Buscar

Exame Neurológico na Medicina Veterinária


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O Exame Neurológico na 
Medicina Veterinária 
 
 
 
 
 
Parabéns! 
 É meu dever te parabenizar por adquirir esse livro. Com certeza seu 
cérebro é seu maior ativo e o investimento em conhecimento é o que mais 
garante retorno em curto e longo prazo. Aproveite este livro e extraia o 
máximo dele. 
 
 
 
 
Sobre Richard 
 
Graduação em andamento em Medicina Veterinária pela Universidade 
do Sul de Santa Catarina, bolsista de Iniciação Tecnológica do CNPq, Presidente 
da Liga Acadêmica de Estudos em Neurologia Veterinária (LANEV) e Vice-
Presidente do Centro Acadêmico de Medicina Veterinária (CAMVET) na mesma 
instituição. Acompanha a rotina de Neurologia e Neurocirurgia Veterinária na 
região Sul de Santa Catarina sob orientação do Prof. Jairo N. Balsini. Também é 
membro do Grupo de Pesquisa em Neurobiologia dos Processos Inflamatórios 
e Metabólicos (NeuroIMet - Núcleo Sepse) do Programa de Pós-Graduação em 
Ciências da Saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina. 
 
 
 
Algumas palavras iniciais 
 
Gostaria inicialmente de compartilhar um pouco da minha breve 
história com a neurologia veterinária e como me veio a ideia de escrever esse 
livro. 
No momento estou prestes a concluir a graduação em Medicina 
Veterinária e não gostaria de deixá-la sem ao menos uma contribuição 
significativa. O percurso até aqui foi muito diferente do esperado, como 
sempre, com diversos obstáculos pelo caminho. Hoje estou dando os últimos 
passos na graduação. E esse é só o começo. 
Mas quem ele acha que é? Ainda não concluiu a graduação e quer me 
ensinar sobre exame neurológico. Eu te entendo, e talvez se eu estivesse no seu 
lugar, pensaria o mesmo. Se não fosse por eu ter me dedicado quase 
integralmente a esse assunto durante a graduação, eu nem teria confiança para 
escrever sobre. 
Logo cedo, tive a oportunidade de ter um grande mentor, além de, por 
meio dele, fazer network com outros profissionais da área. Isso me permitiu 
criar uma relação íntima com a neurologia e com certeza, foi um assunto que 
ganhou minha atenção. Tive o privilégio de acompanhar um grande volume de 
consultas neurológicas e procedimentos neurocirúrgicos ainda no começo da 
faculdade e isso fez toda diferença para mim. 
Entendo que não são todas as universidades que dispõe de um médico 
veterinário neurologista no corpo docente, ou ainda são poucas as que 
conseguem abranger o tema durante as aulas de clínica médica. Realmente, 
esses profissionais são escassos. Esse fato faz com que a neurologia pareça 
ainda mais distante, mesmo para aqueles que despertam um grande interesse 
quando ouvem sobre o assunto em palestras, simpósios ou jornadas 
 
 
acadêmicas. Desse modo, outras áreas com maior abrangência e oportunidades 
acabam chamando a atenção e sobrepondo o que poderia, talvez, ser uma 
realização profissional. 
Gosto de pensar que a medicina veterinária é como uma medicina 
humana, porém, com alguns anos de atraso. Isso serve quando tratamos a 
medicina veterinária no todo, mas serve ainda mais para a neurologia 
veterinária. Lembro de recorrer diversas vezes a conteúdos direcionados a 
medicina humana e conseguir tirar muito proveito disso, onde no mínimo me 
servia para abrir a mente e perceber o quanto estamos atrasados e que devemos 
nos capacitar cada vez mais para chegar ao nível de oferecer grandes 
possibilidades aos nossos pacientes como acontece lá. Não engrandeço uma, 
nem diminuo a outra. O que penso disso, é que devemos sempre utilizar o 
paralelo para somar ao nosso conhecimento. 
O desejo de escrever esse livro despertou através da percepção de que a 
neurologia veterinária é apresentada como algo complexo demais para 
aprender ainda na graduação, e isso acaba distanciando os acadêmicos desse 
assunto, o que por vez, posteriormente compromete o desempenho 
profissional. Acredite, compromete mesmo. Quase a totalidade dos 
profissionais com quem conversei antes de escrever esse livro, apresentam 
dificuldades em realizar a correta triagem e avaliação do paciente com sinais 
clínicos neurológicos, e mais ainda conseguir diagnosticar e tratar casos mais 
básicos e evidentes que sejam. 
O objetivo deste livro, é trazer uma linguagem clara da introdução a 
neurologia e os conceitos básicos para realização de um exame neurológico que 
pode revelar informações cruciais para guiar o paciente até as suspeitas 
clínicas, que serão parte importante do caminho ao correto diagnóstico, 
tratamento e prognóstico. Deixo claro também, que os ensinamentos expostos 
aqui não são unicamente de minha fonte. Todo conteúdo descrito é baseado no 
 
 
conhecimento transmitido em literatura por grandes nomes da neurologia 
veterinária. O livro também foi revisado pelos professores que confio 
cegamente, Jairo Nunes Balsini e Jean Joaquim. 
Espero que esse guia prático possa te fornecer informações importantes 
e mudar o seu pensamento em relação a neurologia veterinária, mesmo que 
você não seja um amante da área, tampouco queira se dedicar a ela. É 
importante lembrar que, seja qual for seu foco profissional, a neurologia pode 
aparecer, e cabe a você estar preparado para lidar com esse paciente. Ele pode 
ter o azar de cair em mãos (e cérebro) que não estão preparados para lidar com 
essa situação, ou ele pode ter a sorte de chegar a você, que está lendo esse livro 
e se preparando para casos como esses. Boa leitura! 
 
 
Sumário 
 
Cap. 1: Uma boa anamnese diz muito ....................................................................... 1 
Cap. 2: Entenda neuroanatomia e neurofisiologia funcional ............................... 6 
Cap. 3: O exame neurológico ................................................................................... 21 
Cap. 5: Aplicando o DINAMITV ............................................................................... 45 
Cap. 4: Neurodiagnóstico ........................................................................................ 46 
Cap. 5: Não esqueça dos princípios ........................................................................ 53 
Cap. 6: Aprofunde seus estudos .............................................................................. 57 
Cap. 7: Considerações finais .................................................................................... 58 
 
1 
 
Cap. 1: Uma boa anamnese diz muito 
 Como descrito no título desse capítulo, uma boa anamnese diz muito e 
eu vou lhe mostrar o porquê. 
 Ao iniciar a consulta de um paciente com uma suspeita de uma afecção 
neurológica, você deve ter em mente que algumas informações obtidas tanto 
na visualização direta quanto na conversa com o proprietário do animal vão ser 
cruciais para criar uma ideia da neurolocalização da lesão e de uma lista de 
suspeitas clínicas como prováveis hipóteses de causas. A identificação de 
informações inerentes ao animal, como raça, idade e sexo são, em algumas 
vezes, determinantes para suas suspeitas. A seguir você verá isso com 
exemplos práticos. 
 Além disso, a conversa com o proprietário ou tutor, como preferir, vai 
fornecer outra gama de informações sobre o animal, configurando seu 
histórico, que assim como as características do animal, é um fator 
determinante para criar a lista de hipóteses diagnósticas e guiar o médico 
veterinário no seu raciocínio clínico e na sequência, na sua conduta em 
requisitar exames complementares mais apropriados para chegar ao 
diagnóstico definitivo. Dito isso, vamos entender por que a raça, a idade, o sexo 
e o histórico do animal são pontos chave para a avaliação de um paciente com 
suspeita de um quadro neurológico. 
 
RAÇA 
 
 Hoje em dia sabe-se que as raças carregam consigo a predisposição 
genética para o desenvolvimento de alguma ou algumas enfermidades. Na 
2 
 
neurologia veterinária não é diferente, várias afecções estão diretamente 
ligadas às raças, mas deve-se sempre levar em consideraçãoque algumas 
doenças ainda não estão relacionadas com determinadas raças por falta de 
conhecimento ou baixa incidência, então sempre leve em consideração aquele 
ponto fora da curva que pode, eventualmente, aparecer para a consulta. 
 A tabela no final deste capítulo foi adaptada de uma versão sucinta 
exposta no livro Pratical Guide to Canine and Feline Neurology (Dewey & da 
Costa) e demonstra algumas raças comumente encontradas no Brasil e as suas 
respectivas predisposições para algumas afecções de cunho neurológico 
relacionadas à genética e hereditariedade. 
 
SEXO E IDADE 
 
 As afecções neurológicas ligadas ao sexo são raras, portanto, não serão 
tratadas nesse capítulo. Entretanto, a identificação de idade é determinante. 
Algumas enfermidades estão diretamente relacionadas a idade, com algumas 
ocorrendo quase que exclusivamente em animais jovens e outras muito mais 
observadas em animais idosos. Perceba que em momento algum nós citamos 
que a doença X ocorre somente em animais jovens e doença Y somente em 
animais idosos. Mesmo que comumente algumas doenças, como as congênitas, 
sejam observadas em grande parte nos filhotes, elas também podem, de forma 
incomum, manifestar sinais clínicos somente em animais adultos. Assim 
como as neoplasias, relacionadas quase sempre com animais idosos, ainda 
podem se manifestar em animais jovens. 
 
HISTÓRICO 
3 
 
 
 Os dados obtidos no histórico do animal são cruciais para criar um 
conjunto de suspeitas. Nessa parte é muito importante ter uma conversa 
detalhada com o proprietário do animal, questionando sobre os 
acontecimentos e a ordem cronológica, bem como sua evolução. Informações 
básicas como o histórico vacinal, uso prévio de medicações e outras doenças 
sistêmicas concomitantes também são necessárias para formar um bom 
histórico do animal. Um ponto chave é tentar guiar o proprietário com 
perguntas específicas quando se suspeita de alguma afecção. Com isso você 
pode induzir o proprietário a pensar em situações que ele talvez não tenha 
levado em consideração, achando que não teria significância para o caso. Um 
exemplo disso seria estar diante de um paciente suspeito de miastenia grave. O 
proprietário iria apenas relatar a fraqueza em membros que o animal vem 
apresentando, mas poderia não correlacionar que a regurgitação que o animal 
apresentava após se alimentar poderia ter relação com o fato de não conseguir 
se locomover de forma adequada, afinal o que o sistema digestório tem a ver 
com o sistema nervoso? Para o leigo, nada, para nós, tudo. Outra dificuldade 
dos proprietários é a de descrever eventos de crises epilépticas, principalmente 
as focais, por terem sinais brandos e assim, não serem interpretadas por eles 
como um episódio de crise epiléptica. Portanto, o médico veterinário jamais 
deve ater-se somente ao que o proprietário informar no momento da consulta. 
Um grande meio para auxiliar o médico veterinário nesse sentido, seria 
orientar previamente o proprietário a realizar gravação de vídeo dos sinais 
clínicos apresentados quando estão fora do ambiente clínico. Isso pode tornar-
se uma informação chave que faltava para uma suspeita clínica ser 
confirmada. 
Você com certeza já viu o gráfico a seguir em algum livro ou material de 
neurologia veterinária. Esse é uma adaptação do elaborado por Dewey & Da 
4 
 
Costa. Nele é possível observar que as afecções apresentam diferentes 
intensidades de sinais clínicos de acordo com o tempo. Algumas iniciam de 
forma aguda e tendem a diminuir a intensidade dos sinais, já outras aumentam 
gradativamente com o tempo de forma crônica, enquanto umas tendem a se 
manter estáveis em relação a sua apresentação clínica. 
Figura 1. Sinais clínicos neurológicos relacionados com o tempo de evolução. Adaptado 
de Dewey & da Costa, 2017 
 
Inicialmente, com essas informações você já pode ter uma boa noção do 
quadro exposto na consulta. Sempre anote ou tenha uma ficha de avaliação 
neurológica para posteriormente, somar esses dados aos obtidos no exame 
neurológico. 
5 
 
 
RAÇA AFECÇÃO RAÇA AFECÇÃO RAÇA AFECÇÃO RAÇA AFECÇÃO
Miastenia grave adquirida Abiotrofia cerebelar Espondilomielopatia cervical Paralisia de Laringe 
Doença vestibular congênita
Paralisia hereditária de 
laringe
Doença vestibular congênita Abiotrofia cerebelar
Espondilomielopatia cervical Hipercinese Head bobbing Epilepsia idiopática
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Neuropatia sensorial Miopatia
Agenesia cerebelar Infarto cerebelar Miosite imunomediada
Leucodistrofia/degeneração 
espongiforme
Doença vestibular congênita
Estenose do canal vertebral 
cervical
Narcolepsia/cataplexia Síndrome da cauda equina
Abiotrofia cerebelar Discinesia
Dogo 
Argentino
Paralisia de Laringe Miastenia grave
Epilepsia idiopática Tromboembolismo femoral Polineuropatia Miotonia
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Siringomielia Cisto sinovial extradural Narcolepsia/cataplexia
Narcolepsia Epilepsia idiopática
Mielopatia embólica 
fibrocartilaginosa
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Meningite responsiva a 
corticosteroides
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Miastenia grave
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Miopatia Hidrocefalia congênita
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Hidrocefalia congênita Tremor ortostático Cisto aracnóide
Síndrome do tremor 
idiopático
Meningoencefalite 
necrotizante
Fila Brasileiro
doença do disco 
intervertebral tipo II
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Boiadeiro 
Australiano
Polioencefalomielopatia Distrofia neuroaxonal Miastenia grave Hidrocefalia congênita
Abiotrofia cerebelar Hipoplasia cerebelar
Degeneração 
espinocerebelar
Meningoencefalite 
necrotizante
Mielopatia embólica 
fibrocartilaginosa
Hipomielinização/desmieliniz
ação
Doença do disco 
intervertebral cervical 
Miastenia grave adquirida
Epilepsia idiopática Miotonia Megaesôfago congênito Polimiosite autoimune
Neuropatia sensorial Abiotrofia cerebelar
Meningite responsiva a 
corticosteroides
Espondilomielopatia cervical
Polimiosite autoimune Doença vestibular congênita Síndrome da cauda equina Megaesôfago congênito
Meningite responsiva a 
corticosteroides
Hidrocefalia
Mielopatia embólica 
fibrocartilaginosa
Doença vestibular congênita
Mielopatia degenerativa Paralisia facial idiopática Infarto talâmico
Doença do disco 
intervertebral tipo II
Head bobbing
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Miastenia grave Síndrome da cauda equina
Distrofia neuroaxonal Epilepsia juvenil
Meningoencefalite 
eosinofílica
Mielopatia degenerativa
Neoplasia encefálica primária 
Leucodistrofia/degeneração 
espongiforme
Síndrome de Horner Paralisia de Laringe 
Neuropatia sensorial Miotonia Polineuropatia Epilepsia idiopática
Espondilose deformante Abiotrofia cerebelar Epilepsia idiopática
Miosite de músculos 
mastigatórios
Cisto aracnóide Epilepsia idiopática
Neoplasia encefálica 
primária 
Distrofia neuroaxonal
Hemivértebra
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Neuropatia sensorial Doença do neurônio motor 
Head bobbing Miastenia grave Mielopatia degenerativa
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Abiotrofia cerebelar Narcolepsia/cataplexia Paralisia de Laringe Hidrocefalia congênita
Hemivértebra Neuropatia sensorial Miastenia grave congênita
doença do disco 
intervertebral tipo I
Hidrocefalia Espondilomielopatia cervical Ataxia hereditária Hipoplasia do nervo óptico
Head bobbing
Hipertonicidade muscular 
episódica
Cisto aracnóide
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Mal formação sacrococcígea
Hipomielinização/desmieliniz
ação
Miotonia
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Espinha bífida Paralisia de Laringe Distrofia neuroaxonal Abiotrofia cerebelar
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Narcolepsia/cataplexia Neuropatia sensorial Mielopatia degenerativa
Doençado disco 
intervertebral 
Megaesôfago congênito
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Cisto aracnóide
Mielopatia embólica 
fibrocartilaginosa
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Leucodistrofia/degeneração 
espongiforme
Paralisia de Laringe Adipsia Hidrocefalia congênita Narcolepsia/cataplexia
Epilepsia idiopática Epilepsia idiopática
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Hipoplasia do nervo óptico
Narcolepsia/cataplexia
Doença do disco 
intervertebral tipo I
Leucoencefalite 
necrotizante
Epilepsia idiopática
Abiotrofia cerebelar Miotonia Encefalopatia hepática Cisto aracnóide
Hipoplasia cerebelar Sharpei Megaesôfago congênito Espondilomielopatia cervical
Mal formação de Chiari like 
tipo 1
Miastenia grave congênita
Instabilidade e subluxação 
atlantoaxial
Paralisia de Laringe Hemivértebra
Hipomielinização/desmielini
zação
Head bobbing Cisto aracnóide Mielopatia degenerativa
Leucodistrofia/degeneração 
espongiforme
Meningoencefalite 
necrotizante
Miotonia
Boxer
Akita
Basset Hound
Beagle
Bichon Frisé
Border Collie
Bull Terrier
Cavalier King 
Charles 
Spaniel
Chihuahua
Chow Chow
Cocker 
Spaniel
Lhasa Apso Hidrocefalia congênita
Bulldog 
Francês
Bulldog 
Inglês
Shih Tzu
São Bernardo
Samoieda
Yorkshire 
Terrier
Dachshund
Dálmata
Schnauzer
Pinscher 
Miniatura Rottweiler
Labrador 
Retriever
Spitz Alemão 
Maltês
Pastor 
Alemão
Pequinês
Poodle
Pug
Doença do neurônio motor 
Doberman 
Pinscher
Dog Alemão
Fox Terrier 
Galgo 
Golden 
Retriever
Husky 
Siberiano
Jack Russell 
Terrier
6 
 
Cap. 2: Entenda neuroanatomia e 
neurofisiologia funcional 
Embora o entendimento da neuroanatomia e neurofisiologia seja 
fundamental para compreender a neurologia clínica, não se apavore! Sabemos 
que isso não é uma tarefa fácil, nem mesmo para quem está inserido há muito 
tempo nessa área. A neurologia clínica não vai demandar de um conhecimento 
complexo e profundo de anatomia e fisiologia para que você coloque em prática 
o exame neurológico. Obviamente você deve ter uma base para raciocinar o 
exame neurológico, mas grande parte do conhecimento mais profundo é 
adquirido principalmente quando você associa a teoria com a prática e fixa 
essas informações em uma curva de aprendizado, que inicialmente podem 
parecer complexas demais, e que muitas vezes é o principal motivo para 
desestimular os estudos. 
Se mantenha firme, não é tão complexo quanto parece. Vamos tentar 
esmiuçar ao máximo para que seja de fácil entendimento e você absorva o 
necessário para conseguir iniciar um bom exame neurológico e perder o medo 
de errar uma suspeita. Mas já fica a reflexão: na neurologia você vai errar, não 
tente ser perfeito. O importante, nesse caso, é acertar mais do que errar e 
conseguir proporcionar o melhor para seus pacientes, ou ainda, se errar, erre 
dentro de um raciocínio lógico e com coerência 
O entendimento da neuroanatomia e fisiologia vai guiar você ao que se 
chama de NEUROLOCALIZAÇÃO. Essa é a base da neurologia clínica e o ponto 
fundamental para criar suspeitas. 
Vamos dividir o Sistema Nervoso Central (SNC) em regiões para que 
fique mais fácil absorver. Caso você não tenha nenhuma familiaridade com o 
7 
 
assunto, pode ser que encontre termos novos nesse capítulo, mas que serão 
explicados no decorrer do livro. 
 
Figura 2. Divisão das estruturas que compõe o encéfalo. 
 
 
 
O SNC pode ser dividido em duas grandes regiões: encéfalo e medula 
espinhal. Essas ainda podem ser subdivididas, e dessa maneira será feito a 
seguir: 
 
ENCÉFALO 
 
O encéfalo é um grande órgão que compreende as regiões que ficam 
abrigadas pela calota craniana. São elas, o cérebro (telencéfalo e diencéfalo), 
8 
 
cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo). Vamos destrinchar 
cada uma dessas estruturas separadamente. 
 
Cérebro (telencéfalo e diencéfalo) 
 
No telencéfalo, as regiões funcionais são conhecidas por lobos, sendo 
eles o lobo frontal, lobo parietal, lobo temporal, lobo occipital e lobo piriforme. 
Cada lobo tem uma função em particular, ou melhor, várias funções, mas 
vamos tratar de maneira simplificada. 
 
Lobo frontal: é uma área motora, e lá se originam dois tratos 
responsáveis por essa função, sendo eles o corticoespinhal e corticonucleares. 
Esses tratos que se originam lá, percorrem pela substância branca da medula 
espinhal. 
 
Lobo parietal: é uma área relacionada com a sensibilidade dolorosa ou 
nocicepção. Esse lobo recebe informações proprioceptivas e nociceptivas de 
outras regiões, que lá são interpretadas e moduladas. 
 
Lobo temporal: é uma área relacionada com o equilíbrio do animal, ou 
melhor, com o sistema vestibulococlear. 
 
Lobo occipital: é uma área relacionada com a interpretação da visão, pois 
lá é o local de terminação das fibras do trato óptico. Sim, esse lobo fica lá atrás, 
mas o trato óptico o cruza para interpretar os estímulos e proporcionar a visão. 
9 
 
 
Lobo piriforme/Olfatório: é uma área relacionada com o olfato, pois 
recebe e interpreta os estímulos oriundos das terminações nervosas do trato 
olfatório. 
 
Figura 3. Divisão do telencéfalo em lobos. 
 
 
Um detalhe importante para lembrar é que os tratos oriundos do 
telencéfalo que vão para os membros são cruzados quando passam pelo tronco 
encefálico, mais precisamente na região entre mesencéfalo e ponte. Nesse 
sentido, alterações em membros que são originadas por disfunções no 
telencéfalo, sempre vão se apresentar de forma contralateral, ou seja, se há 
uma ataxia proprioceptiva (veremos adiante) em membro pélvico esquerdo, é 
muito provável que a lesão esteja localizada no lado direito, se oriunda de 
disfunção encefálica. 
10 
 
De modo geral, lesões no telencéfalo podem provocar mudanças de 
comportamento (andar sem rumo ou vocalizar), crises epiléticas, andar em 
círculos, déficit proprioceptivo, alteração do estado mental, déficits na 
resposta à ameaça, head pressing (pressão de cabeça contra paredes e objetos) 
e rotação de cabeça. A cervicalgia ou dor cervical também pode estar presente, 
principalmente em pacientes com afecções encefálicas que promovam 
aumento da pressão intracraniana (PIC). 
 Clinicamente, o diencéfalo vai apresentar sinais de disfunção muito 
semelhantes aos do telencéfalo, sendo quase que inviável separá-los no exame 
clínico. Por esse motivo, o termo clínico para disfunções do telencéfalo e/ou 
diencéfalo é denominado como disfunção talamocortical ou prosencefálica, 
que engloba as duas regiões. Uma característica importante de ser lembrada é 
que pacientes com disfunção diencefálica podem apresentar indícios de 
disfunção endócrina, visto que o diencéfalo abriga importantes estruturas 
relacionadas com a secreção de hormônios. 
 
Cerebelo 
 
O cerebelo é o responsável por refinar o movimento, ou seja, ele controla 
a velocidade e a amplitude dos movimentos executados pelo animal. Então, 
qualquer sinal de disfunção nessa região vai impedir esse refinamento, e os 
movimentos podem ficar exagerados em amplitude (hipermetria) ou 
diminuídos (hipometria), sendo que as duas alterações configuram a 
dismetria. A lesão em cerebelo também pode provocar a ataxia cerebelar, que é 
caracterizada por tremores de intenção com a cabeça, além disso, alterações 
relacionadas com a via ocular. 
 
11 
 
Tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo) 
 
Você já deve ter ouvido falar de pares de nervos cranianos, certo? Eles são 
12 e o tronco encefálico abriga a origem de 10 desses pares, ou seja, é uma área 
em que sua disfunção vai culminar em alterações em pares cranianos. Se você 
já se tocou disso, você está no caminho certo. As funções dos pares de nervos 
cranianos serão abordadas mais a fundo no próximo capítulo. 
No mesencéfalo, estão localizadas as origens dos pares cranianos III 
(nervo oculomotor) e IV (nervo troclear). Entreo final do mesencéfalo e o início 
da ponte, fica o local onde há uma decussação dos tratos craniais a ponte, sendo 
assim esse é o ponto que distingue as lesões de marcha contralaterais (rostrais 
ao mesencéfalo) e ipsilaterais (caudais ao mesencéfalo). 
Na ponte, está localizada a origem do par craniano V (nervo trigêmeo, 
mais especificamente seu núcleo motor). Além disso, essa nobre região é 
responsável pelos principais centros respiratórios, juntamente com o bulbo. 
O bulbo abriga a origem de diversos pares cranianos, sendo eles o V 
(nervo trigêmeo, núcleo sensitivo), VI (nervo abducente), VII (nervo facial), 
VIII (nervo vestibulococlear), IX (nervo glossofaríngeo), X (nervo vago), XI 
(nervo acessório) e XII (nervo hipoglosso). Essa área também atua no controle 
de funções vitais, como a frequência cardíaca e a respiratória. 
 
MEDULA ESPINHAL 
 
 É importante iniciar comentando a diferença entre segmentos 
medulares e segmentos vertebrais. A seguir você pode observar na imagem, 
que em alguns momentos os segmentos não se respeitam e seguem em ordem 
12 
 
diferente. Fique atento, pois na neurologia clínica os segmentos medulares são 
utilizados como pontos de referência em afecções que acometem a medula 
espinhal. Sobre os segmentos medulares e sua relevância clínica, esse tópico 
será abordado no próximo capítulo, onde trataremos do exame neurológico. 
 
Lembrete 1 
Ao examinar uma radiografia, com os espaços intervertebrais, lembre-se que 
a lesão na radiografia não é a mesma no segmento vertebral ou seja uma lesão 
radiográfica no segmento de L3L4 na verdade é uma lesão no segmento 
medular L4L5 com sinais de NMI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Figura 4. Segmentos medulares e seus respectivos segmentos vertebrais. Adaptada de 
Dewey & da Costa, 2017 
 
 
Você pode achar que a medula espinhal é um simples cordão localizado 
no canal interior das vértebras, mas acredite, não é. Ela abriga em seu interior 
diversos componentes, que são responsáveis por funções motoras e sensitivas 
para cada local do corpo. A substância branca da medula espinhal pode ser 
dividida em funículos, e dentro de cada funículo, há diversos tratos e fascículos 
com funções motoras e sensitivas. Esse assunto é complexo, mas pode ser 
14 
 
compreendido de acordo com seu interesse. Não abordaremos sobre o assunto 
nesse livro, e talvez ele não seja inicialmente fundamental para você 
compreender o exame neurológico. Se apegue em conceitos mais simples no 
momento. Mas como título de curiosidade, segue uma imagem para você 
entender como eles estão divididos. Esse entendimento é importante 
principalmente na classificação de lesões medulares, onde você pode 
compreender o nível de comprometimento da medula e as disfunções 
decorrentes. 
 
Figura 6. Divisão dos componentes funcionais da 
medula espinhal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: 1 - trato corticoespinhal lateral; 2 - trato rubroespinhal; 3 - trato reticuloespinhal pontino; 4 - 
trato reticuloespinhal medular; 5 - trato vestibuloespinhal; 6 - fascículo grácil; 7 - fascículo cuneado; 8 - 
trato espinocuneocerebelar; 9 - trato espinocerebelar; 10 - trato espinotalâmico. 
15 
 
Outro conceito integrado nesse assunto é o de neurônio motor. Para 
facilitar, entenda que os neurônios motores são divididos em superior (NMS) e 
inferior (NMI). O NMS manda no NMI. Nesse sentido, os axônios dos tratos do 
NMS descendem do encéfalo e fazem conexão com o NMI através dos 
interneurônios, localizados na substância cinzenta da medula espinhal. Por 
sua vez, esse impulso é continuado através do NMI até os músculos 
apendiculares, mas não somente eles. A bexiga e os esfíncteres anais e uretrais 
também são inervados pelo NMI. 
Lembra que falamos de segmento medular no início deste tópico? Essa 
divisão segmentar também está relacionada com o tipo de neurônio motor 
afetado. Os NMI de relevância clínica estão localizados principalmente na 
intumescência cervical e lombossacra, que corresponde aos segmentos C6-T2 
e L4-S3, respectivamente. A lesão nesses segmentos configura uma lesão do 
tipo NMI, que é caracterizada por paresia ou plegia, com redução ou ausência 
dos reflexos e diminuição do tônus muscular dos membros acometidos. 
Lembrar que as lesões dos nervos cranianos são sempre do tipo NMI. A lesão 
nos segmentos que correspondem ao NMS, ou seja, lesão em segmentos C1-C5 
e T3-L3, vai impedir o controle do NMS sobre o NMI. Desse modo, haverá 
também paresia ou plegia, porém, com a presença dos reflexos e do tônus 
muscular de maneira normal ou aumentada. 
 
Medula cervical (C1-C5) 
 
 A ocorrência de uma lesão nesse segmento medular pode acarretar 
paresia ou plegia. Mais especificamente hemiparesia/plegia ou 
tetraparesia/plegia, dependendo do tipo de lesão. A cervicalgia ou dor cervical 
também é um sinal clínico bastante associado, sendo evidenciada 
16 
 
principalmente à palpação. Fisiologicamente, déficits proprioceptivos e 
motores deveriam estar presentes, mas em alguns casos, são discretos ou 
ausentes, de modo que podem mascarar a lesão. Isso tudo vai depender da 
intensidade da lesão, bem como de sua localização e extensão. Quando há 
acometimento do segmento C1-C5, os sinais clínicos de NMS podem ser 
observados em membros torácicos e pélvicos. 
 
Medula cervicotorácica (C6-T2) 
 
 Esse segmento dá origem a intumescência cervical, de onde se origina 
um plexo de nervos que se direcionam para os membros torácicos. Os 
principais nervos incluem o supraescapular, subescapular, musculocutâneo, 
axilar, radial, mediano e ulnar. A lesão nesse segmento configura sinais de NMI 
nos membros torácicos (caso a lesão envolva a substância cinzenta) e mais 
evidentes de NMS nos membros pélvicos. Mas por que NMI para membros 
torácicos e NMS para membros pélvicos? Bem, imagine que a lesão está a nível 
de membros torácicos, ali está a origem de diversos nervos que inervam essa 
região, enquanto para os membros pélvicos isso não se aplica, pois é apenas 
parte do caminho percorrido pelo NMS até a intumescência lombossacra. 
Nesse segmento que também origina o nervo torácico lateral, que é um 
ramo eferente do reflexo cutâneo do tronco ou panículo, sendo assim, ele pode 
estar ausente ou diminuído se lesão associada. Nesses casos, a bexiga também 
pode sofrer impactos com sinais de NMS. 
Lembrete 2 
As lesões de NMI de C6T2 são menos intensas que as de L4S1, devido ao canal 
medular ser mais largo na região cervical e, portanto, mais complacente. 
17 
 
 
Medula toracolombar (T3-L3) 
 
Lesões no segmento toracolombar (T3-L3) provocam sinais de NMS nos 
membros pélvicos, enquanto os membros torácicos permanecem intactos. 
Uma exceção é quando há acometimento das primeiras vértebras lombares, 
mais precisamente L2-L4, onde estão localizadas as chamadas células da borda 
ou border cells. Esses neurônios se projetam para a intumescência cervical, 
atuando como inibidores para os músculos apendiculares dos membros 
torácicos. Nesse sentido, esse tipo de lesão causa disfunção também nos 
membros torácicos, que se manifestam como rigidez extensora. A postura 
exercida pelos pacientes nesse tipo de lesão é denominada Schiff-Sherrington. 
Aqui pode ocorrer um dos erros clínicos no momento da neurolocalização de 
mielopatias, sendo facilmente confundidas com lesões em segmento C1-C5. 
Importante lembrar que lesões toracolombares também podem comprometer 
o funcionamento vesical, nesses casos culminando em uma bexiga com sinais 
de NMS. 
Lembrete 3 
Schiff-Sherrington: lesão nos neurônios da borda, normalmente por 
traumas, atropelamentos, raramente ou nunca por discopatia, não havendo 
relação com prognóstico. 
Lembrete 4 
Diferencial básico de Schiff-Sherrington e lesão cervical alta: animais em 
Schiff-Sherrington executa manobra de carrinho de mão, enquanto animais 
com lesões cervicaisaltas não conseguem executar essa manobra 
 
18 
 
Medula lombossacra (L4-S3) 
 
 Lesões em nível de L4-S3, de forma geral, vão causar sinais de NMI 
exclusivamente nos membros pélvicos, não afetando de maneira alguma os 
membros torácicos. Em níveis mais caudais, como L7-S3, também há 
acometimento do nervo pudendo e pélvico, culminando em disfunção do 
esfíncter e tônus anal, e de uma bexiga com sinais de NMI. No próximo capítulo 
também veremos quais reflexos podem estar comprometidos nesse caso. 
 
Figura 5. Esquema da divisão segmentar da medula espinhal. Adaptado de Jaggy, 2011 
 
 
Para fixar, observe a imagem acima. Lembre-se que os segmentos que 
correspondem ao NMS são C1-C5 e T3-L3, já os que correspondem ao NMI são 
C6-T2 e L4-S3. Agora preste atenção em qual região há uma lesão e que tudo 
19 
 
que está caudal a ela pode ser comprometida. Relacione o que você aprendeu 
aqui com o que você aprenderá no próximo capítulo e tudo fará mais sentido. 
 
20 
 
 
21 
 
Cap. 3: O exame neurológico 
Antes de iniciar um exame neurológico, é muito importante realizar um 
bom exame físico geral para verificar as condições do animal em relação aos 
outros sistemas, principalmente o articular e o ortopédico. 
O exame neurológico vai confirmar a existência ou não de uma alteração 
neurológica, bem como identificar o local ou locais neuroanatômicos dessa 
lesão, a assimetria e a sua gravidade. 
Como veremos adiante, algumas partes do exame neurológico podem 
causar dor ou desconforto ao paciente, portanto, é orientado começar sempre 
por procedimentos não dolorosos e deixar estes para o final do exame. Iniciar 
por procedimentos dolorosos pode fazer com que o animal fique incomodado e 
não permita a realização do restante do exame ou mascare reações a estímulos. 
Também é importante conversar com o proprietário durante a realização do 
exame, explicando a finalidade de cada um, para que ele não se assuste com 
alguns procedimentos, como verificar a dor profunda do animal. 
 
Instrumentos 
 
Antes de entrarmos no exame neurológico em si, é importante iniciar 
comentando sobre os instrumentais necessários para realização de um bom 
exame. Dentre as ferramentas utilizadas pelo neurologista veterinário, 
podemos citar as seguintes: 
22 
 
 
 
Plexímetro: este é o famoso martelo de borracha, que pode ser de vários 
modelos (Taylor, Buck, Babinski). Sua finalidade é testar os reflexos miotáticos. 
Outros instrumentos improvisados podem não elucidar estímulos 
consistentes. 
 
Pinça hemostática: utilizada para verificar estímulos nociceptivos, como 
o de percepção de dor profunda e do reflexo panículo. 
 
Foco de luz: utilizado para elucidar os reflexos pupilares fotomotores. 
 
Tapete antiderrapante: utilizado para realização dos testes de reação 
postural, principalmente o de propriocepção consciente. 
 
REALIZANDO O EXAME NEUROLÓGICO 
 
Agora vamos entrar no exame neurológico propriamente dito. Aqui você 
deve associar tudo que aprendeu nos capítulos anteriores para realmente 
conseguir criar suas suspeitas clínicas diante de um paciente com alterações 
23 
 
neurológicas. Para ficar mais didático, vamos dividir o exame neurológico em 
duas partes: HAND OFF e HANDS ON. 
 
HANDS OFF 
 
 Hands off, como o nome deixa explícito, é a 
parte do exame neurológico onde o clínico não 
coloca a mão no seu paciente. Mas como assim não 
coloca a mão? Isso mesmo! Essa parte do exame é 
baseada unicamente em uma palavra: observação. 
Essa primeira parte requer um bom olhar clínico 
para notar até as alterações mais sutis, que nos 
primeiros atendimentos, podem passar 
despercebidas, mas que com o passar do tempo e com 
a observação de diversos pacientes, podem se tornar cada vez mais aparentes. 
 
1) Estado mental e comportamento 
 
Avaliar o estado mental e o comportamento, além de informações 
advindas de uma boa anamnese, pode ser feito quando o animal entra no 
consultório. É muito comum, principalmente cães de pequeno porte, ficarem 
sobre os braços do proprietário durante a consulta. Mas é muito importante 
que você o oriente a soltar o animal na sala para que você observe a capacidade 
deambulatória do animal e a percepção dele com o ambiente ao seu redor. 
 O estado mental deve ser avaliado e classificado de acordo com níveis de 
consciência, sendo eles: 
24 
 
 
a. Alerta. É aquele em que o animal responde e interage adequadamente com 
os estímulos ambientais. 
b. Depressão. É aquele em que o animal está sonolento, mas facilmente capaz 
de despertar com estímulos. Esses exigem desinteresse a estímulos 
externos e pouca atividade espontânea. 
c. Estupor. É aquele em que o animal está em estado de sono, mas pode ser 
despertado, porém com estímulos mais dolorosos. 
d. Coma. É aquele em que o animal está em estado inconsciente e não pode 
ser despertado nem com estímulos dolorosos. 
 
Como o estado mental é dependente do Sistema Ativador Reticular 
Ascendente (SARA), localizado no tronco encefálico até ativar o córtex cerebral, 
alterações em nível de tronco podem causar alterações de estado mental. 
O comportamento pode ser avaliado através da comparação com o 
comportamento para o animal em questão, levando em consideração suas 
características. Alterações de comportamento estão relacionadas com lesões 
em nível de prosencéfalo (telencéfalo e diencéfalo; talamocortical). As 
principais alterações de comportamento comumente observadas são andar 
compulsivo ou em círculos, se esconder, não obedecer a ordens que antes 
respondia e agressividade. Delírio e vocalização também podem estar 
presentes e relacionados principalmente com o conteúdo de consciência do 
animal. 
 
2) Postura 
 
25 
 
 Na postura, busca-se observar se há alterações em relação a cabeça, 
tronco e membros. Alterações posturais de cabeça podem incluir head tilt 
(inclinação de cabeça) e head turn (rotação de cabeça). É muito importante 
diferenciar as duas, pois head tilt indica principalmente lesão vestibular, 
enquanto head turn sugere lesão em nível de prosencéfalo. Na primeira, o 
animal tende a manter o pescoço em sua posição, mas a cabeça inclina, fazendo 
com que uma orelha se eleve em relação a outra. Seria como virar a cabeça para 
observar uma imagem que está inclinada em 180º. Na segunda, o animal tende 
a virar o pescoço e olhar para a região do tronco (olhar para a lesão como você 
pode ter ouvido falar). Andar em círculos também pode estar associado a head 
turn. 
 Alterações posturais em membros, como a postura palmígrada e 
plantígrada podem ser adotadas principalmente por animais com doenças 
neuromusculares, sendo mais observada em felinos com neuropatia por 
diabetes mellitus. Ventroflexão cervical é uma alteração que pode estar 
associada a doenças do disco intervertebral ou doenças inflamatórias do 
encéfalo que cursam com cervicalgia. Outra postura que já comentamos 
anteriormente, mas vale lembrar é a de Schiff-Sherrington, observada em lesão 
no segmento toracolombar. Cifose, lordose e escoliose também são alterações 
posturais da coluna vertebral. A cifose costuma ser observada em pacientes 
com dor em região toracolombar. A escoliose pode ser observada em pacientes 
com malformações congênitas da junção crânio cervical, como a síndrome de 
Chiari like tipo 1. Já a lordose, é resultado principalmente de fraqueza da 
musculatura epaxial. 
 Para finalizar, ainda há duas alterações posturais, denominadas rigidez 
de descerebração (descerebrada) e rigidez de descerebelação (descerebelada), 
atribuídas a lesão em tronco encefálico e cerebelo, respectivamente. 
 
26 
 
3) Locomoção 
 
Na avaliação da locomoção, o primeiro ponto a ser verificado é se o 
animal possui capacidade deambulatória, ou seja, se ele ainda tem a capacidade 
de se locomover preservada. Animais com comprometimento da locomoção 
podem se apresentar de diversasmaneiras e podemos classificar esse 
comprometimento como paresia (perda incompleta da função motora 
voluntária) ou plegia (perda completa da função motora). Desse modo, ainda 
pode-se classificar mais afundo em: 
 
a. paraparesia/paraplegia. Quando há comprometimento apenas dos 
membros pélvicos, muito comum em algumas afecções como síndrome 
da cauda equina, doença do disco intervertebral toracolombar ou 
lombossacra, mielopatias degenerativas e traumas. 
b. tetraparesia/tetraplegia. Quando há comprometimento dos membros 
pélvicos e torácicos, comum em traumas medulares, doença do disco 
intervertebral cervical ou cervicotorácica, neoplasias medulares, 
tromboembolismo fibrocartilaginoso ou subluxação atlantoaxial. 
c. hemiparesia/hemiplegia. Quando há acometimento dos membros de 
apenas um lado do corpo e é mais comum em hérnias de disco 
lateralizadas e neoplasias primárias ou secundárias. 
d. monoparesia/monoplegia. Quando há acometimento de apenas um 
membro, seja ele pélvico ou torácico, sendo mais comum em neoplasias 
de nervos periféricos ou tromboembolismo vascular. 
 
27 
 
Feito isso, você já pode começar a pensar nas alterações observadas e 
tentar compreender onde é a neurolocalização da lesão. Mas saiba que, afecções 
ortopédicas também podem cursar com claudicação ou perda da capacidade 
deambulatória, como ocorre em pacientes com doença grave da articulação 
coxofemoral, ruptura do ligamento cruzado ou luxação grave de patela. 
Afecções como essas podem provocar sinais que mimetizam muito bem 
alterações neurológicas, principalmente as medulares. Aqui necessário 
lembrar que doenças neuromusculares ou afecções que acometem 
exclusivamente o NMI também podem cursar com sinais semelhantes, 
principalmente uma marcha de passo curto com fraqueza nos membros 
acometidos. Embora não tenhamos abordado o Sistema Nervoso Periférico 
(SNP) no capítulo anterior, eventualmente poderemos comentá-lo aqui dentro 
do exame neurológico. 
Além da capacidade motora deambulatória, outra alteração que deve ser 
observada ainda nessa parte do exame neurológico, é a presença de ataxia. O 
que é ataxia? Você já deve ter ouvido falar, mas em termos práticos ataxia é a 
incapacidade de realizar uma atividade motora coordenada, ou simplesmente, 
a perda da coordenação motora. Antes de definir que o animal apresenta uma 
ataxia, é necessário ter certeza de que ele não apresenta alteração 
musculoesquelética, que pode induzir falsamente alterações. Há três tipos de 
ataxia, e sua presença pode ser definida basicamente através da observação. 
São elas: 
 
a. Ataxia proprioceptiva. Essa ataxia é decorrente da interrupção das vias 
proprioceptivas ascendentes, que resulta na incapacidade de identificar 
a posição dos membros e do corpo como um todo. É comum o animal 
apresentar base ampla de sustentação, arrastar os dígitos ou cruzar os 
membros no momento da marcha, onde é frequentemente associada a 
28 
 
paresia. A causa é decorrente de lesões que acometem a medula 
espinhal, principalmente a substância branca, onde estão localizados os 
tratos proprioceptivos. Mas as afecções encefálicas também podem 
interromper essa via, portanto, é crucial determinar o local lesionado. 
Entre algumas afecções, pode-se citar doença do disco intervertebral, 
neoplasia, doenças inflamatórias e síndrome da cauda equina. 
b. Ataxia vestibular. Essa ataxia é decorrente de lesões que acometem o 
sistema vestibulococlear. Se o acometimento for unilateral, o animal 
pode apresentar head tilt (inclinação de cabeça) para um dos lados, além 
disso, outros sinais como nistagmo, andar em círculos, queda e 
rolamento podem ser evidentes. Em acometimento bilateral, o animal 
tende a manter uma postura agachada e evita se movimentar, sem head 
tilt evidente, mas com movimentos oscilatórios de lateralização de 
cabeça. Estrabismo posicional e nistagmo também podem estar 
associados. Algumas afecções que cursam com ataxia vestibular, 
incluem infecção pelo vírus da cinomose canina, otite interna, acidente 
vascular encefálico e neoplasias primárias e secundárias em tronco 
encefálico, principalmente. 
c. Ataxia cerebelar. Essa ataxia é decorrente, principalmente, de afecções 
cerebelares. A alteração mais evidente é a incapacidade de refinar a 
amplitude e a velocidade de movimento dos membros, caracterizando o 
que pode ser denominado como dismetria, onde eventualmente reflete 
uma hipermetria, que são movimentos exagerados de flexão dos 
membros. Tremor intencional de cabeça também pode estar presente. 
Doenças que podem cursar com esse tipo de ataxia incluem infecção 
pelo vírus da cinomose canina, infartos isquêmicos e anomalias 
congênitas, como hidrocefalia. 
 
29 
 
4) Identificação de movimentos anormais 
 
Movimentos anormais são caracterizados por movimentos 
involuntários apresentados esporadicamente ou de forma contínua. Alguns 
dos principais observados na rotina clínica incluem: mioclonia, crise epiléptica 
e head bobbing. 
A mioclonia é a contração muscular de aspecto de choque, produzindo 
um movimento rítmico e contínuo de uma parte da musculatura. É muito 
comum, e já foi até denominada por alguns autores, como um sinal 
patognomônico para a infecção pelo vírus da cinomose canina. 
A crise epiléptica pode ser definida como um evento hiperssincrônico 
neuronal transitório que resulta em movimentos involuntários, que podem ser 
focais ou generalizados. Há diversas causas que levam um animal a ter um 
evento de crise epiléptica. Nesse livro não abordaremos a fundo sobre crises 
epilépticas e epilepsia. Mas saiba que é de extrema importância diferenciar a 
etiologia da crise para estabelecer o correto tratamento focado na causa 
primária. 
O head bobbing é um movimento involuntário e contínuo da cabeça, 
muito semelhante ao tremor de intenção provocado por ataxia cerebelar. 
Porém, nesse caso, essa alteração muitas vezes é idiopática sem cursar com 
nenhum comprometimento da saúde do animal, muito mais por ser um fator 
ligado ao gene ou raça do animal. Mas é necessário realmente ter esse 
diagnóstico para afirmar tal fato. 
 
 
 
30 
 
HANDS ON 
 
A partir de agora, você vai colocar as mãos no 
animal e realizar a segunda parte do exame 
neurológico. Assim como a primeira parte requer uma 
boa observação, essa requer técnica para realização 
dos testes. Alguns testes, como o de propriocepção 
podem nos enganar se não repetidos várias vezes, 
portanto, não canse de repetir até que realmente 
consiga afirmar que viu ou não uma alteração 
evidente. Às vezes um simples sinal pode entregar ou mascarar uma suspeita. 
Por isso é crucial repetir quantas vezes forem necessárias. 
 
1) Reações posturais 
 
Quando você avalia as reações posturais, você também está avaliando as 
vias relacionadas com a capacidade deambulatória. Na avaliação das reações 
posturais, quando bem feita, você pode detectar alterações que eventualmente 
não são observadas durante a marcha do animal. 
O principal teste empregado para avaliar a reação postural do animal é o 
teste de propriocepção. Esse teste é muito importante para detectar déficit 
proprioceptivo, mesmo que seja sútil. A propriocepção pode ser definida como 
a capacidade do animal em reconhecer a posição do corpo e dos membros. O 
teste consiste basicamente em manter o animal em estação, se necessário com 
sustentação do seu corpo em casos em que há paresia associada, e flexionar a 
pata do animal de forma que a superfície dorsal fique em contato com o chão. 
É importante que o chão ou a superfície onde o animal se encontra seja de 
31 
 
material antiderrapante, pois um chão ou superfície lisa pode mascarar 
facilmente o teste, induzindo uma falsa interpretação. Após flexionar a pata, é 
esperado que o animal imediatamente reconheça a posição e retorne-a para sua 
posição normal. Entretanto, caso isso não ocorra, pode-se determinar quehá 
uma interrupção da via proprioceptiva, ou seja, uma lesão em SNC, que pode 
ser tanto em nível medular, quanto no encéfalo. Mas então isso não isso me diz 
nada, não é? Basicamente pode confirmar sua suspeita neurológica, assim 
como excluir definitivamente a possibilidade de que a etiologia seja ortopédica. 
Já é um bom norte para o clínico. 
Uma dica é realizar repetidas vezes esse teste. Em alguns casos, o animal 
pode ter um déficit proprioceptivo e no seu primeiro teste responder 
normalmente. Mas como isso acontece? Então, você deve ter em mente que não 
é simplesmente flexionar a pata e esperar que ela não volte, com certeza em 
casos mais graves isso acontece. Mas em déficits sutis, onde o animal pode estar 
iniciando uma alteração de marcha, você deve realizar com técnica e repetir 
diversas vezes para realmente ter certeza se há ou não um déficit 
proprioceptivo. Acompanhando a rotina, já pude observar pacientes que ao 
primeiro teste não exibiram alteração alguma, mas, por meio de repetições, 
ficou claro que ele discretamente tinha essa alteração. E saiba, se isso passar 
despercebido, você pode bater muita cabeça pensando em outras 
possibilidades, gerando um desconforto para seu paciente, já que não tem 
diagnóstico e para o proprietário dele, já que terá que investir mais para chegar 
ao diagnóstico. Seja técnico e definitivamente, repita quantas vezes for 
necessário. 
O outro teste é o de saltitamento, utilizado principalmente em felinos, já 
que essa espécie é relutante a realização do teste anterior. O teste consiste em 
segurar o animal de modo que ele se sustente apenas em um membro, 
32 
 
avaliando-os separadamente. Desloque o animal para uma direção e ele deve 
saltitar com esse membro na direção do deslocamento suportando seu peso. 
 
2) Avaliação de nervos cranianos 
 
Os pares de nervos cranianos estão localizados no encéfalo, em sua 
maioria no tronco encefálico, portanto, essa parte do exame neurológico é 
muito importante para determinar afecções encefálicas. Vamos discutir 
separadamente as funções de cada par de nervo craniano e como realizar a sua 
avaliação. 
 
I. Nervo olfatório 
 
O par craniano I é o nervo responsável pelo olfato. Habitualmente não é 
avaliado durante o exame neurológico, mas caso deseje, você pode testá-lo 
cobrindo os olhos do animal e oferecendo alimento. Evite usar substâncias 
irritantes, pois além de gerar desconforto podem induzir falso resultado ao 
teste. 
 
II. Nervo óptico 
 
O par craniano II é responsável pela visão. Antes de testar esse par 
craniano é necessário observar a presença de qualquer alteração no diâmetro 
pupilar. O teste se inicia com a utilização do foco luminoso aplicado sobre cada 
olho. Nesse sentido, a pupila deve responder com miose a presença de luz, tanto 
33 
 
na avaliação direta, quanto na avaliação consensual, que é a avaliação da 
resposta na pupila quando aplicado luminosidade na pupila contralateral. 
Lembre-se que existe um quiasma óptico! 
Outro teste é o de reação ameaça, que consiste em levar a mão em direção 
aos olhos do animal, de modo que seja interpretado como uma ameaça a visão 
e induza o ato de piscar para se proteger. Antes de realizar esse teste é 
importante verificar se o animal tem a capacidade de piscar preservada, ou seja, 
integridade do par VII. Além disso, a idade do animal pode interferir na 
resposta desse teste. Isso pode ser explicado de forma totalmente evolutiva, ou 
seja, filhotes ainda não desenvolveram a capacidade de responder a ameaças, 
portanto, realizar o teste em animais com menos de 4 meses pode não refletir 
bons parâmetros. 
Assim como o teste de propriocepção, há técnica para realização do teste 
de resposta ameaça, não é simplesmente direcionar a mão em direção ao rosto 
do animal. O recomendo é manter uma distância variando de 15 a 30cm e com 
os dedos abertos, de modo que esse ato não crie uma corrente de ar em direção 
ao rosto do animal. Se isso acontecer, você ativará um ramo do par V e tendo 
uma falsa resposta. 
 
III. Nervo oculomotor 
 
Comumente você vai encontrar a descrição deste par craniano (III) 
juntamente com o par IV e VI. Isso acontece, pois, esses três pares estão 
intimamente relacionados em sua função, que é movimentar os olhos. 
Lembra a constrição pupilar avaliada no par II? O par III também está 
relacionado com essa constrição, pois ele constitui a inervação parassimpática 
das pupilas. 
34 
 
Para avaliação desses pares, você pode induzir o movimento de cabeça do 
animal para ambos os lados, assim como para cima e para baixo. Desse modo, 
você avaliará o reflexo oculocefálico. A principal alteração observada quando 
há disfunção desses pares é o estrabismo. Isso acontece pois ambos participam 
diretamente da inervação motora somática dos músculos oculares. É possível 
entender melhor a interação desses nervos na imagem a seguir. 
 
Figura 6. Esquema funcional dos nervos III, IV e VI em conjunto com suas respectivas 
disfunções. 
 
35 
 
Na imagem é possível observar quais pares estão envolvidos em cada 
musculatura responsável pela movimentação dos olhos. No sentido horário, da 
cor verde para azul estão: músculo oblíquo ventral, reto ventral, reto lateral, 
reto dorsal, oblíquo dorsal e reto medial. 
É importante considerar que o animal não tenha nenhum indício de 
lesão cervical antes de iniciar esse teste. Nesses casos pode-se movimentar o 
animal como um todo, caso seja possível, levando em consideração seu porte. 
 
IV. Nervo troclear 
 
Conferir o tópico anterior (III). 
 
V. Nervo trigêmeo 
 
O par V é um grande nervo motor e sensitivo. Sua porção motora é 
responsável por inervar os músculos envolvidos na mastigação, como 
temporal e masseter. A avaliação consiste em verificar alterações nesses 
grandes músculos, como assimetria ou atrofia bilateral. É comum que em 
pacientes com essas alterações, o proprietário também pode observar 
dificuldade em se alimentar. 
A porção sensitiva do nervo trigêmeo pode ser anatomicamente dividida 
em três ramos. São eles: ramo oftálmico, ramo maxilar e ramo mandibular. O 
ramo oftálmico, que já foi citado anteriormente durante a avaliação do par II, 
pode ser avaliado pelo toque no canto medial do olho durante o reflexo 
palpebral. A função do nervo trigêmeo é a sensibilidade desse canto e o ato de 
piscar dependente da integridade do nervo facial. O ramo maxilar é avaliado 
36 
 
pelo toque no canto lateral do olho durante o reflexo palpebral. O estímulo no 
lábio superior também pode ser empregado para avaliar a função sensitiva do 
nervo. Já o ramo mandibular pode ser avaliado por estímulo no lábio inferior. 
A avaliação da sensibilidade nasal é dependente da integridade do ramo 
maxilar e pode ser testada com um estímulo na parte externa da narina. Uma 
resposta positiva ao teste é observada pelo ato do animal em recuar a cabeça. É 
importante avaliar as duas narinas. 
 
VI. Nervo abducente 
 
Conferir o tópico III. 
 
VII. Nervo facial 
 
O par VII é responsável, principalmente, pela função normal das 
glândulas salivares e lacrimais, músculos palpebrais, músculos mastigatórios 
e da mímica facial e a capacidade gustativa nos 2/3 rostrais da língua. A função 
desse par craniano é avaliada pelo teste de reflexo palpebral, onde é possível 
induzir o ato de piscar do animal ao tocar o canto medial e lateral do olho. 
Lembrando que a sensibilidade dessas regiões é mediada pelo par V, como 
vimos anteriormente, mas a função motora como resposta ao toque vai ser 
mediada pelo nervo facial. 
A paralisia ou paresia facial, além de promover alterações no reflexo 
palpebral, também pode cursar com outras alterações na face do animal. Não é 
incomum, pacientes com alteração de par VII, exibirem assimetria da face, 
evidenciada principalmente com ptose palpebral, do lábiosuperior e auricular. 
37 
 
Além disso, alteração parassimpática como diminuição da produção de 
lágrima também pode estar associada. Sinais de olho seco, principalmente 
quando unilaterais, e teste de Schirmer positivo para diminuição da porção 
aquosa da lágrima, podem ser fortes indícios de lesão localizada em par VII. 
É necessário lembrar que os pares de nervos cranianos fazem parte do 
SNP e não do SNC. Sendo assim, afecções neuromusculares podem sim causar 
alteração em nervos cranianos. A infecção por Clostridium botulinum, por 
exemplo, pode cursar com alteração em nervo trigêmeo e nervo facial. 
 
VIII. Nervo vestibulococlear 
 
O par VIII está envolvido na função vestibular e auditiva. Os sinais 
relacionados com a audição ou com a porção coclear são facilmente percebidos 
pelos proprietários quando seus animais de estimação deixam de ouvi-los 
quando chamados. Essa é uma alteração que pode ser reconhecida no momento 
da anamnese, e se você leu o capítulo 1 já sabe que uma boa anamnese diz 
muito! 
A porção vestibular está relacionada com o equilíbrio do animal, 
portanto, uma alteração nessa porção do par VIII pode resultar em head tilt, 
alterações de postura e nistagmo. O head tilt pode ser observado diretamente 
ao avaliar o animal, e o nistagmo também. Mas para evidenciar a presença do 
nistagmo, pode-se movimentar a cabeça do animal suavemente em diversos 
sentidos. O nistagmo fisiológico consiste em uma fase rápida que vai em 
direção ao movimento da cabeça, mas se o nistagmo patológico for observado, 
ou seja, aquele que foi induzido por uma movimentação e permanece, seja no 
sentido vertical ou horizontal, você pode suspeitar de uma lesão vestibular. 
Você já viu anteriormente que realizar essa movimentação de cabeça também 
38 
 
pode elucidar o estrabismo, ou seja, alteração em par III, IV e VI. O nistagmo 
vertical é indicativo de que a lesão está localizada em SNC, já o nistagmo 
horizontal pode indicar tanto uma lesão em SNC quanto SNP. Aqui é 
importante associar outros testes para determinar melhor a neurolocalização 
da lesão, como o teste proprioceptivo. 
 
IX. Nervo glossofaríngeo 
 
O par IX é responsável pela movimentação da língua, bem como do 1/3 
caudal da capacidade gustativa, sensibilidade da faringe e reflexo do engasgo e 
deglutição. Também participa da inervação parassimpática das glândulas 
salivares. Na avaliação desse par é importante questionar o tutor sobre 
dificuldades de alimentação que o animal possa estar apresentando, como 
disfagia e regurgitação. 
 
X. Nervo vago 
 
O par X, muito conhecido, é o responsável pela inervação parassimpática 
das vísceras. Também atua no reflexo de engasgo e inervação da faringe. 
 
XI. Nervo acessório 
 
O par XI é responsável por inervar a musculatura trapézio cervical e sua 
disfunção pode ser observada pela atrofia dessa musculatura. 
 
39 
 
XII. Nervo hipoglosso 
 
O par XII também fornece inervação motora para a língua, portanto, 
alterações de atrofia, assimetria ou desvio de língua podem fornecer evidências 
de sua disfunção. Pode-se ainda pingar algo amargo na boca do animal para 
apreciar a movimentação da língua e a função sensitiva do nervo facial. 
 
3) Reflexos espinhais 
 
A avaliação dos reflexos espinhais serve para verificar se há integridade 
da porção sensitiva e motora que compõe o arco reflexo, bem como a influência 
de vias motoras do NMS. 
De forma geral, é indicado iniciar os testes por ordem de conforto, ou 
seja, sempre deixe por último os testes mais desconfortáveis ou que possam 
parecer dolorosos para o animal. Nesse momento, mais do que nunca, você 
precisa da cooperação do seu paciente, portanto, seja consciente e induza sua 
cooperação através da ordem de realização dos testes. Vamos discorrer entre os 
principais testes para avaliação dos reflexos espinhais na sua ordem indicada 
de realização. 
Antes de realizá-los também é importante que você saiba diferenciar a 
intensidade de apresentação dos reflexos. Isso significa saber distinguir um 
reflexo ausente, diminuído, normal ou aumentado. Entender isso te 
proporciona uma correta interpretação do resultado obtido. Aqui é importante 
também a repetição e a casuística, pois é um detalhe aprimorado a cada 
atendimento, onde você desenvolve cada vez mais um olhar clínico, sabendo 
diferenciar até os detalhes mais sutis. 
40 
 
 
a. Tônus extensor. O teste do reflexo extensor pode ser realizado com o 
animal em decúbito ou estação. Sua execução consiste na aplicação de 
uma força na face palmar ou plantar, no sentido que empurre o membro 
em direção ao tronco. Cães sem alterações podem ter seus membros 
facilmente flexionados. Já quando a aplicação dessa força resulta numa 
resposta aumentada do tônus extensor, impossibilitando de flexionar o 
membro, há fortes indícios de que há uma lesão em NMS. 
 
b. Reflexo patelar. O reflexo patelar é um dos mais fáceis e um dos mais 
executados entre os reflexos miotáticos, sendo um ótimo teste para 
neurolocalizar a lesão. Neste caso, é necessário manter o paciente em 
decúbito lateral e poiar a coxa do animal sobre sua mão, mantenho o 
membro suspenso e parcialmente flexionado. Com mão oposta, você 
utiliza o plexímetro para aplicar um golpe suave no ligamento patelar 
do animal. Dessa forma, uma resposta normal vai se apresentar como 
uma extensão rápida e isolada do joelho. Apresentação normal, assim 
como aumentada podem ser interpretadas como lesão de NMS quando 
há suspeita. Já em situações em que a resposta é ausente ou diminuída, 
pode-se associar com suspeita de lesão em NMI. É importante, sempre 
antes de iniciar o teste, certificar-se com o proprietário sobre histórico 
de alterações ortopédicas no animal, principalmente as relacionadas 
com a patela, a fim e de evitar falsas interpretações dos resultados. 
Outro detalhe importante, é lembrar que animais idosos, com mais de 
10 anos, podem ter comprometimento do reflexo patelar. Quando for 
realizar o teste em felinos ou cães de pequeno porte agitados, que 
impossibilitam colocar na posição de decúbito lateral, pode-se segurar 
os animais os apoiando sobre os braços, de modo que eles fiquem de 
41 
 
frente para o clínico. Esse teste vai avaliar principalmente a função do 
nervo femoral, bem como do segmento medular que emergem, nas 
radiografias temos lesões entre L3-L4. Existem outros reflexos 
miotáticos passíveis de serem avaliados, como o reflexo gastrocnêmico, 
reflexo tibial-cranial, reflexo tricipital e reflexo extensor radial do 
carpo, mas esses não são usualmente aplicados na rotina clínica como o 
reflexo patelar. 
 
c. Reflexo flexor. Esse teste também pode ser conhecido como reflexo de 
retirada. Sua função é avaliar a integridade dos segmentos medulares 
C6-T2 e L6-S2 para membros torácicos e pélvicos, respectivamente. É 
importante saber que neste momento, você avaliará, especificamente, a 
ação dos nervos eferentes, como musculocutâneo, axilar, mediano, 
ulnar e radial para membros torácicos e, nervo ciático para membros 
pélvicos. O teste consiste em aplicar uma força na membrana 
interdigital, de forma que o animal tenha como reação o reflexo de 
retirada do membro, flexionando em direção ao tronco. Além dessa 
resposta, alguns animais podem se mostrar incomodados e ter uma 
resposta comportamental associada. 
 
d. Reflexo perineal. O reflexo perineal é utilizado para avaliar a 
integridade do esfíncter anal, que é dependente da integridade dos 
segmentos medulares S1-S3, bem como do nervo pudendo, do qual 
emerge o nervo perineal e reto caudal. O teste consiste no toque no 
períneo com a utilização de um swab, verificando a sensibilidade de 
ambos os lados. Uma resposta normal vai consistir em contração 
imediata do esfíncter anal externo e flexão da cauda. Uma dica utilizada 
por alguns clínicos para facilitar a execuçãodesse teste é aferir a 
42 
 
temperatura do animal no momento da consulta, isso te fornece 
parâmetros sistêmicos e neurológicos do animal. As principais afecções 
que comprometem esse reflexo incluem trauma, síndrome da cauda 
equina, doença do disco intervertebral e discoespondilite. 
 
e. Reflexo cutâneo do tronco. Esse também pode ser conhecido como 
reflexo panículo. Esse reflexo é mediado pelo nervo torácico lateral, que 
se estende pela região toracolombar, mais precisamente entre T1 até L1-
L4 (pode variar entre literaturas) e avalia a integridade sensorial dos 
dermátomos. Você pode realizar o teste pinçando a região lateral a 
coluna vertebral, de modo que, em situações normais, o animal 
apresente uma contração do músculo cutâneo do tronco como resposta. 
O teste deve ser realizado em ambos os lados da coluna vertebral. Uma 
alternativa para causar menos desconforto ao animal é iniciar o 
pinçamento pela região mais caudal, em nível de L4, para que, se houver 
uma resposta presente, não necessite de mais pinçamentos em sentido 
cranial. Mas por quê? Se a resposta está presente na região mais caudal, 
pode ter certeza de que ela também estará presente na região cranial. 
Agora se o animal não apresentar resposta, procure pinçar até 
identificar a primeira região a apresentar resposta. A partir daí, 
geralmente se determina que a lesão está localizada em nível de duas 
vértebras craniais a região de reflexo. 
 
4) Palpação 
 
A palpação é necessária para identificar alterações morfológicas ou 
mesmo induzir estímulos dolorosos em algumas regiões. 
43 
 
Em região de cabeça, busque por meio da palpação, identificar a presença 
de massas ou defeitos ósseos. Defeitos palpáveis podem ser identificados em 
pacientes que apresentam possível histórico de trauma em crânio. Em 
neonatos e filhotes, a palpação pode revelar a presença de fontanela aberta, 
podendo ser um indicativo de anomalias quando os sinais clínicos são 
correspondentes. 
A palpação epaxial da coluna vertebral pode relevar luxação ou 
subluxação vertebral. Entretanto, o principal sinal buscado com esse teste é o 
de dor. Presença de dor quando aplicada uma força sobre a coluna vertebral 
pode ser um forte indicativo de lesão, quando são relacionadas com a suspeita 
clínica. Cães com mielopatia cervical tendem a apresentar uma contração da 
musculatura cervical quando essa região é palpada. Pacientes com doenças 
encefálicas que cursam com aumento de pressão intracraniana, como as 
meningoencefalopatias, também podem apresentar dor a palpação cervical. 
Uma dica é manter a mão sob o abdômen do animal ao palpar a região 
toracolombar, pois geralmente animais com dor nessa região exibem 
contração dos músculos abdominais como resposta. 
 
5) Percepção dolorosa 
 
O teste de percepção dolorosa tem por objetivo avaliar a integridade dos 
tratos nociceptivos. Existem dois tipos de sensibilidade dolorosa, a superficial 
e a profunda. A superficial é uma sensação de dor rápida que se origina pelo 
estímulo na pele. A profunda é uma sensação de dor mais lenta e contínua que 
se origina não só na pele, mas também em estruturas mais profundas. 
Inicialmente, deve-se comprimir os dígitos do animal sem a utilização de 
instrumentos, somente com seus dedos. Nesse sentido o animal sem qualquer 
44 
 
alteração tende a apresentar uma resposta comportamental de dor. Se não 
houver evidências da presença de dor superficial, você deve iniciar o teste de 
dor profunda, que consiste em causar o mesmo estímulo, porém, desta vez com 
a utilização de uma pinça hemostática, pinçando os dígitos mediais e laterais. 
A intensidade do estímulo aumenta até que o animal apresente uma resposta 
de dor, retirando o membro, rotacionando a cabeça e vocalizando. Retirar o 
membro indica apenas um arco reflexo. 
Como vimos anteriormente, no capítulo 2, a medula abriga tratos e 
fascículos. O trato espinotalâmico, responsável pela nocicepção, se encontra 
em uma região mais interna, portanto seu acometimento, em outras palavras, 
a ausência de dor profunda, indica uma lesão medular mais grave. Esse 
parâmetro vinha sendo usado como fator prognóstico para determinar as 
chances de um animal recuperar sua capacidade deambulatória. Eu respeito a 
literatura e até que se prove o contrário, ela é a lei. Mas jamais deixe de acreditar 
no seu paciente. Acompanhando consultas, já presenciei pacientes que tinham 
mínimas chances de voltar a andar, e acredite, foram suficientes para que eles 
voltassem, assim como já observei pacientes com bons prognósticos que 
mesmo com sessões intensas de fisioterapia, não recuperaram essa função. 
Seja integro com proprietário do animal e apresente o que a literatura nos 
oferece, mas jamais deixe de acreditar no seu paciente. 
 
 
 
45 
 
Cap. 5: Aplicando o DINAMITV 
Desde que comecei a acompanhar as consultas de rotina na neurologia, 
eu sempre observei que meu mentor, ao final de cada consulta, colocava uma 
coluna de letras e começava a explicar para o proprietário as possíveis afecções 
que seu animal poderia estar apresentando e os exames que ele iria solicitar 
para possivelmente chegar ao diagnostico. 
Essa coluna de letras nada mais era que o DINAMITIV. Esse acrônimo é 
amplamente utilizado para criar as principais suspeitas neurológicas para o 
caso. Consiste basicamente em criar uma lista de afecções e as ir eliminando de 
acordo com as alterações observadas durante a anamnese e na execução do 
exame neurológico. 
Esse ato de colocar todas as cartas na mesa ao final da consulta sempre 
passou uma boa credibilidade ao meu mentor, além de definitivamente 
esclarecer a situação para o proprietário. Por mais leigo que ele fosse, com 
certeza sairia da consulta sabendo exatamente as possíveis causas do 
problema. 
Estou discutindo sobre isso, pois espero que você realmente use. Pode ter 
certeza de que vai te ajudar, principalmente nas primeiras consultas, pois evita 
que alguma afecção passe despercebida e se torna um jeito atrativo de explicar 
ao proprietário a situação em questão. 
Bom, mas o que significa o DINAMITV? Como eu falei anteriormente, é 
um acrônimo para diversas etiologias de afecções neurológicas comumente 
encontradas na rotina de neurologia clínica. A seguir você pode entender o que 
significa cada letra. A partir daí, você deve pensar em afecções que se 
encontram dentro de cada etiologia apresentada. Criar uma lista de afecções 
pode ser uma tarefa mais complexa, mas aconselho que você conheça as 
46 
 
principais afecções neurológicas de rotina. Na lista do capítulo 1 tem uma 
quantidade considerável de afecções que você deve conhecer. 
 
 
 
Use esse acrônimo a seu favor para melhorar sua lista de suspeitas. 
Certamente ele te fará eliminar aquelas que não são compatíveis com os 
achados do exame neurológico. Desse modo você ficará com as mais 
compatíveis e te fornecerão clareza sobre quais exames complementares 
devem ser solicitados para chegar ao possível diagnóstico. Como já mencionei, 
47 
 
é necessário você ter uma boa gama de afecções em mente antes mesmo de 
colocar em prática a execução do exame neurológico. Mas ainda assim, você já 
é capaz de neurolocalizar uma lesão, agora basta saber determinar que afecções 
causam aquele tipo de lesão. Você consegue! 
48 
 
Cap. 4: Neurodiagnóstico 
Neurodiagnóstico nada mais é que chegar ao diagnóstico de 
determinada afecção neurológica. Isso muitas vezes requer, além de todo 
conhecimento que você somou até aqui com a leitura dos capítulos anteriores, 
a necessidade de exames complementares para confirmar sua suspeita 
diagnóstica ou até mesmo descartá-la. 
Habitualmente, na rotina da neurologia clínica você vai perceber que 
alguns exames complementares são disparadamente considerados em 
situações em que há grande suspeita de afecção encefálica ou medular. Os 
exames de imagem estão entreeles. 
Este capítulo tem o propósito de discorrer sobre os principais exames 
complementares que são aliados do médico veterinário que atua na neurologia 
clínica e como eles podem contribuir nas respectivas situações em que são 
solicitados. 
 
Coleta e análise de líquido cefalorradiano (LCR) 
 
O LCR possui diversos sinônimos, entre eles líquido ou fluído 
cerebroespinhal ou simplesmente líquor. Esse líquido é produzido no encéfalo, 
em maior parte no plexo coróide dos ventrículos cerebrais e está em constante 
processos de produção e drenagem. Fica localizado no espaço subaracnóideo, 
entre as meninges aracnóide e pia mater, fornecendo proteção mecânica e 
imunológica ao tecido nervoso. Desse modo, afecções que acometem esses 
tecidos podem refletir alterações de cor ou conteúdo deste líquido, podendo 
contribuir para um diagnóstico. Esse exame não é capaz de definir um 
49 
 
diagnóstico, mas quando resultados esperados são compatíveis com suas 
suspeitas, há grandes chances de que você esteja no caminho certo. 
Mas e se os resultados forem totalmente divergentes dos esperados para 
minha suspeita? Continue com a sua suspeita e investigue. Como foi falado, 
esse exame não é capaz de definir um diagnóstico. Eu mesmo já presenciei 
diversos pacientes avaliados pelo meu mentor em que a clínica apontava 
fortemente para encefalopatias inflamatórias (afecções que comumente 
cursam com alteração na composição celular do LCR) e o LCR não apresentou 
alteração alguma. Lembre-se, a clínica é soberana. Continue a investigação. 
Nesses casos, muitas vezes o diagnóstico terapêutico foi um grande aliado. Mas 
não esqueça que o tratamento imunossupressor também pode mascarar as 
alterações presentes no LCR, portanto, saiba o momento certo para coletar, que 
provavelmente será antes de iniciar a terapia ou após um período de suspensão 
da droga. 
Alguns profissionais fazem uma analogia de que: a análise de LCR 
equivale para o SNC como um hemograma equivale para avaliação das 
condições gerais. Em outras palavras, o LCR pode ser o hemograma do SNC. 
Essa afirmação pode sim ser interpretada com sentido, já que muitas vezes um 
hemograma não fornece muitos dados relevantes para corroborar com 
encefalopatias. Nesse contexto, o LCR pode te fornecer dados muito mais 
fidedignos, mas jamais descarte a realização de exames básicos e considerados 
de triagem para qualquer paciente enfermo. 
As doenças inflamatórias, sejam elas infecciosas ou não infecciosas, 
constituem as principais afecções com indicação de coleta de LCR, pois essas 
são capazes de alterar o conteúdo de proteínas presente no LCR, bem como os 
tipos e concentrações celulares. Além dessas, afecções de etiologia 
degenerativa, traumática, metabólica e neoplásica também podem cursar com 
alteração do LCR. De forma resumida, quando o paciente apresentar sinais 
50 
 
sugestivos de lesão encefálica, considere a realização do exame. Mas e doenças 
da medula espinhal (mielopatias)? Sim, essas também podem alterar o LCR, 
pois esse líquido também as circunda. 
Vai haver casos em que pode ser estabelecida uma contra indicação da 
coleta de LCR. Esses casos incluem principalmente situações em que há 
suspeita de aumento da PIC. Pacientes que apresentam PIC elevada são 
predispostos ao evento de herniação cerebelar no momento da coleta. 
Portanto, avalie a necessidade e indicação do caso antes de solicitar um exame 
como esse. 
Esse livro não tem o propósito de ensinar a técnica de coleta do LCR, pois 
talvez me falte renome necessário para isso. Mas saiba que há dois pontos de 
punção, na cisterna magna e na região lombar. Comumente, na rotina que tive 
a oportunidade de acompanhar, as coletas eram que quase em sua totalidade, 
realizada na região da cisterna magna. Isso pois a coleta nessa região poderia 
fornecer dados mais relevantes que os obtidos na região lombar. Alguns livros 
ou cursos podem te capacitar para realização de tal técnica. Um bom meio para 
treinamento é com a utilização de cadáveres para fins educacionais. 
Em termos de análise, os principais parâmetros avaliados são a 
coloração, a celularidade total, a contagem diferencial dessas células e a 
concentração de proteínas. O LCR também pode ser submetido para análises 
sorológicas e moleculares na busca por doenças infecciosas em cães e gatos. 
 
Exame radiográfico 
 
A radiografia, por mais simples que possa parecer, é um excelente exame 
de triagem, principalmente por ser rápido e acessível. É indicada 
51 
 
principalmente quando há suspeita de alterações ósseas, como busca por 
fraturas ou defeitos ósseos. 
A radiografia da coluna vertebral pode fornecer alguns achados 
sugestivos de doenças do disco intervertebral, luxações, subluxações, fraturas, 
anomalias ósseas ou até mesmo neoplasias. Os achados podem ser mais 
fidedignos quando o exame é realizado com animal sob anestesia, pois isso 
diminui a tensão dos músculos que envolvem a coluna vertebral. Obviamente 
é um exame simples, em que não se pode exigir grandes achados 
confirmatórios. Para tal, veremos adiante que exames de imagens mais 
avançados são capazes de fornecer melhores respostas. Uma variante da 
radiografia, que pode sim ajudar no diagnóstico de lesões medulares, é o exame 
de mielografia, que veremos a seguir. 
 
Mielografia 
 
A mielografia já foi mais utilizada quando o acesso a outras técnicas mais 
avançadas de imagens eram mais restritas a grandes centros, entretanto 
devido a sua grande utilidade clínica, baixo custo e excelente informação 
sobreneurolocalização, principalmente em doença do disco intervertebral, 
ainda é um exame executado. Esse exame consiste em obter imagens 
radiográficas da coluna vertebral do paciente após administração de contraste 
no espaço subaracnóideo. Isso, exatamente no mesmo local onde é encontrado 
o LCR. Essa técnica consegue fornecer uma imagem radiográfica de melhor 
qualidade que a anterior, fornecendo mais informações sobre as condições do 
canal medular, ou seja, do espaço que abriga a medula espinhal. Pode ser útil 
para identificar locais que impossibilitam a passagem da substância 
contrastante. 
52 
 
Este procedimento apresenta vantagens e desvantagens. É 
relativamente rápido e fácil de ser executado, mas ainda assim, é um 
procedimento invasivo que tem como reação adversa mais frequente, a 
ocorrência de crises epilépticas, principalmente quando a administração do 
contraste é realizada pela cisterna magna com volume acima do adequado e ou 
por idiossincrasia do paciente. 
De forma geral, você precisa conhecer essa técnica, pois muitas vezes não 
terá acesso a exames mais avançados de imagem. Porém, é crucial entender 
como ela funciona e a quais riscos o paciente será submetido. Sempre que 
possível, o substitua por exames de imagem, como tomografia 
computadorizada e ressonância magnética. É claro que você sempre deve levar 
em consideração as condições financeiras do proprietário. Não esqueça que 
além de lidar com um paciente, você também precisa entender que muitas 
vezes os proprietários desses animais não estão preparados para gastos mais 
consideráveis, portanto, seja porta voz do conhecimento e os instrua para 
tomarem as melhores decisões referente a saúde dos seus respectivos pets. 
 
Tomografia computadorizada 
 
A tomografia computadorizada é um exame fantástico, eu admito que 
sou fã e já vou lhe contar o porquê. Esse exame é capaz de obter imagens do 
crânio e da coluna em diversos cortes, que também podem ser interpretados 
como fatias do paciente, permitindo uma avaliação de diversos pontos. Outra 
característica é que ela também pode ser associada ao contraste, sendo 
chamada de mielotomografia. Não confunda com tomografia contrastada, 
pois essa pode ser feita com uso de contraste endovenoso, comumente 
realizada em exames de tomografia. Esses achados são quase que essenciais 
53 
 
para um paciente