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Tecnologia de Carnes e Derivados CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Conselho Nacional Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL - SENAI Departamento Nacional José Manuel de Aguiar Martins Diretor Geral Regina Maria de Fátima Torres Diretora de Operações 2 2 2 22 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 44 4 44 4 4 Confederação Nacional da Indústria Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Tecnologia de Carnes e Derivados Brasília 2010 Cristiane Marangoni Lisiane das Neves Barbosa © 2010. SENAI – Departamento Nacional É proibida a reprodução total ou parcial deste material por qualquer meio ou sistema sem o prévio consentimento do editor. Equipe técnica que participou da elaboração desta obra SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Setor Bancário Norte, Quadra 1, Bloco C Edifício Roberto Simonsen – 70040-903 – Brasília – DF Tel.:(61)3317-9000 – Fax:(61)3317-9190 http://www.senai.br Coordenador Projeto Estratégico 14 DRs Luciano Mattiazzi Baumgartner - Departamento Regional do SENAI/SC Coordenador de EaD - SENAI/SC em Chapecó- Franciela Salete Santim - SENAI/SC em Chapecó Coordenador de EaD – SENAI/SC em Florianópolis Diego de Castro Vieira - SENAI/SC em Florianópolis Design Gráfico Equipe de Desenvolvimento de Recursos Didáticos do SENAI/SC em Florianópolis Design Educacional, Diagramação, Ilustrações e Revisão Textual FabriCO Ficha catalográfica elaborada por Luciana Effting CRB 14/937 – SENAI/SC Florianópolis S311t Marangoni , Cristiane Tecnologia de carnes e derivados / Cristiane Marangoni, Lisiane das Neves Barbosa. Brasília: SENAI/DN, 2010. p. : il. color ; 30 cm. Inclui bibliografias. 1. Carne - Microbiologia. 2 . Carne - Indústria. 3. Carne – Legislação . 4. Carne - Embalagem. I. Barbosa , Lisiane das Neves. II. SENAI. Departamento Nacional. I II. Título. CDU 664.91 282 2 2 2 22 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 44 4 44 4 4 Sumário Apresentação do Curso ............................................................................... 07 Plano de estudo ............................................................................................. 09 Unidade 1: Matéria Prima ........................................................................... 11 Unidade 2: Microbiologia de Carne e Derivados ................................ 53 Unidade 3: Legislação e Normas .............................................................. 85 Unidade 4: Obtenção, Abate e Desossa ................................................. 119 Unidade 5: Industrialização de Produtos Cárneos ............................. 163 Unidade 6: Embalagens e Envoltórios .................................................... 225 Sobre as Autoras ............................................................................................ 273 Referências ....................................................................................................... 25 7 2 2 2 22 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 44 4 44 4 4 Este curso pretende dar formação na área da tecnolo- gia e ciência da carne e dos produtos cárneos. Numa perspectiva integrada, são abordados os processos de obtenção da carne, a bioquímica de transformação do músculo em carne e os diferentes processos de in- dustrialização. São estudadas as várias legislações que embasam a industrialização e as embalagens utiliza- das nos diversos produtos cárneos industrializados. Ao final do curso, você terá capacidade de enten- der a bioquímica de transformação do músculo em carne; conhecer e aplicar os princípios e elemen- tos fundamentais do processamento e controle de qualidade da carne de produtos cárneos; conhecer a legislação aplicável; definir as características de- terminantes da qualidade da carne e de diferentes produtos cárneos. O sistema de avaliação contemplará atividades de aprendizagem a ser desenvolvidas no decorrer dos estudos. Os estudos encontram-se subdivididos em seis uni- dades e contemplam diversos temas de tecnologia e industrialização de produtos cárneos. A primeira unidade apresenta um embasamento so- bre a composição da carne, seus macro e micronu- trientes, os fatores que influenciam na constituição muscular, bem como toda a bioquímica de transfor- mação do músculo em carne. Apresentação do Curso 83 Os microrganismos que podem estar presentes de forma desejável ou indese- jável nos produtos cárneos são apresentados na segunda unidade. As fases do crescimento microbiano, os fatores que o influenciam e as transformações oca- sionadas nos produtos cárneos são assuntos que complementam e deixam mais atrativo o estudo dessa unidade. A legislação que regulamenta a elaboração de produtos cárneos, os ingredien- tes e aditivos permitidos, bem como legislações pertinentes a embalagens, constituem os assuntos abordados de maneira clara e objetiva na unidade 3. As unidades 4 e 5 apresentam as etapas de condução, abate e desossa de bo- vinos, suínos, aves e pescados, e os diversos produtos cárneos que podem ser obtidos com a industrialização dessas matérias-primas. As embalagens e/ou os envoltórios, as funções, os tipos de material que com- põem as embalagens e as interações entre embalagens e produtos cárneos integram a unidade 6 desta obra. A sua participação será estimulada no decorrer do curso por meio de atividades de aprendizagem, curiosidades e diversas interações dos autores com o leitor sobre os temas estudados. Sejam bem-vindos ao curso a distância de Tecnologia em Carnes e Derivados. Desejamos a você um bom estudo! 9 2 2 2 22 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 44 4 44 4 4 8 Plano de Estudos Carga horária 100 h Ementa Estudo da composição da carne e dos fatores que influem na composição da carne; compreensão das características gerais do músculo; análise da química da contração muscular; análise da conversão do mús- culo em carne; explicitação dos tempos de instalação e resolução do rigor mortis; descrição da modificação da extensibilidade muscular ao longo do período post- mortem e fase do post rigor mortis; estabelecimento de relações entre pH e qualidade da carne; estudo das características físicas da carne; busca de compreensão acerca da contaminação da carne; caracterização dos microrganismos da carne; descrição do crescimento microbiano; descrição das fases de crescimento dos mi- crorganismos na carne; estudo dos fatores que afetam o crescimento microbiano em carnes; demonstração de como analisar a contaminação microbiana na carne; estudo dos fatores que causam a deterioração dos alimentos durante a estocagem; análise da Regulamen- to de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA); caracterização da rotulagem de produtos cárneos; apresentação dos ingredientes, aditivos e coadjuvantes tecnológicos; descrição do processo de abate de bovinos, suínos, aves e pescado; caracterização de produtos cárneos frescais, cozidos, emulsionados, formados, defumados, salgados, cura- dos, fermentados e empanados; compreensão das características geraisdas embalagens e dos tipos de materiais e suas funções. 103 Objetivos Objetivo Geral Apresentar a importância da tecnologia de obtenção de carnes para a elabora- ção de produtos cárneos industrializados. Objetivos Específicos Apresentar as matérias-primas que podem ser utilizadas na elaboração de industrializados. Apresentar os fatores microbiológicos que podem afetar a qualidade da car- ne e dos produtos cárneos industrializados. Apresentar as legislações e normas que regem o desenvolvimento de pro- dutos cárneos. Apresentar diferentes processos de abate e desossa de animais. Apresentar as principais formas de industrialização dos cortes obtidos de abate de animais. Apresentar as embalagens e os envoltórios que podem ser utilizados em produtos cárneos e suas funções. 11 2 2 2 22 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 44 4 44 4 4 Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá subsídios para: compreender os fatores que influenciam na composição da carne; conhecer a composição da carne e as carac- terísticas dos músculos que a compõem; saber como ocorre quimicamente a contra- ção muscular e as transformações que ocor- rem na conversão do músculo em carne; analisar os fatores que influenciam nas pro- priedades tecnológicas da carne. Aulas Acompanhe nesta unidade o estudo das seguintes aulas: Aula 1: Fatores que influem na composição da carne Aula 2: Composição da carne Aula 3: Características gerais do músculo Aula 4: A química da contração muscular 1Matéria Prima 123 Aula 5: Conversão do músculo em carne Aula 6: Tempos de instalação e resolução do rigor mortis Aula 7: Modificação da extensibilidade muscular ao longo do período post-mortem e fase de post rigor mortis Aula 8: pH e qualidade da carne Aula 9: Características físicas da carne Para Iniciar Seja bem-vindo à primeira unidade deste curso. Nela, você conhecerá os principais componentes da carne e verá que sua composição é vari- ável, de acordo com características de espécie, raça, sexo, idade, nutri- ção e localização anatômica. A carne é composta por cinco tecidos: muscular, epitelial, adiposo, nervoso e conjuntivo. O tecido que será mais estudado nesta unidade é o tecido muscular, o qual é dividido em três tipos: músculo esquelético, músculo liso e músculo cardíaco. A qualidade final da carne depende dessa composição e de fenômenos fisiológicos e bioquímicos que ocorrem antes do abate do animal, du- rante e após a instalação do rigor mortis. O músculo torna-se carne so- mente após a instalação do rigor mortis, e sua qualidade final depende das reações bioquímicas que ocorreram antes e após a morte do animal. Esta unidade contempla a estrutura, a composição e a funcionalidade do tecido muscular, bem como a bioquímica da transformação do mús- culo em carne. Para garantir uma melhor aprendizagem, também são abordados fatores que podem influenciar nas características finais da carne, como o pH e os momentos que antecedem o abate do animal. 13Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 12 Aula 1: Fatores que influem na composição da carne Nesta aula, você conhecerá alguns dos diversos fatores que influenciam na composição da carne, segundo Roça e Bonassi (1981): espécie, raça, sexo, idade, nutrição, localização anatômica e treinamento e exercício. Espécie: o efeito da espécie na composição da carne é o fator mais acen- tuado, porém, nos músculos com pouca gordura, a variação da composição química é pequena. Raça: depois da espécie, a raça é o fator intrínseco que mais afeta na com- posição química e bioquímica do músculo. Os bovinos de corte possuem maior quantidade de graxa intramuscular do que os bovinos de leite. Sexo: em geral, os machos possuem menor quantidade de graxa subcutânea do que as fêmeas. Idade: de maneira geral, ao aumentar a idade, aumentam quase todos os parâmetros químicos, com exceção da água. Animais jovens possuem pou- ca quantidade de graxas subcutâneas e intramusculares e não apresentam marmorização. Nutrição: em geral, o nível de alimentação sobre o crescimento de animais de carne se reflete na composição de diversos músculos. O teor de graxa intramuscular também é um reflexo do plano de nutrição. Localização anatômica: é o fator intrínseco mais complexo. Há variações na composição química dos músculos de diferentes localizações. Treinamento e exercício: a modificação mais acentuada ocorre no teor de mioglobina, que é relativamente mais alto nos músculos mais ativos do que nos músculos menos ativos. Dica De acordo com a região anatômica de onde o corte é extraído, observa- se uma variação na composição da carne. 143 Veja, na Tabela 1, os cortes provenientes de suíno, bovino e ave, bem como a composição físico-química desses cortes. Tabela 1: Variação da composição físico-química de acordo com o corte animal Animal Corte Água Proteína Gordura Cinzas Suíno Paleta 74,9 19,5 4,7 1,1 Lombinho 75,3 21,1 2,4 1,2 Chuleta 54,5 15,2 29,4 0,8 Presunto 75 20,2 3,6 1,1 Toucinho 40 11,2 48,2 0,6 Bovino Coxa 76,4 21,8 0,7 1,2 Lombo 74,6 22 2,2 1,2 Frango Músculo 73,3 20 5,5 1,2 peito 74,4 23,3 1,2 1,1 Fonte: Roça e Bonassi (1981) Nesta aula, você conheceu alguns dos diversos fatores que influenciam na com- posição da carne. Na próxima aula, estudará a composição da carne. Aula 2: Composição da carne Nesta aula, você verá com detalhes os principais componentes da carne: água, minerais, carboidratos, vitaminas, proteínas, gorduras. Os componentes majoritários da carne são a água, entre 60% e 80%, as proteí- nas, entre 16% e 22%, a gordura, entre 3% e 13%, além de cinzas, carboidratos, vitaminas, minerais. Veja, a seguir, detalhes sobre cada um desses componentes. Água A água é o componente mais abundante da carne, pois influi na sua qualidade, afetando a suculência, a textura, a cor e o sabor. Sendo a água o meio univer- sal das reações biológicas, sua presença influencia diretamente as reações que ocorrem na carne durante o armazenamento e seu processamento. Ela é um componente muito importante para a atividade muscular, uma vez que a pres- 15Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 14 são e a descompressão, a contração e o relaxamento somente são possíveis em presença da água. Sendo o componente majoritário da carne magra, a água auxilia principalmente nas funções de transporte de nutrientes, hormônios e produtos metabólitos. Atenção A água é o principal componente da carne, equivalendo entre 60% e 75% de seu peso. Minerais A carne possui quase todos os minerais de importância para a nutrição humana: o cálcio, o fósforo, o potássio, o enxofre, o sódio, o cloro, o ferro e o magnésio. O conteúdo de cinzas ou resíduo mineral fixo obtido após incineração da carne a 500-600 ºC fica em torno de 0,8 a 1,8%. Quantitativamente, o fósforo e o potássio são os mais importantes. O cálcio e o magnésio, por sua vez, desempenham importante papel na contração muscular. Já os compostos orgânicos do fósforo, com diversos ésteres do ácido fosfórico, intervêm nas modificações post-mortem, no processo de maturação e hidratação da carne. A carne pode ser considerada uma boa fonte de micronutrientes como zinco e ferro, sendo que o ferro proveniente da carne possui uma melhor biodisponibi- lidade que o proveniente dos alimentos vegetais. Para saber de que forma os minerais estão presentes nos diferentes tecidos cár- neos, veja a Tabela 2, que contém dados obtidos em pesquisas. Tabela 2: Quantidade de minerais presentes em diferentes tecidos cárneos Tecidos Ca (g/100g) Na (g/100g) K (g/100g) Fe (mg/100g) Carne bovina 0,013 0,084 0,33 3,0 Carne bovina assada- 0,07 0,3 3,2 Carne suína assada - 0,07 0,4 1,3 Carne de vitelo assada - 0,09 0,4 1,3 Carne de cordeiro assada - 0,08 0,3 2,1 Fonte: Seuβ (1991); Price e Schweigert (1994) 163 Carboidratos A carne é pobre em carboidratos, podendo ser cons- tituída de polissacarídeos (glicogênio) e monossaca- rídeos (glicose e frutose). Ela quase não possui car- boidratos porque o glicogênio se transforma quase totalmente em ácido lático durante o rigor mortis. O conteúdo de glicogênio varia com o tipo de músculo e a atividade. No animal vivo, está em tor- no de 1,5%, e após as modificações post-mortem fica em torno de 0,1%. As vísceras comestíveis são mais ricas em carboidratos do que a carne mus- cular. O fígado bovino possui de 2% a 4%, e o de suíno possui 1% de carboidratos. Quando a carne é assada, os carboidratos se combi- nam com aminoácidos livres, formando melanoidinas que dão sabor e odor característicos (ROÇA, 1993). Vitaminas A carne possui vitaminas hidrossolúveis do com- plexo B (tiamina, riboflavina e niacina), como as vitaminas B1, B2, B6 e B12. As vitaminas liposso- lúveis, por sua vez (A, D, E e K), encontram-se em quantidades importantes somente nas vísceras, principalmente no fígado. Em geral, a carne é pobre em vitamina C, entretanto, o fígado e os produtos derivados da carne possuem quantidades consideráveis dessa vitamina. A carne suína é importante fonte de vitamina B1, enquanto a carne de outros animais de abate con- tém essa vitamina em menores teores. A carne e os produtos derivados também possuem ácido nicotí- nico, pantatênico e fólico, (ROÇA, 1993). Para ver os teores de vitaminas presentes em al- guns cortes cárneos preparados, analise a Tabela 3. Rigor mortis é o estado de rigidez cadavérica, caracterizado pela estru- tura inextensível adquiri- da após uma reação entre actina e miosina, forman- do a actomiosina. 16 17Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados Tabela 3: Quantidade de vitaminas presentes em alguns cortes cárneos Alimentos B1 µg B2 µg B6 µg B12 µg A µg C mg Carne bovina magra assada 100 260 380 2,7 20 1 Carne suína magra assada 700 360 420 0,8 10 1 Carne de cordeiro magra assada 105 280 150 2,6 45 1 Carne de vitelo magra assada 70 350 305 1,8 10 1 Fonte: Seuβ (1991) Atenção A carne não pode ser considerada fonte de vitaminas, pois quando recebe cozimento ocorre a degradação dessas vitaminas. A perda por cocção chega a 10% para a vitamina A, 30% para a B1, 25% para a B2 e 40% para a vitamina C. O processo de fritura (alta temperatura em curto tempo) promove menos perdas das vitaminas termolábeis (ROÇA, 1993). Proteínas A carne é um alimento altamente proteico. Ela possui de 16% a 22% de proteína e apenas peque- nas quantidades de substâncias nitrogenadas não proteicas (aminoácidos-livres, peptídeos, nucleotí- deos e creatina). Encontram-se na carne proteínas de três formas: sarcoplasmáticas (enzimas e mioglobina); miofibrilares (actina, miosina, actomiosina; insolúveis (colágeno, elastina e reticulina). Vitaminas termolábeis são vitaminas que não resistem à ação do ca- lor, sendo parcialmente destruídas durante os processos de cura, de- fumação, preparo culi- nário, enlatamento e desidratação. Disponível em: <www.biomania. com.br/bio/conteudo. asp?cod=1375>. Acesso em: 29 out. 2010. 183 Uma característica positiva da carne é o teor de proteínas com alto valor biológico. O valor biológico de uma proteína está determinado pelo seu conteúdo em aminoácidos essenciais. As proteínas de origem animal possuem, devido à sua composição rica em aminoácidos, um valor biológico mais elevado que as proteínas de origem vegetal (ROÇA, 1993). Gorduras A gordura está armazenada no tecido epitelial animal de três formas, recebendo diferentes denominações: gordura extracelular: constituída pelos depósitos de tecido adiposo subcutâ- neo (no abdome sobre a pele) e demais depósitos no organismo animal; gordura intermuscular: localiza-se entre os músculos e se deposita junto do epimísio; gordura intramuscular: conhecida como marmorização. Constitui-se de fi- bras muito finas no tecido muscular e se deposita junto do perimísio. Na figura a seguir, você pode visualizar a forma como a gordura se apresenta nos tecidos. Extracelular Intermuscular Intramuscular Figura 1 - Formas de apresentação da gordura animal nos tecidos Dica A quantidade de gordura depositada varia de acordo com a idade do animal, com grupo racial ao qual pertence e com a nutrição à qual ele foi submetido. Considera-se também uma pequena quantidade de gordura presente no tecido muscular, a qual é encontrada formando pequenas gotículas no líquido interce- lular (FORREST et al., 1979). 19Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 18 Nesta aula, você conheceu os principais componentes da carne: água, minerais, carboidratos, vitaminas, proteínas, gorduras. Na próxima aula, aprenderá sobre os cinco tipos de tecido existentes e verá detalhes sobre o tecido muscular, que tem grande importância na carne. Aula 3: Características gerais do músculo Nesta aula, você aprenderá sobre os cinco tipos de tecidos existentes e verá detalhes sobre o tecido muscular, que tem grande importância na carne. A carne é composta por cinco tecidos: epitelial, adiposo, nervoso, conjuntivo e muscular. O tecido muscular compreende os componentes de maior importân- cia para a carne. 1 Tecido epitelial Dentre todos os tecidos presentes no corpo animal, o que se encontra em me- nor proporção é o epitelial. Esse tecido forma as camadas interna e externa da superfície do corpo do ani- mal e de alguns órgãos, como pele, fígado e rins. As principais funções desempenhadas pelo tecido epitelial compreendem: pro- teção, secreção, excreção, transporte, absorção e percepção sensorial. 2 Tecido adiposo O tecido adiposo é considerado a principal reserva energética dos animais e é formado por células chamadas adipócitos, que acumulam gordura em seu inte- rior. Esse tecido é considerado dinâmico, porque as gorduras são constantemente estocadas e mobilizadas. 203 3 Tecido nervoso O tecido nervoso está presente na proporção de 1% no corpo animal e divide- se em duas categorias: sistema nervoso central: inclui o cérebro e a espinha dorsal; sistema periférico: inclui fibras nervosas presentes em outras partes do corpo. 4 Tecido conjuntivo O tecido conjuntivo tem a função de conectar, conferindo conjunto e equilíbrio estrutural ao corpo. Contém duas proteínas fibrosas, cada qual com sua função: o colágeno e a elastina. Colágeno: quando aquecido, adquire forma semelhante à gelatina. Influencia na maciez da carne. Elastina: contém fibras que cedem bastante à tração e retornam à forma original quando cessa a força. 5 Tecido muscular O tecido muscular compreende os componentes de maior importância para a carne. Ele está dividido em três tipos, que você pode visualizar na Figura 2: músculo esquelético estriado, ou voluntário; músculo cardíaco, ou involuntário estriado; músculo liso ou involuntário. Tecido muscular esquelético Tecido muscular cardíaco Tecido muscular liso Figura 2 - Tipos de tecido muscular Fonte: Dias e Schneider (2010) 21Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 20 Músculo esquelético estriado, ou voluntário Com exceção dos animais excessivamente gordos, os músculos esqueléticos com- preendem cerca de 35% a 60% do peso da carcaça, constituindo o principal com- ponente da carne. O músculo esquelético apresenta-se ligado a ossos, ligamentos e pele, e é o único cuja contração pode ser voluntariamente conduzida e controla- da, proporcionando o movimento dos vários segmentos do esqueleto e do corpo. Na Figura3, você pode visualizar um músculo inteiro (constituído por feixes musculares), recoberto por tecido conjuntivo denominado epimísio. Perceba que cada feixe muscular (conjunto de fibras musculares) é envolto pelo tecido conjuntivo chamado endomísio. Figura 3 - Esquema do músculo esquelético Fonte: Sarcinelli, Venturini e Silva (2007) A unidade estrutural do músculo esquelético é uma célula muito especializada denominada fibra muscular. As fibras musculares esqueléticas são células longas e afiladas, responsáveis pela forma estriada característica desse tipo de músculo. A forma, o tamanho e a composição desse tipo de músculo variam de acordo com a função que ele desempenha no animal vivo. As fibras musculares podem atingir até vários centímetros de comprimento, mas de modo geral não alcançam o comprimento total do músculo. Uma fibra muscular estriada típica mede entre 1 mm e 40 mm de comprimento e tem de 10 mm a 100 mm de diâmetro, dependendo da espécie e do músculo avaliado. Na Figura 4, você pode ver que as fibras são agrupadas paralelamente, forman- do feixes que se associam para formar os músculos. 223 Figura 4 - Unidades estruturais do músculo Fonte: Sarcinelli, Venturini e Silva (2007) A membrana lipoproteica que reveste as fibras musculares é chamada sarcolema. Ela é bastante elástica para suportar as distorções que ocorrem na contração e no relaxamento do músculo. Você verá isso a seguir, quando estudar os constituintes da fibra muscular. Músculo cardíaco, ou involuntário estriado O músculo cardíaco possui fibras com ramificações, constituídas por filamentos grossos (miosina) e finos (actina). Esse músculo possui como propriedade exclusiva a contratilidade rítmica que continua ininterruptamente desde o início da vida até a morte do animal. Essa contração é controlada por um mecanismo elétrico específico do coração, que, embora seja submetido a vários estímulos, é independente da vontade – de- pende do aparelho cardionector e é modulada pelo sistema nervoso central. 23Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 22 Músculo liso O músculo liso possui células longas e alinhadas (semelhantes ao músculo esquelético) com uma parte central grossa e extremidades estreitas e afiladas. Ele auxilia na manuten- ção e no equilíbrio fisiológico do corpo do animal. Encontra-se nas paredes das artérias, nos vasos linfáticos, no trato gastrointestinal e no aparelho reprodutivo. Sua contração é controlada pelo sistema nervoso autônomo, por isso ela não costuma ser voluntária. Constituintes da fibra muscular Sarcolema: esse nome deriva da junção das palavras gregas sarx ou sarkos, que significa músculo, e lema, que significa casca. Sarcolema é uma membrana lipoproteica que recobre cada fibra muscular e não difere essencialmente das membranas plasmáticas de outros tipos celulares. Ela é bastante elástica para suportar as deformações que ocorrem nas fases de contração, relaxamento e estiramento do músculo. Uma característica exclusiva do sarcolema é a forma- ção de invaginações ao longo de toda a superfície da fibra, formando uma rede de túbulos, chamados de túbulos transversais, ou túbulos T. Sarcoplasma: corresponde ao citoplasma de outras fibras musculares. É uma substância coloidal, constituída de uma típica matriz citoplasmática com 75% a 85% de água, gotículas de gordura, grânulos de glicogênio, e de organelas, assim como de miofibrilas peculiares ao músculo. Núcleos: o número de núcleos de uma fibra muscular esquelética varia de acordo com o seu comprimento, sendo que em uma fibra com vários centíme- tros de comprimento pode existir centenas deles, distribuídos regularmente em espaços de 5 mm ao longo do eixo longitudinal. Os núcleos são alongados na direção da fibra e normalmente se localizam logo abaixo do sarcolema, exceto nas fibras musculares esqueléticas de peixes, no centro das quais se localizam. Os principais componentes dos núcleos são: a membrana nuclear, o plasma nuclear, a cromatina e o nucléolo. Miofibrilas e miofilamentos: as miofibrilas são estruturas cilíndricas, compri- das e delgadas, com diâmetro de 1 mm a 2 mm, orientadas no sentido longitu- dinal da fibra muscular e que preenchem completamente seu interior. Uma fibra muscular com um diâmetro de 50 mm pode ter de 1.000 até 2.000 miofibrilas. As miofibrilas são formadas por um agrupamento ordenado de filamentos grossos e finos, paralelos entre si, cuja distribuição ao longo da miofibrila é responsável pela formação de bandas. Elas também se agrupam de modo que as bandas ou estrias ficam em sincronia, formando faixas claras e escuras que caracterizam o músculo estriado esquelético. As faixas claras receberam o nome de bandas I. A banda I é dividida ao meio por uma linha transversal escura chamada linha Z. 243 A unidade estrutural repetitiva da miofibrila, onde os eventos morfológicos do ciclo de contração e relaxamento do músculo ocorrem, é o sarcômero, defini- do como o segmento entre duas linhas Z sucessivas, incluindo, portanto, uma banda A e duas meias bandas I. Os comprimentos do sarcômero e da banda I variam de acordo com o estado de contração do músculo, enquanto o com- primento da banda A permanece constante. No centro da banda A, existe uma zona mais pálida, chamada faixa H, atravessada por uma estreita linha escura chamada linha M, que se localiza precisamente no centro da banda A. Na Figura 5, você visualiza a unidade estrutural representante da miofibrila, com suas bandas e linhas. Figura 5 - Unidade estrutural da miofibrila com suas bandas e linhas Fonte: Jiang (1998) Como você pôde ver na Figura 5, as miofibrilas contêm filamentos grossos e finos. Os filamentos grossos são compostos basicamente por miosina e cons- tituem a banda A do sarcômero. São também denominadas de filamentos de miosina. Os filamentos finos constituem a banda I do sarcômero e são compos- tos principalmente por actina. Proteínas reguladoras As principais proteínas reguladoras, em ordem decrescente de concentração na miofibrila, são: tropomiosina, troponina, as proteínas da linha M (creatina qui- nase, miomesina e proteína M), a actinina, proteína C e b actinina. As proteínas miosina e actina constituem de 75% a 80% das proteínas miofibri- lares, sendo a porção restante constituída pelas proteínas reguladoras da fun- ção muscular, atuando direta ou indiretamente no complexo adenosina trifosfa- to-actina-miosina. Miosina: a miosina constitui de 50% a 55% da proteína miofibrilar e se caracte- riza por sua grande proporção de aminoácidos carregados positiva ou negativa- mente. Seu pH isoelétrico é de 5,4. A molécula de miosina é grande e complexa. Tem forma de bastão e em uma de suas extremidades apresenta uma saliência globular ou cabeça. É na cabeça que ocorre a combinação com a actina. 25Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 24 Actina: a actina constitui de 20% a 25% das proteínas miofibrilares. Apresenta- se sobre a forma de estruturas longas e fibrosas formadas por duas cadeias de monômeros globulares torcidas uma sobre a outra, em hélice dupla. A actina é rica em prolina e seu ponto isoelétrico é de aproximadamente 4,7. Dica As proteínas actina e miosina reagem para formar o complexo actomiosina. A actinomiosina é a principal forma de proteína miofibrilar encontrada em músculo post-mortem. A rigidez que se desenvolve no músculo é devida à formação deste complexo. Na Figura 6, você pode visualizar a actina e a miosina interagindo para for- mar a actomiosina. Figura 6- Proteína actina e miosina interagindo para formar a actomiosina Fonte: Ganong (1999) Você visualiza a ligação do cálcio à troponina C na Figura 7. Ganong (1999) explica que, quando a fibra se encontra em repouso, as hastes da tropomiosina encontram-se em posição de bloqueio, encobrindo os locais ativos da actina,impedindo assim a formação da actomiosina. 263 Figura 7 - A ligação do cálcio à troponina C desloca as hastes de tropomiosina da sua posição de blo- queio, permitindo a interação entre a actina e a miosina Fonte: Ganong (1999) Durante a contração muscular, cada cabeça de miosina se liga a uma molécula de G-actina do filamento de actina. Dias e Schneider (2010) demonstram que a formação de pontes de ligação entre essas moléculas produz o complexo químico denominado actinomiosina. Na Figura 8 você pode visualizar os miofi- lamentos de actina e miosina. Figura 8 – Miofilamentos de actina e miosina Fonte: Dias e Schneider (2010) 27Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 26 A tropomiosina e a troponina representam, juntas, entre 16% e 20% das proteínas miofibrilares. A tropomiosina é responsável pela sensibilidade do sistema actomio- sina ao cálcio que deflagra a contração, e a troponina é a proteína receptora desse íon. Ambas estão associadas ao filamento de actina (GUIMARÃES; ADELL, 1995). Veja, no Quadro 1, um resumo das principais proteínas presentes no músculo e suas respectivas quantidades. Proteínas miofibrilares: 10,0 Filamentos grossos: Miosina 5,0 Proteína C 0,2 Proteína M 0,3 Filamentos finos: Actina 2,5 Tropomiosina 0,8 Troponina 0,8 β-actinina 0,1 Linha z: α-actinina 0,2 desmina 0,1 Proteínas sarcoplasmáticas: 7,0 Enzimas sarcoplasmáticas e mitocondriais 6,0 Mioglobina 0,6 Hemoglobina 0,2 Citocromo e flavoproteínas 0,2 Proteínas do estroma: 3,0 Colágeno e reticulina 1,5 Elastina 0,1 Outras proteínas insolúveis 1,4 Total de proteínas: 20,0 Quadro 1: Proteínas do músculo esquelético (g/100g de músculo) Fonte: Roça (1981) 283 A unidade estrutural do tecido muscular é o sarcômero, o qual é delimitado por duas linhas Z. O sarcômero constitui a unidade básica para os ciclos de contra- ção e relaxamento. Retículo sarcoplasmático e túbulos T: o conjunto de retículo sarcoplasmático (RS) e túbulos T formam um sistema de canais e cisternas, delimitado por mem- branas, formando uma rede ao redor de cada miofibrila, exibindo um padrão repetitivo e altamente especializado que apresenta uma relação constante com determinadas faixas de miofibrila. As membranas reticulares do RS são os locais de armazenamento do cálcio das fibras em repouso. Embora desempenhem funções em conjunto essas duas estruturas, originam-se de sistemas de membranas distintos, uma vez que o RS corresponde ao retículo endoplasmático de outros tipos celulares, enquanto que os túbulos T se originam do sarcolema e se comunicam com o espaço ex- tracelular. Na região entre as bandas A e I os túbulos longitudinais convergem para canais transversais de maior calibre chamados cisternas terminais. Os túbulos T estão associados ao sarcolema e são responsáveis pela contração uniforme de cada fibra muscular esquelética. Nos mamíferos, nas aves e em alguns peixes, as tríades se localizam entre as bandas A e I, existindo, portan- to, duas tríades por sarcômero, enquanto nos anfíbios só existe uma tríade por sarcômero, localizada sobre a linha Z. O volume ocupado pelo RS em uma fibra muscular é de cerca de 13% do volume total, podendo variar muito de uma fibra para outra. Os túbulos T ocupam somente 0,3% do volume da fibra. Lisossomos: são pequenas vesículas que servem como reservatório de diversas enzimas digestivas. Entre as enzimas proteolíticas, as catepsinas são um grupo importante, pois agem sobre algumas proteínas musculares, contribuindo para o amaciamento da carne durante a maturação. Mitocôndrias: são organelas que se localizam no sarcoplasma. São chamadas de “turbinas” da célula, porque “capturam” a energia procedente do metabolis- mo de carboidratos, lipídeos e proteínas da dieta, por meio do ciclo de Krebs e da cadeia respiratória, e a convertem, por meio da fosforilação oxidativa, em ligações fosfato da molécula de ATP. Há uma grande variação no número e no tamanho das mitocôndrias das fibras musculares. Complexo de Golgi: o Complexo de Golgi se localiza no polo do núcleo do sarcoplasma. É formado por um conjunto de vesículas planas, de constituição semelhante à da membrana do retículo sarcoplasmático. Sua principal função é concentrar e armazenar os produtos do metabolismo celular. 29Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 28 Tipos de fibras musculares Os músculos podem ser classificados em brancos ou vermelhos, de acordo com a intensidade de sua coloração, que por sua vez depende da proporção de fibras vermelhas e brancas existentes. Normalmente, os músculos são forma- dos por uma mistura de fibras vermelhas e brancas, sendo que as últimas estão sempre em maior proporção, mesmo nos músculos que são visivelmente ver- melhos. Os músculos também exibem fibras com características intermediárias entre os tipos vermelho e branco. O conteúdo maior de mioglobina das fibras vermelhas em relação às brancas é o responsável pela sua coloração. Na Tabela 4, você pode notar que as características estruturais, funcionais e meta- bólicas das fibras musculares vermelhas, intermediárias e brancas são diferentes. Tabela 4: Características das fibras musculares vermelhas, intermediárias e brancas de animais de abate Características Fibras vermelhas Fibras intermediárias Fibras brancas Cor Vermelha Vermelha Branca Conteúdo em mioglobina Alto Alto Baixo Diâmetro da fibra Pequeno Pequeno- intermediário Grande Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida Tipo de contração Tônica Tônica Fásica Número de mitocôndrias Alto Intermediário Baixo Tamanho mitocondrial Grande Intermediário Pequeno Densidade capilar Alta Intermediário Baixa Metabolismo oxidativo Abundante Intermediário Escasso Metabolismo glicolítico Escasso Intermediário Abundante Conteúdo lipídico Alto Intermediário Baixo Conteúdo glicogênico Baixo Alto Alto Fonte: Forrest et al. (1979) Nesta aula, você aprendeu sobre os cinco tipos de tecidos existentes, com ênfase no tecido muscular, que tem grande importância na carne. Na próxima aula, aprenderá sobre o impulso nervoso responsável pela contração muscular e compreenderá o que é o rigor mortis. 303 Aula 4: A química da contração muscular Nesta aula, você aprenderá sobre o impulso nervoso responsável pela contra- ção muscular e compreenderá o que é o rigor mortis. O estímulo para a contração muscular é geralmente um impulso nervoso, que chega à fibra muscular por um nervo. O impulso nervoso propaga-se pela mem- brana das fibras musculares (sarcolema) e atinge o retículo sarcoplasmático, fazendo com que o cálcio ali armazenado seja liberado. Ao entrar em contato com as miofibrilas, o cálcio desbloqueia os sítios de ligação da actina e permite que esta se ligue à miosina, iniciando a contração muscular. Assim que cessa o estímulo, o cálcio é imediatamente rebombeado para o interior do retículo sarco- plasmático, o que faz cessar a contração (CARNEIRO; JUNQUEIRA, 2004). Para entender como ocorre quimicamente a contração muscular, analise atenta- mente a Figura 9. Figura 9 - Etapas que ocorrem na contração muscular a partir de um estímulo Fonte: Carneiro e Junqueira (2004) Rigor mortis 31Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 30 A energia para a contração muscular é suprida por moléculas de ATP produzi- das durante a respiração celular. O ATP atua tanto na ligação da miosina à acti- na como em sua separação, que ocorre durante o relaxamento muscular. Assim, quando falta ATP, a miosina mantém-se unida à actina, causando enrijecimento muscular. É o que acontece após a morte, produzindo-se o estado de rigidez cadavérica (rigor mortis). Reserva de energia A quantidade de ATP presente na célula muscular é suficiente para suprir ape- nas alguns segundos de atividade muscularintensa. A principal reserva de energia nas células musculares é uma substância denominada fosfato de crea- tina (fosfocreatina, ou creatina-fosfato). Dessa forma, podemos resumir que a energia é inicialmente fornecida pela respiração celular e é armazenada como fosfocreatina (principalmente) e na forma de ATP. Quando a fibra muscular necessita de energia para manter a contração, grupos fosfatos ricos em energia são transferidos da fosfocreatina para o ADP, que se transforma em ATP. Quan- do o trabalho muscular é intenso, as células musculares repõem seus estoques de ATP e de fosfocreatina pela intensificação da respiração celular. Para isso, utilizam o glicogênio armazenado no citoplasma das fibras musculares como combustível, como você pode ver na equação a seguir: Ao receber um estímulo nervoso, a fibra muscular mostra, em sequência, os seguintes eventos: 1 O retículo sarcoplasmático e o sistema T liberam íons Ca++ e Mg++ para o citoplasma. 2 Em presença desses dois íons, a miosina adquire uma propriedade ATPási- ca, isto é, desdobra o ATP, liberando a energia de um radical fosfato. 3 A energia liberada provoca o deslizamento da actina entre os filamentos de miosina, caracterizando o encurtamento das miofibrilas. Nesta aula, você aprendeu sobre o impulso nervoso responsável pela contração muscular e compreendeu o que é o rigor mortis. Na próxima aula, vai aprender que o músculo se transforma em carne após o rigor mortis, que é caracteriza- do pela estrutura inextensível adquirida após a reação entre actina e miosina, formando a actomiosina. 323 Aula 5: Conversão do músculo em carne Nesta aula, você vai aprender que o músculo se transforma em carne após o rigor mortis, que é caracterizado pela estrutura inextensível adquirida após a reação entre actina e miosina, formando a actomiosina. Mesmo após a morte do animal, as funções vitais do seu sistema muscular não cessam. Diversas modificações bioquímicas e estruturais ocorrem após o abate, sendo denominadas de “conversão do músculo em carne”. As modificações bioquímicas e estruturais ocorrem simultaneamente e são de- pendentes dos tratamentos ante-mortem, do processo de abate e das técnicas de armazenamento da carne. Após a sangria, há interrupção do fluxo sanguíneo. Como consequência, inter- rompe-se o aporte de nutrientes e a excreção de metabólitos. Assim, o oxigênio e o controle nervoso deixam de chegar à musculatura. Dessa forma, o tecido muscular (assim como outros tecidos) continua exercendo suas funções meta- bólicas, na tentativa de manter sua homeostase. Pergunta Você sabe o que é homeostase? Homeostase é a manutenção de uma condição de balanço em que todos os órgãos do animal trabalham fisiologicamente em harmonia: o ambiente interno é mantido dentro de uma faixa muito estreita de temperatura, pH, concentração de oxigênio e de gás carbônico. O músculo, então, passa a utilizar a via anaeróbica para obter energia para um pro- cesso contrátil desorganizado. Nesse processo, há transformação de glicogênio em glicose, e como a glicólise é anaeróbica, gera lactato e verifica-se a queda do pH. Com o gasto dos depósitos energéticos, o processo contrátil tende a cessar, formando um complexo irreversível denominado de actomiosina. Nesse estado, a musculatura atinge o rigor mortis, ou seja, os músculos transformam-se em carne. 33Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 32 O enrijecimento muscular ocorre quando a concentração de ATP não é mais suficiente para manter as miofibrilas em estado de relaxamento. Nesse ponto, actina e miosina interagem formando o complexo actomiosina de maneira irre- versível, responsável pelo endurecimento muscular. O encurtamento provocado pelo rigor mortis difere da contração normal porque se formam mais pontes cruzadas de actomiosina. Dica Durante a contração normal, ligam-se somente 20% dos sítios possíveis de ligação. Durante o rigor mortis, praticamente todos os sítios de ligação entre actina e miosina são utilizados, fazendo com que ocorra um significativo encurtamento do sarcômero. Você pode ver, no Quadro 2, os processos, os ingredientes e os produtos envol- vidos na etapa aeróbica e anaeróbica de conversão do músculo em carne. Método Aeróbico Anaeróbico Processos Glicólise â Ciclo de Krebs â Ca- deia Mitocondrial Transportadora de Elétrons Glicólise Ingredientes 1 Glicose + 36 Pi + 36 ADP + 6 O2 1 Glicose + 3 ADP + 3 Pi Produtos 36 ATP 6 CO2 42 H2O 3 ATP 2 Lactato 2 H+ 3 H2O Quadro 2: Processos, ingredientes e produtos envolvidos nos processos aeróbico e anaeróbico de con- versão do músculo em carne Fonte: Feijó (2010) Quando o rigor mortis está completo (momento que coincide com o esgota- mento do ATP), começa a haver ruptura da linha Z e de outras proteínas do citoesqueleto. A estrutura miofibrilar também começa a sofrer uma progressiva degradação, porém sem que se desfaçam as pontes de actomiosina. 343 Atenção Essa degradação é diferente entre as espécies de animais de açougue e pode ser responsável pelas diferenças de qualidade da carne. O final do rigor mortis, ou a resolução, é indicada pelo amaciamento das massas musculares e resulta de alterações causadas por degradação da estrutura da fibra muscular. Até esse momento, dois fenômenos são de extrema importância na transformação do músculo em carne: a queda do pH muscular; a resolução do rigor mortis. Atenção Do ponto de vista tecnológico, considera-se carne o músculo que tenha passado pelo rigor mortis. Analise, na Figura 10, a descrição dos processos envolvidos durante a transforma- ção do músculo em carne. Observe que, logo que cessa a circulação sanguínea, começam a ocorrer diversos processos até a conversão do músculo em carne. Figura 10 - Descrição dos processos envolvidos durante a conversão do músculo em carne e caracterís- ticas sensoriais Fonte: Prändl et al. (1994) 35Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 34 Nesta aula, você aprendeu que o músculo se transforma em carne após o rigor mortis, que é caracterizado pela estrutura inextensível adquirida após a reação entre actina e miosina, formando a actomiosina. Na próxima aula, aprenderá que a velocidade de instalação do rigor mortis varia conforme a espécie animal, a forma de abate e a temperatura ambiente. Aula 6: Tempos de instalação e resolução do rigor mortis Nesta aula, você aprenderá que a velocidade de instalação do rigor mortis varia conforme a espécie animal, a forma de abate e a temperatura ambiente. Após determinado tempo, o músculo transforma-se em carne e volta a tornar- se flexível, devido à ação das enzimas proteolíticas, as quais quebram os com- ponentes do sarcômero. Essa transformação é chamada cientificamente de re- solução do rigor mortis e pode variar de espécie para espécie, como você pode observar na Tabela 5. Tabela 5: Tempo de instalação e resolução do rigor mortis para diferentes espécies Espécie de animal Temp para instalação do rigor mortis Tempo para resolução do rigor mortis Bovino 6 a 12 h 2 a 6 dias Carneiro 6 a 12 h ND Suíno 15 min a 3 h 1 a 3 dias Peru < 1 h 5 a 24 h Frango < 30 min 4 a 6 h Peixe < 1h ND Fonte: Olivo (2006) 363 O teor de ácido láctico presente no músculo, no momento da morte do animal, é o que determinará a velocidade da instalação do rigor mortis e o pH final da carne. O valor final de pH depende diretamente da quantidade de glicogênio presente no músculo no momento da morte do animal. Normalmente, o pH fisiológico (in vivo) de aproximadamente 7,0 diminuirá para o pH final de 5,8 (post-mortem). Quando o pH estabiliza, não ocorre mais contração e relaxamento das miofibri- las, pois não há mais fornecimento de energia (ATP) pelo sistema homeostático. Apartir do momento em que não ocorre mais ATP, temos a instalação do rigor mortis, determinado pela união de grande parte das proteínas de actina e mio- sina, formando a actomiosina, caracterizando a rigidez da musculatura, a qual também pode ser chamada de rigidez cadavérica. Nesta aula, você aprendeu que a velocidade de instalação do rigor mortis varia conforme a espécie animal, a forma de abate e a temperatura ambiente. Na próxima aula, aprenderá que o rigor mortis promove o encurtamento dos sarcô- meros dos músculos e que a maciez da carne depende do tamanho alcançado pelos sarcômeros no rigor mortis. Aula 7: Modificação da extensibilidade muscular ao longo do período post- mortem e fase do post rigor mortis Nesta aula, você aprenderá que o rigor mortis promove o encurtamento dos sarcômeros dos músculos e que a maciez da carne depende do tamanho alcan- çado pelos sarcômeros no rigor mortis. 37Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 36 De acordo com as variações de tamanho do sarcômero, podemos ter varia- ções na maciez da carne durante o período post-mortem, conforme pode ser visualizado na Figura 11. Figura 11 - Variações na maciez da carne durante período post-mortem Fonte: Bridi (2006) Na Figura 11, você pôde visualizar as três variações na maciez da carne: Tempo 1 até 2: Desenvolvimento do rigor mortis Processo de formação das ligações actina-miosina; O músculo começa a perder a extensibilidade; Diminuição do tamanho do sarcômero. Tempo 2: Estabelecimento do rigor mortis Não existe mais energia nas células para desfazer as ligações actina-miosina; Perda completa da extensibilidade do músculo; O sarcômero atinge seu menor tamanho. Tempo 2 até 3: Resolução do rigor mortis – maturação da carne Processo enzimático; Hidrólise das proteínas celulares. Agora que você entendeu como ocorre a variação da extensibilidade muscular, você já pode estudar o que ocorre após o rigor mortis. 383 Durante a fase de post rigor mortis (resolução da rigidez cadavérica), ocorre uma diminuição gradual da rigidez do músculo esquelético até se atingirem valores próximos aos existentes no momento do abate do animal. A fase de post rigor mortis, essencial para a produção de carne macia e para o desenvolvimento do flavour, depende de vários fatores biológicos, físicos e tecnológicos. Esses fatores podem ser divididos em três grupos: 1 Fatores ante-mortem: espécie animal, raça, idade, sexo e tipo de músculo esquelético. 2 Fatores relacionados com o próprio abate do animal: o estresse, quer no transporte para o matadouro, quer na sua permanência no local ou no próprio abate. 3 Fatores post-mortem: tempo e temperatura de maturação, estimulação elé- trica e aplicação de alta pressão. Dica As principais mudanças post-mortem que ocorrem no músculo são a degradação do glicogênio e a ATP, que ocasionam decréscimo do pH até valores em torno de 5,5. Do ponto de vista físico da carne, ocorre primeiro a rigidez cadavérica, devido à formação de actomiosina, e depois ocorre a resolução do rigor mortis devido à atuação de enzimas endógenas. Nesta aula, você aprendeu que o rigor mortis promove o encurtamento dos sarcômeros dos músculos e que a maciez da carne depende do tamanho al- cançado pelos sarcômeros no rigor mortis. Na próxima aula, verá que um dos aspectos mais marcantes da transformação do músculo em carne é a queda do pH. Você aprenderá também o que são os defeitos cárneos PSE e DFD e suas principais características. 39Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 38 Aula 8: pH e qualidade da carne Nesta aula, você aprenderá que um dos aspectos mais marcantes da transfor- mação do músculo em carne é a queda do pH e seu valor final, influenciando na conservação e em propriedades tecnológicas da carne. Além disso, a aceleração do processo de degradação do glicogênio por causas endógenas ou exógenas frequentemente está associada a alterações na qualidade da carne. Você apren- derá também o que são os defeitos cárneos PSE e DFD e suas principais carac- terísticas. Tanto a genética como um manejo sob altas condições de estresse dos animais antes do abate podem provocar um desenvolvimento anormal do processo de queda do pH muscular depois do abate, o que leva a dois tipos de alterações na qualidade da carne, conhecidas como PSE e DFD. Na Figura 12, você pode analisar a modificação do pH em função das horas após abate. Observe que a carne pode ter diferentes quedas de pH, de acordo com fatores ante morte do animal. E de acordo com essa queda de pH, podem- se obter carnes com diferentes defeitos, denominados PSE ou DFD, que deter- minam a qualidade final do músculo. Figura 12 - Padrão de acidificação nas carnes normais, PSE e DFD Fonte: Velarde (2007) 403 A seguir, veja com detalhes o que são os defeitos cárneos PSE e DFD e suas principais características. Carnes PSE O termo PSE (pale, soft, exsudative) é originário da língua inglesa e é caracterís- tico de carnes pálidas, flácidas e exsudativas. A possível existência de uma carne com característica PSE é confirmada pela queda do pH na primeira hora depois do sacrifício, a qual possui pH abaixo de 5,8. A causa fundamental de desenvolvimento da alteração PSE parece ser uma maior velocidade da glicólise nos primeiros momentos post-mortem. A queda do pH causa a desnaturação das proteínas sarcoplasmáticas que precipitam sobre as proteínas miofibrilares, produzindo, assim, uma perda na capacidade de retenção de água da carne, com perda de líquido, o qual pode ser também chamado de exsudação. O fator crítico para a carne é a queda rápida do pH para 5,3/5,4, quando o meio se encontra ainda quente (38 ºC). Atenção O estresse imposto ao animal no período que antecede o abate estimula a glicólise, causando queda rápida de pH quando a temperatura corporal ainda permanece elevada. Esse fenômeno também pode ser correlacionado com a presença do gene Halotano na carne, o qual, ao ser exposto a fatores estressantes durante o transporte ao matadouro, como jejum, dieta hídrica e manejo de condução, determina uma liberação muito rápida de cálcio sarcoplasmático após a sangria. Como consequência desse estresse, temos uma carne pálida com baixa capacidade de retenção de água (CRA). O pH final das carnes PSE ficam em torno de 5,0 a 5,5. Na Figura 13, você pode ver, de maneira genérica, a ocorrência de PSE em car- nes e as características desse tipo de defeito cárneo. 41Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 40 Figura 13 - Fatores que favorecem o desenvolvimento da condição PSE Fonte: Honikel e Kim (1986) A água livre do músculo PSE, possivelmente, influencia a cor, embora ela se situe entre as células musculares, e não em seu interior. Os tecidos que contêm uma grande quantidade de água extracelular têm muitas superfícies refletivas (que refletem totalmente a luz), mas, segundo Forrest et al., (1979), só possuem uma capacidade limitada de absorção luminosa; entretanto, a intensidade da cor diminui muito. A desnaturação das proteínas sarcoplasmáticas é maior na carne PSE, como consequência da combinação de um baixo pH e uma temperatura elevada. Essas proteínas precipitam sobre as miofibrilares reduzindo, com isso, a estabilidade e sua capacidade de retenção de água. Em certa proporção, as proteínas miofibrila- res podem resultar também em uma desnaturação. A perda de transparência e a cor pálida da carne devem-se, portanto, à desnaturação parcial da carne. Pergunta Você sabe qual é o significado econômico da PSE? 423 Veja o que diz Olivo (2006): Aumento das perdas na cura (maturação) de até 5%; Aumento das perdas no cozimento de até 20%; Aumento da proporção de gelatina em enlatado de até 8%; Aumento de 6 a 10% das perdaspor exsudação na carne fresca; Palidez no lombo e duas tonalidades no pernil. Carnes DFD O termo DFD (dark, firm, dry) também é originário da língua inglesa e é caracte- rístico de carnes escuras, firmes e secas. Atenção A exposição do animal a uma situação de estresse por um longo período (brigas, transporte longo, jejum e dieta hídrica prolongada) pode resultar em uma carne DFD, com alta capacidade de retenção de água e pegajosa ao tato. A carne DFD tem um pH alto em virtude das insuficientes reservas de glicogê- nio no momento do abate. Dessa forma, o pH é alto (superior a 6,2) e o múscu- lo possui um potencial redox baixo. Comparando a carne PSE – indesejável pela falta de cor atrativa durante sua comercialização –, a carne DFD consiste em um problema mais sério, por estar sujeita a maior risco de alteração microbiana devido ao alto pH. A ausência de glicose na superfície das carnes DFD permite à microflora atacar e degradar antes os aminoácidos, dando lugar a compostos de odor intenso no processo de deterioração. Devido a essa ausência de glicose na superfície das carnes, de acordo com pesquisa realizada por Price e Schwei- gert (1994), as carnes DFD são mais suscetíveis a alterações microbianas, não só no estado fresco, mas também durante processos de cura, o que determina uma menor vida útil do produto que as utiliza. Dica A carne DFD tem um pH final mais elevado. Dessa forma, possui maior capacidade de retenção de água, sendo de grande valor para a indústria processadora, porém é de baixa aceitação pelo consumidor por conta de sua aparência firme e escura e por sua superfície seca, que pode caracterizar a carne como “velha”. 43Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 42 Quando o pH permanece inalterado após 24 horas do abate (pH ≥ 6,0), as proteí- nas miofibrilares se encontram muito acima de seu ponto isoelétrico. Nesse caso, a capacidade de retenção de água está muito alta e a água se mantém dentro da célula, unida às proteínas miofibrilares. Por isso, a luz incidente é pouco refletida, dando aparência escura à carne. A Figura 14 demonstra de forma genérica o que ocasiona o fenômeno DFD em carnes e o significado desse termo. Figura 14 - Forma de ocorrência de DFD em carnes Agora você já consegue responder às seguintes três perguntas: Por que a carne DFD é escura? Porque seu elevado pH a faz absorver mais luz que o normal. Por que a carne DFD é firme? Porque as fibras estão intumescidas pelo preenchimento com fluidos sarcoplasmáticos. Por que a carne DFD é seca? Porque a água endógena da carne está firmemente ligada às proteínas, não a deixando fluir para a superfície. A seguir, leia o que diz Olivo (2006) a respeito do significado econômico das carnes DFD. Falta de sabor e aroma, pior qualidade degustativa; Vida de prateleira inferior a dois dias a 0 ºC; Baixa atratividade devido a sua cor e textura; Menor capacidade de difusão do sal durante a cura. 443 Entretanto, a DFD também possui fatores positivos. Saiba quais são eles: Maior capacidade de retenção de água; Menor perda de água por exsudação (0,5%); Menores perdas no cozimento (5%). Nesta aula, você aprendeu que um dos aspectos mais marcantes da transfor- mação do músculo em carne é a queda do pH e seu valor final, influenciando na conservação e em propriedades tecnológicas da carne. Aprendeu também o que são os defeitos cárneos PSE e DFD e suas principais características. Na próxima aula, verá que as características físicas da carne consistem em proprie- dades mensuráveis, como cor, capacidade de retenção de água da carne fresca, maciez, suculência e palatabilidade. Aula 9: Características físicas da carne Nesta aula, você aprenderá que as características físicas da carne consistem em propriedades mensuráveis, como cor, capacidade de retenção de água da carne fresca (CRA), maciez, suculência e palatabilidade. A seguir, você verá essas propriedades com mais detalhes. Cor Em condições normais de conservação, a cor é o principal atrativo dos alimentos. 45Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 44 Atenção A cor da carne reflete a quantidade e o estado químico do seu principal pigmento, a mioglobina. A quantidade de mioglobina em um determinado corte de carne varia prin- cipalmente com a atividade física dos músculos que o compõem e de acordo com a maturidade fisiológica do animal ao abate. Alguns músculos são mais solicitados do que outros e, como consequência, apresentam grande proporção de fibras (células) vermelhas entre as fibras brancas, essas últimas sempre em maior número. Os bovinos terminados a pasto se exercitam mais e, geralmen- te, são abatidos mais velhos; assim, por exercício e maturidade, sua carne tem maior concentração de mioglobina e, consequentemente, maior saturação da cor vermelha do que a carne de bovinos confinados. Para determinar a cor objetiva em carnes, pode ser utilizado um colorímetro programado com um sistema L*.a*.b*, de acordo com a CIELAB (Comissão Inter- nacional de Iluminação/Cor), no qual o uso de * caracteriza os padrões determi- nados por essa Comissão. Pergunta Você sabe o significado de cada um dos termos do colorímetro? L*: mede a luminosidade ou porcentagem de refletância; varia de 0 (preto) a 100 (branco) e determina a cor da carne nos padrões de qualidade. Está situ- ado no eixo vertical do diagrama; a*: mede a variação entre as cores vermelha e verde e está situado no eixo horizontal; b*: mede a variação entre o amarelo e o azul; A razão a*/b* estima o teor de mioglobina em uma amostra. Na Figura 15, você vê as três variáveis que o colorímetro fornece, de acordo com o diagrama de Hunter. 463 Figura 15 - Colorímetro Fonte: Bridi (2006) Na Figura 16, você pode visualizar a leitura da cor do produto por meio do colorímetro. Figura 16 - Leitura do colorímetro Fonte: Bridi (2006) Existe uma relação inversa entre os valores de pH e de L*, sendo que quanto menor for o pH maior será o valor de L*. Veja, na Tabela 6, as faixas de valores de L*, pH inicial e pH final em peito de frango. 47Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 46 Tabela 6: Faixas de valores de L*, pH inicial e pH final em peito de frangoFonte: Venturini, Sarcinelli e Silva (2007) Classificação Valor de L* pH inicial pH final PSE > 53 6,10 (±0,5) 5,70 (±0,5) Normal 44 a 53 6,30 (±0,5) 5,80 (±0,5) DFD < 44 7,10 (±0,5) 6,50 (±0,5) Veja, nas figuras a seguir, a coloração de cortes de frango e bovino, respectivamente. Observe, na Figura 17, que quanto maior é o pH do peito de frango menor será sua medida de L*. Assim, para este caso, tem-se uma carne com características de DFD. Ocorre o mesmo quando o pH é menor: para este caso, temos uma L* maior e uma carne com características de PSE. Tabela 17: Influência da cor da carne de frango em função do pH final Filés de peito de frango L* = 54,6 L* = 53,5 L* = 50,5 L* = 47,2 L* = 44,1 L* = 41,3 pH = 5,6 pH = 5,7 pH = 5,8 pH = 6,1 pH = 6,2 pH = 6,3 Fonte: Venturini, Sarcinelli e Silva (2007) Na Figura 18, você pode visualizar de que forma os defeitos PSE e DFD podem influenciar na diferença de coloração dos recortes de carne bovina apresentados. Tabela 18 – Carne bovina apresentando defeito cárneo Normal PSE DFD L* de 44 a 53 L* > 53 L* < 44 483 Capacidade de retenção de água da carne fresca (CRA) A água é o maior constituinte da carne magra, sendo que o teor pode variar de 70% a 75%. Por isso, a habilidade de reter água é importante para a manutenção das propriedades funcionais da carne. Quando a umidade é perdida, o rendimen- to, a maciez, a textura, o sabor e os valores nutricionais são afetados negativa- mente. Dessa forma, a CRA é considerada um indicativo importante para prever o rendimento,o resultado econômico e a qualidade final do produto cárneo. A CRA tem sido definida como a habilidade da carne para reter parcial ou total- mente a água nela contida. Veja as três formas para medir ou indicar a CRA: 1 Sem aplicação de qualquer força; 2 Pela aplicação de força mecânica; 3 Pela aplicação de calor. Dica Como as propriedades funcionais da carne dependem do seu pH final, quanto maior for o valor L* menor será a CRA. Dessa forma, carnes DFD possuem maior CRA que carnes PSE. Maciez É um quesito de grande importância na avaliação ou apreciação por parte do consumidor. Muitos fatores podem influenciar a maciez da carne: genética, sexo, maturidade, promotores de crescimento, velocidade de resfriamento, taxa de queda de pH, pH final e tempo de maturação. Organolepticamente, a maciez de uma carne é sentida como um conjunto de im- pressões. Veja a seguir alguns exemplos dessas impressões dados por Feijó (2010). Consistência da carne: conforme o contato com a língua e as bochechas pode-se sentir se a carne é mole ou firme. Resistência à pressão dental: refere-se à força necessária para a penetração dos dentes na carne. Facilidade de fragmentação: é a capacidade dos dentes para cortar ou de- 49Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 48 sagregar as fibras musculares. Podem acontecer dois extremos: a carne ser tão fragmentável que partículas aderem-se à língua e às bochechas, dando a sensação de secura; ou a carne apresentar fibras demasiadamente unidas, quase sempre em virtude de excesso de tecido conjuntivo. Resíduo ou restos de mastigação: após o processo mastigatório, restos de carne, geralmente tecido conjuntivo originário de perimísio ou epimísio, permanecem na boca. Diversos fatores interferem na maciez da carne. Eles podem ser divididos em inerentes (ante-mortem) ou não inerentes (post-mortem) ao animal. Dica Avaliam-se como inerentes a genética, a fisiologia, a alimentação e o manejo do animal. Assim, como fatores de maciez inerentes ao animal, têm-se: Idade: com o aumento da idade do animal, há a formação de ligações cruzadas entre as moléculas de colágeno que as tornam indissolúveis e enrijecem a carne. Raça: o acúmulo de maior ou menor teor de colágeno sob a forma de peri- mísio (grão da carne) denota diferenças raciais quanto à maciez da carne. Gordura: a gordura intramuscular proporciona aumento da maciez por lubri- ficar a mastigação e diluir o teor de tecido conjuntivo da carne. Por fatores não inerentes ao animal têm-se aspectos como: uso ou não de pro- cessos visando ao amaciamento da carne; e distúrbios de refrigeração: Encurtamento pelo frio: quando um músculo é resfriado imediatamente após o abate, apresenta energia para contrair-se fortemente sob ação do resfriamento. Rigor pelo descongelamento: quando um músculo congela antes de atingir o rigor mortis, posteriormente, quando ocorre o descongelamento, ocorre o encurtamento pelo frio e uma excessiva perda de suco. Posição de resfriamento: evita o encurtamento e o respectivo endureci- mento, por ação física. 503 Eletroestimulação: uma corrente elétrica que, provocando contrações, faz com que os músculos consumam energia e no momento do resfriamento não possam contrair-se demasiadamente. Cocção: a maciez é dependente da temperatura e da velocidade de cozi- mento. Nas carnes bem cozidas, ocorre uma maior rigidez por um fenôme- no denominado “endurecimento proteico”, que é devido à coagulação das proteínas, principalmente as miofibrilares, já que com o calor o colágeno transforma-se em gelatina, favorecendo a maciez da carne. Enquanto a ação positiva do colágeno depende do fator tempo, o endurecimento miofibrilar tem na temperatura de cozimento o ponto crítico. Entre 57 ºC e 60 ºC, ocor- re o amaciamento do tecido conjuntivo sem que haja ação sobre as prote- ínas miofibrilares, ou seja, sem endurecer a carne. Com base nisso é que se recomenda o cozimento prolongado a temperaturas baixas para a carne rica em tecido conjuntivo e o contrário para aquelas pobres em colágeno. Suculência A suculência de um alimento está relacionada com o teor de umidade libe- rado nos primeiros movimentos mastigatórios. A sensação de suculência é maior se houver presença de gordura na carne, o que estimula a salivação e lubrifica o bolo mastigatório. A gordura intermuscular funciona como uma barreira contra a perda do suco muscular durante o cozimento, aumentando a retenção de água pela carne e, consequentemente, sua suculência. A suculência da carne depende também da perda de água durante o cozimento. Tem- peraturas de 80 ºC produzem maiores perdas que temperaturas ao redor de 60 ºC. Dica Quando a carne é assada, forma-se uma superfície (capa) de proteína coagulada que impede a perda de suco; quanto mais rápido o processo de aquecimento ocorrer, mais rápida será a formação dessa capa. Palatabilidade É resultante da combinação de impressões visuais, olfativas e gustativas que se manifestam a partir da cocção do alimento. Conhecem-se mais de mil compo- nentes responsáveis pelo aroma e pelo sabor da carne. 51Unidade 1 Tecnologia de Carnes e Derivados 50 O aroma e o sabor da carne são sensações que podem ser influenciadas por fatores que antecedem o abate, como espécie, idade, sexo, raça, alimentação e manejo. O sabor e o aroma da carne são intensificados com a idade do animal, sendo que, em algumas espécies, a carne de machos inteiros apresenta sabor diferen- te. O sabor cárneo seria semelhante entre as espécies de açougue, entretanto o que as torna diferentes é o teor e a qualidade da gordura presente em cada espécie animal. Outros fatores, como pH final do músculo, condições de resfria- mento e armazenamento também afetam esse parâmetro sensorial. Nesta aula, você aprendeu que as características físicas da carne consistem em propriedades mensuráveis, como cor, capacidade de retenção de água da carne fresca (CRA), maciez, suculência e palatabilidade. Colocando em Prática Parabéns! Você finalizou a Unidade 1 deste curso. Para fixar o que você aprendeu até aqui, realize as atividades de aprendizagem que estão no Ambiente Virtual. Relembrando Nesta unidade, você estudou: que a água é o principal componente da carne; que o músculo é composto por cinco tecidos; as etapas da contração muscular; que o tempo de instalação e resolução do rigor mortis varia de acordo com a espécie animal; que as etapas que antecedem o abate são importantes para determinar a qualidade final da carne; as propriedades físicas da carne e viu como elas são percebidas pelo consumidor. 523 Saiba Mais A maior parte do tecido nervoso é formada pelos neurônios. Para saber mais sobre esse assunto, leia: MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia funcional. Rio de Janeiro: Atheneu, 1979. As fibras elásticas são formadas por uma proteína chamada elastina. A elastina se caracteriza por formar fibras mais finas que as formadas pelo colágeno. Essas fibras cedem bastante à tração, mas retornam à forma original quando é cessada a força. A elastina confere a essas fibras elasticidade e resistência. Para saber mais, leia: OLIVO, R. O mundo do frango: cadeia produtiva da carne de frango. Criciúma: Palloti, 2006. O organismo animal possui mais de 600 músculos que variam em tamanho, forma e função. Para saber mais sobre esse assunto, leia: GUI- MARÃES, J. L.; ADELL, E. A. de A. Estrutura e bioquímica do músculo. Apostila do Laboratório de Carnes, DTA-FEA-UNICAMP, 1995. Alongue-se Aproveite que você terminou esta unidade para relaxar um pouco antes de iniciar os estudos da Unidade 2. Levante-se, beba alguma coisa, alimente-se com algo leve, se achar necessário e, antes de partir para as próximas atividades, alongue-se umpouco para garantir a concen- tração na próxima etapa dos estudos. Comece inspirando lentamente, pelo nariz, contando até cinco. Depois, solte o ar, assoprando-o pela boca, também contando até cinco. Repita essa respiração dez vezes ou mais, se achar necessário. Depois, movi- mente a cabeça, como em um sinal de “não”, mantendo 20 segundos de cada lado. Realize esse movimento três vezes ou mais, se desejar. Lem- bre-se de respirar lenta e profundamente enquanto faz este exercício. 53 2 2 2 22 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 44 4 44 4 4 Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá subsídios para: conhecer os microrganismos úteis, dete- riorantes e patógenos que podem estar presentes na matéria-prima cárnea; analisar os fatores que influenciam o cresci- mento microbiano em carnes; diagnosticar as alterações que os microrga- nismos podem ocasionar nas carnes. Aulas Acompanhe nesta unidade o estudo das seguintes aulas: Aula 1: Contaminação da carne Aula 2: Microrganismos da carne Aula 3: Crescimento microbiano Aula 4: Fases de crescimento dos microrga- nismos na carne Aula 5: Fatores que afetam o crescimento microbiano em carnes 2Microbiologia de Carne e Derivados 543 Aula 6: Como analisar a contaminação microbiana na carne Aula 7: Fatores que causam a deterioração dos alimentos durante a estocagem Para Iniciar Seja bem-vindo à unidade Microbiologia de Carnes e Derivados. Os microrganismos participam de quase todos os aspectos da existência humana, trazendo tanto efeitos benéficos como nocivos. Eles estão presentes em alimentos de diversas formas: como microrganismos úteis, deteriorantes ou patógenos. Esta unidade fala sobre como ocorre o crescimento microbiano em produtos cárneos, os fatores intrínse- cos e extrínsecos que contribuem para este crescimento, bem como os microrganismos que podem se desenvolver e as alterações que sua presença pode ocasionar em produtos cárneos. Bom estudo! Aula 1: Contaminação da carne Nesta aula, você estudará os fatores que contribuem para a contaminação por microrganismos: solo e água, plantas e utensílios, trato gastrointestinal, mani- puladores de alimentos, rações animais, estoques animais, ar e pó. A contaminação é definida como a presença de qualquer substância ou agente em quantidade que torna o produto inaceitável ou potencialmente perigoso ao consumidor. Os contaminantes incluem resíduos químicos alimentares acumulados nos teci- dos, excesso de aditivos, matérias estranhas, parasitas e microrganismos. Fontes de contaminações microbiológicas A partir de agora, você vai estudar as fontes de contaminações microbiológicas nas carnes, de acordo com Jay (2005). 55Unidade 2 Tecnologia de Carnes e Derivados 54 Veja, a seguir, oito fontes naturais de contaminação microbiológica presentes em alimentos: Solo e água: podem entrar em contato na atmosfera pela ação do vento, posteriormente entrando em corpos d’água. Plantas e derivados: a maioria dos organismos de solo e água é que contaminam as plantas. Utensílios: quando carnes são acondicionadas em recipientes ou entram em contato com utensílios, pode-se esperar que alguns ou todos os orga- nismos presentes na superfície desses objetos contaminem a superfície de contato dos alimentos. Trato gastrointestinal: a biota do trato gastrointestinal é transferida para a água e para os alimentos quando águas poluídas são utilizadas para lavar alimentos crus. Manipuladores de alimentos: a microbiota das mãos e do vestuário ex- terno dos manipuladores de alimentos normalmente reflete o meio e os hábitos individuais. Fontes de contaminação estão localizadas nas cavidades nasais, boca, pele e trato gastrointestinal. Rações animais: constituem uma fonte de contaminação de salmonelas para os frangos e fonte de Listeria monocytogenes para animais de leite e de corte. Estoques animais: no caso de vacas leiteiras, os organismos encontrados no leite cru podem ser um reflexo da biota do úbere e da biota ambiental onde vivem os animais. Ar e pó: no ar, durante a manipulação de alimentos, são encontrados os microrganismos gram-positivos, além de mofos e leveduras. Atenção Uma das fontes potenciais de contaminação bacteriana da carne é o ar atmosférico. Logo após a remoção da pele, as carcaças estão sujeitas a essa contaminação, devido à deposição na carcaça de microrganismos da atmosfera da sala de matança. Nesta aula, você estudou os fatores que contribuem para a contaminação por microrganismos: solo e água, plantas e utensílios, trato gastrointestinal, mani- puladores de alimentos, rações animais, estoques animais, ar e pó. Na próxima aula, estudará as formas como os microrganismos podem estar presentes na carne como: úteis, deteriorantes e patógenos. 563 Aula 2: Microrganismos da carne Nesta aula, você estudará as formas como os microrganismos podem estar pre- sentes na carne como: úteis, deteriorantes e patógenos. Os microrganismos podem estar presentes na carne sob três formas: Microrganismos úteis: os microrganismos úteis são utilizados no preparo de ali- mentos e outros produtos industrializados. Ex.: Saccharomyces usado na cerveja; Lactobacillus usado em leite fermentado e Acetobacter usado no vinagre. Microrganismos deteriorantes: os microrganismos deteriorantes são aqueles res- ponsáveis pela deterioração dos alimentos. Ex.: bolores, leveduras e bactérias. Microrganismos patógenos: os microrganismos patogênicos causam doen- ças, desde um simples mal-estar, náuseas, cefaleia (dor de cabeça), diarreia, até uma paralisação respiratória e cardíaca. Nesta aula, você aprendeu que os microrganismos podem estar presentes na carne como microrganismos úteis, deteriorantes e patógenos. Na próxima aula, vai aprender como ocorre o crescimento microbiano. Aula 3: Crescimento microbiano Nesta aula, você vai aprender como ocorre o crescimento microbiano no caso de bactérias e fungos. O crescimento microbiano pode ocorrer pelo aumento da massa celular, de pro- teínas, de lipídeos, de sais e de água do protoplasma. Esse crescimento pode ser medido pela determinação de nitrogênio, de massa celular e de ácido nucleico. 57Unidade 2 Tecnologia de Carnes e Derivados 56 As bactérias têm seu crescimento associado à multiplicação, relacionando-se a massa muscular e a concentração celular (microrganismo/volume). Os fungos não têm crescimento: permanecem em apenas um indivíduo, no qual aumenta o tamanho da colônia. O crescimento dos fungos é determinado pelo diâmetro da colônia. Em processos fermentativos com produção de gás, usa-se a medida de massa celular ou densidade celular. Em processos nos quais se utiliza a resistência ao calor, utiliza-se a concentração celular para medir o crescimento. Dica Das muitas espécies que podem ser encontradas inicialmente em um alimento, apenas poucas têm capacidade fisiológica de multiplicar-se massivamente nas condições concretas que o alimento oferece e que o meio ambiente permite. Veja, na Figura 19, os fatores que podem contribuir para o estresse microbiano. Figura 19 - Fatores de estresse microbiano Fonte: Jay (2005) Nesta aula, você aprendeu sobre o crescimento microbiano no caso de bactérias e fun- gos. Na próxima aula, vai aprender de que forma ocorre esse crescimento microbiano. 583 Aula 4: Fases de crescimento dos microrganismos na carne Nesta aula, você vai aprender que, quando uma cultura microbiana se desen- volve em um sistema fechado, pode-se confeccionar uma curva de crescimento dividida em diferentes fases: lag, log, estacionária e de declínio. Na Figura 20, você pode visualizar uma curva de crescimento e suas quatro fases: lag, log, estacionária e de
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