Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA Paralisia Facial 2M2 – PARES CRANIANOS E PARALISIA FACIAL Paralisa central X periférica Periférica trata com corticoide, fisioterapia... Central normalmente é um AVC h ou i – geralmente isquêmico não vê no início. Sensibilidade dos 2/3 da língua, está tendo? Paralisia central tem que mandar para o neuro. PARES CRANIANOS: Sensitivos (Aferentes): Aferente – recebe a sensação. Eferente é o segundo passo, por exemplo tirar a mão após sentir um local quente. Eferente é motor. • Somáticos gerais: dor, pressão, temperatura e propriocepção • Somáticos especiais: sentidos (visão e audição) • Viscerais gerais: impulsos e dor visceral • Viscerais especiais: sentido (gustação e olfação) Motores: • Somáticos gerais • Somáticos especiais • Viscerais gerais • Viscerais especiais I – Olfatório: • Aferente • Visceral • Especial – faz parte dos 5 sentidos II – Óptico: • Aferente • Somático • Especial – faz parte dos 5 sentidos 2 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA III – Oculomotor: Músculo esquelético somático: • Eferente – move • Somático • Geral Sistema nervoso autônomo: • Eferente • Visceral • Geral IV – Troclear: Músculo esquelético somático: • Eferente • Somático • Geral Não tem relação direta com a visão, por isso não é especial. V – Trigêmeo: • V1 • V2 • V3 • Aferente somático geral (ASG) • Eferente visceral especial (EVE) VI – Abducente: • Músculo esquelético somático (reto lateral) • Eferente • Somático • Geral 3 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA VII – Facial: • ASG • AVE • AVG • EVG • EVE É tudo, eferente, especial, motor... VIII – Vestibulococlear: • ASE IX – Glossofaríngeo: • ASG • AVE • AVG • EVG • EVE • 1/3 posterior da língua X – Vago: • ASG, AVE, AVG, EVG, EVE (4-6 arcos faríngeos) • Palato, faringe, laringe, tórax, abdome XI – Acessório: 4 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA • EVE, ESG • M. Trapézio, M. esternocleidomastoideo XII – Hipoglosso: • ESG • M. hipoglosso, genioglosso e estiloglosso • M. intrínsecos da língua • Lesão: desvio da língua contralateral Nervos cranianos: • Têm origem no encéfalo • Divididos em 12 pares São reconhecidos 7 componentes funcionais dos nervos cranianos – um nervo craniano pode ter 1 a 5 colunas funcionais. As colunas funcionais são classificadas como gerais ou especiais. • Gerais – colunas com as mesmas funções que aquelas dos nervos espinais • Especiais – colunas específicas para nervos cranianos. As colunas funcionais gerais e especiais são subdivididas em 2 outras categorias: • Aferentes (sensitivas) e eferentes (motoras) • Somáticas (relacionadas com o corpo) e viscerais (relacionadas com os órgãos). Resumo das funções: • ASG: Exteroceptores e proprioceptores (p. ex., para dor, tato e temperatura, ou nos tendões e articulações) Semelhante aos nervos espinais • ASE: Sentidos especiais no olho e orelha (visão, audição e equilíbrio) • AVG: Sensitiva para as vísceras (p. ex., intestino) Semelhante aos nervos espinais • AVE: Olfação e gustação • EVG: Sistema nervoso autônomo (inerva músculo cardíaco, músculo liso e glândulas) Semelhante aos nervos espinais • ESG: Músculos esqueléticos (somáticos) do corpo Semelhante aos nervos espinais • EVE: Músculos esqueléticos que desenvolvem a partir dos arcos faríngeos (branquiais) (homóloga a ESG) 5 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA 6 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA 7 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA Norton, N. S. (2018). Netter Atlas de Anatomia da Cabeça e Pescoço (3rd ed.). Grupo GEN. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978 8595153486 PARALISIA FACIAL: Paralisia Facial Periférica: VII - facial: • Trajeto: tronco encefálico na borda inferior da ponte • Fibras motor no nervo facial + salivatório superior (parassimpático) + trato solitário (sensitivo) Nervo misto: • Nervo facial próprio – motor 80% • Nervo intermédio – sensitivo Partes do nervo facial – inerva todas essas partes. O nervo facial tem várias subdivisões, vários locais em que ele passa – principalmente extracraniana. Qualquer compressão em uma dessas regiões leva a uma diminuição de estimulo e diminuição da via aferente e eferente desse nervo – ou seja, sensibilidade dependendo pode estar preservada e motricidade ausente. Motricidade é via eferente. PARALISIA FACIAL: CLASSIFICAÇÃO Supranuclear: • Central • Músculos inferiores da face • Raramente isolada: acomete língua, mãos, dedos (pela proximidade com os vasos) Nuclear: Núcleo gemiculado • Normalmente central (m. inferiores da face) • Pode ser periférica – acomete todo o nervo (andar superior e inferior) • Proximidade NC V, VI e VIII • Nervo intermédio preservado: sem lacrimejamento e não altera a gustação Infranuclear: • Periférica completa • Alteração auditiva, labiríntica, tonturas, lacrimejamento, gustação (prox. Vestibulococlear) Como fazer o diagnóstico do pct? Normalmente vai ser uma paralisia unilateral inteira (parte inferior, média e superior da face). Então quando se vê paralisia unilateral é menos grave justamente por conta do cruzamento das fibras anteriores dos córtex. PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA: • Fibras viscerais aferentes especiais – gustação dos 2/3 anteriores da língua • Fibras viscerais eferentes especiais – núcleo motor do facial Nervo facial é misto. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595153486 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595153486 8 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA • Fibras somáticas aferentes gerais – sensibilidade da concha e CAE (conduto auditivo externo) • Fibras viscerais aferentes gerais – dor visceral do 1/3 posterior das fossas nasais e da face superior do palato mole • Fibras viscerais eferentes gerais (parassimpático) Ramos importantes: o N. petroso superficial maior – glândulas lacrimais e palatinas o N. corda do tímpano – glândulas submandibulares e sublinguais São importantes pq na paralisia facial periférica o pct pode ter dificuldade na produção de saliva ou pct com acometimento central pode ter hiperresponsividade – aumenta o risco de sialorreia, broncoaspiração. Quando tem pouca saliva pode fazer bochecho e uso de saliva artificial. Quando tem muita saliva pode bloquear as glândulas com botox (toxina botulínica). O botox bloqueia a hiperprodução daquela glândula – continua produzindo, mas bem menos. Supranuclear o Central Nuclear o Central ou hemiface contralateral (PFP) Infranuclear: o Pontinho (intracraniano) o Meatal o Labiríntico o Timpânico o Mastoideo – lesionado em cirurgias da mastoide principalmente. o Extratemporal A infranuclear pode ser em vários segmentos do facial. Como saber se o pct acorda e por exemplo, começa a falar enrolado, está com início de paralisia – como avaliar se é paralisia central ou periférica? Mímica, gustação – se for acometimento periférico não vai sentir nos 2/3 da língua. Etiologias: O que é a paralisia facial de bell? É uma paralisia idiopática. É benigna. Infecções virais não tratadas podem levar a recorrência. PARALISIAS FACIAIS: Escala de House-Brackmann: • Enrugar a testa – Testa frontal • Fechar o olho • Mostrar os dentes • Fazer bico Grau 1 normal; 6 péssimo. Pede para o pct mandar beijo, enrugar a testa, fazer bico. 9 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA 1 normal. 2 parestesia ligeira, detectada em uma inspeção muito cuidadosa. Não tem certeza as vezes. Pede outro exame– teste de sensibilidade. Assimetria no sorriso só se for forçado. 3 moderado – fecha o olho com esforço, deixar a lagrima, manter pomada. 4 pct não fecha olho e pode ter o sinal de bell. 5 disfunção severa, mas ainda consegue ter algum tipo de movimento. 6 paralisia total. RAMSEY HUNT: Paralisia Facial Periférica + Vesículas na zona de Ramsey-Hunt (parte da concha e parte inicial do CAE). Caso do Justin Bieber. É um tipo de paralisia facial periférica associada a vesículas na parte da concha e inicial do conduto auditivo externo. Pode ter lesão em outros lugares. O que é importante é a alteração facial e as vesículas no meato. Lesões surgem: • Antes da PFP – 60% Antes da paralisia facial periférica já podem surgir as vesículas. • Simultaneamente – 25% • Após – 15% Associado a otalgia intensa – fibras sensitivas. Otalgia importante pois é uma doença do nervo – neuralgia – dor nervosa. Envolvimento coclear e vestibular. Vestibulococlear também está associado – diminuição do equilíbrio, diminuição da audição, hipo ou hiperacusia – qualquer alteração do ouvido interno pode estar associada. Degeneração mais severa que na Paralisia de Bell. A paralisia de Bell é gradual. Essa Ramsey Hunt é rápido. Tratamento: • Faltam estudos Na prática: corticoide • Prednisona + aciclovir • Obs: se dados precocemente, melhora prognóstico • Aciclovir: diminui duração do Rash + dor aguda • Prednisona: diminui progressão para paralisia completa – pq a paralisia é causada justamente pelo edema na região. O sinal de Bell caracteriza-se pelo deslocamento do globo ocular para cima e para fora na tentativa de fechamento com força do olho, que é incompleto em decorrência da fraqueza do músculo orbicular da pálpebra. DOENÇA DE BELL: • PFP + NADA! É só paralisia facial periférica. • Idiopática, ou seja, exclusão! Ou seja, por temperatura – ou seja, se não definir a causa é Bell. • Mais comum: 80% • Direito = esquerdo • Masculino = feminino • Gestantes (3,3x) > Não gestantes – gestantes mais acometidas. Clínica: • Flácida, súbita • Pode piorar até o décimo dia • Menos de 1% é bilateral Sinal de Bell é unilateral. 10 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA NEOPLASIAS: • Paresia de evolução lenta • Ausência de remissão em até 6 meses • Hipercinesia (espasmos) • Contratura muscular • Dor • Massa cervical ou parotídea – avaliar se tem linfonodos aumentados. CASO CLÍNICO: Paciente 10 anos, refere vacina há 2 dias, associado a formigamento em hemiface esquerda. HD Conduta Reação viral pode levar a paralisia facial. Antes da conduta, tem que ver o quanto esse pct está tendo de alteração – no caso ele teve formigamento, não teve bem uma paralisia, então isso pode reverter – pode usar AIN, corticoide. Geralmente não usa corticoide pós uso de vacina para não diminuir a resposta imune do pct à reação viral. Mas se não tiver melhora ou tiver piora, pode sim entrar com corticoide. Rx: Raio x de baixo para cima. Como fechar o diagnóstico? Pode ser uma compressão tumoral ou outra coisa. A origem pode ser viral, idiopática... Exames: raio x, hemograma, sorologia, alterações sanguíneas, tomografia se suspeita grande de ser tumor. Criança de 2 anos de idade está com dificuldade de enxergar e movimentar hemiface. Hipótese diagnóstica: trauma, corpo estranho dentro do nariz etc. pode pedir raio x para excluir corpo estranho. Tomografia ? Paralisia facial periférica (PFP): Afecção clínica decorrente de uma lesão do nervo facial em seu trajeto a partir do tronco encefálico até chegar à musculatura da mímica facial. Atos simples como sorrir, chorar, piscar ou elevar a sobrancelha podem ser afetados, o que deforma sensivelmente sua expressão facial. Anatomofisiologia do nervo facial: • 7° nervo craniano. • Responsável pela atividade motora dos músculos da mímica facial, pela estimulação das glândulas lacrimais e salivares (sublingual e submandibular), bem como pela gustação dos 2/3 anteriores da língua. • Primordialmente motor, o nervo facial propicia estímulos elétricos para geração dos movimentos musculares faciais voluntários, manutenção do tônus dessa musculatura e também para os movimentos involuntários da expressão facial. • O nervo facial apresenta-se como um nervo craniano que possui um diferencial anatômico único: um longo trajeto pelo interior do osso temporal. Esse fator influencia na origem de diversas doenças que o acomete, pois, em casos traumáticos e inflamatórios, há condições para a formação de uma síndrome compartimental com danos ao tecido neural nesse local. • Dependendo do local em que o nervo facial for lesado, as manifestações clínicas podem variar. Além de ser responsável pela movimentação da musculatura facial, ao nervo facial motor propriamente dito, associam-se diferentes tipos de fibras neurais que executam diversificadas funções: aferentes viscerais especiais – responsáveis pela gustação dos 2/3 anteriores da língua (via nervo corda do tímpano); aferentes viscerais gerais – sensibilidade da mucosa nasal posterior e parte do palato mole; aferentes somáticas gerais – sensibilidade da concha auricular, parte do pavilhão auricular e meato acústico externo; eferentes viscerais gerais – inervação das glândulas submandibular e sublingual (via nervo corda do tímpano) e glândulas lacrimais (via nervo petroso maior). • O nervo facial pode ter seu trajeto dividido em: segmento pontino (do núcleo do facial, passando pelo ângulo pontocerebelar); segmento meatal (interior do meato acústico interno); segmento labiríntico (de onde se origina o nervo petroso maior); segmento timpânico (de onde se origina o nervo estapédio para o músculo do estribo); segmento mastóideo (de onde se origina o nervo corda do tímpano); segmento extratemporal (a partir do forame estilomastoídeo), penetrando na 11 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA glândula parótida em direção à musculatura facial. Correlações anatomoclínicas: No atendimento de urgência é comum receber pacientes com queixa de paralisia súbita de toda uma hemiface, com dificuldades para sorrir e fechar o olho, como também outros com paralisia apenas da porção inferior de uma hemiface associada a déficits motores de membros. Nas duas situações, há uma paralisia facial, muito embora sejam condições clínicas diversas e de gravidade distinta. Ao se dividir em quatro quadrantes a face, podemos dizer que os músculos dos quadrantes superiores têm dupla inervação cortical, enquanto os quadrantes inferiores têm inervação apenas do hemisfério cortical contralateral. Em função dessas características anatômicas, as lesões que ocorrem no córtex cerebral como os acidentes vasculares (AVC) ou tumores que envolvam essas áreas do córtex cerebral determinam paralisia apenas do quadrante inferior da hemiface contralateral. A associação com déficit motor dos membros superior e inferior contralaterais é muito comum. Por outro lado, após o nervo facial emergir do tronco encefálico, essa divisão não mais existe, e as lesões do nervo comprometerão toda a hemiface homolateral ao lado lesado. Assim, identificar se a paralisia é de origem central (lesão do SNC) ou periférica (lesão do nervo facial) será útil tanto na identificação de possíveis etiologias da doença bem como na terapêutica a ser instituída para o paciente. Fisiopatologia: A PFP pode apresentar-se em diversas situações clínicas. Contribuem para isso: • Diversidade de fatores etiológicos – doenças sistêmicas, genéticas, inflamatórias, traumáticas e tumorais podem determina-la • Longo trajeto do nervo facial até os músculos faciais, relacionando-se anatomicamente com inúmeras estruturas como outros nervos cranianos, orelhas internas, média e externa, mandíbula, parótida • Trajeto intraósseo do nervo facial, no interior do ossotemporal Na maioria das PFP ocorre uma lesão no trajeto intratemporal do nervo facial. Nesse trecho do nervo, envolto por um canal ósseo, os axônios e suas bainhas de mielina podem, durante processo inflamatório ou traumático, apresentar edema, em maior ou menor grau, o que determina um bloqueio na transmissão elétrica neural e a paralisia das fibras musculares. Nessas circunstâncias, se a agressão ao nervo for maior, o edema torna-se mais intenso, e o fluxo sanguíneo vascular, que se faz longitudinalmente, sofre redução significativa, o que leva a uma isquemia distal. Essa isquemia gera mais edema e instala-se aí, portanto, uma síndrome compartimental. Nesse ambiente, ocorre degeneração da bainha de mielina e dos axônios tanto distal como proximal e também alterações no corpo da célula axonal no núcleo facial. Nesse processo, quanto maior e por mais tempo for a agressão neural, mais fibras axonais sofrerão danos. Ao mesmo tempo em que há a degeneração neural, mecanismos de reparação tecidual se estabelecem para produzir uma nova bainha de mielina e propiciar o crescimento do coto proximal do axônio. Esse processo de reparação tem capacidade limitada e à medida que houver maior desagregação tecidual neural, menor é a possibilidade de regeneração e maior a possibilidade de sequelas. Etiologia: Em homenagem a Sir Charles Bell, as doenças que acometiam o nervo facial foram chamadas de Paralisia de Bell. Com o passar do tempo, à medida que as várias etiologias da PFP foram melhor definidas, o termo paralisia de Bell passou a descrever apenas os casos considerados idiopáticos. Diante de um caso de PFP, o diagnóstico clínico de paralisia de Bell é feito por exclusão de outras possíveis causas. Uma cuidadosa anamnese e exame clínico são a base para o adequado diagnóstico etiológico da PFP. Pesquisas laboratoriais e de imagem devem ser realizadas para afastar outras possíveis causas e para que o diagnóstico de paralisia de Bell seja estabelecido. 12 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA Diversos estudos estatísticos demonstram que a doença mais frequente é a paralisia de Bell, responsável por 55% a 80% dos casos acompanhados. Em seguida aparece a causa traumática e, depois, tumores ou outras causas infecciosas. Avaliação clínica: A anamnese, o exame clínico e complementar de um paciente portador de PFP aguda deve ser direcionado para o diagnóstico etiológico diferencial e topográfico da paralisia, o que possibilita uma melhor avaliação do comprometimento do nervo facial. A partir daí, pode-se instituir uma terapêutica, mais adequada a cada paciente, o que favorecerá a recuperação da função motora facial. História clínica: A paralisia da movimentação da face é o que chama a atenção. Pode aparecer de forma súbita, com evolução em poucas horas e piorando em alguns dias, o que assusta o paciente, pois ele associa esse sintoma a alguma doença neurológica, como AVC. Em alguns casos a paralisia é de instalação insidiosa e está frequentemente relacionada a lesões tumorais benignas ou doenças degenerativas. Além de as fibras neurais motoras do nervo facial estarem acometidas, outras fibras podem ser afetadas e gerar sintomas como: • sensação de olho seco e irritado devido à redução da produção lacrimal e pela incapacidade de oclusão ocular; • redução da gustação; • dor retroauricular e algiacusia, entre outros sintomas. Deve-se estar atento aos sintomas adicionais decorrentes da doença que desencadeia a PFP: pode ter sintomas auditivos como perda da audição, tonturas e zumbidos, em casos de tumores de orelha interna e média; sintomas gerais como perda de peso e fraqueza na leucemia e; cefaleia, nos casos de tumores cerebrais de ângulo pontocerebelar. O antecedente de PFP prévia é um dado importante para se estabelecer o diagnóstico de algumas doenças e pode indicar como pode ser o comportamento evolutivo da paralisia naquele paciente. Relatos de traumatismos (como traumas cranianos, ferimentos por arma de fogo ou branca, entre outros) devem ser pesquisados, pois um número significativo de pacientes apresentam a PFP decorrente de um trauma. Nessa situação é importante saber, se possível, se a paralisia se estabeleceu logo após o trauma ou após alguns dias, informação que será útil para estabelecer o prognóstico. Exame clínico e Otorrinolaringológico: Após avaliação clínica geral, o primeiro passo é determinar se a paralisia é periférica ou central, lembrando que a metade superior da hemiface tem inervação a partir de ambos os córtex cerebrais. Assim, as paralisias centrais determinam paralisia apenas na parte inferior da hemiface contralateral à lesão; já nas periféricas, toda a hemiface homolateral à lesão é afetada. A avaliação clínica da movimentação da musculatura facial na PFP é realizada em dois momentos: no repouso e em movimento. • No repouso observam-se: abolição das rugas frontais da testa; rebaixamento da ponta da sobrancelha; olho mais aberto ou pálpebra inferior caída do lado afetado; nariz desviado em vírgula para o lado são; abolição do sulco nasolabial; desvio e depressão da comissura labial; lábio superior e inferior desabados e bochecha flácida pendendo em saco (Fig. 25-7). • Em movimento, avalia-se a contração de cada músculo da mímica facial, isolando a movimentação do lado sem PFP com uma leve pressão digital no sentido inverso ao da contração do músculo observado. Basicamente solicita-se para que o paciente tente elevar as sobrancelhas, fechar os olhos, sorrir e fazer um bico com os lábios. Tradicionalmente uma série de sinais foram descritos para caracterizar a PFP, sendo o principal deles o Sinal de Bell, que aparece quando o examinador pede para o paciente fechar os olhos e, como há uma redução na oclusão palpebral, nota-se a rotação do globo ocular para cima, ação motora comandada por outros nervos cranianos. Na evolução de uma PFP alguns pacientes passam a apresentar sinais de contratura muscular e/ou sincinesias. A contratura muscular é facilmente identificada, pois há uma tensa contração muscular na hemiface que teve a paralisia, mesmo em repouso. A sincinesia se caracteriza pela contração muscular de um músculo não envolvido com a ação motora a ser executada. Exemplo disso é o paciente que ao ser instruído para fechar as pálpebras, realiza uma contração muscular na boca e sorri. Ou, ao contrário, ao sorrir desencadeia um piscar de olho. Essas alterações ocorrem em casos em que houve intenso desarranjo anatômico do nervo lesado e, durante a regeneração das fibras axonais, elas podem progredir para um grupo muscular em maior número (contraturas) ou seguir para um grupo muscular diferente daquele que antes inervava (sincinesia). 13 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA Numa lesão mais grave do nervo facial, pode ocorrer, durante a regeneração neural, a migração de fibras axonais eferentes da glândula salivar (nervo corda do tímpano) para a glândula lacrimal via nervo petroso maior. Nesta situação, o indivíduo ao se alimentar apresenta intenso lacrimejamento. É o chamado sinal de lágrima de crocodilo. Ao se avaliarem pacientes com PFP, observa-se que existem indivíduos com um déficit motor facial mais acentuado que outros. Alguns não conseguem movimentar as pálpebras, enquanto outros o fazem parcialmente. A mesma situação é observada em relação ao desvio da rima bucal, que pode ser variável em função do grau de flacidez dos músculos da boca. Esses fatos decorrem de um maior ou menor número de fibras axonais afetadas. Para se estabelecer o grau de comprometimento na função motora facial, vários autores têm sugerido formas de classificação do grau da paralisia. Entre elas a mais utilizada no meio acadêmico e profissional é a definida por House & Brackmann (1985) que classificam a função normal em grau I enquanto a paralisia mais acentuada em grauVI. Mais recentemente, Lazarini et al. (2006) (Fig. 25-8) adequaram esta classificação para figuras com o objetivo de facilitar a sua utilização. FIGURA 25-8. Adaptação visual da classificação de House--Brackmann (1984) por Lazarini et al. (2006) para a fase aguda da doença. A documentação fotográfica e a filmagem da face do paciente, em repouso e em movimento, também podem ser utilizadas, pois são procedimentos simples de serem realizados mesmo com smartphones, e trazem uma série de benefícios no acompanhamento evolutivo da paralisia. Avaliação topográfica: Num número muito grande de casos, as lesões do nervo facial acontecem no seu trajeto intratemporal. É possível definir o local da lesão, sabendo que ao longo deste seu trajeto o nervo facial emite três ramos com funções diferentes e que podem ser avaliadas. Nesta investigação topográfica deve-se fazer a pesquisa do lacrimejamento (Teste de Schimmer), no qual a diminuição da produção lacrimal indica que a lesão do nervo está acima da emergência do nervo petroso maior; a pesquisa do reflexo do músculo estapédio, indicando se a lesão está acima ou abaixo da emergência do nervo estapédio; e a avaliação da gustação dos 2/3 anteriores da língua, com a aplicação de sal ou açúcar, indicando lesão acima da emergência do nervo corda do tímpano, quando diminuída. Com os estudos de imagem como a Tomografia computadorizada e a Ressonância magnética, a identificação do local de acometimento do nervo facial, principalmente nesta última, pela impregnação do contraste de gadolíneo (Fig. 25-9) em áreas do nervo com inflamação ou tumor, tornou-se mais objetiva se comparada com os resultados dos testes anteriormente citados. Exames Otorrinolaringológicos Complementares Solicita-se audiometria tonal e vocal para avaliar a função auditiva que pode estar afetada quando a orelha interna ou o nervo vestibulococlear são acometidos. O exame vestibular também contribui na avaliação desse nervo, visto que estudos recentes demonstram acometimento do nervo vestibular associado a PFP. A imitanciometria será útil na investigação do reflexo estapediano. Exames Clínicos Laboratoriais Alguns exames laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico etiológico da paralisia, como o hemograma, as sorologias, pesquisa de doenças autoimunes e, eventualmente, estudo do líquido cefalorraquidiano. A pesquisa do DNA viral na saliva pode ser realizada pela técnica de PCR, mais 14 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA comumente para os vírus herpes simples e varicela zoster. Exames de Imagem Apresentam indicações mais precisas, como a tomografia computadorizada de ossos temporais no trauma e nas otites médias crônicas; a ressonância magnética na investigação tumoral; a ultrassonografia de parótida para lesões no trajeto intraparotídeo; radiografia de tórax em casos de tuberculose e sarcoidose; angiografia, angiorressonância e ultrassom doppler de artérias carótidas e sistema vertebrobasilar em lesões vasculares; dentre outros. Testes Eletrofisiológicos A eletroneurografia é um teste de estimulação elétrica objetivo, indicado até a terceira semana de evolução da doença, que compara o número de fibras nervosas funcionantes do lado normal com o lado alterado da face. Na paralisia de Bell, valores abaixo de 10% são indicativos de mau prognóstico. Tratamento: A escolha do tratamento para um paciente com PFP depende de uma série de fatores: grau de paralisia; tempo de aparecimento; evolução clínica e causa da paralisia. Deve-se lembrar ainda que as condições clínicas do paciente e a localização da afecção irão interferir também na terapêutica. Pode-se dividir o tratamento da PFP em farmacológico, cirúrgico, terapia motora e psicológico. A associação de diversas técnicas de tratamento cirúrgico, das diferentes drogas para tratamento clínico e do apoio da terapêutica motora e psicológica é fundamental para o sucesso na recuperação da função motora facial. Desse modo, a atuação de diversos especialistas (otorrinolaringologista, neurologista, cirurgião de cabeça e pescoço, fonoaudiólogo, fisiatra, fisioterapeuta, oftalmologista e cirurgião plástico, entre outros) permite que todos os aspectos terapêuticos sejam efetivamente abordados. Tratamento farmacológico: • Anti-inflamatórios: corticoides – prednisona na dose 1 mg/kg/dia com redução gradativa a cada três dias. • Drogas antivirais: O Aciclovir é recomendado na dose de 200 a 400 mg via oral a cada 4 horas, cinco vezes ao dia, por 7 a 10 dias. Uso do Valaciclovir na dosagem de 500 mg a cada 12 horas por 7 dias também pode ser utilizado. Nos casos de Síndrome de Ramsay Hunt a dosagem pode ser dobrada. A utilização da associação de corticoides e antivirais vem sendo amplamente difundida na literatura para o tratamento da paralisia de Bell, embora ainda necessite de estudos mais amplos para se definir a sua eficácia nesta doença. • Antibióticos – nos casos de otites agudas ou crônicas • Medicamentos oculares - Colírios à base de metilcelulose e pomadas oftálmicas para aplicação noturna são utilizados para evitar lesões da córnea. A falta de lubrificação da córnea, em decorrência do não fechamento palpebral e do déficit na produção lacrimal, pode levar a sua ulceração e perda da visão. • Toxina botulínica: Utilizada na fase tardia, de sequela, aplicada do lado normal de forma a obter simetria na face. Também utilizada nos casos com contratura muscular e/ou sincinesias no lado da hemiface afetada. Tratamento cirúrgico: • Descompressão do nervo facial – Objetiva aliviar a compressão neural dentro do canal ósseo intratemporal, de forma a melhorar a circulação sanguínea do nervo e criar condições para sua regeneração. Pode ser realizada por via fossa média, com descompressão do segmento labiríntico e porção proximal do segmento timpânico; por via transmastoídea, com acesso aos segmentos timpânico e mastóideo; ou combinada, com descompressão total do nervo. Seus resultados são controversos na literatura, e o período adequado para a sua realização bastante discutido. A sua indicação deve ser definida por avaliação clínica e testes eletrofisiológicos seriados, sendo mais efetiva no período até 30 dias do início da doença. • Anastomose do nervo facial – Realizada quando há perda de substância do nervo facial, na fase aguda da paralisia. Pode ser realizada anastomose término-terminal ou por interposição de enxerto neural. • Derivação neural – Utiliza fibras de outro nervo para anastomose. Na derivação hipoglosso-facial utilizam-se fibras do nervo hipoglosso. Na técnica cross-face ou contralateral, utilizam-se ramos do nervo facial da hemiface normal. • Transplante de enxerto livre neuromiovascular – Utilizado nas paralisias faciais tardias quando há incapacidade dos músculos de responderem à reinervação. • Transposição muscular – Utilizada quando os músculos faciais apresentam atrofia acentuada, sendo transpostas tiras de outros músculos como o músculo temporal ou masseter. • Ritidoplastia – Realizada em fases tardias com flacidez muscular unilateral, para correção da assimetria e flacidez cutânea. • Cirurgias palpebrais – Com objetivo estético e para melhora do fechamento ocular - tarsorrafia provisória, cantoplastia lateral e medial, colocação de peso de ouro na pálpebra superior. Terapia Psicológica Objetiva amenizar as repercussões psicológicas decorrentes da paralisia. Terapia Motora 15 Laís Flauzino | OTORRINOLARINGOLOGIA | 7°P MEDICINA Objetiva manter o tônus da musculatura facial até que se tenha o retorno da atividade neural. É de fundamental indicação tanto na fase aguda da doença como na fase sequelar. Otorrinolaringologia, A.B. D. (2017). Tratado de Otorrinolaringologia (3rd ed.). Grupo GEN. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978 8595154247 Referências: u https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1749-4486.2006.01197.x https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595154247 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595154247
Compartilhar