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E-book 1 Aline Ruiz ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ��������4 CONCEITUANDO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ����������������������������������������� 5 AQUISIÇÃO DA ESCRITA �������������������������10 LEITURA ������������������������������������������������������� 14 PRODUÇÃO DE TEXTOS ��������������������������17 A ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL ����������� 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������26 SÍNTESE �������������������������������������������������������27 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, vamos aprender sobre os conceitos de alfabetização e letramento que norteiam a disciplina de Alfabetização e Letramento. Com certeza, em algum momento de sua vida, você já se deparou com essas duas palavras, mas talvez ainda não tenha entendido o que elas significam e qual a importância delas dentro do processo de aprendizagem, por isso, aqui vamos conversar mais sobre isso. Além disso, também estudaremos sobre os funda- mentos da prática de ensino da alfabetização e do letramento para crianças e adultos. Para que seja possível entendermos como se dão esses fenômenos, será necessário recuperar as no- ções de linguagem, sociedade, cultura e discurso para que compreendamos como essas questões definem a forma como usamos a língua. Preparado? Então, vamos juntos! 3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Quando pensamos em escola, logo pensamos nos processos de aquisição da escrita, pois esse é um dos grandes momentos da nossa aprendizagem. Você talvez se lembre dos seus primeiros passos para decodificar aquelas letras que a professora es- crevia na lousa, a elaboração das primeiras sílabas, o som das palavras, até, finalmente, o dia em que conseguiu ler sozinho e compreendeu. Se você já não se lembra de como foi com você, observe as crianças ao seu redor – filhos, sobrinhos, vizinhos – e repare como elas se interessam pelo mundo. A escrita e a leitura também fazem parte desse uni- verso de descobertas e permitem que consigamos decifrar muito do que temos ao nosso redor. O processo de alfabetização se dá logo nos primeiros anos escolares, mas há quem não tenha aprendido nessa fase e, posteriormente, já na fase adulta, curse a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Será que o processo de alfabetização de crianças e adultos se dá da mesma maneira? Primeiramente, é necessário que compreendamos sobre o que estamos falando e o que define a alfa- betização e, por sua vez, o letramento. 4 CONCEITUANDO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Se perguntássemos às pessoas o que é alfabetiza- ção, receberíamos como resposta possível “ato de alfabetizar”. Isso, de nenhuma maneira, poderia estar errado, pois é o que consta nos dicionários e é o que determina a ação. Magda Soares (2014), importante pesquisadora e professora nessa área, aponta que, em síntese, “alfa- betização é o processo de aprendizagem do sistema alfabético e de suas convenções, ou seja, a apren- dizagem de um sistema notacional que representa, por grafemas, os fonemas da fala”. Agora, vamos entender o que isso quer dizer. Alfabetização ficou convencionada, então, como a ação de ensinar alguém a ler e a escrever. Soares (2014) aponta que, a partir dos anos 1980, esse con- ceito passou a ser questionado pelos profissionais da área, pois, em uma sociedade moderna, apenas saber ler e escrever não era mais suficiente, era ne- cessário que as pessoas tivessem também outras competências. Assim, saber ler e escrever não permitia que os su- jeitos fizessem parte da cultura escrita da mesma forma. Vamos pensar em uma situação: ao ler um enunciado de uma questão na prova, não basta ape- nas que você saiba ler, é necessário que você consiga interpretá-lo para que seja possível dar uma resposta 5 adequada. Isso acontece em diversas atividades cotidianas. Então, logo se reconheceu que essas duas compe- tências – de um lado, saber ler e escrever, de outro lado, saber responder adequadamente às demandas sociais de uso da leitura e da escrita – envolviam processos linguísticos e cognitivos bastante diferentes; como conse- quência, passou-se a designar por uma outra palavra, letramento, o desenvolvimento de ha- bilidades de uso social da leitura e da escrita, e a designar com a palavra alfabetização especifica- mente a aprendizagem de um sistema que conver- te a fala em representação gráfica, transformando a língua sonora – do falar e do ouvir – em língua visível – do escrever e do ler: a aprendizagem do sis- tema alfabético. (SOARES, 2014, grifos da autora) Dessa maneira, a alfabetização, hoje em dia, é com- preendida como a aprendizagem do sistema alfabéti- co e das suas convenções, ou seja, a representação em grafemas dos fonemas da fala. FIQUE ATENTO Quando estudamos sobre alfabetização, é neces- sário que nos atentemos para alguns termos im- portantes, como os grafemas e os fonemas. Gra- femas são os símbolos gráficos que utilizamos para formar palavras, como as letras e os sinais de pontuação. Fonemas são os sons distintivos em uma língua. 6 Referências Mussum Ipsum, cacilds vidis litro abertis. Admodum accumsan disputationi eu sit. Vide electram sadips- cing et per. Sapien in monti palavris qui num significa nadis i pareci latim. Mé faiz elementum girarzis, nisi eros vermeio. Em pé sem cair, deitado sem dormir, sentado sem cochilar e fazendo pose. Manduma pindureta quium dia nois paga. Copo fura- dis é disculpa de bebadis, arcu quam euismod mag- na. 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Como tratamos, a alfabetização diz respeito ao pro- cesso específico de aprendizagem do sistema de escrita, a compreensão dos princípios alfabéticos e ortográficos, o que permite ao aluno ler e escrever. Assim, o aluno é capaz de dominar e compreender um código escrito que está organizado de acordo com as relações entre os sons e as letras que os representam. Agora, “o letramento pode ser definido como o pro- cesso de inserção e participação na cultura escrita” (COSTA VAL, 2006, p. 19). É, portanto, um processo que tem início desde o momento em que a criança passa a conviver com as múltiplas formas de escrita na sociedade em que vivem, como as placas nas ruas, os rótulos das embalagens, as revistas e os jornais etc. e continua ao longo de toda a vida. As manifestações escritas na sociedade vão ad- quirindo maior complexidade conforme as práticas sociais que as envolvem. Assim, ao longo da vida, temos contato com diversos gêneros textuais di- ferentes, como contratos, textos científicos, obras 7 literárias, leis, entre outros, que exigem leituras mais aprofundadas. Costa Val (2006) aponta que o termo letramento foi criado quando se passou a compreender que apenas saber ler e escrever não envolvia uma série de com- petências necessárias para se viver nas sociedades contemporâneas. Não basta apenas identificar as letras que compõem um cartaz, é necessário que você consiga entendê-las. É comum as pessoas passarem pela escola, aprende- rem a ler e a escrevertextos curtos, mas não serem capazes de elaborar textos mais complexos. Isso quer dizer que essas pessoas são alfabetizadas, mas não são letradas. REFLITA Em entrevista ao Canal Futura, a professora e pesqui- sadora Magda Soares responde ao questionamento: há um método mais correto de alfabetizar uma criança? Assista à entrevista da professora e observe como essa discussão se dá nos estudos sobre educação. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=mAOXxBRaMSY. Acesso em: 01 jul. 2019. Atualmente, um dos desafios que se coloca aos edu- cadores é a combinação entre esses dois processos. Ao passo que o aluno precisa saber o sistema alfa- bético e conseguir usar a língua nas práticas sociais de leitura e escrita. Por isso, não se deve pensar que são processos alternativos: deve-se alfabetizar ou 8 https://www.youtube.com/watch?v=mAOXxBRaMSY. Acesso em: 01 jul. 2019 https://www.youtube.com/watch?v=mAOXxBRaMSY. Acesso em: 01 jul. 2019 deve-se letrar, não é isso. Eles são processos com- plementares e que devem estar juntos na prática pedagógica. Portanto, deve-se alfabetizar letrando. Lembre-se de que os alfabetizandos vivem numa sociedade le- trada, em que a língua escrita está presente de maneira visível e marcante nas atividades cotidianas, inevitavelmente eles terão contato com textos escritos e formularão hipóteses sobre sua utilidade, seu funcionamento, sua configuração. Excluir essa vivência da sala de aula, por um lado, pode ter o efeito de reduzir e artificializar o objeto de aprendizagem que é a escrita, possibilitando que os alunos desenvol- vam concepções inadequadas e disposições negativas a respeito desse objeto. Por outro, deixar de explorar a relação extraescolar dos alunos com a escrita significa perder oportu- nidades de conhecer e desenvolver experiên- cias culturais ricas e importantes para a plena integração social e o exercício da cidadania. (COSTA VAL, 2006, p. 19) Assim, tudo aquilo que o aluno já sabe ou que venha do exterior da escola também deve ser considerado para as práticas de alfabetização e letramento. Agora, vamos pensar sobre a aquisição da escrita. 9 AQUISIÇÃO DA ESCRITA No início desse módulo, pedimos para que você pen- sasse sobre o processo de alfabetização pelo qual você ou alguém próximo a você passou ou esteja passando. Você conseguiu se lembrar de algo? Qual foi o momento em que a escrita e a leitura passaram a estar na sua vida? Vivemos em uma sociedade que é chamada de gra- focêntrica, e o que isso significa? Significa que esta- mos rodeados pela escrita, a qual cumpre diversas funções. Ter noção de que a escrita é importante e que, a partir dela, há a abertura para diversas instân- cias da vida nos ajuda a compreender a sociedade em que estamos inseridos. De acordo com Ferreiro (1985), a escrita pode ser compreendida de duas formas: como uma represen- tação da linguagem ou como um código de transcri- ção gráfica das unidades sonoras. Para ela, o primeiro é construído durante um longo processo histórico; já o segundo as relações já estão pré-determinadas. Ainda de acordo com a autora, a invenção da escrita se deu como um processo histórico de construção de um sistema de representação, e não um processo de codificação. Para compreender as regras de leitura e escrita, os alunos precisam desenvolver conhecimentos e ca- pacidades diversas que envolvam não apenas o sis- tema alfabético e ortográfico da Língua portuguesa, mas também o uso geral da escrita, conforme aponta Soares (2006). Nesses casos, alia-se a alfabetização e o letramento para que se proponham reflexões so- bre o sistema da escrita. 10 É necessário que os alunos tenham conhecimento e compreensão sobre o que é o alfabeto, a fim de identificarem as letras, compreenderem o que o nome de cada letra tem relação com ao menos um fonema de nossa língua. Além disso, devem compreender o papel que as letras desempenham, que é o de ocupar espaços determinados na escrita das palavras. Assim, isso significa conhecer a categorização grá- fica e funcional das letras, entendendo que determinadas letras devem ser usadas para escrever determinadas palavras, em determi- nada ordem. Apesar das diferentes formas gráficas das letras em nosso alfabeto (mai- úsculas, minúsculas, imprensa, cursiva), uma letra permanece a mesma porque exerce a mesma função no sistema de escrita, ou seja, as letras têm valores funcionais fixados pela história do alfabeto e, principalmente, pela or- tografia das palavras, em cada língua. (COSTA VAL, 2006, p. 20) Levando, assim, o aluno a compreender que ele não pode organizar as letras da forma que achar melhor, porque elas precisam estar em uma posição deter- minada para que formem palavras. Dessa maneira, quando o aluno se apropria da es- crita, ele consegue entender que os grafemas repre- sentam os fonemas. Isso se dá quando a criança começa a tentar ler ou escrever relacionando uma determinada letra a um determinado som. 11 Após essa primeira etapa, o aluno deve aprender as regras de correspondência entre grafemas e fonemas de acordo com a ortografia da Língua Portuguesa. Como sabemos, essas regras são variadas, algumas mais simples e regulares, outras mais complexas e bastante irregulares. A aquisição da escrita demanda que o indivíduo re- flita sobre a fala, estabelecendo relações entre os sons e a sua representação gráfica. Isso é denomi- nado como consciência fonológica. Dessa maneira, é necessário que o aluno entenda que há uma relação entre fala e escrita para que seja possível dominar o código escrito. A consciência fonológica envolve o reconhe- cimento pelo indivíduo de que as palavras são formadas por diferentes sons que podem ser manipulados, abrangendo não só a capacidade de reflexão (constatar e comparar), mas tam- bém a de operação com fonemas, sílabas, rimas e aliterações (contar, segmentar, unir, adicionar, suprimir, substituir e transpor). (MOOJEN et al., 2003, p. 11). A partir disso, conseguimos usar a língua de forma consciente, criando, por exemplo, rimas, efeitos so- noros a partir da estrutura das palavras. Na Língua Portuguesa é muito difícil que exista ape- nas uma correspondência entre um grafema e um fonema. Aqui, então, começa a complexidade de se ensinar a ortografia para alunos recém inseridos no mundo letrado e que, muitas vezes, perdura até a idade adulta. 12 Assim, é fundamental que o professor alfabetizador tenha consciência de que há padrões e que eles de- vem ser passados aos alunos. É necessário também que se observem as maiores dificuldades dos alunos para que se proponham atividades que busquem minimizá-las. Costa Val (2006, p. 21) sugere que “no processo de aprendizagem, a compreensão das relações alfabé- ticas e ortográficas pode se beneficiar da exploração de relações semânticas e contextuais significativas para as crianças”, o professor deve levar os alunos a compreenderem elementos do texto, seu suporte, sua esfera de circulação, oferecendo aos alunos pistas para que se compreendam como as palavras devem ser escritas ou lidas. Ademais, algumas regras de- veram ser memorizadas e serão aprendidas a partir do contato frequente com as palavras. SAIBA MAIS Emilia Ferreiro é um dos nomes mais importantes quan- do falamos de Alfabetização. Nesta entrevista para a Revista Nova Escola, a pesquisadora argentina fala sobre o que as crianças podem aprender na Educação Infantil sobre leitura e escrita. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0YY- 7D5p97w4. Acesso em: 01 jul. 2019. O professor alfabetizador deve estar em constante aprendizado para que consiga adequar suas práticas à necessidade de seus alunos e consiga conduzir adequadamente o seu trabalho. 13 https://www.youtube.com/watch?v=0YY7D5p97w4. Acesso em: 01 jul. 2019. https://www.youtube.com/watch?v=0YY7D5p97w4. Acesso em: 01 jul. 2019. LEITURA Você já deve ter se perguntado: por que o brasileiro lê tão pouco? Ou, quem sabe, já ouviuisso de algum conhecido ou se deparou com alguma afirmação do tipo nos meios de comunicação. Será que temos lido menos ou nunca lemos o suficiente? Quanto uma pessoa deve ler por ano? Será que há um número? Essas indagações são para nossa reflexão porque não há apenas uma resposta adequada para elas. Aqui, vamos refletir um pouco mais sobre leitura. A leitura é uma atividade que fazemos individualmen- te, mas que se insere dentro de um âmbito social, envolvendo diversas competências, como a decodifi- cação do sistema de escrita, a compreensão do que foi lido, a produção de um sentido para ela etc. Então, ler abrange capacidades que foram desenvolvidas durante o processo de alfabetização e de letramento, uma vez que demonstram as capacidades do aluno de participar ativamente das práticas sociais letradas. SAIBA MAIS O filme “Central do Brasil” estrelado pela atriz Fernan- da Montenegro, a qual recebeu indicação ao Oscar de melhor atriz, trata sobre a história uma ex-professora que ganha a vida escrevendo cartas na estação Cen- tral do Brasil no Rio de Janeiro. É uma importante pro- dução do cinema nacional e nos permite refletir sobre a importância da leitura e da escrita. Assista ao filme! 14 O principal objetivo da leitura é a compreensão dos textos por parte das crianças. É necessário que o alu- no consiga ler compreendendo, produzindo inferências a partir daquilo que está ali e também do que não está, pois é preciso saber ler as entrelinhas e conseguir determinar por que elas existem. Dessa forma, o aluno, ao ler uma narrativa – como um conto –,deve conseguir dizer quem são os persona- gens, o que aconteceu, quando, como, onde e por quê. Aqui, voltamos com os questionamentos sobre os há- bitos de leitura: conseguir destrinchar um texto dessa forma não é algo que aprendemos automaticamen- te, então como conseguimos isso? A capacidade de compreensão deve ser exercitada e ampliada com atividades diversificadas. Não apenas uma forma de ensinar isso aos alunos, é necessário observar as in- terações com a turma e de que forma as dificuldades se apresentam. Entre as possibilidades de trabalho, Costa Val (2006, p. 21) elenca algumas: a) lê em voz alta e comenta ou discute com eles os conteúdos e usos dos textos lidos; b) proporciona a eles familiaridade com gêneros textuais diversos (histórias, poemas, trovas, canções, parlendas, listas, agendas, propa- gandas, notícias, cartazes, receitas culinárias, instruções de jogos, regulamentos etc.), lendo para eles em voz alta ou pedindo-lhes leitura autônoma; c) aborda as características gerais desses gêneros (do que eles costumam tratar, como costumam se organizar, que recursos linguísticos costumam usar); e, d) instiga os 15 alunos a prestarem atenção e explicarem os ‘não ditos’ do texto, a descobrirem e explica- rem os porquês, a explicitarem as relações entre o texto e seu título. Dessa forma, sabendo identificar os diferentes gêne- ros textuais e suas características, o trabalho com a compreensão de textos se torna mais produtivo, pois faz o aluno pensar sobre aquilo que está lendo. Suscitar questionamentos, a princípio, simples, como: “isso que acabamos de ler é uma notícia?”, “qual o assunto desse texto?”, “sobre quem se falava?”, pro- duz efeitos duradouros. Permitir que os alunos expliquem, formulem ques- tionamentos, inventem novas histórias com base no que leram leva-os a compreender que a leitura faz parte de nossas vidas. Soares (2003, p. 1) aponta que não é necessário aprender a técnica para depois utilizá-la, “isso se fez durante muito tempo na escola: “primeiro você aprende a ler e a escrever, depois você vai ler aqueles livrinhos lá”. Esse é um engano sério, porque as duas aprendizagens se fazem ao mesmo tempo, uma não é pré-requisito da outra.” Por isso, o contato com a leitura é tão importante em todos os momentos de escolarização. Podcast 1 16 https://famonline.instructure.com/files/118220/download?download_frd=1 PRODUÇÃO DE TEXTOS Ao longo da sua formação escolar, você foi incen- tivado a escrever? A se mostrar e contar um pouco mais sobre você, a partir da escrita? Assim como a leitura, a escrita também é parte muito importante no processo de alfabetização, você concorda com isso? Da mesma forma que a leitura, o domínio da escrita compreende diversas capacidades que são obtidas durante o processo de alfabetização e outras, durante o processo de letramento. Como falamos anterior- mente, vivemos em uma sociedade grafocêntrica em que se preza muito a escrita, por isso, a necessidade de se produzir textos com autonomia. A escrita na escola, tal como nas outras práticas cotidianas, orienta-se por um contexto, um objetivo de produção, assim, apresentando alguma função e se dirigindo a alguém. Quando escrevemos, sempre estamos escrevendo para um outro, que lerá aquilo que propusemos em nosso texto. Esse trabalho, salienta Costa Val (2006), pode ser feito antes de a criança saber escrever, porque o professor norteará seus alunos a compreender e a valorizar os diferentes usos e funções da escrita, em diferentes gêneros textuais e suportes. A autora enu- mera algumas possibilidades de trabalho, que são: 17 a) ler em voz alta para eles histórias, notícias, propaganda, avisos, cartas circulares para os pais etc.; b) trouxer para a sala de aula textos escritos de diferentes gêneros, em diversos suportes ou portadores e os explorar com os alunos (para que servem, a que leitores se destinam, onde se apresentam, como se or- ganizam, de que tratam, que tipo de linguagem utilizam); c) fizer uso da escrita na sala de aula, com diferentes finalidades, envolvendo os alunos (registro da rotina do dia no quadro de giz, anotação de decisões coletivas, plane- jamento e organização de trabalhos, jogos, festas); d) orientar a produção coletiva de tex- tos, em que os alunos sugerem e discutem o que vai ser escrito e o professor registra a forma escolhida no quadro de giz. (COSTA VAL, 2006, p. 22) Inserindo-os em uma cultura letrada, a partir de prá- ticas de escrita que estão presentes no cotidiano e não se distanciam da realidade deles. Ainda de acordo com a autora, é possível permitir que os alunos tenham contato com a cultura escri- ta desde os primeiros dias de escola, uma vez que um nome próprio pode ser visto como um texto, se dentro de um contexto de produção de texto que faça sentido. Um exemplo seria confeccionar um crachá que será usado com o nome do aluno. Não é uma mera atividade de cópia do nome deles, e sim um processo de construção de um texto. Os alunos passam a ter contato com as letras, a memorizar o alfabeto e ter noção da importância do conjunto 18 daquelas letras. Atividades simples, mas que aliam alfabetização e letramento. De acordo com Abaurre, em contato com a representação escrita da língua que fala, o sujeito reconstrói a história da sua relação com a linguagem. A contem- plação da forma escrita da língua faz com que ele passe a refletir sobre a própria linguagem, chegando, muitas vezes, a manipulá-la cons- cientemente [...]. (ABAURRE, 1991, p. 39) Assim, ele passa a refletir sobre aquilo que está sen- do feito. A organização textual é algo muito importante, afinal, precisamos escrever textos que sejam coerentes e coesos, não é mesmo? Como é isso que se espera, devemos começar com essa ideia desde cedo com os alunos. Ensinar os alunos a planejar a escrita demanda en- tender que todo texto tem um tema central e seus desdobramentos. É importante que o professor mostre como isso deve acontecer. Com a ajuda do quadro de giz, o professor pode criar histórias cole- tivas com a turma, a partir daquilo que as crianças propõem, levando em conta para que e para quem está se escrevendo. Assim, começa-se a introduzi-los em processos que apontam para textos organizados e que fazem sentido. 19 REFLITA Beatriz Gouveia visita uma escola municipal de ensi- no fundamental para realizar umaatividade de leitura e escrita com uma turma do 1º ano. Nessa atividade, ela leva em conta os diferentes momentos de apren- dizagem de cada aluno. Observe como ela preparou a atividade: diferentes propostas com o mesmo objeti- vo, organização da turma, disposição dos materiais, etapas do trabalho. Essa é uma proposta prática de alfabetização e letra- mento. Vamos assistir? Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=cAiO5Tv6eH8. Acesso em: 01 jul. 2019. Além disso, quando escrevemos, espera-se que utili- zemos uma variedade linguística adequada ao gênero que estamos produzindo. Se estamos escrevendo um gênero textual que tem uma função mais formal é necessário que tenhamos mais cuidado com a es- colha das palavras, ao contrário de gêneros menos formais, como um bilhete, em que temos proximidade com a pessoa para quem escrevemos. Podcast 2 Lembra que falamos que não podemos desconsi- derar aquilo que os alunos já sabem? Eles já vêm com um vocabulário formado a partir das palavras que usam em suas casas e comunidades, cabe ao professor, portanto, ensinar sobre a adequação da linguagem. Há momentos em que um determinado tipo de variedade é possível e, em outros, não. 20 https://www.youtube.com/watch?v=cAiO5Tv6eH8 https://www.youtube.com/watch?v=cAiO5Tv6eH8 https://famonline.instructure.com/files/118221/download?download_frd=1 Além disso, é importante que os alunos compreen- dam que há recursos expressivos apropriados a cada gênero, de acordo com os objetivos do texto, já que há produções que têm o objetivo de comover, pro- vocar riso, convencer o outro etc. A linguagem deve ser adequada a esses momentos também. Tudo isso que estamos falando sobre a escrita, pode e deve ser ensinado desde cedo na escola, pois as- sim alinha-se o trabalho de alfabetização e letramen- to de forma consciente. É também importante que os alunos tenham a capa- cidade de revisar e reelaborar seus textos de acordo com a necessidade, tornar-se um usuário da escrita eficiente e independente implica saber planejar, escrever, revisar (reler cuidadosamente), avaliar (jul- gar se está bom ou não) e reelaborar (alterar, reescrever) os próprios textos. Isso envolve atitude reflexiva e ‘metacognitiva’ de voltar-se para os próprios conhecimentos e habilidades para avaliá-los e reformulá-los. (COSTA VAL, 2006, p. 23) Por isso, o professor deve sempre passar de forma clara quais características envolvem aquele gênero produzido. 21 A ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, em maio de 2018, na última Pesquisa por Amostra de Domicílios (PNAD, 2017) realizada no país, o Brasil tem menos de 11,5 milhões de pessoas com mais de 15 anos analfabetas (7% de analfabetismo). É possível observar na Figura 1 quais são os estados que atingiram a meta estabelecida para a resolu- ção do analfabetismo. A maior parte dos estados do Nordeste manteve altas taxas de analfabetismo, quando comparado com as outras regiões do país, sendo Alagoas o estado com a maior taxa (18,2%), seguido do Maranhão (16,7%) e Piauí (16,6%). Vamos entender por que esses fenômenos aconte- cem e traçar um breve panorama sobre a alfabeti- zação no Brasil. 22 Figura 1: Taxa de analfabetismo por estado no Brasil. Fonte: Gazeta do Povo. Acesso em: 30 jun. 2019. O Brasil, assim como Portugal, teve um processo gra- dual e restrito de difusão da alfabetização. Estima-se que, em 1820, apenas 0,20% da população era alfabe- tizada. Os atos de ler e escrever estavam limitados às elites que conseguiam dar continuidade aos estudos ao longo de sua vida, especialmente na Europa. Ao longo do século, outras partes da população co- meçaram a se alfabetizar, mas era tudo muito lento. Em 1872, foi realizado o primeiro censo nacional, o 23 https://infograficos.gazetadopovo.com.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-no-brasil https://infograficos.gazetadopovo.com.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-no-brasil qual indicou que 17,7% da população com cinco anos ou mais era alfabetizada. A partir do século 20, esse índice vai progredir conti- nuamente. As taxas de analfabetismo não sofreram mudanças consideráveis entre 1900 e 1920 no Brasil, exceto no Estado de São Paulo, que passou a ter o ensino primário como prioridade do setor educati- vo, de modo que a população de alfabetizasse logo. Dessa forma, em 1920, a porcentagem de alfabeti- zados em São Paulo subiu de 24,72% para 29,82%. De acordo com Menezes (2017), no Brasil republi- cano, saber ler era muito importante, pois, além de conferir status, também era imprescindível para que os cidadãos participassem ativamente da sociedade. Naquele momento, a Constituição Federal de 1891 dizia que apenas alfabetizados e maiores de 21 anos tinham direito ao voto. Apenas na década de 1960 que vamos conseguir passar de mais da metade da população alfabetiza- da, chegando, então, a 46,7% de analfabetos no país. As primeiras cartilhas de alfabetização surgem no país no século 19, especificamente em 1834, mas passam a ser usadas como uma ferramenta nortea- dora do processo pedagógico a partir do século 20. A partir de políticas públicas voltadas para a alfabe- tização das pessoas, São Paulo se tornou a cidade com a menor quantidade de analfabetos do Brasil, o que contribuiu para a ideia de São Paulo como uma cidade letrada. Além disso, a crescente industriali- 24 zação e o desenvolvimento dos meios de transporte favoreceram essa ideia. Nos anos 2000, o número de analfabetos no país passa para 16,7%, chegando ao último dado de me- nos de 7% de analfabetos no país. É inegável que há um crescimento nesse número, mas também não podemos deixar de pensar na crise que a educação brasileira vem passando ao longo do tempo. De acordo com Batista (2006), apenas nos anos 1990 o país conseguiu universalizar o acesso à escola, embora saibamos que, em alguns estados, as crian- ças ainda estão fora da escola. Sabemos também que a porcentagem dos analfabetos é composta pe- los grupos que estão fora da escola. O autor ainda aponta que, de acordo com os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), “o fracasso na alfabetização é maior entre as crianças que vivem em regiões que possuem piores indicadores sociais e econômicos, entre as crianças que trabalham e entre as crianças negras.” (BATISTA, 2006, p. 15). Mostra-se, então, que o problema da escolarização no Brasil é marcado pela desigualdade social. De acordo com dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), aplicados em 2016, mais da metade dos alunos que estão no 3º ano do ensino fundamental apresentam um nível insuficiente de leitura, o que demanda também dificuldade em inter- pretar textos. Assim, uma das prioridades de políticas públicas no país deve ser o foco na alfabetização e em sua qualidade. 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como estudamos ao longo desse módulo, alfabeti- zação e letramento são conceitos diferentes que se complementam. É necessário focar em ambos para que os primeiros anos escolares sejam produtivos. Observamos como se dá a relação entre a aquisição de escrita, os processos de leitura e de produção de textos. Não é necessário que a criança já saiba ler para que essas dinâmicas aconteçam em sala de aula, quanto antes melhor. Quando focamos na alfabetização no Brasil, obser- vamos que os índices têm melhorado, mas que ainda há muito o que caminhar, pois, embora as taxas de analfabetismo tenham reduzido, ainda temos alunos que leem e escrevem, mas não conseguem interpre- tar ou produzir textos coerentes. 26 Síntese Produção de textos Alfabetização no Brasil Afalbetização Letramento Aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. Desenvolvimento de forma competente da leitura e da escrita nas práticas sociais. Alfabetizado é o sujeito que sabe ler e escrever. Letrado é o sujeito que consegue usar a leitura e a escrita de forma proficiente nas demandas cotidianas em sociedade. São conceitos diferentes,mas complementares Aquisição da escrita Leitura % 0 % 20 % 40 % 60 % 80 % 100 20172000196018721820 0,20 % 17,7 % 46,7 % 16,7 % 7 % Referências bibliográficas & consultadas ABAURRE, Maria Bernardete. Os estudos linguísti- cos e a aquisição da escrita. 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