociais, visite a sede do campus universitário localizado na cidade de Marília, navegue pelo nosso site unimar.br, comente no nosso blog e compartilhe suas experiências. Viva a UNIMAR! Muito obrigada por escolher esta Universidade para a realização do seu sonho profissional. Seguiremos, juntos, com nossa missão e com nossos valores, sempre com muita dedicação. Bem-vindo(a) à Família UNIMAR. Educar para transformar: esse é o foco da Universidade de Marília no seu projeto de Educação a Distância. Como dizia um grande educador, são as pessoas que transformam o mundo, e elas só o transformam se estiverem capacitadas para isso. Esse é o nosso propósito: contribuir para sua transformação pessoal, oferecendo um ensino de qualidade, interativo, inovador, e buscando nos superar a cada dia para que você tenha a melhor experiência educacional. E, mais do que isso, que você possa desenvolver as competências e habilidades necessárias não somente para o seu futuro, mas para o seu presente, neste momento mágico em que vivemos. A UNIMAR será sua parceira em todos os momentos de sua educação superior. Conte conosco! Estamos aqui para apoiá-lo! Sabemos que você é o principal responsável pelo seu crescimento pessoal e profissional, mas agora você tem a gente para seguir junto com você. Sucesso sempre! Profa. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária da UNIMAR Prof. Me. Paulo Pardo Coordenador do Núcleo EAD da UNIMAR 4 007 Aula 01: 020 Aula 02: 045 Aula 03: 060 Aula 04: 069 Aula 05: 083 Aula 06: 098 Aula 07: 106 Aula 08: 111 Aula 09: 122 Aula 10: 131 Aula 11: 139 Aula 12: 145 Aula 13: 153 Aula 14: 159 Aula 15: 165 Aula 16: Introdução à Gastronomia Hospitalar Noções Básicas de Nutrição Princípios da Alimentação Saudável A Influência dos Sentidos Sensoriais na Alimentação Dietas Hospitalares Implantando a Gastronomia Hospitalar Aula Prática - Dieta Líquida Aula Prática - Dieta Pastosa I Aula Prática - Dieta Pastosa II Aula Prática – Dieta Hipoglicídica Aula Prática - Dieta Hipossódica Aula Prática - Dieta com Restrição ao Leite de Vaca I Aula Prática - Dieta com Restrição ao Leite de Vaca II Aula Prática - Dieta com Restrição ao Glúten I Aula Prática - Dieta com Restrição ao Glúten II Aula Prática - Dieta no Conceito Comfort Food 5 Introdução Querido aluno, pode ser que você esteja ouvindo o termo Cozinha (ou Gastronomia) Hospitalar pela primeira vez, soando um pouco estranho e talvez até mesmo incoerente. A�nal, como podemos, como gastrônomos, atuar na cozinha de um hospital? No decorrer deste livro, entre aulas teóricas e práticas, �cará cada vez mais claro seu papel neste contexto. Você entenderá como a aplicação desse conceito pode auxiliar e bene�ciar a melhora dos pacientes que estão hospitalizados. Nas nossas aulas, falaremos sobre o mito de que comida de hospital é sempre ruim, de onde surgiu essa informação e de como a relação interdisciplinar entre nutricionistas e gastrônomos é uma ferramenta fundamental para quebrar essa visão dos pacientes. A Cozinha Hospitalar vem para colaborar e melhorar, através dos aspectos sensoriais dos alimentos, proporcionando assim uma alimentação agradável mesmo em um ambiente hostil como os hospitais. Para isso, entenderemos sobre noções básicas acerca da nutrição, alguns princípios da alimentação saudável, sobre como os tipos de dietas hospitalares podem ser usadas como estratégias alimentares, mesmo com restrições de certos ingredientes, como sal, açúcar e trigo, entre outros. Neste livro, vamos ainda estudar quais os processos que podemos seguir para implantação da gastronomia hospitalar. Aplicaremos todos os conceitos estudados em receitas que estão alinhadas com os tipos de dietas e restrições alimentares, sendo nutritivas, saborosas e seguras. Vamos começar? Te espero nas aulas! 6 01 Introdução à Gastronomia Hospitalar 7 Para aprendermos e aplicarmos os conceitos da Gastronomia Hospitalar, primeiro precisamos entender, de maneira objetiva, princípios de gastronomia, nutrição,saudabilidade, assim como, a interação entre essas ciências. Iniciaremos contextualizando sobre gastronomia, vamos lá! Gastronomia O entendimento sobre o conceito de gastronomia se faz a partir da origem da palavra Gastronomia, que vem do grego antigo gaster (ventre, estômago) e nomo (lei), literalmente: “as leis do estômago”. O termo foi criado pelo poeta e viajante grego Arquestratus, que através de tantas vivências pela observação e experimentação das especialidades de cada localidade criou o tratado Hedpatheia, no qual é possível veri�car tal de�nição (Freixa; Chaves, 2015). Segundo Caturegli, no livro Gastronomia de A a Z (2011), gastronomy (Ing.) signi�ca: gastronomia; a arte de comer bem, o estudo, o conhecimento e a prática referentes ao preparo e à degustação de iguarias em geral. A palavra gastronomia pode ser de�nida também como um ramo da culinária que engloba as técnicas, os métodos e os procedimentos usados para transformar os alimentos fornecidos pela natureza, e que o resultado contemple todos ou a maioria dos nossos sentidos – visão, olfato, paladar e tato. Isso quer dizer que a preparação deve ser agradável ao paladar, um prazer à vista, por meio da beleza das formas e das cores, ao olfato, pelos aromas, à audição pelo barulho de um alimento crocante, à consistência, percebida pela textura dos alimentos, e as peculiaridades culturais relacionadas ao homem (Martins; Baratto, 2018). A arte da gastronomia envolve a culinária, e os recursos que usamos no preparo dos alimentos – técnicas culinárias, as bebidas e suas harmonizações, além do lado cultural que caracteriza e diferencia uma região da outra, desde os primórdios da humanidade. 8 Alimentar-se é essencial à vida, atualmente, sabemos que alimentar-se de forma saudável é uma tarefa que envolve conhecimento prático e teórico sobre os alimentos. Isso se mostra essencial para que seja possível conhecer e extrair os benefícios nutricionais dos alimentos e prepará-los de maneiras saudáveis e saborosas, mas nem sempre foi assim na história. A França, no �nal do século XVIII, foi a responsável pelo surgimento de uma nova relação de preparo e de hábitos alimentares, modi�cou de forma de�nitiva o cenário da Gastronomia mundial. Houve uma ruptura entre prazer e saúde pela alimentação. Atualmente, as áreas da Gastronomia e Nutrição se aproximam, resgatando os preceitos da Grécia antiga e Oriente de que prazer e saúde são dois lados da mesma moeda, e podem, sim, caminhar juntas (Philippi; Colucci, 2018). Essas ciências, a Nutrição e a Gastronomia, se convergem nesse objetivo de uma alimentação saudável e prazerosa, pois cada uma fornece teorias e práticas que se complementam e possibilitam qualidade de vida para a população. Seja pela associação dos prazeres despertados, ou pelo uso de técnicas dietéticas que buscam extrair o máximo teor nutricional das preparações elaboradas. Esta junção de disciplinas leva a um entendimento maior, a interdisciplinaridade que, segundo Pombo (2004), a interdisciplinaridade é resultante da adoção de ações que visam aproximar os saberes e as práticas. Assim, considerando a necessidade de uma maior interação entre distintos conhecimentos, a interdisciplinaridade surge tanto para quebrar as fronteiras entre disciplinas, quanto para explorar a transversalidade entre os diferentes conhecimentos. A proximidade entre Nutrição e a Gastronomia tem como objetivo auxiliar na construção e manutenção da qualidade de vida, pois podem conferir hábitos saudáveis e prazer no ato de se alimentar. Portanto, a interdisciplinaridade entre essas duas ciências permite ao paciente uma relação mais próxima com o alimento ofertado, tornando-o mais aceito e estabelecendo uma relação entre hospital- paciente/cliente, já que temos conhecimento de que uma das grandes reclamações em hospitais seria a comida servida. 9 Nutrição Seguimos, compreendendo o conceito de Nutrição como ciência. Nutrição é a ciência que se ocupa dos alimentos, dos nutrientes e seus componentes – que são as chamadas substâncias bioativas -, sua ação, interação e balanço em relação à saúde e à enfermidade, assim como os processos por meio dos quais o organismo ingere, absorve, transporta, utiliza os componentes e excreta seus resíduos (GALISA; ESPERANÇA; SÁ, 2008, p. 7). A Nutrição aprofunda o conhecimento de como se alimentar de maneira adequada, com vistas à saúde e ao bem-estar. De acordo com as informações da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (2012), a alimentação e nutrição constituem requisitos básicos para a promoção e a proteção da saúde, possibilitando a a�rmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania. A educação alimentar e nutricional tem como premissa tornar o indivíduo seguro e autossu�ciente para fazer as suas escolhas alimentares garantindo uma alimentação nutritiva e prazerosa, atendendo às suas necessidades �siológicas, psicológicas e sociais (Martins; Basílio; Silva, 2016). Atualmente, a prática de uma alimentação saudável tem vertentes, mas a valorização do prazer alimentar tornou-se um fator importante. Portanto, entende-se como alimentação saudável aquela que atende às questões biológica, social e cultural, além do prazer que permeia tais dimensões (Philippi; Colucci, 2018). O Guia Alimentar para População Brasileira (2014) preconiza em dez passos diretrizes para uma alimentação saudável, conforme listados na tabela a seguir: 10 Tabela 1- Dez passos para uma alimentação saudável Fonte: Ministério da Saúde (2014). 1 Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação. 2 Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. 3 Limitar o consumo de alimentos processados. 4 Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados. 5 Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia. 6 Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados. 7 Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias. 8 Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece. 9 Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora. 10 Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. 11 Unidade de Alimentação e Nutrição - UAN Paciente, consumidor ou cliente, todos buscam o melhor de nós quando servimos alimentos que atendam às suas necessidades. Para isso, não basta planejar, selecionar, preparar os alimentos e servir a comida, nosso tipo de serviço deve ultrapassar esses quesitos e ir além. Deve servir cultura, trazer conforto e bem-estar, além da qualidade nutricional máxima dos alimentos, para que, assim, ao se alimentarem, as pessoas possam sentir aquele momento como um momento de prazer, e que após a refeição consigam enfrentar o trabalho, a vida, o tratamento de saúde, e assim por diante. Por isso, é fundamental a alimentação ser bem aceita assim como consumida por nosso comensal (Martins; Baratto, 2018). Historicamente, o mito de que comida de hospital é sempre ruim e insossa é antigo e data dos tempos das guerras quando os hospitais eram considerados como locais de “depósitos de pessoas” que estavam prestes a morrer ou que precisavam ser isoladas do resto da população, para evitar o contágio de doenças e, nessa situação, não havia nenhum tipo de preocupação com a segurança e qualidade do alimento a ser ofertado. Não sabemos exatamente quando a preocupação com a alimentação dos pacientes começou, pois a história da nutrição hospitalar se mistura com os cuidados ao paciente (Philippi; Colucci, 2018), mas sabemos que foi no século XVIII, que os hospitais de caridade foram criados e que temos relatos de preocupação com limpeza e higiene levando a uma mudança no padrão de produção e distribuição dos alimentos, sendo uma das prioridades evitar a disseminaçãoe prevenir possíveis epidemias relacionadas a essas práticas (Roberto et al., 2013). A partir do século XIX, a alimentação era oferecida com o intuito de minimizar possíveis danos à saúde e, por isso, as refeições eram feitas sem sal, sem gordura e sem temperos e as quantidades eram porcionadas de acordo com sexo, idade e doença. Foi então que, no século XX, a alimentação ganhou importância pelo seu impacto nos processos de prevenção e auxílio na cura de doenças, assim como na manutenção da saúde. A descoberta de que um indivíduo bem alimentado traria mais rendimentos e maior produtividade fez com que a alimentação ganhasse então uma nova visão e passasse a ser uma ferramenta para o bem-estar. Mezomo (2002), fala que as cozinhas hospitalares eram simples, com equipamentos, instalações e área física pequena e em poucas quantidades, armários, fogão a lenha e uma pequena geladeira. A responsabilidade da cozinha �cava por conta de uma 12 cozinheira de “mão cheia”, que entendia de comida para doentes, porque cuidou por muito tempo de seus pais e avós, esta recebia explicações do médico, enfermeira ou da madre superiora. A compra dos alimentos era feita de forma prática, nas quitandas, feiras e armazéns, conforme os gostos próprios, necessidade e preço. Segundo Vasconcelos (2001 apud Guimarães, 2007): O estatuto de ciência da nutrição só foi alcançado na primeira metade do século XX, quando os conhecimentos acumulados sobre a composição dos alimentos e sobre a relação entre dieta e enfermidade, dentro do processo de divisão do trabalho em saúde, exigiam a atuação de um pro�ssional capacitado nesse campo. A partir de 1899, o setor responsável por preparar a alimentação destinada aos doentes foi denominada “cozinha de dietas” e era de responsabilidade de dietistas/nutricionistas especialmente quali�cados. Em 1917, o setor de “Cozinha de dietas” foi dividido em dois tipos de serviço, o de Nutrição e Dietética, destinado aos enfermos, e o de Alimentação, direcionado à coletividade sadia (Isosaki, 2009). Atualmente no serviço de alimentação existe um planejamento esmerado e e�ciente controle de todo o processo que envolve a compra, armazenamento, preparação e distribuição de alimentos para os pacientes, funcionários do serviço de alimentação e para todos os funcionários do hospital, assim como a atuação cientí�ca, docente e assistencial, dispensada a toda a população do hospital e comunidade (MEZOMO, 2002, p. 82). As Unidades de Alimentação e Nutrição, conhecidas pela sigla UAN, surgiram no Brasil na década de 1920, porém, foi no �nal da década de 1930, que o setor passou a ter um pouco de reconhecimento a partir da reivindicação da classe trabalhista por melhores condições de trabalho, incluindo a alimentação custeada. Ao mesmo tempo ocorreu a constatação pela classe empresarial de que um trabalhador bem alimentado e saudável rendia mais, conduzindo as empresas a incluir, em sua estrutura funcional, as UANs (Martins; Baratto, 2018). Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) pode ser de�nida como um órgão de uma empresa ou unidade de trabalho, responsável por realizar atividades relacionadas à alimentação e nutrição, independente da escala hierárquica que ocupa (Teixeira, 2006). 13 Abreu (2009), acrescenta que as unidades de alimentação coletiva visam ao fornecimento de refeições balanceadas dentro dos padrões dietéticos e higiênicos para atender às necessidades nutricionais dos clientes, ajustando-se aos limites �nanceiros da Instituição. Estas podem ainda ser consideradas um subsistema, podendo desempenhar atividades-�m ou meios. As UANs de hospitais e Centros de Saúde, por exemplo, são consideradas órgãos-�ns, pois colaboram de forma direta para o alcance do objetivo �nal, que é prevenir, melhorar e/ou recuperar a população a qual atende, seja por meio de ambulatório, ou de hospitalização (Teixeira, 2006). No entanto, as UANs são provenientes de mudanças que aconteceram ao longo do tempo, em que a princípio não se tinha mão de obra especializada para gerir e administrar tal �m até os tempos atuais, no qual contamos com o direcionamento de várias portarias sancionadas pela ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que regulamenta a atuação da nutrição em ambiente hospitalar. A redução da alimentação oral durante o período de internação apresenta-se como fator de risco isolado de mau prognóstico, principalmente em pacientes com algum grau de desnutrição prévio. Olhando para esse cenário, a gastronomia deve mudar esse modelo relacionado à palatabilidade dos alimentos ofertados em ambiente hospitalar e mostra-se como ferramenta adicional da assistência e da triagem nutricionais envolvendo a atuação da EMTN - equipe multipro�ssional de terapia nutricional -, comissão obrigatória por lei que deve ser formada por, pelo menos, um médico, um nutricionista, um enfermeiro e um farmacêutico (Roberto et al., 2013). Interdisciplinaridade entre as ciências: Nutrição e Gastronomia A gastronomia tem como desa�os a identi�cação precisa das necessidades e expectativas dos clientes até a tradução mais real em produtos saudáveis, atrativos, nutritivos e saborosos. Os conhecimentos na gastronomia envolvem as diferentes formas de preparar os mesmos alimentos, observando e valorizando, principalmente, os seus aspectos sensoriais (Martins; Basílio; Silva, 2016). A importância do nutricionista enquanto pro�ssional da área da saúde mostra-se e�caz no controle e estudo de enfermidades ligadas à alimentação. Não apenas para auxiliar no controle e prevenção de tais enfermidades, a nutrição colabora com as 14 técnicas necessárias para melhor aproveitamento dos nutrientes e aliado à experiência e conhecimento de um gastrônomo, transforma o alimento em um prato nutritivo, que, além de atraente aos olhos, é saboroso ao paladar (Baker, 2003). A união da gastronomia com a nutrição pode ser considerada a arte de conciliar a prescrição alimentar à elaboração de refeições saudáveis, nutritivas e saborosas. Essa junção entre os conceitos de Nutrição e Gastronomia é uma condição essencial para modi�carmos e ampliarmos nosso olhar sobre a alimentação humana e sua relação com a saúde, o bem-estar e à qualidade de vida, englobando o conhecimento sobre os nutrientes, os alimentos e suas combinações, técnicas culinárias e os aspectos culturais e sociais do ser humano (Philippi; Colucci, 2018). Essas duas ciências têm como principal instrumento de trabalho o alimento, que deve, além de atender a princípios cientí�cos relacionados à sua qualidade nutricional, higiênica e econômica, cumprir seu papel de dar prazer ao ser oferecido na forma de preparações culinárias atraentes quanto a sabor, cor, forma, aroma e textura (Abreu; Spinelli, 2014). Segundo Martins, Basílio e Silva (2016), a interface entre gastronomia e nutrição é cada vez mais ampla, já que hoje se reconhece o papel imprescindível de uma boa alimentação para a qualidade de vida das pessoas. A nutrição colabora para que a qualidade da preparação, obedecendo a todos os preceitos da gastronomia, seja equilibrada, além dos nutrientes da matéria-prima serem otimamente aproveitados. Auxilia, ainda, na educação e informação acerca da 15 melhor e mais adequada forma de se alimentar, para prevenir excessos e faltas alimentares (Baker, 2003). Os estudos gastronômicos sobre o papel dos alimentos na elaboração de alternativas mais saudáveis começaram a ter destaque no século passado, na década de 1960, quando o reconhecimento de que a cozinha deve ser uma extensão da natureza, não anulando o seu trabalho, mas, sim, o completando, começou a ser aceito pelos pro�ssionais da gastronomia (Martins; Basílio; Silva, 2016). Para mudar maus hábitos alimentares ou adquirir os bons é preciso que se entenda e aprenda (ou reaprenda) o signi�cado e a importância de se comer bem, com foco na qualidade e não quantidade, isto é, trata-se de um novo estilo de vida, de ampliar conceitos, mudar costumes. Faz-se necessária a interação da nutriçãoclínica à gastronomia, para combater maus hábitos alimentares e buscar o prazer que é dado exclusivamente ao homem em escolher seu alimento a ser saboreado, quebrando o paradigma de que “a dieta de hospital” deve ser repetitiva e sem graça, devido às suas restrições (Ciambra, Gonçalves, Uzelin, 2009). É necessário um conjunto de ações entre as áreas de manipulação e produção dos alimentos e de serviço clínico-nutricional visando ao bem-estar do paciente (Souza; Molero; Molina, 2021). 16 Veja neste vídeo que o Hospital Samaritano em São Paulo, conta com uma unidade de Nutrição e Gastronomia com o objetivo de cuidar melhor dos pacientes. Gastronomia Hospitalar Segundo Guimarães (2007), a gastronomia hospitalar é a arte em conciliar a preparação de refeições saudáveis e nutritivas, atrativas e saborosas à prescrição dietética e às restrições alimentares dos pacientes, a �m de proporcionar a fusão de objetivos sensoriais, dietéticos e clínicos e promover a nutrição com prazer. E, de acordo com Roberto et al. (2013), o conceito de gastronomia hospitalar é a aplicação das técnicas gastronômicas, diante das dietas hospitalares, a �m de melhorar as características sensoriais das preparações em seus diversos aspectos, promovendo nutrição e saúde, humanização e respeito ao paciente. O alimento ofertado ao paciente deve ser de acordo com as necessidades nutricionais associadas com os mais diversos quadros clínicos, mas também, deve respeitar os atributos sociais, culturais e religiosos, assim como hábitos alimentares, presentes na vida do paciente, anteriores à internação. Demário et al. (2010) ressaltam que a alimentação hospitalar deve ser bem planejada, porém, a preocupação com a qualidade nutricional relacionada ao adequado aporte de macro e micronutrientes faz com que pouca atenção seja dada aos seus aspectos 17 https://go.eadstock.com.br/V9 de cor, sabor, aroma, textura e a temperatura na hora da refeição. Santos et al. (2017) relatam que refeições hospitalares sem sabor e atração visual, resultam em uma baixa aceitação pelos pacientes. Essa associação de comida de hospital a comida ruim leva muitos pacientes a desconsiderar a alimentação oferecida nos hospitais e isso leva à desaprovação da refeição servida e, muitas vezes, numa possível desnutrição dos pacientes. O que pode gerar pioras na recuperação e restabelecimento de sua saúde. A alimentação hospitalar passou a receber atenção especial, o que agregou às refeições maior satisfação transformando-as em uma ferramenta importante para a recuperação dos pacientes, e a gastronomia hospitalar surgiu para desmisti�car esse conceito de que comida de hospital é sempre ruim e para mudar os conceitos e as atitudes sobre as dietas servidas nos hospitais, melhorando os aspectos sensoriais dos alimentos, para que estes no momento da refeição sejam agradáveis nas dimensões visuais, olfativas, gustativas, táteis e auditivas dos pacientes (Santos et al. 2017). A Gastronomia Hospitalar é um desa�o para os pro�ssionais de nutrição, gastronomia, enfermagem, por isso, a importância de uma equipe multidisciplinar unida pelo objetivo de atingir as expectativas e, consequentemente, as necessidades dos pacientes, que, cada vez mais, buscam um cuidado individualizado e mais humanizado (Silva; Maurício, 2013). A implantação da Gastronomia hospitalar é um enorme diferencial para a qualidade dos serviços prestados pelos hospitais. Essa preocupação mais ampla quanto ao bem-estar do paciente, durante sua estadia no hospital, faz parte do conceito de hotelaria que vem sendo incorporado ao ambiente hospitalar, fazendo com que o usuário se sinta cada vez mais cliente e menos paciente. 18 Querido aluno, veja no vídeo “Amor em cada refeição na gastronomia hospitalar” o relato de um gastrônomo que atua na cozinha de um hospital. 19 https://go.eadstock.com.br/Wa 02 Noções Básicas de Nutrição 20 Querido aluno, como aprendemos na aula anterior, para atuarmos frente à Gastronomia Hospitalar precisamos realizar um trabalho multidisciplinar, principalmente em conjunto com o pro�ssional de nutrição. Para que essa interdisciplinaridade de pro�ssões aconteça de forma produtiva há uma necessidade de entendermos alguns conceitos básicos sobre nutrição, alimentação e nutrientes. Vamos começar? Bases para uma alimentação saudável A alimentação saudável é aquela que é tanto adequada quanto balanceada e considera variações individuais, tais como, idade, preferências de paladar e hábitos alimentares. É também aquela que atende a todas as necessidades nutricionais de um indivíduo para a manutenção, reparo, processos de vida e crescimento ou desenvolvimento. Uma dieta balanceada inclui todos os nutrientes em quantidades apropriadas e proporcionais uns aos outros. Com o aumento do conhecimento da associação entre a dieta e as doenças, tais como: diabetes tipo II, doenças cardíacas, osteoporose e alguns tipos de câncer que prematuramente debilitam e matam muitas pessoas, uma dieta apropriada é agora considerada como sendo aquela que auxilia na redução dos riscos de se desenvolver tais doenças crônicas degenerativas e suas complicações (Mahan et al., 2002). Segundo informações da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (2012), a dieta habitual dos brasileiros é composta por diversas in�uências e, atualmente, é fortemente caracterizada por uma combinação de uma dieta dita “tradicional” (baseada no arroz com feijão) com uma grande quantidade de alimentos classi�cados como ultraprocessados, com altos teores de gorduras, sódio e açúcar e com baixo teor de micronutrientes e alto conteúdo calórico. A alimentação saudável deve ser organizada com alimentos de todos os grupos alimentares, oriundos de fontes seguras e conhecidas, consumidos em refeições, respeitando-se as diferenças particulares, emocionais e sociais, de forma a obter as recomendações nutricionais, e o prazer ao comer (Philipp, 2014). 21 Estão inseridos no conceito de comportamento alimentar todas as formas de convívio com o alimento. É um conjunto de ações executadas que tem início quando o indivíduo escolhe qual alimento irá consumir, de acordo com seu hábito alimentar, a disponibilidade, o modo que irá prepará-lo, os utensílios usados para consumir os alimentos, bem como a escolha dos horários e os tipos de refeições. Quando se trata de crianças, idosos e doentes, que não têm total autonomia no ato de se alimentar, pode-se incluir também o conceito de “cuidador”, que seriam os itens do conceito de comportamento alimentar, mas desenvolvida por uma pessoa responsável pela alimentação desse grupo (Philipp, 2014). No ambiente hospitalar, a dieta é uma ferramenta ainda mais importante para o restabelecimento do paciente. A alimentação é peça importante para a recuperação da saúde do paciente, além de se mostrar como um meio de conforto e qualidade (Santos et al., 2017). Mas, para que a alimentação exerça esse papel importante, ela precisa ser nutritiva. Para isso, devemos conhecer os elementos básicos que compõem uma dieta saudável. Nutrientes Para entendermos os elementos básicos de uma dieta saudável começamos estudando os nutrientes. Por de�nição, os nutrientes são compostos químicos que constituem os alimentos. Eles são essenciais para o bom funcionamento do corpo humano. Os nutrientes têm funções especí�cas e podem ser encontrados em uma diversidade de alimentos. São divididos nas categorias: energético, construtor ou regulador. Também podem ser agrupados seguindo a denominação de macronutrientes e micronutrientes. Então, temos como macronutrientes os carboidratos, gorduras e proteínas e os micronutrientes as vitaminas e minerais. 22 Figura 1: classi�cação dos nutrientes São compostos químicos que constituem os alimentos O que são nutrientes? São classificados em: Macronutrientes: • Proteínas • Carboidratos • Lipídeos • Água Micronutrientes: • Vitaminas (A, complexo B,C,D,E e K) • sais minerais (cálcio, ferro, sódio, zinco, potássio fósforo, cobre, iodo, flúor...) Fonte: Disponívelaqui Nutrientes Energéticos Os nutrientes energéticos possuem como função fornecer energia às células. São exemplos de nutrientes energéticos os carboidratos e os lipídios. Carboidratos Os alimentos ricos em carboidratos são a principal fonte de energia utilizada pelo nosso organismo. Os carboidratos fornecem energia para o movimento dos músculos, além de ajudar a regular o metabolismo das gorduras (Chef Pro�ssional, 2011). 23 https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fslideplayer.com.br%2Fslide%2F11938584%2F&psig=AOvVaw3IrjTzCBVBoLD5ckt9Fssh&ust=1620244144644000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLDYgPvlsPACFQAAAAAdAAAAABAQ Os principais alimentos desse grupo são: arroz, pães, batata, mandioca. Os cereais, tubérculos e raízes compõem esse grupo por apresentarem como nutriente predominante em sua composição o carboidrato, que é a principal fonte de energia alimentar do mundo (PHILIPP, 2014). Os carboidratos são compostos por unidades menores chamadas carboidratos simples e os carboidratos complexos, necessários para que o corpo funcione com e�ciência, preenchendo suas necessidades de energia. Existem carboidratos saudáveis e aqueles com muita energia, mas pobres em nutrientes, como o açúcar e os doces. Boas opções de carboidratos são as frutas, os legumes, cereais integrais e grãos. Os carboidratos complexos também são, em sua maioria, boas fontes de outros componentes importantes de uma dieta equilibrada, como, as vitaminas e minerais (Chef Pro�ssional, 2011). Os carboidratos são divididos de acordo com seu grau de polimerização, isto é, segundo o número de ligações glicosídicas presentes na molécula. São divididos em três grupos principais: açúcares, oligossacarídeos e polissacarídeos. Açúcares No grupo dos açúcares temos os monossacarídeos, dissacarídeos e os polióis, vejamos: Monossacarídeos: não podem ser hidrolisados em açúcares menores. Menor molécula de carboidrato. Exemplos: glicose, frutose e galactose. Dissacarídeos: compostos por dois monossacarídeos. Exemplos: sacarose, lactose e maltose. A sacarose é composta de glicose + frutose, a cana-de-açúcar é a principal fonte de sacarose, mas esta também pode ser obtida de beterraba e de algumas outras frutas como a uva. É a forma de açúcar mais comum e acessível da dieta habitual. A lactose é composta de glicose + galactose, comumente encontrada no leite, por isso, chamada de açúcar do leite. A maltose é composta por duas moléculas de glicose (glicose + glicose). Polióis: são açúcares derivados de álcoois. Exemplos: sorbitol e maltitol. O sorbitol é um açúcar de álcool encontrado naturalmente em frutas como, 24 maçã, pera e ameixa. O maltitol contém metade da energia fornecida pela glicose, por isso, pode ser utilizado como edulcorante/adoçante na produção de alguns alimentos. Os dissacarídeos e os polissacarídeos precisam virar monossacarídeos para serem digeridos. Oligossacarídeos: são os carboidratos que possuem um grau de polimerização de 3 a 9. Uma das subdivisões desse grupo são os malto- oligossacarídeos que são compostos por unidades de glicose, geralmente, obtidos da quebra do amido. Como exemplo principal tem-se a maltodextrina. Polissacarídeos: são os carboidratos que possuem grau de polimerização acima de 9, chegando a centenas e até milhares deles. São polímeros compostos por no mínimo dez monossacarídeos. Amido é uma subdivisão desse grupo, assim como celulose e glicogênio. Alguns carboidratos possuem a função energética, sendo armazenado como amido nas plantas e como glicogênio nos animais. Quando esses polímeros são hidrolisados (quebrados) resultam em monossacarídeos que servirão de combustível no processo chamado de respiração celular, no qual o produto mais importante é o ATP, ou seja, energia para as células. 25 Figura 2 - Ilustração da divisão do grupo açúcares AÇÚCAR Monossacarídeos Hidratos de carbono (açúcares) Dissacarídeos Polissacarídeos Açucares mais simples Formados por dois monossacarídeos Formados por mais de dois monossacarídeos Fonte: Disponível aqui Figura 3 - Dissacarídeos AÇÚCAR Dissacarídeos Hidrólise enzimática: quebra do açúcar Sacarose: glicose + frutose Lactose: glicose + galactose Maltose: 2 glicoses Fonte: Disponível aqui 26 https://descomplica.com.br/artigo/mapa-mental-glicidios/4SZ/ https://www.slideshare.net/marialaislba/carboidratos-acares Figura 4 - Alimentos energéticos - carboidratos Fonte: Disponível aqui Lipídios Os lipídios são uma reserva importante de energia, utilizada em momentos de necessidade, assim como os carboidratos. Participam da composição de membranas biológicas e na produção de hormônios e de sais biliares. Além disso, funcionam como isolantes térmicos, impermeabilização de superfícies e auxiliam na absorção de algumas vitaminas A, D, E e K - vitaminas lipossolúveis (Quaresma; Lethiais, 2014). Os lipídios são moléculas orgânicas formadas a partir da associação entre ácidos graxos e álcool, tais como, óleos e gorduras. Eles não são solúveis em água, mas se dissolvem em solventes orgânicos, como, a benzina e o éter. De acordo com a natureza do ácido graxo e do álcool que formam os lipídios, eles podem ser classi�cados em quatro grandes grupos: simples, complexos, derivados e precursores. Vejamos: Os lipídios simples ou ternários são compostos apenas por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. 27 https://www.suplementosbrasil.org/alimentos-2/alimentos-energeticos/ Os lipídios complexos ou compostos, além de possuírem os átomos presentes nos lipídios simples, apresentam átomos de outros elementos, como o fósforo. Os lipídios precursores são formados a partir da hidrólise de lipídios simples e complexos. Os derivados, por sua vez, são formados após transformações metabólicas sofridas pelos ácidos graxos. Utilizando como critério o ponto de fusão, podemos classi�car os lipídios em dois grandes grupos: as gorduras e os óleos. As gorduras são sólidas em temperatura ambiente são produzidas por animais e seus ácidos graxos são de cadeia saturada, ou seja, unidos por ligações simples (denominadas substâncias saturadas). Os óleos, por sua vez, são líquidos em temperatura ambiente, fabricados por vegetais e seus ácidos graxos possuem cadeia insaturada, ou seja, apresentam dupla ligação (denominados substâncias insaturadas). Os lipídios podem ser de origem vegetal ou animal. Os alimentos de origem animal fontes de lipídios são: Carnes vermelhas Peixes Ovos Leite e seus derivados 28 Figura 5- Alimentos energéticos - lipídios Fonte: Freepik. Os alimentos de origem vegetal fontes de lipídios são: Coco Abacate Oleaginosas como castanhas, nozes, amêndoas e gergelim Azeite de oliva Os lipídios são moléculas orgânicas insolúveis em água e solúveis em certas substâncias orgânicas, tais como, álcool, éter e acetona. Nutrientes Construtores Os nutrientes construtores participam da constituição de enzimas, anticorpos e hormônios. São representados pelas proteínas. Proteínas 29 As proteínas são substâncias formadas por um conjunto de aminoácidos ligados entre si através de ligações peptídicas. As proteínas são substâncias que exercem as mais diversas funções no organismo, destacam-se: fornecimento de energia, estruturação da célula, catalisador de funções biológicas, regulação de processos metabólicos, defesa e produção de hormônios e neurotransmissores. Além de ser um nutriente essencial para o crescimento e manutenção dos tecidos do corpo, enzimas, produção de anticorpos e na regulação dos �uidos corporais. De acordo com a função das proteínas no organismo, essas são classi�cadas em dois grandes grupos: Proteínas Dinâmicas: realizam funções como defesa do organismo, transporte de substâncias, catálise de reações, controle do metabolismo. Proteínas Estruturais: como o próprio nome indica, sua função principal é a estruturação das células e dos tecidos no corpo humano. O colágeno e a elastina são exemplos desse tipo de proteína. Se uma proteína perde sua estrutura, ela perde também sua função, porque issoestá relacionado. Esse processo é denominado de desnaturação e ocorre em altas temperaturas, em grandes variações de pH, em contato com alguns solventes orgânicos. Os blocos de construção das proteínas são chamados aminoácidos. Existem nove aminoácidos essenciais que devem ser fornecidos pela dieta, já que o corpo não os produz. Os alimentos ricos em proteínas contêm alguns, ou todos, os aminoácidos. Os alimentos proteicos são classi�cados como completos ou incompletos, dependendo da presença, ou falta, dos aminoácidos essenciais. Um alimento que oferece os nove aminoácidos na proporção adequada para que o corpo humano adulto sustente a produção de outras proteínas é denominado completo (Chef Pro�ssional, 2011). Os noves aminoácidos essenciais são: histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina. As verduras, os grãos, os legumes e as frutas secas não contêm todos os aminoácidos essenciais, portanto, não são considerados completos. No entanto, cada um desses grupos de alimentos contém parte dos aminoácidos essenciais que, quando consumidos combinados com outras proteínas também incompletas, podem formar proteínas completas. No popular, quando falamos que arroz e feijão formam um casamento perfeito. 30 Figura 6 - Alimentos construtores - proteínas Fonte: Disponível aqui Explicando melhor: o arroz é rico nos aminoácidos metionina e cisteína, porém é pobre no aminoácido lisina, assim como os outros cereais. Já o feijão, apresenta todos os aminoácidos essenciais, sendo inclusive rico em lisina, mas é pobre em metionina e cisteína (o que no arroz é rico), entendemos então o porquê é uma boa combinação alimentar. Os alimentos ricos em proteínas são os de origem animal e em menor quantidade de origem vegetal, vejamos: Alimentos de origem animal: carnes em geral, peixes, ovos, leite e derivados; Alimentos de origem vegetal: leguminosas, como todos os tipos de feijões, lentilha, soja, trigo, ervilhas. Nutrientes Reguladores Os nutrientes denominados reguladores são necessários para o bom funcionamento do organismo, auxiliando na prevenção de doenças e no crescimento. São exemplos de nutrientes reguladores as vitaminas e sais minerais. 31 https://lightchef.com.br/o-que-sao-alimentos-construtores-reguladores-e-energeticos/ O consumo adequado de vitaminas e minerais é importante para a manutenção das diversas funções metabólicas do organismo. Assim, o consumo inadequado das vitaminas e minerais pode causar estados de carência nutricional, sendo conhecidas diversas manifestações patológicas por ela produzidas. Quando falamos sobre o consumo de vitaminas e minerais, muitas pessoas pensam em suplementação e recorrem a polivitamínicos e poliminerais encontrados para vender em farmácias. Mas precisamos saber que esses micronutrientes existem naturalmente na maior parte dos alimentos e, por isso, são mais bem absorvidas pelo organismo. Dessa forma, para ingerirmos a quantidade adequada de vitaminas e minerais, basta fazer uma alimentação variada consumindo frutas, verduras e legumes diariamente (Quaresma; Lethiais, 2014). As vitaminas e os minerais são necessários em menores quantidades do que proteínas, carboidratos e gorduras, as vitaminas e minerais são nutrientes não calóricos essenciais (Chef Pro�ssional, 2011). Vitaminas As vitaminas são substâncias orgânicas, importantes na regulação das funções do nosso organismo. Precisam ser ingeridas através da alimentação, pois não são sintetizadas pelo organismo. As vitaminas são divididas em hidrossolúveis e lipossolúveis. As vitaminas hidrossolúveis se dissolvem em água e são facilmente transportadas por todo o corpo na corrente sanguínea as lipossolúveis são armazenadas nos tecidos gordurosos (Chef Pro�ssional, 2011). Sais Minerais Os sais minerais são substâncias inorgânicas essenciais para o bom funcionamento do corpo. Eles fornecem elementos químicos importantes ao organismo, como, o ferro, fósforo, cálcio, magnésio, cloro e enxofre, entre outros. Do mesmo modo que as vitaminas, os sais minerais não são produzidos pelo organismo humano, devendo ser ingeridos por uma dieta diversi�cada. Veja, a seguir, duas tabelas onde encontramos a vitamina ou o mineral, sua função, o que sua presença possibilita no organismo e as fontes (em quais alimentos estão disponíveis). 32 Tabela 1 - Tabela de Vitaminas Vitamina Função Sua.presença possibilita Fontes A Atua sobre a pele, a retina dos olhos e as mucosas; aumenta a resistência aos agentes infecciosos Fortalecimento de dentes, unhas e cabelos; prevenção de doenças respiratórias Manteiga, leite, gema de ovo, fígado, espinafre, chicória, tomate, mamão, batata, cará, abóbora B1 ou tiamina Auxilia no metabolismo dos carboidratos; favorece a absorção de oxigênio pelo cérebro; equilibra o sistema nervoso e assegura o crescimento normal Alívio de dores musculares e cólicas da menstruação; pele saudável Carne de porco, cereais integrais, nozes, lentilha, soja, gema de ovo B2 ou ribo�avina Conserva os tecidos, principalmente os do globo ocular Benefícios para a visão e diminuição do cansaço ocular; bom estado da pele, unhas, cabelos e mucosas Fígado, rim, lêvedo de cerveja, espinafre, berinjela 33 B6 ou piridoxina Permite a assimilação das proteínas e das gorduras Melhora de sintomas da tensão pré- menstrual; prevenção de doenças nervosas e de afecções da pele Carnes de boi e de porco, fígado, cereais integrais, batata, banana B12 ou cobalamina Colabora na formação dos glóbulos vermelhos e na síntese do ácido nucléico Melhora na concentração e memória; alívio da irritabilidade Fígado e rim de boi, ostra, ovo, peixe, aveia C ou ácido ascórbico Conserva os vasos sanguíneos e os tecidos; ajuda na absorção do ferro; aumenta a resistência a infecções; favorece a cicatrização e o crescimento normal dos ossos Produção de colágeno; redução do efeito de substâncias que causam alergia; previne o resfriado Limão, laranja, abacaxi, mamão, goiaba, caju, alface, agrião, tomate, cenoura, pimentão, nabo, espinafre D �xa o cálcio e o fósforo em dentes e ossos e é muito importante para crianças, gestantes e mães que amamentam Prevenção da osteoporose Óleo de fígado de peixes, leite, manteiga, gema de ovo, raios de sol 34 E Antioxidante; favorece o metabolismo muscular e auxilia a fertilidade Alívio da fadiga; retardamento do envelhecimento; prevenção de abortos espontâneos e cãibras nas pernas Germe de trigo, nozes, carnes, amendoim, óleo, gema de ovo H ou biotina Funciona no metabolismo das proteínas e dos carboidratos Prevenção da calvície; alívio de dores musculares e do eczema e dermatite Fígado e rim de boi, gema de ovo, batata, banana, amendoim K Essencial para que o organismo produza protombrina, uma substância indispensável para a coagulação do sangue Formação de determinadas proteínas Fígado, verduras, ovo Ácido fólico Atua na formação dos glóbulos vermelhos Prevenção de defeitos congênitos graves na gravidez; prevenção do câncer Carnes, fígado, leguminosas, vegetais de folhas escuras, banana, melão B3, PP ou niacina Possibilita o Produção de Levedo, 35 Fonte: Enciclopédia Conhecer 2000, Nova Cultural, 1995 Disponível aqui (ácido nicotínico) metabolismo das gorduras e carboidratos hormônios sexuais; auxílio no processo digestivo fígado, rim, coração, ovo, cereais integrais B5 ou Ácido pantotênico Auxilia o metabolismo em geral Prevenção da fadiga; produção do colesterol, gorduras e glóbulos vermelhos Fígado, rim, carnes, gema de ovo, brócolis, trigo integral, batata Ácido paraminobenzoico Estimula o crescimento dos cabelos Além do crescimento, manutenção da cor e suavidade dos cabelos Carnes, fígado, leguminosas, vegetais de folhas escuras B7 ou Colina Auxilia no crescimento Diminuição do excesso de gordura no fígado; produção de hormônios Gema de ovo, soja, miolo, fígado, rim Inositol Age no metabolismo do colesterol Auxílio na remoção de gorduras e redução de colesterol no sangue Existe emtodas as células animais e vegetais 36 https://www3.faac.unesp.br/nos/novos_textos/tabela_vitaminas.htm Tabela 2 – Tabela de Sais Minerais Sal mineral Função Sua presença possibilita Fontes Cálcio Atua na formação de tecidos, ossos e dentes; age na coagulação do sangue e na oxigenação dos tecidos; combate as infecções e mantém o equilíbrio de ferro no organismo Contração de músculos; absorção e secreção intestinal; liberação de hormônios Queijo, leite, nozes, uva, cereais integrais, nabo, couve, chicória, feijão, lentilha, amendoim, castanha de caju Cobalto Age junto com a vitamina B12, estimulando o crescimento e combatendo as afecções cutâneas Produção de glóbulos vermelhos e formação da mielina Está contido na vitamina B e no tomate Fósforo Atua na formação de ossos e dentes; indispensável para o sistema nervoso e o sistema muscular; junto com o cálcio e a vitamina D, combate o raquitismo Prevenção de pedras nos rins; tratamento de diabetes Carnes, miúdos, aves, peixes, ovo, leguminosas, queijo, cereais integrais Ferro Indispensável na formação do sangue; atua como veiculador do oxigênio para todo o organismo Tratamento de anemia e cólicas menstruais Fígado, rim, coração, gema de ovo, leguminosas, verduras, nozes, frutas secas, azeitona 12 37 Iodo Faz funcionar a glândula tireoide; ativa o funcionamento cerebral; permite que os músculos armazenem oxigênio e evita que a gordura se deposite nos tecidos Alívio de dores nos seios; redução de risco de câncer de mama Agrião, alcachofra, alface, alho, cebola, cenoura, ervilha, aspargo, rabanete, tomate, peixes, frutos do mar vegetais Cloro Constitui os sucos gástricos e pancreáticos É difícil haver carência e cloro, pois existe em quase todos os vegetais; o excesso de cloro destrói a vitamina E e reduz a produção de iodo Potássio Atua associado ao sódio, regularizando as batidas do coração e o sistema muscular; contribui para a formação as células Aumento da atividade dos rins; armazenamento de carboidratos; manutenção da pressão arterial Azeitona verde, ameixa seca, ervilha, �go, lentilha, espinafre, banana, laranja, tomate, carnes, vinagre de maçã, arroz integral Magnésio Atua na formação dos tecidos, ossos e dentes; ajuda a metabolizar os Contração e relaxamento muscular; transporte de O Frutas cítricas, leguminosas, gema de ovo, salsinha,2 38 carboidratos; controla a excitabilidade neuromuscular agrião, espinafre, cebola, tomate, mel Manganês Importante para o crescimento; intervém no aproveitamento do cálcio, fósforo e vitamina B1 Desenvolvimento de recém- nascidos; coagulação do sangue; cicatrização de feridas Cereais integrais, amendoim, nozes, feijão, arroz integral, banana, alface, beterraba, milho Silício Age na formação dos vasos e artérias e é responsável pela sua elasticidade; atua na formação da pele, das membranas, das unhas e dos cabelos; combate as doenças da pele e o raquitismo Prevenção de problemas cardíacos; redução da queda de cabelo; tratamento de unhas quebradiças; aumento da elasticidade da pele Amora, aveia, escarola, alface, abóbora, azeitona, cebola Flúor Forma ossos e dentes; previne dilatação das veias, cálculos da vesícula e paralisia Prevenção de cáries dentárias e osteoporose Agrião, alho, aveia, brócolis, beterraba, cebola, couve- �or, maçã, trigo integral Cobre Age na formação da hemoglobina (pigmento vermelho do sangue) Desenvolvimento de ossos e tendões; redução da dor em caso de artrite Centeio, lentilha, �go eco, banana, damasco, passas, ameixa, 39 Fonte: Enciclopédia Conhecer 2000, Nova Cultural, 1995. Disponível aqui batata, espinafre Sódio Impede o endurecimento do cálcio e do magnésio, o que pode formar cálculos biliares ou nefríticos; previne a coagulação sanguínea Alívio de dores e cãibras musculares; auxílio no processo digestivo Todos os vegetais (principalmente salsão, cenoura, agrião e cebolinha verde), queijo, nozes, aveia Enxofre Facilita a digestão; é desinfetante e participa do metabolismo das proteínas Produção de colágeno; manutenção de pele, unhas e cabelo saudáveis Nozes, alho, cebola, batata, rabanete, repolho, couve- �or, agrião, laranja, abacaxi Zinco Atua no controle cerebral dos músculos; ajuda na respiração dos tecidos; participa no metabolismo das proteínas e carboidratos Crescimento e desenvolvimento sexual; formação de insulina; alívio de alergias; estímulo para formação de anticorpos Carnes, fígado, peixe, ovo, leguminosas, nozes 40 https://www3.faac.unesp.br/nos/novos_textos/tabela_vitaminas.htm Figura 7 - Alimentos reguladores - vitaminas e minerais Fonte: Disponível aqui Observamos, estudando os nutrientes e suas classi�cações, que uma dieta equilibrada se dá com a diversi�cação dos alimentos na composição das refeições, pois os alimentos possuem combinação de diferentes nutrientes. Por isso, quanto menos monótona é nossa dieta, quanto mais conhecemos e usamos alimentos diferentes, mais estamos contribuindo para uma alimentação saudável. Digestão Após estudarmos os nutrientes, seguimos para uma etapa muito importante quando o assunto é nutrição, que é o processo de digestão. Pois, de nada adianta ingerirmos uma dieta equilibrada nutricionalmente se o processo de digestão não está e�ciente. O processo digestivo ocorre através da ingestão dos alimentos, no qual são quebrados em nutrientes e usados pelo organismo. Como já vimos, os carboidratos são divididos em açúcares que podem ser usados na respiração. As proteínas são hidrolisadas em aminoácidos que podem ser usados para crescimento e reparo em nossos corpos. 41 https://www.superclubefit.com.br/blog/o-que-sao-alimentos-reguladores-e-exemplos-deles/ Figura 8 - Descrição das etapas do sistema digestivo Órgãos anexos Boca Faringe Esôfago Estômago Intestino delgado Intestino grosso Glândulas salivares Língua Trato digestório Sistema digestório Fígado Dentes Entrada dos alimento no corpo Umidificação pela saliva Mastigação Tubo que liga a boca ao esôfago Tubo longo e musculoso Absorção de nutrientes Absorção de água do quilo Dividido em: ceco, cólon e reto Formação e eliminação de fezes Dividido em: duodeno, jejuno e íleo Suco gastrointestinal Suco pancreático Quimo + sucos = quilo Fragmentar proteínas e lipídeos Suco gástrico: ácido clorídrico, pepsina, lipase e renina Bolo alimentar + suco gástrico = quimo Transporta o bolo alimentar até o estômago Epiglote bloqueia a passagem do bolo alimentar para a laringe Amilase salivar ou ptialina: quebra de amido Bolo alimentar Pâncreas Boca Esôfago Intestino delgado Faringe Estômago Intestino grosso Vesícula biliar Fonte: Disponível aqui Conforme observamos na �gura a seguir, o sistema digestivo ou digestório tem várias partes diferentes e bem adaptadas que trabalham juntas para absorção dos nutrientes. Segundo Mahan et al. (2002), existem alguns fatores que afetam a digestão sendo que um deles são os fatores psicológicos. Aparência, odor e gosto do alimento na forma em que é servido, juntamente com a situação emocional prevalecente no momento da refeição, possuem um impacto sobre a digestão. Visão, cheiro e sabor e até o pensamento sobre o alimento aumentam as secreções da saliva e sucos estomacais, aumentando a atividade muscular do trato gastrointestinal. As emoções de medo, raiva e preocupação também impactam diretamente a di�culdade no processo digestivo da refeição que está sendo ingerida. Essas informações reforçam como a participação do gastrônomo na equipe multidisciplinar de um hospital pode colaborar na melhor maneira de ofertar as refeições para os pacientes, reduzindo ao máximo os efeitos que a comida pode ter na recuperação do paciente no âmbito hospitalar. 42 https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/03/Mapa-mental-Sistema-digest%C3%B3rio-750x430.jpg Desnutrição Assim como se faz necessário avaliar a digestão do paciente, também é de suma importância estimar-se possível situação de desnutrição. Desnutrição é umtermo amplamente difundido que pode ser de�nido como um estado de nutrição no qual a de�ciência de energia, proteína ou outros macro e micronutrientes causam efeitos indesejáveis ao organismo, com consequências clínicas e funcionais (Souza et al., 2011). Uma alimentação equilibrada tem papel signi�cativo na recuperação de enfermos e na conservação da saúde, sendo estabelecida pela dietoterapia. Contudo, pessoas hospitalizadas, na sua maioria, têm uma visão negativa das refeições servidas, seja por recordações anteriores de hospitalizações, em que se associou doença com comida de hospital, ou mesmo, por não gostarem do cardápio oferecido, não concordando, muitas vezes, com a dieta proposta. A dieta oferecida, em muitos hospitais, é inadequada em relação a diversos aspectos, como os sensoriais e hábitos alimentares individuais. Esse fator contribui para a diminuição da ingestão alimentar dos pacientes e, consequentemente, redução de peso, levando rapidamente a um estado de desnutrição. Diferentes fatores colaboram para a ocorrência de desnutrição em pacientes hospitalizados, tornando-os nutricionalmente vulneráveis, tais como: frequentes situações de jejum e perda de refeições para a realização de exames diagnósticos; uso prolongado de hidratação endovenosa; refeições mal programadas, apresentadas ou distribuídas (horários, preparação, temperatura, apresentação, etc.); sintomas e manifestações da doença de base ou comorbidades (febre, sangramentos, anorexia, alterações metabólicas, etc.) que limitam a ingestão ou aumentam os requerimentos nutricionais, tornando inviável atingir as necessidades; efeitos colaterais de medicamentos que interferem no processo de nutrição; inatividade física; desconsideração da importância dos cuidados nutricionais pelos pro�ssionais de saúde e diluição das responsabilidades entre os membros da equipe (Souza; Nakasato, 2011). A redução do apetite também pode ser in�uenciada por causas além da doença. A aceitação da alimentação está relacionada à diminuição do apetite em função da doença, do tratamento medicamentoso, do ambiente, da presença ou ausência de acompanhante e dos aspectos sensoriais das refeições ofertadas (Demario et al., 2010). Assim, a prevenção da desnutrição hospitalar deveria iniciar através de procedimentos que evitassem a escassez de nutrientes ao paciente, por meio da 43 alimentação. Deve-se prevenir a desnutrição hospitalar pela garantia de uma alimentação adequada e de um padrão de assistência individualizado principalmente naqueles mais vulneráveis (Garcia, 2006). A inclusão da gastronomia ao serviço da UAN traz, além das bases da cozinha, a manutenção da criatividade, unida às técnicas de hotelaria e a terapêutica hospitalar inicia-se o processo de recuperação dos pacientes suprindo as necessidades e expectativas o processo de transformação de pacientes em clientes (Martins; Baratto, 2018). Avalia-se novamente que a formação de uma equipe para o serviço de nutrição dos hospitais deva ser multidisciplinar, incluindo um gastrônomo, que pode contribuir de maneira ampla para que as refeições cumpram também seu papel no âmbito sensorial e afetivo. Veja na íntegra a RDC n.º 269, de 22 de setembro de 2005 com o "REGULAMENTO TÉCNICO SOBRE A INGESTÃO DIÁRIA RECOMENDADA (IDR) DE PROTEÍNA, VITAMINAS E MINERAIS". Disponível em: 44 https://go.eadstock.com.br/Wb 03 Princípios da Alimentação Saudável 45 Querido aluno, para avançarmos no conhecimento acerca da Gastronomia hospitalar, vamos, neste capítulo, aprofundar nossos estudos no conceito de alimentação saudável, e, assim, aplicarmos na prática de nossas preparações A palavra saudável é de�nida como o que é bom ou conveniente para a saúde; higiênico, salutar; que tem ou demonstra boa saúde física ou mental; que dá alegria e bem-estar; que satisfaz a uma necessidade ou melhora uma situação; favorável, positivo. Como veri�camos, o termo é amplo, o conceito de saudável pode ser entendido como tudo que faz bem. É atribuído não apenas à alimentação, mas também, aos hábitos, atividades físicas, cosméticos. Com foco na alimentação, acredita-se que, quanto mais natural, mais saudável para nosso organismo. Monteiro et al. (2014), através do Guia Alimentar para População Brasileira, relatam que muitas mudanças estão ocorrendo nos padrões de alimentação dos brasileiros, isso inclui a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal (arroz, feijão, mandioca, legumes e verduras) e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para o consumo, denominados também de ultraprocessados, isso acarreta desequilíbrio na oferta de nutrientes durante as refeições e a ingestão excessiva de calorias. Os alimentos ultraprocessados também podem comprometer os mecanismos que sinalizam à saciedade e controlam o apetite, dessa forma, favorecendo a ingestão involuntária de calorias e aumentando o risco de obesidade e doenças crônicas não degenerativas, como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. Encontramos também no Guia alimentar para população brasileira (Brasil, 2014) a diferenciação de quatro categorias de alimentos de�nidas, de acordo com o processamento empregado na sua produção: alimentos in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados: in natura: aqueles alimentos oriundos diretamente de plantas ou de animais e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza. Exemplo: milho na espiga, peixe. 46 Figura 1 - Exemplos de alimentos nas diferentes categorias de processamento do alimento Fonte: Disponível aqui Minimamente processados: são alimentos in natura que, antes de sua aquisição, foram submetidos a alterações mínimas. Exemplo: milho higienizado e retirado da espiga. Processados: produtos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado. Exemplo: milho em conserva (apenas água e sal), abacaxi em calda. Ultraprocessados: produtos cuja fabricação envolve diversas etapas e técnicas de processamento e vários ingredientes, muitos deles de uso exclusivamente industrial. Exemplo: salgadinho de milho no pacote, empanado de peixe congelado. Para conseguirmos diferenciar os alimentos, identi�carmos em qual categoria ele se encontra e decidir se fará parte do nosso preparo ou da nossa refeição é preciso ler os rótulos. 47 https://cdn4.ecycle.com.br/cache/images/2020-09/50-750-alimentos-in-natura-processados-ultraprocessados-ilustracao.png Identi�que no rótulo a lista de ingredientes (por lei, deve constar dos rótulos de alimentos embalados que possuem mais de um ingrediente em sua composição) e avalie: se houver um número elevado de ingredientes (frequentemente cinco ou mais) e, sobretudo, a presença de ingredientes com nomes pouco familiares e não usados em preparações culinárias, isso é um alerta e pode indicar que o produto pertence à categoria de alimentos ultraprocessados. Os alimentos ultraprocessados, devido aos ingredientes usados em suas formulações, tendem a ser nutricionalmente desbalanceados. Por conta de sua formulação e apresentação, as pessoas tendem a consumi-los em excesso e a substituir o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados pelos ultraprocessados. Além disso, as formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente. A facilidade e a comodidade na utilização dos produtos prontos para consumo estimulam fortemente hábitos alimentares não saudáveis e provocam a diminuição do consumo de alimentos frescos (Baker, 2003). Um dos pilares para uma vida saudável que deve ser aplicado para manter, recuperar e propagar a saúde é a alimentação saudável. Aproximar o saudável da alimentação saborosa, nutricionalmente balanceada e bem apresentada é o desa�o apresentado para os gastrônomos e nutricionistas. A alimentação saudável deve ser elaborada respeitando-se as diferenças individuais, emocionaise sociais, de forma a atender as recomendações nutricionais e o prazer de comer. Não podemos esquecer que comer é um ato social (Philippi; Colucci, 2018). Devemos preferir o consumo e o uso em nossas preparações dos alimentos em seu modo natural e com maior diversi�cação possível, dessa forma, praticaremos uma dieta equilibrada e bene�ciaremos a todos com uma alimentação mais saudável. 48 O conceito de uma alimentação saudável é amplo e deve ser avaliado por diferentes ângulos, como: biológico, emocional e cultural. Para sermos mais assertivos nas preparações, precisamos avaliar para quem, quando e onde acontecerá essa refeição, e, assim, de uma maneira mais individual, será mais fácil atingir as expectativas do paciente/cliente. Portanto, a Nutrição e a Gastronomia devem seguir juntas criando estratégias que contribuam para hábitos e comportamentos alimentares saudáveis. Alimentação Saudável: A ameaça dos ultraprocessados Assista este Talk da USP com o dr. Carlos Monteiro. Arroz com feijão, ou hambúrguer com batata frita? Picanha na chapa, peito de frango grelhado ou carne de soja com legumes? Manter uma alimentação saudável é um dos maiores desa�os do século XXI. Nunca foi tão fácil comer mal e tão complicado comer bem. As tendências são muitas, as informações às vezes confundem, o tempo para cozinhar é escasso, e as escolhas individuais são cada vez mais in�uenciadas por questões éticas e ambientais, além das tradicionais econômicas e nutricionais. Como fazer a escolha certa? Carlos Augusto Monteiro é médico, professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP, especialista em nutrição humana. 49 https://go.eadstock.com.br/Wc Gastronomia Funcional A Gastronomia pode ser usada como ferramenta de promoção de bem-estar e qualidade de vida, fazendo do ato de se alimentar além de um momento prazeroso uma prática saudável. Não há na literatura uma de�nição padrão para o termo Gastronomia funcional, mas existe um consenso de que essa subdivisão da Gastronomia associa o uso de ingredientes que apresentem funções que vão além da nutrição básica, que envolvam técnicas culinárias que preservem as propriedades destes ingredientes, para que estes sejam melhor absorvidos durante seu consumo (Philippi; Colucci, 2018). Para contextualizar o termo Gastronomia funcional, vamos avaliar a de�nição para alimento funcional: o termo “alimentos funcionais” teve origem no Japão em meados dos anos 1980. Após um longo período de trabalho, em 1991, a categoria foi regulamentada, recebendo a denominação de Foods for Speci�ed Health Use (FOSHU). A tradução da expressão para o português é Alimentos Funcionais ou Nutracêuticos. Hoje, vários países já contam com legislação especí�ca, e, no Brasil, as regras foram instituídas a partir de 1999, pelo Ministério da Saúde, por meio das Resoluções 18 e 19 de 30/04/1999. Na maioria dos países a de�nição aceita é de que todos os alimentos são considerados funcionais em algum nível e oferecem benefícios, além das suas funções nutricionais básicas e que podem desempenhar um papel em reduzir ou minimizar os riscos de certas doenças e outras condições de saúde. Monteiro et al. (2014), por meio do Guia Alimentar para População Brasileira, relatam que as principais doenças que atualmente acometem os brasileiros deixaram de ser agudas e passaram a ser crônicas. Apesar da intensa redução da desnutrição em crianças, as de�ciências de micronutrientes e a desnutrição crônica ainda são prevalentes em grupos vulneráveis da população, como em indígenas, quilombolas e crianças e mulheres que vivem em áreas vulneráveis. Simultaneamente, o Brasil vem enfrentando aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias, e as doenças crônicas são a principal causa de morte entre adultos. O excesso de peso acomete um em cada dois adultos e uma em cada três crianças brasileiras. 50 Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, combinar fatores dietéticos e estilo de vida saudável apresenta relação com a redução do risco para obesidade, doenças crônicas não transmissíveis, como: diabetes, hipertensão, colesterol elevado, além de doenças cardiovasculares e câncer (Philippi; Colucci, 2018). O Guia alimentar para população brasileira do Ministério da Saúde (Brasil, 2014) ressalta a importância do conjunto de uma dieta equilibrada e da prática de atividade física, a �m de que os componentes alimentares isolados não sejam vistos como pílulas mágicas. As agências regulatórias internacionais, em sua maioria, enfatizam três características dos alimentos funcionais: Apresentação do produto como “alimento”, e não como cápsulas, pílulas ou outras formas farmacêuticas. Fornecimento de benefícios que extrapolem as funções nutricionais básicas. Possibilidade de consumo como parte de uma dieta convencional. A legislação brasileira não de�ne alimento funcional, e, sim, alegação de propriedade funcional, assim como as diretrizes para utilização do termo e registro do produto. A alegação de propriedade funcional se refere ao papel metabólico ou �siológico que o nutriente ou não nutriente desempenha no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo (ANVISA, 1999). Não são permitidas alegações que façam referências à prevenção ou à cura de doenças. Além dos produtos aprovados pela ANVISA, temos outros ingredientes com suas funcionalidades bem estabelecidas pela literatura. Veja, a seguir, um quadro com os principais compostos funcionais investigados pela ciência, suas ações e em quais alimentos são encontrados: 51 Tabela 1: Compostos funcionais, suas ações e os alimentos Compostos Ativos Ação Alimentos e onde são encontrados Iso�avonas Ação estrogênica (reduz sintomas da menopausa) e anticâncer Soja e derivados Proteínas de soja Redução dos níveis de colesterol Soja e derivados Ácidos graxos ômega- 3 Redução do LDL - colesterol; ação anti- in�amatória; é indispensável para o desenvolvimento do cérebro e da retina de recém-nascidos Peixes marinhos como sardinha, salmão, atum, anchova, arenque, etc. Ácido a - linolênico Estimula o sistema imunológico e tem ação anti-in�amatória Óleos de linhaça, colza, soja; nozes e amêndoas Catequinas Reduzem a incidência de certos tipos de câncer, reduzem o colesterol e estimulam o sistema imunológico Chá verde, cerejas, amoras, framboesas, mirtilo, uva roxa, vinho tinto Licopeno Antioxidante, reduz níveis de colesterol e o risco de certos tipos de câncer, como de próstata Tomate e derivados, goiaba vermelha, pimentão vermelho, melancia Luteína e Zeaxantina Antioxidantes; protegem Folhas verdes 52 contra degeneração macular (luteína). Pequi e milho (zeaxantina) Indóis e Isotiocianatos Indutores de enzimas protetoras contra o câncer, principalmente de mama Couve-�or, repolho, brócolis, couve-de- bruxelas, rabanete, mostarda Flavonoides Atividade anticâncer, vasodilatadora, anti- in�amatória e antioxidante Soja, frutas cítricas, tomate, pimentão, alcachofra, cereja Fibras solúveis e insolúveis Reduz risco de câncer de cólon, melhora o funcionamento intestinal. As solúveis podem ajudar no controle da glicemia e no tratamento da obesidade, pois dão maior saciedade. Cereais integrais como aveia, centeio, cevada, farelo de trigo, etc.; leguminosas como soja, feijão, ervilha, etc.; hortaliças com talos e frutas com casca Prebióticos - frutooligossacarídeos, inulina Ativam a micro�ora intestinal, favorecendo o bom funcionamento do intestino Extraídos de vegetais como raiz de chicória e batata yacon Sulfetos alílicos (alilsulfetos) Reduzem colesterol, pressão sanguínea, melhoram o sistema imunológico e reduzem risco de câncer gástrico Alho e cebola Lignanas Inibição de tumores hormônio-dependentes Linhaça, noz moscada 53 Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina. Alimentos funcionais. Jornal Eletrônico n.º 5, jun. 2008. Tanino Antioxidante, antisséptico, vaso- constritor Maçã, sorgo, manjericão, manjerona, sálvia, uva, caju, soja Estanóis e esteróis vegetais Reduzemrisco de doenças cardiovasculares Extraídos de óleos vegetais como soja e de madeiras Probióticos - Bí�do bactérias e Lactobacilos Favorecem as funções gastrointestinais, reduzindo o risco de constipação e câncer de cólon Leites fermentados, Iogurtes e outros produtos lácteos fermentados 54 Querido aluno, para se aprofundar no assunto dos alimentos funcionais, deixo a seguir, as referências das legislações brasileiras para comprovação de propriedades funcionais em rotulagem de alimentos e o procedimento para registro. Resolução n.º 18, de 30 de abril de 1999. Diretrizes Básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos. Resolução n.º 19, de 30 de abril de 1999. Regulamento Técnico de procedimentos para registro de alimento com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem. Alimentação Sustentável Após estabelecidos os conceitos de alimentação saudável, será inevitável não pensar em sustentabilidade, principalmente em se tratando de hospitais, centros médicos. O pensamento sustentável para alimentação inicia-se no campo, na colheita do ingrediente para ser transformado em alimento, nos processos de transformação, na consideração do uso integral dos alimentos, na atenção e cuidados com quem trabalha em todos esses processos, nos cuidados com o meio ambiente. A alimentação sustentável deve incluir a inter-relação entre saúde, meio ambiente e sociedade. Na última década tem-se falado muito sobre a importância de uma alimentação saudável, os benefícios para a saúde, tanto na promoção como na prevenção de doenças, como hipertensão arterial, diabetes mellitus ou obesidade. No entanto, pouco se discute sobre a necessidade de pensarmos em uma alimentação sustentável (Patrício, 2015). 55 Figura 2 - Fatores a serem considerados para se de�nir alimentação sustentável Nutrição • Energia, macro e micro nutrientes • Influências no estado nutricional: estilo de vida, acessibilidade, preparações, composição familiar • Necessidades individuais e do estado de saúde • Conhecimentos e crenças Meio ambiente • Gases de efeito estufa • Água • Uso da terra • Biodiversidade; • Peixes e ecossistema marinho • Eficiência de recursos • Resiliência • Valores estéticos Economia e abastecimento • Mercado e infraestrutura • PIB • Valores associados • Empregos • Regras de comercialização Sociedade e ética • Condições de trabalho e leis • Ética e bem estar animal • Impacto de novas tecnologias • Cultura e Identidade • Gostos Outros fatores alimentares • Produtos químicos e agrotóxicos • Doenças infecciosas associadas com agricultura (zoonoses e doenças transmitidas por vetores) • Riscos da saúde ambiental • Riscos Ocupacionais Alimentação sustentável? Fonte: Disponível aqui O conceito de alimentação sustentável se alicerça em 3 pilares: ambientais, econômicos e sociais (incorporando saúde e ética). Segundo a de�nição da FAO considera-se alimentação sustentável: Dietas com baixo impacto ambiental, que contribuem para a segurança alimentar e nutricional e à vida saudável para as gerações presentes e futuras. Dietas sustentáveis devem proteger e respeitar a biodiversidade e os ecossistemas, culturalmente aceitável e acessível, economicamente justa e acessível; nutricionalmente adequada, segura e saudável; além de otimizar os recursos naturais e humanos (PATRÍCIO, 2015, p. 11)". 56 http://www.hcfmb.unesp.br/wp-content/uploads/2017/08/Guia-Portugu%C3%AAs_-Dra-Karina-2.pdf Tabela 2 – 14 passos para os hospitais alcançarem uma alimentação sustentável 1 Procure identi�car pro�ssionais preocupados e interessados em discutir uma alimentação mais sustentável; 2 Procure estabelecer um grupo de reuniões para planejarem as ações e apresentem para o diretor do hospital; 3 Adote um menu equilibrado com mais legumes, frutas, grãos integrais, redução de sal, açúcar e gordura, evitando os aditivos arti�ciais; 4 Reduza a porção de carnes vermelhas utilizadas na semana; 5 Reduza o desperdício de alimento produzido e consumido (ter melhor controle da necessidade x consumo), conscientizando os pro�ssionais de saúde por meio de campanhas; 6 Promova workshops com pro�ssionais, pacientes, produtores rurais, nutricionistas e estudantes para degustarem receitas diferentes e aproveitar para trazer estas discussões; 7 Mapear, com a ajuda de secretaria de agricultura, os produtores de alimentos da região, localizando os agroecológicos ou orgânicos; 8 Comprar pelo menos 30% dos alimentos consumidos no hospital, de produtores locais, simpli�cando os contratos à aquisição de produtores familiares ou pequenos; 9 Oferecer espaço ao redor do hospital para feiras-livres de alimentos agroecológicos ou orgânicos aos funcionários ou familiares de pacientes; 10 Quando for necessário importar procure adquirir de países mais pobres, assegurando um tratamento equitativo dos produtores desfavorecidos; 57 Fonte: Alimentação Sustentável nos Hospitais: um guia para inspirar, empoderar e transformar, 2015. Disponível aqui 11 Evitar adquirir itens embalados individualmente ou materiais de difícil reciclagem (como isopor); 12 Realizar coleta seletiva adequada e estabelecer parceria com cooperativas locais, para coleta de óleo ou outros materiais que possam ser reciclados. 13 Coletar adequadamente os resíduos orgânicos provenientes da cozinha e estabelecer �uxo de compostagem para geração de composto ou geração de energia. 14 Estimular uma prescrição verde (alimentos e hábitos mais sustentáveis). 58 http://www.hcfmb.unesp.br/hospitais-verdes-esaudaveis/guia/ Querido aluno, veja o site do projeto Hospitais Saudáveis e perceba que um dos pilares é a alimentação sustentável em hospitais. O Projeto Hospitais Saudáveis (PHS) é uma associação sem �ns econômicos, dedicada a transformar o setor saúde em um exemplo para toda a sociedade em aspectos de proteção ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, do paciente e da população em geral. Disponível em: 59 https://go.eadstock.com.br/Wd 04 A Influência dos Sentidos Sensoriais na Alimentação 60 Nesta aula, estudaremos como os nossos cinco sentidos sensoriais: visão, audição, olfato, tato e paladar in�uenciam no ato de nos alimentarmos. Vamos começar?! Temos a capacidade de perceber estímulos provenientes do ambiente externo e interno. Esses estímulos são captados através de células sensoriais ou através de simples terminações nervosas dos neurônios. Essas células ou terminações nervosas podem ser encontradas espalhadas pelo corpo e nos órgãos dos sentidos (olfato, paladar, tato, visão e audição), formando o sistema sensorial. Apesar de cada órgão do sentido apresentar um tipo de célula sensorial diferente, elas funcionam de maneira muito semelhante. Ao serem estimuladas, ocorre uma alteração da célula sensorial, gerando impulsos nervosos que chegam até o sistema nervoso central, onde serão interpretados. Esses impulsos nervosos gerados pelas células sensoriais (através de uma luz que atinge os olhos ou de um toque em nossa pele) são muito semelhantes. Somente quando chegam às áreas do cérebro responsáveis, nesse caso, pela visão e pelo tato, é que os impulsos serão interpretados como sensações visuais e táteis. Dessa forma, quem na verdade vê e sente não são os olhos e a pele, e, sim, o cérebro (Moraes, 2021). As Unidades de Alimentação e Nutrição presentes nos hospitais, em sua maioria, priorizam a formulação da dieta visando uma composição nutricional balanceada e esquecem como a aparência da refeição, assim como o aroma, a organização do prato e todo apelo sensorial são importantes e cruciais no momento de o paciente alimentar-se (Souza; Molero; Molina, 2021). Sabor A percepção de sabor não é uma resultante especí�ca e vinculada apenas a um sentido – o paladar e ao ato da gustação. Trata-se de uma percepção derivada de uma integração multissensorial dos diferentes sentidos, da representatividade cultural de cada prato, do ambiente e das relações sociais envolvidas
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