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29/10/2020 1 Dietoterapia nas doenças de estresse metabólico Nutrição Clínica Avançada Profa. Laura Fantazzini Grandisoli 1 Os materiais produzidos e disponibilizados neste canal são para uso exclusivo dos alunos da Universidade Paulista, UNIP - Campus Sorocaba, no segundo semestre do ano de 2020. Está vedada a distribuição destes materiais sem prévia autorização, de acordo com os termos da Lei 9610, que regulamenta os direitos autorais. Co py rig ht 2 02 0 ΙD ist rib ui çã o pr oi bi da 2 29/10/2020 2 Material de estudo • SILVA, S. M. C. S. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Payá, 2016. • MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause alimentos, nutrição e dietoterapia. 14. ed. São Paulo: Roca, 2018. • CUPPARI, L. Nutrição clínica no adulto. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. • Castro et al. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional no Paciente Grave. BRASPEN J 2018; 33 (Supl 1):2-3 3 Co py rig ht 2 02 0 ΙD ist rib ui çã o pr oi bi da 3 Guidelines 4 29/10/2020 3 Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica SIRS Agressão (Infecção, politrauma, queimadura, cirurgia grande porte, etc.) Liberação de mediadores inflamatórios (TNF-alfa, IL-1, IL-6, cininas vasoativas) Resposta de fase aguda Homeostase não se restabelece Resposta inflamatória anormal, intensa e generalizada, que atinge órgãos remotos à agressão. Tecido comprome+do Permeabilidade vascular, quimiotaxia, opsonização, fagocitose Processo de reparação da lesão tecidual local 2 ou mais fatores: - Temperatura > 38°C ou < 36°C - Frequência cardíaca > 90bpm - Frequência respiratória > 20 ipm ou PaCO2 < 32mmHg (hiperventilação) - Leucócitos > 12000 ou < 4000 ou > 10% de células imaturas (bastonetes) SIRS https://www.youtube.com/watch?v=aExA5fZHrrw 5 Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica SIRS ALTERAÇÕES NEUROENDÓCRINAS • Aumento do corJsol e de aldosterona pelo córtex suprarrenal; • Aumento do hormônio anJdiuréJco (ADH), com relaJvo efeito anJ- diuréJco • Aumento de produção do hormônio do crescimento (GH) • Aumento da produção de adrenalina pela região medular da suprarrenal • AJvação do sistema renina-angiotensina, que, por sua vez, esJmula a produção de aldosterona • AJvação generalizada do sistema nervoso simpáJco: terminações noradrenérgicas nas regiões vascular, miocárdica e endócrina • Aumento da produção de glucagon, em resposta à aumentada esJmulação adrenérgica 6 29/10/2020 4 Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica SIRS ALTERAÇÕES METABÓLICAS Resistência insulínica • TNF-alfa e IL-1b: alteram a expressão dos transportadores de glicose • Aumento dos hormônios contrarregulatórios do metabolismo da glicose (glucagon, cortisol, adrenalina, GH) • Resistência à insulina • Hiperglicemia • Lipólise e aumento de ácidos graxos livres (AGL) Envolvidos em diversas etapas da inflamação (quimiotaxia, adesão celular, diapedese e ativação de leucócitos) Disponibilização de glicose para o cérebro 7 Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica SIRS ALTERAÇÕES METABÓLICAS Catabolismo proteico • Resistência à insulina, aumento do glucagon e corUsol • Degradação do músculo esqueléUco • Captação de aminoácidos pelo Xgado para gliconeogênese e síntese de proteínas de fase aguda • Balanço nitrogenado negaUvo 8 29/10/2020 5 Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica SIRS ALTERAÇÕES METABÓLICAS Catabolismo proteico • Resistência anabólica: falha dos estímulos anabólicos em induzir a síntese proteica • Sequestro esplâncnico (visceral) de aminoácidos • Menor disponibilidade de aminoácidos para o músculo • Menor resposta anabólica à oferta de aminoácidos ↑ ↑ ↑ degradação proteica Hurt et al. Nutrition in Clinical Practice Volume 32 Supplement 1 April 2017 142S–151S 9 Resposta metabólica ao estresse Pneumonia Nefrite Encefalite Peritonite Osteomielite ...... Tratamento - Clínico - Cirúrgico Politrauma Queimadura Choque hemorrágico ...... SEPSE SIRS Lesão dos órgãos Bactérias Vírus Fungos ...... DPOC DRC Cirrose hepática ....... Comorbidades crônicas Lesão primária AVC IAM Hepatite ...... CÉREBRO RINSPULMÃO FÍGADO CARDIOCURCULATÓRIO TGI SISTEMA IMUNE COAGULAÇÃO Disfunção múltiplos órgãos (DMO) PACIENTE CRÍTICO Fonte: adaptado de G. Elke et al. Clinical Nutrition ESPEN 33 (2019) 220-275 10 29/10/2020 6 Fases da doença grave Fase aguda Fase pós-aguda Precoce Tardia Convalescência Reabilitação Distúrbio moderado da homeostase Distúrbio severo da homeostase Distúrbio muito severo da homeostase Distúrbio da homeostase Cuidados intensivos ConvalescênciaFase crônica Fonte: adaptado de G. Elke et al. Clinical Nutrition ESPEN 33 (2019) 220-275 11 Fases da doença grave Fase da doença Disfunção de órgãos Inflamação Estado metabólico Duração aproximada (dias) Fase aguda Precoce Severa ou progressiva Progressiva Catabólico 1 - 3 Tardia Estável ou em melhora Em reversão Catabólico-anabólico 2 - 4 Fase pós-aguda Convalescência/Reabilitação Função restaurada Inflamação resolvida Anabólico > 7 Fase crônica Disfunção persistente Imunossupressão persistente Catabólico > 7 Elke et al. Clinical NutriXon ESPEN 33 (2019) 220-275 12 29/10/2020 7 Estado Nutricional • Desnutrição e inflamação Fonte: MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S., 2018. 13 Avaliação Nutricional Edema Aumento da permeabilidade capilar e elevada infusão de líquidos para a ressuscitação hemodinâmica Reação de fase aguda Desvio da síntese de proteínas como albumina, em prol da síntese de proteínas de fase aguda, fatores de coagulação, proteínas de defesa e de reparação de tecidos. Resposta inflamatória Ativação das células imunológicas ? 14 29/10/2020 8 Avaliação Nutricional Não usar indicadores tradicionais para avaliação nutricional 15 Avaliação Nutricional • Estado nutricional pré-admissão, pré-lesão ou pré-operatório como parâmetro. • Perda de massa corporal magra e acúmulo de líquidos são comuns em pacientes graves. • Avaliação da ingestão alimentar por via oral. 16 29/10/2020 9 Objetivos da Dietoterapia • Minimizar o catabolismo • Prevenir a progressão da desnutrição • Atender às demandas energéticas sem causar hiperalimentação • Minimizar as complicações metabólicas • Reduzir complicações infecciosas e não-infecciosas • Reduzir o tempo de internação e a mortalidade 17 Necessidades Nutricionais Fonte: CUPPARI, L. Nutrição clínica no adulto. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. Aumento das necessidades energéticas em 40 a 100% 18 29/10/2020 10 Necessidades Nutricionais • Classificação do Nível de Estresse Nível de estresse 0 1 2 3 Quadro clínico Jejum Eletivo Trauma Sepse Nitrogênio urinário (g/dL) < 5 5 a 10 10 a 15 > 15 Consumo de O2 (mL/m2) 90±10 130±10 150±20 180±20 Glicemia (mg/dL) 100 ± 20 150 ± 25 150 ± 25 250 ±50 Lactato sérico (mg/dL) 10±5 120±20 120±20 250±50 Relação glucagon/insulina 2,0 ± 0,5 2,5 ± 0,8 3,0 ± 0,7 8,0 ± 1,5 19 Necessidades Nutricionais • Energia • Calorimetria indireta • Harris-Benedict – superestima o GEB em 3 a 11%. • Equação de Mifflin-St Jeor – superestima GEB em 1% em pacientes graves • Fórmula de bolso (kcal/kg) Não utilizar fatores térmico e atividade propostos por Long, apenas fator injúria de 1,2 a 1,3 20 29/10/2020 11 Necessidades Nutricionais • Energia (BRASPEN, 2018) • 15 a 20 kcal/dia – dias 1 a 3 • 25 a 30 kcal/dia – após o 4º dia Paciente grave: Produção significativa de energia endógena na fase precoce da injúria aguda, apresentando alto risco de hiperalimentação se receber quantidades elevadas de energia exógena. 21 Necessidades Nutricionais • Energia (BRASPEN, 2018) • 15 a 20 kcal/dia – dias 1 a 3 • 25 a 30 kcal/dia – após o 4º dia Braunschweig et al. AJCN, 2017; 105:406-11. INTACT (Intensive Nutrition in Acute Lung Injury Trial) Paciente grave: Produção significativa de energia endógena na fase precoce da injúria aguda, apresentandoalto risco de hiperalimentação se receber quantidades elevadas de energia exógena. 22 29/10/2020 12 hiperinsulinemia CHO > 5mg/kg/min hiperglicemia transporte de K, P para intracelular (sd. realimentação) produção CO2 ventilação minuto Falência respiratória quando função pulmonar reduzida Ventilação mecânica prolongada PTN > 2g/kg/dia uréia Função renal prejudicada quando há doença renal preexistente LIP > 1-2g/kg/dia Sobrecarga do retículo endoplasmático triglicérides séricos > 150% GET Esteatose Hepatomegalia ALT, AST, fosfatase alcalina Klein e col. JADA, 1998 Hiperalimentação 23 Necessidades Nutricionais • Proteínas (BRASPEN, 2018) • 1,5 a 2,0 g/kg/dia • Melhora do balanço nitrogenado • Menor mortalidade • Menor tempo de internação • Após alta da UTI: • Maior força de prensão palmar (dinamometria) • Maior espessura do músculo do antebraço (ultrassom) • Menos fadiga Mobilização precoce: https://www.youtube.com/watch?v=-3stiSww6us 24 29/10/2020 13 Necessidades Nutricionais Nível de Estresse Carboidratos (%VCT) Lipídios (%VCT) Proteínas (%VCT) Leve a Moderado 50 a 60 25 a 30 15 a 20 Grave 45 a 50 30 a 35 20 Diminui a necessidade de oferta de CHO 25 Via de administração MANUAL DE TERAPIA NUTRICIONAL NA ATENÇÃO ESPECIALIZADA HOSPITALAR NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS, 2016 Intubação orotraqueal (IOT) Instabilidade hemodinâmica Uso de drogas vasoativas 26 29/10/2020 14 Nutrição Enteral Precoce • Iniciar TNE em 24 a 48h de admissão na UTI em pacientes que não conseguirem se alimentar por via oral. • Manutenção da barreira mucosa intestinal • Manutenção do tecido linfoide intestinal e liberação de IgA • Menor incidência de complicações infecciosas e não infecciosas • Menor tempo de internação hospitalar Fonte: MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S., 2018. 27 50% 50% 70% 30% Gassul, 1998 O trofismo e integridade intestinal dependem da presença de alimentos no TGI Nutrição dos enterócitos e colonócitos 28 29/10/2020 15 Via de administração da TNE Em alguns casos a sonda pós-pilórica pode propiciar maior taxa de tolerância à dieta 29 Via gástrica • Mais fisiológica • Melhor tolerância a fórmulas variadas (proteínas intactas, hidrolisadas, aminoácidos) • Boa aceitação de fórmulas hiperosmóticas • Progressão de volume até a meta nutricional mais rápida • > volumes em < tempo • Fácil posicionamento da sonda 30 29/10/2020 16 Via de administração da TNE • Avaliar risco de aspiração de dieta individualmente, conforme condições clínicas e doença de base • Presença de gastroparesia • Pacientes muito idosos • Diabéticos • Vítimas de traumatismo cranioencefálico • Presença de refluxo gastroesofágico • Nível de consciência • Habilidade para proteção de via aérea 31 Nutrição Parenteral 32 29/10/2020 17 Queimaduras • Tratamento nutricional depende: • Grau da lesão • Superfície corporal queimada (SCQ) 33 Queimaduras • Tratamento nutricional depende: • Grau da lesão • Superfície corporal queimada (SCQ) Fonte: MAHAN, L.K.; ESCOTT-STUMP, S., 2018. 34 29/10/2020 18 Queimaduras • Tratamento nutricional depende: • Grau da lesão • Superfície corporal queimada (SCQ) 35 Necessidades Nutricionais - Queimaduras • Harris – Benedict FI: Fator Injúria • Queimadura até 20%: 1,0 a 1,5 • Queimadura 20 – 40%: 1,5 a 1,85 • Queimadura 40 – 100%: 1,85 a 2,05 36 29/10/2020 19 Necessidades Nutricionais - Queimaduras • Proteínas • 2,0 a 2,5 g/kg adultos • 1,5g/kg crianças • CHO: 50 a 60% • Lipídios: 20 a 50%; 3% w-3 (cascata de eicosanoides anti- inflamatórios) 37 Necessidades Nutricionais - Queimaduras MICRONUTRIENTES • Suplementação de vitaminas A, C e E, selênio, zinco e cobre à cicatrização • Vitamina A: 5.000 UI/1.000 kcal, manutenção da resposta imunológica e epitelização das feridas • Vitamina C: 500 mg, 2 vezes/dia, coenzima na síntese de colágeno e função imunológica • Selênio: 500 mcg/dia, redução de mortalidade em pacientes críacos • Zinco: 220 mg/dia, cofator no metabolismo proteico e energéaco 38 29/10/2020 20 Queimaduras • Aumento da permeabilidade capilar de 18 a 24h (pico 8h após a lesão) • Reposição volêmica: 2 a 4 mL/kg/%SCQ • HIDRATAÇÃO • Após reposição volêmica, repor as perdas evaporativas das feridas: 2 a 3 mL/kg/%SCQ EDEMA 39 Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) • Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN): grupo formal e obrigatoriamente constituído de pelo menos um profissional de cada categoria, a saber: médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico, podendo ainda incluir profissional de outras categorias, habilitados e com treinamento específico para a prática da Terapia Nutricional-TN. 40 29/10/2020 21 EMTN 41 Atribuições do Nutricionista na EMTN • Realizar a avaliação do estado nutricional do paciente, utilizando indicadores nutricionais subjetivos e objetivos, com base em protocolo pré- estabelecido, de forma a identificar o risco ou a deficiência nutricional . • Elaborar a prescrição dietética com base nas diretrizes estabelecidas na prescrição médica. • Formular a NE estabelecendo a sua composição qualitativa e quantitativa, seu fracionamento segundo horários e formas de apresentação. • Acompanhar a evolução nutricional do paciente em TNE, independente da via de administração, até alta nutricional estabelecida pela EMTN. • Adequar a prescrição dietética, em consenso com o médico, com base na evolução nutricional e tolerância digestiva apresentadas pelo paciente. • Garantir o registro claro e preciso de todas as informações relacionadas à evolução nutricional do paciente. • Orientar o paciente, a família ou o responsável legal, quanto à preparação e à utilização da NE prescrita para o período após a alta hospitalar. • Participar, promover e registrar as atividades de treinamento operacional e de educação continuada, garantindo a atualização de seus colaboradores, bem como para todos os profissionais envolvidos na preparação da NE. • Entre outras 42 29/10/2020 22 Estado atual do paciente Programação das condutas a serem tomadas no dia Horários de exames, cirurgias, necessidade de jejum Avaliação fonoaudiológica para reintrodução da VO? Conduta da equipe multidisciplinar 43 Equipe multiprofissional mínima em UTI 44 29/10/2020 23 I - estabelecer e executar protocolos técnicos do serviço, de acordo com a legislação vigente e as diretrizes atuais relacionadas à assistência nutricional; II - realizar triagem de risco nutricional e elaborar o diagnóstico nutricional, quando aplicáveis, de acordo com os protocolos técnicos do serviço, e colaborar com a implementação de técnicas de avaliação antropométrica; III - prescrever a dieta, o que inclui a terapia nutricional enteral e oral, e realizar sua reavaliação e adequação diariamente com base nas metas nutricionais e nos protocolos técnicos preestabelecidos, na causa de internação, nas comorbidades, na condição e achados clínicos, no diagnóstico nutricional e considerando as transições entre as vias de administração da Terapia Nutricional, assim como as interações drogas/nutrientes; IV - avaliar a terapia nutricional parenteral qualitativa e quantitativamente para adequação às necessidades nutricionais e à condição clínica atual do paciente; V - participar das visitas/rounds multiprofissionais diários de discussão de casos clínicos e colaborar com a elaboração do plano terapêutico do paciente, conforme a rotina da UTI; VI - monitorar a evolução nutricional de clientes/pacientes/usuários, independentemente da via de administração da Terapia Nutricional, de acordo com os protocolos técnicos do serviço elaborado pela equipe de Nutricionistas; VII - registrar, diariamente, a prescrição dietética e a evolução nutricional, em prontuário de clientes/pacientes/usuários, de acordo com protocolos preestabelecidos pela equipe de Nutricionistas; VIII - orientar a distribuiçãodas dietas prescritas por nutricionista, independentemente da via de administração, supervisioná-las, e avaliar a infusão, a aceitação e a tolerância; .... IX - estabelecer critérios de assistência nutricional nos protocolos de transferência interna na instituição e realizar o relatório e a orientação alimentar e nutricional na alta hospitalar dos clientes/pacientes/usuários, garantindo, assim, a continuidade do cuidado nutricional; XIII - realizar análise crítica periódica das diretrizes nacionais e internacionais de terapia nutricional, aplicá-las, no que couber, e disseminar as novas recomendações científicas entre integrantes da equipe multiprofissional e assistencial em projetos de educação continuada; Entre outras 45
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