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Urologi�: Hiperplasi� Pr�tátic� Benign� - A HPB é considerada uma resposta inerente ao envelhecimento masculino e, dessa maneira, a sua presença não é indicativo de doença. - A HPB resulta de um aumento da massa celular prostática, que é determinada pelo estímulo hormonal, principalmente de andrógenos. - Clinicamente, pode ser confundida com várias outras patologias que cursam com obstrução da via de saída da bexiga, tal como estenose de uretra e cálculo impactado uretral, apresentando jato fraco, intermitência, sensação de esvaziamento vesical incompleto, nictúria, polaciúria, urgência miccional e incontinência. - Pode ser notado ao exame físico através do toque retal, como uma massa prostática aumentada, porém com uma consistência adenomatosa ou fibroelástica. - A terapêutica para HPB não é uma indicação absoluta, somente deve ser feita quando os sinais e sintomas afetam diretamente a qualidade de vida do indivíduo. - Em 8% dos casos, a hiperplasia nodular ocorre na 4ª década de vida. - A maioria dos casos, em média 90%, têm maior incidência em indivíduos a partir dos 80 anos de idade. - O crescimento da próstata é de 0,6g/ano. Como a forma prostática é elíptica, então 1g corresponde a 1cm³. Anatomia: - A próstata é dividida em 3 lobos: lateral direito, lateral esquerdo e um lobo mediano (que cresce em direção à bexiga e exerce uma função semelhante à de uma válvula). - A próstata hiperplasiada apresenta uma obstrução da via uretral de “saída” da bexiga, promovendo uma síndrome de obstrução infravesical. - A USG demonstra uma área hiperecogênica se expandindo em direção ao interior da bexiga. - O paciente com hiperplasia de lobo mediano possui uma próstata pouco aumentada ao toque retal, mas com uma clínica de síndrome obstrutiva vesical exuberante. - A zona periférica é a mais acometida pelo adenocarcinoma de próstata e, de acordo com sua topografia, podemos perceber que se localiza distante da uretra e perceptível ao toque retal. - Por essa razão, os pacientes com neoplasia prostática não apresentam, na maioria das vezes, queixas miccionais, por conta da localização do tumor. - A zona periuretral ou de transição é a que é afetada pelo aumento celular prostático benigno e, portanto, por envolver a uretra, os sinais e sintomas serão relacionados a uma síndrome obstrutiva infravesical. - A HPB acontece tanto em nível de estroma como nos ácinos. Etiologia: - Uma das teorias mais debatidas, que apresenta um melhor entendimento e de maior sustentação sobre HPB, é a teoria do bloqueio apoptótico glandular. - Nela, a apoptose seria inibida por algum fator molecular e, portanto, haveria um aumento da vida útil das células envolvidas. - As principais teorias são: Teoria da conversão de testosterona em diidrotestosterona; Desequilíbrio estrogênio/testosterona; Interação estroma/epitélio com bloqueio apoptótico glandular; Teoria embrionária. Teoria da conversão da testosterona em diidrotestosterona: - A célula prostática possui uma estimulação hormonal pela testosterona, sendo essa, portanto, considerada um fator mitógeno prostático. - A testosterona, em nível tecidual, é convertida em diidrotestosterona pela enzima 5-alfa-redutase. - A diidrotestosterona estimula muito mais a mitose prostática (aumento da massa celular) do que a testosterona. - Alguns autores descrevem que a HPB está ligada diretamente à ação da enzima conversora e, portanto, determinados indivíduos, por possuírem maior ação enzimática, evoluem com os sintomas clássicos da HPB. - Portanto, a terapia busca bloquear a conversão promovida pela 5-alfa-redutase, com a diminuição da liberação de diidrotestosterona, também diminuindo o tamanho da próstata. Cápsula Prostática: - Comparando a próstata a uma laranja, poderíamos dizer que a casca seria a cápsula prostática e o gomo seria a glândula propriamente dita. - Sob o estímulo androgênico, a próstata passa a sofrer mitoses e, na vigência do crescimento lateral, a cápsula prostática possui a capacidade de limitar a extensão lateral dessa glândula. - Na etapa em que a cápsula limita o crescimento lateral da próstata, o crescimento passa a ser intra-uretral. - A partir daí, ocorre aumento da pressão intra-uretral, com consequente obstrução do fluxo urinário. Disfunção vesical secundária à obstrução: - Quando a bexiga está obstruída pela próstata, a resposta inicial é a hipertrofia do músculo detrusor para conferir contrações de ampla amplitude com o intuito de vencer a resistência uretral fixa. Clinicamente, o paciente apresenta urgência miccional. - Caso não tratado, ocorre o desacoplamento das pontes de actina e miosina e, em seguida, a substituição do tecido muscular do detrusor por fibras colágenas tipo 3 (trabeculação), com falência da musculatura detrusora. - Nessa etapa, o tratamento passa a ser cateterismo intermitente, a cada 4 a 6 horas, com o intuito de esvaziar a bexiga, semelhante ao paciente com bexiga neurogênica atônica. - A cirurgia somente é feita no sentido de impedir a evolução de uma insuficiência renal crônica. - Outra adaptação da bexiga é a formação de divertículos para equalizar a pressão. Manifestações Clínicas: - O International Prostate Symptom Score (IPSS) é uma escala que apresenta 7 variáveis com a finalidade de graduar os sintomas do trato urinário baixo, tais como: jato fraco, intermitência, nictúria, sensação de esvaziamento vesical incompleto, polaciúria. - Cada ítem pode alcançar uma pontuação de 0 a 5 pontos. - No final, diante da soma de cada um dos ítens, interpretamos da seguinte forma: - 0 a 7: Sintomas leves; - 8 a 19: Sintomas moderados; - 20 a 35: Sintomas graves. - Sua importância é avaliar, inicialmente, em um paciente sem tratamento, qual o grau de influência da HPB sobre sua qualidade de vida. Daí é possível prever uma provável terapia para o paciente. Quadro Clínico da HPB: - O indivíduo possui sinais e sintomas de obstrução do trato urinário baixo. - Jato urinário fraco; - Intermitência; - Nictúria; - Sensação de esvaziamento vesical incompleto; - Polaciúria; - Urgência miccional. Complicações da HPB: - Retenção urinária aguda; - Litíase urinária; - Uropatia obstrutiva; - Insuficiência renal crônica. Retenção Urinária Aguda: - Ocorre quando o indivíduo apresenta uma tempo de ausência da micção (em torno de 16-18h), em associação à dor intensa na região do hipogástrio. - Além da sintomatologia urinária, é importante lembrar que a manifestação vagal pode ser suscitada por conta da dor (causando bradicardia e hipotensão arterial). - No exame físico, podemos notar um globo vesical palpável, que é a bexiga repleta de urina. - A conduta nessa ocasião é cateterizar a uretra com uma sonda vesical de demora e, prontamente, já marcar a cirurgia em um segundo momento. - Atualmente, a retenção urinária aguda secundária à HPB é critério absoluto de cirurgia. OBS: Determinados pacientes, além da retenção urinária aguda, já apresentam uretero-hidronefrose bilateral, com aumento dos níveis séricos de uréia e creatinina. Nesta ocasião, o atendimento inicial deverá proceder a sondagem vesical de demora e, aguardar a normalização da uréia e da creatinina, ou atingir o seu valor mínimo de normalidade para então programar a cirurgia. Litíase Urinária: - A obstrução infravesical leva ao represamento de urina dentro da bexiga, com aumento do volume residual de urina. - A estase urinária propicia uma precipitação dos cristais na urina, formando os cálculos vesicais (de bexiga). - São, no geral, cálculos de tamanho superior a 2cm, por conta do espaço intravesical, e seria muito improvável sua eliminação através da uretra, ou seja, apresenta indicação cirúrgica. Uropatia Obstrutiva: - A HPB avançada leva a uretero-hidronefrose bilateral, dilatando ambos os rins. - A gravidade da obstrução do pertuito urinário infravesical é maior quando comparado ao compartimento supravesical, pois os dois rins são afetados. Morte: - Ocorre, basicamente, em duas ocasiões: 1) infecção ascendente de bactérias do trato urináriobaixo, com sepse ou 2) perfuração da mucosa vesical ou da uretra durante a passagem do cateter vesical. - A principal causa de óbito é o choque hipovolêmico, devendo-se analisar a cultura intraperitoneal da bexiga. Tratamento Medicamentoso: 1) Alfa-bloqueadores: - A próstata possui receptores alfa e beta adrenérgicos que se dispõem, anatomicamente, em diferentes regiões da glândula. - O tônus adrenérgico, que é propiciado pelo SNA simpático através da adrenalina, garante uma contração do colo vesical, obliterando-o e, concomitantemente, propicia uma contração da cápsula prostática. - Portanto, pacientes com HPB devem receber drogas que inibam o tônus adrenérgico (alfa-bloqueadores), no sentido de diminuir a tensão do colo vesical e, ao mesmo tempo, relaxar a contração da cápsula, diminuindo a resistência uretral. - Transulosina: 0,4mg 1x/dia. Possui seletividade para o receptor alfa-1a, que propicia uma ausência de efeitos colaterais. - Doxazosina: 2 a 4mg, devendo-se iniciar em dosagem baixa. Possível hipotensão ortostática. Indica-se tomar à noite (queixa de nictúria do paciente). - Efeitos colaterais: 1) vasodilatação arterial, podendo propiciar hipotensão ortostática e 2) ejaculação retrógrada (o líquido seminal é encaminhado para dentro da bexiga). - Conclui-se que essas drogas não afetam o crescimento da próstata, somente diminuem os sintomas da obstrução. 2) Inibidores da 5-alfa-redutase: - A enzima 5-alfa-redutase, responsável por converter testosterona em diidrotestosterona, apresenta-se sob a forma de duas isoenzimas: tipo 1 e tipo 2. - A isoenzima que predomina na próstata é a do tipo 2, enquanto que a do tipo 1 predomina na pele e no fígado. - Duas classes farmacológicas foram desenvolvidas para impedir a ação de conversão da enzima: Finasterida e Dutasterida. - São fármacos que atuam na inibição do crescimento da massa celular prostática, influenciando, de maneira direta, no volume prostático. - A finasterida tem a função de bloquear, de maneira competitiva, a ação da isoenzima tipo 2. - A dosagem mais eficiente da finasterida é de 5mg/dia, com a finalidade de reduzir o volume da próstata. - A sua indicação leva em conta o tamanho da próstata, dessa maneira, somente é indicada para pacientes com próstata acima de 40g. - O tratamento de calvície, feito por muitos dermatologistas, também pode ser proporcionado pelo uso da finasterida, sendo em uma dosagem relativamente baixa, cerca de 0,1mg, o que não determina perda da libido. - A velocidade de produção do antígeno prostático específico (PSA) também apresentará uma diminuição com a vigência da utilização dos bloqueadores enzimáticos. - Um dos efeitos adversos da finasterida é a redução da libido, por conta da diminuição da ação da testosterona. - A dutasterida, por sua vez, realiza bloqueio enzimático das duas isoenzimas, reduzindo a concentração plasmática de diidrotestosterona em níveis de castração química. OBS: Caso o IPSS seja de sintomas leves, a melhor opção terapêutica seria a observação, uma vez que os sintomas ainda não estariam afetando sua qualidade de vida. O retorno desses pacientes deve ser marcado para 6 meses após a consulta inicial. Quando o IPSS mostra um escore elevado, pensa-se que os sinais e sintomas de obstrução infra-vesical estão afetando a qualidade de vida do paciente. Para esses, a primeira medicação a ser instituída é um alfa-bloqueador (doxazosina: inicialmente na dosagem de 2mg, reavaliação em 60 dias e avaliar se mantém a dosagem ou se dobra). Caso o alfa-bloqueador tenha sido ineficiente, persistindo os sintomas, o próximo passo é avaliar o tamanho da próstata(toque retal ou USG abdominal). Caso ela seja maior que 40g, indica-se a utilização de finasterida em tratamento combinado com o alfa-bloqueador. Caso o tratamento seja ineficaz, o paciente deve ser submetido ao tratamento cirúrgico. OBS: A USG transretal se restringe para a biópsia guiada, não devendo ser utilizada para avaliar o tamanho da próstata. Fitoterapia (serenoa repens): Não se tem, na literatura, nenhum estudo clínico comparativo que demonstre seus efeitos benéficos, sendo difícil justificar a sua utilização. Tratamento Cirúrgico: - Retenção urinária aguda; - Infecções urinárias de repetição (cistites); - Hematúria (a hematúria secundária à HPB é diagnóstico de exclusão, devendo-se avaliar câncer de bexiga e do trato urinário superior); - Sintomas refratários ao tratamento medicamentoso; - Litíase vesical (prostatectomia transvesical); - Aumento do lobo mediano (protrusão superior a 1,5cm para o interior da bexiga). Ressecção transuretral assistida por endoscopia: - Próstata com até 60g (pode ser vista pela USG ou toque retal) deve ser submetida cirurgicamente à ressecção transuretral (RTU) assistida por endoscopia. - O cirurgião adentra através da uretra com um endoscópio e, na ponta deste artifício cirúrgico, existe um eletrocautério que é responsável por promover a raspagem interna da próstata. - O líquido de irrigação utilizado durante o procedimento deve ser a água destilada. - A utilização de soro fisiológico para a irrigação durante o processo poderia causar uma explosão intravesical, por conta da presença de eletrólitos condutores de carga elétrica em sua composição. - O líquido de irrigação também é absorvido pela mucosa da bexiga, caracterizando uma hipervolemia temporária. - A próstata somente pode apresentar um tamanho de até 60g, pois o tempo de ressecção é de, no máximo, 50 minutos. - A ressecção de próstata acima de 60g poderia aumentar o tempo de ressecção, com uma maior quantidade de líquido de irrigação, podendo gerar instabilidade circulatória. - Além das características hemodinâmicas, a síndrome da intoxicação hídrica também é um evento que pode ocorrer pela absorção transmucosa do líquido de irrigação. Cirurgia Aberta: - É indicada para próstatas maiores que 80g ou menor que satisfaz algum critério. - Além do tamanho, outras situações são consideradas como indicações de cirurgia aberta, como: - Litíase vesical > 1cm; - Divertículo vesical > 7cm; - Anquilose de quadril, pois a RTU requer que o paciente seja colocado na posição de litotomia. - Necessidade de retirada de endoprótese. - A prostatectomia transvesical é a retirada da próstata através da bexiga. Avaliação Clínica de HPB: - Os seguintes dados devem sempre ser investigados para avaliar a HPB: - Avaliação clínica para determinar o padrão miccional; - PSA; - Toque retal; - Sumário de urina para avaliar eventual hematúria.