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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Estratégia, Core Competence e Mudança Aula 5 Prof. Cláudio Aurélio Hernandes CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Nesta aula, vamos falar de competências essenciais. Compreenderemos a origem do termo competência, seus vínculos, o que causou o surgimento dessa visão e como ela integra-se à gestão na atualidade e quais são objetivos que se pretende alcançar. Após esse tema, pretende-se aumentar a visão do administrador, elevando a percepção de gestão estratégica e ligação com as competências. Um administrador precisa de fato ter uma visão do todo para que dê respostas mais abrangentes às situações do dia a dia. Ele precisa olhar para o futuro, enxergar e antecipar acontecimentos para que a empresa esteja preparada para tais situações. Vamos à nossa aula! Contextualizando O termo competência aparece na literatura vinculado ao contexto organizacional no decorrer da década de 1970, quando McClelland a descreveu inicialmente. Para ele, o termo tem a ver com o desempenho superior, de produção diferenciada na execução de uma tarefa por um profissional (Fleury; Fleury, 2004). Posteriormente, ao estudar as competências gerenciais, Richard Boyatzis, verificou que há um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que levam ao desempenho superior. Aqui, nasce o famoso CHA – conhecimentos, habilidades e atitudes. Assim, competência nessa visão diz respeito ao patrimônio de conhecimentos, habilidades e atitudes que uma pessoa tem e aplica em sua atuação. Mas ao profissional não foi sempre exigido que apresentasse alta performance e os melhores resultados? Não necessariamente. Se remontarmos ao início da vida do ser humano como trabalhador assalariado, ele tinha apenas de executar bem as tarefas sob sua responsabilidade e isso já era o máximo que se esperava. Só depois dessas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 novas configurações teóricas a respeito do termo competência é que se passa a exigir dele muito mais. Com isso, o trabalhador tem de contribuir para que a estratégia organizacional seja alcançada por meio de seu trabalho, de seus colegas, de seus gestores, diretores, ou seja, por todos que compõem a empresa. Tema 1: Conceitos e definições – core competence Ao analisarmos a evolução dos conceitos de competência, notamos que se trata de um tema com diferentes facetas, conectando-se de modo amplo a pontos de vista bastante variados. Nos quadros a seguir, nos quais se vê a definição de diferentes autores, essa realidade fica bastante perceptível. Quadro 1.1 – Competência: principais autores, ênfases e conceitos Autor/ano Ênfase Conceito Boyatizis (1982:23). Formação, comportamentos, resultados. As Competências são aspectos verdadeiros ligados à natureza humana. São comportamentos observáveis que determinam, em grande parte, o retorno da organização. Sandberg (1996:411) Formação e interação. A noção de competência é construída com base no significado do trabalho. Portanto, não implica exclusivamente na aquisição de atributos. Boterf (1997:267) Mobilização e ação. Competência é assumir responsabilidades diante de situações de trabalho complexas, buscando lidar com eventos inéditos, surpreendentes, de natureza singular. Fleury e Fleury (2000:21) Ação e resultado. Competência: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades que agreguem valor CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 econômico à organização e valor social ao indivíduo. Zarifian (2001:66) Aptidão, ação, resultado. A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber-fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constatada no momento de sua utilização em situação profissional por meio da qual é passível de avaliação. Compete então à empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e fazê-la evoluir. Fonte: Adaptado de Bitencourt, 2001, p. 28. E ainda: Quadro 1.2 – Competências organizacionais Autores Definições/características/tipos Hamel e Prahalad (1995) • Competências essenciais: são capazes de viabilizar vantagens reais ao cliente, permitir o acesso a diversos mercados e ser de difícil imitação pelos concorrentes. O principal aspecto relativo às competências essenciais é a capacidade de articulação dos recursos da organização. Teece e Pisano (1994) • Capacidades dinâmicas: permitem à firma gerar novos produtos e processos em resposta às mudanças do mercado. As capacidades dinâmicas referem-se especialmente à forma como a organização, usando recursos internos e externos, desenvolve e renova suas competências internas. Essas capacidades dependem intensamente do trabalho dos gestores. Mills et al. (2002) Tipos de competência: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 • Competências essenciais: usualmente referem-se às atividades de alta competência no nível mais corporativo da firma e são a chave para a sobrevivência e centrais para a estratégia. • Competências distintivas: referem-se às atividades de alta competência que os clientes reconhecem como diferenciadoras de sua firma em relação aos competidores, sendo, portanto, uma vantagem competitiva. • Competência organizacional ou competência de unidade de negócio: pequeno número de atividades-chave (duas a seis), esperadas de cada unidade de negócio na organização. • Competências-suporte ou metacompetências: atividade que é valorizada por ser o suporte de uma gama de outras. • Capacidade dinâmica: capacidade da firma para adaptar suas competências o tempo todo. Estritamente relacionada com os recursos importantes para as mudanças. Fleury; Fleury (2000) Definição: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. • Tipos de estratégia (relacionadas às competências): excelência operacional, inovação no produto orientada para serviço. • Tipos de competência (envolvendo organização e seus indivíduos): organizacional, social e técnica. Zarifian (2001) Definição: é a faculdade de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações. É a faculdade de fazer com que esses atores compartilhem as implicações de suas ações, é fazê-los assumir áreas de corresponsabilidade (Zarifian, 2001, p. 74). Tipos de competência: técnicas e sociais, sobre processos, organização e serviços. Fonte: Adaptado de Amorin; Fischer, 2013. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Essa diversidade de definições é útil, pois nos faz analisar esse fenômeno da ação humana de modo mais sistêmico. Porém, mesmo com todas essas vertentes, há elementos presentes nas diferentes definições que se repetem. Para Hamel e Prahalad (1995), o foco está em como a empresa emprega os recursos disponíveis e, com isso, como eles podem fazer com que ela atinja objetivos de chegar a novos mercados, novas praças e alcançar novos clientes. Contudo, a parte mais difícil é manter. Isso só conseguirá se sustentar caso essas competências fiquem inalteradas, pois elas precisam manter-se como recursos importantespara o alcance dos objetivos organizacionais. Para esses autores, as competências essenciais devem permitir à empresa uma atuação diferenciada, que deve ser percebida pelo foco maior: os clientes. Assim, tais competências devem fazer com que a firma possa trabalhar com recursos próprios, sejam eles tecnológicos, estruturais, financeiros e pessoais de forma que isso possibilite uma superação em relação aos concorrentes. Eles apresentam três características básicas das competências essenciais: “permitem a diversificação da presença da empresa em diversos mercados, criam efetivamente valor para os clientes e, por fim, são difíceis de ser copiadas pela concorrência”. E complementam: “é do uso dos recursos tangíveis e humanos da organização que se originam as competências essenciais”. (Mintzberg et al., 2000, citado por Amorin; Fischer, 2013, p. 346-347). Aqui, percebemos que não somente os recursos tangíveis abrangem a análise, mas as pessoas, as quais ocupam papel importante na construção e aplicação dessas competências. Para Teece e Pisano (1994), as competências essenciais estão vinculadas à capacidade de movimentação da empresa no mesmo sentido ou não do mercado. Parece contraditório, mas não é. No mesmo sentido, quando isso fizer parte da estratégia e for outras direções justamente para surpreender esse mercado apresentando novos produtos ou inovando em processos. E isso só consegue por meio do trabalho dos seus gestores. Assim, o foco é o mercado, mas a base para atender suas necessidades são as pessoas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Para Mills et al. (2002) existem no interior da empresa vários tipos de competência: as essenciais, as distintivas, a organizacional ou de unidade de negócio, competências-suporte e capacidade dinâmica. Nesse momento, iremos nos ater às primeiras – as essenciais –, que estão vinculadas às ações de competência significativas, as quais propiciam a permanência da organização no mercado, mantendo-a competitiva e firme na busca e realização de sua estratégia. Os autores Fleury e Fleury (2000) direcionam-se para uma definição de competências voltada à ação dos colaboradores, integrada, com capacidade de fazer aparecer nos produtos e serviços valor econômico à empresa e valor social ao indivíduo, assim sendo, é uma via de duas mãos: de um lado a empresa que tem ganhos econômicos com o desenvolvimento dessas competências; do outro o trabalhador com ganho social, reconhecimento, valorização e também ganhos de ordem financeira, pois todo ganho é bem-vindo. Porém, o aspecto de retorno sobre o trabalho disponibilizado à empresa é tão importante quanto qualquer outro. Por fim, para Zarafian (2001), o centro do termo competências essenciais está voltado a movimentar um conjunto de pessoas (atores) em direção às mesmas situações, dividindo conhecimentos e resultados, responsabilizando-se pelo alcance daquilo que foi definido pela organização. Podemos perceber por meio desses diversos conceitos que, embora não exista consenso na definição, eles não são contraditórios, pois todos objetivam chegar ao mesmo ponto: levar a empresa a alcançar suas estratégias. Tema 2: Competências básicas Na primeira parte desta aula, tratamos das competências essenciais, aquelas que identificam uma organização e a fazem ganhar espaço no mercado, conquistar clientes e superar concorrentes. Neste segundo momento, trataremos das competências básicas, para as quais o foco é de outro nível, sai-se do nível macro – mais amplo – para centrar- se no indivíduo, trabalhador, colaborador que compõe o quadro funcional da empresa. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Embora ambas dimensões – organizacional e individual – estejam conceitualmente separadas, na prática, estão imbricadas uma à outra, ou seja, as individuais sofrem a influência das organizacionais e vice-versa. Há defensores para a visão de que a base para o desenvolvimento das competências é de cima para baixo, ou seja, da organização para o indivíduo, e há aqueles que pensam de forma inversa: a base é o indivíduo e, após desenvolver suas competências, contribui para que a organização faça o mesmo. Para Ruano (2007, p. 13), “as competências organizacionais e individuais estão totalmente relacionadas e não é possível estabelecer as competências individuais sem antes fazer uma reflexão sobre as competências organizacionais”. Por isso, tanto as competências individuais quanto as organizacionais são relevantes para as organizações. Mais importante ainda é a organização conseguir alinhar os objetivos estratégicos com as competências profissionais das quais dependem seu desempenho e competitividade. Como competência é um termo que está estritamente relacionado à experiência e ao trabalho dos indivíduos, as organizações precisam saber gerir as diversas competências (Takahashi, 2015, p. 44). Hamel e Prahalad (1995, p. 85) argumentam que a habilidade crítica da gestão no futuro será a de identificar, cultivar e explorar as competências essenciais que permitem o crescimento sustentável e a competitividade das organizações. Mas onde estão as competências? Em geral, espalhadas entre as pessoas que trabalham nos vários níveis organizacionais. As competências têm de ser identificadas, nutridas e difundidas na organização como base para sua estratégia. A competência de uma pessoa envolve a capacidade de agir em diversas situações tanto para criar ativos tangíveis quanto intangíveis. Não basta ter pessoas, é necessária uma plataforma que sirva de base e um clima que impulsione as pessoas e utilize os talentos existentes. Assim, o capital humano é basicamente constituído de talentos e competências das pessoas. (Hamel; Prahalad, 1995, p. 279) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Já para Fleury e Fleury (2004, p. 47) “[...] pode-se afirmar que o desenvolvimento das competências organizacionais está intimamente relacionado ao desenvolvimento das competências individuais e das condições dadas pelo contexto”. As competências individuais são compostas de três elementos/níveis: C – Conhecimento H – Habilidades A – Atitudes Os conhecimentos são provenientes de toda a educação formal e informal, a qual o indivíduo, como cidadão e profissional, se sujeitou, sendo ela a escolaridade, os cursos e as palestras que frequentou/assistiu e/ou os livros que leu. Mas para além dos conhecimentos formais, há os informais, fruto da experiência em sociedade, das pessoas com quem conviveu, dos contatos que manteve, dos problemas que enfrentou e resolveu. E o mais importante para compor esse nível de conhecimento diz respeito à experiência profissional, sua atuação junto ao mercado de trabalho. As habilidades dizem respeito a tudo aquilo que sabe de fato fazer/executar, desde operar um sistema ou uma máquina, até proferir uma palestra. As habilidades que o individuo possui é resultado de seus conhecimentos e mais que isso de sua experiência prática, de sua vivência seja em sociedade, seja no mercado de trabalho. Já as atitudes estão vinculadas ao comportamento do indivíduo, ou seja, e esses são resultantes de sua história de vida pessoal e profissional, de sua atuação como membro de uma sociedade e como portador de uma carreira profissional. A seguir, uma síntese do conceito de competência na figura. Figura 2.1 – Síntese do conceito de competência CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Fonte: http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=10895&chapterid=9843. As competências básicas, aquelas que levamos profissionais a apresentar diferenciais em sua atuação, possibilitando às empresas construírem e aplicarem suas competências essenciais, induzem as organizações a construírem competências distintivas, que será o próximo tema a ser tratado nesta aula. Tema 3: Competências distintivas As competências essenciais percebidas pelos clientes como os diferenciais de uma empresa são as competências distintivas, assim sendo, possibilitam aos clientes ver uma empresa como detentora de características que a distinguem das demais. A organização que apresenta características que se destacam diante dos concorrentes é vista pelos clientes como algo a mais. Isso são competências distintivas. Assim Fleury e Fleury (2004, p. 49) afirmam: “essas competências são formadas a partir da combinação de recursos da organização e de competências individuais. Esses recursos organizacionais podem ser tecnologia, processos, produtos, gestão, capacidade de resolver problemas, agilidade no atendimento CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 às demandas dos clientes, gestão de pessoas, além da formação e tratamento dado aos colaboradores, o que permite a eles destacarem-se da maioria. Com isso, apresentam diferenciais em sua atuação que se desdobrarão em diferenciais para a organização. Para os autores acima, as distintivas são “competências e atividades que os clientes reconhecem como diferenciadoras de seus concorrentes e que provêm vantagens competitivas” (Fleury; Fleury, 2004, p. 47). Elas passam por alteração ao longo da existência da empresa, pois estamos tratando de um ambiente dinâmico e em constante movimento, assim, o que era considerado distintiva há dez anos, agora pode não ser mais, pois as tecnologias mudam, o mercado amadurece e os clientes passam a ter novas exigências, com isso, novas percepções. Por isso, para a empresa manter-se no mercado e ter produtos/serviços vistos como diferenciais das demais, faz-se necessário continuar trilhando o caminho da modernização e atualização constante. Para tanto, “essa competência diz respeito à capacidade da organização adaptar constantemente as suas competências, e a partir dali torná-las perceptíveis ao cliente.” (Amorin; Fischer, 2003, p. 350). Dessa maneira, não adianta ter condições de fazer as devidas adaptações constantes, a empresa precisa ir além, precisa fazer com que essas mudanças sejam percebidas pelos clientes. Para Mills et al (2002, p. 350), “o reconhecimento ou a percepção do cliente, em termos do valor proporcionado por uma competência, justifica a definição de um tipo específico de competência, a distintiva”. As organizações precisam definir em quais mercados querem atuar, com quais produtos irão disputar a preferência dos consumidores e como farão para que isso se concretize tanto por meio da inovação de produtos ou processos, novas tecnologias quanto novas funcionalidades ou novos benefícios aos clientes. Isso diz respeito à estratégia que a organização irá lançar mão para chegar onde pretende. Assim, a estratégia envolve em sua essência a definição dos negócios em que a empresa vai competir e as formas como ela vai competir, preferencialmente de um modo que focalize seus recursos para transformar competências distintivas em vantagens CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 competitivas. E, assim, as competências essenciais para muitos autores parece ser elemento norteador desses objetivos. (Cassandre; Endrici; Vercesi, 2008, p. 21) Então, temos de entender que isso envolve vários fatores/recursos da organização, ou seja, habilidades humanas, tecnológicas e financeiras. Esses níveis devem estar integrados e ajustados ao planejamento estratégico, para apresentar diferenciais que sejam reconhecidos pelos clientes e leve-os a preferirem sua empresa no lugar dos concorrentes. Por isso, as competências distintivas devem servir de base para que a empresa possa minimizar ou neutralizar concorrentes. Esses diferenciais atraem clientes e os mantêm fiéis à sua marca. Quando não for possível neutralizar, essas competências devem, no mínimo, atuar para minimizar a atração em consumir tal produto ou adquirir tal serviço concorrente. Para implantar as competências distintivas a empresa precisa: ter o comprometimento de todos os níveis de colaboradores, desde a direção até suas bases, pois os diferenciais não devem ser percebidos somente no uso do produto, mas como o cliente percebe a marca, qual experiência tem quando realiza uma compra, quando recebe o produto, quando precisa de troca ou reparo, quando vai de fato utilizar e verificar na prática os benefícios que oferece; ter um plano claro de ações que realizará a curto, a médio ou longo prazo, pois caso a empresa fique apenas “surfando” a onda atual e não se preocupe com possíveis tempestades e inovações dos concorrentes, não terá tempo hábil para reagir e neutralizar a ação. definir claramente o papel de cada área, de cada setor. Mais do que isso: a contribuição esperada de cada colaborador para que suas competências distintivas sejam percebidas permanentemente pelos clientes. Isso demanda investimento em tecnologia, em treinamento e desenvolvimento de talentos, em sistemas de recompensas (salários e benefícios) compatíveis com o mercado no qual está, ambiente de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 trabalho com clima adequado para propiciar motivação e integração dos objetivos das pessoas e da empresa. aprofundar quais são de fato as competências que deve perseguir e aprimorar constantemente, pois algo que não é reforçado pode ser esquecido ou não tratado como prioridade. Assim, desde o porteiro até o presidente devem lembrar constantemente e agir para que os clientes percebam o diferencial da companhia em relação aos concorrentes, procurando fazer sempre melhor; estudar constantemente para saber onde o mercado está indo, compreendendo as tendências e atuando para que seja um dos expoentes dessas tendências, e não seguidores. monitorar a concorrência permanentemente com vistas a sempre não permitir distanciar-se significativamente dela. Assim, ter condições de responder de forma rápida e efetiva, caso ocorra alguma alteração inesperada. Essas competências são construídas ao longo do tempo por todos os colaboradores empresa, sejam funcionários, gestores ou diretores. Leva-se tempo para consolidar essas competências e qualquer falha grave pode alterar a percepção que o cliente tem da marca, do produto ou serviço. Um papel importante nesse processo é dos gestores/gerentes, que tem a missão de zelar para que essas competências distintivas estejam sempre na ordem do dia da atuação dos colaboradores. É sobre as competências gerenciais que serão tratadas na sequência desta aula. Tema 4: Competências gerenciais Inicialmente, nos primeiros estudos sobre competências, o conceito de competências gerenciais estava ligado somente ao desempenho superior. De acordo com Cassandre, Endreci e Vercesi (2008), era resultado de um conjunto de características e traços que levavam a esses resultados diferenciados. Vinculava-se apenas ao que já discutimos sobre o CHA – Conhecimentos, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Habilidades e Atitudes. Era considerado o “estoque de recursos” que o indivíduo possuía. Para eles, “a avaliação dessa competência é feita, no entanto, em relação ao conjunto de tarefas do cargo ou da posição ocupada pela pessoa, ficando assim ligada ao conceito de qualificação” (Cassandre; Endreci; Vercesi, 2008, p. 19). Isso levava à impressão de que qualificaçãoe competência seria a mesma coisa. Mas para esses mesmos autores, os termos têm origem distintas, bem como, estão ligados a aspectos distintos do mesmo fator: desempenho. Qualificação diz respeito a toda preparação para as atividades do cargo, sendo aquelas realizadas constantemente ou previstas, ou seja, estar preparado para resolver problemas previstos ou corriqueiros. Enquanto a competência diz respeito à mesma preparação, mas não somente para eventos conhecidos e esperados, mas também – e aí é que está a diferença entre o que se pensa sobre competência – sua preparação diz respeito a futuras situações, problemas vindouros, os quais deverão ser resolvidos, equacionados considerando-se não a rotina do cargo, mas sua dinamicidade. Diante disso, ser efetivo em oferecer respostas é competência. Assim, a noção de competência passa pela crescente instabilidade da atividade econômica, pela baixa previsibilidade da relação das empresas com seus mercados e clientes e pela intensificação de estratégias de customização. (Cassandre; Endreci; Vercesi, 2008, p. 20) Esses autores citam Le Boterf (2003, citado por Cassandre; Endreci; Vercesi, 2008), que argumenta: para administrar na complexidade, faz-se necessário seis fatores, os quais levam o profissional ao desenvolvimento de suas competências, são eles: saber agir com pertinência; saber mobilizar saberes e conhecimentos em um contexto; saber integrar ou combinar saberes múltiplos e heterogêneos; saber transpor; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 saber aprender e aprender a aprender; saber envolver-se. Esses fatores devem fazer parte da carreira do gestor dentro da organização. Ele deve analisar, entender onde ainda não alcançou plenitude em sua atuação e se colocar a observar à sua volta qual é a melhor forma para desenvolver cada um desses aspectos e com isso avançar no desenvolvimento de suas competências gerenciais. Dessa forma, as Competências Gerenciais são as que determinado profissional precisa possuir ou desenvolver para gerir situações profissionais complexas, estando, assim, intimamente ligadas ao saber inventar, reconstruir e inovar. Dentre elas estão o saber agir e reagir com pertinência, saber o que fazer, julgar, negociar e decidir, ir além do prescrito, escolher adequadamente na urgência e direcionar ações para determinado fim; saber coordenar recursos e mobilizá-los em um contexto, construir Competências a partir de recursos incorporados e do ambiente; saber transpor, entender múltiplas situações e soluções, tomar distância, funcionando em “via dupla”, reparar e interpretar indicadores de contexto; saber aprender e saber aprender a aprender, aprender com a experiência, transformar sua ação em experiência, descrever como se aprende; e saber se engajar, usar a subjetividade, tomar riscos, empreender e usar da ética profissional. (Lemos; Andrade, 2013). Cada modelo gerencial requer um perfil em termos habilidades e competências de seus ocupantes. Por isso, ao definir o modelo a ser seguido, a empresa contratará gerentes que atendam essa solicitação e capacitará aqueles que não correspondem ao esperado. Também existe a possibilidade de desligar o gestor, caso o perfil dele seja antagônico ao modelo seguido. Por fim, as organizações devem preocupar-se em desenvolver nos colaboradores competências que atendam suas necessidades e realidade. Tema 5: Incorporando a perspectiva da competência essencial Por vezes, as empresas concentram-se no mercado por meio de suas unidades de negócios. Poucas focam em competências essenciais, e isso forma a identidade da organização e as leva a sentirem-se mais próximas do mercado, concentrando-se nele. Focar em mercados é algo natural para as empresas e desejável, porém, sem dar atenção às competências essenciais pode não haver continuidade da estratégia adotada. As empresas devem ser percebidas/vistas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 por seus clientes como possuidoras de produtos e serviços, mas devem ir além e preocupar-se em incorporar à cultura e atuação competências essenciais. Não se concentrar nas competências essenciais fragiliza a atuação da empresa que foca apenas no mercado e seus concorrentes. Ela deve valorizar e priorizar suas core competences, assim, estará preparada para atuar de forma mais significativa e manter-se competitiva e inovadora. Quando a empresa dá atenção com maior ênfase a unidades de negócios, e não em suas competências essenciais, isso pode enfraquecê-la diante do inesperado. Com isso, novas oportunidades de negócios podem não ser aproveitadas e rentabilizadas. Uma competência essencial não valorizada, não trabalhada, faz com que a empresa deixe de reforçá-la, tornando-a menos forte do que deveria e, com isso, não servir aos objetivos que se propõe. Não investir nas competências inibe o desenvolvimento de novas. Em curto prazo, pode não surtir muitos efeitos, mas a longo prazo trará consequências negativas. O presente é o campo onde as competências do futuro devem ser semeadas, depois regadas, cuidadas para que nasçam, crescem e possibilitem frutos à empresa. Aquelas empresas que não se vislumbram nas competências essenciais uma ferramenta para suplantar seus concorrentes podem, em um futuro breve, ser surpreendidas pelos concorrentes que fazem bem a lição de casa, ou seja, que incorporam em suas rotinas de gestão as competências essenciais. E o desenvolvimento delas para uma determinada área de atuação possibilita aproveitar esses conhecimentos e know how para atingir outros mercados nos quais essas competências são relevantes e importantes. Uma competência essencial abandonada poderá fazer falta no futuro, quando for requisitada para entrar em um novo mercado, para desenvolver um novo produto ou mesmo para superar um determinado concorrente que apresente diferenciais. Assim, o que se valoriza e se desenvolve atualmente propicia resultados tanto no presente quanto no futuro da organização. Para que a perspectiva da competência essencial crie bases firmes na organização todos, o corpo gerencial deve participar desse processo. Para CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Hamel e Prahalad (1995, p. 256), eles devem participar das cinco tarefas fundamentais da administração das competências: Identificar as competências essenciais existentes. Definir uma agenda de aquisição de competências essenciais. Desenvolver as competências essenciais. Distribuir as competências essenciais. Proteger e defender a liderança das competências essenciais. As gerencias só podem trabalhar com aquilo que sabem que existem e conhecem o resultado. Dessa forma, identificar as competências existentes é extremamente necessário para se trabalhar com o que a empresa tem de melhor. Valorizar o diferencial em relação ao mercado, aumenta as chances de sucesso. As pessoas defendem e lutam pelo que conhecem e sabem que dão resultados. Só se gerencia bem aquilo que se conhece, logo, identificar as competências essenciais é o primeiro passo para ter sucesso e obter resultados positivos. Hamel e Prahalad (1995) indicam que, nesse segundo momento, é preciso definir uma agenda de aquisição de competências essenciais, para que sejam descritas tanto as competências essenciais (identificação) quanto as competências essenciais futuras (definição). Assim, irão diferenciar o que a empresa já possui e o que pretende ou precisará ter futuramente para manter- se competitiva e conectada com as necessidades do mercado e de sua estratégia. Quando a empresa decide que precisa definir novas competênciasessenciais, passa para a fase seguinte: desenvolvê-las. Essa criação de novas competências não é algo para o mês que vem, mas a década que vem, ou seja, é um processo árduo, longo e o envolvimento de todos é fundamental. Não havendo esse comprometimento, o resultado não será o esperado. Nesse momento, decide-se o que criar – em termos de competência –, mas sem definir como isso será feito. A quarta etapa do modelo diz respeito à distribuição das competências essenciais, quando se tem de movimentar as competências existentes entre CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 unidades de negócios presentes na empresa. Essa distribuição ocorrerá de acordo com as oportunidades dos novos mercados. É o momento de analisar onde dentro das unidades existem tais competências e qual propiciará melhor resultado. Assim, será direcionada para áreas de negócios que não percam sua essência e possibilitem alavancar oportunidades. A última fase diz respeito a proteger e defender a liderança das competências essenciais, que ocorrerá por meio de acompanhamento contínuo de todos os envolvidos, com vistas a manter as competências “vivas” e propiciar resultados. Esses encontros visam fortalecer e alavancar as competências, gestores e gerentes, pois uma parte está ligada à outra. Seguidos esses passos, a empresa manterá competências essenciais, propiciando resultados e condições de elencar novas para o futuro desenhado no planejamento estratégico. Síntese Nesta aula, iniciamos tratando das core competences, ou seja, aspectos que diferenciam uma empresa e fazem os consumidores dificilmente serem pelos oponentes. Tratou-se das competências básicas que formam a estrutura de qualquer competência organizacional, ou seja, aquelas que os profissionais da empresa têm por meio de seus conhecimentos, habilidades e atitudes, o conhecido CHA. Isso tudo são diferenciais na atuação e contribuem para a formação e consolidação das core competences. Depois, foram apresentados os conceitos e as características das competências gerenciais, para levar a empresa rumo ao alcance de suas estratégias e fazê-las por meio das competências que desenvolvem. Posteriormente, tratou-se das competências distintivas, aquelas que evidenciam diferenças entre uma empresa e outra. Por elas, os clientes percebem o quanto uma empresa trabalha para ser diferente das demais, isso leva não só os consumidores a escolherem, como manterem-se fiéis a ela. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Por fim, discutiu-se quais são os aspectos que a empresa deve considerar para incorporar a perspectiva da competência essencial e quais são os aspectos mais importantes em cada etapa e o papel do gestor para alcançar tal desafio. Assim, finaliza-se esta aula, que abordou um pouco mais sobre as core competences, suas características e as implicações para o gestor/administrador na busca de chegar onde o planejamento estratégico definiu. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Referências AMORIM, W. A. C. de; FISCHER, A. Luiz. A aprendizagem organizacional e suas bases econômicas. Nova economia, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p. 329-366, ago. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 63512013000200004&lng=en&nrm=iso>. Accesso em: 10 ago. 2016. AMORIN, W. A. C.; FISCHER; A. L. Aprendizagem organizacional e suas bases econômicas. 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