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GESTÃO DE PESSOAS Débora Frizzo 2GESTÃO DE PESSOAS CONTEXTUALIZANDO A GESTÃO DE PESSOAS 3 Contextualizando: de onde vem todas estas ideias? 11 PERSONALIDADE, COMPORTAMENTO E ATITUDES 15 Personalidade, atitudes e comportamentos 16 Estrutura da Personalidade de acordo com a Teoria Psicanalítica 22 HORA DE PARAR E PENSAR! 25 Fases do desenvolvimento e traços de personalidade 30 COMPETÊNCIAS INTERPESSOAIS E AUTOCONHECIMENTO 41 Traços de Personalidade ou Perfis de Personalidade 41 Segunda Competência 48 ATITUDES NO MUNDO DO TRABALHO 56 Definições e Critérios para a Competência Interpessoal 57 Os Óculos que Usamos (Ou nossos Modelos Mentais) 58 Resiliência 64 Liderança 66 Motivação 69 Comprometimento 70 Envolvimento 72 A menina Quebrada 75 SUMÁRIO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (NEAD) Lígia Futterleib Desenvolvido pelo Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Igor Zattera, Sabrina Maciel Revisora Carmem Maura Vaccari 3GESTÃO DE PESSOAS CONTEXTUALIZANDO A GESTÃO DE PESSOAS A Trajetória do “Arigó” rumo ao Lado do Sol da Calçada Neste capítulo compreenderemos o que é Gestão de Pes- soas, o seu outro lado. Veremos suas bases teóricas e o processo de transformação que poderá acontecer com você, aluno. “Olhe para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer”. (Sigmund Freud) Querido aluno, seja bem-vindo à disciplina de Gestão de Pessoas. Iniciaremos nosso estudo por meio de uma “viagem”, uma encantadora viagem sobre o ser humano, sobre nós mesmos, sobre as pessoas que estão ao nosso redor, com as quais interagimos e sobre nossa capacidade de desenvolvimento durante a vida. Ao longo desta viagem, desenvolveremos diversas habilidades e competências, que são essenciais para aprimorarmos a nossa principal ferramenta de trabalho, nós mesmos. Tais competências são um diferencial competitivo 4GESTÃO DE PESSOAS para todo e qualquer profissional. Por esse motivo, essa disciplina está presente em todos os nossos cursos de graduação, independentemente da área. Profissionais das áreas de gestão, de engenharia, de tecnologia da informação, entre outras, necessitam aprender a se autodesenvolver para aprimorar suas habilidades comportamentais. Isso garantirá sua sobrevivência e sua sustentabilidade num cenário tão competitivo e mutante, como o mundo vivemos hoje. Falaremos sempre em mundo do trabalho, um conceito bem mais amplo do que mercado de trabalho. Esse mundo contemporâneo, onde vivemos, amamos e trabalhamos, pode ser considerado como um universo em constante mutação, cada vez mais complexo, dinâmico, fluido e contraditório. Visto isso, o mesmo nos exige cada vez mais habilidades sofisticadas, presentes somente às pessoas que desejam estar em constante autodesenvolvimento. Para fins da nossa disciplina vamos compreender a Gestão de Pessoas como a competência de lidar, conviver e gerir pessoas da forma mais saudável e produtiva possível. De modo que possamos atender aos nossos objetivos, tanto individuais, como sociais e organizacionais. Saber gerir, relacionar-se e interagir com as pessoas. Além disso, saber gerir a si mesmo. Essa autogestão será nosso foco principal. Ela sempre será nosso guia. Tudo aquilo que falarmos será para subsidiar nossa autogestão. Só consegue gerir as pessoas, ou relacionar-se com os outros, aquela pessoa que sabe gerir a si mesmo, que sabe conhecer-se e relacionar-se consigo mesmo. Por isso, ao longo da nossa disciplina, falaremos muito em autoconhecimento. Ele é um pré-requisito essencial para toda e qualquer forma de gestão de pessoas. É muito importante que vocês entendam essa perspectiva da nossa disciplina. Na maioria das vezes, quando se fala em Gestão de Pessoas, estamos nos referindo ao modo como uma organização lida com as pessoas que estão inseridas nela. Refere-se ao conjunto de políticas e práticas adotadas pela área de recursos humanos, com vistas a lidar com as pessoas que compõem os quadros de uma organização. Nossa perspectiva, é então, um passo anterior a isso. Mas, como assim? Se entendermos que, seja lá qual for a área de atuação, de trabalho, de posto de trabalho ou a função de uma pessoa, independente do seu cargo, venha situar- se de maneira produtiva no contexto de uma organização, ela necessita, antes de tudo, autodesenvolver-se. E para se autodesenvolver, será preciso potencializar três competências essenciais, para aprender a lidar com as pessoas. Aqui, não vamos falar sobre as práticas de gestão de pessoas, vamos falar sobre as práticas que precisamos adotar para com as outras pessoas e, principalmente, para conosco, de modo a sermos profissionais de sucesso no mundo do trabalho. Por isso, falaremos em competências comportamentais. Ta i s c o m p e t ê n c i a s v i s a m desenvolver uma série de habilidades comportamentais. 5GESTÃO DE PESSOAS Portanto, queridos alunos, nosso objetivo, aqui, será o autodesenvolvimento de vocês! Existem estatísticas espalhadas por aí, em variadas fontes, que nos dizem que 80% das demissões dos ambientes de trabalho são devidas a problemas comportamentais. As pessoas são contratadas pelas organi- zações, por sua competência técnica, pelo seu currículo, por aquilo que sabem fazer. Porém, depois são desligadas em função da falta de competências comportamen- tais; por serem pessoas que não sabem lidar com as outras pessoas, por causarem con- flitos improdutivos, que povoam ambientes tensos, enfim, pessoas que não possuem a habilidade de se fazerem ferramentas na busca de soluções. Justamente, as compe- tências comportamentais que faltam, na maior parte das pessoas, são as que vamos desenvolver aqui. O que desejamos é que todos vocês possam, pelo menos, começar a desenvolver tais competências, para que, jamais, entrem nestas estatísticas! Essas competências comportamentais ajudarão, ou servirão de “pano de fundo” para que você possa exercitar, mostrar ou desempe- nhar todas as suas competências técnicas, em qualquer contexto do mundo do traba- lho. A partir de agora, deve ser uma reflexão constante, para você, a seguinte pergunta: Pessoas que só desenvolvem com- petências técnicas encontram, no mundo do trabalho (e mesmo no mundo privado de suas vidas), adversidades e situações complexas, naturais e inevitáveis, que as impedem de demonstrar suas competências técnicas. Se elas não tiverem a capacidade de gerir a si mesmas, de gerir seus relaciona- mentos interpessoais, tais momentos serão um entrave para seu sucesso profissional. Elas apresentam comportamentos e ati- tudes que desenvolvem problemas no seu ambiente de trabalho, estruturam conflitos e dificuldades interpessoais. Desse modo, construindo o caminho da sua demissão. Por mais habilidoso tecnicamente, que você seja diante das complexidades dos ambien- tes do mundo do trabalho, da diversidade de pessoas com as quais você irá interagir, chegará um momento em que todas as suas competências técnicas “desaparecerão” , caso você não tiver a habilidade de gerir a si mesmo e as suas relações interpessoais. Assim, podemos dizer que é, praticamente, impossível você desenvolver uma carreira profissional e ter uma vida saudável sem interagir com pessoas. As interações são inevitáveis e estão presentes em todos os momentos da nossa vida. Atualmente, até mesmo as interações virtuais são inevitáveis e necessárias, exi- gindo habilidades de comportamento. Ao escrever um e-mail, comentar uma posta- gem numa rede social ou postar uma foto Por onde eu ando, eu sou a solução ou a causa dos problemas! 6GESTÃO DE PESSOAS sua na própria timeline, precisará levar em contacertos aspectos básicos para que a relação interpessoal com seu interlocutor virtual não tenha problemas. Portanto, não há como fugir dessa máxima: ou você sabe gerir pessoas ou seu sucesso profissional estará ameaçado. Ou você sabe gerir a si mesmo, ou você será uma nuvem escura ambulante nos ambientes por onde passar! Costumamos ilustrar as pessoas que não aprendem a desenvolver suas habilida- des interpessoais ou comportamentais. A imagem a seguir exemplifica bem tal situ- ação: um ícone do cinema ou das histórias em quadrinhos, reconhecível e compreensí- vel a todos; pessoas sem habilidades com- portamentais funcionam como uma nuvem negra para os ambientes em que estão, e para as pessoas com quem interagem. Elas “contaminam” o ambiente, provocando o surgimento de conflitos, mais dificuldades, emoções negativas e deterioram as relações interpessoais. E, o pior, sem nos darmos conta disso! Pois bem! Então, quais são estas ma- ravilhosas e diferenciais competências que farão de você um profissional diferenciado, seja qual for sua área de atuação? 1. Compreender o comportamento humano, o comportamento organi- zacional e as relações interpessoais nas organizações, desenvolvendo uma perspectiva sistêmica da gestão de pessoas. 2. Desenvolver sua Inteligência Emo- cional, com o desenvolvimento gra- dual e constante das cinco habilida- des que a compõe. 3. Desenvolver sua Competência In- terpessoal, de modo que você possa estabelecer relações mais funcionais e saudáveis em todos os ambientes nos quais transita, especialmente, nos ambientes organizacionais em que trabalha, apresentando compor- tamentos desejáveis no mundo do trabalho. Observe a imagem e reflita: você é o tipo de pessoa que por onde anda leva consigo uma nuvem escura? Se a resposta for não, ótimo! Você está no caminho certo para ser um profissional de sucesso, e aqui em nossa disciplina, aprimorará as competências que já possue. Se sim, ótimo também! Pois agora você irá aprender a refletir, a mudar, encontrará ajuda e recursos para desenvolver aspectos tão importantes, para os quais ainda não prestou atenção na sua trajetória como estudante e profissional! 7GESTÃO DE PESSOAS Então, vamos começar nossa “via- gem”! Aperte os cintos, acione seu mais importante aplicativo, sua mente, a qual deve estar cheia de vontade de aprender! Vamos conhecer o lado do sol da calçada! Ah! Mas antes de começarmos nossa viagem, quero apresentar a você um perso- nagem, bem importante a ser conhecido por nós. Todas as competências que vamos estudar irão nos ajudar a não nos tornarmos ou matarmo-nos, caso sejamos um “arigó”. Quem seria esse “arigó” ??? O “arigó” descrito aqui, não se refere a nenhuma tradução ou significado que este termo tenha em qualquer outro contexto já utilizado. Na verdade, o “arigó” aqui descrito, é uma espécie de personagem, construído a partir de observações, ao longo do tempo, de dezenas de trabalhadores em seus ambientes de trabalho e suas gemestes locais. O termo não se refere a uma específica classe de trabalhadores ou a uma função de trabalho, nem mesmo a pessoas que se localizem em determinado estrato das pirâmides hierárquicas das or- ganizações. O termo “arigó” utilizado aqui descreve, antes de mais nada, uma atitude geral de determinadas pessoas, diante da vida e do trabalho. Tal atitude é caracte- rizada por uma série de comportamentos, cognições e sentimentos que tornam o “arigó” um trabalhador problemático nas mais diversas organizações, e que exige de seus gestores e dos profissionais de recursos humanos, grandes esforços para que ele possa desempenhar de maneira minima- mente satisfatória suas atividades, levando em conta, as necessidades da organização, e as suas próprias, enquanto ser humano. Parte-se do pressuposto que, a ati- tude de “arigó” pode estar presente em qualquer pessoa, de qualquer gênero, idade, poder aquisitivo ou nível educacional. Qualquer um poderá, na sua trajetória profissional ou em alguns momentos de sua vida, ter uma atitude “arigó”, não im- portando se é um trabalhador braçal ou um trabalhador do conhecimento. A questão chave é a magnitude ou a dura- bilidade, ao longo do tempo, dessa atitude. Todos podemos “estar arigós” em momen- tos passageiros da vida, mas não podemos “ser arigó” o tempo todo. Costumamos dizer que “estar arigó” é uma cadeira na qual po- demos sentar por algum tempo, mas não pode ser uma cidade para onde devêssemos nos mudar! Para ele, trabalhar, significa uma tor- tura, um castigo, algo do qual se deveria fugir sempre que possível. Trabalhar enver- gonha, humilha. Vemos que a percepção do 8GESTÃO DE PESSOAS trabalho do “arigó” está atrelada às questões de sofrimento, dor, desgaste e cansaço do trabalho físico. Atualmente, mesmo com as mais variadas formas de trabalho físico e intelectual, sendo estudadas e debatidas, para ele, trabalhar significa algo a ser evita- do, assim como, evita-se qualquer circuns- tância que prejudique o corpo. Não há no “arigó” a percepção que o trabalho pode ser considerado uma obra, uma produção que dignifica e traz satisfações das mais variadas formas. Há uma dicotomia prevalente na percepção do arigó: trabalhar é sofrer, jamais é obter prazer. O prazer e a satisfação estão alocados, na sua percepção, em qualquer circunstância, lugar ou atividade que esteja longe do trabalho. Lazer sim, é prazer e prio- ridade nos dias da vida de um “arigó”. Trabalhar, jamais é prioritário. Abrir mão dos lazeres, eventualmente, (por exemplo, horas extras, atividades extra turno) para atividades laborais e, com isso, obter prazer, é algo inconcebível). O sonho e projeto de vida do “arigó” é o ócio. O ócio físico e mental, jamais um ócio produtivo e criativo, encarado como tempo para pensar, refletir e criar (De Masi, 2000). Juntamente disso, o “arigó”, na sua vida profissional, procura, não por trabalho, mas por empregos, os quais possam satisfa- zer suas necessidades de sobrevivência, não se preocupando com a construção de uma carreira profissional. Empregos nos quais ele irá sofrer, e procurará fazer o mínimo possível de esforços, sejam eles físicos ou mentais, cumprindo minimamente as atri- buições explicitadas em seu contrato de trabalho. Nada mais do quê isso! A vida profissional do “arigó” resume-se em ter um emprego e nele fazer o mínimo esfor- ço possível, e a receber a remuneração a ele devida. Pensar sobre sonhos, projetos, desafios, evolução pes- soal e gestão da carreira são coisas completamente alheias às aspirações do “arigó”. Como consequência dessa percepção, todas aquelas atitudes tão desejadas pelo RH das orga- nizações, tais como motivação, comprometimento e envolvimento estarão completamente ausentes do seu repertório comportamental. No empre- go, o “arigó” busca apenas a remuneração e os benefícios, sendo eles os seus únicos fato- res motivacionais. Jamais busca a realização profissional e do reconhecimento dos seus pares e dos seus superiores. E, além disso, no ambiente de trabalho, comumente avalia, pejorativamente, os colegas que têm moti- vação, comprometimento e envolvimento, qualificando-os com desprezo e deboche. Portanto, querido aluno, sinta que devemos fugir dessa descrição, não é?! En- tão, vamos desenvolver nossas três funda- mentais competências para que nenhum rastro desse triste personagem exista em nós mesmos! Uma vez que o “arigó” não sabe, não conhece, não quer e nem al- meja aprender a fazer gestão de pessoas! Além do que, o “arigó” anda pelo mundo com a nuvem escura pairando sobre sua cabeça e contagiando aos demais. 9GESTÃO DE PESSOAS PARTIU FUGIR DO “ARIGÓ”! ELE NÃO SABE O QUE É AUTODESENVOLVIMENTO! 10GESTÃO DE PESSOAS Pense! Reflita! Responda! Antes de continuarmos, precisamos nos certificar de que você compreendeu perfeitamente o que será essa gestão de pessoas., pois iremos estudá-la pelas pró- ximassemanas! Pense, reflita, e responda, mentalmente, a seguinte questão: O que é gerir pessoas? Pense! Reflita! Responda! Explique para alguém! Essa ideia precisa estar bem clara na sua cabeça! 11GESTÃO DE PESSOAS Contextualizando: de onde vem todas estas ideias? Para começarmos a trabalhar com competências da disciplina, precisamos fazer uma contextualização. Estamos falando aqui, na nossa disciplina, do desenvolvimento de habilidades comportamentais, do autodesenvolvimento, do não nos transformarmos em pessoas “arigós” , que sofrem com o trabalho e que contaminam negativamente os ambientes pelos quais passam. A proposta é desenvolver competências que façam de você uma pessoa mais produtivas, saudável e feliz, que contribua positivamente nos ambientes em que está inserido! Ou, dito de outra forma, uma pessoa mais desenvolvida, mais evoluída, mais saudável. Pessoa que, ao invés de carregar uma nuvem escura na cabeça, vive e está do lado do sol da calçada! “Estar do lado do sol da calçada” é uma expressão inventada por nós, que significa comportar-se e ter atitudes positivas que contribuam para o próprio bem-estar, bem como para o das outras pessoas. O lado do sol da calçada é um lugar “abstrato”, que simboliza, metaforicamente, um jeito de ser e de estar no mundo, um jeito saudável e que ilumina os que estão ao redor, por isso a referência à luz solar. Pessoas que estão do lado do sol da calçada são, simbolicamente, pessoas iluminadas, ensolaradas, porque cuidam de si mesmas e das suas relações interpessoais. Pessoas que estão do lado do sol da calçada são afetuosas, carismáticas, tem uma expressão facial agradável, sabem lidar bem com suas emoções, pois desenvolvem sua inteligência emocional e tornam-se pessoas resilientes. São agradáveis ao convívio, são promotoras de ambientes otimistas e com clima agradável, procuram resolver ou amenizar os conflitos, ao invés de causá- los, procuram ser otimistas e esperançosas, conseguindo extrair os melhores aspectos de cada situação e de cada pessoa. Não são pessoas “arigós”, pois entendem e usufruem do trabalho, como algo positivo, que enobrece, desenvolve e que é prazeroso. Se fizéssemos uma linha contínua imaginária, diríamos que as pessoas do lado do sol da calçada estão no ponto extremo, contrário às pessoas consideradas “arigós”. As pessoas que estão do lado do sol da calçada são automotivadas, comprometidas e engajadas em suas atividades laborais. Sentem prazer no trabalho e, com tudo isso, conseguem a maravilhosa façanha de continuamente desenvolver suas potencialidades. Estão sempre em desenvolvimento, sempre aprendendo. Para que tudo isso possa ser possível, essas pessoas procuram conhecer-se e autodesenvolver-se continuamente, num constante processo de autorreflexão. Consequentemente, obtém sucesso nas suas tarefas profissionais, tendem a ser bem-sucedidas diante das adversidades da vida, e conseguem superar bem os obstáculos. Desenvolvem carreiras profissionais afortunadas e sustentáveis, visto que todas as suas características positivas enaltecem suas competências técnicas. Por isso, são otimistas e cheias de energia, persistentes e autoconfiantes. Contaminam os ambientes de forma positiva e construtiva. As pessoas do lado 12GESTÃO DE PESSOAS do sol da calçada sabem gerir pessoas e sabem gerir a si mesmas. Estão sempre usando óculos colorido que, mais tarde veremos, tem uma função essencial. Isso tudo não quer dizer que as pessoas do lado do sol da calçada não tenham problemas ou dificuldades ao longo da vida, e que não passem por momentos difíceis. A grande diferença, a diferença chave, é o modo como lidam com essas dificuldades. E o modo como seu autodesenvolvimento contribui para que os problemas sejam percebidos e tratados de uma maneira mais otimista e esperançosa, o que, por sua vez, retroalimenta o seu modo de ser. Otimistas, quando confrontados com desafios e dificuldades, tendem a agir com confiança e persistência, mesmo que os progressos ou sucessos sejam difíceis ou lentos. E o otimismo é uma das características mais fortes da pessoa do lado da calçada. Pessoas otimistas, de acordo com Bastinaello & Hutz, (2015) vivenciam menor ansiedade, mantém- se empreendendo esforços contínuos e criam estratégias em direção a melhores resultados, mesmo nas piores situações. Otimistas são confiantes com relação ao sucesso na realização de suas metas, portanto, continuam empreendendo esforços mesmo diante de adversidades. As vantagens de uma orientação otimista para a vida também parecem estar presentes no domínio das relações interpessoais, uma vez que pessoas otimistas, com sua tendência a perceber os eventos de vida da melhor forma possível, acabam envolvendo mais esforços para a solução de problemas que mantêm relacionamentos vivos. Assim, podemos dizer que o otimista que mora do lado do sol da calçada é um ótimo gestor de pessoas. Então, poderíamos dizer que, enquanto o “arigó” fica “preso” num círculo vicioso de preguiça, pessimismo, relações interpessoais improdutivas, pouco saudáveis e falta de motivação, a pessoa do lado do sol da calçada está “presa” num círculo virtuoso de otimismo, esperança e relações interpessoais satisfatórias. Recordem que na primeira página da disciplina dissemos que estávamos iniciando uma viagem, uma encantadora viagem sobre o ser humano, sobre nós mesmos, sobre as pessoas que estão ao nosso redor, e com as quais interagimos. Pois bem, ao longo dessa viagem, que na verdade nunca termina, devemos ir nos transportando para o lado do sol da calçada! Onde é bem mais saudável viver! A disciplina de Gestão de Pessoas deve servir como o ponto de partida para o seu autodesenvolvimento, que deverá ser um processo contínuo de evolução ao longo da vida. Isso sim, fará de você um profissional diferenciado, que agrega valor e diferencia os ambientes onde trabalha. Por onde passar: seja otimista, persistente e corajoso! 13GESTÃO DE PESSOAS Entretanto, além de entender tal objetivo, precisamos saber de onde “saiu” tudo isso. O referencial teórico para compreendermos todas essas questões é chamado Psicologia Positiva (Barros, Martin, & Pinto, 2010; Scorsolini- Comin & Santos, 2010). Durante toda sua história, enquanto ciência e profissão, a psicologia preocupou-se em estudar, compreender e tratar os problemas e as doenças das pessoas. O seu foco sempre foi os aspectos doentios que não funcionavam bem nas pessoas, seus problemas, limitações, e as melhores formas de tratar tudo isso. Com resposta surgiu, na década de 80, nos Estados Unidos, a corrente chamada Psicologia Positiva. Uma das teorias mais jovens da psicologia, que estuda as potencialidades, motivações e realizações humanas , bem como analisa as condições que contribuem para a promoção do funcionamento ótimo de pessoas, grupos e instituições. Ela se preocupa em entender características pessoais positivas, que promovem o bem-estar das pessoas e das organizações. A psicologia positiva seria o estudo das forças e virtudes das pessoas. Seu foco deixa de ser a cura ou reparação dos aspectos ruins da vida, e passa a ser a construção de qualidades positivas nos indivíduos e organizações. A Psicologia Positiva pretende se debruçar sobre as experiências positivas (como emoções positivas, felicidade, esperança e alegria) das pessoas, sobre as características positivas individuais (como caráter, forças e virtudes), e sobre instituições positivas (como organizações baseadas no sucesso e potencial humano, sejam locais de trabalho, escolas, famílias, hospitais, comunidades ou sociedades). A psicologia positiva cuida “do lado do sol da calçada”. Essa corrente resgata o caráter preventivo que há muito tempo foi abandonado por uma Psicologia exclusivamente focalizada na doença. Assim, nossa gestão de pessoas insere-se no contexto da psicologiapositiva, pois procura, com suas competências, compreender e promover aspectos saudáveis positivos nas pessoas, nas interações e nos ambientes, de modo que em todos os níveis da vida da pessoa prevaleçam seu bem-estar e suas emoções positivas. Desse modo, a gestão de pessoas pode ser entendida como toda a área que busca desenvolver pessoas e organizações que se movem e que são sustentadas no sucesso do potencial humano. 14GESTÃO DE PESSOAS HORA DE PARAR E PENSAR! Agora, na última pausa antes de iniciarmos nossas competências, mais um momento de reflexão! Pegue um papel, ou qualquer dispositivo móvel no qual você possa digitar, e tente escrever um parágra- fo, somente um parágrafo que sintetize as ideias tratadas até aqui. Procure construir um texto ou um parágrafo coerente, que una as seguintes ideias: o objetivo da gestão de pessoas, nosso personagem Arigó, nosso lugar desejável, o lado do sol da calçada, e as propostas da Psicologia Positiva. Você deve ser capaz de unir todas estas ideias antes de avançarmos. A importância de escrever sua refle- xão, de construir essa união no seu enten- dimento, reside no fato de que isso ajuda a construir um todo, coerente na “sua ca- beça” sobre tudo que estamos conversan- do e aprendendo. Não basta ler e estudar, tem que entender, introjetar, absorver, para poder usar de verdade no seu autodesen- volvimento. 15GESTÃO DE PESSOAS PERSONALIDADE, COMPORTAMENTO E ATITUDES Como são construídos nossos comportamentos Neste capítulo vamos estudar o que são nossos comportamentos, atitudes e personalidade, e como são construídos ao longo da nossa história de vida pessoal. Com isso, vamos desenvolver a primeira competência da nossa disciplina. Primeira Competência: Compreender o comportamento humano, o comportamento organizacional e as relações interpessoais nas organizações, desenvolvendo uma perspectiva sistêmica e positiva da gestão de pessoas. Para desenvolver uma perspectiva positiva e sistêmica da gestão de pessoas, dentro do nosso enfoque de autodesenvolvimento, precisamos compreender bem os conceitos de comportamento, atitudes, personalidade e formação dos mesmos. Será isso que estudaremos a seguir. Tudo o que veremos deverá ajudar você a compreender o comportamento humano, 16MODELOS DE GESTÃO tanto o próprio como o das outras pessoas, assim como compreender o comportamento e as relações interpessoais que acontecem nas organizações. Você deve ser capazes de “olhar” para determinada situação, pessoa ou interação pessoal e compreender o que está acontecendo, quais as possíveis razões e motivos, estejam elas claras ou não. Toda essa compreensão é o primeiro passo para desenvolver a capacidade de gerir pessoas e, principalmente, gerenciar a si mesmo. Personalidade, atitudes e comportamentos Vamos começar nosso estudo pela personalidade. Existem muitas e muitas teorias que estudam a personalidade, definições de personalidade, atitudes e comportamentos. Todas corretas, todas que se complementam. Precisamos compreender estes conceitos, agora, no começo da nossa disciplina, para depois compreendermos o restante, pois eles são conceitos básicos. Estaremos o tempo todo aqui, falando em desenvolvimento de competências e habilidades, em autodesenvolvimento. Portanto, estaremos, indubitavelmente, falando em mudanças nas nossas capacidades de mudar “coisas”, e nas dificuldades e desafios de fazer mudanças em nós mesmos. Assim, quando falamos em mudanças, precisamos discutir e entender bem os três conceitos: personalidade, atitudes e comportamentos, pois é importante distinguir quando as mudanças acontecem nos comportamentos ou nas atitudes das pessoas. Podemos definir personalidade como o conjunto peculiar e duradouro de características de uma pessoa, os quais podem se manifestar de maneiras diferentes em situações diferentes (Schultz & Schultz, 2002). Também pode ser entendida como o conjunto de aspectos internos e externos peculiares, relativamente permanentes, do caráter de uma pessoa, e que influencia o seu comportamento em situações diferentes. Essas características são desenvolvidas ao longo da história de vida de uma pessoa. Portanto, a personalidade, que seria o fruto de uma longa história de vida de uma pessoa, Mudar significa sair de uma posição ou de um lugar, ao qual estamos, e ir para outro lugar ou posição. Exige movimento, disposição e vontade. Sair de onde se está para ir a outro lugar. 17MODELOS DE GESTÃO é algo estável, não tende às mudanças. As mudanças acontecem a nível de atitude e comportamentos. A personalidade é a responsável pelas diferenças interindividuais que encontramos entre os seres humanos. Nunca encontraremos duas pessoas iguais, porque nunca haverá duas pessoas com a mesma personalidade. A personalidade é que dá o, “colorido”, único para cada ser humano, o jeito de cada pessoa ser, que não deve ser copiado e que deve. Sempre compreender como resultado de sua história de vida. Agora, antes de continuarmos, uma reflexão importante! HORA DE PARAR E PENSAR! Ao longo de toda nossa disciplina estaremos falando, estudando e refletindo acerca de uma questão paradoxal, ou seja, que pode parecer ambígua, contraditória e que merece toda nossa atenção: mudança x estabilidade. Quando falamos que nossa personalidade é algo estável, algo construído ao longo do tempo, durante os primeiros anos de nossa vida, ligado ao nosso passa- do, estamos dizendo que tendemos a ter estabilidade nos nossos comportamentos e atitudes, no nosso jeito de “funcionar” na vida, no nosso jeito de ser e agir diante dos eventos que acontecem ao nosso re- dor. Tendemos a ser sempre os mesmos, a não mudar, a ter um padrão que é típico e arraigado em nós. Como se fôssemos uma construção do nosso passado. Estamos mol- dados, construídos de determinada forma e assim seremos ao longo da vida, com o passar dos anos. Mudar não combina com todo esse entendimento do conceito de personalidade. 18GESTÃO DE PESSOAS Por outro lado, estaremos comentan- do muito sobre mudanças, autodesenvol- vimento e desenvolvimento de habilidades comportamentais. Não serão contraditórias essas ideias! Não são! É isso que você pre- cisa entender bem! O fato da personalidade ser algo estável, construído durante anos na infância das pessoas, não impede que mu- danças ocorram. As mudanças vão ocorrer, podem ocorrer nos comportamentos e nas atitudes. A ideia de personalidade significa a ocorrência de um padrão de comporta- mento, porém padrões podem e devem ser alterados. A ideia de personalidade não deve funcionar como algo determinístico, como um destino. “Sou feito assim e não há o que fazer!” Jamais podemos concordar com essa frase dita por muitas pessoas e certamente já escutada por você. Toda a proposta da Psicologia Positiva sobre a qual falamos, está atrelada na potencialidade do ser humano de sempre, continuamente, desenvolver os melhores aspectos de sua personalidade, evoluir, transformar-se, e desenvolver novas habilidades, com a fina- lidade de cada vez mais atingir seu bem-es- tar. Nessa perspectiva, o determinismo que pode acompanhar a ideia de personalidade será substituído pelo otimismo, da sempre possível mudança. Por isso que estamos aqui estudando tantos conceitos. Assim, faz-se pertinente compreender o passado, as causas, as determinações, para poder mu- dá-los. Essa é a lógica do entendimento que devemos ter. Lembrando do nosso lado do sol da calçada, estar no lado do sol será compreender o passado para poder mudá-lo. Devemos compreender como funcionam e de onde vem nossos comportamentos e atitudes para, em seguida, poder modificá-los para melhor, para nosso desenvolvimento pessoal e, consequentemente, quanto aos ambientes por onde circulamos! “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.” Sigmund Freud 19GESTÃO DE PESSOAS Apósessa reflexão, que precisará nos acompanhar durante toda a nossa disciplina, voltemos aos nossos conceitos. Agora vamos falar sobre comportamentos. O que seria comportamento, então? Comportamento pode ser definido como tudo o que uma pessoa faz, suas ações e reações. São exemplos de comportamentos os atos de sentar, escrever, estudar, olhar, comer, cheirar, sentir, pensar, caminhar, cozinhar, enfim, tudo o que fazemos, que pode ser visto ou não por outra pessoa. Pare de ler, nesse instante, e pense: você está se comportando? Quando questionamos isso, se alguém está se comportando, normalmente temos em mente a ideia de avaliar o comportamento da pessoa, quanto à maneira certa ou errada, se está “ bem- comportada”, se está obedecendo alguma regra ou norma. Comportar-se, para o senso comum, significa “comportar-se bem”, adequadamente em determinado contexto. Mas não! Nós sempre estamos nos comportando. Neste momento, você está se comportando, porque está sentado, está lendo, coçando a cabeça talvez, olhando, enfim, executando ações. E tudo o que fazemos é nosso comportamento. E nossos comportamentos podem sempre estar acompanhados de um pensamento e de uma emoção, formando um trio que “sempre anda junto”. A cada comportamento, estamos vivenciando uma emoção, e tendo um pensamento. Pode parecer que não, porque muitas vezes, senão na maioria das vezes, esses dois elementos do trio – a emoção e o comportamento – são inconscientes, no sentido de serem desconhecidos por nós. Logo, chamamos de atitudes o conjunto de comportamento, emoção e pensamento. Atitude é o comportamento acompanhado de vontades e de ideias. Atitude é mais do que agir, significa agir conscientemente e com uma emoção. Pode ser entendida como algo “maior”, mais profundo do que o comportamento. Dentro da perspectiva que nos interessa, aqui, de aprender novas habilidades comportamentais, mudar essa distinção torna-se fundamental. Uma pessoa muda quando muda seus comportamentos, mas também as suas atitudes. Mudanças de comportamento podem ser fáceis, mas não são resistentes ao tempo e não podem ser generalizáveis para todos os contextos da vida de uma pessoa. Já as mudanças de atitudes são mais duradouras, consistentes ao longo do tempo e ao longo dos ambientes, são mais importantes, porque acarretam uma mudança legítima na pessoa. Dessa maneira, quando queremos mudar, verdadeiramente, devemos mudar as nossas atitudes. Aprender novas habilidades comportamentais, como no caso da nossa disciplina, significa mudar nossas atitudes. Aluno, foi possível entender a diferença? 20MODELOS DE GESTÃO Exemplo Vamos a um exemplo que pode aju- dar no entendimento da diferença entre comportamento e atitude. Digamos que você seja um gestor de determinado setor de uma organização e possui um funcionário, seu subordinado, que sempre chega no tra- balho atrasado, ocasionando transtorno na execução das tarefas do setor. Após suces- sivos atrasos, você decide chamar seu fun- cionário e conversar com ele, alertando-o sobre seu comportamento inadequado , bem como os problemas causados. Você alerta sobre a possibilidade de uma advertência, e pede que isso não se repita mais. Após o dia dessa conversa, o referido funcionário não mais se atrasa, chega na hora certa por alguns dias. Podemos supor que houve uma mudança de comportamento da parte dele. O comportamento de atraso foi substituído pelo comportamento da pontualidade no trabalho. Mas qual não será sua surpresa, após dois ou três dias? Ele volta ao antigo com- portamento, volta a se atrasar. Será neces- sária uma nova conversa, uma mudança na sua abordagem com ele, pois podemos pressupor que a primeira conversa provocou somente uma mudança de comportamento do funcionário, e não uma mudança de atitude. Podemos pressupor que ele mudou somente de forma superficial seu compor- tamento, a fins de atender uma ordem ou pedido, por receio de punições, mas não houve uma legítima mudança no seu in- terior. Se tivesse havido uma mudança de atitude, ele permaneceria sendo pontual, porque teria a vontade de ser e compre- enderia o porquê. Ele teria mudado suas emoções e seus pensamentos. Nesse sentido, pode-se pressupor que ele se comportou de forma pontual por alguns dias, mas não entendeu a real necessidade de ser de tal forma, assim como sua vontade não era essa. A pontualidade, como resultado de uma mudança legítima de comportamento, seria resultado de emoções e pensamentos de pontualidade, e seria duradoura. 21GESTÃO DE PESSOAS Esperamos que esse exemplo singelo tenha ajudado você a compreender a diferença entre os possíveis tipos de mudanças que podem ocorrer no comportamento humano, e a entender às mudanças desejáveis, as quais ajudam no desenvolvimento de competências novas. Uma vez que são essas as mudanças de atitudes. Atente para o do lado do sol da calçada, caso haja mudança para tal lado, significa mudar atitudes diante das circunstâncias da vida! Nas partes anteriores ao nosso texto, enquanto expl icávamos a diferença entre personalidade, atitudes e comportamentos, trouxemos para nosso estudo alguns conceitos novos. Vamos vê-los novamente! Falamos que algumas vezes não conhecemos alguns de nossos pensamentos e de nossas emoções. Que pensamentos, ideias e emoções podem estar inconscientes. Essa é uma ideia importante a ser bem entendida quando falamos sobre comportamento humano. Podemos citar alguns aspectos para exemplificar esse contexto, pois a grande parte do nosso mundo interior, daquilo que compõe nossa personalidade, causas internas dos nossos comportamentos e atitudes inconscientes, que significa dizer que está “escondido” de nós mesmos, que está longe do acesso imediato da nossa atenção, da nossa consciência. Existe “um mundo” dentro de nós, em que não temos acesso imediato, porque está inconsciente, no sentido de desconhecido para nós. Bons exemplos disso são todos os aspectos que compõem nossa personalidade, os pensamentos que acompanham nossas ações, e as nossas emoções. Se alguém lhe perguntar agora, porque escolheu este curso superior que está fazendo, você pode relatar vários motivos da sua escolha. Contudo, certamente, existem outros motivos inconscientes, aos quais você não tem acesso imediato com sua atenção e que determinaram, de forma bem importante, sua escolha. Além desse sentido de desconhecido, o termo inconsciente pode se referir a “um lugar” dentro de nós, uma parte da nossa personalidade chamada inconsciente. Essa parte da nossa personalidade, também chamada de ID, compõe aquilo que a teoria psicanalítica freudiana chama de personalidade. Para essa teoria, que é muito boa para alcançarmos um entendimento profundo do nosso comportamento, nossa personalidade, é composta de três partes: id, ego e superego (Schultz & Schultz, 2002). Vamos entender um pouco mais sobre essa teoria psicanalítica da personalidade. Ela nos ajudará a compreender as razões “escondidas” dos nossos comportamentos. E compreender as razões escondidas dos nossos comportamentos, nos fornecerá subsídios para, posteriormente, poder mudá-los. Portanto, essa teoria, uma das várias teorias da personalidade que existem, merece nossa atenção. 22GESTÃO DE PESSOAS Estrutura da Personalidade de acordo com a Teoria Psicanalítica De acordo com a teoria psicanalíti- ca da personalidade (Schultz & Schultz, 2002), nossa personalidade é composta conforme a figura a seguir. Vamos descrever e entender cada uma dessas partes. Mas, antes, algumas con- siderações importantes para compreender à formação da personalidade. É importante salientar que dessas três partes, em tese, a única, presente quando nascemos é o ID. O ego e o superego são resultado de uma “construção” ao longo dos primeiros anos da infância. Essa construção ou formação acontece durante, através e dependendo das relações interpessoais que a criançaestabelece com os adultos que cuidam dela. Dizemos, normalmente, que são as relações que os pais estabelecem com a criança que “formam” sua personalidade. Vale salientar, que quando falamos em pais, não estamos nos referindo ne- cessariamente aos pais biológicos, quando falamos em termos de estruturação da per- sonalidade. O termo pais se refere àquelas pessoas que estabelecem relações interpes- soais e que criam vínculos afetivos com a criança, cujas são significativas para a sua socialização e educação de forma geral. Po- dem ser os pais biológicos, os pais adotivos, outros parentes, ou qualquer outra pessoa, sem vínculo biológico com ela, mas que seja importante ao longo da sua infância. ID: O id (também chamado de in- consciente) é uma parte inconsciente da nossa personalidade, sendo a única parte que nasce conosco, portanto, inato. O id é o reservatório dos nossos instintos, con- tém os nossos instintos de vida e de morte, bem como suas respectivas energias, cha- Teoria psicanalítica da personalidade Fonte: Igor G. Zattera (2016) 23GESTÃO DE PESSOAS madas de libido e agressividade. Funciona como um reservatório de energia psíqui- ca e funciona de acordo com, o chamado, princípio do prazer. Isso quer dizer que o id “empurra-nos” para buscar a satisfação das nossas energias instintivas. Não tem noção da realidade e funciona como um bebê chorão, desejando que todos seus de- sejos sejam satisfeitos imediatamente. Não sabe esperar, não tolera frustrações. Seria a parte instintiva da nossa personalidade, que quer somente gratificação e prazer, não levando em conta o mundo real, as outras pessoas ou a moralidade. Como dizemos na linguagem do senso comum, o id é o nosso lado “animal”, nosso lado B, amoral e instin- tivo. Além disso, é onde ficam armazenadas nossas memórias infantis, experiências que vamos “esquecendo” ao longo da vida. Na verdade, nada é esquecido, tudo vai para esse reservatório de emoções e instintos, chamado inconsciente. Superego: o superego é o inimigo número um do id. Também inconsciente e funcionado como uma barreira repressora dos instintos do id. O superego é a parte da nossa personalidade que funciona como uma barreira, uma censura interna para as satisfações impiedosas do id. Também é o responsável pelos nossos freios morais, pelos nossos limites, pelo controle interno das nossas vontades instintivas. O superego não nasce conosco, ele é uma parte da persona- lidade desenvolvida através da assimilação. Uma vez que, quando crianças, aprendemos a respeitar e ter limites, respeitar ordens que recebemos dos adultos responsáveis por nossa socialização e educação. Assim, são frutos do superego os sentimentos de remorsos, de culpa, de “peso na consciên- cia” por quando fazemos algo que pode ser julgado ou considerado errado. Então, o superego é o nosso limite interno, nossa lei, nossa norma, que carrega- mos dentro de nós para limitar e controlar nosso comportamento. Se não tivéssemos superego agiríamos, com base no princí- pio do prazer, somente, ou seja, seriamos escravos das nossas vontades instintivas. Todos os nossos comportamentos seriam para buscar prazer e evitar sofrimento, não importando quais consequências eles tives- sem no mundo real, ao nosso redor. Dessa maneira, essa parte respon- sável pela nossa censura moral difere da intensidade de cada pessoa. Alguns sujeitos possuem um superego mais rígido, quase como se estivessem carregando um “tira- no” dentro de si, que as castiga e que as faz despertar intenso sentimento de culpa e remorso diante do menor pensamento, fantasia ou ato que vise satisfação de al- guma vontade instintiva. Outras pessoas, por sua vez, apresentam um superego mais tênue, menos severo, que não as castiga tanto diante de suas vontades instintivas. Essas diferenças na severidade do superego provocam algumas das diferenças entre os indivíduos, tornando-as mais ou menos contidas e severas para consigo, ou para com os outros. Além disso, essa diferença de severidade do superego também responde pelas diferenças de comportamentos mais ou menos audazes, mais ou menos arris- cados que podemos encontrar nas pesso- as. Quanto mais severo o superego, mais O superego é fracionado, possuindo a parte inconsciente e outra pré-consciente, que quer dizer, facilmente, nossa atenção. 24GESTÃO DE PESSOAS contida, menos arriscada e menos ousada será a pessoa. E de onde vem essa diferença do su- perego nas pessoas? Porque ele é tão severo em algumas e tão permissivo em outras?! Uma das principais causas dessas diferenças é o que chamamos de práticas educativas parentais (Bee, 1997). Práticas educativas parentais são todos os comportamentos que os adultos que educam uma criança têm em relação a ela. São as ações que os que edu- cam tem e o modo como se relacionam com a criança, no intuito de socializar a mesma e ensiná-la os comportamentos adequados, ao longo do seu desenvolvimento. Quando os adultos educam uma criança, utilizam ações mais enérgicas, au- toritárias, com ameaças e castigos, com o uso de punições físicas e psicológicas diante das desobediências da mesma, essas que, por sua vez, são chamadas práticas parentais autoritárias, torna-se provável a estrutu- ração de um superego mais severo e rígido. Acontece como que se a autorida- de punitiva e a severidade dos adultos se transformasse numa autoridade muito se- vera “dentro da personalidade”. Por outro lado, se as práticas parentais são menos severas, mais amenas, mais calorosas e mais permissivas com os comportamentos e de- sobediências da criança, o seu superego não será tão severo. Assim como os adultos eram mais condescendentes com suas travessuras na infância, ela será mais condescendente consigo mesma quando adulta. Se você não tivesse superego, ao me- nor sinal de alguma vontade, ou do surgi- mento de algo mais prazeroso para fazer, você abandonaria esta leitura, levantaria do lugar onde está e iria fazer algo que lhe trouxesse alguma sensação mais prazerosa do que ler e estudar. E você não precisa que alguém lhe diga que você deve ficar aí lendo e estudando até o fim da tarefa. Você sabe e sente que, isso, é o certo a ser feito. Isso é o resultado do seu autocontrole interno, efeito do seu superego. Ego: finalmente temos o ego, a parte mais superficial da personalidade, que man- tém o nosso contato com a realidade. Pode- mos definir o ego como o mediador entre as vontades instintivas do id, as demandas repressivas do superego e as demandas do mundo externo. Veja que o ego, que também é desenvolvido ao longo das experiências de vida, possui muitos “senhores” a quem servir, com quem negociar, e a quem atender. O ego deve sempre manter o equilíbrio entre todas as vontades internas advindas do id e do superego, e o mundo real, que está fora da pessoa. Logo, ele precisa ser forte, para dar conta de todas estas tarefas e manter a pessoa em contato com a realidade. O ego não pode impedir completamente as vontades do id, ele deve sim atendê-las le- vando em conta às limitações da realidade e dele extrair sua energia e força. Após estas considerações, podemos perceber que nossa personalidade é prati- camente um ringue de uma luta constan- te. As três partes, id, ego, superego, estão constantemente em conflito, lutando por interesse antagônicos, com vontades opos- tas, e, manter este equilíbrio constante não é uma tarefa fácil. O ego precisa ser capaz de compreender e atender a todos e, ainda mais, se adequar às pressões externas vindas dos ambientes. 25MODELOS DE GESTÃO Vamos usar um exemplo lúdico para ilustrar esta constante luta que se trava no nosso interior. Digamos que você está ao ar livre, à beira de um precipício, numa paisagem incrivelmente linda. Você sente uma vontade louca de pular para experi- mentar uma sensação nunca conhecida antes. Imagine, você, com os pés bem na beira do precipício, olhando lápara baixo. Neste exato momento, cada uma das partes lhe diz algo diferente: o id grita empolgado “vai, se atira, vai ser ótimo, você vai sentir um prazer incrível! ”, o superego, apavora- do, e como que segurando um chicote nas mãos, te olha severamente e fala em voz grave e firme: “de jeito nenhum, não faça isso, senão será severamente castigado. Não se arrisque a ceder as vontades daquele louco! ”. E, para resolver isso, chega o ego, com sua racionalidade e paciência e propõe: “então, quem sabe a gente procura um paraquedas para poder pular, usufruir do prazer, mas sem tantos riscos! ” Compreenderam como funciona o conflito?! HORA DE PARAR E PENSAR! Agora, para exercitar mentalmente esta compreensão sobre o chamado conflito psíquico que é natural e inerente a nossa personalidade, procure imaginar ou lembrar uma situação vivida por você, na qual tenha experimentado, sentido, estas diferentes forças atuando em si. Uma vontade muito grande de fazer algo extremamente pra- zeroso, uma censura interna ou remorso lhe dizendo que não fizesse, e a solução mediadora encontrada por você para sair dessa situação de conflito. Se você prestar atenção em si, e se concentrar, encontrará muitos e muitos exemplos disso no seu cotidiano. 26GESTÃO DE PESSOAS Vivemos o tempo todo em conflito e a maneira pela qual lidamos com esses conflitos inconscientes é crucial para o nosso desenvolvimento de habilidades comportamentais, de compreensão do comportamento dos outros, e do próprio. Cada vez que olhamos para uma pessoa, não podemos esquecer que ela está vivendo uma batalha interna, mesmo sem sabermos, e que seus comportamentos e atitudes exprimem esta batalha. Vejam que conhecer estas questões sobre o conflito das partes da nossa personalidade deve nos ajudar a entender melhor o nosso próprio comportamento e a compreender de uma forma mais generosa os comportamentos alheios, sem julgamentos prévios ou preconceitos. Cada um vive e luta como pode e resolve esta batalha interna de sua personalidade da melhor maneira que consegue. Importante salientar que nesta batalha o papel do ego, e de sua capacidade de lidar com todas demandas, advindas de dentro e de fora é essencial. As pessoas precisam desenvolver aquilo que chamamos de um ego forte, robusto, resistente. Que não se acanhe diante das vontades instintivas do id, que não se deixe dominar pela censura e culpa causados pelo superego, e que não se preocupe somente em atender as demandas e padrões da realidade externa da pessoa. Ele precisa ser capaz de atender, de forma eficaz, todas estas vontades juntas, de ser um negociador, um mediador, de utilizar a energia do id em prol da produtividade. Da energia do id o ego deve extrair sua força máxima para produzir, viver, estudar, amar, enfim, viver. O id funciona como uma fonte de energia, que precisa ser bem utilizada pelo ego. Portanto, o ego não deve se amedrontar diante do id, mas, sim, saber extrair o melhor de nossas vontades instintivas. Anteriormente, quando falamos do superego, falamos sobre sua origem. E o ego, de onde vem? Como se forma? Antes de falarmos sobre isso, vamos a uma outra reflexão importante, que pode ajudá-lo a entender tudo isso que estamos estudando aqui. Quando falamos em desenvolvimento humano, de forma geral, ou seja, quando estamos dialogando sobre o longo e continuo processo pelo qual, uma pessoa, desde o seu nascimento, até a sua morte, se desenvolve, amadurece seu corpo e aperfeiçoa suas aptidões físicas, emocionais, sociais e intelectuais (Bee, 1997), estamos nos remetendo a algo que acontece de fora para dentro. O processo de desenvolvimento requer colocar coisas que “estavam fora da pessoa para dentro”. Quando proferimos o desenvolvimento da personalidade, isso é ainda, mais relevante. Pois bem, o que é isso? O que é esse processo de “colocar para dento o que está fora? Esse processo de desenvolvimento, de evolução do ser humano acontece através de dois mecanismos psicológicos ou mentais chamados de introjeção e identificação. Através deles, colocamos para dentro de nós, tudo o que acontece desde os primeiros meses de vida, coisas, pessoas, eventos que estão no ambiente, fora do nosso corpo e da nossa mente. Vamos logo a dois exemplos que ajudarão a entender isso. Normalmente dizemos no senso comum que, uma pessoa adulta só saberá amar se tiver sido uma criança amada durante sua infância. O amor 27MODELOS DE GESTÃO dos pais (que estão fora dela) passa para dentro dela, através dos mecanismos citados, ela guarda esse amor dentro de si, o qual passa a fazer parte dela, e, posteriormente, colocará, novamente, esse amor para fora nas usas relações interpessoais. Outro exemplo é aquele que descrevemos acima, quando explicamos à formação do superego. Lembra! Falamos que a autoridade, as punições que são feitas pelos pais (que estão fora da criança) são introjetados formando o superego. Quando ele está formado, a autoridade e a punição está dentro da criança (no superego). Claro que todos estes processos acontecem inconscientemente, longe da consciência da criança ou adulto, mas é assim que as coisas internas, nosso mundo interior, nossa personalidade “vai criando corpo” e existindo. Pois bem, na formação do ego acontece a mesma coisa. Ele não nasce conosco, é formado ao longo da vida por meio das relações interpessoais que a criança e, depois, o adulto, estabelecem com as pessoas que estão ao seu redor, e que são significativas para sua vida. O ego é como um mosaico, formado pelas relações interpessoais que vamos estabelecendo desde o nosso nascimento. Cada relação que for importante é “colocada para dentro” através da introjeção e identificação, e passa a compor este ego. O ego é o somatório de todas as nossas relações interpessoais. Mas não é qualquer relação interpessoal que constrói o ego. Somente aquelas relações que trazem em si aquilo que chamamos de vínculo afetivo. Dito de outra forma, podemos dizer que nosso ego é formado pelos vínculos afetivos que vamos tendo ao longo da vida. Mas qual é a diferença entre relação interpessoal e vínculo afetivo? Vamos aos exemplos! Preste atenção, isso é bem importante! 28GESTÃO DE PESSOAS VS Se você está dentro de um elevador ou numa fila qualquer e começa a interagir com as pessoas, você poderá até estabelecer uma relação interpessoal com elas. Você irá conversar, sorrir, fazer gestos, enfim, interagir com estas pessoas que antes daquele momento você desconhecia. Uma vez que você sair do elevador ou da fila, a relação terminará e, provavelmente, estas pessoas não serão mais significativas na sua vida. Geralmente é isso o que acontece. Você não formou vínculos afetivos com elas, somente teve uma relação interpessoal. Não estabeleceu uma relação de afeto, a princípio, você não tem nenhum afeto por aquelas pessoas do elevador ou da fila, elas não irão despertar nenhuma emoção em você. Então, o vínculo afetivo é algo maior, mais profundo, mais significativo do que uma relação interpessoal. Podemos ter relações pessoais que não tem, não geram, não são acompanhadas de víncu- los afetivos. Estabelecer vínculo afetivo com alguém é conectar-se, afetivamente, com alguém, e viver uma troca de afetos, de emoções, tanto positivas quanto negativas. Vincular-se afetivamente com alguém significa que essa pessoa passará a ser importante para você. Ela passará fazer parte do seu ego, será significativa para você. Relações com vínculos afetivos, como o próprio nome diz, são cheias de afeto, de emoções, calorosas. São ligações afetivas, fios de afeto que ligam às pessoas umas às outras, de modo que estabeleçam trocas satisfatórias. Tendem a ser mais duradouras e são, porque são “colocadas para dentro da pessoa” mais importan- tes e impactantes para a vida. É como se nosso ego carregasse em si todas as pessoas com as quais estabelecemos vínculosafetivos desde o nosso nascimento. 29GESTÃO DE PESSOAS Então, de que forma nosso ego é im- portante? Lembrando que ele é formado pelos vínculos afetivos que estabelecemos ao longo da vida. E nessa formação, os vínculos afetivos iniciais, os quais estabelecemos du- rante os primeiros anos de vida, são os mais importantes. Voltaremos a falar disso mais adiante, quando entramos no assunto das fases do desenvolvimento da personalidade. Quanto mais satisfatórios forem os vínculos afetivos que uma criança estabe- lecer na infância, mais forte e robusto será seu ego e, mais, terá força para lidar com as demandas internas e do ambiente exter- no. Mas o que serão vínculos satisfatórios na infância?! Que tipo de vínculo entre criança e adultos consegue formar um ego saudável, forte e robusto?! São os vínculos verdadeiramente legítimos. Aqueles que acontecem entre a criança e os adultos que a cercam, com as seguintes característi- cas: respeito pelas necessidades da criança, demonstrações verdadeiras e naturais de afetos, e constância. Em resumo, vínculos que façam a criança sentir-se respeitada, aceita, amada e em segurança. Também podemos relembrar do lado do sol da calçada. As pessoas que estão do lado do sol da calçada, normalmente, tem um ego forte. Resultado de um bom desenvolvimento da personalidade ou de um processo de autodesenvolvimento. Elas gostam de estabelecer vínculos afetivos com as outras pessoas, sentem-se bem vinculan- do-se afetivamente com os outros, sabem e gostam de demonstrar seus afetos, e isso as tornam muito carismáticas. Repare que, ao longo da nossa vida, pode-se estabelecer um círculo virtuoso ou vicioso, em termos de relações interpessoais. Provavelmente elas tiveram na sua infância algum tipo de relação interpessoal muito satisfatória, carregada de vínculos afetivos, que construíram um ego forte e saudável. Esse ego forte, por sua vez, na idade adulta, gosta e procura estabelecer vínculos afetivos com as pessoas, com as quais interage, o que reforça às características positivas do ego, e tornam o ambiente da pessoa muito melhor. Assim, todos queremos e precisamos nos vincular afetivamente aos outros. Já pessoas que possuem um ego frá- gil, pouco apto a lidar com seus conflitos internos e com as pressões do ambiente externo, provavelmente sejam resultado de histórias de vida marcadas por relações interpessoais sem vínculos afetivos, pouco afetivos ou frias. E, por sua vez, quando adultos, tenderão a repetir este padrão de relações interpessoais frias, distantes, sem afeto, justamente, porque não viveram isso. Mas nada, como já falamos anteriormente, que não possa ser alterado! Se vocês quiserem estudar mais sobre esses conceitos, devem procurar algum livro básico sobre psicologia e suas correntes teóricas, ou sobre teorias da personalidade. Fica a dica do livro clássico, História da Psicologia Moderna, de Schultz e Schultz, em qualquer edição. 30GESTÃO DE PESSOAS Fases do desenvolvimento da personalidade e traços de personalidade. Após termos estudado os conceitos de comportamento, atitudes e personalida- de é importante estudarmos mais detalha- damente as fases do desenvolvimento desta personalidade. Falamos que este desenvol- vimento é uma espécie de construção, a qual acontece em etapas sucessivas durante as novas aquisições que vão acontecendo, novos processos de introjeção e identifi- cação. As etapas que veremos, agora, são descritas pela teoria psicanalítica do de- senvolvimento da personalidade (Schultz & Schultz, 2002). São consideradas etapas universais, o que quer dizer que, com algumas variações, todas as crianças, de todas as culturas, pas- sam por elas ao longo de sua infância. As etapas acompanham a idade cronológicas, contendo pequenas variações, que podem estar ligadas aos tipos de ambientes em que a criança está submetida. O importante é entender o que cada etapa agrega em termos de formação da personalidade, para que possamos aprofundar nosso entendimento sobre o comportamento humano. Em cada fase, ou etapa, a criança tem tarefas a cumprir, demandas internas com as quais tem que aprender a lidar, desejos que buscam satisfação, demandas do seu ambiente externo que a pressionam, e de- senvolver determinadas características que a acompanharão pela vida afora. Em cada fase, ela aprenderá, convi- vendo, interagindo e se vinculando com os adultos que estão ao seu redor, um mode- lo, um padrão de relacionamento social e afetivo, que tende a se cristalizar e a fazer parte do seu perfil de personalidade, quan- do chegar a fase adulta. Importante dizer que, quando falamos em desenvolvimento humano, precisamos entender que ele é um processo continuo de desenvolvimento dos vários aspectos do ser humano: aspectos físicos, aspectos cognitivos, aspectos sociais, aspectos afetivos. Aqui vamos enfatizar o desenvolvimento afetivo e social porque será ele que vai marcar o modo como as pessoas se comportarão em interação com as outras, e o modo como poderão modificar sua personalidade, atitudes e comporta- mentos na vida adulta. As fases do desenvolvimento da personalidade são chamadas, dentro do contexto da teoria psicanalítica, de fases ou estágios psicossexuais do desenvolvimen- to da personalidade (Schultz & Schultz, 2002). Eles têm esse nome porque são uma secessão de fases, sendo que em cada qual a energia instintiva da criança está “ligada” a uma área do seu corpo, que passa a fun- cionar como uma verdadeira zona erógena, e que “comanda” todas as suas relações in- terpessoais. Vemos, portanto, que a questão da sexualidade (não do sexo), é uma ques- tão importante para o desenvolvimento da personalidade. O desenvolvimento da personalidade é o próprio desenvolvimento da sexualidade de uma pessoa. Mas, atenção, quando falamos em sexualidade, queremos dizer o quê?! 31GESTÃO DE PESSOAS Sexualidade é energia. A energia vital que nos move, que impulsiona para todas as formas de desenvolvimento que podemos experimentar na vida. Neste contexto, o qual estamos estudando, o desenvolvimento da personalidade, a partir do ponto de vista da teoria psicanalítica, sexu- alidade não significa atos sexuais. A sexualidade, que está presente no ser humano desde o nosso nascimento, tem a ver com a obtenção de um prazer difuso em várias partes do corpo ao longo da vida, e com a constante busca de prazer, são impulsionadas pelo nosso instinto. A sexualidade tem a ver com prazer, com impulso para a ação, com a busca de vários tipos de prazer, com a vontade de se movimentar de várias formas para buscar satisfações de variados tipos. Enfim, sexuali- dade é um termo amplo, que significa a vontade de viver, buscar prazer e se sentir satisfeito. Podemos dizer, que a sexualidade, neste amplo e vital sentido, tem tudo a ver com a postura das pessoas que vivem do lado do sol da calçada! 32GESTÃO DE PESSOAS Após esta observação, que é impor- tante para o entendimento deste desen- volvimento da personalidade que estamos estudando, vamos voltar para as fases. Ao lado, apresentamos uma tabela com as fases psicossexuais do desenvol- vimento da personalidade e, a seguir, a explicação de cada uma delas, lembrando que é o que acontece com a energia sexual – libido – que vai comandar o surgimento das fases e a importância que, cada uma delas, tem na formação das características da personalidade. É importante nesse momento, como sempre, resgatarmos o propósito de estar- mos estudando as fases do desenvolvimento da personalidade. Estamos nos instruindo disso, para termos subsídios para compre- endermos, de uma forma mais profunda e robusta, os comportamentos humanos, sejam os nossos próprios, ou das pessoas que nos cercam. Importante sempre lem- brar disso, para ir “formando” na sua mente ideias coerentes e coesas sobre o entendi- mento do ser humano. Fase oral: primeira fase do desen- volvimento, que vai do nascimentoaté o segundo ano de vida. Nesta fase, a principal fonte de prazer da libido da criança são as atividades ligadas à sua alimentação. Ela obtém prazer na sucção, e posteriormente, nas mordidas, e a sensação do alimento (leite) entrando pelo seu corpo é uma fonte maravilhosa de prazer. O prazer vem também de todo o contato corporal que a criança tem com a mãe, tais como o afago, aconchegos, o cheiro da mãe, sua segurança ao ser tocada. Tudo isso, juntamente com a alimentação, compõe o conjunto de fontes de prazer da criança e contribuem para a formação do ego incipiente. A criança está totalmente Nome da Fase Idade Média Características ORAL 0-1 Predominância do id, sendo a boca a principal fonte de prazer obtido pela sucção. ANAL 1-3 Em função do treino dos hábitos de higiene, a região anal passa a ser a principal fonte de prazer. FÁLICA OU GENITAL INFANTIL 4-5 Fase do prazer com fantasias incestuosas. Fase do Complexo de Édipo. Formação do superego. LATÊNCIA 5 - Puberdade Fase de sublimação dos instintos sexuais. GENITAL ADULTA Adolescência em diante Fase do desenvolvimento da identidade sexual, do papel sexual e de relações adultas. Consolidação da personalidade. Tabela das Fases Psicossexuais do Desenvolvimento da Personalidade Fo nt e: B ee (2 00 7) 33GESTÃO DE PESSOAS dependente da figura materna que a cuida, e entre esta figura e a criança vai aconte- cendo um aprendizado: ambas aprendem a se amar. Esta será a primeira relação in- terpessoal da criança, seu primeiro vínculo afetivo, e por isso mesmo, o mais poderoso de sua vida. A forma como a mãe consegue atender às necessidades da criança, que são somente instintivas, será fundamental para o começo da formação de seu mun- do interior, do seu ego. Será no contexto desta relação, dependendo do que acontece com essa dupla, que a criança aprenderá se o mundo é bom ou mau, se é um lugar satisfatório ou não para suas necessidades, seguro ou perigoso. Toda esta relação oral e de dependência, que é fonte de prazer, será introjetada, “colocada para dentro”, começando a formar o ego da criança. Nesta fase a criança pequena precisa aprender a sentir que a figura materna irá satisfazer suas necessidades, que ela estará amparada e que a mãe é alguém em quem ela pode confiar, pois ira ajudá-la com suas necessidades. Os comportamentos orais que demonstramos na idade adulta, que nos dão satisfação, tais como beijar, comer ou beber, falar muito, são comportamentos originados desta fase da vida, em que o prazer vinha de atividades ligadas à boca. Fase anal: com o crescimento e de- senvolvimento físico, a partir do segundo ano de vida, a criança vai diminuindo sua total dependência da figura materna. Co- meça a se perceber como um ser separado da mãe, mais autônomo, com as possibi- lidades de locomoção trazem maior inde- pendência e autonomia. Nesta fase, também são fundamentais as práticas educativas parentais, ligadas ao treino do controle dos esfíncteres. Este treino terá importância fundamental na continuidade da formação da personalidade. Para esta teoria, a defe- cação traz um prazer sexual para a criança. O prazer que na fase anterior ela sentia, ao se alimentar, agora sente ao defecar e controlar os seus próprios esfíncteres. Além disso, os produtos fecais serão percebidos pela criança como o primeiro produto que ela faz e entrega ao mundo, “seu cocô é algo valioso”, que ela faz e entrega aos adultos, e espera que seja recebido com cuidado e carinho. Então, agora, diferente da fase an- terior, a criança terá que aprender a lidar com um obstáculo na busca da gratificação das suas necessidades: o treino higiênico imposto pelos seus pais, que não permitirá a ela dar vazão a todos os seus instintos libidinosos. Ela terá que aprender a abrir do prazer anal tão desejado para agradar aos seus pais. Esta fase será, portanto, muito con- flitiva para todos os envolvidos do que a anterior: crianças e pais. A criança aprende que tem uma arma a ser usada contra os pais: a desobediência aos seus pedidos de controle do cocô e xixi. Ela aprende que tem o controle sobre algo importante, o seu treino de higiene, e que pode optar ou não por agir de acordo com as demandas dos pais. De acordo com o grau de exigência do pais, a criança aprenderá a manipular os mesmos, podendo apresentar compor- tamentos de birra, desobediência, protesto, fazendo as suas necessidades em locais e modos bem diferentes daquelas que os pais tanto pedem. Também poderá aprender a reter suas fezes, o que poderá ser uma outra técnica de manipulação dos adultos. 34MODELOS DE GESTÃO O que é certo e que quanto maior for a rigidez dos adultos em relação ao treino da higiene, mais a criança irá aprender formas de combater esta rigidez e manipular os pais, pois ela entende que tem o direito de ter prazer e comandar esses aspectos tão importantes e recém descoberto de si mesma: suas atividades fecais. Então percebam que a relação de puro amor e satisfação da fase oral dá lugar a uma relação conflitiva, cuja apresentada para a criança com os dramas e os desafios que terá que enfrentar daqui em diante: a satisfação de suas vontades instintivas x a obediência aos outros que estão no mundo externo. A partir da fase anal, o ego (que está aprendendo a se relacionar e, simultanea- mente, se formando através das introjeções e identificações) terá que aprender a lidar com relações interpessoais mais confliti- vas, mais frustrantes. Os vínculos afetivos passam a não ser, somente, estabelecidos em relações de amor e satisfação, mas em relações de amor e ódio, de gratificação e frustração. Vejam que nessa fase acontece um processo longo e suave, de socialização da criança, a qual trará grandes mudanças gra- dativas na formação do seu ego. A socia- lização é um processo contínuo, no qual, o indivíduo, ao longo da vida, aprende e identifica hábitos e valores característicos que o ajudam no desenvolvimento de sua personalidade e na integração de seu grupo, tornando-o sociável, hábitos, esses, que não são inatos. Importante notar que existem dife- rentes processos de socialização de acordo com a sociedade que estamos inseridos, que utilizam diferentes práticas educativas. Qualquer que seja a classe social e a realida- de, os processos de socialização são muito diversos e podem ocorrer entre pessoas que vivem numa favela, por exemplo, ou entre os burgueses que habitam a zona sul de uma grande capital. Mas todos estes processos tem um objetivo comum: “domar” as von- tades instintivas da criança e ensiná-la a se comportar de acordo com os parâmetros da sociedade, a qual está sendo educada. Antes de continuarmos as fases do desenvolvimento, uma pausa! A essas alturas, você deve estar pen- sando: “nossa, quanta coisa que acontece e que se passa na cabeça de uma criança tão pequena”! Não me lembro disso na minha própria infância”! Importante lembrarmos que todos estes acontecimentos, a memória afetiva deles, os resultados de todas estas fases estão guardados lá no nosso incons- ciente. Lembram quando falamos que o inconsciente guarda todas as nossas me- mórias infantis?! As experiências, emoções, sentimentos, afetos, os vínculos vivencia- dos ao longo dessas fases, tudo isso está guardado lá no fundo da nossa mente, no nosso inconsciente. E, de lá, comandam e influenciam nossos comportamentos e atitudes. 35GESTÃO DE PESSOAS Fase Fálica ou Genital Infantil: com o seu crescimento contínuo, com seu en- tendimento da realidade sendo ampliado, a criança entra na terceira fase do desenvol- vimento. Nesta fase, o foco do prazer passa da zona anal do corpo para os genitais, tra- zendo um novo conjunto de conflitos para as relações interpessoais da criança com seus pais. Novamente, a criança encontrará batalhas entre a busca da satisfação dos seus desejos inconscientes e as demandas da sociedade, materializadas nas práticaseducativas dos seus pais. Agora o prazer sexual será obtido na exploração e manipulação dos seus ge- nitais. A criança também começa a ter muita curiosidade sobre sua origem, sobre o corpo humano, sobre o nascimento dos bebês, e em relação a todos os assuntos ligados à sexualidade. Os conflitos vividos pela criança são, para muitas pessoas, até difíceis de serem compreendidos, porque envolvem temas considerados complicados na nossa cultura, tais como fantasias sexuais e o tabu de incesto. Os conflitos básicos dessa fase con- centram-se no desejo inconsciente da criança pelo seu genitor do sexo oposto, e acompanhado pelo desejo agressivo incons- ciente de substituir o genitor do mesmo sexo. Fantasias amorosas e agressivas, de rivalidade de paixão, povoam o inconsciente da criança, menino ou menina, e vão mol- dar seus comportamentos nesta idade. O menino deseja ser “o príncipe”, o amor da mamãe, e a menina deseja ser “a princesa”, o amor do seu papai. Cabe, aqui, lembrar que, estas vivências não são necessariamente ligadas aos pais biológicos. Qualquer pes- soa adulta que seja importante na vida da criança, poderá desempenhar estes papeis de pai e mãe e despertar estes sentimentos de amor e ódio na criança. E por vivenciar sentimentos tão in- tensos, ambivalentes e considerados con- denáveis, a criança sente culpa e remorso. Culpa e remorso por desejar coisas ruins ao genitor do sexo oposto, considerado rival nas suas fantasias de amor. Na verdade, nesta fase, a criança vivencia um triângu- lo amoroso com seus pais, com todas as emoções e dores que um triângulo amo- roso pode trazer. Para encerrar esta fase, a criança precisará, através das práticas edu- cativas firmes, mas amorosas, de seus pais, compreender que necessita abrir mão dos seus desejos amorosos, que esse triângulo amoroso é inviável, e que ela tem que se conformar com isso. No final da fase, a criança precisará estar apta a compreender e vivenciar a sensação de que todas as suas vontades instintivas não são e não poderão ser satisfeitas, nem agora, nem ao longo de sua vida. E, esse fundamental entendi- mento, será obra do superego, o qual estará completamente formado. É ele que fará a criança abdicar de suas fantasias amorosas, tornando-se conformada com os limites impostos pelo mundo externo. Por meio das três fases que descre- vemos que esta parte da personalidade, chamada superego, que tem um papel tão importante na nossa vida, foi se formando, e agora estará em pleno funcionamento. A partir do final da fase fálica, a criança será mais apta a controlar sua impulsividade, suas vontades e desejos, levando em conta as realidades externas e os impeditivos para a plena e imediata satisfação de suas vontades. Isso será um avanço incrível e fundamental no seu desenvolvimento! 36GESTÃO DE PESSOAS E, nesta formação, o equilíbrio das práticas educativas parentais é fundamental. Os pais, no seu comportamento, em relação à criança não podem ser nem austeros, auto- ritários e severos demais, nem permissivos e condescendes demais. Aos olhos da criança os pais podem parecer severos e punitivos demais. Mas a crescente imposição de li- mites para a criança é fundamental para estruturação adequada da personalidade. 37GESTÃO DE PESSOAS A personalidade da criança está em construção. E para que isso aconteça da forma mais saudável possível, para que a idade adulta dela seja capaz de lidar com o mundo, é preciso um balanço entre autori- dade e permissão, além de, sempre, muito afeto. Os vínculos afetivos vão acontecendo enquanto são dadas, para a criança, ordens, comandos, regras e carinhos. São eles que vão consolidando o ego e dando força para essa obra que está em construção – a per- sonalidade. Lembrando sempre do nosso lado do sol da calçada, vamos consolidar em nós o entendimento de que, a maior parte da nos- sa personalidade foi montada até estas fases que terminamos de ver. Do lado do sol da calçada às pessoas tem autoconhecimento, e este entendimento será bem importante para desenvolvermos o mesmo. Até o final da fase fálica as três estruturas da personali- dade – id, ego e superego - estão formadas, bem como, as relações entre elas estão se consolidando e estabelecendo, de forma cada vez mais clara, o papel bem definido. Assim sendo, nestas fases que estudamos está a base, a origem de muitos dos nossos comportamentos, e precisamos entendê-los bem para olhar nossos comportamentos com um olhar diferenciado. Usando um exemplo bem simples e até mesmo caricato, eu preciso entender que quando sofro alguma frustração na vida e reajo como um “bebê chorão”, que grita e esperneia para que sua vontade seja atendida imediatamente, eu estou me com- comportando como quando eu estava lá na fase oral e, diante da fome, gritava e chorava chamando pelo alimento, sem paciência e tolerância alguma. Esse entendimento vai aumentar a minha capacidade de au- toconsciência e, com isso, a capacidade de deixar de agir, em certas situações, como um “bebê chorão”! Nós passamos pelas fases do desen- volvimento, mas elas não passam por nós! Elas ficam dentro de nós! Vamos lá para a próxima fase, a latência, considerada uma fase de descanso para as crianças e para os próprios pais, que vem de uma caminhada de anos lutando para domar instintos infantis sem frustrar e cercear demais a criança. Uma caminhada de anos que simboliza bem o que é o desen- volvimento humano: crescente e, cada vez mais complexa, a habilidade de lutar e lidar com forças externas e internas, de modo que se obtenha um equilíbrio que promova o bem-estar e saúde da pessoa. Bem-estar, este, ligado, na perspectiva desta teoria, com a redução da tensão e da frustração. E nessa caminhada de luta, a próxima fase, a latência, será um oásis no deserto! Latência: a formação plena do su- perego permitirá que a criança evolua para esta nova fase, a latência. Ela só será possível com o pleno funcionamento do superego. Será ela que permitirá a completa repressão de todos os dramas afetivos vividos nas fases anteriores. Anseios, vontades, desejos instintivos serão agora todos esquecidos, reprimidos e a vida da criança será marcada por uma “calmaria” instintiva. Não surgem novas áreas do corpo que funcionem como zona erógena, e o prazer dos instintos passa para segundo plano. 38GESTÃO DE PESSOAS Agora, a criança vai destinar sua energia instintiva para outras atividades que não tem finalidades sexuais direitas de prazer sexual, como por exemplo, o estudo e brincadeiras. Isso será possível graças a um processo psicológico chamado subli- mação, que acontecerá pela primeira vez nesta fase, e, que, acompanhará toda a vida da pessoa. Sublimação é justamente esse processo de canalizar energia instintiva para atividades que não tem finalidade sexual, mas que podem ser igualmente fontes de prazer. Esta sublimação só acontece agora na vida da criança, porque ela é obra de um acordo entre o ego e o superego. A energia instintiva será utilizada para outras ativi- dades, ficando à disposição do ego, como uma fonte inesgotável. Esta capacidade de sublimar, de ter prazer em atividades produtivas sem caráter sexual será uma das qualidades ou apti- dões mais importantes para a personalidade adulta, pois ela permite aliviar as pressões instintivas e atender demandas externas da vida adulta. Trabalhar e estudar são os maiores e melhores exemplos de sublima- ção. Freud, ao escrever toda esta teoria, já dizia que a pessoa adulta normal e saudável, é aquela capaz de amar e trabalhar, ou sejam de amar e sublimar. Agora que estamos falando de su- blimação, este mecanismo que nos per- mite ter energia para o trabalho e para o estudo, obter prazer nas atividades, cabe lembrarmos lá do nosso personagem “ari- gó”. O “arigó”, pelas suas características que já descrevemos, é uma pessoa que, por problemas acontecidos durante suas fases do