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INTRODUÇÃO A MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS Profa. Ms. Priscilla Maria Carvalho Oliveira CONCEITO A microbiologia dos alimentos é a parte da microbiologia que trata dos processos em que os microrganismos influenciam nas características dos produtos de consumo alimentício humano ou animal. A microbiologia dos alimentos, por conseqüência, engloba aspectos da ecologia microbiana e de biotecnologia para a produção. ASPECTOS HISTÓRICOS. No Inicio, a alimentação era baseada nos abundantes recursos da natureza. O homem passou a plantar, criar animais e produzir seus alimentos. Com o surgimento dos alimentos preparados doenças transmitidas devido a deterioração (conservação inadequada). Arqueólogos encontraram evidencias de ordenha de vaca em 9000 a.C. Babilönia antiga (7000 a.C.) homem já conhecia a fabricação da cerveja ASPECTOS HISTÓRICOS. Os sumérios (3000 a.C) criadores de gado de corte e leite, fabricação de manteiga. Já conheciam também as técnicas de salga de carnes e peixes. Egípcios (3000 a.C) leite, manteiga e queijo já eram conhecidos. Os assírios (3500 a.C) fabricação de vinho Romanos (1000 a.C) empregavam neve para conservar carne e frutos do mar. Técnica de defumação aprimoradas. Na idade média morte por Ergotismo intoxicação aguda por ingestão de cereais contaminados pelo fungo (Claviceps purpurea). Importância da limpeza e higiene na produção dos alimentos século XIII. Inspeção de carnes em abatedouros de animais. Luis Pasteur teorizou a importância dos microrganismos nos alimentos. ASPECTOS HISTÓRICOS. Importância dos Microrganismos nos Alimentos. Classificação: Microrganismos como agentes de deterioração dos alimentos. Microrganismos como agentes patogênicos transmitidos por alimentos. Microrganismos como produtores de alimentos. Microrganismos como agentes de deterioração dos alimentos Os agentes causadores de deterioração podem ser bactérias, fungos e leveduras; sendo as bactérias e os fungos os mais importantes. As carnes são os alimentos mais facilmente deteriorados. Durante o processo da deterioração é selecionado uma população ou tipo predominante de microrganismos. Alimento deteriorado: São aqueles danificados por agentes microbiológicos, químicos ou físicos de modo que seja inaceitável para o consumo humano. A deterioração resulta em alteração de cor, odor, sabor, textura e aspecto do alimento. Essas alterações são consequência da atividade metabólica natural dos microrganismos. Aproximadamente 20% das frutas e dos vegetais coletados são perdidos por deterioração microbiana produzida por aproximadamente 250 doenças de mercado. Cada tipo de alimento deteriora-se pela ação de um tipo de concreto de microrganismo. O tipo de deterioração depende: Do alimento Do microrganismo envolvido Do número de microrganismos presentes: FRUTOS: Leveduras na casca das uvas - fermentação para fabricação do vinho pH 2,3-5,0 - baixa incidência de bactérias CARNES: Corte e manuseio - bactérias proteolíticas, lipolíticas, fungos Ocasionalmente patógenos: Clostridium perfringens, Staphylococcus aureus LEITE: Microbiota característica do ambiente Bactérias como pseudomonas, bactérias do ácido lático, leveduras, coliformes, esporulantes Infecções: Mastite Outros patógenos: Mycobacterium, Brucella, Salmonella, Coxiella Principais processos de deterioração de alimentos ► RANÇO: Alimentos ricos em gordura Microrganismos lipolíticos, principalmente bactérias Quebra das gorduras ácidos graxos glicerol ► PUTREFAÇÃO: Alimentos ricos em proteínas (p.ex. carnes) Bactérias proteolíticas Proteínas putrescina, cadaverina, H2S, NH3 ► AZEDAMENTO (FERMENTAÇÃO) E COAGULAÇÃO: Leite Bactérias do ácido lático Lactose ácido lático + outros ácidos Havendo condições propícias, as bactérias normalmente serão as responsáveis pela rápida deterioração dos alimentos, uma vez que possuem tempos de geração mais curtos que aqueles dos bolores e leveduras. Entretanto, devido às características intrínsecas de alguns alimentos como a baixa aw ou pH ácido, os fungos podem ser os responsáveis pela deterioração. A deterioração dos alimentos é um processo complexo que pode ser resultado de uma sucessão de reações enzimáticas originárias dos micro-organismos deterioradores ou da própria matriz alimentar como as enzimas líticas presentes nos tecidos. Pode ainda ser associada a reações não enzimáticas, danos físicos ou químicos, a exemplo da descoloração de carnes e oxidação de gorduras. Ademais, a deterioração dos alimentos, do ponto de vista do consumidor, é percebida de forma subjetiva, altamente influenciada por aspetos culturais, econômicos, da sensibilidade de cada individuo e da intensidade das alterações. Desta forma, a deterioração pode ser entendida como qualquer mudança sensorial em um produto alimentício que o torna inaceitável ao consumidor, sendo a deterioração microbiana a mais comum. Devido à diversidade de micro-organismos e também de produtos alimentícios, as alterações químicas e sensoriais provocadas pela deterioração microbiana irão depender dos fatores intrínsecos e extrínsecos, ou seja, do tipo de produto avaliado, das suas condições de armazenamento e do tipo e população dos micro-organismos que participaram do processo de deterioração. Portanto, não é uma tarefa simples associar um determinado defeito no alimento a um micro-organismo específico, embora muito esforço tenha sido dispensado para o entendimento desse processo. Apesar desses entraves, grupos específicos de micro-organismos podem ser preditos com base no conhecimento da origem do alimento, dos seus principais componentes e alguns parâmetros de conservação como temperatura, atmosfera, aw e pH. Nos processos de deterioração, os metabólitos produzidos pelos micro-organismos provocam alterações indesejadas de sabor e odor nos alimentos, que são normalmente os primeiros sinais de decomposição. Porém, com o avanço do estágio de degradação, há também o surgimento de alterações visuais como descoloração, presença de limo e alterações na própria estrutura dos produtos, como mudança na sua textura devido à degradação de matrizes poliméricas, acúmulo de gás ou formação de espuma e liberação de exsudados. A deterioração microbiana em si pode ser decorrente do crescimento dos micro-organismos ou da produção de enzimas extracelulares ou enzimas liberadas após lise celular. Microrganismos como agentes patogênicos transmitidos por alimentos. As patologias associados à transmissão alimentar podem ser de dois tipos: As infecções alimentares, produzidas pelo ingestão de microrganismos. Intoxicações alimentares, produzidos em conseqüência da ingestão de toxinas bacterianas produzidas por microorganismos presentes nos alimentos. Em determinados casos, pode se produzir alergias alimentares causadas pela presença de microrganismos somente. Em qualquer caso, para que se instale uma toxinfecção é necessário que o microrganismo produza: a) Número suficiente para colonizar o intestino b) Número suficiente para intoxicar o intestino. c) Quantidades significativas de toxina. Mecanismos de Defesa: Acidez estomacal. Enzimas digestivas. Mucosa intestinal (barreira mecânica) Ácidos biliares. Motilidade intestinal. Floral normal intestinal. Imunidade inespecifica (fagócitos, sistema complemento) e especifica ( humoral e celular) Microrganismos que pode causar infecção e intoxicações: Bactérias gram positivas. Bactérias gram negativas. Fungos produtores de micotoxinas. Vírus. OBS: Alem do mecanismos de defesa, os microrganismos precisam encontrar condições físicas ideais para sua multiplicação. Microrganismos como produtores de alimentos. Desde os tempos históricos mais remotos são utilizados microrganismos para produzir alimentos. Os processos microbianos causam alterações nos alimentos que lhes conferem mais resistência a deterioração ou algumas características organolépticas (sabor, textura, etc..) mais desejável. Neste grupo estão todos os microrganismosutilizados na fabricação de alimentos fermentados: queijo, vinhos, cerveja, pães, iogurtes, manteiga etc.. Alimento Matéria prima Principal Microrganismo Grupo Picles Pepinos Lactobacillus spp. Pediococcus spp. Bacilos, Gram + Cococ, Gram + Leite fermentado Leite L. acidophilus Bacilos, Gram + Pão Farinha Saccharomyces cerevisiae Levedura Ricota Leite pasteurizado L. bulgaricus Bacilos, Gram + Koumiss Leite de égua L. bulgaricus Torula, Mycoderma Bacilos, Gram + Leveduras Kefir Leite fresco, Streptococcus spp. Lactobacillus spp. Leuconostoc Acetobacter Cocos, Gram + Bacilos, Gram + Cocos, Gram + Bacilos, Gram - Iogurte Leite pasteurizado L. bulgaricus S. thermophilus Bacilos, Gram + Cocos, Gram + Shoyu Arroz, Soja L. delbrueckii Aspergillus oryzae Sacharomyces rouxii Bacilos, Gram + Fungo filamentoso Levedura Queijos Leite S. lactis S. cremoris L. citrovorum L. dextranicum Outros microrganismos Cocos, Gram + Cocos, Gram + Bacilos, Gram + Bacilos, Gram + Fungos Cerveja Grãos de cereais Saccharomyces spp. Leveduras Vinho Suco de uva Saccharomyces cerevisiae Sacch. champagnii Leveduras Salames e salsichas curadas Porco/Gado Pediococcus cerevisiae Cocos, Gram + Presunto curado Porco Aspergillus, Penicillium Fungos O kumis é um leite de égua acidificado e fermentado, muito apreciado em toda a região da Ásia Central. Também é assim chamada quando preparada a partir do leite de camelo ou de mula. Lactococcus lactis Lactococcus cremoris Lactobacillus citrovorum Lactobacillus dextranicum Outros: fungos Queijos Lactococcus thermophillus Lactobacillus bulgaricus Sabor: diacetil, acetaldeído Creme de Leite Streptococcus cremoris, S. diacetylactis: ácido – coagulação Leuconostoc cremoris: voláteis – sabor e aroma Manteiga: mesmos microrganismos Saccharomyces cerevisiae Kefir: alimento à base de leite preparado por microrganismos - Originário do Cáucaso, “um presente de Alá” Lactobacilli Lactobacillus alactosus L. brevis L. casei subsp. casei L. casei subsp. pseudoplantarum L. casei subsp. rhamnosus L. casei subsp. tolerans L. coryneformis subsp. torquens L. fructosus L. hilgardii L. homohiochi L. plantarum L. pseudoplantarum L. yamanashiensis Streptococci/Lactococci Streptococcus cremoris Str. faecalis Str. lactis Leuconostoc mesenteroides Pediococcus damnosus Leveduras Saccharomyces cerevisiae S. florentinus S. pretoriensis Candida valida C. lambica Kloeckera apiculata Hansenula yalbensis Picles Lactobacillus spp. Pediococcus spp. Chucrute Tipos de contaminação A contaminação dos alimentos se dá quando ocorre a presença de qualquer material nos alimentos. Ela poderá ocorrer de três maneiras, ou seja, a física, a química e a biológica. a) CONTAMINAÇÃO FÍSICA decorre da presença de corpos estranhos aos alimentos. São considerados corpos estranhos: pedras, madeira, cabelo, pregos, giletes, fragmentos de insetos, etc. b) Contaminação química é proveniente da presença de compostos químicos estranhos ou de toxinas produzidas por microrganismos nos alimentos. São considerados compostos químicos estranhos os inseticidas, os detergentes, os metais pesados, os medicamentos, os corantes e os aditivos (não-autorizados) entre outros. c) Contaminação biológica é causada pela presença de microrganismos patogênicos nos alimentos, como por exemplo, bactérias, parasitas, vírus (hepatite), animais venenosos (moluscos, peixes, mexilhões) etc. Fontes de contaminação dos alimentos Solo e água. Plantas. Utensílios. Trato intestinal do homem e animais. Manipuladores de alimentos. Ração animal. Pele dos animais. Ar e pó.