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Abdome Agudo Inflamatório II A árvore biliar é composta por ductos que coletam a bile do parênquima hepático e a transportam até́ ́́ a parte descendente do duodeno. De maneira geral, ela é dividida em: intra-hepática e extra- hepática. Os ductos intra-hepáticos têm origem nos canalículos biliares maiores, que se reúnem e formam os ductos segmentares, os quais se fundem próximo da porta do fígado, dando origem aos ductos hepáticos direito e esquerdo. A porção extra-hepática é constituída pelos ductos hepáticos direito e esquerdo, pelo ducto hepático comum, pelo ducto cístico, pela vesícula biliar e pelo ducto colédoco. Árvore Biliar Intra-Hepática: Composta pelos ductos segmentares e setoriais, responsáveis pela formação dos ductos hepáticos, sendo que o ducto hepático esquerdo é formado pela união dos ductos dos segmentos II e III, e, geralmente, do segmento IV também. Já́ ́́ o ducto hepático direito é formado pela união dos ductos setoriais medial e lateral direitos, os quais são formados por ductos segmentares, provenientes dos segmentos VI, VII, V e VIII. Árvore Biliar Extra-Hepática: • Ducto cístico: é o ducto responsável por drenar o conteúdo da vesícula biliar para o ducto colédoco. Possui de 3 – 4 cm de comprimento, emerge do colo da vesícula biliar, se une ao ducto hepático comum e forma o ducto colédoco. No geral, essa junção entre o ductos cístico e o hepático comum ocorre ao nível da porta hepática. • Ductos biliares hepáticos: são os ductos hepáticos direito e esquerdo, que emergem do fígado e fundem-se próximo da extremidade direita da porta do fígado, formando o ducto hepático comum. O ducto hepático comum está localizado à direita da artéria hepática e é anterior à veia porta na margem livre do omento menor. • Ducto colédoco: formado próximo da porta do fígado pela junção dos ductos cístico e hepático comum. No geral, possui de 6 – 8 cm de comprimento e tem por volta de 6mm de diâmetro. O colédoco penetra junto com os ductos pancreáticos na parede duodenal, formando a ampola hepato-pancreática, também conhecida como papila de Vater onde está́ ́́ situado o esfíncter de Oddi. • Trígono cisto-hepático (deCalot): é um espaço triangular formado entre o ducto cístico, o ducto hepático comum e a superfície inferior do segmento V do fígado. Trata-se de um importante marco anatômico, pois é nesse espaço onde passa a artéria cística, próximo a vesícula biliar; o linfonodo cístico e os vasos linfáticos que deixam a vesícula; uma ou duas veias císticas pequenas; os nervos autônomos que seguem para a vesícula; e um pouco de tecido adiposo frouxo. Vesicular Biliar: É um divertículo em forma de cantil, com fundo cego, ligado ao ducto colédoco por intermédio do ducto cístico, estando, geralmente, preso à face inferior do lobo hepático direito por tecido conjuntivo. No adulto, ela tem cerca de 7 – 10 cm de comprimento e uma capacidade de armazenamento de até 50ml. No geral, está em uma fossa rasa no parênquima hepático, sendo coberta pelo peritônio. É descrita como um órgão constituído por: fundo, corpo e colo, sendo que o colo está́ ́́ na extremidade medial, perto da porta do fígado e quase sempre está preso a ele por uma conexão curta coberta por peritônio, o mesentério, o qual, no geral, contém a artéria cística. Na extremidade lateral, o colo se alarga para formar o corpo da vesícula biliar, conhecido também como bolsa de Hartmann. Secreção e Composição da Bile : A bile formada nos lóbulos hepáticos é secretada para dentro de uma complexa rede de canalículos, pequenos dúctulos biliares e ductos biliares maiores que se deslocam juntamente com linfáticos e ramos da veia porta e da artéria hepática nos tratos portais localizados entre os lóbulos hepáticos. Esses ductos biliares inter-lobulares coalescem para formar ductos biliares septais maiores que se unem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo, os quais, por sua vez, se unem para formar o ducto hepático comum. Este último é alcançado pelo ducto cístico da vesícula biliar para formar o ducto colédoco (DC), que penetra no duodeno (na maioria das vezes, após unir-se ao ducto pancreático principal) pela ampola de Vater. A bile hepática é um líquido isotônico com uma composição eletrolítica semelhante à do plasma. A composição eletrolítica da bile vesicular difere daquela da bile hepática, pois a maioria dos ânions inorgânicos, cloreto e bicarbonato, já foi removida pela reabsorção por meio do epitélio da vesícula. Como resultado da reabsorção da água, a concentração total de solutos na bile aumenta de 3 a 4 g/dL na bile hepática para 10 a 15 g/dL na bile da vesícula. Os principais solutos da bile, por moles percentuais, consistem em ácidos biliares (80%), lecitina e traços de outros fosfolipídeos (16%), além de colesterol não esterificado (4%). No estado litogênico, o valor do colesterol pode alcançar níveis de até 8 a 10%. Outros componentes incluem a bilirrubina conjugada, proteínas (todas as imunoglobulinas, a albumina, os metabólitos de hormônios e outras proteínas metabolizadas no fígado), eletrólitos, muco e, com frequência, medicamentos e seus metabólitos. A secreção basal diária total de bile hepática é de cerca de 500 a 600 mL. Muitas substâncias captadas ou sintetizadas pelos hepatócitos são secretadas nos canalículos biliares. A membrana canalicular forma microvilosidades e está associada a microfilamentos de actina, microtúbulos e outros elementos contráteis. Antes de sua secreção para dentro da bile, muitas substâncias são captadas e penetram o hepatócito, enquanto outras, como os fosfolipídeos, parte dos ácidos biliares primários e do colesterol, são sintetizadas de novo no hepatócito. Três mecanismos são importantes na regulação do fluxo da bile: 1) Transporte ativo dos ácidos biliares dos hepatócitos para dentro dos canalículos biliares; 2) Transporte ativo de outros ânions orgânicos; 3) Secreção colangiocelular. Esta última é um mecanismo mediado pela secretina e depende do AMP cíclico, resultando na secreção de um líquido rico em sódio e bicarbonato que é lançado nos ductos biliares. A secreção vetorial ativa dos componentes biliares do sangue portal para o interior dos canalículos é acionada por um conjunto de sistemas de transporte polarizados ao nível dos domínios das membranas plasmáticas basolateral (sinusoidal) e apical canalicular do hepatócito. Dois sistemas de captação dos sais biliares sinusoidais foram clonados em humanos, o cotransportador de Na+/taurocolato (NTCP, de Na+/taurocholate cotransporter, SLC10A1) e as proteínas transportadoras de ânions orgânicos (OATP, de organic anion transporting proteins), que transportam também uma grande variedade de ânions orgânicos diferentes dos sais biliares. Foram identificados diversos sistemas de transporte canaliculares dependentes de ATP, as denominadas “bombas de exportação” (proteínas de transporte de cassetes de ligação de ATP, também conhecidas como transportadores ABC), das quais as mais importantes são a bomba de exportação de sais biliares (BSEP, ABCB11); a bomba de exportação de conjugados aniônicos (MRP2, ABCC2), que medeia a excreção canalicular de vários conjugados anfifílicos formados pela conjugação da fase II (p. ex., mono e diglucuronídeos de bilirrubina e medicamentos); a bomba de exportação de múltiplos fármacos (MDR1, ABCB1) para os compostos catiônicos hidrofóbicos; e a bomba de exportação de fosfolipídeos (MDR3, ABCB4). Dois hemitransportadores ABCG5/G8, funcionando como uma dupla, constituem o transportador canalicular de colesterol e de fitosterol. F1C1 (ATP8B1) é uma aminofosfolipídeo transferase (“flipase”) essencial para a manutenção da assimetria lipídica da membrana canalicular. A membrana canalicular também contém sistemas de transporte independentesde ATP, como a isoforma 2 trocadora de ânions Cl/HCO 3 (AE2, SLC4A2) para a secreção canalicular de bicarbonato. Para a maioria desses transportadores, foram identificados defeitos genéticos associados a várias formas de colestase ou a defeitos da excreção biliar. A F1C1 está deficiente na colestase intrahepática familiar progressiva tipo 1 (CIFP1) e na colestase intrahepática recorrente benigna tipo 1 (CIRB1) e resulta em ablação de todas as outras funções transportadoras dependentes de ATP. A BSEP está deficiente na CIFP2 e na CIRB2. As mutações de MRP2 (ABCC2) causam a síndrome de DubinJohnson, uma forma hereditária de hiperbilirrubinemia conjugada. Uma alteração de MDR3 (ABCB4) resulta em CIFP3. Os ABCG5/G8, os hemitransportadores canaliculares para o colesterol e outros esteróis neutros, são defeituosos na sitosterolemia. O regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR, ABCC7), localizado sobre as células epiteliais dos ductos biliares, porém não sobre as membranas canaliculares, está alterado na fibrose cística, que está associada a um comprometimento da regulação do pH colangiocelular durante a formação da bile ductular e à doença hepática colestática crônica, resultando ocasionalmente em cirrose biliar. Resumindo: A anatomia de superfície da parte externa: A parte inferior do fígado, tem a saída do ducto hepática direito e esquerdo formando o ducto hepático comum, além disso tem o ducto hepático comum, que, quando unido ao ducto cístico, forma o ducto colédoco, esse cai no pâncreas. Existe uma comunicação entre o ducto colédoco e ducto pancreático principal, que vão cair no duodeno através do esfíncter de oddi. A vesícula biliar não produz bile, ela apenas armazena a bile!!!!!!!!!! Quem produz bile é o fígado, que vai ser secretada pelos ductos hepáticos. O que contêm na bile? Ácidos biliares que tem como função: • Facilitar a excreção biliar de colesterol; • Facilitar a bsorção intestinal normal de gorduras da dieta, principalmente colesterol e vitaminas lipossolúveis; • Etc O esfíncter de Oddi tem como função evitar o fluxo de conteúdo duodenal para dentro dos ductos pancreáticos e biliares, além de promover o enchimento da vesícula biliar, por ficar constantemente contraído. O esfíncter é relaxado através da colecistocinina (CKK), que é um hormônio liberado pela mucosa duodenal em resposta à ingestão de gorduras e aminoácidos, promovendo o relaxamento do esfíncter e a contração da vesícula. A vesícula é a sede predominante dos cálculos biliares. A litíase dos canais biliares resulta, geralmente, da migração a partir da vesícula. Menos frequentemente, os cálculos podem se formar nos próprios canais, quando há infecção ou estase biliar. A litíase biliar é condição altamente prevalente nos países ocidentais, onde 10 a 15% da população adulta abriga cálculos no interior da vesícula. Apresenta elevada prevalência familiar, provavelmente por influência genética. Entretanto, os fatores ambientais também são responsáveis pela formação dos cálculos. Raramente é observada em crianças e adolescentes, sendo mais frequente em mulheres a partir da 5ª década de vida, aumentado progressivamente com a idade. Os cálculos de colesterol são três vezes mais frequentes na obesidade acentuada. Origem dos Cálculos: A formação dos cálculos biliares acontece em 3 fases principais: 1. Supersaturação biliar com formação de bile litogênica: entende- se por tal bile a que contém excesso de colesterol em relação aos sais biliares e fosfolipídios, condição que leva a mudança de estado, antes homogêneo, para um sistema bifásico, aparecendo a cristalização do colesterol. Na etiopatogenia da litíase do colesterol, que responde por 90% dos cálculos, admite-se o papel fundamental exercido pelo fígado, ao secretá-la. 2. Nucleação: é o processo pelo qual os cristais de colesterol monoidratado, se formam e aglomeram. Esse processo e facilitado pela desidratação, estase e interação de fatores pró-nucleares e antinucleantes. O cálcio promove a fusão e aumento dos cristais de colesterol, embora ainda não esteja bem definido seu exato papel. 3. Crescimento do cálculo: aposição dos cristais para formar cálculo. Depende muito da estase biliar na vesícula. A hipomotilidade da vesícula é um componente importante da formação de cálculos, promovendo a permanência dos cristais na vesícula por um tempo prolongado e exposição a novos cálculos e o gel de mucina, que age como cimento aderindo os cristais. O colesterol é uma substância insolúvel e tende a precipitar e formar cristais. Além dos cálculos de colesterol, existem também os cálculos pigmentares, sendo estes mais raros, representando apenas cerca de 10% dos casos de litíase biliar. Os cálculos pigmentares castanhos são maciços e sem formas definidas. São os únicos formados fora da vesícula biliar – originados nos ductos biliares (coledocolitíase primária). Contém sais de bilirrubina e outras substâncias. A litíase pigmentar castanha é mais comum na vigência de infecção, bile cronicamente infectada por bactérias, como E. Coli e Klebsiella sp, que produzem betaglucuronidase, elevando a atividade desta enzima na bile, com consequente desconjugação de quase toda bilirrubina direta em bilirrubina indireta. Já os cálculos pigmentares negros, associamse predominantemente as doenças hemolíticas, à cirrose, à alimentação parenteral prolongada e ao pós-ressecção ileal. Sua patogenia varia com as diferentes etiologias. A bile é rica em sais biliares e lecitina, substâncias encarregadas de solubilizar o colesterol. Em concentrações ideais, as três formam micelas mistas, que são solúveis e impedem formação do cálculo. Esse equilíbrio não acontece em todos os indivíduos, o que leva a formação da bile supersaturada em colesterol – bile litogênica. O desenvolvimento da ultrassonografia permitiu o reconhecimento frequente da lama biliar no interior da vesícula. A lama biliar é geralmente uma mistura de muco, bilirrubinato de cálcio e cristais de colesterol monoidratado. Esta é considerada precursora da litíase, embora, nem sempre se desenvolvam cálculos macroscópicos. Os cálculos de colesterol quase sempre dão radiolucentes por não terem cálcio (não aparecem no rx simples de abdome) – apenas 15% são radiopacos (quando tem maior concentração de sais de cálcio). Cálculos Biliares: Os cálculos biliares são bastante prevalentes na maioria dos países ocidentais. A formação de cálculos biliares aumenta após 50 anos de idade. Nos EUA, o terceiro National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III) revelou uma prevalência global de cálculos biliares de 7,9% nos homens e de 16,6% nas mulheres. A prevalência é alta nos mexicanosamericanos (8,9% nos homens, 26,7% nas mulheres), intermediária nos brancos não hispânicos (8,6% nos homens, 16,6% nas mulheres) e baixa nos afro-americanos (5,3% nos homens, 13,9% nas mulheres). Os cálculos biliares são formados devido a uma composição anormal da bile. Eles se dividem em dois tipos principais: cálculos de colesterol e cálculos pigmentares. Os cálculos de colesterol são responsáveis por mais de 90% de todos os cálculos nos países ocidentais industrializados. Os cálculos de colesterol costumam conter >50% de monoidrato de colesterol mais uma mistura de sais de cálcio, pigmentos biliares, proteínas e ácidos graxos. Os cálculos pigmentares são constituídos principalmente por bilirrubinato de cálcio; contêm. Cálculos de Colesterol e Lama Biliar : O colesterol é essencialmente insolúvel na água e depende de sua dispersão aquosa dentro de micelas ou vesículas, sendo em ambos os casos necessária a presença de um segundo lipídeo para solubilizar o colesterol. O colesterol e os fosfolipídeos são secretados e lançados na bile como vesículas unilamelares formando duas camadas, que sãotransformadas em micelas mistas que consistem em ácidos biliares, fosfolipídeos e colesterol pela ação dos ácidos biliares. Se houver excesso de colesterol em relação aos fosfolipídeos e ácidos biliares, observa-se a persistência de vesículas instáveis ricas em colesterol, que se agregam em grandes vesículas multilamelares a partir das quais ocorre a precipitação dos cristais do colesterol. Para resumir, a doença com cálculos biliares de colesterol ocorre em função de várias alterações, que consistem em: 1. supersaturação da bile com colesterol; 2. nucleação do monoidrato de colesterol com subsequente retenção de cristais e crescimento do cálculo; 3. função motora anormal da vesícula biliar com esvaziamento retardado e estase. Cálculos Pigmentares: Cálculos pigmentares pretos são compostos de bilirrubinato de cálcio puro ou de complexos tipo polímeros com cálcio e glicoproteínas mucinas. Eles são mais comuns em pacientes com estados hemolíticos crônicos (com aumento da bilirrubina conjugada na bile), cirrose hepática, síndrome de Gilbert ou fibrose cística. Os cálculos de vesícula nos pacientes com doenças ileais, ressecção ileal ou bypass ileal geralmente são cálculos pigmentares pretos. A reciclagem êntero-hepática da bilirrubina nos estados de doença ileal contribui para sua patogênese. Cálculos pigmentares marrons são compostos de sais de cálcio de bilirrubina não conjugada com quantidades variáveis de colesterol e proteínas. Eles são o resultado da presença de quantidades aumentadas de bilirrubina insolúvel não conjugada na bile, a qual se precipita e forma cálculos. A desconjugação de um excesso de mono e diglicuronatos de bilirrubina solúveis pode ser mediada por β-glicuronidase endógena, embora possa ocorrer também por hidrólise espontânea. Às vezes, a enzima é produzida também quando a bile é infectada cronicamente por bactérias, caso em que esses cálculos são marrons. A formação de cálculos pigmentares é frequente na Ásia e costuma estar associada a infecções na vesícula e na árvore biliar. DEFINIÇÃO: A colelitíase é a formação de cálculos de colesterol dentro das vias biliares. Fisiopatologia: A colelitíase é predominantemente uma inabilidade de manter colesterol livre em solução na bile. À medida que a bile canalicular desce através do sistema ductal biliar, os colangiócitos mantêm o fluxo e o volume biliar secretando na bile cloreto, bicarbonato e água. Na fibrose cística, os defeitos no regulador de condutância transmembrana da fibrose cística, que no fígado é encontrado apenas nos colangiócitos, reduzem a colerese e resultam na formação de tampões mucosos com subsequente cirrose biliar focal e colelitíase. A vesícula biliar, que atua como reservatório final para a bile, a concentra pela remoção de água, aumentando, assim, a concentração de lipídios de 3 g/dL na bile hepática para 10 g/dL na bile vesicular. As concentrações de sais biliares podem ser tão altas quanto 300 mM e iriam digerir o epitélio biliar se a vesícula não secretasse mucina para proteção. A mucosa da vesícula biliar também secreta íons de hidrogênio para evitar a deposição de sal de cálcio e manter a bile com um pH de cerca de 6,5. Uma vesícula normal libera de 10 a 20% de seu conteúdo em resposta à estimulação nervosa entérica duodenalvesicular. Após uma refeição, os lipídios duodenais causam uma contração de cerca de 70% da vesícula biliar, mediada tanto pelo sistema nervoso entérico quanto pela colecistocinina. O prejuízo da contratilidade é um dos passos críticos na patogênese dos cálculos. Resumindo: Supersaturação da bile com colesterol → Nucleação do monoidrato de colesterol com subsequente retenção de cristais e crescimento de cálculo → Função motora anormal da vesícula biliar com esvaziamento retardado e estase. Quadro Clínico: Os sintomas causados pelos cálculos biliares frequentemente são inespecíficos e incluem náuseas, distensão abdominal e dor no quadrante superior direito. A cólica biliar – descrita como uma dor epigástrica ou no quadrante superior direito, que ocorre 15 a 30 minutos após uma refeição, frequentemente irradiando para a região dorsal – é imprevisível, intensa e geralmente constante, não sendo uma verdadeira cólica. A dor persiste por três a quatro horas e pode estar associada a náuseas e vômitos. Na colecistite não complicada, não há febre nem leucocitose, a dor em geral pode ser adequadamente tratada com uma única dose de analgésico narcótico ou anti- inflamatório não esteroide (AINE) e a dor geralmente melhora dentro de seis horas. Crises de cólica podem ocorrer com intervalos de dias ou meses. Causam inflamação ou obstrução após sua migração para dentro do ducto cístico ou ducto colédoco. Sintoma mais específico e característico é a cólica biliar – dor constante e, na maioria das vezes, duradoura. A obstrução do ducto cístico ou do ducto colédoco por um cálculo produz elevação da pressão intraluminal e distensão da vesícula que não podem ser aliviadas pelas conrtações biliares repetitivas. A dor visceral resultante é uma plenitude ou dolorimento intenso e constante no epigástrio ou QSD do abdome com frequente irradiação para a área interescapular. A cólica biliar começa bruscamente e pode persistir com alta intensidade por 15 minutos a 5 horas, desparecendo de modo gradual ou rápido (diferenciação da colecistite). Assim, se persistir por mais de 5 horas deve-se suspeitar de colecistite aguda (infecção secundária pela estase). O paciente pode apresentar náusea, vomito, febre ou calafrios (sugerem complicação → colecistite, pancreatite ou colangite). Pode ser desencadeada pela ingestão de refeição gordurosa, pelo consumo de grande refeição após período de jejum prolongado. Exames de Imagem: Solicita-se USG de abdome. Tratamento: DEFINIÇÃO: Pode ser definida como a inflamação química e/ou bacteriana da vesícula biliar, na maioria das vezes desencadeada a partir da obstrução do ducto cístico. Como a litíase vesicular ou colelitíase são a principal causa dessa doença, a obstrução decorre da impactação de um cálculo na região infundíbulo-colocística, com consequente hipertensão, estase, fenômenos vasculares, inflamatórios e proliferação bacteriana. A colecistite aguda acomete preferencialmente pessoas de sexo feminino, adultos jovens e idosos, sendo, frequentemente, a primeira manifestação da doença litiásica. Fisiopatologia: O processo desencadeado pode involuir, abortar, como decorrência da mobilização do cálculo. Pode, também, evoluir para hidropisia vesicular, empiema, necrose, perfuração bloqueada ou em peritônio livre (coleperitônio). Menos frequentemente, a colecistite aguda pode ocorrer na ausência de obstrução do ducto cístico, quando é denominada alitiásica com fisiopatologia pouco conhecida. Pode estar associada a processos autoimunes, toxinas circulantes ou substâncias vasoconstritoras, acometendo pacientes hospitalizados crônicos, em unidades de terapia intensiva, politraumatizados, sépticos, em pós- operatório e idosos. Quadro Clínico: A dor é a principal manifestação da colecistite aguda, frequentemente desencadeada pela ingestão de alimentos colecistocinéticos. Inicialmente, assume o caráter de cólica, expressão clínica do fenômeno obstrutivo, e a seguir torna-se contínua, como decorrência dos fenômenos vasculares e inflamatórios. À localização inicial no hipocôndrio direito, segue-se irradiação para o epigástrio, dorso e difusa para o abdome na vigência de complicações. Náuseas e vômitos são frequentemente observados. O estado geral está na dependência da intensidade do processo inflamatório e principalmente infeccioso. Costuma estar preservado, sem grandes alterações hemodinâmicas e apresentar febre raramente superior a 38°C. É possível observar icterícia discreta. A inspeção do abdome revelaposição antálgica ou discreta distensão. A palpação do abdome é, sem dúvida, o recurso propedêutico mais valioso, podendo revelar hipersensibilidade no hipocôndrio direito e defesa voluntária. O sinal de Murphy (interrupção da inspiração profunda pela dor à palpação da região vesicular) é, talvez, a expressão maior da propedêutica abdominal na colecistite aguda. A percussão abdominal revela dor ao nível do hipocôndrio direito, consequente à irritação do peritônio visceral, o mesmo ocorrendo com os ruídos hidroaéreos que se encontram diminuídos ou, até normais. É importante ressaltar que tal exuberância propedêutica pode estar mascarada em pacientes idosos ou imunocomprometidos. Exames de Imagem: A USG de abdome é o exame de escolha inicial, apresenta 99% de sensibilidade para visualização de dilatação ductal nos casos de coledocolitíase associada. A TC de abdome é utilizada na presença de dúvidas diagnósticas após realização da USG ou para investigar acometimento de órgãos adjacentes, como pâncreas e duodeno, caso o quadro sugira, possui baixa sensibilidade para colelitíase, sendo mais útil no diagnóstico diferencial com colangiocarcinoma, coledocolitíase e para avaliação de complicações. Já o RX de abdome em 10 a 20% dos casos pode-se identificar a presença de cálculos radiopacos no hipocôndrio direito. o Podem ser identificada dilatação de alças adjacentes à vesícula devido ao íleo paralítico secundário. Tratamento: Colecistectomia é a base da terapia da colecistite aguda, entretanto, um período de estabilização intra-hospitalar pode ser necessário. Tratamento clínico baseia-se no jejum, hidratação, correção de distúrbios hidroeletrolíticos. Além de analgesia (evitar morfina por causar espasmos do esfíncter de Oddi) e antibioticoterapia. Tratamento cirúrgico depende da estabilização do paciente. Antibioticoterapia empírica: cefazolina, cefuroxima ou ceftriaxona nos casos leves a moderado → nos casos mais graves podem ser usados carbapenêmicos, betalactâmicos com inibidores de betalactamase, fluoroquinolonas com metronidazol. Realiza-se colecistostomia emergencial na suspeita ou confirmação de complicações, como empiema, colescistite enfisematosa ou perfuração. Em pacientes com colecistite aguda sem complicação, realiza-se colecistectomia videolaparoscópica dentro de 48 a 72h do diagnóstico. Complicações: • Colecistite Acalculosa: 5 a 10% dos pacientes como colecistite aguda não apresentam cálculos. Em > 50% desses casos não se encontra uma explicação plausível para inflamação acalculosa. Apresenta maior risco associado a traumatismo grave ou queimaduras, ao período pós-operatório de grandes intervenções cirúrgicas ortopédicas e de outra natureza não biliar. Lama biliar no ducto cístico pode ser o fator responsável. • Empiema: progressão de colecistite aguda com obstrução persistente no ducto cístico para superinfecção da bile estagnada com um organismo bacteriano formador de pus. Apresenta um quadro clínico de febre altar, dor intensa no QDS, leucocitose acentuada, prostração. Alto risco de sepse por bactérias gram negativas e/ou perfuração. A intervenção cirúrgica emergencial com cobertura ATB apropriada. • Gangrena: resulta da isquemia da parede e da necrose tecidual segmentar ou completa. Acentuada distensão da vesícula biliar, vasculite, DM, empiema ou torção que resulta em oclusão arterial. • Perfuração: em geral, a gangrena predispõe à perfuração da vesícula biliar. As perfurações localizadas costumam ser contidas pelo omento ou pelas aderências produzidas pela inflamação recorrente da vesícula biliar. Perfuração livre é menos comum. Tratamento preferencial com colecistectomia. • Schafer AI, Goldman.L. Cecil Tratado de Medicina Interna. 26ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2018. • Resumos da Med • Resumo da Amanda: Abdome Agudo Inflamatório I