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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 APG 8 – Sem flato 1) CONHECER A ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA OBSTRUÇÃO INTESTINAL Obstrução intestinal é uma das causas mais frequentes de emergência. Aproximadamente 20% das internações por doença abdominal aguda ocorrem por obstrução intestinal, sendo o 2º abdome agudo mais frequente. Obstrução intestinal é uma condição em que há falha na progressão normal do conteúdo intestinal (trajeto boca-> ânus). = ausência de trânsito gastrointestinal! É uma doença mais frequente em adultos, principalmente idosos. FISIOPATOLOGIA A obstrução intestinal (OI), então, está presente a partir do momento em que qualquer obstáculo impeça esta progressão direção cefalocaudal, seja por uma barreira física ou por distúrbio funcional da força propulsora da musculatura intestinal. É dividida em dois grandes grupos: OBSTRUÇÃO MECÂNICA: há uma barreira física com manutenção da força propulsora da musculatura intestinal, ou seja, o peristaltismo estará presente e na ausculta será possível ouvir os ruídos peristálticos e os detalhes dos sons que poderão ser fortes, exacerbados e com timbre metálico. = haverá uma obstrução do lúmen intestinal. Pode ser causada por alguns distúrbios intrínsecos (algo do intestino) e extrínsecos (algo externo acometeu o intestino). As causas pré-operatórias, como hérnias externas e aderências pós-operatórias, são responsáveis por 75% dos casos de obstrução intestinal. Outras etiologias: estenoses (tuberculose intestinal e doença de Crohn), tumores, corpos estranhos, intussuscepção (telescopagem do intestino dentro de um segmento adjacente, e é a causa mais comum de OI em crianças <2 anos) e vólvulo (torção completa do intestino sobre um eixo formado por seu mesentério). OBSTRUÇÃO REFLEXA OU ÍLEO PARALÍTICO: não há barreira física, mas sim um distúrbio da força propulsora da musculatura intestinal, ou seja, na ausculta haverá silêncio abdominal já que o peristaltismo estará ausente ou é ineficiente. ÍLEO ADINÂMICO: a ineficiência é resultante do relaxamento da musculatura; ÍLEO DINÂMICO: a ineficiência é resultante de espasmo da musculatura. É mais raro. O íleo paralítico é observado mais comumente depois de procedimentos cirúrgicos do abdômen, mas também ocorre com doenças inflamatórias do abdômen, isquemia intestinal, fraturas da pelve e lesões da coluna lombar. Pode ainda classificar a obstrução intestinal quanto ao comprometimento da irrigação sanguínea do segmento intestinal comprometido: SIMPLES: não apresenta risco à vitalidade da alça envolvida porque não há restrição do fluxo sanguíneo. COM ESTRANGULAMENTO: apresenta maior risco para a vitalidade da alça porque há restrição do fluxo sanguíneo. Há ainda um tipo especial de obstrução que é a OBSTRUÇÃO EM ALÇA FECHADA, quando o mesmo segmento intestinal está obstruído em dois pontos. O tumor obstrutivo da sigmoide com válvula ileocecal competente, a torção do delgado e a torção de alça aferente em um paciente gastrectomizado com anastomose, são exemplos clássicos. Haverá grande proliferação bacteriana e aumento da virulência, grande produção de toxinas e comprometimento da irrigação sanguínea, tornando uma obstrução grave, já que causará necrose, esfacelamento, rotura e peritonite. Por fim, pode-se ainda classificar a obstrução de acordo com o ponto em que se estabeleceu a barreira física: OBSTRUÇÃO ALTA: quando ocorre próximo ao ângulo de Treitz (ângulo formado ao nível da junção duodenojejunal) intestino delgado; OBSTRUÇÃO BAIXA: quando ocorre no cólon. Os efeitos principais dos dois tipos de obstrução intestinal são distensão abdominal e perdas de líquidos e eletrólitos. Intussuscepção Vólvulo Hérnia inguinal APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 Gases e líquidos acumulam-se no segmento afetado e, se o não sanar o problema, a distensão causada pela obstrução intestinal tende a perfurar e causar atonia intestinal (falta do tônus muscular normal do cólon) com distensão adicional. A distensão é agravada ainda mais pelo acúmulo de gases e a à medida que o processo avança, a distensão estende-se aos segmentos mais proximais (direção da boca) e envolve outros segmentos intestinais. Dessa forma, as duas formas de obstrução podem causar estrangulamento, gangrena e perfuração intestinal. A pressão alta dentro do intestino reduz o fluxo sanguíneo da mucosa, resultando em necrose e passagem de sangue para os líquidos luminais, favorecendo a proliferação rápida das bactérias no intestino obstruído, atingindo o sistema linfático e outros órgãos, o que agrava a inflamação e pode acentuar a isquemia e causar falência dos órgãos. RESUMINDO: Obstruindo o lúmen intestinal, terá uma estagnação do bolo fecal, em que o acúmulo causa uma dilatação das alças resultando em um processo inflamatório (edema na parede), o que leva à uma perda da barreira mucosa intestinal e comprometimento do suprimento sanguíneo. Com o avançar da doença, a viabilidade da alça é comprometida, já que se torna isquêmica, com isso, o paciente está sujeito a uma perfuração intestinal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da obstrução intestinal dependem da gravidade do processo obstrutivo dependem da gravidade do processo obstrutivo e de sua duração. Quando aguda, o início geralmente é súbito e dramático, já crônica, o início é mais gradativo. Os sinais e sintomas principais são: Dor; Constipação intestinal completa; Distensão abdominal; Sinais de déficit de volume de líquidos e vômitos; Na obstrução mecânica, a dor é intensa e espasmódica, ao contrário da dor contínua e do abdome silencioso do íleo paralítico. Na obstrução do delgado, os sinais e sintomas clássicos são: Dor em cólica: representando o esforço do intestino para vencer a barreira física, sendo o período da dor o melhor momento para auscultar o abdômen e perceber o peristaltismo; Vômitos: são inicialmente reflexos, consequentes à intensidade da dor e posteriormente, representam o mecanismo pelo qual o organismo tenta se livrar da sobrecarga de conteúdo intestinal que não consegue progredir, são vômitos mais precoces; Inicialmente é um material claro; Quando reflui do duodeno para o estômago e é eliminado, apresenta-se bilioso; Quando mais tempo durar a obstrução e mais baixo for, o material eliminado aproximará do aspecto fecaloide (marrom, espesso e fétido); Parada de eliminação de gases e fezes: é resultado da interrupção da progressão do conteúdo intestinal. Distensão: é o resultado do acúmulo de líquido e gás dentro das alças acima do ponto de obstrução. Na obstrução alta do delgado a dor não é tão intensa, porque, estando próxima ao ângulo de Treitz, ao menor esforço o conteúdo facilmente reflui para o estomago e é eliminado. Os vômitos são incoercíveis, biliosos, sintoma predominante e poderá levar 48 horas para ser completa e evidente; A distensão é insignificante: há poucas alças envolvidas e são facilmente esvaziadas com o vômito; Na obstrução baixa do delgado a dor é típica! Pelo vômito, o paciente elimina conteúdo das partes mais baixas do delgado, podendo chegar ao vômito fecaloide. Por ser uma obstrução na parte mais distal do intestino delgado, os episódios de vômito levam um tempo para aparecer = tardios e menos frequentes; O paciente pode apresentar grande distensão abdominal, que pode chegar a criar dificuldade respiratória; No exame físico: INSPEÇÃO: observar presença de distensão, tipo de respiração,abaulamento da parede, deformidade, peristaltismo visível, cicatrizes cirúrgicas; AUSCULTA: auscultar o abdômen no momento de exacerbação dolorosa para perceber o peristaltismo com suas nuanças; PALPAÇÃO: apoiar a mão espalmada e aquecida sobre o abdômen e procurar perceber a movimentação das alças, sentir o borborigmo (sons APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 de borbulho produzidos pela propulsão de gases no intestino = peristaltismo exacerbado), assinalar pontos dolorosos e presença de peritonite (doença avançada e grave e com silêncio abdominal). PERCUSSÃO: verificar o timpanismo das alças distendidas, a macicez de declive, a bexiga cheia e para substituir a descompressão dolorosa na pesquisa de peritonite. Na obstrução do cólon, a sintomatologia difere da delgado por condições anatômicas e fisiológicas: o colón está preparado para reter gases e fezes, está distante do estomago e muito próximo do ânus. Ausência de dor forte, então vômitos são raros. A parada de gases e fezes poderá ser o primeiro sintoma; A grande distensão abdominal é o sinal predominante. No exame físico: PALPAÇÃO: ceco facilmente palpável; PERCUSSÃO: timpanismo aumentado. RESUMINDO O QUADRO CLÍNICO: parada de eliminação de flatos e fezes, distensão abdominal, dor em cólica, aumentos dos RHA (metálico), no toque retal a ampola retal estará vazia, náuseas e vômitos (vômitos + edema de alças = desidratação e transtorno eletrolítico). DIAGNÓSTICO Em geral, o diagnóstico de OI se baseia na história e no exame físico. As radiografias podem ser usadas para determinar a existência de obstrução e também diferenciar entre obstruções parciais e completas com base na análise dos padrões dos gases no intestino. Solicitar radiografia de: tórax PA, abdome AP ortostático (em pé) e abdome AP decúbito. As radiografias do abdome podem mostrar dilatação de alças intestinais (sinal de empilhamento de moedas) com nível líquido dentro de alças (proximais à obstrução), sugerindo o local da obstrução. No volvo de sigmoide, identifica-se a torção da alça com dilatação, associada a megacólon. A tomografia é capaz de mostrar detalhes que a radiologia convencional não consegue captar, como aqueles da estrutura da parede intestinal, tanto do lado da luz, quanto da parte externa da parede, o que o torna de grande utilidade para o diagnóstico de obstrução por torção do meso e de estrangulamento. Os exames laboratoriais como o hemograma, alteram-se na vigência de processo infeccioso. A acidose metabólica, detectada na gasometria intestinal, pode sugerir um quadro vascular intestinal. Além disso, a dosagem de glicemia, ureia, creatinina, eletrólitos (Na, K, Mg e Ca) e coagulograma são indicados para detectar eventuais distúrbios que devem ser corrigidos antes da realização do procedimento cirúrgico. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 TRATAMENTO O tratamento depende da causa e do tipo de obstrução. A normalização dos distúrbios hidreletrolíticos e a determinação do débito urinário por meio de um cateter de Foley são medidas recomendadas. A maioria dos casos de obstrução adinâmica responde à descompressão do intestino por drenagem nasogástrica. Estrangulamento e obstrução intestinal completa exigem intervenção cirúrgica. No período intraoperatório, é importante observar o retorno da cor e da peristalse normais do intestino. Se houver tecidos necróticos, é necessário removê-los e estabelecer uma anastomose. REFERÊNCIAS DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Grupo GEN, 2011. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
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