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GESTÃO DE TALENTOS, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO Olá! A busca pelo desenvolvimento de uma organização geralmente está relacionada à sua capacidade de conhecer o segmento, o mercado em que atua e os diversos cenários possíveis, o que exige aprendizado constante e, portanto, capacidade de gestão de conhecimentos e competências dos seus funcionários. O Brasil seguiu algumas tendências teóricas em aprendizagem organizacional, tentando ampliar os conceitos de aprendizagem, focando mais na importância da natureza processual e dinâmica da aprendizagem que deve estar presente na prática de gestão organizacional. Portanto, além da capacidade de mapear, codificar e transformar o conhecimento dos colaboradores, é necessário promover a sua partilha específica para enriquecê-los através de trocas e relações diárias que visam melhorar as competências desejadas e necessárias para garantir a eficácia organizacional. Nesta aula você lerá sobre aprendizagem organizacional e descobrirá o que os principais estudos desenvolvidos no Brasil têm a dizer sobre o assunto. Você também aprenderá o que é gestão da informação e quais são suas possibilidades no nível individual e coletivo das organizações. Bons estudos! AULA 4 – DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 4. APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO BRASIL Atualmente, pensar no desenvolvimento da organização exige perceber o quanto é importante contribuir com os aspectos pedagógicos dos colaboradores da organização, seja para completar competências existentes, seja para adquirir novos conhecimentos e desenvolver as competências necessárias para se manter competitivo no seu segmento de mercado. Assmann (2004, p. 19) enfatiza que vivemos numa sociedade de aprendizagem onde “[...] toda a sociedade deve entrar num estado de aprendizagem e transformar-se numa vasta rede de ecologias cognitivas?”. Esta expressão surgiu a partir do desenvolvimento da chamada sociedade da informação, que significa a difusão das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs) e o crescimento da sociedade da informação. A força motriz por detrás deste movimento foi a globalização na década de 1990, que teve um impacto definitivo na forma como as organizações (e as pessoas) operam, comunicam e negociam, e onde concentram os seus objetivos e estratégias. Já em 1990, Peter M. Senge enfatizou em A Quinta Disciplina que é necessário "[...] acabar com a ilusão de que o mundo consiste em forças separadas que não estão conectadas entre si. O autor enfatizou que, segundo ele, as organizações devem adaptar-se à situação que se iniciou, o que exige mais dinamismo, flexibilidade e adaptabilidade, diz, é o que as organizações aprendem: [...] Organizações onde as pessoas continuam a aumentar a sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde são encorajadas formas de pensar novas e inclusivas, onde é dada liberdade ao esforço coletivo e onde as pessoas estão constantemente a aprender a aprender juntas (SENGE, 2002, p. 37). Essas ideias estão contidas em diversos documentos de organismos multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização Econômica. Cooperação e desenvolvimento. (OCDE) etc. - que influenciou diretamente o Brasil nas esferas econômica e educacional nas décadas de 1990 e 2000, enfatizando a importância de aprender, “aprender a aprender” e principalmente “para a vida”. Atualmente, Ball (2020) referiu-se à urgência da educação no ambiente organizacional com o termo Educação Global S.A., que expressa a atualidade da aprendizagem nas novas redes políticas da sociedade e seu protagonista dentro da lógica neoliberal. No entanto, a aprendizagem organizacional difere do conceito de “organizações que aprendem” de Senge (2002), que segundo Antonello e Godoy (2011) é entendido como um dos muitos aspectos da aprendizagem organizacional na perspectiva da gestão e liderança, especialmente a chamada conexão com o pensamento sistêmico. Deve-se enfatizar que a aprendizagem organizacional tem sido estudada nas últimas décadas sob diferentes perspectivas da psicologia, antropologia, sociologia, política e gestão, o que levou a uma cadeia de teorias relacionadas à aprendizagem, à gestão do conhecimento e ao desenvolvimento organizacional. No Brasil, os estudos organizacionais utilizaram teorias internacionais relacionadas aos seus potenciais áreas de cobertura e isso é destacado por Takahashi e Fischer (2009, documento online): No Brasil, o aprendizado da pesquisa de campo estava geralmente associado a temas relacionados, como estratégia, cultura organizacional, qualidade total, recursos humanos e, muitas vezes, habilidades. Exemplos de estudos nacionais incluem Fleury e Oliveira Jr. (2001), Loiola e Bastos (2003), Fischer e Silva (2004), Fleury e Fleury (2004), Ruas e Antonello (2003), Bitencourt (2001), Antonello (2005) e Ruas (2005). Os trabalhos recentes de Antonello e Godoy (2011) e o estudo de Bispo (2013) sobre investigação baseada na prática (PBE) são adicionados a essa lista. Portanto, apresentamos detalhadamente os argumentos desses autores para fornecer um panorama da aprendizagem organizacional no Brasil. Ruas, Antonello e Boff (2005, documento online) analisam o surgimento do conceito de competências e sua adoção gerencial no Brasil a partir das mudanças vivenciadas no contexto nacional, enfatizando que “[...] o conceito de competência está definitivamente relacionado à crescente instabilidade da atividade econômica, da relação entre as empresas e os seus mercados e com baixa previsibilidade e estreitamento de estratégias de adaptação junto dos clientes" partilha os seus objetivos estratégicos a todos os níveis de gestão: [...] de uma organização do trabalho mais estável e previsível para uma organização bastante diferenciada e fluida, onde os processos preditivos se concentram mais no que o trabalho (seu resultado) deve se tornar, e não em como fazê-lo (processo) (RUAS; ANTONELLO; BOFF, 2005, documento online). Vemos aqui um dos aspectos mais importantes da aprendizagem organizacional, que tem como foco a gestão da capacidade, sua natureza processual, onde “[...] a essência do trabalho deve ser gerenciar muitos casos além da capacidade de execução, pode identificar e escolher o que fazer para que você possa se adaptar à situação específica (adaptada) que você enfrenta” (RUAS; ANTONELLO; BOFF, 2005, documento online). Orientações para que os colaboradores aprimorem suas habilidades analíticas e gerenciais foram aplicadas no desenvolvimento de gestores e equipes de autogestão. Bispo (2013, documento online) acrescenta, analisando a forma de aprender em uma organização, que “[...] o cotidiano nas organizações de trabalho consiste na negociação de pessoas e grupos na criação de conhecimento, o que inclui também o significado de aprendizado, criação de conhecimento, palavras, ações, situações e objetos materiais". Dessa forma, a aprendizagem é dinâmica, contextual, utilizando a interação entre as pessoas e o ambiente organizacional, o que se reflete em suas práticas. Nesse sentido, o papel fundamental de conectar as políticas e práticas das pessoas. Bishop (2013) utiliza a autora Silvia em sua discussão sobre a pesquisa de al Gherardi (2007), que dá uma contribuição importante para o aprendizado que uma organização precisa para compreender a prática e seu impacto: ✓ grupo de ação; ✓ quanto tempo leva; ✓ reconhecimento social; ✓ modo de vida. As práticas organizacionais voltadas ao aprendizado dos colaboradores incluem, assim, atividades desenvolvidas por um grupo ou equipe quepossuem certa unidade e reconhecimento desse grupo ao longo do tempo e que geralmente afetam a mudança ou manutenção da forma de fazer as coisas no ambiente de negócios. Como acrescenta Bispo (2013, documento online): “A prática é algo que confere identidade a um grupo organizado em torno dela, que se aprende através da interação dos atores sociais e dos elementos humanos e não-humanos, e é fruto do silêncio e da estética. A dimensão da sua interação". Portanto, as práticas organizacionais são cruciais para o funcionamento dos processos da empresa, porque existem em todas as áreas, pelo que devem ser uma prioridade na gestão de recursos humanos que procura desenvolver os conhecimentos e competências dos seus colaboradores. Compreender que a aprendizagem organizacional é um problema dinâmico e ambiental (político, econômico, social e cultural) que afeta as ações tanto das empresas como dos indivíduos. A essa compreensão do processo de aprendizagem organizacional e da natureza do ambiente pode-se somar a ideia de rede (LATOUR, 2005), que consiste em elementos humanos e não humanos em seus diversos contextos possíveis. Latour (2005, p. 129), ao discutir a teoria do ator-rede, argumentou que: [...] Uma rede não significa nada na forma de pontos interligados, como linhas telefônicas, rodovias ou uma “rede” de esgotos. Nada mais é do que um indicador da qualidade de um texto sobre os temas relevantes. Isto é característico da neutralidade, ou seja, da capacidade de cada ator forçar outros a tomar ações inesperadas. Um bom texto evoca redes de atores quando permite ao autor identificar um conjunto de relações definidas como tantas traduções. Portanto, os líderes organizacionais devem compreender que o resultado dos seus sistemas de gestão de desempenho depende necessariamente de vários atores da rede de significado da organização, onde cada elemento provoca mudanças e é simultaneamente moldado pelo ambiente e pelas suas relações. Esses atores moldam o ambiente interno e externo, local e global e seus possíveis cenários. Esta compreensão é essencial para implementar melhores princípios e práticas de gestão de recursos humanos, incluindo o desenvolvimento profissional e organizacional. 4.1 Aprendizagem organizacional: as principais características A aprendizagem organizacional, considerada essencial para as organizações atuais, pode ser vista sob diversas perspectivas teóricas. Aqui a decompomos para fins didáticos, agrupando a análise de Easterby-Smith, Burgoyne e Araujo (2001) em duas correntes principais, uma técnica e outra social. Sua visão técnica enfatiza o bom uso das múltiplas informações existentes e transformá-las em informações direcionadas às estratégias organizacionais. A esse respeito, Huber (1991, p. 89) comenta que “[...] uma unidade aprende quando, por meio do processamento de informações, sua gama de possíveis mudanças comportamentais [...] uma organização aprende quando uma de suas unidades adquire informações, isso é considerado para a organização potencialmente útil. Ao referir-se a perspectiva social da aprendizagem organizacional, Easterby- Smith, Burgoyne e Araujo (2001, p. 4) comentam que: [...] concentra-se em como as pessoas se sentem em relação à sua experiência de trabalho. Estas experiências podem vir de fontes explícitas, como dados financeiros, ou de fontes tácitas, como o “instinto” de um artesão experiente ou a intuição de um estrategista experiente. Nessa perspectiva, a aprendizagem surge da interação social, geralmente no próprio local de trabalho. Esta visão sociológica da produção e aprendizagem do conhecimento orienta as organizações a implementarem políticas e práticas de GRH que tenham como foco a gestão eficaz das competências dos colaboradores, o que significa a aquisição de novas competências e conhecimentos de forma processual, integrada e interdependente entre as pessoas, os seus gestores, e líderes, incluindo aspectos racionais e emocionais, incluindo. Os pesquisadores brasileiros Antonello e Godoy (2011) encontraram diversas alternativas teóricas reformuladas nas últimas décadas. Eles comentam sobre isso: Acreditamos que ao desenvolver teorias e adotar uma perspectiva adequada às diferentes representações do tema, é possível identificar quatro características da AO que devem ser elaboradas, acrescentadas e/ou preservadas para a compreensão do fenômeno e delinear o conceito de CV para apoiar sua pesquisa empírica (ANTONELLO; GODOY, 2011, p. 43). As características citadas pelas autoras são estas (ANTONELLO; GODOY, 2011): ✓ nível de aprendizagem; ✓ neutralidade do objetivo; ✓ o conceito de mudança; ✓ natureza processual da aprendizagem. Ao se referir ao nível de aprendizagem, deve-se entender que a aprendizagem organizacional é sempre potencializada a partir do relacionamento entre o indivíduo e os grupos participantes da organização. Assim, “[...] levanta a possibilidade de tratar a aprendizagem explicitamente como um fenômeno interpessoal” (ANTONELLO; GODOY, 2011, p. 44). Assim, a aprendizagem individual dos funcionários e a aprendizagem organizacional estão sempre relacionadas às relações humanas, influenciam-se mutuamente e mudam conforme aprática (formal e cotidiana), que se manifestam como efeitos recursivos dessa aprendizagem. Outra característica citada pelos autores, a neutralidade objetiva, sugere que a aprendizagem organizacional costuma estar diretamente relacionada aos resultados de desempenho organizacional (positivos ou não), o que neste caso pode deixá-la com uma boa ou má impressão. Isso acontece em todos os níveis: individual, grupal ou organizacional. Segundo os autores, é melhor falar em neutralidade objetiva, para que o processo de aprendizagem da organização não se torne trivial, ignorando diferentes contextos, atores e possíveis resultados durante a implementação deste processo (ANTONELLO; GODOY, 2011). O conceito de mudança geralmente está diretamente relacionado às práticas orientadas para a aprendizagem no ambiente organizacional; entretanto, como sublinham Antonello e Godoy (2011, p. 44), isso também deve ser cuidadosamente considerado porque “[...] nem toda aprendizagem se manifesta como mudança comportamental”. Assim, muitas vezes os colaboradores aprendem a adquirir ou atualizar competências, mas isso nem sempre se concretiza na prática e é um catalisador de mudança se não for implementado. A característica mais poderosa da aprendizagem organizacional que merece maior atenção dos líderes organizacionais é a sua natureza processual. Antonello e Godoy (2011, p. 45) alertam que “[...] a aprendizagem é muitas vezes uma caixa preta quando a atenção está focada em insumos do processo, condições (facilitadores e barreiras) ou resultados (produtos)”. Neste caso, as organizações devem afastar-se de pontos de vista que limitam a aprendizagem e compreender que a sua natureza pedagógica é visível em todas as fases do processo e é diretamente influenciada pelas partes envolvidas (professores e formandos), pelos recursos existentes e disponíveis e pelo ensino. /o clima de aprendizagem é causado pelas práticas de aprendizagem da organização em relação às relações interpessoais entre os participantes, entre muitos outros fatores. Uma característica fundamental da aprendizagem processual é geralmente a avaliação formativa contínua, que ocorre em todas as fases do processo, e não apenas no final. Se essa característica de ensino e aprendizagem for levada para o ambiente organizacional, fica claro que a avaliação de desempenho do colaborador ocorreu apenas ao final do processo, que se baseia na análise dos resultados alcançados. Seria muito melhor se houvesse lugar para aprendizagem e avaliação contínua e sistemática no processo de criação de atribuições e tarefas. Assim, ao combinar os quatro elementosanalisados, poderíamos alcançar uma conceituação mais abrangente de aprendizagem organizacional: Um processo pelo qual os participantes refletem sobre as suas práticas para compreender as conexões entre aspectos definidores, atividades e resultados. Este processo pode ser pessoal ou social, mas somente quando é pessoal é que o termo aprendizagem organizacional é usado (ANTONELLO; GODOY, 2011, p. 45). Na aprendizagem organizacional, as pessoas aprendem sobre as práticas organizacionais mudando a si mesmas, a organização e as práticas aplicadas. Algumas organizações têm investido em processos mais estruturados para gerir o conhecimento dos seus colaboradores e para produzir, transformar e partilhar esse conhecimento e competências para benefício de todos, acelerando o desenvolvimento organizacional. 4.2 Gestão de informações individuais e coletivas Devido às mudanças no mercado global decorrentes da globalização na década de 1990, organizações ao redor do mundo passaram a cuidar de forma mais eficaz da informação e de sua gestão para se manterem competitivas. Sobre esse aspecto, Zimmer e Leis (2011, p.161) comentam: O termo gestão do conhecimento nasceu na década de 1990 como uma proposta de agregar valor ao conhecimento e facilitar a comunicação dentro e entre as organizações. Quando utilizada corretamente, a gestão da informação é considerada um importante método de gestão para manter a competitividade de uma organização. Entendemos que uma organização não pode projetar melhores resultados apenas a partir das informações que seus colaboradores ou stakeholder produzem no seu dia a dia, nem apenas a partir das informações que necessariamente devem ser transformadas em informação. Nesse sentido, a principal característica do conhecimento é que ele pode ser aplicado para atender aos requisitos de uma determinada organização. Zimmer e Leis (2011) apontam que existem muitas referências teóricas que focam no estudo da gestão do conhecimento; contudo, com base em Nonaka e Takeushi (1997), sugerem que existem duas correntes opostas e complementares no Ocidente, a racionalista e a empirista: Para os racionalistas, o verdadeiro conhecimento não é o produto da experiência sensorial, mas de um processo mental ideal, onde a matemática e a lógica são os verdadeiros modelos de conhecimento, onde as verdades necessárias são obtidas através da intuição e do raciocínio. Mas, por outro lado, os empiristas argumentaram que não existe conhecimento de causas a efeitos e a única fonte de conhecimento é a experiência sensorial, o seu modelo é a ciência natural onde a observação e a experiência são muito importantes para a investigação (ANTONELLO; GODOY, 2011, p. 162). Desta forma, entendemos que o conhecimento convida a múltiplas interpretações, que vão desde as oposições binárias entre razão e emoção, até questões mais avançadas e o aspecto pragmático da sua aplicação, e até abordagens mais filosóficas, antropológicas e sociológicas. Embora Zimmer e Leis (2011), que possuem menos tradições teóricas no estudo da gestão do conhecimento organizacional, apontem que no Oriente, especialmente no Japão, existe uma compreensão mais abrangente do conhecimento com três pilares: ✓ unidade do homem e da natureza; ✓ unidade de corpo e mente; ✓ unidade de si e do outro. Se analisarmos os dados conforme oaprendizado da organização previamente estudada, seu procedimento e a participação de seus participantes nas interações e relacionamentos existentes, então responderíamos de alguma forma a essa abordagem oriental, certo? Definindo gestão do conhecimento, Boff e Antonello (2011, p. 184) concluem: “Na literatura, a gestão do conhecimento (GC) é frequentemente usada para descrever atividades relacionadas à identificação, codificação, medição, armazenamento e comunicação de todos os tipos de informações. “Diz tanto ao conhecimento individual adquirido pelo trabalhador através da aprendizagem informal, como resultado da aprendizagem informal e da formação formal, conduz ao conhecimento que é criado coletivamente mediante intervenções e práticas pedagógicas proporcionadas pelas organizações. Para entender melhor como funciona a gestão do conhecimento, podemos utilizar os conceitos de conhecimento tácito e conhecimento explícito propostos por Nonaka e Takeuchi (1997). Segundo os autores, o conhecimento tácito é o que vem das nossas experiências, da nossa visão de mundo, das nossas experiências, do que vivenciamos e, em última análise, formamos; nos negócios, poderíamos entendê-la como uma competência relacionada às nossas funções e tarefas. O conhecimento tácito é o conhecimento óbvio que normalmente é comunicado às pessoas com quem trabalhamos, como formação e qualificações nas organizações. Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), o desafio mais importante da gestão do conhecimento é transformar o conhecimento tácito em conhecimento explícito. Esta relação entre informações tácitas e explícitas normalmente envolve quatro possibilidades. Dessa forma, a socialização seria o compartilhamento e a criação de conhecimento tácito entre os colaboradores, o que pode acontecer por meio da vivência direta entre eles, da observação de procedimentos, de reuniões casuais e de diálogos informais. Na terceirização, o conhecimento tácito seria armazenado em formato escrito ou digital e poderia ser compartilhado por meio de modelos, símbolos, slogans ou formas de analogia. A comunicação ocorre quando as partes interessadas trocam informações claras e estruturadas, o que pode ser feito por meio de reuniões, sessões de formação, telefone ou outros meios digitais de comunicação. A internalização ocorre quando um indivíduo, que se deparou com informações explícitas, já organizadas e estruturadas, passa a conviver com elas, muda seu comportamento, entende que elas são importantes e viáveis e está pronto para aplicá- las em sua vida. Use-os em sua rotina. Esta fase está relacionada com o “aprender fazendo”, que tem norteado a atividade pedagógica nas últimas décadas (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Como podemos perceber, Nonaka e Takeuchi (1997) propuseram um modelo de transformação do conhecimento que visa compreender como o aprendizado é absorvido individualmente, como cada funcionário pode expandir, compartilhar e criar novos conhecimentos a partir de seus relacionamentos na organização. Mas a gestão de dados exige que as organizações vão, além disso, e criem programas sustentáveis para os gerir em conjunto. Assim, Boff e Antonello (2011, p. 187) afirmam que “[...] o conhecimento é como uma mercadoria, onde o foco está em possuí-lo. Ele pode ser codificado, armazenado e enviado a outros”. Segundo esta lógica, a gestão eficaz do conhecimento só pode ser alcançada se existir um mecanismo que possa registar o conhecimento cognitivo, tácito e explícito de todos os colaboradores que trabalham na organização. Assim, o conhecimento é visto como um objeto pronto, estável, pronto, que pode ser apropriado e repassado a outros para alcançar algum resultado, limitando assim a ideia do que seria a aprendizagem. A gestão do conhecimento está então ligada à investigação de inovação da organização, porque a inovação só pode existir através da troca de informações, da partilha de informação e de canais de comunicação abertos construídos para o efeito. Assim, o conhecimento deve ser visto em um “processo” que renova, muda e modifica constantemente as pessoas ao seu redor, quebrando a ideia de algo pronto, de fácil absorção e transmissão. Inspirados em Gherard (2007), Boff e Antonello (2011) enfatizam a importância de uma nova proposta teórica que rompa com as ideias limitantes da gestão do conhecimento que costumam tratar conteúdos e práticas como objeto/resultado do conhecimento: O conhecimento é definido como ação, 'fazer' coletivo e distribuído, localizadono tempo e no espaço, que ocorre na prática de trabalho. Dessa forma, tais práticas constituem um lugar de aprender e de fazer, que por sua vez seria entendido como uma ação prática, uma predação coletiva à qual aqueles que participam da prática “se unem”, mobilizam recursos, utilizam ferramentas e utilizam o contingente e determinado - orientado para a racionalidade. Portanto, os líderes organizacionais devem compreender como as pessoas aprendem, quais elementos estão envolvidos e determinam o seu processo de aprendizagem, e quão importante é aplicá-lo na vida dos colaboradores. A gestão da informação poderia, portanto, estar relacionada de forma cíclica, sistemática e contínua com a aprendizagem organizacional, o que ajudaria a organização a desenvolver e enfrentar vários desafios relacionados com a formação de pessoal num momento instável e dinâmico onde as organizações globais se cruzam. Não adianta sermos os profissionais mais qualificados da empresa se trabalhamos de forma isolada e individual, certo? A existência de troca, comunicação e relacionamento cria conhecimento e com isso amplia, rompe fronteiras e amplia oportunidades. Esta deve ser a visão dos supervisores sobre as políticas e práticas de Recurso Humanos, para que o conhecimento e a aprendizagem sejam canalizados para a gestão do desempenho organizacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONELLO; C. S.; GODOY, A. S. Aprendizagem organizacional no Brasil. Porto Alegre: Bookman, 2011. ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. BALL, S. J. 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