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23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 1/37 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina POR ODELA / EM 7 DE SETEMBRO DE 2020 Por Jaime Osorio* Introdução Nas análises do Estado no capitalismo dependente se cometem os mesmos erros que estão presentes quando se analisam as economias da região. Sustenta-se que o Estado é imaturo; que sofre de uma falta de desenvolvimento, porque suas instituições se apresentam débeis ou com pouca estabilidade; que existiria um Estado de Direito frágil ou simplesmente a uma ausência de leis. Em posições mais extremas se assume que não existe um Estado, seja pela imaturidade do fenômeno estatal; ou porque não haveria uma nação e, portanto, não existiria um Estado-nação, senão uma dispersão de nações sem alguma integração; ou porque a comunidade política não teria se constituído, ou uma vez conformada, teria sido destruída pela voracidade do capital. Em alguns casos há uma incompreensão da originalidade do https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ https://www.ufrgs.br/odela/author/gerente/ https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 2/37 capitalismo dependente, sem diferenciar os espaços nacionais de domínio e poder que estão presentes no sistema mundial capitalista. Em outros casos, que se somam ao anterior, prevalece uma concepção do Estado que privilegia o sentido de comunidade sobre as relações de poder e de domínio de classes. Em qualquer caso, as análises são levadas a cabo tendo como parâmetro as formas, modalidades e processos que apresentam os Estados do capitalismo desenvolvido. Aqui argumentaremos desde uma perspectiva diferente. No capitalismo dependente existe o Estado, e suas formas e operações são maduras e são as possíveis nesta forma de capitalismo. O elemento fundamental que outorga sentido ao Estado é constituído pelas relações de poder e domínio de classes sociais, seus conflitos e lutas, assim como o sentido de comunidade possível de se gerar nessas condições. Nos interessa nesse escrito precisar o tipo de crise político- estatal que se vive atualmente na América Latina. Para isso, nos deteremos em certas determinações do Estado dependente. A partir dessa base consideraremos as mudanças nas correlações de força entre capital e trabalho ao nível do sistema mundial e regional, que permitiram ao capital uma feroz ofensiva sobre o mundo do trabalho, e que tomou a forma de ditaduras militares e de Estados de contrainsurgência nessa região nos anos setenta e oitenta. A rápida reanimação dos movimentos populares – e aberto o período caracterizado como de transição democrática -, permitiu a emergência de governos populares e de governos progressistas. Analisamos as razões de seu enfraquecimento, assim como do esgotamento da forma de governo aberta com aquela transição, e que levou à 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 3/37 conformação de uma nova forma de governo: o Estado de contrainsegurança com coro eleitoral, destacando suas características e objetivos. Por último realizaremos algumas considerações sobre o triunfo de López Obrador nas eleições presidenciais no México, em julho passado[1], e as razões que explicam um projeto a contrapelo das tendências predominantes na região. 1. Determinações do Estado 1.1. O Estado como condensação das relações sociais de domínio e poder de classes O capital é uma relação social que articula de maneira simultânea as relações sociais de exploração e as relações sociais de domínio e poder. Assim como não é possível compreender a exploração sem considerar as relações políticas de dominação e poder – que permitem o surgimento de grupos sociais despojados dos meios de produção e dos meios de vida, através da violência, da coerção e do domínio de classes –, da mesma forma não é possível explicar as relações de domínio e poder condensadas no Estado de modo alheio às relações sociais de exploração, processos que o capital, como já destacamos, busca velar. As relações sociais de exploração e domínio entre capital e trabalho conformam as classes sociais, com interesses em conflito, e que determinam a vida em comum e suas diversas dimensões no capitalismo. Não é por casualidade, neste sentido, que o último capítulo de “O Capital”, inconcluso é certo, seja justamente sobre “As classes”. (Marx. 1973, t. III, 817). Com esse tema buscava terminar os primeiros livros, conforme assinalado em seus planos de trabalho de 1857, e que seria, ao mesmo tempo, a ponte para o livro seguinte, 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 4/37 que trataria justamente do Estado (Marx: 1971, t. I, 29-30, 203-204). Por sobre esta estruturação das relações, o Estado capitalista pode “se retirar” da cena imediata da exploração, podendo se apresentar como uma entidade que está acima da sociedade. Não é necessário que a polícia acorde e encaminhe os trabalhadores aos seus postos de trabalho, esses o farão por decisão pessoal, marcada pelo despojo dos meios de produção e de vida. Como também não é necessário que a polícia vigie a produção e a apropriação da mais-valia, oculta no pagamento do salário, que aparece como o pagamento de todo o trabalho. Desta forma, o Estado pode aparecer alheio à exploração, o que, por sua vez, mistificará o poder e a dominação de classes sobre classes[2]. Não há espaço teórico e nem histórico para posicionar o Estado em uma dimensão exterior às classes sociais e aos seus enfrentamentos, que não seja na forma mistificada que aquele assume no capitalismo. Há que explicar tais mistificações, mas tal explicação não pode partir eliminando ou secundarizando o fundamento de sua natureza, sua condensação das relações de poder e domínio de classes e de comunidade ilusória[3]. E é a condensação das relações e dos projetos e interesses de classes que nessas relações predominam os que conferem ao Estado a organização da vida comum sua marca particular. Dizer que a forma-valor é a que predomina em nosso mundo social, mas sem as referências de classe que isso implica, é tratar de abstrações, mas ficando atrelados a elas, sem ponderar o peso que as mistificações de classes expressam. A partir das classes sociais a vida em comum 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 5/37 alcança sentido, integrando e desmistificando aquilo que o capital desintegra e mistifica. 1.2. ‘Quem detêm o poder político?’ e ‘como se exerce esse poder?’ A análise do Estado não pode evitar a interrogação a respeito de quem detêm o poder político, quer dizer, quais são os interesses de classe que organizam a vida em comum. A resposta comum de que é a burguesia ou o capital, é demasiado genérica quando se considera que essa classe conta com frações de classe (bancária/financeira, industrial, agrária, mineira, comercial) e com setores (grande, médio ou pequeno capital). A resposta deve ser capaz de identificar quais os interesses das frações e/ou dos setoresda burguesia que prevalecem em situações históricas específicas, em que as políticas estatais tendem a favorecer mais a alguns capitais em detrimento de outros. O que requer compreender como se conforma o bloco no poder, isto é, quais frações e/ou setores da burguesia contam com vantagens para impulsionar seus projetos, e quais hegemonizam o poder político. Mas tão importante quanto a pergunta anterior é especificar também como se exerce o poder, isto é, qual é a forma de Estado ou a forma de governo que prevalece, em que sentido determinar se domina por meio de votos ou por meio de baionetas, e com qual relevância; se existe parlamento e divisão de poderes; se existe ou não imprensa e meios de comunicação com autonomia ou se estão controlados; se operam mecanismos de representação; o peso dos aparatos armados na vida pública, etc. As perguntas sobre quem detêm o poder e como se exerce tal poder se encontram estreitamente associadas. Até o final 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 6/37 do século XX e início do século XXI o tema da “transição democrática” se constituiu no eixo de debates e análises políticas na América Latina. Mas nessa caracterização se privilegiava apenas uma das interrogações referidas, de como se exerce o poder. E a multiplicação de consultas eleitorais estimulou uma visão distorcida que daria passo, posteriormente, aos estudos sobre a “qualidade da democracia”, dando por definido que esta já estava instaurada na região. Ao dissociar o ‘como se exerce o poder’ da pergunta de ‘quem detêm o poder’, não se ponderou que as próprias forças sociais e/ou políticas que em momentos prévios reivindicaram e promoveram ditaduras militares ou governos civis autoritários contrainsurgentes, eram as mesmas que agora reivindicavam ou participavam do discurso da abertura democrática. E que as políticas econômicas que impulsionaram muitos dos novos governos civis (que não inclui os chamados governos populares) eram as mesmas que prevaleceram nos governos militares ou contrainsurgentes. Em poucas palavras, ao não integrar as perguntas não se contou com ferramentas para compreender os limites da democratização em marcha, nem os interesses de classe que terminaram marcando esses processos. 1.3. Estado e aparato de Estado A mistificação das relações de poder e domínio de classes que implica a forma de Estado, se vê alimentada pela coisificação de tais relações, assumindo a forma de aparato de Estado, um conjunto articulado e hierarquizado de “coisas”, como instituições, corpo de funcionários que ocupam posições nessas instituições e um corpo de leis. De modo concreto, a capacidade de mistificação do Estado 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 7/37 em um aparato de Estado se fortalece. As instituições do aparato de Estado, o corpo de funcionários que ocupa os cargos relevantes e os papeis em que se concentram as leis, não dos dizem que são “coisas” atravessadas por interesses de classes. Sua linguagem e seu discurso versa, pelo contrário, sobre os interesses da nação e da sociedade em seu conjunto. Não é um assunto menor, no tema da mistificação da vida social, que a burguesia, em particular, seja a primeira classe dominante que delegue a administração do aparato de Estado nas mãos de outras classes. De modo que não é necessário, em geral, que os membros das classes dominantes se instalem de maneira direta nos principais cargos das instituições do aparato de Estado, como postulou a corrente instrumentalista (Miliband: 1970) para explicar como que o Estado leva a cabo os interesses das classes dominantes[4]. É inegável que isso ocorra, mas não se trata de um procedimento rotineiro. Antes se opera em condições excepcionais[5]. O fato de que a cada certo tempo as autoridades que encabeçam o aparato de Estado, e as forças políticas que representam, podem ser renovadas em consultas eleitorais por cidadãos e não por classes, alimenta o imaginário que não subjazem poderes de classe em meio às periódicas renovações, seja de forças ou figuras políticas. Ademais, o aparato de Estado permite sem muita mediação que se identifique as autoridades do aparato como quem detêm o poder político, com o qual se obscurece justamente a questão das classes cujo poder político prevalece na sociedade[6]. Nas eleições e na constante renovação das autoridades do 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 8/37 aparato de Estado não está em jogo de maneira imediata o poder político prevalecente na sociedade. Isto nos demonstra que o aparato de Estado é o aparato de um Estado específico, com relações de poder e domínio de classes cuja vigência não se encontra em jogo nos processos eleitorais. 2. Determinações do Estado dependente No seio do sistema interestatal mundial, o Estado dependente é um Estado subsoberano. Isto significa de imediato que é um poder subordinado a outros poderes estatais. Tal noção implica romper com a equação da ciência política tradicional que estabelece “Estado é igual a soberania”. Esta formulação desconhece a heterogeneidade econômica e estatal que o capitalismo conforma a nível do sistema mundial. Por sua vez, implica romper com a ideia de que carências em matéria de soberania supõem incapacidades para o exercício do poder político por parte das classes dominantes locais. A condição subsoberana do Estado dependente não é senão a outra face da existência de um sistema mundial em que operam mecanismos de intercâmbio desigual entre economias e regiões, que implicam na transferência de valor desde o capitalismo dependente até o mundo desenvolvido, pela configuração de uma taxa média de lucro internacional em que os preços de produção dos bens de exportação das economias dependentes se localizam abaixo do valor gerado, enquanto os preços de produção dos bens das economias desenvolvidas se localizam acima do valor gerado. Também transferências de valor na mesma direção a partir da remessa de lucros dos investimentos estrangeiros; pelo pagamento de juros da dívida pública e privada; pelo 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 9/37 pagamento de royalties etc., tudo o que dá vida a formas de capitalismo diferenciadas, sendo a forma do capitalismo desenvolvido e a forma do capitalismo dependente as mais relevantes. As modalidades de inserção no mercado mundial e de reprodução do capital geradas no capitalismo dependente, junto às perdas de valor a partir dos mecanismos já assinalados, exige que as classes dominantes no capitalismo dependente promovam modalidades de exploração que se apropriem de parte do fundo de consumo e de vida dos trabalhadores, para transferir ao fundo de acumulação do capital. A esta modalidade particular de exploração se denomina superexploração (Marini: 1973), que se vê possibilitada pela presença de enormes contingentes de população excedente, criadas pela própria dinâmica da acumulação dependente. O predomínio da superexploração, sob suas diversas formas, agrava os conflitos sociais e debilita as relações que criam sentido de comunidade no capitalismo dependente. Esta é uma das principais razões que explica por que na história política dos Estados latino-americanos tende a predominar as formas autoritárias dos mais diversos tipos, e as dificuldades daquele seassentar, de modo perdurável, em formas democráticas, ou semidemocráticas, para ser mais rigoroso. Não é por falta de desenvolvimento político que isto acontece, senão que é a expressão das formas particulares de reprodução do capitalismo dependente e das modalidades de domínio que esse exige. Em uma economia sustentada na espoliação das condições básicas de vida para o grosso da população e submetida por 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 10/37 suas classes dominantes hegemônicas a processos de desapropriação de valor em direção às economias desenvolvidas, deriva em um agravamento dos conflitos sociais e da luta de classes, dado o desenvolvimento das classes sociais próprias do capitalismo e de seus enfrentamentos. Nestas condições o Estado dependente tende a se converter em um elo frágil da cadeia de dominação mundial do capital, que manifesta de maneira permanente a atualidade da revolução[7]. O agravamento dos conflitos sociais no capitalismo dependente e a acentuação da superexploração têm correlação com o fato do Estado de Direito e o peso das leis sejam comprometidos e aplicados discricionariamente. As leis não escritas têm, pelo contrário, um peso significativo na vida social. As instituições do Estado manifestam fragilidade, não por imaturidade, senão pelas particularidades que apresenta a imbricação entre o econômico e o político. Tudo isso é necessário para sustentar a condição subsoberana no sistema interestatal, as particulares formas de exploração no plano local e as transferências de valor para o capitalismo desenvolvido. Desta forma, a subsoberania e a superexploração são suportes da acumulação e do domínio em escala mundial para o capital. Ante a fragilidade das instituições do aparato de Estado, alimentada também pelas recorrentes crises de legitimidade das autoridades, se produz a tendência a que a classe reinante assuma maiores espaços de ação. É neste quadro que no Estado dependente se desenvolvem as condições para a recorrente emergência de mandos autoritários e de governos encabeçados por lideranças carismáticas e por caudilhos políticos. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 11/37 O fato de que a reprodução dos capitais mais dinâmicos do capitalismo dependente realize a mais-valia predominantemente nos mercados externos ou nos mercados internos de alto poder aquisitivo, dando as costas às necessidades da população trabalhadora local, alimenta a incapacidade das classes dominantes locais de criar projetos nacionais próprios frente aos poderes que prevalecem no sistema mundial. Na mesma lógica opera a enorme presença do capital estrangeiro nas economias dependentes sob a forma de investimentos diretos, muitos deles operando em setores estratégicos, nos distintos padrões de reprodução do capital que conhecemos. Essa presença não é resultado de imposições, senão de alianças de setores e camadas locais das classes dominantes com as burguesias estrangeiras. Isto propicia ao Estado dependente uma espécie de descentralização, em que o poder político local deve contemplar os interesses daqueles capitais, o que redunda naquilo que já destacamos: a incapacidade das classes dominantes locais de conformar projetos com uma perspectiva de desenvolvimento nacional. Esta limitação das classes que detêm o poder nas economias dependentes abre constantes fissuras que estimulam a emergência de forças políticas com projetos que reclamam maior autonomia nacional e maior soberania, que mesmo sendo demandas democráticas, nas condições de articulação das economias dependentes com as economias desenvolvidas, se constituem em pautas que apontam para subversão da posição subsoberana no sistema de domínio mundial. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 12/37 A inexistência de estruturas produtivas complexas e a precoce monopolização da economia em seus diversos setores, propiciam nas economias dependentes o rápido surgimento de setores do grande capital, que passam a predominar na economia e no Estado, reforçando a pobre diversificação da estrutura produtiva e a baixa diversidade e força das frações de classes e de setores dominantes. Ante o peso dos padrões de reprodução do capital direcionados aos mercados exteriores, na história econômica regional, prevalece no capitalismo dependente uma espécie de esquizofrenia política nas classes dominantes da região, em que frente à necessidade de estar abertas aos mercados externos e limitar medidas protecionistas, operam defendendo posições liberais no plano econômico. No entanto, sustentam posições conservadoras no terreno político e social. Isto, que já se expressa na segunda metade do século XIX, segue se apresentado com força desde o último terço do século XX até os nossos dias, com governos conservadores no campo político e liberais no econômico, com fatos relevantes como a presença das ditaduras militares e governos civis contrainsurgentes. O surgimento de governo populares e progressistas no século XXI amenizou esta tendência, que volta a ganhar vida após as derrotas eleitorais ou pelos golpes brandos que sofreram esses últimos governos. 3. Mudanças na correlação de forças entre as classes 3.1. Severas derrotas do mundo do trabalho Desde a década de setenta do século XX se apresentam uma série de processos que manifestam e aceleram as mudanças na correlação de forças a nível mundial e regional, entre o capital e o trabalho, em prejuízo desse último. Algumas de 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 13/37 suas expressões mais significativas foram o estabelecimento de ditaduras militares em grande parte da região sul da América Latina, e em particular na derrubada do governo de Salvador Allende no Chile, instaurando o governo encabeçado pelo general Augusto Pinochet e a imediata aplicação de políticas econômicas neoliberais. Também se deve mencionar a implementação de políticas estatais contrainsurgentes na maioria das sociedades latino- americanas; o crescente avanço das políticas neoliberais em outras regiões, promovidas pelos governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos e de Margaret Tatcher na Grã- Bretanha, neste último caso após uma prolongada greve e da derrota de poderosos sindicatos mineiros de carvão; a derrubada da União Soviética e a desintegração do chamado campo socialista; a constante perda de benefícios sociais, que colocará fim ao Estado benfeitor na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, e a seus arremedos no capitalismo dependente latino-americano; mudanças nos processos de trabalho e avanço da precarização dos empregos; crescente influência do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu para impulsionar políticas de ajuste, com severos golpes aos níveis de renda, de emprego e de seguridade social da população assalariada mundial. É nesse quadro de severa derrota do mundo do trabalho que o capital põe em marcha novas divisões internacionais do trabalho, novas revoluções científico-tecnológicas, somado à baixa de salários, incrementos de jornadas laborais e instabilidade nos empregos como fórmulas para resolver a tendência de larga duração à queda da taxa de lucros. 3.2. Seus efeitos no Estado dependente latino-americano 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coroeleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 14/37 Na América Latina, a derrota do mundo do trabalho implicou na instauração de um novo padrão de reprodução do capital, o da especialização produtiva sob políticas econômicas neoliberais, que promoveram a venda de empresas públicas ao capital privado, nacional e estrangeiro, a retirada de benefícios sociais, graves rebaixamentos salariais e o incremento do desemprego, além de reformas trabalhistas que enfraqueceram aos sindicatos, aumentaram as jornadas e deterioraram as condições gerais de trabalho. No terreno político a última década do século XX é um período dominado pela chamada transição democrática na América Latina, com a substituição dos governos militares ou governos civis autoritários por governos civis emanados das consultas eleitorais, após mudanças e reformas para acelerar a constituição de novos partidos políticos ou mesmo da legalização de velhas organizações; criação de padrões eleitorais, assim como de organismos encarregados de assegurar a equidade das campanhas. Este giro, que implicava passar de súdito (menoridade política) à cidadão (um sujeito de maioridade política), teve como pano de fundo a busca, pelas autoridades político- estatais, de uma nova modalidade de legitimidade. Ante o fim dos benefícios sociais prestados pelo Estado, no auge neoliberal, as autoridades buscavam agora o reconhecimento da sociedade ao mando político pela via de torná-la responsável pelas decisões políticas. Desde o fim do século XX, mas com maior clareza e força no início do século XXI, se fez sentir uma inicial recomposição de diversos setores sociais, decorrentes da repressão empreendida para aplicar as novas políticas, desde estudantes, mineiros, povos indígenas, operários, 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 15/37 desempregados, servidores públicos, professores, etc. A América Latina viveu nesse tempo um dos períodos mais convulsivos, expressada nas renúncias, destituição de autoridades presidenciais e de uma enorme instabilidade institucional, resultado da promoção de políticas privatizantes e de ajustes contrários aos interesses do grosso da população, o que precipitou crescentes mobilizações. Umas das expressões desta inicial rearticulação popular foi a ascensão ao governo de forças políticas criadas no período recente, contrárias ao avanço das políticas neoliberais e que reivindicavam políticas mais próximas das necessidades dos setores populares. Tudo isso acontecia em meio a massivos protestos e mobilizações. É assim que a América Latina termina a primeira década do novo século, com pelo menos três governos populares: de Hugo Chávez na Venezuela, de Evo Morales na Bolívia e de Rafael Correa no Equador, definidos assim pela base de apoio que os institui e pelas políticas e programas que colocam em marcha. Junto aos chamados governos populares, se constituem por sua vez, os governos progressistas, que sem a radicalidade das mobilizações e exigências que deram vida aos primeiros, reúnem demandas que limitam as agressivas ofensivas dos capitais hegemônicos, nem sempre com resultados claros no assunto, e que aplicam inúmeros programas sociais em favor das camadas mais pobres, de setores operários e da pequena burguesia assalariada. Tudo isso se vê favorecido pelo excepcional momento que vivem as exportações latino-americanas de matérias primas e alimentos no mercado mundial, durante a primeira década do século XXI, particularmente estimuladas pela demanda da 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 16/37 China, economia que vive nesses anos momentos de uma enorme expansão, e de partes industriais dirigidas aos Estados Unidos. Junto aos casos mais emblemáticos dos governos deste tipo, como os encabeçados por Luís Inácio Lula da Silva no Brasil e por Néstor e Cristina Kirchner na Argentina, inúmeras outras forças e figuras políticas com graus muito diferentes em termos progressistas e que em diferentes tempos triunfaram no Paraguai, Uruguai, Equador, Chile, Honduras, Panamá e El Salvador, o que permitiu a criação de uma política com dimensões regionais, que se propõe a uma maior autonomia frente aos Estados Unidos, em política exterior e em acordos comerciais intrarregionais e financeiros[8]. 4. Razões do esgotamento político Não se pode desconhecer o papel que têm desempenhado os Estados e o capital do mundo desenvolvido no afã de debilitar, quando não defenestrar os processos políticos gestados na região durante esse período, aliados aos setores das classes dominantes locais. A destituição dos presidentes de Honduras, Paraguai e Brasil, em diferentes tempos, não estão alheias ao que estamos nos referimos, assim como as manobras golpistas na Bolívia, Venezuela e Equador. Também se pôs ênfase no fim do excepcional período econômico que viveu a região na primeira década deste século, como um elemento chave para explicar o enfraquecimento dos governos progressistas e dos governos populares. Sem desconhecer o significado dos pontos anteriores, considero que não se outorgou suficiente peso às razões internas referentes ao que estes governos fizeram e deixaram de fazer e que alimentaram a sua fragilidade. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 17/37 Para o caso dos chamados governos progressistas, e em particular para os casos do Brasil e da Argentina, um assunto central está no predomínio de projetos políticos que privilegiaram a conciliação de classes, isto é, promover programas sociais para melhorar as condições de vida, particularmente da população em situação de pobreza, elevar salários, gerar empregos (com a criação de novas universidades, entre outras), além de outros benefícios sociais que favoreceram as classes trabalhadoras e a pequena burguesia assalariada. Por outro lado, mantendo e quando não incrementando, no entanto, competências importantes às frações e setores mais poderosos do capital, com nenhum ou tímidos projetos de retenção de alguma quota dos vultuosos lucros que recebiam. Estes projetos políticos não podiam senão criar fragilidades para os governos, no curto ou médio prazo, pela dificuldade de manter o equilíbrio frente às demandas e pressões sociais contraditórias. Esta razão é a que subjaz à perda de apoio que sofreram os governos progressistas por parte de alguns grupos sociais, que terminarão por se agravar quando a capacidade de sustentar as políticas de equilíbrio se reduzirem frente à queda dos ingressos captados pelas exportações. Se as denúncias por casos de corrupção[9] forem agregadas à política de conciliação, encontra sentido a desmobilização e o descontentamento dos setores populares que ocorre tanto quando o Congresso destitui a presidenta Dilma Rousseff, no Brasil, como que proporciona a derrota eleitoral das forças kirchneristas, nas eleições presidenciais na Argentina. Posteriormente se criaram importantes mobilizações e protestos, mas isso não permite ocultar o sintomático isolamento e a desmobilização inicial. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 18/37 Quanto aos chamados governos populares, apesar de diferenças importantes, compartilham debilidadesconsubstanciais a própria concepção do que esses governos consideram representar e expressar[10]. Existe o erro comum de assumir o triunfo eleitoral como a conquista do poder político, ou mesmo como parte de um processo que se coloca nessa direção, e que se logrará na medida que se mantenham ditos triunfos e se ganhem maiores posições no aparato de Estado. Em algum momento se supõe que produzirá um ponto de bifurcação. E isso acontecerá sem necessidade de romper com a institucionalidade imperante[11]. Esta ideia matriz termina por condicionar tudo, tanto que a acumulação de força social dos dominados precisa se expressar em força eleitoral e nos tempos que a disputa eleitoral se estabelece, e deve ainda passar pelos canais institucionais. Desta forma, as dinâmicas dos movimentos sociais acabam sendo limitadas a esses tempos e espaços, o que provoca desgastes, esgotamentos e recuos. Nestas condições, os setores dominantes travam uma guerra de desgaste, já que a própria institucionalidade imperante no aparato de Estado é um território político que entrava o avanço dos processos e projetos rupturistas. Ninguém pode ignorar as realizações desses governos. A pergunta chave, no entanto, é se não contavam com força social suficiente para tarefas maiores. Porque, ao não lograr tarefas maiores, pode ter como consequência que muitas das conquistas se percam sob novas autoridades de governo. É o que acontece nesse momento no Equador, a partir do triunfo de Lenín Moreno, seu distanciamento de Rafael Correa e suas ofensivas contra as conquistas da chamada “revolución 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 19/37 ciudadana”. Amarrados à rota estabelecida, o desgaste político dos governos populares aparece como um caminho previsível. É neste quadro que incidem a queda dos preços das exportações e dos recursos dos governos. Mas não está aqui a razão de fundo de suas debilidades. Com os recuos e desmobilizações provocadas na região, resultado dos problemas presentes nos governos progressistas e populares, não é estranho o avanço eleitoral e político das forças de direita, que tiraram vantagem dos espaços concedidos, ou possíveis de arrebatar, assim como da desagregação e atomização dos amplos setores que conformavam a antiga força social e a desorientação propiciada em amplos setores sociais. 5. Em direção ao Estado de constrainsegurança com coro eleitoral[12] 5.1. Crise da democracia liberal representativa e de seus arremedos na América Latina No mundo desenvolvido, particularmente na Europa Central e nos Estados Unidos, o triunfo da grande burguesia produtiva e financeira e seus golpes no mundo do trabalho levaram a que, em pouco tempo, se apresentasse uma crise da democracia liberal representativa, forma de governo que amadurece após a Segunda Guerra. As bases que a tornaram possível foram resultado de significativas transformações nos processos de reprodução do capital, a multiplicação da produtividade e a geração de novos e diversos valores de uso. Nesse quadro, aumentar o consumo dos trabalhadores passou a constituir uma necessidade vital para o capitalismo 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 20/37 desenvolvido, a fim de gerar mercados para a produção de mais-valia, o que se propiciou a partir do incremento dos salários, novos benefícios sociais e programas de maior seguridade social. O chamado Estado benfeitor começava a tomar forma. Mas também se encontram razões políticas da maior relevância neste giro civilizatório do capital no mundo desenvolvido. A Segunda Guerra implicou um avanço inesperado do socialismo real em termos territoriais. Uma faixa nada desprezível da Europa Oriental passou a formar parte da União Soviética, ao passo que, na China, a revolução dava um salto significativo em seu poderio com a primeira explosão atômica, em 1947. Frente a estas ameaças, as classes dominantes da Europa Ocidental e dos Estados Unidos tiveram que incrementar os programas sociais e a renda de sua população trabalhadora, sobre bases que eram compatíveis com a reprodução capitalista, a fim de diminuir os perigos que a classe trabalhadora fosse conquistada pelos discursos da revolução e do socialismo. Mas esse período chegou ao seu fim com a acirrada guerra de classes que o capital desatou nas últimas quatro ou cinco décadas em todo o mundo, após a queda da taxa de lucros e a posterior derrubada do campo socialista, o que promoveu uma radical deterioração das condições de trabalho, de seguridade e de vida para o grosso da população trabalhadora, processo que ainda prossegue e que faz da precarização trabalhista a norma, em meio a um novo reordenamento do sistema capitalista mundial. A estes elementos se agrega a expansão da acumulação pela via de atividades ilegais e a multiplicação do dinheiro sujo em todo o sistema, propiciando que as fronteiras com a 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 21/37 reprodução legal do capital se faça cada vez mais difusa[13]. Neste terreno minado, a classe reinante e a classe política não escapam à decomposição imperante, oferecendo sustentação para a imbricação das operações legais e ilegais, favorecendo os processos de corrupção de todo o tipo, em que estão envolvidos desde os altos escalões do aparato estatal e funcionários de todos os níveis. Tudo isso tem provocado uma desconfiança crescente em relação aos funcionários que administram o aparato de Estado e com os dirigentes políticos, propiciando uma crise de legitimidade da autoridade política, outra maneira que se expressa a crise da forma de governo. Além disso se acrescenta que os partidos políticos, como instância de representação, têm se debilitado, quando não fragmentado, tendendo a se converter em espaços de grupos de poder, burocratas e funcionários, cada vez mais preocupados com os seus negócios com recursos públicos. Não há território em que vige a democracia liberal representativa ou um arremedo de democracia na América Latina, que não tenha sido golpeado e debilitado, promovendo o desencanto de camadas crescentes da população com a política. Todos estes elementos se fazem presentes também na crise político-estatal das sociedades do capitalismo dependente. Exceto que nestas sociedades, a rigor, não se pode falar de uma crise da democracia liberal representativa, porque simplesmente esta forma de governo somente alcançou se apresentar na região sob a forma de arremedos e sombras. E muitos das características da crise político-estatal da 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 22/37 democracia liberal representativa encontram maior agravamento na organização política do capitalismo dependente, como a corrupção de funcionários públicos e a difusa fronteira entre classe reinante, classe política e aquelas porções do capital que se reproduz a partir de operações ilegais. A Odebrecht se converteu justamente no paradigma da corrupção e degradação de setores do grande capital e de altos funcionários públicos na região, neste caso, para ganhar substanciais licitações públicas. Esse tipo de corrupção está associado à impunidade do alto escalão do aparato de Estado. 5.2. O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral: uma resposta para a crise[14] A crise dos arremedos de democracia na região, adestituição dos presidentes em Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016) por meio de golpes brandos, a crise dos governos populares na Venezuela e Bolívia, cada vez mais cercadas por mobilizações internas e pelo assédio internacional, e inclusive a ascensão de Maurício Macri à presidência da Argentina, em um processo de avassalamento midiático, econômico e judicial contra o governo anterior (Beinstein: 2018), expressam que o período aberto pela denominada “transição democrática” chegou ao seu final na região, e que assistimos a uma reconfiguração das formas de governo que emergiram daquele processo, com a instauração de uma nova forma, o Estado de contrainsegurança com coro eleitoral. Uma das razões que explicam a força com que amadurece esta nova forma de governo na segunda década do século XXI, e que já apresenta antecedentes na década passada, tem relação com um novo estágio de desenvolvimento da fração burguesa produtora e exportadora de matérias primas, 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 23/37 alimentos e de partes industriais ligadas às indústrias automotora e eletrônica e às montadoras, assim como da fração bancária e financeira, ambas em estreita relação com capitais estrangeiros, resultado da enorme expansão de suas atividades e de ingressos na primeira década do século atual. O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral é resultado também dos embates daquelas frações e do capital internacional que investe na região contra as políticas sociais dos governos populares e progressistas, o que leva o conjunto do capital a redobrar os esforços para recuperar a gestão do aparato de Estado, buscando colocar fim àqueles governos e a reforçar em toda região as políticas de segurança. Tais políticas são concebidas em um sentido amplo, não somente para fazer frente ao crime organizado ou à delinquência, senão também, às forças sociais, organizações e líderes que questionam as políticas do capital. Assim, trata-se de uma resposta às exigências econômicas e políticas do capital, o que impõem novas derrotas do mundo do trabalho e dos setores populares. Nesta nova forma de governo se mantem as consultas eleitorais, mas sob procedimentos de maior controle, seja das forças que participam, dos candidatos e dos seus resultados[15], para reduzir os perigos de uma surpresa como os governos populares e os progressistas. Isto exige derrubar a credibilidade e por fim político às organizações que ameaçam a paz social e eleitoral que os grandes capitais exigem. Também destruir – quando não eliminar[16] – a líderes sociais e políticos que possam encabeçar respostas de massas. A possível “eliminação” de Lula da Silva das urnas para eleição à presidência do Brasil é parte dessa nova lógica, como foram as destituições dos presidentes; de igual 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 24/37 forma pode se interpretar a poderosa ofensiva midiática de desprestígio que se estendeu contra Cristina Fernández, não somente para derrotá-la eleitoralmente, senão para destruí- la como opção para futuras disputas. No Estado de contrainsegurança com coro eleitoral se busca alcançar um maior controle da sociedade, a partir de mecanismos que incrementam a percepção de insegurança pública; elevando o medo da presença e da ação de inimigos da paz social e dos valores da “comunidade”; de desqualificar e reprimir a resistência social, procedimentos que buscam desarticular as organizações populares e desmobilizar a sociedade, retirando-lhe a iniciativa e justificar a vigilância e a intervenção policial e militar. Para isso é necessário que a imprensa e outros meios de comunicação, particularmente públicos, sofram embates que limitem suas atividades, ao mesmo tempo em que se incrementa o peso da imprensa e da televisão afim aos interesses sociais que se quer prevalecente. Ao mesmo tempo e como resposta à carência de oportunidades de trabalho, se destacam os benefícios do autoempreendimento, de passar de trabalhador a “sócio” de alguma marca, como motoristas de Uber, entregadores de alimentos ou mercadorias, em que os “sócios” não somente não recebem salários ou benefícios sociais, senão que ainda pagam alguma porcentagem de sua renda para continuar sendo partícipes do negócio. A nova forma de governo apresenta muitos pontos em comum com o Estado de contrainsurgência, como perseguir ou eliminar aos que criticam as políticas em marcha ou denunciam a corrupção, a impunidade ou abusos de 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 25/37 autoridades civis ou militares[17]; estabelecer novas leis em matéria de segurança pública[18]; a reorganização de forças policiais, de aparatos de inteligência, de segurança e das Forças Armadas,[19] e a sua maior presença nas ruas e nas cidades[20], além da implementação de novos sistemas de controle e de vigilância dos opositores[21]. Também de novos acordos com os aparatos de inteligência, de segurança e com as Forças Armadas dos Estados Unidos. Além de impedir que as experiências dos governos populares e progressistas se repitam, sob essa nova forma de governo, também se busca lograr outros objetivos que permitem avançar com os projetos do grande capital local e transnacional, como redobrar a implementação de políticas de ajuste, novas reformas trabalhistas e a reformulação das aposentadorias; prosseguir a venda dos bens e recursos públicos para capitais privados, construir novos acordos regionais com outros mercados para expandir o campo de ação do grande capital exportador da região. O caminho para configurar essa nova forma de governo não pode, senão, gerar rechaços em amplos setores da população, por afetar as suas condições de vida; pela militarização das ruas e cidades e pela criminalização dos movimentos sociais e dirigentes; pela sequela da morte de civis, acusados em geral de formar parte de bandos delinquentes, sem que tribunais civis possam processá-los. De maneira mais acelerada em alguns casos, e mais lenta em outros, esta nova forma de governo se concretiza no conjunto da região, colocando em marcha as diversas dimensões que o caracterizam. O incremento da violência estatal será uma condição necessária para que alcance formas maduras, e sem contestações, se considerar que os movimentos populares na região foram golpeados e em 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 26/37 muitos casos isolados, mas em nenhum caso desarticulados. *Professor do Departamento de Relações Sociais da Universidade Autônoma Metropolitana – Unidade Xochimilco – e da Pós-Graduação em Estudos Latino-Americanos da Universidade Nacional Autônoma de México. josorio@correo.xoc.uam.mx Nota final 1: O avanço do Estado de contrainsegurança com coro eleitoral e a degradação em geral da vida pública, se soma a crise de projetos alternativos ao capitalismo, o que incrementa a desorientação política e o imaginário de um futuro com sentido. Enfrentar estes processos não passa por retornar aos tempos passados. Os Estados benfeitores no mundo desenvolvido e suas políticas sociais e de segurança social responderam a um momento da reprodução capitalista e da luta de classes que já não é mais possível repetir. Seus arremedos no capitalismo dependente também já esgotaram a sua história, da mesma forma queos arremedos de democracia. Nota final 2: O contundente triunfo de Andrés Manuel López Obrador nas eleições presidenciais em julho passado no México, e do Movimiento de Regeneración Nacional (MORENA), constitui um passo a contrapelo das tendências prevalecentes antes expostas. É o primeiro triunfo eleitoral na história política do México mailto:josorio@correo.xoc.uam.mx 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 27/37 É o primeiro triunfo eleitoral na história política do México de uma força de esquerda nas eleições presidenciais. Não somente isso, o triunfo ocorreu em uma disputa com a participação de votantes acima da média das anteriores, e com uma margem de apoio inusitado: com 53% de todos os votos. Isso levou aos partidos tradicionais que até agora imperaram, leia-se o Partido de la Revolución Institucional (PRI) e o Partido de Acción Nacional (PAN), tenham ficado em minoria no Parlamento, em ambas as câmaras, de deputados e senadores, e tenham perdido os cargos de governadores e as maiorias também nos parlamentos estaduais. O que de particular ocorre no México que explica essa situação excepcional? Pode-se enumerar muito assuntos: os agudos níveis de insegurança que prevalecem em amplos territórios do país; escândalos por processos de corrupção em que a classe política e as autoridades do governo estiveram involucradas; a piora das condições de vida do grosso da população; a divisão das classes dominantes que chegaram às eleições com dois candidatos, em um sistema que não conta com segundo turno eleitoral. Mas tudo isto e muito mais fica na superfície do processo. No México se assistiu a uma verdadeira rebelião cidadã, que implicou em que o grosso da população rompesse com fetichismo, armadilhas ideológicas e amarras culturais que em geral tendem a se produzir massivamente em momentos muito particulares das lutas sociais. Nem as ameaças dos grandes empresários, nem as catástrofes anunciadas fizeram retroceder os votantes em sua opção pela mudança. Para além das decisões do futuro governo, amplos setores da população se manifestaram dispostos a tensionar para que as transformações prometidas tomem forma. E isto abre um cenário nada comum. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 28/37 [1] Nota do tradutor: a versão em língua espanhola do presente texto foi publicada em 11 de agosto de 2018. [2] Para abandonar a noção de ‘poder no Estado’, Ávalos faz a distinção entre ‘autoridade’ e ‘poder’ (Ávalos: 2015a, 203), em que a primeira se exerceria sobre os seres livres, enquanto o segundo seria um mando despótico sobre os servos e escravos. No entanto, em “O Capital” se demonstra que a liberdade do operário é justamente sua submissão ao poder despótico do capital (Marx: 1973, 267-286), pois uma vez despossuído dos meios de produção pode renunciar a um capital, para oferecer seu trabalho a outro, o que demonstra a ficção da liberdade que possui (Ibid., 486). Toda sua vida está submetida ao capital (Ibid, 518). Somente assumindo a ruptura entre economia e política no capitalismo, favorecendo a mistificação, poderia se afirmar que na esfera econômica há poder, mas que na esfera política são indivíduos livres que decidem sobre a vida em comum. [3] Disse Marx que “(…) el poder del Estado no flota en el aire”. E remete às classes: “Bonaparte representa a una clase, que es además, la clase más numerosa de la sociedad francesa: los campesinos parcelarios”. (Marx: 1980, t. I, 489). Este material, e outros que seguem a suas obras maduras, constituem para Ávalos “análisis coyunturales (…) en lo que el plano de lo político se concibe como el terreno de la transcripción (sic), ciertamente contradictoria y sesgada por lo efímero (sic), de intereses de clase” (Ávalos, 2007, 34), em seu interesse por minimizá-los, ao não corresponder com a proposta estatal que oferece. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 29/37 [4] Adscrito a esta corrente, para explicar as transformações estatais das últimas décadas, Ávalos assinala que “el aparato de Estado fue conquistado (…) por la lógica del capital” e que “la antigua máquina burocrática del Estado benefactor” tem sido “desplazad(a) por una dinámica empresarial” (Ávalos: 2015a, 123). É um “exterior” o que “conquista e desloca”, e que o Estado, ainda integrando o aparato, em sua proposição é alheio às classes. [5] Frente à chegada do empresário Donald Trump ao governo dos Estado Unidos se pode mencionar outros triunfos eleitorais recentes que manifestam essa condição excepcional. Mas nem Ângela Merkel, nem Emmanuel Macron, por exemplo, são membros das burguesias alemã e nem francesa. [6] A solução de Ávalos de integrar o aparato ao Estado (2015b: 56), alimenta por sua vez esta confusão. Os ex- presidentes do México como Ernesto Zedillo e Felipe Calderón, seriam integrantes das classes dominantes, junto com os Slim, Azcárraga e Larrea. Identificar o Estado e os aparatos permite dar sustento à tese que é possível alcançar o poder político ganhando posições no aparato de Estado, sonho de toda política reformista. No entanto, entre o aparato de Estado e o Estado existe um hiato social e político. É por isso que forças sociais e personalidades políticas com maiores ou menores conflitos com o capital podem chegar ao aparato (como Allende, Chávez ou Morales), sem que isso implique que tenham alcançado o Estado e com isso o poder político. [7] O tema, que nos leva aos problemas das revoluções anticapitalistas na chamada periferia do sistema mundial 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 30/37 capitalista, tenho desenvolvido inicialmente no livro Explotación redoblada y actualidad de la revolución. Refundación societal, rearticulación popular y nuevo autoritarismo, UAM/Itaca, México, 2009. Um novo desenvolvimento se encontra no livro Sistema mundial, intercambio desigual y renta de la tierra, UAM/Itaca, 2017, México, cap. I, “El despliegue del capital en el Estado-nación y en el sistema mundial”. [8] Processos dos quais se excluem o México, Colômbia, Peru e Chile, os dois primeiros pela presença de forças políticas tradicionais ou direitistas nos governos. Chile pela forte dependência do seu comércio exterior com os Estados Unidos nesses anos e por manter distância com experiências que recordem os anos da Unidade Popular, ainda que personalidades políticas progressistas tenham chegado à presidência. [9] Não que não houvesse corrupção. Entretanto, a ênfase midiática local e internacional, para dar conta do problema, mostram que a cruzada contra a corrupção apontou suas canetas contra os governos populares e progressistas da região (Romano: 2018). [10] Aqui haveria de excluir ao Equador, onde a ideia de construir o socialismo não teve maior audiência. [11] O reformismo neogramsciano reinterpreta a guerra de posições formulada por Gramsci, postura que ganhou peso nas décadas dos golpes militares na região, particularmente refletida na obra de Portantiero (1977). Em anos recentes encontramos na obra de Álvaro García Linera uma importante retomada, acompanhada com o “último” Poulantzas (García Linera: 2015). 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/31/37 [12] “En la tragedia griega el centro del escenario lo ocupaban casi siempre los héroes (…). La vida cotidiana tenía reservado (…) un espacio subalterno y sin rostro: el del coro” (Nun: 1989, 11). Com “coro eleitoral” quero destacar o peso secundário dos cidadãos e das eleições na nova forma de governo. [13] Produção e venda de drogas e entorpecentes de todo tipo, tráfico de órgãos, tráfico de pessoas, tráfico de armamentos, de material para fissão nuclear, lavagem de dinheiro em atividades imobiliárias, massivas operações fraudulentas pela internet, apropriação e venda de informação nas redes sociais são algumas das novas atividades da acumulação do capital. [14] É comum afirmar que nos encontramos em um período de crise estatal, e se multiplicam as noções que buscam dar conta de dita crise: “fragmentação” ou “desintegração” do Estado (Roux: 2010), “dissolução” do Estado (Ávalos: 2010), a qual este agrega recentemente a de “crise de estatalidade”, como resultado da quebra do princípio do Estado Leviatã e do Estado Res publica (Ávalos: 2015, 237-238), o que colocaria em discussão a autoridade do Estado e sua capacidade de expressar essas decisões. No seio do capitalismo não é possível que a vida em comum possa se desenvolver sem Estado. A manifestação dos problemas de segurança, como no México, não tem paralisado os processos de reprodução do capital e nem o domínio das classes ligadas a este. Com isso, não se pretende afirmar que – no México em particular, onde se formularam os termos anteriores – não ocorre nada. O que se pretende simplesmente manifestar é que as noções empregadas, como “fragmentação” do Estado, e pior ainda, “dissolução” do Estado, conduzem a sérios equívocos teóricos e políticos. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 32/37 O Estado feudal é possível “fragmentar”, o que fez possível, por exemplo, que a revolução chinesa fosse ganhando poderes parcialmente na grande marcha. Mas o Estado capitalista é um poder altamente centralizado, o que impede que se possa destruí-lo e substitui-lo em partes por um novo poder. Por outro lado, os Estados capitalistas não se “dissolvem”. Desta forma, seriam desnecessárias as revoluções. Por isso é que seu fim passa justamente pela destruição de suas relações nos processos de revolução. [15] A segurança eleitoral reforça a tendência à realização de todo tipo de manobras e fraudes, desde a compra de votos, truques cibernéticos ou simples manipulação de cédulas e de recontagens. A reeleição de Juan Orlando Hernández como presidente de Honduras, a partir de uma escandalosa fraude nas eleições de 2017, forma parte de velhas histórias em novas condições. [16] Fórmula contrainsurgente que o Estado colombiano tem aplicado de maneira efetiva nas últimas décadas, assassinando dirigentes sindicais operários e camponeses, líderes sociais e dirigentes guerrilheiros que passaram para a vida institucional. [17] Aqui se situa a elevada quantidade de jornalistas mexicanos assassinados nos últimos anos. Também o recente assassinato no Brasil (14 de março de 2018) da vereadora do PSOL, Marielle Franco, tenaz opositora da presença de militares no Rio de Janeiro e dos crimes das forças de segurança nas favelas. [18] No final de 2017 foi aprovada no México uma nova “Ley de Seguridad Interior”, que outorga maior presença e operacionalidade às Forças Armadas, após a intervenção do 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 33/37 Executivo nos estados ou municípios. A nova lei, aprovada com a oposição de organismos locais e internacionais de direitos humanos, deverá ser sancionada pela Suprema Corte de Justicia, por decisão do presidente Peña Nieto. [19] Por solicitação do presidente Macri em março de 2018, o Ministerio de Defesa criará uma unidade especial, a “Fuerza de Despliegue Rápido” (FDR), conformada pelos três ramos das Forças Armadas, para apoiar às forças de segurança na luta contra o narcotráfico e para o cuidado dos recursos naturais, assunto que refere à presença de organizações mapuches em zonas florestais do sul do país, entre elas o grupo Resistencia Ancestral Mapuche (RAM), que reclamam seu direito às terras que ocupam, onde já ocorreram enfrentamentos em 2017. O mais relevante desta decisão é que permite operações das Forças Armadas no interior do território, o que não ocorria desde as ditaduras militares nos anos oitenta (Beinstein: 2018). No mesmo sentido, em outubro de 2017, o governo brasileiro aprovou a criação de um novo Ministério Extraordinário de Segurança Pública, que agrupa todas as forças da ordem, sob o mando até então do ministro da Defesa. Tribunais e promotorias militares investigarão a morte de civis durante as operações armadas. [20] Em 16 de fevereiro de 2018, Michel Temer declarou “intervenção federal” no estado do Rio de Janeiro, entregando a um general o comando sobre militares e policiais. [21] Em 2017, se informou que os aparatos de inteligência do Estado mexicano espiavam a jornalistas críticos, infiltrando com uma mensagem SMS os seus celulares 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 34/37 através do sistema Pegasus, adquirido de Israel, que permite que câmera e microfone fiquem sob controle da segurança estatal. No Chile, como parte da “Operación Huracán”, iniciada em setembro de 2017, carabineiros detiveram a oito dirigentes mapuches acusados de queimar igrejas e caminhões em La Araucanía. Mais tarde se descobriu que a “Unidad de Inteligencia Operativa Especializada de Carabineros” não só espiou a jornalistas de diversos meios que acompanhavam o caso, que se prolongou por meses, senão também que “plantou” conversas nos celulares dos detidos, para oferecê-los como prova de culpabilidade e de pertencer a uma organização subversiva e criminosa. Em março de 2018, o diretor geral de carabineiros e o diretor de inteligência da instituição, conhecedoras da montagem, deveriam apresentar sua renúncia. Bibliografia Ávalos, G. & J. Hirsch (2007). La política del capital. UAM- Xochimilco, México. Ávalos, G. (2010). “México; nudo poder y disolución del Estado”. Veredas n. 20. Departamento de Relaciones Sociales, UAM-Xochimilco, México. Ávalos, G. (2015a). La estatalidad en transformación. UAM- Xochimilco, México. Ávalos, G. (2015b). “La estatalidad y su concreción cósica. Desde el horizonte hermenéutico de la crítica de la economía política”. Veredas n. 31. Departamento de Relaciones Sociales UAM-Xochimilco, México. 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 35/37 Beinstein, J. (2018). Las nuevas dictaduras militares latinoamericanas. In: https://www.alainet.org/es/articulo/191654 Consultado el 17 de marzo de 2018. García Linera, A. (2015).”El Estado y la vía democrática al socialismo”. Nueva Sociedad n. 259, Buenos Aires. Marx, C. (1971). Elementos fundamentales para la crítica de la economía política (borrador) 1857-1858. Tomo 1, Siglo XXI Editores, México. Marx, C. (1973). El capital. Tomo I, Fondo de Cultura Económica, México, séptima reimpresión. Marx, C. & F. Engels (1980). Obras Escogidas. Tomo I, Moscú, Editorial Progreso. 23. Miliband, R. (1970). El Estado en la sociedad capitalista. Siglo XXI Editores, México. Nun, J. (1989). La rebelión del coro. Estudios sobre la racionalidad política en elsentido común. Ediciones Nueva Visión, Argentina. Osorio, J. (2009). Explotación redoblada y actualidad de la revolución. UAM/Itaca, México. Osorio, J. (2017). Sistema mundial, intercambio desigual y renta de la tierra. UAM/Itaca, México. Pérez Soto, C. (2018). “De la relación entre Hegel y Marx y sus diferencias sobre el Estado de Derecho”. Argumentos n. 86, Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad https://www.alainet.org/es/articulo/191654 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 36/37 , p , Xochimilco, México. Portantiero, J. C. (1977). Los usos de Gramsci. In: Cuadernos de Pasado y Presente n. 54, México. Romano, S. M. (2018). “¿Guerra contra la corrupción o contra las alternativas al neoliberalismo?”. In: La corrupción: más allá de la moralina, ALAI n. 531, Quito, Ecuador. Roux, R. (2010). “El Príncipe fragmentado: liberalización, desregulación y fragmentación estatal”. In: Veredas n. 20, Departamento de Relaciones Sociales, UAM-Xochimilco, México. Nota do Observatório do Estado Latino-Americano/ODELA- UFRGS: O presente texto é uma tradução do original publicado em língua espanhola, em 11 de agosto de 2018, no site Viento Sur: https://vientosur.info/el-estado-de- contrainseguridad-con-coro-electoral-en-america-latina/ Tradução: Mateus Henrique Weber Revisão técnica: Leonardo Granato AMÉRICA LATINA ESTADO CAPITALISTA MÉXICO TEORIAS DO ESTADO ANTERIORES PRÓXIMO https://vientosur.info/el-estado-de-contrainseguridad-con-coro-electoral-en-america-latina/ https://www.ufrgs.br/odela/tag/america-latina/ https://www.ufrgs.br/odela/tag/estado-capitalista/ https://www.ufrgs.br/odela/tag/mexico/ https://www.ufrgs.br/odela/tag/teorias-do-estado/ 23/08/2022 14:43 O Estado de contrainsegurança com coro eleitoral na América Latina – Observatório do Estado Latino-Americano | ODELA https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/07/o-estado-de-contrainseguranca-com-coro-eleitoral-na-america-latina/ 37/37 Del Estado capitalista dependiente al Estado socialista en Cuba Ensaio sobre a burguesia associada no Brasil https://www.ufrgs.br/odela/2020/08/21/del-estado-capitalista-dependiente-al-estado-socialista-en-cuba/ https://www.ufrgs.br/odela/2020/09/29/ensaio-sobre-a-burguesia-associada-no-brasil/