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Tecnologia do processamento da Manteiga Profa. Priscilla Maria Carvalho Oliveira De acordo com o Regulamento técnico de identidade e qualidade de manteiga (Portaria nº 146 do M.A.A., de 07 de março de 1996 (DOU 11/03/1996), entende-se por manteiga o produto gorduroso obtido exclusivamente pela bateção e malaxagem, com ou sem modificação biológica de creme pasteurizado derivado exclusivamente do leite de vaca, por processos tecnologicamente adequados. A matéria gorda deverá estar composta exclusivamente de gordura láctea. Creme (nata): entende-se como creme de leite o produto lácteo relativamente rico em gordura retirada do leite por procedimentos tecnologicamente adequados, que apresenta a forma de uma emulsão de gordura em água. É formado naturalmente na superfície do leite quando deixado em repouso. Composição e requisitos Ingredientes obrigatórios: • Creme pasteurizado obtido a partir do leite de vaca; Ingredientes opcionais: • Cloreto de sódio até máximo de 2g/100g de manteiga (manteiga salgada); • Fermento lácticos selecionados (manteiga maturada). Características sensoriais Aspecto: consistência sólida, pastosa à temperatura de 20ºC, de textura lisa uniforme, untosa, com distribuição uniforme de água (umidade); Cor: branco amarelado sem manchas ou pontos de outra coloração; Sabor e odor: de sabor suave, característico, aroma delicado, sem odor e sabor estranho; Características físico-químicas e parâmetros mínimos de qualidade • Acondicionamento: a manteiga deverá ser envasada com materiais adequados para as condições de armazenamento e que confiram proteção apropriada contra a contra a contaminação. Aditivos e coadjuvantes de tecnologia/elaboração Corantes: permite-se a adição dos seguintes corantes naturais ou sintéticos, idênticos aos naturais, em quantidade suficiente para obter o efeito desejado: baixa orelana, β-caroteno e curcuma ou curcumina; Descorantes: permite-se o uso de clorofilina ou clorofilina cúprica em quantidade suficiente para obter o efeito desejado; Coadjuvantes: permite-se a adição dos seguintes sais neutralizantes, em uma quantidade máxima de 2.000 mg/kg isolados ou combinados, expressos como substancias anidras, tais como: ortofosfato de sódio, carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, hidróxido de sódio, hidróxido de cálcio; Contaminantes: os contaminantes orgânicos e inorgânicos não devem estar presentes em quantidades superiores aos limites estabelecimentos pela legislação específica. Classificação A classificação da manteiga está relacionada com a qualidade de matéria-prima, bem como as transformações ocorridas durante o seu processamento, que proporcionam produtos com diferentes composições. Em média a manteiga apresenta a seguinte composição percentual: • 80 - 83% de gordura; • 16% de água; • 0,4% de lactose; • 0,15% de cinzas. Classificação da manteiga segundo suas características • Manteiga de mesa: a que obtenha classificação "extra", "primeira qualidade" ou "comum"; • Manteiga de cozinha: a que não satisfaz aos padrões previstos para o tipo de mesa e possa ter aproveitamento em culinária, incluindo-se nesta categoria a manteiga fundida. Processo industrial de fabricação descontínuo A produção industrial de manteiga, a partir do creme de leite, envolve as seguintes etapas: Neutralização; Pasteurização; Desodorização; Inoculação com culturas selecionadas; Maturação; Batedura; Separação do soro ou leitelho; Lavagem; Salga; Amassamento; Embalagem; Armazenamento. Neutralização • Esta operação é realizada quando a nata apresenta uma acidez elevada. • O creme muito ácido é espesso e coagula ao ser pasteurizado, proporcionando o aparecimento de sabor queimado. • Com isso, tem-se uma queda de rendimento e perde-se em eficiência no tratamento térmico. Nessas condições, o desenvolvimento da cultura será anormal, dando como consequência uma manteiga oleosa, sem consistência com sabores amargos. • Por isso, existe a necessidade de se reduzir a acidez do creme abaixo de 20°D para a pasteurização se processar normalmente. Pasteurização • A pasteurização tem por finalidade evitar a propagação de doenças infecciosas, diminuir contaminações nas indústrias e prevenir possíveis alterações na manteiga. • Normalmente, a pasteurização é realizada em ausência de ar mantendo-se o creme de 92°C a 95°C durante 30 segundos. • Nessas condições, há destruição dos micro-organismos e enzimas presentes sem alteração das qualidades organolépticas da nata. Desodorização • Há necessidade de se retirar do creme de leite substâncias voláteis indesejáveis que conferem à manteiga sabores e aromas estranhos. A este tratamento dá-se o nome de desodorização. • Existe um grande número de equipamentos desenvolvidos com a finalidade de provocar a desodorização do creme em ausência do ar. Esses equipamentos, localizados à saída do pasteurizador, estão sob vácuo e recebem a gordura quente, que desce como uma fina camada por suas paredes, ocorrendo a saída dos voláteis. Fermentação (Inoculação com cultura selecionada) • Com o tratamento térmico é eliminada a flora natural do creme, que pode ser substituído por uma cultura, de bactérias lácticas, selecionadas. • A manteiga pode ser fabricada de duas formas, com fermentação do creme ou sem a fermentação. • Quando não é realizada a fermentação, logo após a padronização e obtenção do creme, inicia-se o processo de pasteurização e bateção. • É recomendável que seja realizada a fermentação do creme, a vantagem da sua realização é que a manteiga fica com sabor e aroma mais acentuado e o rendimento da manteiga tende a ser melhor que o processo sem fermentação. Podem ser adotados dois sistemas para a realização da fermentação: Com a adição de fermento lácticos específicos para manteiga e pela fermentação natural (neste caso, as bactérias existentes no creme que atuarão na fermentação). • Normalmente, o fermento utilizado, na produção de manteiga uma mistura de Streptococcus lactis, S. cremoris, S. paracitrovorus, S. citrovorus e S. diacetilactis. • O S. lactis e o S. cremoris aumentam a acidez do creme provocando a precipitação da caseína e proporcionando condições para os demais micro-organismos de desenvolvimento mais lento responsáveis pelo sabor e aroma da manteiga. • A porcentagem de fermento adicionado, sob agitação constante, logo após a passagem do creme pela refrigeração, o creme é deixado em repouso para maturação durante 12 a 16 hs. Acidez do fermento e da ordem de 85 oD a 90 oD. • A manteiga acrescida de fermento específico é classificada como de manteiga de primeira qualidade. Maturação • A maturação provoca uma alteração na estrutura do creme que facilita a batedura, além de permitir a ação do fermento. • As condições de maturação dependem da composição de matéria-prima, da estação do ano e das características desejadas no produto final. • Se a manteiga a ser produzida vai ser consumida rapidamente, a acidez final do creme deve ser de 45oD a 58oD, o que proporciona propriedades organolépticas bem acentuadas. • Quando a manteiga se destina ao armazenamento, deve-se ter no creme, após a maturação, uma acidez de 30oD a 35oD, que proporciona à manteiga aroma e sabor discretos, porém dá um produto de melhor qualidade e durabilidade. • Para se conseguir a acidez final desejada, deve-se levar em conta, além da matéria-prima, a porcentagem do inóculo adicionada, o tempo e a temperatura de maturação. • À temperatura de 14oC a 16oC, a duração da maturação é de aproximadamente 15 horas, nestas condições, tem-se o favorecimento da aromatização. • Quando o creme é rico em glicerídeo de alto ponto de fusão,há necessidade de se formar cristais pequenos para tornar a manteiga mais suave, o que é conseguido pela refrigeração intensa à aproximadamente 5oC durante 4 horas. • O creme então aquecido de 13oC a 15oC para desenvolvimento da cultura láctea. A maturação é realizada em tanques especiais de paredes duplas, providos de agitadores. Existem unidades com trocador de calor a placas acoplado ao tanque de maturação. O creme circula pelo trocador e retorna ao tanque até se atingir a temperatura desejada. Batedura • É nesta etapa da fabricação que se tem a formação da manteiga. O creme de leite, já preparado, é colocado na batedeira, onde por agitação ocorrem a união dos glóbulos de gordura do creme em grãos de manteiga, havendo, ainda, a eliminação das substâncias não gordurosas através do leitelho” • A temperatura e o tempo da batedura dependem das condições do creme. De uma maneira geral, o tempo varia de 20 a 40 minutos e a temperatura de 10oC a 14oC. • Se o creme for batido em temperaturas inferiores a 10oC, não haverá a formação da manteiga e, em temperaturas acima de 15oC, formar-se-á uma pasta da qual é muito difícil separar o leitelho. • O tempo de batedura é determinado pelo tamanho dos aglomerados formados, pelo ruído ou por observação do vidro da janela da inspeção da batedeira. • Um tempo excessivo de batedura provoca o aparecimento de sabor de soro na manteiga, que também será de pouca durabilidade. É portanto muito importante a determinação do instante final da batedura. Separação do leitelho • Quando os grânulos de gordura, após a batedura, sobem à superfície, o leitelho ou soro da manteiga é retirado pela parte inferior da batedeira através de uma tela. • O leitelho deve ter no máximo 0,7% de gordura. • Uma quantidade maior de gordura no leitelho indica que a fermentação não foi bem conduzida ou a batedura foi realizada de maneira incorreta. • O leitelho fresco tem sabor agradável sendo consumido como bebida refrescante. É também um ótimo alimento para animais. • O aspecto da manteiga: fica semelhante a uma couve-flor, com grãos apresentando diâmetro em torno de 2 mm. Malaxagem ou amassadura da manteiga • É por esta operação que se consegue unir os grumos de gordura, dando homogeneidade e elasticidade à manteiga, bem como regulando seu conteúdo de água. Essa etapa visa retirar o leitelho, após a batedura. • Uma amassadura incompleta origina um excesso de água na manteiga, que favorecerá o crescimento microbiano, além de constituir fraude, se este teor estiver acima do legalmente permitido. • Por outro lado, uma amassadura excessiva dá origem à uma manteiga de aspecto sebáceo e, por eliminação da água, uma perda de rendimento. O tempo de malaxagem depende fundamentalmente da temperatura da manteiga. • Se a temperatura for alta, a manteiga se tornará mole se aderindo às paredes; • Se a temperatura for muito baixa, tornar-se-á difícil a aglomeração dos grãos de gordura. A temperatura de malaxagem deve ser da ordem de 12oC a 14oC durante aproximadamente 10 minutos. Lavagem da manteiga • Uma vez separado o leitelho os grãos de manteiga devem ser lavados para se retirar o soro residual. • Esta operação é realizada introduzindo-se na batedeira um volume de água, aproximadamente igual ao de leitelho retirado, e fazendo-se a batedeira girar, algumas vezes, à mesma velocidade usada na batedura. • Esta operação é repetida mais duas ou três vezes, ou até que a água de lavagem saia límpida. A água usada na lavagem deve ser química e bacteriológicamente pura, e estar a temperatura inferior à utilizada na batedura, para se evitar que a gordura se funda, o que ocasionaria uma deficiência na lavagem e uma perda de rendimento. • Normalmente, inicia-se a lavagem com água a 8oC e, no final, utiliza-se água a 4oc, para facilitar o dessoramento e evitar que a manteiga amoleça durante o amassamento. • A lavagem da manteiga deve ser completa, eliminando-se ao máximo a matéria não gordurosa existente no leitelho e que é a fonte de nutrientes para microrganismos fermentativos da manteiga. Salga da manteiga • Normalmente, a salga da manteiga é realizada logo após a batedura, quando a última água de lavagem é esgotada. • O sal pode ser adicionado em forma de salmoura ou sal seco. O processo mais eficiente é utilizar-se sal seco, química e bacteriológicamente puro, na proporção de 2% a 6%. • Neste caso, aproximadamente 50% do sal adicionado sai junto com a água na malaxagem. • O sal é adicionado à manteiga e deve-se esperar cerca de 15 minutos antes de se começar a amassadura, que neste caso deve durar cerca de 20 minutos. • Nota-se que, na manteiga com sal, a distribuição da água é mais difícil, daí resultando um tempo maior de malaxagem. O sal, além do sabor à manteiga, age também como anti-séptico. A quantidade de sal depende das disposições legais e da preferência do consumidor. Embalagens • A manteiga deve ser embalada em função da sua utilização. Assim, podemos ter as embalagens para armazenamento, consumo industrial, doméstico e individual. Qualquer que seja a embalagem utilizada, esta deve atender alguns requisitos básicos: • Ser impermeável ao vapor d’água e ar; • Proteger o produto da luz solar, da contaminação bacteriológica e de aromas estranhos; • facilitar a comercialização e o armazenamento; • estimular a aquisição pelo consumidor por seu aspecto, tamanho e facilidade de manuseio. Os principais materiais utilizados na embalagem da manteiga são: papel, alumínio e plástico. Armazenamento • A manteiga deve ser armazenada em câmaras frigoríficas, em temperaturas que dependem do tempo de armazenamento. • Se o produto vai ser consumido rapidamente, pode-se fazer um armazenamento entre 00 C e 70C. • No caso de um armazenamento prolongado, recomenda-se uma temperatura entre -100 C e -150C, o que permite um período de estocagem de muitos meses. • A câmara de armazenamento de manteiga deve ser específica para este fim e não conter outros produtos que possam conferir facilmente aromas estranhos à mesma. TECNOLOGIA DE FABRICAÇÃO DE MANTEIGA 1 3 2 1. Desnatadeira (acoplada com pasteurizador de placas); 2. Pasteurizador; 3. Batadeira. Manteiga caseira Fluxograma de fabricação de manteiga Descrição do processo de fabricação de manteiga Obtenção do creme de leite: • O desnate natural consiste em deixar o leite em repouso em um recipiente higienizado durante 12 horas na geladeira; • Esse processo permite que os glóbulos de gordura, por possuírem menor densidade, subam para a superfície; • É recomendado que o desnate ocorra sobre refrigeração para que se obtenha um creme de qualidade e posteriormente um bom produto; • O creme será retirado com auxílio de um utensílio adequado, tomando-se cuidado de não agitar o leite para que não perca gordura. Pasteurização do creme: • Tem a finalidade de eliminar principalmente microrganismos patogênicos; • O creme é submetido a um tratamento térmico de 65°C durante 30 minutos. Maturação: • Após a pasteurização, o creme é resfriado a 25°C e refrigerado por, pelo menos, quatro horas, para que forme substâncias que propiciem sabor e aroma agradáveis à manteiga. Bateção: • Tem o objetivo de formar os grãos de manteiga por meio de ação mecânica; • É a operação em que se transforma o creme em manteiga; • Esse processo pode ser realizado no liquidificador; • O creme é colocado no aparelho e durante a bateção ele torna-se mais espesso em algumas partes; • Nesse momento, passa-o para outro recipiente e finaliza a bateção com um utensílio apropriado (pazinha); • O líquido branco resultante é conhecido como leitelho, devendoser eliminado. Lavagem: • Esta etapa deve ser realizada com água fria de boa qualidade e tem como propósito a remoção dos resíduos de leitelho da superfície dos grãos, melhorando a qualidade do produto final e contribuindo com a firmeza da manteiga; • O volume de água a ser adicionado corresponde à quantidade de leitelho retirada; • Esse processo é repetido três vezes. Malaxagem: • Consiste na eliminação dos resíduos de água e leitelho, reagrupa os grãos de gordura e regula a consistência da manteiga; • Essa fase é importante para que o produto não fique com umidade excessiva; • É realizada colocando a manteiga em um recipiente limpo e com um rolo ou utensílio apropriado comprimi-se a manteiga até que ela não desprenda mais água em excesso. Salga: • Adicionam-se 2 – 3% de sal na manteiga e mistura-se bem até que ele fique bem distribuído; • O sal auxilia a conservação e melhora o sabor da manteiga. • Enformagem e embalagem: A manteiga deve ser armazenada em embalagens onde a luz não incida, evitando a sua rancidez. • Conservação: A manteiga deve ser conservada em temperatura de 4 - 6°C. Desnate do leite As fábricas de manteiga que recebem leite integral devem recorrer a uma operação preliminar que se denomina desnate. Seu objetivo é o de dividir o leite em duas porções: leite desnatado e creme. O primeiro destina-se à alimentação do homem e dos animais, assim como à fabricação de caseína, leite em pó e condensado, queijos magros etc.; o segundo é utilizado no estado natural, como alimento do homem. O uso do creme na elaboração de manteiga tem as seguintes finalidades: a) Reduzir o volume da massa a bater, aumentando, assim, a capacidade da batadeira; b) Facilitar a bateção, diminuindo sua duração; c) Aumentar o rendimento industrial, ao diminuir a porcentagem e o volume total de matéria gorda perdida no leitelho. O desnate do leite está baseado no fato de que a matéria gorda é menos densa que os outros componentes. A matéria gorda tem um peso específico de 0,930, enquanto o do leite desnatado, ou seja, os restantes componentes do leite, é de 1,037. Existem dois métodos para o desnate do leite: a) Natural ou por gravidade; b) Mecânico ou por força centrífuga. Desnate natural ou por gravidade: • Está baseado na força ascensional dos glóbulos gordurosos do leite; • Colocando leite em um recipiente, ao fim de certo tempo formar- se-á, em sua superfície, uma camada amarelada, um pouco espessa, que constitui o creme. Desnate mecânico ou por força centrífuga: • O desnate mecânico está baseado na ação da força centrífuga sobre qualquer líquido que, como o leite, se compõe de uma mistua de corpos de pesos específicos diferentes; • Submetendo o leite a um movimento de rotação, seus componentes mais pesados se dirigem para a periferia e os mais leves para o centro, quer dizer que a matéria gorda se dirige para o eixo de rotação, constituindo o creme, e o leite desnatado para a periferia, aderindo-se a ela as impurezas do leite, por serem de maior densidade. O desnate centrífugo realiza-se com uma máquina denominada desnatadeira. Apresentam em confronto com o natural, as seguintes vantagens: 1. Requer menos utensílios e menos espaço; 2. A operação é mais rápida e eficaz; 3. As perdas de matéria gorda no leite desnatado são menores, podendo variar, em igualdade de condições, entre 10 e 40 vezes menos; 4. Obtém-se creme com a porcentagem de matéria gorda que se deseja; 5. Proporciona creme doce e fresco, que dará uma boa manteiga; 6. Elimina as impurezas que, regra geral, acompanham o leite; Evita a possibilidade do leite “coagular-se”, como só acontecer no desnate natural, em ocasiões de permanências prolongadas.
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