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MODELOS teóricos de APRENDIZAGEM Bases para sequências de ensino em ciências e matemática Laerte Silva da Fonseca, Kleyfton Soares da Silva (Org.) MODELOS teóricos de APRENDIZAGEM Bases para sequências de ensino em ciências e matemática Laerte Silva da Fonseca, Kleyfton Soares da Silva (Org.) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE REITOR Angelo Roberto Antoniolli VICE–REITORA Iara Maria Campelo Lima EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE COORDENADOR DO PROGRAMA EDITORIAL Péricles Morais de Andrade Júnior COORDENADORA GRÁFICA Germana Gonçalves de Araújo CONSELHO EDITORIAL Antônio Martins de Oliveira Junior Aurélia Santos Faraoni Fabiana Oliveira da Silva Germana Gonçalves de Araújo Luís Américo Silva Bonfim Mackely Ribeiro Borges Maria Leônia Garcia Costa Carvalho Martha Suzana Cabral Nunes Péricles Morais de Andrade Júnior (Presidente) Rodrigo Dornelas do Carmo Samuel Barros de M. Albuquerque Sueli Maria da Silva Pereira Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita da Editora. Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009. PROJETO GRÁFICO, CAPA, DIAGRAMAÇÃO, E ILUSTRAÇÃO Iago Novais de Oliveira Ferreira FICHA CATALOGRÁFICA Biblioteca Central – Universidade Federal de Sergipe Modelos teóricos de aprendizagem : bases para sequências de ensino M689m em ciências e matemática [recurso eletrônico] / Laerte Silva da Fonseca, Kleyfton Soares da Silva (Orgs.). – São Cristovão : Editora UFS, 2018. 175 p. : il. ISBN 978-85-7822-633-6 1. Ciência – Estudo e ensino. 2. Matemática – Estudo e ensino. I. Fonseca, Laerte Silva da. II. Silva, Kleyfton Soares da. CDU 5:37 5MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Ensinar é uma tarefa socialmente importante. O ensino é um dos lugares comuns da educa- ção. Outros são o conhecimento, a aprendiza- gem, o contexto político e sociocultural. Em um episódio educativo sempre há alguém que ensi- na e alguém que aprende algum conhecimento, declarativo ou procedimental, em um contexto político, social e cultural. Educação é um direito do cidadão e uma obri- gação do estado, da escola, da família. Nessa perspectiva, o ensino tem um papel fundamen- tal. É através dele que se busca facilitar a aqui- sição de conhecimentos, em qualquer nível de escolaridade, desde a educação infantil até a pós-graduação. O ensino sempre visa à apren- dizagem de algum conhecimento. É uma tarefa importante, desafiadora, mas é difícil e muitas vezes pouco valorizada, pois ocorre em um con- texto nem sempre favorável a uma educação para a cidadania. É muito comum que a educa- ção esteja mais voltada para o mercado do que para a cidadania. Focalizando apenas o ensino e a aprendiza- gem, docentes e discentes são seres humanos e, como tal, integram pensamentos, sentimen- tos e ações. O docente, professora ou professor, pode estar muito realizado com seu desempe- nho, mas pode também, em certos momentos, estar muito frustrado porque seus sujeitos não aprendem nada, são desmotivados. O discente, aluno ou aluna, pode estar gostando muito das aulas, da matéria de ensino, mas pode também estar, passivamente, assistindo as aulas sem nenhuma disposição para aprender, querendo apenas passar nas provas. Certamente há situ- ações intermediárias, mas todas levam a uma reflexão sobre a relação ensino-aprendizagem. O objetivo do ensino é a aprendizagem, mas se esta não ocorre então ele não existe. Ou seja, só há ensino quando há aprendizagem. Não tem sentido dizer que algum conhecimento foi ensi- nado se não foi aprendido. Essa é uma condição muito difícil de ser assimilada na docência, mas sua ocorrência leva a perguntas sobre o que é aprendizagem e como facilitá-la, promovê-la, em sala de aula. São vários os conceitos de aprendizagem e são muitas as teorias de aprendizagem. Não há um único conceito de aprendizagem e não há uma única teoria que explique a complexidade do processo de aprendizagem. Por exemplo, na óti- ca comportamentalista de B. F. Skinner apren- dizagem é condicionamento, é dar a resposta correta para um dado estímulo. Na perspectiva de David Ausubel a aprendizagem é significa- tiva quando há uma interação cognitiva entre conhecimentos novos e conhecimentos prévios do ser que aprende, e este deve apresentar uma predisposição, uma intencionalidade, para aprender. Na visão humanista de Carl Rogers, a aprendizagem deve ser significante, pela pessoa inteira, não só cognitiva. PREFÁCIO 6MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Mas se existem diferentes conceitos de aprendi- zagem e distintas teorias de aprendizagem, vale a pena entrar nesse campo da aprendizagem? Se- guramente sim, porque, por exemplo, certas teo- rias de aprendizagem podem estar baseadas em princípios que têm muito a ver com a facilitação da aprendizagem em situação formal de ensino presencial ou à distância. Tais princípios podem ser usados na construção de unidades didáticas ou sequências de ensino e aprendizagem. Na verdade, não tem sentido ensinar sem levar em conta teorias da aprendizagem existentes, o que não significa que o professor ou professora tenha que seguir uma única teoria para orientar seu ensino. Como foi dito antes, não existe uma só teoria que explique a aprendizagem. Mas é possível construir um marco teórico a partir de premissas de diferentes teorias. Por exemplo, a teoria de Ausubel supõe que o conhecimento prévio é a variável isolada que mais influencia a aquisição significativa de novos conhecimentos e a teoria de Vygotsky assume que a interação social é indispensável para a internalização, ou reconstrução interna, de conhecimentos já so- cialmente construídos. A teoria dos campos con- ceituais de Vergnaud tem como premissa que o âmago do desenvolvimento cognitivo é a concei- tualização e que são as situações que dão senti- do aos conceitos. A teoria dos modelos mentais de Johnson-Laird supõe que o primeiro passo para dar conta de uma nova situação de apren- dizagem é construir um modelo mental na me- mória de trabalho. Apropriando-se de teorias de aprendizagem o docente pode construir o seu marco teórico e organizar seu ensino a partir desse marco. Pode construir sequências de ensino e apren- dizagem teoricamente fundamentadas, o que não é comum, ou seja, sequências de ensino e aprendizagem geralmente são propostas sem nenhuma base teórica. Um grande erro. Na prática é um erro ensinar, mesmo que não seja através de uma unidade didática, uma sequ- ência de ensino, sem levar em conta o ser que aprende e o que se sabe sobre processos de aprendizagem, sobre como se aprende. Precisamente aí se percebe o valor didático do texto Modelos Teóricos de Aprendizagem: Bases para sequências de ensino em ciências e matemática. Nele, os autores apresentam alguns ensaios de sequências de ensino fun- damentadas em modelos teóricos de aprendi- zagem, alguns inseridos nas teorias de apren- dizagem aqui mencionadas e outros dentro de paradigmas distintos dos clássicos – com- portamentalismo, cognitivismo e humanismo – como, por exemplo a psicanálise e o neuro- cognitivismo. Independente dos modelos teóricos de apren- dizagem utilizados, um grande valor desta obra é inspirar docentes a fundamentarem teorica- mente suas práticas. Não tem sentido ensinar sem concepções de aprendizagem e aprender não é saber dar a reposta correta. É muito mais do que isso. Marco Antonio Moreira Doutor em Ensino de Ciências pela Cornell University, U.S.A. Professor Titular Emérito do Instituto de Física da UFRGSPesquisador Sênior do CNPq na Área de Educação 13 40 52 64 76 9 1 2 322 31 Aprendizagem dos modelos atômicos baseada na teoria de Pavlov: uma sequência para o ensino de química Suelaine dos Santos Souza Uma sequência de ensino das relações trigonométricas no triângulo retângulo estruturada no modelo teórico de Skinner Lígia Santana Filha Luciano Pontes da Silva O modelo freudiano como base de uma sequência de ensino para primeira Lei de Mendel Erica Costa Alves Yzila Liziane Farias Maia de Araújo Modelo teórico de Piaget: contribuições à aprendizagem do corpo humano nas séries iniciais Maria Rivanusia Santana Mota Carmen Regina Parisotto Guimarães Teresinha Maria dos Santos Verônica dos Reis Mariano Souza O ensino das interações intermoleculares na perspectiva do modelo vygotskyano de aprendizagem Fabiane Brandão Nogueira Divanízia do Nascimento Souza TEORIAS DE APRENDIZAGEM DE BASE PSICANALISTA TEORIAS DE APRENDIZAGEM DE BASE COGNITIVISTA TEORIAS DE APRENDIZAGEM DE BASE COMPORTAMENTALISTA Equação do 1º grau: uma sequência de ensino a partir do modelo teórico de aprendizagem thorndikeano Fábio Henrique Gonçalves Conceição Eressiely Batista Oliveira Conceição Denize da Silva Souza Como ensinar condicionalmente as funções orgânicas segundo o modelo teórico de aprendizagem de Watson Joedna Vieira Barreto Introdução SUMÁRIO 98 108 119 131 143 153 164 173 86 4 O modelo teórico de aprendizagem ausubeliano para o ensino introdutório de termoquímica Vanessa Maria Silva Menezes Samísia Maria Fernandes Machado Aplicação do modelo teórico de aprendizagem de Maslow para o ensino de genética Maracy Aves Silva Yzila Liziane Farias Maia de Araújo Aprendizagem em trigonometria baseada no modelo teórico de Rogers Márcio Ponciano dos Santos Alanne de Jesus Cruz Um modelo teórico de aprendizagem baseado no processamento cerebral da informação em Gazzaniga para uma sequência de ensino de transformações químicas Renata Suellen Bomfim Souza Kleyfton Soares da Silva Aproximações teóricas entre a neurociência cognitiva e os modelos da atenção em Gazzaniga para uma sequência de ensino de geometria molecular Kleyfton Soares da Silva Laerte Silva da Fonseca Johnnatan Duarte de Freitas O ensino das interações intermoleculares na perspectiva do modelo vygotskyano de aprendizagem José Wesley Ferreira Laerte Silva da Fonseca Os sentidos no método de Pestalozzi para ensinar/aprender saberes elementares matemáticos Jefferson dos Santos Ferreira Ivanete Batista dos Santos POSFÁCIO TEORIAS DE APRENDIZAGEM DE BASE HUMANISTA Modelo teórico banduriano para promoção da aprendizagem de fotossíntese no ensino de ciências Érica Lima Santos SUMÁRIO 5 TEORIAS DE APRENDIZAGEM DE BASE NEUROCOGNITIVISTA 9MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA A capacidade de sobrevivência da espécie huma- na tem sido objeto de uma quantidade significa- tiva de estudos em diferentes áreas do conheci- mento. No campo da educação, especialmente, o contexto referente ao meio escolar está fun- damentado num amálgama interdisciplinar em favor, teoricamente, da melhoria da qualida- de de perpetuação dessa espécie, mesmo que muitos de seus agentes não disponibilizem ou demonstrem algum conhecimento consciente para considerar a percepção esperada. Não obstante a essa lacuna, certo nível de cons- ciência e também de conhecimento, contagia uma parte dos agentes fundamentais – os pro- fessores – para que a evolução humana dispo- nha das mais simples condições requisitadas: a existência de um processo educacional formal e alicerçado em evidências científicas. Enfocando esse cenário inicial, o objetivo cen- tral desta obra se restringiu a apresentar al- guns ensaios de sequências de ensino basea- das nos fundamentos teóricos dos principais modelos de aprendizagem que derivaram das concepções comportamentalistas, psicanalis- tas, cognitivistas, humanistas e do vanguardis- mo das neurocognitivas. O esforço para possibilitar uma mobilização consistente que considere os diferentes mo- delos de aprendizagem como o eixo central de todas as propostas de ensino das disciplinas es- colares foi a principal motivação para ofertar a disciplina Teorias da Aprendizagem, do Progra- ma de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Sergipe no período de 2017-1. As observações de diferentes cenários de ensino, pela experiência de regência de classe, reflexões resultantes de estatísticas educacionais ou aná- lises de evidências de pesquisa em apreciações de artigos que abordam esse tema, funcionaram como o impulso inicial em prol da sensibilização de estudantes dos cursos de licenciatura em ci- ências e matemática, bem como para os profes- sores da educação básica dessas áreas para con- siderarem os verdadeiros fundamentos gerais de ensino: as teorias da aprendizagem. Inspirando-se na concepção de obstáculo epis- temológico de Bachellard (1996)1 e, mais especi- ficamente, na definição de obstáculo didático de Brousseau (1998)2, a negligência de um agente do ensino em tentar “facilitar”, “favorecer” ou “mobi- lizar” a aprendizagem de uma noção ou conteúdo escolar pode ser interpretada como um obstácu- lo de gênese epistemológica quando despreza a evolução das ideias sobre aprendizagem e de origem didática sempre que decide pelo caráter exclusivo do método expositivo, também conhe- cido como método tradicional de ensino. 1 BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuições para uma psicanálise do conhecimen- to. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996 2 BROUSSEAU, G. Théorie des situations didactiques. Grenoble: La Pensée Sauvage, 1998. INTRODUÇÃO 10MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA a função cognitiva, talvez, mais requisitada pelo cérebro para desenvolver memória, aprendiza- gem e consciência: a atenção. A atenção, cuja natureza despertou o interesse dos seguidores de Pitágoras na história da ma- temática grega, não teve a mesma origem que a descoberta de Fourier para modelar a soma de funções trigonométricas objetivando a repre- sentação e controle de variáveis relacionadas ao estudo do som. Enfim, esses diferentes cenários precisam ser evocados, inclusive, como forma de demonstrar que o desenvolvimento do co- nhecimento não é linear e descontextualizado, conforme, contrariamente, muitos alunos rela- taram nos estudos de Fonseca (2002)3. Além desse viés, o conhecimento aprofundado das Teorias da Aprendizagem pode auxiliar pro- fessores a desconstruir um amontoado de pre- conceitos reflexos, por um lado, da negligência profissional que ajuda a fortalecer um status quo e, por outro, ratificar ciclicamente esse mesmo, quando as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura de ciências e de matemática continu- am minimizando o contato inicial dos estudantes ao berço dessas teorias: o campo da Psicologia. 3 FONSECA, Laerte S. Aprendizagem em Trigonometria: o olhar da Educação Matemática. Dissertação de Mestra- do – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universi- dade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002. Os diversos episódios da história das ciências e da matemática revelam que tanto a natureza, estruturação, funcionamento e emprego do que atualmente são considerados conteúdos de en- sino tiveram origens diferenciadas que precisam ser compreendidas para justificar as escolhas di- dáticas para um desenho inicial de uma proposta pedagógica, onde o sentido natural deve ser um ingrediente indispensável para a composição de qualquerdirecionamento metodológico. Por exemplo, no caso da química, o estudo for- mal dos gases surgiu no século XVIII motivado pela necessidade de desvendar os mistérios da combustão, até então influenciado por con- cepções místicas ainda derivadas da alquimia. Depois da tentativa de explicação pelo médico e alquimista Van Helmont, no século XVII, pas- saram-se mais de 100 anos para que a ideia de gás começasse a ser estruturada e apresentada conforme se encontra nos livros didáticos atu- ais. Em outra direção, a concepção de geometria molecular depreendeu, à época, de uma nature- za ainda mais específica, cujo objetivo repousa- va em explicar no nível teórico a estrutura mo- lecular e, consequentemente, o comportamento físico e químico dos compostos já conhecidos. Esse recorte ilustrativo representa a necessi- dade dos professores que pretendem, de fato, entusiasmar seus alunos e buscar desenvolver Em particular, Fonseca e Santos (2012)4 verificou que nos cursos de Licenciatura em Matemática oferecidos por instituições públicas e/ou priva- das existe um mínimo de pontos previstos nas ementas das disciplinas intituladas “Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem”, Psico- logia da Educação, “Introdução à Psicologia do Desenvolvimento” ou “Introdução à Psicologia da Aprendizagem”. Enfatizando, também, uma carga horária muito pequena, dificultando a sensibilização dos estudantes no que se refere à importância do fenômeno aprendizagem para a efetivação de um ensino qualificado. Diante desse contexto, e também da necessida- de de promover a elaboração de uma nova per- cepção dos futuros mestres em Ensino de Ciên- cias e Matemática, um dos objetivos da disciplina em tela repousou sobre o desenvolvimento de uma articulação inicial entre um modelo teórico de aprendizagem como base metodológica para a apresentação de um conteúdo da Educação Básica para ao ensino de ciências e matemática. Dessa forma, imaginou-se mostrar aos leitores – professores e alunos das citadas licenciaturas – um exemplo, exequível, do ensino fundamen- 4 FONSECA, Laerte S. e SANTOS, A. C. Um estudo prelimi- nar sobre a Neurociência Cognitiva nos cursos de Licen- ciatura em Matemática de Sergipe/Brasil: necessidades de incorporação de uma engenharia neurodidática. In: EDUCOM: USF, 2012. 11MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA tado em uma teoria de aprendizagem, ainda que de forma sucinta. Para tanto, a obra foi dividida em cinco partes que compreendem seus respectivos capítulos in- dicadores de alguns modelos teóricos: • Teorias de Aprendizagem de Base Comporta- mentalista: modelos pavloviano, thorndikiano, watsoniano e skinneriano; • Teorias de Aprendizagem de Base Psicanalista: modelos freudianos; • Teorias de Aprendizagem de Base Cognitivista: modelos piagetiano, vygostkyano, banduriano e ausubeliano; • Teorias de Aprendizagem de Base Humanista: modelos maslowriano e rogersriano; • Teorias de Aprendizagem de Base Neurocogni- tivista: modelos gazzaniganianos. Os capítulos foram organizados de modo a pos- sibilitar uma leitura fluida e sem pré-requisitos. O leitor encontrará um breve histórico do mode- lo teórico abordado, as principais dificuldades de aprendizagem relativas ao conteúdo específico da disciplina (biologia, química, matemática) e a integração teórica e metodológica em forma de uma proposta de sequência de ensino no final de cada capítulo. É importante ter em mente que o objetivo da obra não se limita a apresentação de uma sequ- ência de ensino completamente estruturada e fundamentada em parâmetros avaliativos já in- vestigados. Não é nosso objetivo oferecer todos os recursos metodológicos visando à aplicação direta em sala de aula. O professor e/ou licenciando será convidado a refletir acerca das práticas pedagógicas sob a ótica de modelos teóricos que marcaram a his- tória com suas profundas investigações do pro- cesso de aprender, seja favorecendo aspectos comportamentais e externos ou internos e psi- cológicos. O ensaio de sequência de ensino pos- sibilitará a conexão entre a concepção de apren- dizagem apresentada e as práticas pedagógicas por vezes já institucionalizadas pela imitação, não necessariamente por escolhas conscientes dos professores para atender seus objetivos educacionais. O objetivo é mostrar para o do- cente que ele pode fazer escolhas práticas cons- cientes, contando com uma gama de literatura científica relativa à aprendizagem. O leitor poderá julgar, inclusive, o modelo teó- rico utilizado pelo autor como o não mais ade- quado para a aplicação de um dado conteúdo. Com efeito, procurou-se dar exemplos sucintos de métodos e recursos aplicáveis a cada mode- lo teórico, não necessariamente estabelecendo esses como os mais recomendados. Além disso, uma mesma proposta de ensino pode ter como pano de fundo várias abordagens teóricas. Prof. Dr. Laerte Silva da Fonseca Professor Titular da Área de Educação Matemática do Instituto Federal de Sergipe Pesquisador e Orientador do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Sergipe (PPGECIMA/UFS) Prof. Ddo. Kleyfton Soares da Silva Doutorando em Ensino de Ciências – Modalidade Química/USP Mestre em Ensino de Ciências e Matemática/UFS Especialista em Educação Infantil, Neurociência e Aprendizagem/UCAM PARTE 1 Teorias de Base Comportamentalista Pavlov Thorndike Watson Skinner 13 Suelaine dos Santos Souza1 Considerações iniciais Este capítulo tem como objetivo aplicar o mo- delo teórico de aprendizagem pavloviana sobre uma sequência de ensino para compreensão dos modelos atômicos. Para tanto, buscou-se aproximar esse modelo da analogia utilizada na “dinâmica da caixa” entendendo-se como uma estratégia pedagógica que tem sido utilizada no ensino de Química. Ressalta-se a importância deste trabalho para a formação inicial e continu- ada de professores no que diz respeito a identi- ficarem uma teoria da aprendizagem como base para decisões didáticas mais adequadas às con- dições dos diversos núcleos escolares. Evocar os 1 Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática, Gradu- ada em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: suelaine15@yahoo.com.br APRENDIZAGEM dos modelos atômicos BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: Uma sequência para o Ensino de Química pressupostos de Ivan Pavlov, que não focou seus esforços no fenômeno da aprendizagem, mas, tão somente em entender como ocorre o condi- cionamento reflexo, foi o principal pretexto para vincular uma prática de ensino a uma base psi- cológica para o desenvolvimento da aprendiza- gem. O desenvolvimento do texto está dividido em várias seções que tratam desde o histórico e surgimento da teoria de base comportamenta- lista até a proposta de uma sequência de ensino fundamentada em princípios que possibilitam minimizar as dificuldades de aprendizagem no ensino dos modelos atômicos. 1 14MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA 1 Contribuições teóricas de aprendizagem de base comportamentalista 1.1 Histórico A teoria de base comportamentalista remonta ao início do século XX a partir do pressuposto de que a pesquisa com aprendizagem animal poderia se estender ao homem. Os pioneiros nesses estu- dos foram Ivan Pavlov na Rússia e Watson, Thor- ndinke e Skinner nos EUA. Pavlov em seus expe- rimentos buscou estudar a digestão de cães e os condicionou a salivar com o emparelhamento de som à presença de comida. Então, Pavlov desco- briu o reflexo condicionado. Em 1913 Watson, psicólogo americano,dando continuidade à pes- quisa do reflexo condicionado fundou o Behavio- rismo. Seus experimentos foram feitos com ani- mais e crianças, utilizando os métodos usados na psicologia animal, tendo como principal objetivo a predição e o controle do comportamento. Outro psicólogo que contribuiu para o desenvol- vimento da teoria comportamentalista foi Edward Thorndike. Seus estudos foram realizados com gatos e este percebeu que os animais são capa- zes de produzir ações no meio dependendo das consequências dessas ações. Tais ações pode- riam vir a se repetir dependendo das consequên- cias serem positivas ou negativas. Esse fenôme- no ficou conhecido como “Lei do Efeito”. O psicólogo americano Skinner ampliou o tra- balho de Thorndike e buscou estudar em seus experimentos o comportamento de pombos e ratos brancos. Skinner, em seus experimen- tos, inventou um aparelho (conhecido como caixa de Skinner) e desenvolveu a Análise Ex- perimental do Comportamento que deu ori- gem ao behaviorismo radical. Para Skinner o reforço positivo ou negativo como um estímu- lo aumenta a probabilidade da ocorrência de uma resposta, desenvolvendo, dessa forma, um modelo de condicionamento denominado condicionamento operante. 1.2 Ivan Petrovich Pavlov A história da psicologia comportamental teve iní- cio com Pavlov e suas descobertas sobre a ativi- dade secretora da digestão em cães. Ivan Petrovi- ch Pavlov (1849-1936) nasceu em 14 de setembro de 1849, em Ryazan, na Rússia e como filho de um padre frequentou uma escola da igreja e um seminário teológico. No entanto, ele se inspirou nas ideias de Charles Darwin e IM Sechenov, o pai da fisiologia russa, e desistiu de seus estudos teológicos para se dedicar à ciência. Pavlov foi um fisiologista russo que desenvolveu seu conceito do reflexo condicionado através de um famoso estudo com cães e ganhou um Prê- mio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1904. Pavlov estudou química e fisiologia na Universi- dade de São Petersburgo e recebeu o grau de Candidato de Ciências Naturais em 1875. Em 1883 ele se inscreveu na Imperial Medical Aca- demy em São Petersburgo, completando sua dissertação de graduação sobre os nervos cen- trífugos do coração. Em 1890, Pavlov assumiu o cargo de Departa- mento de Fisiologia no Instituto de Medicina Ex- perimental onde também foi nomeado professor de Farmacologia na Academia Médica Imperial. Ele foi eleito acadêmico da Academia Russa de Ci- ências em 1907, em 1912 recebeu um doutorado honorário na Universidade de Cambridge e em 1915, seguindo uma recomendação da Academia Médica de Paris, recebeu a Ordem da Legião de Honra. Famoso na Rússia e no exterior fez opo- sição ostensiva ao regime comunista instalado no país com a revolução de 1917 e permaneceu dedicado ao seu trabalho de laboratório até sua morte por pneumonia em 27 de fevereiro de 1936, em Leningrado. 1.3 Modelo Teórico de Aprendizagem de Ivan Petrovich Pavlov O modelo teórico de Ivan Pavlov teve como base a psicologia behaviorista com ênfase no estudo comportamental. Em seus experimentos de ati- vidade digestiva de cães, Pavlov observou que os mesmos não salivavam apenas quando tinham comida na boca (reflexo incondicionado), mas também quando viam uma vasilha de comida ou 15MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA ouviam o barulho dos passos do tratador (HUB- NER; MOREIRA, 2015). E, a partir dessa observa- ção, Pavlov supôs que as respostas à salivação e a esses estímulos haviam sido aprendidas, sen- do assim, a aprendizagem por novos reflexos aprendidos ficou conhecida como condiciona- mento clássico ou condicionamento pavloviano. O experimento de Pavlov consistia em prender um cão em uma câmara experimental de modo que sua saliva fosse coletada por meio de um tubo implantado na glândula salivar. Pavlov tocava um som (estímulo neutro) sem- pre que colocava alimento na boca do cão (es- tímulo incondicionado), coletando as gotas de saliva produzidas (resposta incondicionada). Esse experimento foi realizado repetidas ve- zes. Em seguida, Pavlov resolveu tocar o som (estímulo condicionado) sozinho verificando a ocorrência da salivação (resposta condicio- nada). Então, observou-se que por meio desse processo o som adquiriu a capacidade de eli- ciar a resposta de salivação no cão, passando de estímulo neutro para um estímulo condicio- nado provocando um reflexo aprendido. Dessa forma, o condicionamento clássico ou pavlovia- no pode ser resumido a seguir com a Figura 1. Figura 1 – Etapas do condicionamento clássico Fonte: A autora (2018). Diante das etapas descritas na Figura 1, Weiten (2010) destaca que Pavlov havia demonstrado como eram as associações estímulo-resposta,- que são as bases da aprendizagem, e como estas estavam relacionadas ao condicionamento clás- sico. Diante disso, o condicionamento clássico trouxe várias contribuições não só para a psico- logia, mas também para a vida cotidiana como mostra o Quadro 1. 16MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA Quadro 1 – Indicadores favoráveis do condiciona- mento clássico ou pavloviano Fonte: A autora (2018). Levando-se em consideração essa breve digres- são sobre os pontos mais destacados dessa te- oria, o mapa conceitual abaixo foi inserido para possibilitar ao leitor um entendimento mais cla- rificado do modelo teórico de pavloviano: Figura 2 – Mapa conceitual do Modelo Teórico de Pavlov Fonte: A autora (2018). Dessa forma, a teoria em tela auxiliou na des- coberta dos reflexos aprendidos através do condicionamento de estímulo-resposta, consi- derando-se inicialmente, os experimentos com cães que adquiriram a capacidade de eliciar a resposta de salivação, cujo estímulo neutro cede lugar para um estímulo condicionado. Capacidade Denominado Realizou Através Resposta incondicionada Resposta condicionada 17MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA 2 Dificuldades de aprendizagem com foco nos modelos atômicos 2.1 Definição de dificuldade de aprendizagem As dificuldades de aprendizagem são aquelas que são percebidas ou apresentadas pela crian- ça quando a mesma ingressa no ensino formal. Para Pain (1985), o conceito de dificuldades de aprendizagem é abrangente e inclui problemas decorrentes do sistema educacional, de carac- terísticas próprias do indivíduo e de influências ambientais, que pode considerar o problema da aprendizagem como um sintoma. Em sua visão, esse sintoma é considerado no sentido de que o não-aprender não configura um quadro perma- nente, mas ingressa numa constelação peculiar de comportamentos, nos quais se destaca como sinal de descompensação (PAIN, 1985). Santos e Marturano (1999) destacam que difi- culdades de aprendizagem são frequentemen- te acompanhadas de déficit em habilidades sociais e problemas emocionais ou de compor- tamento e, quando persistente e associada a fa- tores de risco presentes no ambiente familiar e social mais amplo, podem afetar negativamen- te o desenvolvimento do indivíduo e seu ajus- tamento em etapas subsequentes. Marturano e Elias (2016) ressaltam que as crianças que apresentam necessidades especiais, destaca-se por pouco entendido o grupo com dificuldades persistente na aprendizagem escolar e, portan- to, a dificuldade no aprendizado é caracterizada como desempenho em notas ou tarefas, abaixo de um nívelesperado para a idade, habilidade e potencial de um indivíduo. Entretanto, Pain (1985) afirma que alguns fato- res são fundamentais e precisam ser levados em consideração no diagnóstico de um proble- ma de aprendizagem. Dentre eles, estão: fatores orgânicos, fatores específicos, fatores psicóge- nos e fatores ambientais. As dificuldades de aprendizagem podem ser vistas sob diferentes olhares e no âmbito do ensino de Ciências/Química, observa-se que tanto os professores quanto os alunos não concebem o ensino de Química com seu ver- dadeiro significado, uma vez que o ensino de Química possibilita uma visão de mundo crítica, fazendo com que o aluno compreenda e atue ativamente na resolução de problemas postos na sociedade a qual ele está inserido. No en- tanto, várias metodologias de ensino podem facilitar o processo de ensino aprendizagem dos alunos e uma destas é aprendizagem base- ada na resolução de problemas. Para Rocha e Vasconcelos (2016), existem evi- dências de que a capacidade que os alunos têm para visualizar e resolver um problema é aumen- tada quando os mesmos conseguem contextu- alizar esse problema com situações cotidianas. Sendo assim, a resolução de problemas pode ser um meio para desenvolver não somente a aprendizagem, mas também pode contribuir para o desenvolvimento de competências para o exercício da cidadania. 2.2 Pesquisas sobre as dificuldades de aprendizagem na construção de modelos atômicos Algumas pesquisas a respeito das dificuldades de aprendizagem foram feitas no decorrer dos anos sobre os modelos atômicos. Souza, Justi e Ferreira (2006) constataram em sua pesquisa que os alunos têm dificuldades para compreen- der os modelos atômicos e, nessa pesquisa, os autores ressaltam as concepções atomistas de alunos ingressantes no curso de Química. Nessa perspectiva, os autores destacam as concepções nas visões dos alunos de que o átomo só existe em entidades vivas; é a menor parte da maté- ria que conserva suas características, o que evi- dencia a ideia de que o átomo é indivisível; pode ser visto em microscópio eletrônico; é igual às representações dos livros. Diante desses resultados pode-se aferir que os discentes não conseguem compreender modelos atômicos como são descritos nos livros didáticos. 18MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA Melo e Lima Neto (2013) afirmam que o aluno aceita, equivocadamente, a ideia de que o áto- mo foi descoberto, mas sua teoria foi construí- da. Tal dissonância de compreensão pode estar relacionada à forma como o conceito de átomo vem sendo abordado nos livros didáticos. Outro fator que dificulta a compreensão dos modelos atômicos é o uso de analogias, uma vez que as mesmas são utilizadas para aproximar modelos abstratos do mundo real do aluno. Entretanto, é comum os discentes não conseguirem visualizar o que está implícito nas analogias, compreen- dendo apenas objetos manipuláveis. Um exem- plo clássico é o uso da analogia do pudim de pas- sas para aproximar o aluno do modelo atômico de Thomson (MELO & LIMA NETO, 2013). Neste sentido, essa dificuldade de compreen- der o não-visível e manipulável poderia ser su- avizada considerando algumas estratégias utili- zadas no modelo de condicionamento clássico que, por sua vez, não está relacionado somente à aprendizagem escolar. Em defesa desse racio- cínio, o treinamento (condicionamento) de cão- -guia para ajudar pessoas com deficiência visual reflete um exemplo adequado para dirimir al- guns problemas atrelados à abstração. 2.3 As lentes do Modelo Teórico de Aprendizagem de Pavlov aplicadas às Dificuldades de Aprendizagem Nessa sessão, objetiva-se aplicar alguns prin- cípios do modelo teórico de condicionamento clássico ou pavloviano sobre certa dificuldade da aprendizagem química, especificamente, relacio- nada aos modelos atômicos. Inicialmente um ensaio teórico será lançado a partir da dinâmica da caixa, buscando-se se- melhanças favoráveis ao trabalho desenvolvido pelos cientistas na descoberta e elaboração dos modelos atômicos. A dinâmica da caixa consiste em utilizar caixas escuras contendo objetos de diferentes tama- nhos e formatos na sala de aula com o objetivo de que os alunos possam descobrir as caracte- rísticas e propriedades dos mesmos sem poder vê-los ou tocá-los. Nesta dinâmica também fa- z-se o uso de representações por meio de de- senhos dos objetos que estão dentro da caixa. Assim, é de fundamental importância ressaltar que o uso de analogias para construção de mo- delos atômicos pode facilitar a compreensão dos alunos e consequentemente a aprendiza- gem. Entretanto, sua utilização deve ser feita de forma coerente e eficaz. Também se salienta o quão se faz imprescindí- vel a utilização da analogia da dinâmica da caixa para facilitar o trabalho do professor na demons- tração aos alunos que a similaridade entre o uso de informações indiretas para descobrir os ob- jetos da caixa é equivalente àquela que os cien- tistas se valeram para alcançarem os resultados de seus experimentos e deduzirem qual seria a constituição da matéria, sem vê-la ou tocá-la. Não se pode excluir o fato de que os alunos usa- rão as suas próprias ideias ou suposições para chegarem a um senso comum, já que, de manei- ra similar, os cientistas usaram descobertas de seus pares que permitiram a evolução concei- tual dos modelos atômicos. Sob o cuidado des- sas condições, alerta-se que as representações feitas pelos alunos simulam os objetos dentro da caixa, ainda que o desenho não seja um ob- jeto concreto. Do mesmo modo, o modelo atô- mico serve para entendermos o funcionamento do átomo, suas propriedades e características, mas, também, não deve ser considerado exata- mente igual ao átomo. 19MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA Portanto, o uso da analogia através da dinâmi- ca da caixa pode contribuir para minimizar as dificuldades que os alunos aportam, impedin- do a compreensão epistemológica do modelo atômico; uma vez que o aluno será condiciona- do à busca de relações que possam servir para aproximar o mundo abstrato daquele percebi- do pelos sentidos. 3 Aplicação do Modelo Teórico de Pavlov para o desenvolvimento da aprendizagem de modelos atômicos 3.1 Justificativas acerca da práxis na sala de aula de Química A utilização de um modelo teórico no ensino de Química contribui para que o professor possa ter um embasamento teórico em sua prática pedagógica, uma vez que o saber docente não é apenas formado pela prática de ensino. Além disso, a teoria de aprendizagem tem subsídios de fundamental importância para promoção da aprendizagem dos alunos, pois quando o pro- fessor se apropria de uma teoria com uma fun- damentação teórica bem elaborada, ele acaba desenvolvendo uma prática pedagógica autôno- ma e emancipatória. No entanto, faz-se necessário compreender que as teorias de aprendizagem por si só não con- seguem resolver o problema do ensino de Quí- mica. É preciso compreender estas teorias para que se possa discutir como esta pode contribuir para mobilizar a aprendizagem no ensino. Sendo assim, uma forma de contribuir para a aprendizagem no ensino de ciências se faz por meio de sequência de ensino estruturada em um modelo teórico pode mobilizar a aprendizagem dos alunos. Para Santiago e colaboradores (2015) a abordagem da sequência de ensino-aprendiza- gem visa contribuir para a obtenção de melhores resultados na aprendizagem do conhecimento científico abordadoem classe e, ainda, que tais conhecimentos tenham estreita relação com algo próximo da realidade ou da visão de mundo dos estudantes. Então, como uma sequência de ensino-aprendizagem que aborda as analogias no ensino de modelos atômicos pode contribuir para facilitar aprendizagem dos alunos? 3.2 Condições e restrições metodológicas para a aplicação do modelo em tela Não é demais lembrar que toda e qualquer in- tervenção deve considerar alguns aspectos para que a sua realização possa alcançar os objetivos previstos. Assim, algumas condições precisam ser consideradas para a utilização do modelo pavloviano, a saber: o professor conhecer a teo- ria de Pavlov, a perspectiva do uso de analogias para o ensino de química, bem como da abor- dagem problematizadora. Além disso, identifi- car o momento e a situação mais propícios para inserir os postulados de Pavlov em sua sala de aula dotada de especificidades. Outro fator im- portante refere-se ao espaço físico da sala de aula e a disposição que os alunos precisarão em favor de um clima de investigação científica, onde a curiosidade ceda lugar ao silêncio das aulas expositivas. Contrariamente, as restrições para o desenvolvi- mento deste trabalho seguem na contramão das necessidades anteriormente destacadas e, so- bretudo, da existência do professor exercer a do- cência com liberdade em suas escolhas didáticas, tanto no que se refere à concepção de educação dos dirigentes, quanto dos pais e dos alunos. 3.3 Proposta de uma sequência de ensino A sequência de ensino será implementada atra- vés da dinâmica da caixa com intuito de ajudar aos alunos a compreender, através do uso de analogias, a construção dos modelos atômicos. Entretanto, vale destacar que o planejamento e a produção da sequência foram elaborados as- sociando o modelo teórico em tela a uma abor- dagem problematizadora que presume resolver problemas do cotidiano. 20MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA Desta forma, a proposta apresentada no Qua- dro 2 poderá ser aplicada mediante o estudo de modelos atômicos para alunos da 1ª série do En- sino Médio. No entanto, deve-se levar em consi- deração a dificuldade que os discentes têm em compreender os modelos identificados por meio de analogias utilizadas em livros didáticos. Aqui, buscou-se escolher aspectos mais favoráveis e próximos àqueles apresentados no Quadro 1. Quadro 2 – Sequência de ensino para modelos atômicos Fonte: A autora (2018). Cabe ainda especificar que nessa dinâmica, os alunos serão divididos em dois grupos e cada grupo receberá uma caixa escura contendo objetos de diferentes tamanhos e formatos. Os discentes deverão investigar as supostas características desses objetos e representá-los através de desenho. Ao final, o professor deve- rá demonstrar as semelhanças entre os proce- dimentos dos alunos na busca de característi- cas dos objetos se comparados aos cientistas, seguindo essa metodologia, deduziram a cons- tituição da matéria e conceberam os modelos atômicos. Além disso, outro fator que merece destaque refere-se às trocas de experiências entre os alunos para chegar a um senso co- mum, oportunizando aos mesmos um desen- volvimento pautado na socialização e democra- tização de ideias. 21MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAAPRENDIZAGEM DOS MODELOS ATÔMICOS BASEADA NA TEORIA DE PAVLOV: UMA SEQUÊNCIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA Considerações Finais Buscou-se nesse ensaio teórico mostrar aos leito- res como o uso de princípios do modelo teórico de aprendizagem de base comportamentalista na perspectiva de Pavlov pode justificar a prática de ensino dos professores de química para facili- tar a compreensão dos modelos atômicos. Uma alternativa possível foi arranjar junto a esse mo- delo o uso de analogias e a abordagem proble- matizadora. Com efeito, a inserção de analogias no ensino de química visa facilitar o processo de compreensão de ensino e aprendizagem, bem como pode contribuir para minimizar as dificul- dades de aprendizagem dos alunos em compre- ender, por exemplo, o conceito dos modelos atô- micos apresentados nos livros didáticos. Nestas condições, defendeu-se que o uso de analogias através da dinâmica da caixa pode contribuir para os alunos ousarem elaborar relações que aproximem o mundo abstrato do mundo sensível, já que terão de imaginar, sugerir, averiguar e identificar características dos objetos contidos na caixa sem vê-los. Des- sa forma, ao propor vincular a teoria pavlovia- na à dinâmica da caixa entendeu-se justificar essa clássica estratégia utilizada no ensino de química por meio do reflexo condicionado, ofe- recendo aos professores e estudantes da licen- ciatura argumentos para fundamentarem suas práticas de ensino. Espera-se que interessados nesse ensaio possam questioná-lo, ampliá-lo e ressignificá-lo, na tentativa de somarem-se na defesa de uma prática docente pautada em teorias de aprendizagem. Referências HUBNER, M. C.; MOREIRA, M. B. Temas clássi- cos da psicologia sob a ótica de análise do comportamento. Reimpressão, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. MARTURANO, E. M.; L. C. S. Família, dificuldades no aprendizado e problemas de comportamen- to em escolares. Educar em Revista, n. 59, p. 123-139, 2016. MELO, M. R.; LIMA NETO, E. G. Dificuldades de ensino e apzrendizagem dos modelos atômicos em química. Química Nova na Escola, v. 35, n. 2, p. 112-122, 2013. PAIM, S. Diagnóstico e tratamento dos pro- blemas de aprendizagem. Tradução Ana Maria Netto Machado, Porto Alegre: Artmed, 1985. ROCHA, J. S.; VASCONCELOS, T. C. Dificuldades de aprendizagem no ensino de química: algu- mas reflexões. In: XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química. Florianópolis, SC-Brasil-25 a 28 de julho de 2016. SANTIAGO, O. P.; JESUS, D. S.; NUNES, C. T.; SIL- VA, J. C.; SILVA, E. L. Primeiras impressões acer- ca de uma Sequência de Ensino-Aprendizagem a partir do emprego da formação de espeleote- mas como tema problematizador. Scientia Ple- na, v. 11, n. 6, 2015. SANTOS, L. C.; MARTURANO, E. M. Crianças com dificuldade de aprendizagem: um estudo de se- guimento. Psicologia: reflexão e crítica, v. 12, n. 2, 1999. SOUZA, V. C. A.; JUSTI, R. e FERREIRA, P. F. M. Analogias utilizadas no ensino dos modelos atô- micos de Thomson e Bohr: uma análise crítica sobre o que os alunos pensam a partir delas. Rev. Investigações em Ensino de ciências, v. 2, n. 1, p. 7-28, 2006. WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage Learning, 2010. 22 2 EQUAÇÃO DO 1º GRAU: uma sequência de ensino a partir do MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO Fábio Henrique Gonçalves Conceição1 Eressiely Batista Oliveira Conceição2 Denize da Silva Souza3 1 Mestrando em Ensino de Ciências e Matemática pelo PPGECIMA/UFS. Professor Colaborador na Universidade Federal de Sergipe. Graduado em Licenciatura Matemática pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: fabio030393@ hotmail.com 2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (NPGECIMA/UFS), Pedagoga, Espe- cialista em Educação Inclusiva; Educação em Química, Li- cencianda em Química do Instituto Federal de Sergipe (IFS), bolsista da CAPES e FAPITEC, E-mail: sielymetal@gmail.com 3 Doutora em Educação Matemática. Professora do Profes- sora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciên- cias e Matemática (PPGECIMA/UFS) e do Departamento de Matemática (DMA/UFS). E-mail: denize.souza@hotmail.com Considerações Iniciais No processo de desenvolvimento do conheci- mento, sobretudo, científico, surgiramdiversas teorias que, durante muito tempo e até mesmo na contemporaneidade, são utilizadas para en- tender como a aprendizagem acontece e sub- sidiar o seu processo. Dentre elas, está o mo- delo teórico de aprendizagem thorndikeano. Ao falar em aprendizagem, o que surge na mente, inicialmente, é a palavra dificuldade. Nesse sen- tido, ao compreender a importância das teorias da aprendizagem como ferramentas que pos- sibilitam atenuar as dificuldades de aprendi- zagem e nortear a prática docente, buscou-se elaborar um texto cuja finalidade foi apresentar os principais conceitos relacionados ao modelo teórico de aprendizagem thorndikeano. Assim como a sua aplicação para subsidiar o ensino 23MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO da matemática, especificamente, o conteúdo equação do 1º grau. Como principais referên- cias, destacam-se os estudos de Hill (1981), Santos (2006), Portilho (2009), Barbeiro (2012) e Campos (2014). Esta pesquisa de cunho biblio- gráfico aborda sobre dificuldades de aprendiza- gem quanto ao conteúdo em questão; como o modelo teórico de Thorndike pode ser aplicado a essas dificuldades e quais as principais condi- ções e restrições metodológicas para a sua apli- cação. Além disto, propõe-se uma sequência de ensino como sugestão para o docente trabalhar o supracitado conteúdo matemático. Diante do exposto, almeja-se que esse docente, a partir da leitura deste texto, reflita sobre o que ensi- nar, como ensinar, para que, a quem ensinar. 1 Contribuições teóricas de aprendizagem de base comportamentalista Esta secção objetiva apresentar, de modo su- cinto, o contexto histórico que proporcionou a elaboração da teoria da aprendizagem de base comportamental, denominada de modelo teóri- co de aprendizagem thorndikeano. Além disto, aborda uma síntese da biografia do seu criador – Edward Lee Thorndike – e os aspectos teóricos tratados em seu modelo teórico. 1.1 Contexto Histórico Durante o século XIX, os Estados Unidos da América (EUA) foram marcados por um grande processo de imigração, fato que culminou no aumento e diversificação da sua população e, por sua vez, no surgimento de conflitos sociais. Com o objetivo de eliminar tais conflitos, o go- verno e segmentos da sociedade civil propuse- ram a conversão dos imigrantes em um “novo americano” como tentativa de adaptá-los para aceitarem os costumes norte-americanos pre- sentes naquela época (SANTOS, 2006). Ao levar em consideração a necessidade de eli- minar os conflitos sociais presentes nos EUA, Thorndike começou a desenvolver pesquisas com a finalidade de proporcionar a “americani- zação” dos imigrantes (SANTOS, 2006). Ou seja, suas primeiras pesquisas tiveram como objeti- vo atender as demandas sociais que foram de- correntes da diversificação da população norte- -americana. Razão pela qual, grande parte dos temas norteadores de seus estudos associava- -se à tentativa de modernizar padrões sociais e de escolarização. Em outras palavras, seus estudos centravam-se na problemática do seu contexto social, preo- cupando-se em desenvolver uma teoria voltada a problemas de importância do campo social e educacional. Assim, para melhor explicar esse contexto, a próxima subsecção aborda sobre a biografia desse teórico. 1.2 Edward Lee Thorndike Edward Lee Thorndike nasceu na cidade de Williamsburg, Estados Unidos da América, em 31 de agosto de 1874 e faleceu em 9 de agos- to de 1949. Foi o sistematizador da psicologia educacional, como ramo da psicologia, sendo pioneiro nos estudos da psicologia animal e ex- perimental (HILL, 1981). Seu interesse pela psi- cologia surgiu a partir da leitura, culminando em ser considerado nesse ramo aquele a desenvol- ver a primeira teoria de estímulo-resposta. Ao descrever o comportamento animal em ter- mos quantitativos, obtém o título de doutor, pois seus experimentos favoreceram elementos importantes para a compreensão da aprendiza- gem humana (SANTOS, 2006). Ele também desenvolveu estudos voltados para a área da matemática, embora não fosse um matemático. O que proporcionou, nas primeiras décadas do século XX, alterações na prática pe- dagógica do ensino da matemática e na inter- 24MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO venção para reformas desse ensino. Dentre as suas produções na área da matemática, pode-se destacar os manuais para o ensino da matemá- tica (SANTOS, 2006). Nessas circunstâncias, é relevante destacar que os estudos de Thorndike têm uma associação com os de Skinner, ao levar em consideração que a lei do efeito foi a base para o behavioris- mo de Skinner (CAMPOS, 2014). 1.3 Modelo teórico de aprendizagem de Thorndike Durante quase meio século o modelo teórico de aprendizagem thorndikeano manteve monopó- lio nos Estados Unidos da América, ao que diz respeito aos demais presentes naquela época. Entre 1898 e 1930 esse modelo passou por um processo de revisão culminando em algumas mudanças, dentre elas, pode ser citada a quase eliminação da lei do exercício como uma lei de aprendizagem (HILGARD, 1904). Nos estudos de Thorndike, a aprendizagem tem como base a conexão; ou seja, a “associação en- tre as impressões dos sentidos e os impulsos para ação” é pedra angular para a aprendiza- gem (HILGARD, 1904, p. 19). Melhor dizendo, os estímulos, também denominados de verdadeira situação, quando associados à resposta fazem emergir a conexão, servindo como suporte para o processo de aprendizagem. Segundo Campos (2014), a aprendizagem é de- corrente de conexões do tipo estímulo-resposta ou da modificação das conexões existentes. A aprendizagem fortalece ou enfraquece as cone- xões. No entanto, para acontecer o fortalecimen- to, não depende simplesmente do fato de ocor- rer conjuntamente o estímulo e a resposta, mas dos efeitos que o acompanham (HILL, 1981). Isto é, se um ato decorrente de um estímulo e uma resposta produz efeito satisfatório, as conexões estímulos-respostas seriam fortalecidas; caso produza efeitos irritantes são enfraquecidas. Thorndike considerava o estímulo como sendo os fatos que influenciavam uma pessoa e a res- posta qualquer situação que ocorresse dentro do organismo (CAMPOS, 2014). Assim, “pensava que o principal caminho do qual se formavam as conexões do tipo S-R (estímulo- resposta) era de ensaio e erro [...]” (PORTILHO, 2009, p. 22). Desse modo, ensaio e erro é a forma mais carac- terística de aprendizagem. Os antecedentes evidenciam as principais leis que, segundo Thorndike, a aprendizagem obe- dece. Dentre elas, tem-se a lei do exercício e a do efeito. Na lei do exercício, à medida que uma conexão é exercitada, mais forte se torna. Do mesmo modo, ela diminui quando não exercita- da. Na lei do efeito, resultados agradáveis forta- lecem a conexão (CAMPOS, 2014). Dessa manei- ra, fica evidente que “[...] as leis de aprendizagem de Thorndike estão intimamente relacionadas e podem operar juntas” (PORTILHO, 2009). Assim, para sintetizar o modelo teórico de apren- dizagem thorndikeano segue um mapa conceitual: 25MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO O Modelo Teórico de Aprendizagem Thorndikeano gatos caixa problema ensaio e erro respostas estímulos perceber o comportamento satisfação ou recompensa punição ou sem recompensa Edward Lee Thorndike em decorrência de conflitossociais pioneiro na psicologia de aprendizagem pioneiro a tratar da motivação na educação exercitada tende a fortalecer não exercitada tende a enfraquecer cães lei do efeito repetir ser esquecido lei do exercício macacos estudos de aprendizagem usando surgiu leis de aprendizagem quando a conexão ato com tende tende criador foi para desenvolver utilizou cujo objetivo por meio resultado das conexões entre Figura 1 – Mapa conceitual Fonte: Os autores (2018). 26MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO Diante dos fatos supracitados e da necessidade de apresentar as contribuições que o modelo teórico de aprendizagem, abordado neste texto, pode fortalecer o processo de ensino e aprendi- zagem, é conveniente apresentar indicadores favoráveis para a sua utilização no referido pro- cesso, os quais são: aponta objetivos e habili- dades que contribuam para surgir competên- cias; proporciona definir, com a maior exatidão possível, os objetivos finais da aprendizagem; evita as ocasiões de erro, uma vez que impede a instalação de hábitos errados; proporciona a estruturação do ensino em unidades, tendo em vista, a necessidade de um modelo de ensino sequencial. Isto é, cada conteúdo deve seguir uma sequência. 2 Dificuldades de aprendizagem com foco em Equação do 1º Grau Ao considerar as dificuldades de aprendizagem apresentadas por alunos para compreender o conteúdo de equação do 1º grau, optou-se por destinar esta seção para tratar da temática di- ficuldades de aprendizagem. Além de expor de que maneira o modelo em questão pode ser aplicado com a finalidade de atenuá-las. 2.1 Definição de Dificuldade de Aprendizagem (DAP) Ao fazer um levantamento bibliográfico em busca de uma definição sobre dificuldade de aprendizagem, notou-se que as pesquisas não apresentam uma definição exata. Diante da diversidade de definições, considera-se a difi- culdade de aprendizagem as situações que não envolvem uma problemática orgânica (CHA- MAT, 2008). Isto é, são dificuldades enfrentadas pelos alunos, as quais não são decorrentes de questões orgânicas, mas de fatores inerentes ao contexto social. Embora exista uma diferença entre problemas de aprendizagem e dificuldades de aprendiza- gem, muitos consideram como sinônimos. Des- se modo, tem-se que, os problemas de apren- dizagem envolvem uma problemática orgânica (CHAMAT, 2008), configurando-se como desor- dens neurológicas que interferem no desempe- nho do aluno (PAIN, 1985). Existem algumas perspectivas que consideram as dificuldades de aprendizagem como sendo, também, algo neurológico e bioneurológico. To- davia, defende-se, neste texto, a perspectiva que elas são decorrentes de fatores psicológicos, pe- dagógicos, sociológicos e culturais, uma vez que fatos relacionados ao contexto sociocultural con- tribuem para o seu surgimento. Na perspectiva educacional, a dificuldade de aprendizagem é uma incapacidade ou impedi- mento específico para a aprendizagem de um determinado conteúdo. Dessa maneira, as di- ficuldades de aprendizagem são manifestações escolares apresentadas pelos alunos decorren- tes da ausência de adaptação às propostas do contexto escolar (SOARES, 2011), como será apresentado a seguir. 2.2 Pesquisas sobre as dificuldades de aprendizagem no conteúdo de Equação do 1º Grau A matemática consiste em um componente curricular, o qual diversos alunos apresentam inúmeras dificuldades de aprendizagem. Mui- tas delas são decorrentes de fatores histórico- -culturais, sobretudo, a sua trajetória escolar. Sendo assim, para fundamentar esta subsecção utilizou-se os estudos de Barbeiro (2012); Lemos e Kaiber (2013), por tratarem da temáti- ca em questão. 27MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO No que concerne às dificuldades de aprendiza- gem, especificamente, do conteúdo equação do 1º grau, evidencia-se que elas são originadas a partir da passagem da Aritmética para a Álgebra (BARBEIRO, 2012). Isto é, neste processo de tran- sição, os alunos começam a ver novos conceitos matemáticos com um maior nível de abstração aos anteriormente familiares que, por sua vez, refletem diretamente na sua aprendizagem. Na pesquisa de Barbeiro (2012), nota-se que, na maioria dos casos, as dificuldades de apren- dizagem do conteúdo de equação do 1º grau têm origem em situações de aprendizagem não resolvidas no estudo da Aritmética. Para esse autor, o fato de não terem domínio em relação aos conceitos de natureza aritmética implica nos alunos sentirem dificuldades em aprender equação de 1º grau, por: a) não perceber que as letras representam nú- meros; b) não conseguir traduzir informação de linguagem natural para linguagem algébrica; c) impor significado concreto às letras; d) pensar numa variável como representante de um cer- to número; e) explicar informação de linguagem natural para linguagem algébrica. Além disto, para aprender a resolver equação do 1º grau, o aluno precisa compreender os con- ceitos envolvidos nesse conteúdo (interpretação de enunciados para identificar operações), como também quais procedimentos são necessários para a resolução das equações que lhes forem propostas (LEMOS & KAIBER, 2013). Portanto, entende-se que conhecer as dificulda- des de aprendizagem enfrentadas pelos alunos suscita ao docente buscar métodos e propor tarefas para minimizá-las ou saná-las. Assim, as seções posteriores apresentarão um ensaio de sequência de ensino na tentativa de contribuir para atenuar tais dificuldades. 2.3 As lentes do modelo teórico de aprendizagem de Thorndike aplicadas às dificuldades de aprendizagem de equações do 1º grau As dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelos alunos quanto ao conteúdo equação do 1º grau, evidenciam a necessidade do docente bus- car meios para poder minimizá-las ou saná-las. Nesse sentido, o modelo teórico de aprendiza- gem thorndikeano, pode auxiliar esse docente em sua prática, bem como atenuar as dificulda- des de aprendizagem matemática do referido conteúdo, assim como, de outros. Nessas circunstâncias, os estudos de Thorndike, sobretudo a lei do efeito e a lei do exercício, po- dem ser utilizadas para abordar o conteúdo de equação do 1º grau e contribuir na aprendiza- gem dos alunos do 7º ano do ensino fundamen- tal. Dessa forma, o docente pode propor exercí- cios ao aluno, os quais possibilitem a prática de respostas desejadas no sentido de fortalecer as conexões a serem apreendidas e, ao mesmo, descartar as indesejadas. Além disto, espera-se que o docente promova um reforço positivo, caso o aluno obtenha resposta desejada e um reforço negativo, caso apresente resposta indesejada. Nota-se, então, que o modelo teórico de aprendizagem thorndikeano, dependendo da maneira que for utilizado pelo docente, pode minimizar dificuldades de aprendizagem do conteúdo em questão, assim, como de outros conceitos matemáticos. 3 Aplicação do Modelo Teórico de Thorndike para o desenvolvimento da aprendizagem de Equação do 1º grau Aqui destina-se justificar o desenvolvimento de uma proposta metodológica baseada em um modelo teórico, sobretudo, de aprendizagem. Todavia, convém apontar condições e restri- ções metodológicas para a sua aplicação, para melhor entender a proposta de uma sequência de ensino que foi elaborada como sugestão do presente estudo. 28MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINOEM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO 3.1 Justificativas acerca das práxis na sala de aula de matemática Em geral, o sucesso do aluno depende em di- versos aspectos do professor. Nesse sentido, ao levar em consideração os antecedentes e as dificuldades de aprendizagem matemática dos alunos, justifica-se a necessidade de o professor desenvolver uma práxis, a partir de um modelo teórico como forma de refletir sobre o que en- sinar, por que ensinar e como ensinar, evitando um trabalho descontextualizado que incide na dificuldade do aluno. 3.2 Condições e restrições metodológicas para a aplicação do modelo em tela Ao desenvolver a prática docente sustentada a partir de um modelo teórico, inicialmente, deve-se refletir quais são as condições e restrições meto- dológicas para a sua utilização. Sabe-se que, cada modelo teórico foi criado em uma determinada época e a sua aplicação era condizente para aque- le contexto. Porém, pode ser coerente para os dias atuais, se observadas as condições adequadas e apropriadas à aplicabilidade. Sendo assim, esta subseção tem ênfase nas principais condições e restrições metodológicas quanto à utilização do modelo teórico de aprendizagem thorndikeano. No que concerne às condições metodológicas, para a utilização desse modelo teórico, tem-se como basilares: os conteúdos devem seguir uma sequência; o docente deve, inicialmente, prepa- rar o aluno para responder a questão, tendo em vista que, segundo Portilho (2009), se uma pes- soa estiver preparada para responder a ques- tão, então terá satisfação e, por sua vez, irá fixar conteúdo (no caso deste estudo); aplicar proble- mas que exercitem aptidões mentais; abordar o conteúdo fazendo conexões com a realidade do aluno; proporcionar a participação do aluno no desenvolvimento das atividades, com uma di- nâmica, por exemplo; estimular a formação de hábitos adequados. Nesse contexto, as principais restrições meto- dológicas ao uso do modelo teórico em tela são: ao abordar o conteúdo não fugir da realidade do aluno; não apresentar exercícios que o aluno não consiga resolver; não reduzir os exercícios ou exemplos a situações e dados estranhos e contrários à realidade do aluno. Isto é, os exercícios sendo condizentes aos fatos reais e que podem ocorrer na vivência do aluno. Um contraexemplo é ilustrado com seguinte si- tuação problema: Preparei um almoço para duas pessoas e gastei uma determinada quantidade de quilos de arroz, que pode ser obtida a par- tir da soma de um número com seu antecessor que é igual a 49. Sendo assim, quantos quilos de arroz foram consumidos nesse almoço? Pode-se observar que a situação ilustrada busca articu- lação à realidade do aluno, porém, de maneira contraditória. Duas pessoas, em um único almo- ço, não consumiriam a quantidade de quilos de arroz que foi anunciada. Outra restrição seria não considerar a repetição como fator obrigatório para a aprendizagem, uma vez que, uma simples experiência emocio- nal é suficiente para tornar a impressão durado- ra (CAMPOS, 2014). Nesse sentido, o professor, ao utilizar o modelo teórico de aprendizagem thorndikeano, não deve pensar que o aluno só repetindo aprenderá. Sendo assim, sua aborda- gem pode ter fundamento no modelo em ques- tão e promover discussões, as quais contribuem para a aprendizagem. 3.3 Proposta de uma sequência de ensino a partir do modelo teórico de aprendizagem thorndikeano Defende-se a necessidade de uma práxis docen- te alicerçada em um modelo teórico de aprendi- zagem. Diante disto, procurou-se organizar uma proposta de sequência de ensino que permitis- se a abordagem do conteúdo de equação do 1º grau, a partir do modelo teórico de aprendiza- gem de Thorndike. Assim, segue a referida pro- posta (Quadro 1), a qual pode ser tomada como base para a elaboração de outras, abordando outros conteúdos matemáticos. 29MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO Quadro 1 – Sequência de ensino para equações do 1º grau Objetivo: Compreender os conceitos envolvidos no conteúdo de equação do 1º grau e seus procedimentos de resolução. Duração: 2 aulas de 50 min. Recursos: Livro didático. Etapas voltadas ao professor: 1. Diagnosticar situações cotidianas e experiências vivenciadas pelo aluno, isto é, o que ele costuma fazer ou já fez no seu dia a dia; 2. Propor a leitura do livro didático no capítulo que trata do conteúdo de equação do 1º grau; 3. Suscitar perguntas sobre o conteúdo; 4. Explicar os conceitos básicos que envolve o conteúdo em questão; 5. Propor uma dinâmica. Isto é, será solicitado e/ou estabelecido que: a) o aluno compareça ao quadro; b) todos os alunos devem participar. 6. Solicitar que cada aluno abra seu livro didático, no capítulo que trata do conteúdo em questão e selecione equações; Etapas voltadas ao aluno: 1. Consultar o livro didático; 2. Entregar os exemplos selecionados no livro didático; 3. Apresentar respostas para as questões selecionadas no livro didático; 4. Participar ativamente da dinâmica; 5. Confrontar o seu resultado com o apresentado no quadro pelo cole- ga; 6. Debater sobre as principais dificuldades para compreender e respon- der os exercícios. 7. Apresentar no quadro algumas questões selecionadas pelos alunos e sortear um discente para responder; 8. Solicitar a outro aluno que verifique se a resposta apresentada à questão da etapa anterior está correta. 9. Mediar a discussão da reposta e correção apresentadas nas etapas 7 e 8, para que seja possível o aluno apresentar a resposta correta. 10. Fazer uma relação ou correlação com a realidade do aluno, ao tomar como base as informações obtidas na etapa 1 (situações do cotidiano). 11. Sanar possíveis dificuldades dos alunos. Conteúdos anteriores: Conjuntos dos números naturais, inteiros e re- ais. Assim como, as operações que os envolvem. Equação de 1º Grau Fonte: Os autores (2018). 30MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAEQUAÇÃO DO 1º GRAU: UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO A PARTIR DO MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM THORNDIKEANO Considerações Finais Sabe-se e defende-se a ideia do professor apoiar-se em métodos que contribuam para re- duzir dificuldades de aprendizagem matemática ao desenvolver sua prática, evitando basear-se apenas na intuição, tão pouco no senso comum. Ao tomar como base esses fatos, o objetivo principal foi refletir sobre um modelo teórico de aprendizagem elaborado por Edward Lee Thor- ndike. A partir desse método e de outros estu- dos, buscou-se abordar sobre dificuldades de aprendizagem quanto ao conteúdo de equação do 1º grau e quais as condições e restrições do uso desse método. Para tanto, propôs-se elaborar uma sequência de ensino para subsidiar o professor a abordar o conteúdo supracitado e como sugestão para elaboração de novas sequências sobre diferen- tes conteúdos matemáticos, cuja finalidade é minimizar ou sanar as dificuldades dos alunos. Espera-se, então, que o texto suscite reflexões e novos olhares para o processo de ensino da ma- temática, de modo que a sequência de ensino possa ser utilizada por professores de matemá- tica em suas aulas no ensino fundamental. Referências BARBEIRO, E. C. C. A aprendizagem das equa- ções do 1º grau a uma incógnita: uma análise dos erros e das dificuldades de alunos do 7º ano de escolaridade. Dissertação de mestrado-Uni- versidade de Lisboa, 2012. CAMPOS, Dinah. M. S. Psicologia da aprendiza- gem. Petrópolis, 2014. CHAMAT, Leila. S. J. Técnicas deintervenção psicopedagógica: para dificuldades e proble- mas de aprendizagem. São Paulo, 2008. HILGARD, Ernest. R. Teorias da aprendizagem. São Paulo, 1904. HILL, Winfred. F. Aprendizagem: uma resenha das interpretações psicológicas, Rio de Janeiro, 1981. LEMOS, Andrielly. V.; KAIBER, Carmen T. Equa- ções de 1º grau: uma sequência didática dis- ponível no siena visando a recuperação de con- teúdos. Disponível em: http://sbem.web1471. kinghost.net/anais/XIENEM/pdf/2502_955_ ID.pdf. Acesso em: 02/ 07/ 2018. PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos proble- mas de aprendizagem. Porto Alegre, 1985. PORTILHO, Evelise. Como se aprende? Estra- tégias, estilo e metacognição. Rio de Janeiro, 2009. SANTOS, Ivanete. B. Edward Lee Thorndike e a conformação de um novo padrão pedagógico para o ensino de matemática. Tese de douto- rado-PUC, São Paulo, 2006. SOARES, M. C. A.; Algumas concepções sobre a dificuldade de aprendizagem na educação de jovens e adultos. Monografia (Especialização em desenvolvimento Humano, Educação e In- clusão Escolar) – Universidade Aberta do Brasil/ Universidade de Brasília, 2011. Disponível em: http://goo.gl/1W4MrA. 31 3 Como ensinar condicionalmente AS FUNÇÕES ORGÂNICAS segundo o MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM DE WATSON Joedna Vieira Barreto1 Considerações Iniciais Este capítulo tem como objetivo discutir uma sequência de ensino fundamentada ao modelo teórico de aprendizagem de Watson para tentar contornar as dificuldades de aprendizagem dos alunos sobre o conceito de Funções Orgânicas. Acredita-se que o presente ensaio poderá con- tribuir para a aprendizagem devido a sua cons- trução que está totalmente embasada no mode- lo teórico em destaque. O conteúdo de funções orgânicas foi escolhido por ser um assunto em 1 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com a orientação do Professor Doutor Erivanildo Lopes da Silva, Graduada em Química Licenciatura (UFS). E-mail: joednabarreto15@hotmail.com que alunos do ensino médio possuem grandes dificuldades, pois requer muita abstração por parte dos professores e dos alunos. Com efeito, partiu-se dessa premissa e vinculou-se o modelo de Watson para possibilitar aos alunos algo mais sensível, onde eles poderão visualizar as estrutu- ras de uma forma tridimensional, proporcionan- do a aprendizagem. 32MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICACOMO ENSINAR CONDICIONALMENTE AS FUNÇÕES ORGÂNICAS SEGUNDO O MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM DE WATSON 1 Contribuições teóricas de Aprendizagem de Base Comportamentalista 1.1 Breve histórico As teorias Behavioristas reúnem uma varie- dade de pesquisadores que postulam o com- portamento como o mais adequado objeto de estudo da Psicologia. Sendo assim, estudiosos como o pesquisador Ivan Pavlov (1857-1927), que desenvolveu sua pesquisa na cidade São Petersburgo na Rússia, em que seu ideário está fundamentado no reflexo condicionado ou con- dicionamento clássico. Pavlov defendia que a associação dos estímulos e das respostas levaria à aprendizagem de alguma forma. No mesmo século, outro pesquisador chama- do Edward Lee Thorndike (1874-1949) desen- volvia seus estudos com animais, e postulou a Lei de Efeito, um princípio de aprendizagem que seria aplicável tanto ao comportamento animal, quanto ao comportamento humano. Mas até esse momento o behaviorismo não estava concretizado. Em 1913, Watson com a publicação de um arti- go intitulado “Psicologia: como os behavioristas a veem”, inaugura o termo que passa a denomi- nar uma das mais expressivas tendências teóri- cas ainda vigentes: o Behaviorismo. Ao postular o comportamento como objeto de estudos da Psicologia, como algo “observável e mensurá- vel, cujos experimentos poderiam reproduzir diferentes condições e sujeitos”, Watson definiu o comportamento na forma de manifestações reflexas as respostas que o organismo emite quando estimulado (FURTADO, 1999). Futuramente, confrontando-se às ideias de Pa- vlov e Watson de cunho realista, outro pesqui- sador, B.F. Skinner (1094-1990), introduz, em 1945, o behaviorismo radical, defendendo a análise experimental do comportamento (FUR- TADO, 1999). Essa breve divagação teve o objetivo de susci- tar no leitor algumas reflexões para conduzi-lo a curiosidade de compreender as origens histó- ricas pelo interesse do estudo sobre a aprendi- zagem que, inicialmente, estava diluído na aná- lise funcional do comportamento ou ainda nas contingências (conjunto hipotético de relações funcionais) que determinam o comportamento. 1.2 John Broadus Watson Este pesquisador nasceu nos Estados Unidos, na Carolina do Sul, em 1878, no seio de uma família pobre e teve uma infância repleta de momentos tristes. Mesmo assim, foi um brilhante estudan- te e ingressou na Universidade de Furman, ter- minou seus estudos em Chicago onde obteve o Doutorado e o cargo de Professor Associado na Universidade John Hopkins, na qual, em 1913, ministrou a célebre palestra que ficou conheci- da como “Manifesto Behaviorista”. Suas ideias relacionavam as emoções huma- nas, em que segundo Watson, o medo, a raiva e o amor, não dependem de aprendizado, mas atrelados a objetos ou a indivíduos podem ser condicionados através do “Condicionamento Es- tímulo-Resposta (ER)” (VILLELA, 2014). Transpondo esse raciocínio para outras situa- ções que exijam certa frequência, pode-se in- ferir que as pessoas podem ser treinadas para eliciar uma resposta emocional vinculada a um determinado tipo de objeto podendo expressar temor, ódio ou amor. Essas conclusões foram baseadas nos estudos do fisiologista russo Pa- vlov que demonstrara ser possível ensinar refle- xos ou comportamentos a animais. 33MODELOS TEÓRICOS DE APRENDIZAGEM BASES PARA SEQUÊNCIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICACOMO ENSINAR CONDICIONALMENTE AS FUNÇÕES ORGÂNICAS SEGUNDO O MODELO TEÓRICO DE APRENDIZAGEM DE WATSON Partindo dessa premissa, Watson se empenhou para transferir essa possibilidade à homens e, desse modo, estipulou que qualquer pessoa poderia ser treinada ou condicionada, indepen- dentemente de sua natureza ou de suas carac- terísticas inatas. Neste contexto, Watson desenvolveu seu ide- ário em cima de uma crença humana que na época não poderia ser estudada de modo sa- tisfatório se fossem utilizados os métodos tradicionais defensores de uma abordagem subjetiva e introspectiva. Para atingir êxito na sua pesquisa foi preciso de- senvolver experimentos com pessoas por meio de métodos consagrados em outras ciências, a exemplo de experiências rigorosamente contro- ladas sob protocolos laboratoriais. Os avanços em suas pesquisas permitiu con- cluir, à época, que o aprendizado ocorre atra- vés do método ER, anteriormente discutido por Thorndike. Desses investimentos, passou a ser conhecido como o “Pai do Behaviorismo”, título que ele buscou consolidar de todas as formas. O método “Estímulo-Resposta” permitiu o pes- quisador descobrir como seria possível prever e controlar as atitudes, buscando-se decifrar como uma pessoa poderia ser condicionada ou treinada para que seus sentimentos respondes- sem a determinados estímulos (VILLELA, 2014). Um exemplo encontrado abundantemente na literatura sobre o behaviorismo refere-se a uma série de experiências envolvendo Albert B, uma criança de nove meses de idade, selecionada em um hospital local. Basicamente, os testes foram planejados para determinar a possibilidade de ensinar uma criança a temer um animal sempre que apresentasse repetidas vezes, em conjunto com um estímulo aversivo. Paralelamente ele também tentava descobrir se o medo condicionado seria transferido para outros animais