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TEMPLATE DE PRODUÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO DE GRADUAÇÃO AUTOR: Professora Doutora Mara Cecíclia Rafael Lopes Professora Especialista Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda DISCIPLINA: Desenvolvimento Psicomotor Na Infância MODALIDADE: Graduação INÍCIO DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR Professora Doutora Mara Cecília Rafael Lopes Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2016). Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2009). Possui graduação em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/1995) e graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar/2016). Atualmente é professora e coordenadora do curso de Licenciatura em Educação Física na EAD do Unicesumar. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profssional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/5472896495130234>. FIM DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR. INÍCIO DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR Professora Especialista Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda Especialista em Educação Psicomotora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/1986), com formação pelo Centro Lydia Coriat de Porto Alegre – RS em Clínica e Terapêutica em Transtornos da Infância e Adolescência. Professora, graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL/1986). Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/8161227323374434>. FIM DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR. INÍCIO DA APRESENTAÇÃO GERAL Caro(a) aluno(a), este livro tem por objetivo conduzir e auxiliar seu aprendizado sobre o desenvolvimento psicomotor da criança. Quando falamos da criança e do seu desenvolvimento, devemos entender que há um grande leque de conhecimentos a desbravar. O sujeito humano é um ser complexo, que recebe influências de seus responsáveis e do meio no qual está inserido. Quanto mais entendermos sobre o sujeito humano nos vários enfoques, mais poderemos ter uma prática docente adequada e valiosa junto aos alunos. O desenvolvimento infantil envolve muitos aspectos subjetivos, por isso veremos o quanto a História, a Filosofa, a Sociologia, a Psicanálise de Freud, a Psicologia Genética de Jean Piaget e os autores da Psicomotricidade, propriamente ditos, enfatizam a importância em considerar o sujeito como uma unidade e não apenas como um sujeito biológico e psíquico. Não se trata de unir o corpo e mente, e sim de entender o quanto o psiquismo influência o biológico, ao mesmo tempo que o biológico afeta o psiquismo. Nada em nosso desenvolvimento acontece de forma reducionista. O desenvolvimento psicomotor que você estudará neste livro apresenta o percurso da criança lhe possibilitando ganhar noção de si, do seu corpo, de seu movimento e de sua aprendizagem. Assim, chegaremos a entender que o movimento da criança vai depender da sua história e da representação que ela tem de si mesma, ou seja, como foi construída a sua imagem. Veremos que a imagem de si não é a mesma coisa que noção do corpo ou esquema corporal. Existem diferenças sutis que permitirão ao professor entender a criança mais profundamente. E assim poderá fornecer estratégias facilitadoras aos alunos. Você aprenderá sobre os aspectos do desenvolvimento psicomotor: esquema corporal, equilíbrio, coordenação, lateralidade, noção de espaço e de tempo e como estes aspectos influenciam a atividade corporal. Esses aspectos serão o objetivo do seu trabalho. Contudo, não esqueça a subjetividade da criança, pois é essa subjetividade que servirá de base para que o aluno possa incrementar ações com precisão, qualidade e boa estruturação. Portanto, caro(a) aluno(a), perceba a grandiosidade do humano e a imensa responsabilidade em estudar o desenvolvimento e trabalhar com os alunos em estruturação. O sujeito humano precisa do organismo biológico como sustentação da sua subjetividade. Juntos, permitem que ele se constitua, se movimente, atue em relação com os outros semelhantes, crie, produza e se estruture definitivamente. Há uma maravilhosa engrenagem! Um ser é mais que corpo e mente! É o que faz de nós diferentes e iguais ao mesmo tempo. É com isso que você, futuro professor, trabalhará. Ajudando na construção de sujeitos plenos de potencialidades. FIM DA APRESENTAÇÃO GERAL. INÍCIO DA UNIDADE I INÍCIO DA FOLHA DE ABERTURA O UNIVERSO DA CRIANÇA Professora Especialista Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda Professora Doutora Mara Cecília Rafael Objetivos de Aprendizagem ● Entender o processo de estruturação do ser humano dentro da nossa cultura. ● Perceber a importância do Outro na estruturação da criança. ● Conhecer o desenvolvimento global da criança, e como o aspecto orgânico e psíquico se inter-relacionam. ● A relevante função da escola na estruturação da criança. Plano de Estudo ● Criança: que ser é este? ● O Desenvolvimento Infantil ● A escola e a criança ● Uma questão de Postura do Professor Psicomotricidade e Dificuldade de Aprendizagem – Um Olhar Além do Corpo FIM DA FOLHA DE ABERTURA. INÍCIO DA INTRODUÇÃO Pensar o desenvolvimento psicomotor é fazer prevenção de dificuldades do desenvolvimento. Desde que feito precocemente, isto é, desde bebê, o trabalho psicomotor pode nos dar pistas de uma estruturação saudável ou não da criança. Dessa forma, agindo como prevenção. O desenvolvimento não inicia se não houver condições sutis para isso. É necessário mais do que um organismo saudável para que o homem inicie seu longo processo de estruturação, de tornar-se sujeito. Sujeito subjetivado e rico de potencialidades. Ao nascer, o bebê não está pronto, mesmo nascido a termo, ainda precisará completar seu desenvolvimento. O que temos a princípio é apenas um grupo de órgãos funcionando. Para animar, para dar vida mesmo ao ser humano, é necessário mais do que biologia. Lançando o olhar sobre as várias teorias que explicam o ser humano, encontraremos a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a Psicanálise, a Medicina, a Pedagogia, e muitas outras. No trabalho com educação, devemos compreender o que cada uma dessas disciplinas dizem sobre o sujeito humano. Isso trará como consequência um entendimento mais competente do desenvolvimento infantil e assim um trabalho mais responsável com pessoas. Muitos professores sentem dificuldade ao se deparar com crianças com desenvolvimentos diferentes daqueles esperados. Percebem atrasos ou diferenças que resultam em problemas escolares. Poucos estudam o porquê das dificuldades no desenvolvimento de uma criança. Um dos motivos para problemas no desenvolvimento, pode ser o fato dela não ser bem recebida pela família, isto é, quando pelo menos um dos responsáveis pela criança, não se faz cargo realmente sobre aquele ser que nasceu. Vamos tentar iniciar então, esse interessante estudo que nos dará condições de trabalhar a corporeidade humana, certos de que estejamos minimamente instrumentalizados para dar conta daqueles que estão sob nossa responsabilidade nas aulas de psicomotricidade: nossos alunos! FIM DA INTRODUÇÃO. INÍCIO DO TÓPICO 1 A CRIANÇA: QUE SER É ESTE? Que enorme responsabilidade fazer parte de um projeto grandioso como o de estruturar um ser humano. Pela necessidade do trabalho das mães, as crianças chegam hoje ainda bebês na escola. Dessa forma, os professores, podem fazer a diferença na vida dos pequenos. Tudo que dirigimos aos bebês será estruturante, ou do contrário, desestruturante. Poderíamos de imediato pensar que a criança é um ser em construção, em estruturação. Essa estruturação não vai acontecer pela simples biologia. O biológico é importantíssimo, mas não garante toda a estruturaçãohumana. (WALLON, 1979). Então, a partir disso, estamos falando de algo não garantido “a priori”, ou seja, cada criança que nasce é um ser “prematuro” e dependente, ficando “à mercê” dos que a rodeiam. Dessa maneira, primeiro os pais, e depois todos os adultos envolvidos com a criança. Entre eles estão os professores. “Educar” faz parte de “ESTRUTURAR”. Educar, etimologicamente significa: sustentar, acompanhar, conduzir (Dicionário Etimológico, on-line)1. Uma primeira questão: Será que os adultos da vida das crianças sempre as sustentam, acompanham e conduzem? A educação está marcada pela dificuldade de aceitar as diferenças. Proust, vai dizer: “Talvez a imobilidade das coisas ao nosso redor lhes seja impossível pela nossa certeza de que tais coisas são elas mesmas, e não outras pela imobilidade do nosso pensamento em relação a ela” (PROUST, 2003, p. 544). Então, nossas crianças começam, desde muito cedo, a serem “enquadradas” num modelo fixado por nós ou por autores reconhecidos (reconhecidamente reducionistas) e toda forma diferente de existir passa a ser “patologia”. Ou seja, as crianças, muitas vezes não obedecem um “ padrão” no desenvolvimento. Por vezes, uns demoram um pouco mais a amadurecer, ou tem respostas mais ousadas, ou ainda necessitam um pouco mais de atenção do que outros. Cabe ao professor, perceber que sua relação com cada aluno será ímpar, única e descobrirá formas particulares de resolver os impasses do desenvolvimento infantil. Encaminhamentos desnecessários, começam a afetar os pais. Quando na verdade, as “formas” diferentes das crianças reagirem precisam ser entendidas como “discursos”, isto é, formas de dizer algo de si mesmo, e as explicações para essas questões, deveriam ser pesquisadas e observadas nos pais dessas crianças. É importante estarmos atentos ao estilo de cada família, que lugar a criança tem no contexto familiar, e se investem na criança como sujeito, ou como objeto a ser carregado de cá pra lá, o qual muitas vezes, os pais não percebem a expressão da sua criança. Os professores deverão se ocupar das crianças, entendendo que toda a atividade infantil deve respeitar o estilo das crianças e o nível de compreensão delas, além das suas condições gerais. Caso as crianças reajam a certas rotinas ou atividades, devemos nos preocupar em decifrar em que estamos errando. As crianças são sábias: sabem sobre amor, verdade, justiça etc. É dessa maneira que a Educação deve chegar até nossas crianças. Um modo humanizado de “sustentar” a possibilidade de “estruturar” um ser humano. Conduzindo-o às descobertas e às originais formas de se tornar sujeito. FIM DO TÓPICO 1. INÍCIO DO TÓPICO 2 O DESENVOLVIMENTO INFANTIL O desenvolvimento infantil está relacionado com a forma como os semelhantes se colocam e colocam a criança na vida. O modo como os pais falam do seu filho, as formas como o tocam, o olham, vão posicionando-o na família. Também vão mapeando o corpo, marcando as zonas erógenas, organizando as percepções e constituindo o modo de pertencer ao mundo. Então, toda a corporeidade do sujeito está relacionada ao Outro. O termo “outro” é utilizado pelo psicanalista francês Lacan (1964-1965), citado por Julieta Jerusalinsky (2002, p. 58) no Livro: Enquanto o futuro não vem - a psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês, se referindo à cultura e à civilização, na qual estamos incluídos e que também está incluído a mãe, como o Outro Primordial, como chama Lacan. Esse Outro Primordial nos dará acolhimento e iniciará nossa história vivida e construída pela família (LACAN, 1964 - 1965). “O conceito de Outro é introduzido por Lacan para defnir aquilo que é anterior ao sujeito e o determina em sua Constituição. Escreve-se com maiúscula para diferenciá-lo do semelhante (outro) ” (JERUSALINSKY, 2002, p. 58). As diferentes formas de lidar com as crianças fará diferença no sujeito que está se estruturando. Por exemplo: caso uma criança seja marcada pela superproteção, retira-se dela a capacidade de autonomia e segurança, que certamente afetará seu corpo, seu pensar, seu existir propriamente dito. Mas, se ao contrário, houver negligência por parte da família com os cuidados e proteção, teremos, também, um sujeito estruturado fora dos limites e regras, fora da organização que orienta e dirige o desenvolvimento. INÍCIO DA DESCRIÇÃO DA IMAGEM DESCRIÇÃO: Na figura acima temos a representação de Jacques-Marie Émile Lacan. A imagem é um desenho em que representa o esboço do rosto de Jacques, ele é feito em preto e branco. FIM DA DESCRIÇÃO DA IMAGEM. É verdade que toda a relação humana afeta positiva ou negativamente o semelhante. Então, a subjetividade do professor e do aluno estarão em jogo na escola. As angústias que atravessam o processo de educação (aluno x professor), deverão estar controladas no professor, para evitar a desorganização psíquica do aluno. Ou seja, o professor deverá ser um adulto suficientemente estruturado e assim promover o respeito mútuo. Este é outro fator decisivo para o bom desenvolvimento infantil na escola. O professor sempre deverá ser uma referência simbólica para a criança, por isso, devemos saber quem é a criança que ali está? Qual sua história, seus desejos, sua imagem inconsciente? Nossas técnicas atendem aos alunos ou a nós mesmos? Somos sensíveis às questões da infância? Temos postura de acolhimento, respeito e humildade para com os alunos? O professor tem uma tarefa muito nobre junto aos alunos. Deverá respeitar as diferenças, pois estas não são divergências. Também deverá ter autoridade que sempre protege e acalma a criança, pois as leis de convivência ficarão garantidas, isto é, estamos protegidos pelos hábitos e costumes da cultura, e todos nós cerceados de certos impulsos primitivos, pois estamos submetidos a cultura. O professor é um representante da cultura. Assim, deverá estar o mais livre possível de preconceitos e generalizações. Escutar profundamente todos, mas principalmente seus alunos. Na infância, temos todas as possibilidades, portanto, ainda há tempo de afetarmos e até mudarmos o destino de alguém. As crianças só precisam de apoio, de sustentação subjetiva, ou seja, sustentação psíquica, ser reconhecido como sujeito, como pessoa, valorizado e de condução no caminho da fraternidade e do bem coletivo, de uma civilização melhor, mais justa e humanitária. FIM DO TÓPICO 2. INÍCIO DO TÓPICO 3 A ESCOLA E A CRIANÇA Aceitar o estilo de crescer e se estruturar de cada criança colabora para a construção de laços. E são esses laços que nos colocarão na cultura, garantindo a pertença familiar, depois escolar e por último social. Toda a criança hoje, é escolar, diferente de épocas passadas, a escola faz parte do início fundamental do ser em sociedade (JERUSALINSKY 2002). Nesse sentido, a escola, também, deverá ter formas de colaborar com os pais, auxiliando-os a fazer emergir o sujeito de cada criança e respeitando a singularidade subjetiva de cada um. As aprendizagens são derivadas de vivências precoces das crianças em suas famílias. Aprendemos desde que nascemos. Toda e qualquer palavra, toque, olhar dirigido ao bebê, escreve nele algo da cultura familiar e social. Vivenciamos corporalmente as primeiras marcas e isso é “matéria-prima” para nossas futuras descobertas, aprendizagens, transformadas depois em abstrações inteligentes. Somos afetados pelo meio desde sempre, e todos os adultos que convivem com a criança, farão parte de sua estruturação global (biológica, psíquica, social). Nas crianças com diagnóstico de dificuldade psicomotora ou de aprendizagem, muitas vezes não encontramos nenhum componente neurológico e/ou orgânico. Então do que se trata? Algo do psíquico, fazendo obstáculos ao psicomotor e ao cognitivo. E porque é tão comum tal sintoma? Para atingir o “alvo”:o Outro. O sintoma está dirigido ao Outro. Esse Outro é principalmente os que exercem funções importantes para uma criança. Quais sejam: pais e mães. Dizer “pais” e “mães” propõe diferenças entre um e outro, função materna diferente de função paterna. Cada um responsável por aspectos específicos na constituição psíquica do sujeito e os dois permitindo a sustentação simbólica que possibilita o aprender. O “alvo” do sintoma se refere a encontrar eco naqueles que são a sustentação simbólica. A mensagem é para eles. Então, é preciso atentar o quanto os impasses das relações constroem problemas ou dificuldades no aprendizado. Antes de pensarmos como se organiza o psicomotor e o pedagógico nas crianças, é preciso saber que a construção psíquica (a forma com que foi gerado, recebido, cuidado, o lugar dela na família, o clima afetivo) o determina. Caso não haja sustentação simbólica mínima, o aprendizado não terá como pertencer a um SUJEITO. Sujeito no sentido de “ser da linguagem”, “do Inconsciente”, tal como nos propõe Freud (1938): “as vivências e os conflitos infantis desempenham um papel insuspeitavelmente importante na evolução do indivíduo e deixam disposições que não se apagam na vida adulta”. Essas vivências, são sinônimos de marcas simbólicas que “fabricam” modos de ser sujeito. Que posição ocupa a criança na história familiar? Qual o papel da criança nessa família? Como pensam e projetam a vida do filho? Questões que fazem parte da estruturação do sujeito psíquico. Isso “fabrica” um sujeito. INÍCIO DO SAIBA MAIS A psicanálise analisa o sujeito psíquico, o sujeito que atribui significado a seu corpo e seus órgãos, e possui uma relação de dependência a respeito de si, pois todas as funções dependem do sujeito. Nesse sentido, Freud coloca sobre o nascimento orgânico do nascimento psíquico, ao qual tem seu início desde a fase intra-uterina. É na capacidade de antecipação (altamente abstrata) do papel daquele que nascerá, que a família (especificamente a mãe) dá início ao processo de constituição do sujeito. Um bebê humano se torna humano ao relacionar-se com seus pares e com a linguagem. Nomear, é manter um controle psíquico, sobre aquilo que se nomeia. Fonte: Lima ([2017], on-line)3. FIM DO SAIBA MAIS. As dificuldades de existir já estão na criança quando ela chega à escola. Na relação com os professores algumas dificuldades poderão se agravar, visto que somos o que foi possível na relação com o Outro. Se não tem um lugar de importância para o Outro (pais/cultura), provavelmente também não terá junto aos professores, que agora são os representantes dos pais. Aqui proponho um giro de 180º para que os professores possam, alertados por questões teóricas a respeito das constituição psíquica da criança, retirar do lugar vazio ou depreciado que as crianças tenham junto à família, para possibilitar “algum” lugar na escola. Escola, que é lugar de resgate dos sujeitos, lugar de convívio, lugar de sublimações. Palavra-chave para se reposicionar um sujeito e transformar uma ausência do desejo, em desejo. Na escola, sempre deveria ser possível elevar o sujeito humano, mesmo aqueles esquecidos, desvalorizados. Principalmente com as crianças bem pequenas, que frequentam a Educação Infantil. Quanto mais cedo uma intervenção adequada, mais chances de organizar uma vida. A escola que desejamos é a Escola que não segrega, que não exclui, que não deixa escapar aquelas crianças que não fazem parte da camada exitosa e sem problemas. É preciso abandonar o “furor docente”, citado por Jerusalinsky, “A psicanálise e o desenvolvimento infantil” (JERUSALINSKY, 2002, p. 61), quer dizer, furor de ensinar tudo, o tempo todo. Que também fez fracassar Jean Itard, discípulo de Pinel, o médico que tentou ensinar hábitos humanos a Victor de Aveyron – o menino lobo, encontrado em 1800, num bosque da França (JERUSALINSKY, 2010). Os únicos sinais interessantes, mais humanizados, que Victor demonstrou vieram da sua relação com a babá que não se preocupou em ensinar, mas em viver com ele. Adestramento, não resgata o sujeito. O submete, o enquadra, o configura como mero objeto e não como sujeito. Maud Mannoni em sua obra “Educação Impossível” (1977), diz do fracasso da Pedagogia para todas as crianças do mundo contemporâneo, o que explica para ela, o enorme número de crianças com problemas de aprendizagem entre outros problemas que temos na escola hoje. “[...] A pedagogia oscila, nesse caso, entre as ideias de liberdade herdadas do século XIX e os princípios de disciplina decorrentes da tradição religiosa” (MANNONI, 1988, p. 33-34). Tanto a escola como a família utilizam de métodos pedagógicos que seduzem e ao mesmo tempo punem as crianças, assumem uma forma sutil de violência psíquica. Se tomarmos os fundamentos da Psicanálise, saberemos que não se trata de fazermos uma Educação Psicanalítica, mas devemos possibilitar um lugar especial para cada criança. Que significa vê-la como sujeito apesar de não ser quietinha, apesar de não aprender com facilidade, apesar de ser agressiva, apesar de se angustiar e “perder a cabeça”, gritar. A criança que demonstra sinais de problemas escolares está às margens da loucura. Um sofrimento enorme as habita e elas “gritam” por socorro. Quem poderá ouvi-las? Aqueles que são sensíveis à causa humana, que não se perdem enquadrando o “certo” e “errado”, mas lutam para salvar crianças do desatino dos adultos. Não se trata apenas de criticar a educação que mais “aliena”, no sentido marxista do termo1, que ensina. O que podemos pensar é que o ato educativo poderá ser, inclusive terapêutico, se der um lugar ao sujeito, e não tentar adestrá- lo, ou desrespeitá-lo “pelo bem” da educação. Talvez muitos não percebam seu talento como adestrador. Corrigem, inibem, punem, sem observar que ali, naquele aluno, existe um sujeito que é efeito de seus tutelares. Devemos cuidar dos tutelares também? Sim. Propomos que respeito, solidariedade, sensibilidade, sejam palavras aceitas para colaborar com estes 1 A alienação fez parte dos conceitos desenvolvidos por Marx, ao analisar as transformações sociais ocorridas ao longo da história, sobretudo a partir da formulação do método do materialismo histórico. A atividade dos alunos na escola, portanto, é uma relação que expressa a atividade na sociedade. Os alunos são categorizados ao se ter uma referência idealizada de aluno: interesse, disciplina, capacidade, inteligência. Fonte: as autoras. que também se beneficiariam da escola, e, com isso, aliviariam seus filhos de tensões e angústias avassaladoras. INÍCIO DO REFLITA Aqui cabe refletir porque atacamos tanto aqueles que já “desvalorizados” não sabem “pedir com educação”? Como ajudá-los a voltar ao caminho dos “educados e felizes”? FIM DO REFLITA. Quando Freud, em 1925, no texto “A negação” afirma que: – “Nossas melhores virtudes nasceram sobre o húmus de nossas piores disposições (pulsões)”, quer dizer que todos nós temos um conteúdo primitivo que foi civilizado. Se a escola possibilita o laço social, das crianças e também de seus pais, colabora na inscrição simbólica do sujeito, que lhe dá condições de convívio social. Entram aí conceitos ligados à estruturação do sujeito que inclui sexualidade e conhecimento. Freud sempre se ocupou em explicar como o homem desejando “saber” sobre seu próprio desejo, sua existência, se referia às questões sexuais, levando-o ao saber científico. Germe do saber, que reprimindo sua verdadeira origem, dá lugar às investigações científicas. Por isso, Octave Mannoni (antropólogo, filósofo e psicanalista francês) afirma que a inteligência se faz com restos da sexualidade. As crianças, apesar de tudo, seguem lutando por um lugar no Outro, um lugar em seus pais. Podemos contribuir paraque elas encontrem esse lugar. Podemos “cavar com picareta”, “garimpar” esse lugar e assim possibilitar aprendizagem e mesmo para aqueles que não venham a aprender, dar algum lugar de valorização. Ter um lugar importante, apesar de tudo. Na Educação Psicomotora, não é diferente. Muitas crianças com problemas psicomotoras são excluídas, negligenciadas, quando na verdade, podem ter muitas condições cognitivas, camufladas sob seu aspecto físico. FIM DO TÓPICO 3. INÍCIO DO TÓPICO 4 4. UMA QUESTÃO DE POSTURA DO PROFESSOR A postura subjetiva do professor afeta a relação com aluno. Tudo é percebido pela criança, colaborando ou atrapalhando o seu desenvolvimento. Como o professor se refere aos alunos, como ele fala, como ele olha, como ele resolve as situações, como ele pensa infância e a educação, como os protege, como os expõe etc. Os alunos não são especialistas da área, mas sabem sobre isso pela intuição que têm e pelas sensações provocadas pelas relações com professor e colegas. Antes de sermos adultos, seres burocráticos, somos crianças e temos nossa forma original de sentir as pessoas. Mesmo os bebês sentem as pessoas e os ambientes. Desenvolver qualidades fraternas e solidárias à causa Infantil é fundamental para o professor. Essa postura subjetiva do professor se diferencia de uma que há tempos atrás existia entre o professor e seus alunos. A autoridade e a sabedoria andam juntas. O bom humor e a gentileza facilitam as relações. Assim as crianças terão motivo para ouvir o professor. Suas qualidades humanizadas, colaboram para a formação do aluno que poderá se identificar com o professor. Portanto, valorizar o não palpável, o subjetivo, o invisível, trarão melhores condições para o trabalho do professor. Ampliando sua visão do sujeito humano, ampliará também sua visão do sujeito cognitivo (SILVA, SILVA e LEAL 2014). Uma postura que impulsiona os alunos a superarem limites, a explorarem os espaços, descobrirem formas de agir em grupo, a se relacionarem com cooperação, transformará nossa sociedade. A cada ação gentil e incentivadora, como por irradiação, produzirá ambientes mais calmos e humanizados, retirando, assim, do convívio formas violentas e descompromissadas com o próximo, egoístas e individualistas. O bem-estar de todos, nos dão chances de crescer em comunhão com valores fraternos e assim perceber o outro semelhante na sua essência, garantindo que todos envolvidos no processo escolar e social sejam valorizados. Utopia necessária, quando estamos engajados na construção de um mundo moderno, mas não frio ou mecânico. As primeiras relações com os pais são determinantes, e as primeiras relações com os professores são fundamentais para nossas identificações sociais. Temos, portanto, imensa responsabilidade social quando estamos diante dos alunos. Nossa pequena parcela, somada a outras, fará a diferença no clima e na atmosfera psíquica da escola e do mundo, sendo otimistas e acreditando que somos parte dessa imensa engrenagem chamada humanidade. Até mesmo o marketing, área envolvida em como vender um produto ou serviço, sabe disso. Não será a educação que ficará fora dessa maneira inteligente de fazer sua práxis. FIM DO TÓPICO 4. INÍCIO DO TÓPICO 5 5. PSICOMOTRICIDADE E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM – UM OLHAR ALÉM DO CORPO Porque algumas crianças enlouquecem seus professores? Onde isso tudo teve início? Certamente é anterior à escolaridade. Vejamos onde se localizam os primeiros “nós” que podem entravar o desenvolvimento da criança que, uma vez afetada em seu psique, trarão consequências corporais e vice- versa. Quando estamos ao lado de uma criança com transtornos psicomotores (dificuldade no movimento, agitação, falta de concentração, apatia etc.), o que mais nos chama a atenção é como o corpo da criança se mostra, ou como ele se deixa ver. Geralmente são “corpos” extremamente visíveis. Salta aos olhos de qualquer um esse corpo descoordenado, desequilibrado, agitado. É aqui, que precisamos ver além do corpo. Corpo que se faz presente demais, que disfarça ou camufla sofrimentos que geraram tal desarmonia no sujeito. E isso tem causas diversas. Normalmente, crianças com tais sintomas acabam por serem maltratadas por causar muita confusão nos ambientes que frequentam e são chamadas comumente de “bagunceiras”, “desordeiras”, “malandras”, “desobedientes” etc. Raramente o adulto envolvido com essa criança faz outra leitura da condição da criança. Esses adjetivos poderiam ser substituídos por: “abandonada”, “vítima”, “não compreendida”, “sofredora”, “superexigida”, “superprotegida”, “não acolhida” etc. Adjetivos que falariam da responsabilidade e da falha do adulto para com essas crianças (MENEZES, 1998, on-line)4. O adulto geralmente não se coloca em outro ângulo para ver a criança, justamente por ter responsabilidade sobre esses sintomas, e inconscientemente sabe disso, embora se esforce para não saber. É provável que os adultos amem suas crianças, mas só o amor não basta para estruturar uma pessoa. É preciso envolvimento, investimento psíquico, acolhimento, aceitação, sensibilidade, olhar e escuta especial. É necessário levar em conta o estilo de cada criança; não exagerar nas exigências; dar chance à criança de errar, acertar, falar; organizar sua rotina com regras e respeito. Esses são aspectos que auxiliam no desenvolvimento infantil. Às vezes, as pessoas não incluem suas crianças nas escolhas da família como: passeios, férias de verão, responsabilidades, decisões, opiniões e isso as torna excluídas de sua própria família e alheia a sua realidade. Outras vezes são dadas às crianças total liberdade de decisão e escolha, o que também não é adequado para essa idade, porque as crianças não têm condições de se auto gerenciarem, fazendo deles “pequenos reis”, aterrorizando seus súditos (os pais). Os laços estabelecidos entre a criança e seus pais desde o nascimento, farão sentir agora que ela já fala, caminha, escolhe, opina. Mas, se esses laços não se estabeleceram adequadamente, a relação começará a demonstrar seus problemas. É quando se nota que tudo se transforma em conflito com o filho e seus pais, e posteriormente com os professores. Vejamos como sutilezas subjetivas, determinarão problemas nos relacionamentos futuros da criança (babás, coleguinhas, familiares, professores, e mais tarde chefe, cônjuge, filhos). A primeira relação significante que uma criança tem é com aquele que lhe cuida, geralmente a mãe. É nessa relação, relação primordial, que se construirão todas as outras relações e percepções que propiciarão o desenvolvimento harmônico. Muitas vezes, esse laço no início da vida das crianças acontece de forma desastrosa, não adequada ou na pior das hipóteses não acontece. Dessa forma, teremos a origem de transtornos psicomotores. O corpo não se organiza quando o fio condutor de toda a relação estiver frágil ou partido. A mensagem dos pais chega até a criança, mas de forma tênue ou defeituosa. Assim, o laço do outro com a criança se mostrará insuficiente. Somos todos apenas semelhantes entre nós, com pequenas diferenças que nos marcarão como sujeitos, cada um com seu estilo e peculiaridade. É no corpo que as dificuldades psíquicas mostrarão seus efeitos. Muitas crianças mostram atraso no desenvolvimento sem estarem afetadas por nenhuma patologia orgânica, e sim por dificuldades no laço com seus pais, que neste momento não dão conta de sustentar psiquicamente seu rebento. Sustentar a criança enquanto pequena é muito importante para a sua estruturação global. Sustentar no sentido simbólico, dar conta de estruturar o que futuramente terá condições de se estruturar sozinho, mas que por enquanto é frágil e indefeso demais. É emprestar-se a criança como continente e que lhe dê proteção e segurança. E sustentar no real é cuidar da sobrevivênciado bebê, da alimentação, da higiene, de proteger das intempéries etc.; porque no início da vida, a pele, assim como os outros sentidos, são de fundamental importância. Por essas vias que os bebês decodificam todos os estímulos que chegam do ambiente, e todas as sensações são resumidas em duas; dor ou prazer. Dependendo disso o seu bem estar. A frase de Jacques Lacan “o bebê é no Outro”, trata dessas questões. A dose de como organizar a vida de uma criança se torna então, uma dúvida constante, entremeada por certezas momentâneas. É essa dúvida que abre na criança a possibilidade de “ser”. Quando o outro primordial (a mãe) vacila, diminui a sua certeza, consequentemente, o pequeno ser poderá se mostrar e se apossar do seu jeito. Características como ser mais chorão, menos guloso, mais calmo, mais alerta, mais tranquilo etc., é que vão tornar única essa criança, que há poucos dias era apenas uma hipótese no imaginário dos pais. É a própria criança que mostrará aos adultos que lhe rodeiam como deverão cuidar dela. Quando insistimos em não notar o que as crianças nos mostram, teremos o início dos transtornos e das psicopatologias. Na escola, muitas vezes, essas crianças não serão ouvidas, não serão percebidas, não serão valorizadas. Chegarão carregando suas formas peculiares e às vezes desastrosas de relação. Muitas vezes é o contrário, o que chega na escola são crianças hiperexigidas, hiperesperadas, hiperautoritárias, hiperterroristas. Logo, também, se percebe a maneira como foram construídas, no qual, talvez, o objetivo número um seria que a criança fosse melhor que todas, para que os pais fossem, assim, melhores também na opinião das demais pessoas do círculo de convivência. Onde não pode ser feito um projeto adequado, um pedido possível, um investimento razoável, aparecerão crianças fora do comum; que não param, que não ouvem, que não respeitam, que não tem afeto, que não se sente valorizada, e que exigem que alguém lhes ajudem a organizar um projeto possível para elas. Aqui o professor e o terapeuta poderão colaborar, adequando com os pais, uma nova posição para a criança que sofre muito e apresenta sintomas. Nova posição significa adequar sentimentos e atitudes para com a criança. Por exemplo: uma criança que é tratada como bebê, está mal posicionada em sua família. Ou uma criança que tem a função de salvar um casamento ou coisa parecida, tem uma função impossível para ela. É preciso retirá-la desse lugar em intervenção terapêutica junto aos seus pais. As crianças que causam dificuldades na escola, que enlouquecem professores e funcionários, estão gritando por ajuda. Seu mal-estar não permite que ela se mostre tranquila, aprendendo, brincando, criando, como as outras crianças. A posição que lhe cabe, e que lhe coube até então, mostra uma inadequação que causa uma tremenda dor psíquica, fazendo com que ela se agite ou se deprima, se angustie e assim não aprenda, não acredite que possa arcar com suas responsabilidades, e, assim, não reaja frente aos deveres escolares. Acreditam que não gostam delas e por isso batem nestes que pensam não lhes aceitam, não lhes amam. O professor tem a tarefa de ver a criança além do sintoma e abrir um canal de escuta, ter um olhar que “fisgue” a criança e que faça com que ela se sinta importante e que esteja incluída na preocupação da professora, dessa forma poderá fazer algo interessante para ela (representante dos pais). Quando conseguimos “fisgar” essa criança, é porque fomos suficientemente sensíveis e acolhedores. As crianças com sintomas começam a se desarmar, a ouvir o outro e a tentar responder a essa demanda de amor. Isso pode ressignificar tantas marcas intoleráveis até então. Por isso, o professor tem o que fazer! Não angustiar-se vendo como impossível essa tarefa, e contar com a assessoria de profissionais de outras áreas, poderá colaborar enormemente para a melhor condução dessa problemática escolar. FIM DO TÓPICO 5. FIM DA UNIDADE I. INÍCIO DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta primeira unidade do livro, vimos alguns aspectos muito relevantes para a prática docente de uma forma geral. Saber compreender os alunos, motivá-los, e colaborar com seu desenvolvimento, é uma tarefa importante. As leituras e aprendizados feitos até aqui deverão ser ampliados. Sempre é necessário, para conhecermos bem um determinado tema, que busquemos outros autores que falem de outras formas, e, assim, formularmos nossas próprias convicções. Mas sempre baseados em autores respeitados, que já desenvolveram bem o assunto, e permitam sua compreensão. Caso não façamos com cuidado e rigor nossa formação, corremos o risco de identificarmos apenas alguns pontos superficiais das questões e não conheceremos com a profundidade necessária para termos condições de avaliar e concluir melhor. A intenção dessa unidade foi mostrar o quanto as subjetividades comparecem no trabalho do professor. A do próprio aluno, do professor, das famílias e social de uma forma ampliada. Isso será a base para compreender os demais aspectos do desenvolvimento psicomotor. É necessário ter conhecimento sobre a criança, seu desenvolvimento, a escola, a postura do professor, para então, podermos seguir adiante estudando sobre a história da psicomotricidade, autores relevantes, o desenvolvimento psicomotor, as atividades práticas, o brincar, os problemas psicomotores e finalmente a avaliação psicomotora. FIM DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS. INÍCIO DA LEITURA COMPLEMENTAR O EIXO DO CORPO Esteban Levin A temática do eixo corporal nas crianças pequenas remete-nos diretamente a interrogar-nos sobre o papel da postura e da representação no desenvolvimento psicomotor de um sujeito. Acreditamos que a primeira postura, o primeiro eixo corporal, organiza-se e delimita-se a partir do toque e da postura do Outro materno. É nessa cena de diálogo tônico-gestual e corporal que o recém-nascido sustentará não apenas seu corpo, mas também sua imagem. Nesse cenário simbólico, os movimentos arcaicos do bebê serão tomados como gestos, o amamentar será tomado como um ato de amor, o grito será transformado em chamado e a gestualidade reflexa se configurará como um dizer. Nessa verdadeira metamorfose corporal e gestual, o eixo corporal começará a funcionar como representação e como lugar em que se instala o desejo do Outro. A ideia de eixo corporal remete-nos ao que se perguntava Diderot no século XVIII: "se lhe perguntamos o que é um corpo, você responderá que é uma substância, um volume impenetrável, figurado, colorido e móvel. Mas separe desta definição todos os adjetivos. O que restará para este ser imaginado que você chama de substância?" O eixo do corpo é um polo integrador das funções cinestésicas e labirínticas, que ordena o corpo ao promover o equilíbrio em relação à posição postural, espacial e temporal. A sensibilidade cinestésica reflete a posição do corpo em relação à força da gravidade. O que marca a importância dessa sensibilidade na orientação e no equilíbrio do corpo no espaço. O sentido cinestésico do equilíbrio postural (sensações correspondentes aos músculos, às articulações e aos tendões) junto com o órgão do equilíbrio localizado no ouvido interno determinam o modelo neuromotor da orientação e do equilíbrio corporal, dando lugar à função do eixo. O eixo do corpo em sua função de receptáculo (parafraseando Jean Bergès) transforma-se em um operador fundamental para o desenvolvimento psicomotor e para sua constituição subjetiva. Nas crianças pequenas, o efeito de apaziguamento gerado pelos movimentos de embalar e movimentar que o Outro realiza acompanhado pela sua voz (canção de ninar) abre o caminho para o que inteligentemente Dupré chamou de "o lado negativo da motricidade" (o relaxamento). O ritmo do impulso motor é delimitado por um estado de contração muscular (o ladopositivo da motricidade) e um estado de distensão (o lado negativo da motricidade); entre essas variações tônicas motoras e suas referências posturais (em especial, em relação com o eixo corporal) oscila a motricidade de um sujeito. Desse ponto de vista, o lado "negativo" da motricidade não é a passividade, mas o que nomeia a síncopa, o silêncio necessário para que o movimento se organize em um ato gestual. Tanto os estados de tensão permanente (as paratonias) como os estados de hipotonia generalizada situam a impossibilidade do desdobramento psicomotor, especificamente no concernente ao ritmo do impulso motor necessário para o "exercício" de seu funcionamento e do fazer significante. As crianças com sintomatologia psicomotora nos "fazem ver" a queda, o desmoronamento do eixo corporal, dramatizado em sua desorientação espacial sem limites representativos nos quais sustentar-se para situar-se e diferenciar- se. Em parte, esta é a demanda que a criança enuncia nesse singular "fazer-se ver" na relação com o olhar do Outro. O impulso motor desprende-se da postura. A partir disso, o eixo do corpo se configurará como a "coluna vertebral" do postural. Esse primeiro eixo corpóreo é ritmado pelas presenças e ausências que o Outro materno demarca em seus cuidados periódicos, nas trocas e giros posturais que realiza com o recém-nascido, nos jogos e imitações corporais, no manejo do corpo. Tudo isso produz como efeito sensações cinestésicas e labirínticas que se incorporam e ressoam no bebê como uma primeira musicalidade estética, um ritmo que marcará o encontro-desencontro com o Outro. O impulso motor de um sujeito, em seu correspondente tônico, responderá a esse ritmo "estético" delimitado pelas presenças e ausências, abrindo o caminho à representação, que, desse modo, ficará ligada ao eixo do corpo em sua função de receptáculo do toque, do dizer e do movimento que o Outro imprime no corpo. Nesse sentido, o ritmo periódico e melódico (limitado pelo lado negativo, silencioso da motricidade) do movimento corporal tem uma "sonoridade" musical que institui um tempo: o tempo orientador no encontro com o Outro que marcará o impulso motor do infans e, por que não?, sua temporalidade. O domínio da motricidade estrutura-se, em grande medida, a partir desse laço com o Outro que transforma o movimento em gesto e em imagens lúdicas. O sistema motor fica assim limitado pela dimensão psíquica que constitui a direcionalidade e a orientação do sistema. Daí o psicomotor. Fonte: Levin (2000, on-line)5. FIM DA LEITURA COMPLEMENTAR. INÍCIO DAS ATIVIDADES DE ESTUDO 1. Para Jerusalinsky (1999, p. 28) “o desenvolvimento de um bebê humano não opera por simples automatismos biológicos”. Nesta afirmação, a autora está afirmando que: a) O desenvolvimento do bebê segue de forma cronológica com base na biologia. b) O desenvolvimento do bebê está relacionado com o tônus musculares, sua estrutura física. c) O desenvolvimento do bebê envolve a linguagem, sua constituição psíquica para além da questão apenas biológica. d) O desenvolvimento do bebê possui uma cronologia evolutiva determinada na biologia. e) O desenvolvimento do bebê é dinâmico e depende de sua constituição física apenas. 2. A constituição da criança, no seu desenvolvimento, envolve uma série de laços reais, imaginários e simbólicos que fazem parte da organização do seu psiquismo. Nesse sentido, a organização psíquica envolve: I – a realidade familiar e especialmente a vivência subjetiva. II – a simbolização, que é uma atividade de representação, na organização dos conteúdos psíquicos. III – a organização psíquica é fruto também do social, pois é pelo social que se aprende a cultura e se insere no sistema simbólico da linguagem IV – os laços simbólicos, fruto da relação com os tutelares. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Todas as alternativas estão corretas. 3. Lacan pretendia dar conta da relação do homem com tudo que o determina, assim estabeleceu diversos conceitos como o conceito de Outro, que significa: a) apenas a figura do pai e da mãe. b) pessoas do nosso convívio e a própria cultura. c) pessoas as quais nos relacionamos. d) a mãe, que é a pessoa mais próxima da criança. e) as pessoas do convívio escolar. 4. Você, querido(a) aluno(a), que está iniciando os estudos sobre o desenvolvimento psicomotor, cabe um questionamento para seu autoconhecimento: o que determinou e determina quem você é? 5. Na turma de um professor do ensino fundamental tem uma criança que é constantemente rotulada por seus pares como: bagunceiras, hiperativa, agitada e com dificuldade de atenção. Acerca do papel do professor, diante de estratégias que visam a inclusão do aluno, avalie as afirmações a seguir. I. O professor deve encaminhar esse aluno a uma turma especial com alunos que apresentem as mesmas dificuldades. II. O professor deve elaborar atividades para que o aluno participe e se envolva com a turma. III. O professor necessita olhar para o aluno além dos sintomas que ele apresenta, para acolher o aluno. IV. O professor necessita humanizar a relação com o aluno e do aluno com a turma. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas IV está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. Todas as alternativas estão corretas. FIM DAS ATIVIDADES DE ESTUDO. INÍCIO DO MATERIAL COMPLEMENTAR – LIVRO Título: A Infância Em Cena Autor: Esteban Levin Editora: Vozes Ano: 2002 Sinopse: que influência tem a estrutura e o desenvolvimento psicomotor para o desenvolvimento da criança? A formação - construção, desenvolvimento, amadurecimento e crescimento - do corpo e do corpo subjetivado são determinadas por uma infinidade de atividades como desejar, agarrar, engatinhar, balbuciar etc. O livro detém sua análise a essa fase como um todo, a qual começa a estruturar-se o universo simbólico e o sujeito. O autor apresenta caminhos inexplorados no campo da infância, na interrogação acerca do sujeito e do seu corpo. FIM DO MATERIAL COMPLEMENTAR - LIVRO. INÍCIO DO MATERIAL COMPLEMENTAR – FILME Título: COMO ESTRELAS NA TERRA Ano: 2007 Direção: Aamir Khan Elenco: Aamir Khan, Darsheel Safary, Tisca Chopra País: Índia Sinopse: O jovem Ishaan tem muita dificuldade para se concentrar nos estudos, e mal consegue escrever o alfabeto. Depois de diversas reclamações da escola, o pai, que acredita que Ishaan não faz as tarefas por falta de compromisso, decide levá-lo a um internato, o que leva o menino a entrar em depressão. Mas, um professor substituto de artes, Nikumbh, logo percebe o problema de Ishaan, e entra em ação com seu plano para devolver nele a vontade de aprender e, sobretudo, viver. FIM DO MATERIAL COMPLEMENTAR - FILME. INÍCIO DO MATERIAL COMPLEMENTAR – WEB No site Criança e Natureza você terá sugestões de como envolver a criança no ambiente natural e potencializar suas experiências por meio do brincar livre e exploratório. Acesse o link: <http://criancaenatureza.org.br/>. FIM DO MATERIAL COMPLEMENTAR - WEB. INÍCIO DAS REFERÊNCIAS Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira, com comentários e notas de James Strachey. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Edição de 2006. Volume XIX, “O ego e o id e outros trabalhos (1923-1925), p. 261-269. ______. Esboço de psicanálise, 1940. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. JERUSALINSK, J. Enquanto o futuro não vem: A psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma, 2002. JERUSALINSK, A. N. Psicopatologia dos bebês: entre as neurociências e a psicanálise.In D.C. Barbosa & E. Parlato-Oliveira (Orgs.). Psicanálise e clínica com bebês: sintoma, tratamento e interdisciplina na primeira infância (p. 23-32). São Paulo: Ed. Instituto Langage, 2010. LACAN, J. (1964- 1965). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Versão brasileira de M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979. MANNONI, Maud. Educação impossível. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. MIRANDA, Maria Gorethe. Psicanálise e Educação: o que revela um sintoma na aprendizagem? MARINGÁ. Revista Maringá Ensina. SEDUC, ago./set./out. 2011, n.20, p. 44-47. MILLOT, Catherine. Freud antipedagogo. Rio de Janeiro: Zahar, 1987. PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido - Do lado de Swan. Relógio D’água, Lisboa, 2003. Tradução: Pedro Tamen. SILVA M. A.A.; SILVA, L.B. da; LEAL, A.L.G. A importância da Relação Humanizada professor-aluno para a superação das dificuldades de Aprendizagem. II Encontro Internacional de Educação e Espiritualidade. Recife, 2014. WALLON, Henri. Psicologia e educação da criança. Lisboa: Veiga, 1979. FIM DAS REFERÊNCIAS. INÍCIO DAS REFERÊNCIAS – WEB 1Em: <www.dicionarioetimologico.com.br>. Acesso em: 11 mai. 2017. 2Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Lacan>. Acesso em: 11 mai. 2017. 3Em: < http://www.profala.com/artpsico41.htm>. Acesso em: 11 mai. 2017. 4Em: <https://www.researchgate.net/publication/48928933_Dimensoes_psiquicas_e_ sociais_da_crianca_e_do_adolescente_em_situacao_de_rua>. Acesso em: 11 mai. 2017. 5Em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 71282000000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 mai. 2017. FIM DAS REFERÊNCIAS - WEB. INÍCIO DO GABARITO 1. C 2. E 3. B 4. R: Você poder ter respondido: um conjunto de experiências vividas, seu relacionamento com sua mãe, pai e familiares e também a cultura de forma geral, mas cada um tem uma história única e especial na qual determinou quem você é hoje. 5. D FIM DO GABARITO. INÍCIO DA UNIDADE II INÍCIO DA FOLHA DE ABERTURA O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR Professora Especialista Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda Professora Doutora Mara Cecília Rafael Objetivos de Aprendizagem ● Compreender a importância do brincar na estruturação da criança. ● Valorizar o brincar infantil como instrumento pedagógico. ● Perceber a fundamental ligação entre orgânico e subjetivo, que une a biologia e psiquismo. Plano de Estudo ● Biologia e subjetividade humana ● O Brincar: principal ferramenta da infância FIM DA FOLHA DE ABERTURA. INÍCIO DA INTRODUÇÃO Nesta unidade estudaremos sobre a importante aliança entre o biológico e a subjetividade humana. Veremos como o brincar é fundamental na infância e como a criança se coloca no mundo por meio desta atividade, organizando sua relação interpessoal e sua aprendizagem. A mãe, o outro primordial, inaugura a criança no campo do brincar, colaborando para a independência psíquica do bebê. As variadas formas do brincar, servem como ferramenta para a estruturação psíquica, favorecendo o psicomotor e o cognitivo. O brincar colabora na estruturação corporal impulsionando o Desenvolvimento Psicomotor. Nenhuma dificuldade existirá para a criança diante do entusiasmo de descobrir, de construir e realizar seus intentos quando está motivada pelo brincar. É verdade que houve uma grande modificação na infância e no brincar ao longo da história, mas este continua sendo primordial na infância. Na escola devemos reservar cuidadosamente os espaços para o brincar, valorizar e respeitar esta importante atividade infantil. Também poderemos compreender o quanto o brincar é organizador do sujeito, trazendo formas civilizadas e ordenadas de convivência, sendo uma forma de diminuir a indisciplina na escola e na vida. O excesso de intelectualismo, isto é, a insistência em tornar as crianças precocemente intelectualizadas, muitas vezes, impede o brincar nas escolas, em tempo que o brincar ainda serviria muito na formação de nossas crianças. É preciso que os professores as incentivem, e saibam que essa fase não termina com a alfabetização dos alunos. Pelo contrário, vai até o final da infância e início da adolescência, quando, então, o brincar será substituído pela atividade mais intelectualizada. Mas em cada um de nós, reside ainda a criança que amou brincar. Com ela, permaneceremos para favorecer o brincar de todas as crianças que convivemos, sejam alunos, filhos, ou amigos. FIM DA INTRODUÇÃO. INÍCIO DO TÓPICO 1 1. BIOLOGIA E SUBJETIVIDADE HUMANA Os aspectos orgânicos se refere ao aparato biológico humano. Sistema nervoso central, músculos, ossos, tendões, órgãos, membros, articulações, fisiologia, anatomia. Juntamente com o subjetivo, ou seja, com os aspecto psíquico e cognitivo, serão a base da estruturação humana. Podemos dizer que o orgânico sustentará o simbólico. Sabemos que o sujeito se constitui nessa necessária união do orgânico e da subjetividade. Os pais oferecem a hereditariedade orgânica e também sua hereditariedade subjetiva. Durante sua existência, a criança participará do seu processo de estruturação primeiramente de forma passiva, pois será afetada pelo desejo de seus pais, seus projetos, e tudo mais que dirigirem ao filho, mas logo depois, de forma ativa, pois dará retorno aos pais, afetando-os também. Como uma usina, alimentando e retroalimentando ambas as partes, pais e filho. Toda essa rede simbólica e imaginária criada pela família em direção da criança a tornará um semelhante. Tudo foi herdado dos pais, mas ao mesmo tempo, modificado pela criança, que também será protagonista de sua história. Nos primeiros meses de vida, a criança vive seu corpo com sensação de despedaçamento, pois ainda não há recursos que lhe dê a sensação de unidade. O orgânico e o subjetivo imaturos, tornam difíceis seus primeiros meses, provocando choros e dificuldades constantes de toda ordem: alimentação, digestão, defecação, aconchego, mal-estar, dor e aflição. Por isso, a forma como seu corpo é tomado pelo adulto responsável, fará toda a diferença nos progressos subsequentes para as próximas fases. Como é tocado, olhado, acalmado, pensado? Dependerá, portanto, da saúde psíquica familiar. Do modo como seus pais se sentem quando confrontados com essas questões. Quanto menor a angústia dos adultos, mais harmoniosa e prazerosa serão as primeiras vivências da criança e melhor será o desenvolvimento infantil (Zveiter & Pongianti, 2006). Quando, então, já for possível à criança ter algumas representações de si mesma, sua imagem unificada e suas atividades serão organizadas, seu esquema corporal lhe dará possibilidades de ação, e as aprendizagens se farão notar sem maiores dificuldades. Estará apreendendo e aprendendo o mundo! Chegando a organizar e efetivar suas primeiras ações pensadas. Enquanto isso, precisarão de colo, de aceitação, de olhar motivador, de sustentação. O outro semelhante os impulsiona aos novos progressos em todas as áreas do desenvolvimento. Assim, as próximas etapas da vida, dependem das primeiras vivências infantis. As demais relações, dependem da primeira relação com os pais ou quem os marcou significativamente. Quanto ao desenvolvimento psicomotor, também precisamos entender que a criança necessita de vivências motoras que resultem em ações prazerosas e que o movimento colabore para a descoberta do mundo. Para Aucouturier (2007), o prazer é um conceito fundador no desenvolvimento infantil, abre a criança ao mundo, por outro lado o desprazer o afasta o fecha sobre si mesmo. Assim, por exemplo, a organização do tônus muscular não depende somente de sinergias e automatismos neurofisiológicos, mas sim do tipo de tratamento que o Outro na posição materna outorgue aos estímulos internos que assediama criança. Destacados psicomotricistas, como André Lapierre, Bernardo Aucouturier, P. Voyer e outros assinalaram como decisiva a intervenção do outro possibilidade de uma efetiva maturação harmônica do tônus muscular. Em outra direção, mas convergindo neste conceito, J. Ajuriaguerra assinalou a importância do “diálogo tônico”. Ou seja, a necessidade para que se opere um desenvolvimento neste campo de que a mãe significa que no campo da linguagem dimensão especificamente psíquica o que o bebê manifesta em suas variações tonico musculares. Até os fisioterapeutas mais organicistas, tais como Bobath, reconhecem a influência do emocional na formação do tônus, apesar de que não tenham absolutamente levado em conta tal consideração em suas propostas terapêuticas (JERUSALINSK, 2010, p. 24). Portanto, exercícios repetidos e enfadonhos não correspondem à necessidade infantil. A Psicomotricidade não trata com exercícios motores o que nos pareçam bonitos ao olhar externo, e sim, com atividades significantes e ricas de simbolismo, ajudando a criança a descobrir-se e descobrir o mundo à sua volta. Do mais simples ao mais complexo e do mais natural ao mais elaborado e coordenado. Podemos pensar que o brincar espontâneo é o mais importante na infância, e é esse exercício o mais interessante. Seria então o “exercício do desejo”, ou seja, aqueles movimentos que favorecem a organização psíquica, auxiliando na solução de questões pertinentes a etapa de estruturação da criança, e por consequência levando à organização da corporeidade e do psiquismo. O movimento será proporcional à motivação, à curiosidade e à necessidade de descobrir todas as coisas do mundo, para assim, compreendê- lo. A criança busca aquelas atividades que no momento concorre para as suas necessidades. Basta observar com atenção e cuidado a atividade infantil para compreensão de seu momento global. INÍCIO DO SAIBA MAIS Qual o papel do brincar, especialmente nessa fase da vida? Por meio do brincar, a criança constrói normas, aprende a regular suas ações, a se relacionar, interage, questiona, argumenta, aprende a se organizar, compartilha ideias, cria e recria o mundo. O brincar espontâneo, autoiniciado pela criança, é fundamental na escola. É preciso permitir e prover essa forma de brincar. O brincar dirigido, conduzido pelo adulto, e o espontâneo, proporcionam o desenvolvimento e a aprendizagem. Ao brincar, a criança tem a possibilidade de conhecer seu próprio corpo, o espaço físico e social, as pessoas com as quais ela convive, conquistando a autonomia e construindo sua identidade. Terá oportunidade de aprender conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais nas mais diversas áreas do conhecimento e poderá desenvolver as linguagens oral, escrita, musical, plástica e a matemática. Fonte: Melo ([2017], on-line)1. FIM DO SAIBA MAIS. Se uma criança está agitada e agressiva, é natural que precise de atividades que lhe permitam exteriorizar esses sentimentos, e portanto, devemos colaborar para que as atividades lhe permitam organizar seus conflitos. Nesses momentos, não poderemos oferecer ações de concentração e calma e sim movimentos rápidos, fortes, que lhe exijam usar seu corpo de forma parecida com a sua situação. Após essas atividades adequadas ao humor, a criança se mostrará extenuada e poderá, agora sim, se acalmar e relaxar com a ajuda do professor. Ao contrário, se a criança se mostra desmotivada e apática, deveremos ir pouco a pouco aumentando a intensidade da atividade, de modo que a criança vá entrando numa proposta de ação e movimento. O importante é sabermos, que nossos grupos não serão homogêneos, e que nenhum grupo será. E assim mesmo, ter, ao mesmo tempo, alternativas diferentes para um mesmo grupo. O professor deverá colaborar para que a criança perceba o modo como se sente, que “escute” seu corpo, articulado ao seu desejo inconsciente, facilitando também nosso trabalho e nossas intervenções. Dessa forma poderemos colaborar com a corporeidade e suas significações, sua linguagem corporal. É com isso que trabalhamos em Psicomotricidade, com a criança, seu movimento, e sua história. Desde de muito cedo, nos bebês, podemos observar sua estruturação, se o estão se desenvolvendo bem, ou se mostram sinais de dificuldade, ou distúrbios. Também é possível observar como está o tônus, a força muscular, seu equilíbrio, sua inicial coordenação, sua ação sobre os objetos, se seu olhar é expressivo, convocante, conectado, curioso ou apagado e sem graça, não se interessando pelas pessoas e os objetos à sua volta. Tudo isso nos serve de base para entendermos como está a criança em seu desenvolvimento. A prevenção da saúde infantil está em promover vivências, relações, situações, para que a criança escreva sua própria história e sua maneira única de existir. Ainda assim, socializando, respeitando regras de convivência, e evoluindo como pesso FIM DO TÓPICO 1. INÍCIO DO TÓPICO 2 2. O BRINCAR: PRINCIPAL FERRAMENTA DA INFÂNCIA Sabemos que o brincar é a atividade por excelência na infância, e é verdade que a infância sofreu muitas modificações ao longo da história, mesmo assim, o brincar continua sendo a principal ferramenta dessa fase. Os brinquedos foram registrados com o surgimento das civilizações, no período entre 3 mil e 2 mil a.C. no Antigo Egito, já foram encontradas bonecas em túmulos de crianças (MUSEU DO BRINQUEDO, [2017], on-line)2. Esta informação demonstra a antiga e necessária atividade infantil. Os brinquedos, objetos normalmente oferecidos pelas mães, tem a importante função de substituí-la, de facilitar a separação simbólica, e assim impulsionar seus filhos ao desenvolvimento e independência. A criança de antes não gozava do status que tem hoje. Também o brincar não era valorizado como hoje. No livro “História social da família e da criança”, Ariés (1981), diz que a criança era vista como um adulto em miniatura. Que tão logo pudesse exercer atividade produtiva, era tomada como adulto, passando assim da infância à vida adulta de forma abrupta, não havia adolescência. Hoje temos uma grande modificação na forma de brincar. Os brinquedos eletrônicos estão demasiadamente presentes, esmagando precocemente a possibilidade de interação com os semelhantes. Um dos principais objetivos do brincar é oportunizar à criança conhecer o mundo em que se vive, isso envolve imaginação, fantasia e convívio social. O problema é que a maioria dos jogos eletrônicos não apresentam tais características (SETZER, 2008, on-line)3. Isso traz uma devastação na estruturação subjetiva do sujeito, que ainda sem as marcas significantes, principais inscrições simbólicas do psiquismo, se vê às voltas com um excesso de objeto que impede o laço com seu semelhante. Como é o caso de muitos bebês “intoxicados eletronicamente”, que ao chegarem a idade de falar, nem sequer adquirem a linguagem, ficando em risco de desconexão definitiva com o Outro. Este é um claro sinal de distúrbio de desenvolvimento, pela ausência do outro semelhante, em substituição ao objeto. Não há estruturação do sujeito, não há o brinquedo simbólico, não há outras significações, não há substituições nem metáforas, que são a riqueza do psiquismo humano. INÍCIO DO REFLITA Caro(a) aluno(a), quais foram suas experiências brincantes na infância? Quais os brinquedos ou objetos que você se lembra? O que você sente quando regata estas memórias? FIM DO REFLITA. 2.1. Quando começamos a Brincar? Podemos pensar que as crianças brincam desde que são bebês, a partir de 2 meses em diante. E que a cada momento brincam de forma diferente. Não há “mesmice” no brincar. Suas mães ofereceram brinquedos a eles, para WINNICOTT (1975) essa é uma forma da relação mãe/bebê. É a “primeira possessão”, segundo o autor. As mães oferecem os brinquedos, esperando que seus filhosse relacionem com tais objetos. Assim, se inicia a paixão pelo brincar. A mãe substitui sua inicial doação, significante e corporal, oferecendo ao seu bebê um objeto que é metáfora da cultura. Que assim irá unindo mãe/bebê de forma simbólica. Ela oferece objetos, que tem efeito organizador do bebê e que favorecerá seu crescimento e posterior separação em direção a autonomia física e psíquica. Aqui está o germe da criatividade, da imaginação, da criação. Transformando em objeto metafórico, o brinquedo, torna-se recurso imaginário que permite a criança ir construindo seu ser. Agora, seu corpo e todos os recursos imaginários por ela produzidos, organizarão seu lugar para viver. Adquirirá a linguagem e seguirá fazendo metáforas, permitindo seu desenvolvimento. O brincar de forma prazerosa, apresenta significado para a criança, e, tais significados dependem do uso de símbolos, por isso o brincar não deve ter o foco apenas no brinquedo, no objeto, ou na atividade realizada pela criança, mas na representatividade do objeto e da brincadeira (WINNICOTT 1975). 2.2. Os brinquedos eletrônicos e as consequências no desenvolvimento infantil Por essa forma de entender a estruturação humana, percebemos como o uso excessivo de eletrônicos, é danoso ao desenvolvimento, e, na verdade, nem se enquadra no conceito de brinquedo, visto que este, teria a função de unir e simbolizar as relações, e não de desconectar a crianças dos seus semelhantes. As brincadeiras folclóricas, por exemplo, passadas de pai para filho, são carregadas de recursos imaginários e simbólicos. Então, essa riqueza entre pais e filhos, impulsiona o desenvolvimento, e não o contrário, como no uso solitário e sem as importantes marcas do Outro. O desenvolvimento das funções orgânicas por si, não levam a criança a brincar e aprender. O que possibilita a evolução do sujeito são os aspectos psíquicos, associados ao aparato orgânico. [...] problema do crescimento das crianças na sociedade contemporânea, sobrevém do fato de que o desenvolvimento social, as interações sociais da criança com o adulto e entre as próprias crianças, estão seriamente ameaçados pelo avanço tecnológico. (FRIEDMANN, 1992, p. 25). Alguns fatores juntamente com o avanço tecnológico modificaram as formas de brincar como: a redução dos espaços físicos, pelo avanço das cidades, diminuição do tempo destinado ao brincar em que a televisão passou a fazer parte da rotina das crianças, a indústria dos brinquedos, no qual o sonho é comprar e não produzir ou criar os brinquedos, a negação da necessidade do brincar pela escola e a sociedade como um todo (FRIEDMANN, 1992) 2.3. O brincar como intermediário na relação mãe/bebê Antes mesmo de pensar racionalmente, os bebês brincam. Se ligam aos objetos oferecidos pela mãe, e com ele fabricam sua existência. Para Winnicott, chamados “objetos transicionais". São os objetos eleitos pelo bebê, que facilitarão o “descolamento” do corpo materno e a futura autonomia. Assim, nos diz Winnicott, a percepção, a memória, a psicomotricidade, a linguagem, a socialização, e a aprendizagem se organizaram desde esse tempo precoce, de bebê, numa contínua evolução gradativa e complexa. [...] Winnicott interpretou o significado desses objetos e comportamentos da seguinte forma: se o bebê se apega de forma tão vigorosa ao objeto e precisa dele para dormir, isso mostra que o objeto está exercendo uma função fundamental no psiquismo do bebê. Que função seria essa? Ora, quando se leva em conta que o grande “problema” com o qual o bebê está tendo que lidar após os seis meses de vida diz respeito ao afastamento gradual da mãe e, por consequência, o reconhecimento dela como uma pessoa, logo a função do objeto ao qual o infante se apega se torna mais clara. Se até então a mãe era tudo para o bebê (dependência absoluta), agora que ela começa a “falhar” (dependência relativa), eis que um dado objeto adquire para a criança um significado curiosamente absoluto – tanto é que o bebê precisa dele para sentir-se seguro e dormir. O objeto, portanto, parece exercer, para o infante, a função de substituto da mãe (NÁPOLI, 2016, p. 1, on-line)4. Por isso, o brincar, é tão estruturante do sujeito. Quanto melhor for a substituição simbólica da mãe por novos objetos significantes do mundo, melhor a criança reagirá e menos dependente estará, favorecendo, assim, a busca por novas vivências e aprendendo sobre o mundo. A aprendizagem será também uma substituição do corpo da mãe por outros prazeres. O prazer inicialmente sentido na relação corporal com a mãe, agora se dirige a outras descobertas, com imensa curiosidade pelo novo. O corpo a corpo já não será tão necessário, e a criança partirá em busca das outras formas de prazer. 2.4. Jogos Estruturantes do Sujeito A partir da inicial estruturação da imagem corporal, e consequente progresso na movimentação e corporeidade do bebê, as brincadeiras de exploração do mundo, se fortalecem. Dois jogos aparecem como fundamentais na estruturação do sujeito humano. São eles: o Jogo do Fort-Da, e o Jogo de Faz-de-Conta. O Fort-Da (palavras do alemão que significam “lá e cá”): Esse jogo, considerado por Freud (1996) como facilitador da angústia de separação da mãe, foi observado por ele, quando nas brincadeiras com seu neto. Percebeu o imenso prazer da criança ao jogar um carretel preso a um barbante, que rolava para baixo de um móvel, ao que exclamava “fort”. Seu neto demonstrava maior prazer no momento em que puxava e revia o brinquedo que havia desaparecido sob o móvel, e exclamava “da”. Freud, deduz dessa observação, que o menino vivia agora ativamente o aparecer/desaparecer que até então fora vivido passivamente. Quando no dia a dia os objetos somem, tal como a mãe, que ora está, e ora desaparece de seu campo visual. Nesse momento é a criança que faz o objeto desaparecer. É ela quem produz a ação de aparecer e desaparecer, que brincava de fazer desaparecer e reaparecer os objetos. Este jogo, é notado em várias brincadeiras da criança. Trata-se de jogos de presença e ausência: abrir e fechar/ encher e esvaziar/ por e tirar. O conhecido jogo de cobrir o rosto do bebê com um pano e descobrir, dizendo: “Achou!”. É um exemplo clássico do Fort-da. E todos sabem que essas brincadeiras são vividas com imenso prazer por parte das crianças e dos adultos. Todas as brincadeiras de abrir e fechar portas, gavetas, potinhos etc. Os momentos que a criança brinca de encher e esvaziar potes com areia, água etc. Tirar e colocar objetos de caixas etc. E muitos outros momentos que se estendem por toda a infância, são tentativas de compreender essas presenças/ausências vividas pela criança. Antes do Fort-Da, os desaparecimentos dos objetos eram vividos com angústia pela criança. Agora, ela brinca ativamente o que antes sofria passivamente. É uma importante aquisição da criança, que lhe facilitará as descobertas e vivências. "O medo de perder a mãe torna doloroso o afastar-se dela, mesmo por certos períodos; e várias formas de brincar dão expressão a essa ansiedade e são um meio de superá-la" (KLEIN, 1982, p. 277). O jogo do Faz-de-conta: Outro jogo estruturante do sujeito. É uma demonstração do acesso ao simbólico. As representações demonstradas pela criança garante que, a partir de agora, ela sabe que os objetos somem sem deixar de existir, e que podem ser outras coisas, num jogo de faz-de-conta. Representar e metaforizar permitem um exercício simbólico/imaginário riquíssimo, e que garantirá um vasto leque de possibilidades para o sujeito. 2.5. O Brincar e a aprendizagem Há uma estreita relação entre o brincar e o aprender. Assim, o brincar tem uma tripla função. Ele é estruturante do sujeito, pedagógico e terapêutico, servindo como ferramenta para a avaliação de uma criança. Para Rodulfo (1990) as crianças brincam desde quenascem, captando com seus olhos, ouvidos, boca e mãos o mundo ao seu redor. Há um mundo inteiro a ser tocado, olhado, lambido, sugado, buscado, explorado, percorrido e vivido pela criança. Toda ação involuntária inicial se transformará, em breve, em ação voluntária e curiosa. Os objetos, oferecidos pelo outro materno ao bebê, são chamados “objetos mamãezados” (que são associados pela criança à presença da mãe), este é um conceito de psicanalistas como Françoise Dolto (1996) e Jaques Lacan (1998). Esses autores se referem aos “objetos mamãezados” como objetos que são envolvidos pelo desejo da mamãe de incluir seus filhos na cultura e de fazê-los semelhantes, identificando-se com seus pais. As primeiras sensações estarão, assim, organizando as demais ações sobre o mundo. As primeiras preensões, coordenações e equilíbrios organizarão todo o brincar e toda ação sobre o mundo. O prazer das relações com os semelhantes, ou seja a família, instiga o bebê a fazer as primeiras gracinhas, os primeiros movimentos, as primeiras brincadeiras. É o caso das brincadeiras de esconder o rosto com um pano, fraldinha por exemplo, e dizer “achou”, que se refere ao brincar de esconde-esconde, que tanto encanta os bebês. Essa brincadeira introduz as primeiras relações que ausência e de presença necessários para organizar as presenças, ausências e os espaços. Essa simples brincadeira encerra o importante germe da noção de si, do outro e dos espaços. Tão importante como a brincadeira de esconde-esconde, são os brinquedos como: bonecas, carrinhos, aviões etc. Essas são formas de preparar o futuro próximo, a vida, introduzindo nas rotinas os objetos significantes da cultura, do sujeito humano. É assim que nossos bebês adquirem noções sobre o mundo, por meio das brincadeiras. Aos poucos, haverá a exploração dos objetos e as ações como: tocar, esfregar, bater, lançar, buscar, empilhar, enfileirar, seriar classificar, quantificar, encaixar, rolar, abrir, fechar, subir, pular entre outras, irão se tornar cada vez mais complexas até chegarem ao jogo simbólico, que é o jogo de faz-de-conta, tão conhecido por todos nós. Este jogo foi citado por Freud no texto Além do Princípio do Prazer, em 1920. No início de nossas vidas, ainda não temos as noções fundamentais do mundo como, dentro, fora, perto, longe, grande, pequeno, estreito, grosso, alto, baixo etc.; essas noções, ainda não estão bem consistentes. Aos poucos, as crianças vão se diferenciando. Para que isso aconteça, elas precisam estar muito “fusionados” com o outro materno, e, assim, poderem se separar do corpo da mãe, uma vez que já se constituíram corporalmente e psiquicamente (WINNICOTT, 1975). Também é importante saber, que não podemos expor as crianças pequenas as situações de muitas alterações de espaços, nem girá-las, ou erguê- las rapidamente. Ou expô-las à ambiente muito agitado, ou barulhentos. Essas situações, diante da fragilidade dos bebês, geram medo e angústia. Basta observar suas faces para percebermos. O brincar constrói formas de simbolizar o mundo e as relações, isto é, representar subjetivamente todas as coisas. É assim, que produzimos saber e conhecimento. “Onde era o brincar, o trabalho advir.” (Rodulfo, p. 147, 2010). No brincar, a criança poderá reparar muitas atitudes equivocadas dos adultos, fazendo ressignificações, isto é, dando novas significações as vivências anteriores e organizando o seus conflitos. Nesse período, a linguagem irá se estruturar e evoluir. Aos poucos, a criança terá as condições para brincar com jogos com regras e posteriormente poderá fazer parte dos jogos pré-esportivos e esportivos. 2.6. O brincar e a sexuação Além disso, toda sexualidade já está sendo construída e colocando o sujeito na suas primeiras identificações de gênero. Primeiro, o bebê sente prazer com seu corpo, é o chamado “auto erotismo”, que Freud se referiu no seu texto “Uma introdução ao narcisismo” no ano de 1909. Depois, o bebê sentirá prazer no convívio com os outros semelhantes e com os brinquedos. Descobrirá seu corpo e o corpo do outro. Descobrirá as diferenças sexuais, a diferença anatômicas entre meninos e meninas. E também as regras sociais relativas aos hábitos. O permitido e o proibido com relação ao corpo sexuado. Antes de Freud, pai da psicanálise, o bebê e a pequena criança não eram considerados sexuados. Nessa época, acreditava-se que a sexualidade só se revelaria na adolescência e se consolidava na vida adulta (MILLOTI, 2001). 2.7. O Jogo: prazer e sublimação O jogo, para o ser humano, é fonte de prazer. Até o jogo com palavras, as metáforas, que estarão ao longo da vida nos mobilizando. Nas psicopatologias, ou seja, nas doenças psíquicas, como no autismo e na psicose, essa riqueza do brincar e as metáforas não estão presentes. Nessas crianças o brincar não tem função simbólica. Nas estruturas normais, todo brincar tem função. A primeira, é a função estruturante do sujeito. Fazer-se sujeito, igual a todos, brincar de ser grande, gente grande, humano. “Até o poeta, tal como a criança que brinca, cria um mundo de fantasia que leva muito a sério, posto que ali investe emoção”. (Freud 1908 no texto Escritores criativos e devaneios). Brinca-se, desde a infância, até com a tragédia. Tudo serve para brincar, inclusive a dor. “A criança brinca, não porque não sabe falar, mas porque deseja” (FREUD, 1908, p. 151). Assim, a criança transforma o desprazer, o doloroso, em brincadeira. Produzindo prazer. “Este é o arranjo necessário para viver, mas assim como os poetas que escrevem sobre sua dor, seus sofrimentos alegrias e prazeres, o jogo já é uma interpretação feita pelo sujeito sobre suas próprias vivências. 2.8. Diferença entre Brincar, Brinquedo e Brincadeira Quando observamos o brincar das crianças, podemos entender muitos detalhes de sua vida. Brincar é uma produção, e o brinquedo, é um produto que serve ao brincar. Podemos brincar com todo e qualquer objeto, e até sem objeto. “Construímos nosso corpo retirando do mundo pedaços, primeiramente como “emplastros”, que marcam nossa superfície corporal. As “melecas” que os bebês espalham sobre seu corpo, as papinhas, os mucos, a água junto com o barro, fazendo lama, e tudo mais que serve para marcar e registrar a superfície do corpo” (RODULFO, 2010, p. 95). Por isso, há um perigo iminente quando as mães, apresentam a super higiene ao seus pequenos. A criança sempre protesta, e com razão, com muita sabedoria. Porque no início da vida, o corpo e o espaço fora do sujeito se confundem. Ao brincar também com as melecas, a criança descobre o “eu” e o “não eu”. Se organiza. Passamos aí a existir diferenciado do outro e do espaço. Passamos a entender o “dentro” e “fora”. Esses são os jogos de continente e conteúdo, e de “onipotência imaginária infantil”, no qual por exemplo, o piloto, pode engolir a nave, que é muito maior do que ele. Todos esses jogos, são citados no livro “O brincar e o significante” de Ricardo Rodulfo. 2.9. Formas do Brincar Todo brincar é importante e as crianças brincam das mais variadas formas. Muitos adultos não sabem sobre a importância do brincar e sobre as diferentes atividades que podem ser consideradas brincar. As diferentes formas do brincar, por não serem conhecidas das pessoas em geral, passam a ser, muitas vezes, boicotadas ou desconsideradas. Mas você, caro aluno, precisa conhecer sobre tais teorias. Atitudes como deixar cair objetos, escondê-los, lançá-los entre outros, podem não parecer, mas são fundamentais para o desenvolvimento infantil. Isso acontece com os bebês. Essas são formas que envolvem aspectos subjetivos do desenvolvimento dos bebês e são organizadores da estruturação. Por isso, os bebês estão sempre explorando os objetos e os espaços. Além disso, ao explorar o mundo, o bebê fica com mais segurança e