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Acadêmico Lucas Furtado Barros ~Pediatria e Neonatologia~ Medicina UEMA Página 1 de 4 No néfron, há as células endoteliais, os vasos sanguíneos, os podócitos, recobrindo o endo- télio (e são células especializadas pela filtra- ção do sangue) e entre os podócitos há a membrana podocitária. Entre o endotélio e os podócitos, existe a membrana basal. Observe a Figura 1. Figura 1- Esquema da ultraestrutura do capilar glomerular e do folheto visceral da cápsula de Bowman. Nela conseguimos observar o endotélio, a membrana basal e os podócitos. Na síndrome nefrótica, as fendas de filtração (em verde na Figura 1) são comprometidas e os prolongamentos secundários dos podócitos se fundem (Figura 2), o que prejudica a filtra- ção e permite a passagem de diversas subs- tâncias, mas principalmente de Albumina, Apolipoproteína B (ApoB), Antitrobina III (AT III) e Imunoglobulia G (IgG). Figura 2- Ilustração demonstrando prolongamentos secundários dos podócitos normais (a) e fundidos (b), como ocorre na Síndrome Nefrótica. Na Síndrome Nefrótica, o paciente apresenta: ✓ Proteinúria Nefrótica; ✓ Hipoalbuminemia < 2,5mg/dL; ✓ Edema Gravitacional; ✓ Hiperlipidemia. Proteinúria Nefrótica, pela perda de proteína na urina, os exames de sangue irão apresen- tar Hipoalbuminemia < 2,5mg/dL. Pela baixa quan- tidade de proteína no san- gue, a pressão oncótica dentro dos vasos sanguí- neos diminui, o que causa uma perda de líquido para o tecido, gerando Edema. O edema da Síndrome Nefrótica caracteriza-se como Edema Gravitacional, pois o paciente pode relatar edema em face ao acordar e uma melhora do edema nesta localização com o passar do dia, tendo con- comitante uma piora de edema em membros inferi- ores. Este edema também é “flácido”, forman- do cacifos ao ser submetido à pressão digital (Figura 3). Outra característica dessa síndrome é a Hiper- lipidemia, que ocorre devido à perda de ApoB, o que leva à produção maior de proteína e gordura pelo fígado, que tenta compensar a perda. Figura 3- Edema Gravitacional típico de Síndrome Nefrótica, mostrando o "cacifo" ao ser pressionado digitalmente. Síndrome Nefrótica FISIOPATOLOGIA DEFINIÇÃO Acadêmico Lucas Furtado Barros ~Pediatria e Neonatologia~ Medicina UEMA Página 2 de 4 Pela presença de proteína na urina, o paciente irá relatar espuma na urina, que pode ser do- sado através do exame de Urina de 24h ou de Urina de Amostra Isolada (este último é mais recomendado em situações em que fica difícil colher o exame de Urina de 24h, seja pela criança usar fralda ou pelo paciente se apre- sentar na emergência). Urina de 24h (apresentar um dos três critérios): ✓ > 3,5g/1,73m²/24h; ✓ > 50mg/kg/dia; ✓ > 40mg/m²/h – 24h. Urina de Amostra Isolada: ✓ Relação de Proteinúria Urinária com Cre- atinina Urinária (Ptur/Crur) ≥ 2,0. ✓ Incidência de 2 casos para cada 100mil indivíduos; ✓ Mais comum em menores de 6 anos, ten- do um pico com 3 anos; ✓ Predominância do sexo masculino (2:1). ✓ Início insidioso, onde a criança fica mais inapetente, cansada; ✓ Edema Gravitacional; ✓ Ganho de Peso, pelo próprio edema; ✓ Complicações, como infecções – causa- das pela perda de IgG, como pneumonias, peritonite bacteriana espontânea, infec- ções urinárias etc. – ou eventos trom- boembólicos – pela perda de AT III, que pode causar AVC-I, amaurose por isque- mia retiniana. O diagnóstico de Síndrome Nefrótica é dado pela tríade: ✓ Edema Gravitacional; ✓ Proteinúria Nefrótica; ✓ Hipoalbuminemia. A tríade clássica descrita acima é obriga- tória para estabelecer o diagnóstico, contudo, o paciente pode abranger, também, outros sinais e sintomas: ✓ Hiperlipidemia; ✓ Hipoalbuminemia; ✓ Hipogamaglobulina. A principal complicação as Síndrome Nefróti- ca é a Ascite, que associada à perda de IgG pela urina, pode proporcionar infecção, levan- do à uma peritonite bacteriana espontânea. Não será todo caso que necessitará de biópsia renal, pois a maioria dos casos (80%) não apresentará alterações no estudo histoló- gico, somente uma lesão histológica mínima. Então, biopsia aqueles que: ✓ Possuírem qualquer característica de Síndrome Nefrítica, como Hipertensão Ar- terial Sistêmica, Insuficiência Renal, que- da de C3 (complemento), Hematúria Ma- croscópica etc.; ✓ Ou dependendo da idade, menor de 1 ano de idade ou maior que 10 anos de idade; ✓ Se o paciente for Corticodependente ou Corticoresistente. Outras causas de Síndrome Nefrótica são a Glomeruloesclerose Segmentar Focal (GESF), a Glomerulonefrite Proliferativa, a Glomerulo- nefrite Membranosa e a Glomerulonefrite Me- sangial. O principal tratamento da Síndrome Ne- frótica é através da Imunossupressão, utilizan- do a Corticoterapia: ✓ Prednisona/Prednisolona – 60mg/m² por 1 mês e redução gradual da dose. Em resposta à Corticoterapia, 30% dos paci- entes irão ter uma resposta boa e satisfatória, enquanto 50% terão recaídas frequentes após a retirada da medicação, e 10 a 20% terão recaídas isoladas (até 4 recaídas) e depois apresentarão uma melhora satisfatória. Dessa forma, os pacientes podem ser classificados em Cortico-sensível – aqueles que respondem bem à Corticoterapia –, Cortico-resistente – aqueles que não respondem – e Cortico- dependente – aqueles que têm recaídas com a retirada da medicação. ✓ Hipercoagulabilidade, pela perda de AT III; ✓ Imunodeficiência, pela perda de IgG; ✓ Peritonite Bacteriana Espontânea. PROTEINÚRIA NEFRÓTICA EPIDEMIOLOGIA QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO BIÓPSIA NA SÍNDROME NEFRÓTICA TRATAMENTO E PROGNÓSTICO PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES Acadêmico Lucas Furtado Barros ~Pediatria e Neonatologia~ Medicina UEMA Página 3 de 4 Na pediatria, Síndrome Nefrítica ocorre por consequência de uma Glomerulonefrite Pós- Estreptocócica (GNPE). É idiopática, mas cogita-se que ocorre em pessoas com predis- posição, fazendo com que o sistema imune ataque a bactéria e acabe atacando, também, a membrana basal do capilar glomerular (Figu- ra 1). Imunocomplexos (anticorpo ligado a antígeno) se ligam à membrana basal e geram uma resposta imune, consumindo Comple- mento C3, as células polimorfonucleadas vão causar a inflamação do néfron, o que vai per- mitir a passagem de hemácias pelo néfron, causando Hematúria. Na Síndrome Nefrítica, o paciente apresenta: ✓ Hematúria Glomerular; ✓ Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), pela disfunção do néfron, que vai impedir a eliminação completa de líquido, cau- sando um acúmulo de líquido e, dessa forma, uma hipervolemia; ✓ Edema, este diferente do edema gravita- cional da Síndrome Nefrótica, pois não é tão evidente e é mais resistente à pres- são digital; ✓ Queda de complemento C3; ✓ Presença de Humps, que é o depósito de imunocomplexo na membrana basal, ob- servável apenas em biópsia e avaliação histológica em microscopia eletrônica. A Hematúria Glomerular é aquela que ini- cia no néfron, tendo como características iden- tificáveis no exame de Urina 1: ✓ Dimorfismo Eritrocitário, que é uma má formação da hemácia após passar pelo néfron e por todo o sistema de filtração renal; ✓ Cilindros Hemáticos, devido à impregna- ção de hemácias na Proteína de Tamm- Horsfall, que é uma proteína presente na porção intra-tubular dos túbulos renais. Pode também apresentar Cilindro Granu- loso, que é a impregnação de células de defesa nessa proteína. ✓ Principal causa é a GNPE, tendo uma epidemiologia semelhante à Faringotonsi- lites Agudas (FA), tendo em vista que a principal causa de FA bacteriana é a in- fecção pelo Estreptococo beta-hemolítico do grupo A; ✓ Incidência de 10 a 30 casos em 100mil indivíduos, o que parece estar em queda em países industrializados; ✓ Incidênciaem epidemias de Streptococ- cus, onde 10% dos pacientes que tiveram FA irão evoluir com GNPE, e 25% daque- les que tiveram Faringites ou Impetigo irão evoluir com a mesma complicação. ✓ Pico de 6 a 7 anos, devido ao início das atividades escolares e é rara abaixo dos 3 anos de idade, devido à ausência de re- ceptores para o Streptococcus nas amíg- dalas; ✓ Início Abrupto; ✓ Sintomas Inespecíficos, como a inapetên- cia, torporosa e oligoanúrica; ✓ Edema, endurecido e não-gravitacional; ✓ Hematúria Macroscópica; ✓ Precedido de infecção estreptocócica, como a amigdalite ou escarlatina e pelo Impetigo, colhida pela história. ✓ Confirmação de infecção estreptocócica, que pode ser realizado pelo Strep test, pela Cultura da Orofaringe ou da Pele ou Sorológica (através do ASLO, anti-DNAse B ou Anti-hialuronidase); ✓ Descartar outras etiologias, como o Lúpus Eritematoso Sistêmico (através da coleta de FAN) e Sorologias para Hepatites Vi- rais (B e C) e para HIV; ✓ Exames gerais (Ureia, Creatinina, hemo- grama e eletrólitos), buscando insuficiên- cia renal e anemia. Na Síndrome Nefrítica, assim como na Síndrome Nefrótica, não serão todos os casos a serem biopsiados, tendo que cumprir alguns critérios: ✓ > 3 dias de Oligoanúria; ✓ > 4 semanas de Azotemia 1 , HAS, He- matúria Macroscópica ou Proteinúria Ne- frótica; 1Azotemia é o aumento da Ureia, pelos exames laborato- riais. Síndrome Nefrítica FISIOPATOLOGIA DEFINIÇÃO HEMATÚRIA GLOMERULAR EPIDEMIOLOGIA QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO BIÓPSIA NA SÍNDROME NEFRÍTICA Acadêmico Lucas Furtado Barros ~Pediatria e Neonatologia~ Medicina UEMA Página 4 de 4 ✓ > 8 semanas de Queda de C3. Na Síndrome Nefrítica, diferente da Síndrome Nefrótica, a indicação de Biópsia não é no ato, de imediato, mas depende da evolução dos sintomas da criança. O Anatomopatológico encontrado na Biópsia da Síndrome Nefrítica é GNPE, que corres- ponde à Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA), sendo o principal diagnóstico diferen- cial a Glomeruloesclerose Segmentar Focal (GESF). O tratamento clínico para pacientes pediátricos com Síndrome Nefrítica é basicamente de suporte e sintomáticos: ✓ Repouso; ✓ Restrição Hídrica, principalmente para crianças com HAS e Insuficiência Renal Aguda (IRA), sendo necessário, às vezes, o uso de diuréticos, como a Furosemida; ✓ Restrição de Sódio, devido à piora da hi- pervolemia causada pelo sódio; ✓ Erradicação do Estreptococos, principal- mente com uso de Penicilina Benzatina 600.000 a 1.200.000 UI, IM, dose única. Deve-se prestar muita atenção às complica- ções da Síndrome Nefrítica, causadas princi- palmente pela IRA, que causa uma Hipervo- lemia, levando à HAS e à congestão, o que pode resultar em uma Congestão Cardiocircu- latória (Edema Agudo de Pulmão), Encefalo- patia Hipertensiva ou Oligoanúria (que pode ser tão severa ao ponto de precisar de diálise). 1. Aula de Síndrome Nefrótica #Aprenda, <https://aluno.sanarflix.com.br/?_ga=2. 203936023.645400031.1657241011- 996505996.1573997186#/portal/sala- au- la/5daa86414340d20011fb25a5/5fd1c 5bec6557f0012ecb904/video/5fd1c55f 146cf5001d53b415>, [Acesso em 14 de julho de 2022]; 2. Aula de Síndrome Nefrítica #Apren- da, <https://aluno.sanarflix.com.br/?_ga=2. 203936023.645400031.1657241011- 996505996.1573997186#/portal/sala- au- la/5daa86414340d20011fb25a5/5fd1c 6148e7ef80012267168/video/5fd1c5c1 bf5c99001c1efe00>, [Acesso em 14 de julho de 2022]; 3. Faringotonsilites, MSD Manuals, <https://www.msdmanuals.com/pt- br/profissional/dist%C3%BArbios-do- ouvido,-nariz-e- garganta/dist%C3%BArbios-orais-e- far%C3%ADngeos/faringotonsilite>, [Acesso em 14 de julho de 2022]; 4. Junqueira e Carneiro, Histologia bá- sica, 2013. TRATAMENTO CLÍNICO REFERÊNCIAS