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Indaial – 2020 AvAliAção NutricioNAl Prof.a Caroline Pappiani 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Caroline Pappiani Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: P218a Pappiani, Caroline Avaliação nutricional. / Caroline Pappiani. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 163 p.; il. ISBN 978-85-515-0446-8 1. Nutrição - Avaliação. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 612.3 III ApreseNtAção Prezado acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Avaliação Nutricional! Este livro didático tem como propósito auxiliar no processo de aprendizagem acerca da abordagem clínica para determinar o estado nutricional e servirá como guia para você adquirir conhecimentos necessários à atribuição do profissional nutricionista, relativa ao histórico clínico, dietético e social, exame físico, antropometria e dados bioquímicos para chegar ao diagnóstico nutricional. Este livro didático está dividido em três unidades, cada qual com objetivos, conteúdo, autoatividades, dicas, sugestões e recomendações. Na primeira unidade será abordado os indicadores do estado nutricional. Aprenderemos conceitos e métodos, segurança alimentar e nutricional e determinantes sociais de saúde. Por fim, serão discutidos os métodos de avaliação do consumo alimentar e da composição corporal. Já na segunda unidade aprofundaremos os conhecimentos referentes à avaliação nutricional nos diferentes ciclos de vida. Iniciaremos com a fase adulta, abordando também as particularidades na gestação. E a unidade será finalizada com os índices antropométricos durante a infância e adolescência. A terceira unidade será destinada à avaliação nutricional no idoso e hospitalizados. Por isso, um dos tópicos abordados será a respeito do exame físico. É importante reforçar que o conhecimento sobre o processo de envelhecimento e as características da sarcopenia podem complementar a conduta do nutricionista. Por isso, outros temas serão abordados, incluindo triagem nutricional, avaliação do risco nutricional, avaliação funcional e o impacto da desnutrição em âmbito hospitalar. Acreditamos que os profissionais precisam conhecer o processo do cuidado nutricional, principalmente as etapas de avaliação e diagnóstico nutricional, para que, na continuidade das disciplinas direcionadas à nutrição clínica, você esteja apto a calcular as necessidades nutricionais e elaborar corretamente um planejamento alimentar, não esquecendo de reavaliar as condutas sempre que necessário. Desejamos uma ótima leitura! Prof.a Caroline Pappiani IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL .....................................................1 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ......................................................3 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3 2 ESTADO NUTRICIONAL E SUAS DIMENSÕES...........................................................................3 3 MÉTODOS DIRETOS E INDIRETOS.......................................................................................6 4 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL .............................................................................9 5 DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE ...........................................................................10 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................16 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................17 TÓPICO 2 – AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR ............................................................19 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................19 2 INQUÉRITOS ALIMENTARES .........................................................................................................19 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E INADEQUAÇÃO DE NUTRIENTES ...............................................30 4 SURGIMENTO DAS RECOMENDAÇÕES DE NUTRIENTES .................................................31 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................34 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................35 TÓPICO 3 – AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL .......................................................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................37 2 ANTROPOMETRIA .............................................................................................................................37 3 EQUAÇÕES PREDITIVAS .................................................................................................................41 4 IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA ..........................................................................................................44 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................46 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................48 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................49 UNIDADE 2 – AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA .....................................51 TÓPICO 1 – ADULTOS ..........................................................................................................................531 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................53 2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA POPULAÇÃO BRASILEIRA .............................................53 3 COMPOSIÇÃO CORPORAL .............................................................................................................57 4 INTRODUÇÃO AOS EXAMES LABORATORIAIS......................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................66 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................67 TÓPICO 2 – GESTANTE ........................................................................................................................69 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69 2 ASPECTOS FISIOLÓGICOS E NUTRICIONAIS .........................................................................69 3 COMPOSIÇÃO CORPORAL .............................................................................................................72 4 INTRODUÇÃO À DIABETES GESTACIONAL E HIPERTENSÃO GESTACIONAL ..........76 sumário VIII 5 INTRODUÇÃO À LACTAÇÃO E AO ALEITAMENTO MATERNO ........................................78 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................82 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................84 TÓPICO 3 – CRIANÇAS E ADOLESCENTES ...................................................................................87 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87 2 ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS PARA CRIANÇAS .................................................................87 3 CRESCIMENTO E MATURAÇÃO SEXUAL ..................................................................................93 4 ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS PARA ADOLESCENTES .......................................................95 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................96 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................98 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100 UNIDADE 3 – AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO .....................................103 TÓPICO 1 – AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO ..............................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO ...........................................................................................105 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL.........................................................................................................107 4 SARCOPENIA .....................................................................................................................................109 5 TRIAGEM NUTRICIONAL E AVALIAÇÃO FUNCIONAL ......................................................112 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................126 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127 TÓPICO 2 – SEMIOLOGIA .................................................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 CONCEITO ..........................................................................................................................................129 3 ANEMIA E DESIDRATAÇÃO .........................................................................................................131 4 DESNUTRIÇÃO E EDEMA ..............................................................................................................132 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 TÓPICO 3 – HOSPITALIZADOS .......................................................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 DESNUTRIÇÃO .................................................................................................................................141 3 AVALIAÇÃO DO RISCO NUTRICIONAL ...................................................................................143 4 ANTROPOMETRIA ...........................................................................................................................146 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................154 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................157 1 UNIDADE 1 INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o conceito de estado nutricional; • diferenciar os métodos diretos e indiretos do processo de avaliação nutricional; • distinguir os modelos de determinantes sociais de saúde; • identificar os inquéritos alimentares; • caracterizar os procedimentos de avaliação da composição corporal. Esta unidade de estudos encontra-se dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL TÓPICO 2 – AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR TÓPICO 3 – AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabe o que é estado nutricional? Sabe quais são os diferentes conceitos e a importância desse indicador de saúde e qualidade de vida? É interessante falar a respeito da condição de saúde do indivíduo, não é mesmo? Portanto, no Tópico 1, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto se tratando da introdução do processo de avaliação nutricional. Destacaremos a evolução e construção do conceito de estado nutricional. Em seguida, falaremos sobre os métodos diretos e indiretos da avaliação nutricional e a importância da escolha correta de cada um deles, a depender do objetivo e população estudada. Por fim, abordaremos os determinantes sociais de saúde e seus diferentes modelos que englobam fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentaisque influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Ter conhecimento dos princípios norteadores do processo do cuidado nutricional é importante para a sua trajetória acadêmica. Sabendo identificar a população de estudo, diferenciar os métodos avaliativos e selecionar os procedimentos mais adequados, você poderá aperfeiçoar seu conhecimento técnico, habilidades e competências necessárias para a área de nutrição clínica ambulatorial e hospitalar. 2 ESTADO NUTRICIONAL E SUAS DIMENSÕES O estado nutricional é caracterizado pela condição de saúde de um indivíduo, influenciada pelo consumo e utilização de nutrientes, identificada pela correlação de informações obtidas de estudos físicos, bioquímicos, clínicos e dietéticos (CHRISTAKIS, 1973). Segundo McLaren (1986), é o estado resultante do equilíbrio entre o suprimento de nutrientes e o gasto pelo organismo. Para Dehoog (1998), é considerado o grau no qual as necessidades fisiológicas por nutrientes estão sendo alcançadas. UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 4 No entanto, o conceito de estado nutricional, segundo Vasconcelos (2008), incorpora a dimensão biológica (manifestação biológica sobre o corpo da relação entre o consumo e as necessidades nutricionais) e social (manifestação biológica das relações que se operam sobre o corpo no interior da sociedade), sendo definido como síntese orgânica das relações entre o homem, a natureza e o alimento, as quais se estabelecem no interior de uma sociedade. O estado nutricional é um excelente indicador de saúde e qualidade de vida, espelhando o modelo de desenvolvimento de uma determinada sociedade. Segundo Vasconcelos (2008), o estado nutricional pode ser expresso dentro de três modalidades de manifestações orgânicas entre consumo e necessidade, conforme demonstrado na figura a seguir: • Normalidade nutricional – equilíbrio (adequado). • Carência nutricional – insuficiência / deficiência. • Distúrbio nutricional – inadequado (desequilíbrio ou excesso). FIGURA 1 – DIAGRAMA DA DIMENSÃO BIOLÓGICA DO ESTADO NUTRICIONAL Além da dimensão biológica (relação entre consumo e necessidades nutricionais), o estado nutricional expressa uma dimensão social (grupo, classe social, sociedade), conforme demonstrado na figura a seguir. No capitalismo, o estado nutricional é diferenciado entre as distintas classes sociais. A compreensão do conceito de estado nutricional deve ser buscada a partir da identificação e análise de suas determinações estruturais, particulares e individuais (VASCONCELOS, 2008). FONTE: Vasconcelos (2008, p. 17) TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 5 • Individuais: correspondem aos processos de organização da produção e consumo familiar e individual. • Particulares: correspondem aos processos específicos de organização da produção e consumo de cada grupo socioeconômico ou classe social. • Estruturais: correspondem aos processos mais gerais da organização social (sociedade). FIGURA 2 – DIAGRAMA DA DIMENSÃO SOCIAL DO ESTADO NUTRICIONAL FONTE: Vasconcelos (2008, p. 19) Nível Individual: Determinação Imediata Nível Particular: Determinação Mediata Nível geral ou estrutural: Determinação Básica Processos econômicos, políticos e ideológicos da organização social: desenvolvimento das forças produtivas, relações de produção, formas e conteúdos das instituições políticas (Estado e seus aparelhos) e instituições civis Processos relacionados à organização da produção e consumo de cada grupo socioeconômico ou classe social os quais definem os diferentes perfis de reprodução social. ESTADO NUTRICIONAL Processos relacionados à organização da produção e consumo individual e familiar: biológicos, ambientais e ecológicos, econômicos, sociais (saúde, educação, cultura e ideologia). Necessidades Nutricionais Consumo Alimentar A construção do conceito de estado nutricional se realiza a partir de estudos em que são coletados dados, medidas ou informações que possibilitem a identificação das variações existentes (VASCONCELOS, 2008). As variações, quando observadas, medidas, quantificadas, qualificadas e classificadas, são expressas a partir de variáveis. Variáveis são categorias de análise que nos possibilitam a descrição das mudanças no estado nutricional de um indivíduo ou de uma população (VASCONCELOS, 2008). UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 6 3 MÉTODOS DIRETOS E INDIRETOS A avaliação nutricional tem como objetivo identificar distúrbios e/ ou riscos nutricionais e traçar condutas que possibilitem a recuperação ou manutenção do estado de saúde. A definição dos métodos a serem utilizados na avaliação tem relação com a identificação das manifestações orgânicas dos problemas nutricionais ao nível do corpo, denominados de métodos diretos, e, com a identificação das causas desses problemas, denominados de indiretos (SAMPAIO, 2012). Os métodos diretos são também classificados de acordo com o tipo de abordagem: objetivos (abordagem quantitativa) e subjetivos (abordagem qualitativa). Objetivos: antropometria, exames laboratoriais. Subjetivos: semiologia, avaliação subjetiva global. Os métodos indiretos buscam identificar os fatores associados, ou seja, que explicam a ocorrência do problema nutricional, além de identificarem indivíduos ou grupos em risco nutricional. Exemplo: demográficos (sexo, faixa etária); socioeconômicos (salário, ocupação, escolaridade, acesso ao serviço de saúde); culturais (tabus alimentares, características locais específicas); estilo de vida (atividade física, hábito de fumar e consumir bebida alcoólica); inquéritos alimentares (R24h – Recordatário de 24h, frequência alimentar) etc. (SAMPAIO, 2012). Acadêmico, não se preocupe! Todos os métodos de avaliação nutricional serão discutidos ao longo da disciplina. NOTA Para a escolha do método a ser utilizado é necessário: • Distinguir uma avaliação para coletividade (pesquisa) de uma avaliação nutricional individual. • Ter conhecimento sobre a validade dos métodos em termos de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico do problema nutricional a ser investigado. • Selecionar aquele que seja adequado a faixa etária e espaço físico. • Avaliar a disponibilidade de instrumentos e equipamentos etc. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 7 Ou seja, a escolha do método utilizado depende do objetivo da avaliação e dos problemas a serem investigados (SAMPAIO, 2012). • Clínica: avaliação nutricional do indivíduo; avaliação nutricional no âmbito da clínica; ação desenvolvida pelo nutricionista no seu processo de trabalho domiciliar; ambulatorial e hospitalar. • Epidemiologia: avaliação de populações ou coletividades; apresenta caráter mais abrangente; aborda a questão com maior ênfase na dimensão social; possibilita o diagnóstico e a explicação dos fatores de determinação para um dado grupo ou população. A epidemiologia estuda a distribuição e os determinantes das doenças na população. A epidemiologia nutricional tem como objetivo medir dietas como um fator de exposição na maior ou menor ocorrência de doenças (KAC; SICHIERY; GIGANTE, 2007). IMPORTANT E A avaliação clínica nutricional (intervenção individual – dimensão biológica): • Parte de processos biológicos (de indivíduos), utiliza os conhecimentos das ciências naturais. • Possibilita a identificação das manifestações (ou variações) orgânicas e a identificação de determinados níveis de relações causais (imediatos e mediatos), mas não possibilita a identificação das relações causais básicas. • Permite intervenções adequadas sobre alguns dos efeitos de processos individuais, mas não atua, de forma eficaz, sobre as causas e sobre os processos sociais. Podemos visualizar a determinação social da fome/desnutrição como ocorrendo com diferentes níveis hierárquicos de causação: • Básicas: organização social da produção (capitalismo) e relações de produção (divisão social trabalhista pela qual alguns mestres-artesãospassaram a ter a propriedade das ferramentas e matérias-primas, levando-os a assalariar pessoas que com seu trabalho produziam as mercadorias). Essas delimitariam as causas mediatas. • Mediatas: acesso à terra, emprego, salário, acesso a alimentos, transporte, água, serviços de saúde, educação. Por sua vez, as causas mediatas delimitariam o espaço de variação das causas imediatas. • Imediatas: ingestão de alimentos, necessidades alimentares e nutricionais e estado de saúde, que se manteriam em equilíbrio dinâmico. E, finalmente, teríamos os sinais e sintomas da fome/desnutrição que surgiriam com o desequilíbrio entre as causas. UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 8 A avaliação clínica nutricional (coletividade – dimensão social): • Parte do geral, do estrutural (da organização social), utiliza os conhecimentos das ciências sociais. • Possibilita a explicação não apenas dos efeitos ou consequências, mas das relações causais básicas dos processos nutricionais. • Permite intervenções adequadas, não apenas relacionadas aos efeitos, mas, sobretudo às causas, uma vez que elas são direcionadas a grupos populacionais ou à população como um todo. A seguir, as figuras demonstram o plano de cuidado nutricional e o processo de avaliação nutricional. FIGURA 3 – PLANO DO CUIDADO NUTRICIONAL FONTE: A autora FIGURA 4 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL FONTE: A autora TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 9 Enquanto o estado nutricional é um dos componentes da condição de saúde do indivíduo e é influenciado pelo consumo e utilização de nutrientes, o diagnóstico nutricional resulta da análise final de todos os métodos adotados de avaliação do estado nutricional; requer do avaliador conhecimento das vantagens e desvantagens de todos os procedimentos empregados (SAMPAIO, 2012). 4 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Valorizar a avaliação do estado nutricional é atitude essencial ao aperfeiçoamento da assistência e da promoção à saúde. O quadro nutricional do país já revela, há mais de 15 anos, mudanças de padrão, indicando a coexistência de desnutrição, sobrepeso e obesidade em todos os segmentos da população (SISVAN, 2011). O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é um valioso instrumento de apoio às ações de promoção da saúde que o Ministério da Saúde oferece aos profissionais da área e aos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) (SISVAN, 2011). O SISVAN é composto por indicadores de consumo, antropométricos e bioquímicos, com o objetivo de avaliar e monitorar o estado nutricional da população brasileira, para obter o diagnóstico precoce dos possíveis desvios nutricionais (seja baixo peso ou sobrepeso/obesidade), contribuindo para que se conheça a natureza e a magnitude desses problemas, identificando áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais (SISVAN, 2011). Todas as pessoas têm direito a uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente. A alimentação adequada e saudável deve ser baseada em práticas alimentares promotoras da saúde, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Deve também ser produzida de forma sustentável, garantindo a proteção ao meio ambiente, à justiça social e o direito à terra e ao território. Esse é um direito de todas as pessoas residentes no Brasil, nascidas ou não aqui, respeitando as dimensões socioculturais e regionais, a agro biodiversidade, a ancestralidade negra e indígena, a africanidade e as tradições de todos os povos e comunidades tradicionais e todas as identidades e culturas alimentares, as quais são patrimônio imaterial da nação brasileira (CONSEA, 2017). A alimentação é um direito no Brasil. A garantia de uma alimentação adequada e saudável é condição fundamental para uma vida digna e para o bem-estar coletivo. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (CONSEA, 2017). UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 10 A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (CONSEA, 2010). Segurança alimentar é o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais (BRASIL, 2010). Insegurança alimentar leve reflete a instabilidade quanto ao acesso a alimentos no futuro. A qualidade é comprometida visando à quantidade de alimentos, ou seja, existe preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição, devido à falta de recursos para adquirir alimentos (BRASIL, 2010). Insegurança alimentar moderada reflete a redução quantitativa de alimentos e ruptura dos padrões dietéticos adequados decorrentes da indisponibilidade de alimentos (restrição alimentar) entre indivíduos adultos (BRASIL, 2010). Insegurança alimentar grave reflete a redução quantitativa de alimentos e ruptura dos padrões dietéticos adequados decorrentes da indisponibilidade de alimentos entre crianças, ou seja, há presença de fome (BRASIL, 2010). No Brasil, em 2004, aproximadamente 35% dos domicílios registraram algum grau de insegurança alimentar, sendo 18% leve, 10% moderada e 7% grave. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que esse percentual caiu para 30,2% em 2009 e 22,6% em 2013. Acadêmico, lembra que você aprendeu também sobre esse conteúdo na disciplina de Introdução à Nutrição? Agora você pode aperfeiçoar ainda mais! IMPORTANT E 5 DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE Para a comissão da Organização Mundial da Saúde (OMS), os determinantes sociais de saúde são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham (BUSS; FILHO, 2007). Os determinantes sociais de saúde são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 11 FIGURA 5 – RELAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DE INDIVÍDUOS E GRUPOS DA POPULAÇÃO COM A SITUAÇÃO DE SAÚDE FONTE: <https://www.ecodebate.com.br/2014/12/19/pnad-2013-inseguranca-alimentar- nos-domicilios-cai-de-302-em-2009-para-226-em-2013/>. Acesso em: 7 set. 2019. que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (moradia, alimentação, emprego, renda e escolaridade) (BUSS; FILHO, 2007). O consenso sobre a importância dos determinantes sociais de saúde na situação de saúde foi sendo construído ao longo da história: • No Século XIX predominava a teoria miasmática, que conseguia responder a importantes mudanças sociais e práticas de saúde observadas no âmbito dos novos processos de urbanização e industrialização ocorridos naquele momento histórico. • Com o passar do tempo, estudos sobre a contaminação da água e dos alimentos e também sobre riscos ocupacionais, trouxeram importante reforço para as ações de saúde pública. Para o cientista Virchow, “a ciência médica é essencialmente uma ciência social”, “as condições econômicas e sociais exercem um efeito importante sobre a saúde e a doença” e que tais relações devem ser submetidas à pesquisa científica (BUSS; FILHO, 2007, p. 78). Nas últimas décadas do Século XIX, com o trabalho de bacteriologistas como Koch e Pasteur, afirma-se um novo paradigma para a explicação do processo saúde-doença (BUSS; FILHO, 2007). A história da criação da primeira escola de saúde pública nos Estados Unidos, na Johns Hopkins University, é um interessante exemplo do processo de afirmaçãoda hegemonia desse “paradigma bacteriológico” (BUSS; FILHO, 2007). A seguir, a figura retrata a relação entre as condições de vida e trabalho da população com a situação de saúde. UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 12 Deve a saúde pública tratar do estudo de doenças específicas como um ramo especializado da Medicina, baseando-se fundamentalmente na microbiologia e nos sucessos da teoria dos germes ou deve centrar-se no estudo da influência das condições sociais, econômicas e ambientais na saúde dos indivíduos? A saúde e a doença devem ser pesquisadas no laboratório, com o estudo biológico dos organismos infecciosos, ou nas casas, nas fábricas e nos campos, buscando conhecer as condições de vida e os hábitos de seus hospedeiros? O conflito entre saúde pública e Medicina e entre os enfoques biológico e social do processo saúde-doença estiveram no centro do debate sobre a configuração desse novo campo de conhecimento (BUSS; FILHO, 2007). Ao final desse processo, Hopkins foi escolhida pela excelência de sua Escola de Medicina, de seu hospital e de seu corpo de pesquisadores (meados da Década de 1920) (BUSS; FILHO, 2007). Essa decisão representou o conceito da saúde pública orientada ao controle de doenças específicas, fundamentada no conhecimento científico e contribuiu para estreitar o foco da saúde pública, que passa a distanciar-se das questões políticas e dos esforços por reformas sociais e sanitárias (BUSS; FILHO, 2007). Apesar do enfoque médico biológico em detrimento dos enfoques sociopolíticos e ambientais, observou-se, ao longo do Século XX, uma tensão entre essas diversas abordagens (BUSS; FILHO, 2007). A definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, inserida na Constituição da OMS no momento de sua fundação, em 1948, é uma clara expressão de uma concepção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença (BUSS; FILHO, 2007). E, na Década de 1990, com o debate sobre as Metas do Milênio, novamente dá-se lugar a uma ênfase nos DSS que se afirma com a criação da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde da OMS, em 2005 (BUSS; FILHO, 2007). A criação da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde tem como objetivo promover uma tomada de consciência sobre a importância dos determinantes sociais na situação de saúde de indivíduos e populações e sobre a necessidade do combate às iniquidades de saúde por eles geradas (BUSS; FILHO, 2007). As atividades da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde têm como referência o conceito de saúde, tal como concebe a OMS – “um estado de completo bem-estar físico, mental e social”, e de reconhecer a saúde como um “direito de todos e dever do Estado” (artigo 196 da Constituição brasileira de 1988) (BUSS; FILHO, 2007). TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 13 Objetivos da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde: • Produzir conhecimentos e informações sobre os Determinantes Sociais da Saúde no Brasil. • Apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da equidade em saúde. • Promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os Determinantes Sociais da Saúde. Compromissos da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde: • Compromisso com a ação: apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às iniquidades de saúde geradas pelos Determinantes Sociais da Saúde. • Compromisso com a equidade: compromisso ético e uma posição política que orienta as ações da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde para assegurar o direito universal à saúde. • Compromisso com a evidência: recomendações fundamentadas em evidências científicas, que permitam entender como operam os determinantes sociais na geração das iniquidades em saúde, como e onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência. Os modelos de Determinantes Sociais da Saúde permitem identificar pontos para intervenções de políticas, no sentido de minimizar os diferenciais originados pela posição social dos indivíduos e grupos; e sobre os diferenciais de exposição, vulnerabilidade e de suas consequências (BUSS; FILHO, 2007). • Modelo de Dahlgren e Whitehead: Determinantes Sociais da Saúde dispostos em diferentes camadas: desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada mais distante, onde se situam os macrodeterminantes. ◦ Determinantes proximais: os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais (idade, sexo e fatores genéticos) que exercem influência sobre suas condições de saúde. Na camada seguinte aparecem o comportamento e os estilos de vida, no limiar entre os fatores individuais e os Determinantes Sociais da Saúde. ◦ A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social (política de cooperação) que é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. ◦ Determinantes intermediários: no próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social apresentam diferenciais de exposição e de vulnerabilidade aos riscos à saúde. UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 14 ◦ No último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas. Apesar da facilidade da visualização gráfica dos DSS (Determinantes Sociais da Saúde) e sua distribuição em camadas, segundo seu nível de abrangência, o modelo não pretende explicar com detalhes as relações e mediações entre os diversos níveis e a origem das iniquidades (BUSS; FILHO, 2007). Esse modelo enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde (BUSS; FILHO, 2007). FIGURA 6 – MODELO DE DAHLGREN E WHITEHEAD FONTE: Carvalho (2013, p. 84) • Modelo de Diderichsen e Hallqvist: modelo que enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais, por sua vez, provocam diferenciais de saúde. Os elementos estruturantes determinam e condicionam as posições ou estratos sociais: ◦ Cada indivíduo ocupa determinada posição social como resultado de diversos mecanismos sociais (sistema educacional, ocupação, renda) (I). ◦ Esses elementos influenciam os diferenciais de exposição e vulnerabilidade aos riscos que causam danos à saúde (II). ◦ Levando à ocorrência de doenças (III). ◦ Consequências sociais ou físicas (estado de saúde) (IV). ◦ Consequências sociais: o impacto que a doença pode ter sobre a situação socioeconômica do indivíduo e sua família. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 15 FIGURA 7 – MODELO DE DIDERICHSEN E HALLQVIST FONTE: Buss e Filho (2007, p. 85) Segundo Brêtas e Gamba (2006), por mais que se pense sobre a saúde na dimensão do coletivo, é o ser humano que adoece e como tal requer cuidados. Trabalhar com as condições de vida impostas requer um trabalho interdisciplinar e intersetorial. A área da saúde sozinha não consegue assegurar qualidade de vida e, consequentemente, de saúde (o comprometimento da integridade ecológica dos ecossistemas ambientais naturais, incluindo os efeitos das mudanças climáticas, têm profundas implicações). É na esfera da ética que compreenderemos a necessidade do empenho de parte significativa da sociedade para assegurar a dignidade da vida humana. Acadêmico, indicamos o artigo Determinante da saúde no Brasil: a procura da equidade na saúde, disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v26n3/0104-1290-sausoc-26-03-00676.pdf. DICAS Contexto social Contexto das políticas Posição social Exposição específica Doença ou acidente Consequências sociais ou mau estado de saúde 16 Neste tópico, você aprendeu que: • O estado nutricional reflete o equilíbrio entre o suprimento de nutrientes e o gasto pelo organismo e pode ser expresso em: normalidade nutricional, carência nutricional e distúrbio nutricional. • A avaliação nutricional tem como objetivo identificar riscos nutricionais e traçar condutas que possibilitem a recuperação ou manutenção do estado de saúde do indivíduo. • Os métodos podem ser direto ou indiretos, sendo os diretos classificados em objetivos e subjetivos. • A segurança alimentar e nutricional é o direito de todos a uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente. • Os determinantes sociais de saúde são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. • No modelo de Dahlgren e Whitehead, os determinantes sociais de saúde estão dispostos em diferentes camadas. • O modelo de Diderichsen e Hallqvist enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos, posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 “Direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis” (BRASIL, 2010). Assinale a alternativa que corresponde a esse conceito: FONTE: BRASIL. A segurança alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada no Brasil. Brasília: CONSEA, 2010. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/ consea/publicacoes/seguranca-alimentar-e-nutricional/a-seguranca-alimentar-e-nutricional- e-o-direito-humano-a-alimentacao-adequada-no-brasil-indicadores-e-monitoramento/ relatorio-consea.pdf. Acesso em: 27 jan. 2020. a) ( ) Alimentação saudável. b) ( ) Segurança alimentar e nutricional. c) ( ) Padrão alimentar. d) ( ) Guia alimentar. e) ( ) Pirâmide alimentar. 2 Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), DSS são os seguintes fatores que influenciam a ocorrência de problemas de saúde: a) ( ) habitacionais, econômicos, ambientais, étnicos/raciais, psicológicos e educacionais. b) ( ) sociais, ambientais, culturais, étnicos/raciais, ergométricos e educacionais. c) ( ) sociais, econômicos, ambientais, étnicos/raciais, ergométricos e comportamentais. d) ( ) habitacionais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e educacionais. e) ( ) sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais. 3 A história clínica de muitas pessoas atendidas nos serviços de saúde revela condições de vida que afetam o bem-estar e a saúde. Considerando essa informação e com base nos determinantes sociais da saúde, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O processo saúde-doença deve ser entendido como a relação entre as condições biológicas e psicológicas e exclui a necessidade de abordar o contexto social. b) ( ) As condições de trabalho, a estrutura das redes sociais e comunitárias, o estilo de vida dos indivíduos, a idade, o sexo e os aspectos hereditários são alguns dos fatores que exemplificam determinantes sociais da saúde. AUTOATIVIDADE 18 c) ( ) O impacto que a doença pode ter sobre a situação socioeconômica do indivíduo e da respectiva família compõe um contexto diferente do relativo à análise dos determinantes sociais da saúde. d) ( ) Políticas públicas de abrangência populacional, que promovem mudanças de hábitos, interferem apenas na saúde do indivíduo, sem qualquer importância para alterações nos determinantes sociais da saúde. e) ( ) Diminuir a exposição a riscos é a forma mais eficaz para alterar os determinantes sociais da saúde. 19 TÓPICO 2 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que analisar o consumo alimentar é uma etapa fundamental da avaliação nutricional? Você sabe como deve ser feito? Quais são os procedimentos e instrumentos utilizados? É muito importante que você saiba selecionar os questionários de acordo com a população estudada. Por isso, no Tópico 2, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando dos inquéritos alimentares. Abordaremos as vantagens e desvantagens de cada um deles, bem como compreenderemos que conhecer o consumo dietético é indispensável na prática clínica nutricional. Em seguida, falaremos sobre os possíveis erros de medida na aplicação desses inquéritos alimentares e o que fazer para evitá-los. Por fim, abordaremos o surgimento das recomendações para ingestão de nutrientes até sua evolução para a ingestão dietética de referência e seus quatro valores de referência. Ter conhecimento sobre as relações entre o consumo de alimento e as condições de saúde é fundamental para a sua trajetória acadêmica. Aprender a identificar e utilizar corretamente os inquéritos alimentares, seja para indivíduos e/ou grupos, poderá te auxiliar no crescimento profissional, bem como aperfeiçoar os conhecimentos necessários para a área de nutrição clínica. 2 INQUÉRITOS ALIMENTARES O estado nutricional de um indivíduo é resultado da relação entre o consumo de alimentos e as necessidades nutricionais. Assim, no contexto da prática clínica, podem ser estabelecidos três diferentes objetivos para avaliação do consumo alimentar: • Quantificar a ingestão de nutrientes. • Avaliar o consumo de alimentos ou grupos alimentares. • Avaliar o padrão alimentar individual. O foco principal dos inquéritos dietéticos é constituído pelas relações entre o consumo de alimentos e as condições de saúde de indivíduos e populações. Assim que o consumo alimentar é largamente utilizado para a caracterização UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 20 das condições individuais e coletivas de alimentação e nutrição, ou seja, como um instrumento indireto de diagnóstico nutricional e, além disso, em pesquisas direcionadas à investigação do papel da dieta na determinação do processo saúde-doença (LEITE, 2007). Segundo Sampaio (2012), conhecer o consumo dietético é indispensável para: • Estudar a relação entre alimentação e doença, investigando a participação dos nutrientes na manutenção da saúde e, consequentemente, na prevenção de morbidades. • Identificar indivíduos ou grupos em risco nutricional (vigilância alimentar). • Avaliar a ingestão alimentar de forma qualitativa e/ou quantitativa. • Direcionar a prescrição dietética, avaliando a eficiência da intervenção. • Promover a educação alimentar. • Planejar e avaliar políticas públicas de alimentação e nutrição. Os métodos de avaliação do consumo alimentar são chamados inquéritos alimentares e podem ser classificados em retrospectivos e prospectivos. Os inquéritos alimentares retrospectivos são baseados em informações do passado, como o questionário de frequência alimentar (QFA) e recordatório de 24h (R24h), enquanto os prospectivos são baseados em informações do presente, como o registro ou diário alimentar (SAMPAIO, 2012). Em uma pesquisa, é de extrema importância, antes da aplicação do inquérito alimentar, que o entrevistador se apresente explicando os objetivos da entrevista e informando ao entrevistado a duração média, esclareça que todos os dados coletados são de ordem confidencial e exponha ao entrevistado o direito a não participação, sem qualquer prejuízo. Os entrevistadores deverão estar treinados e com amplo conhecimento dos hábitos e costumes da comunidade em estudo, assim como dos alimentos e modo de prepará-los. Para auxiliar na quantificação do tamanho e volume das porções consumidas, deve ser utilizado material de suporte com registros fotográficos. O entrevistadordeverá estabelecer um canal de comunicação em que se obtenha a informação por meio de um diálogo agradável, uma vez que a qualidade da informação dependerá da memória e da cooperação do entrevistado. Respostas precisas e não tendenciosas exigem respeito e atitude neutra diante de hábitos e consumo de alimentos do entrevistado. Para tanto, o entrevistador deverá evitar expressar sentimentos de surpresa, tristeza ou decepção, o que poderia induzir o entrevistado a subestimar ou superestimar a quantidade de alimentos, dependendo da reação que ele observe (SAMPAIO, 2012). O R24h representado na figura a seguir é o inquérito mais empregado no Brasil e no mundo, para indivíduos e populações. Esse inquérito descreve e quantifica todos os alimentos e bebidas consumidos nas 24 horas prévias ou no dia anterior, sendo que a entrevista pode ser feita pessoalmente ou por TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 21 telefone. Ele reflete a dieta atual, sendo muito importante o detalhamento das informações (forma de cocção, marcas, integral). Para explicar as porções, é necessário o auxílio de um álbum fotográfico ou réplicas de alimentos e utensílios domésticos. Além disso, é essencial verificar se o consumo daquele dia não foi atípico (SAMPAIO, 2012). Vantagens: • Fácil e rápido aplicação. • Baixo custo. • Quando realizado em série, fornece estimativas da ingestão usual do indivíduo. • Não altera a dieta usual. • Pode ser utilizado em grupos de baixo nível de escolaridade. • Pode ser utilizado em qualquer faixa etária. • Pode estimar o valor calórico total da dieta e a ingestão de macronutrientes. Desvantagens: • Depende da memória do entrevistado. • Requer treinamento do investigador para evitar indução das respostas. • A ingestão prévia das últimas 24 horas pode ter sido atípica. • Bebidas e lanches tendem a ser omitidos. • Não fornece dados quantitativos precisos sobre a ingestão de micronutrientes. • Não reflete as diferenças de dia de semana e final de semana. • Pode ocorrer sub ou superestimação. QUADRO 1 – RECORDATÓRIO DE 24H FONTE: A autora NOME:_____________________________________________________________ DATA: __/__/__ DIA DA SEMANA: ( ) dom. ( ) seg. ( ) ter. ( ) qua. ( ) qui. ( ) sex. ( ) sáb. Horário e Local Alimentos ou Preparações Quantidade Marca Comercial Observação Entrevistador: _________________ Tempo da entrevista: ___________ UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 22 O QFA representado na figura a seguir é um inquérito no qual o indivíduo registra ou relata seu consumo alimentar baseado em uma lista de alimentos, sendo necessário uma lista com maior número possível de alimentos. A frequência de consumo pode ser diária, semanal, quinzenal, mensal, anual ou esporádica, incluindo informações qualitativas e quantitativas. É um método simples, econômico e capaz de distinguir os diferentes padrões de consumo entre os indivíduos e estimar a ingestão habitual. No entanto, é importante um rigor metodológico na elaboração (SAMPAIO, 2012). Vantagens: • Pode ser aplicado em estudos epidemiológicos. • Pode ser auto administrado ou utilizado por outros profissionais. • Baixo custo. • Simples e rápido. • Gera resultados padronizados. • Não altera padrão de consumo. • Pode ser utilizado para associação de alimentos ou nutrientes específicos com alguma doença. Desvantagens: • Limitações em analfabetos e idosos quando auto administrado. • Não fornece informações sobre a quantidade consumida. • Não é possível saber sobre a hora ou circunstância de consumo. • Pode ocorrer subestimação caso o alimento não esteja presente na lista pré- definida. TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 23 QUADRO 2 – QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR "Agora vamos falar sobre a sua alimentação habitual dos últimos 12 meses. Gostaríamos de saber o que o(a) Sr(a) come e bebe por dia, por semana ou por mês, como está nesse cartão. [Apresente o cartão DIE 01] Vou ler alimento por alimento. Diga quais o(a) Sr(a) come ou bebe e em que quantidade. Para auxiliar na quantificação dos alimentos e bebidas, vamos utilizar esses utensílios. [Apresente os utensílios]. Podemos começar? "Vou iniciar listando os alimentos do GRUPO dos PÃES, CEREAIS E TUBÉRCULOS. Por favor, reflita sobre seu consu- mo habitual dos últimos 12 meses" "Com que frequência o(a) Sr(a) come ou bebe [diga o nome do alimento]? Se não especificar frequência, pergunte: "Quantas vezes por dia, semana ou mês?". "E quantas [diga a medida caseira correspondente, mostrando o utensílio] o(a) Sr(a) come ou bebe?. Repita essas instruções para todos os alimentos. Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 1. Arroz ( ) Integral( ) Branco ______________ Colher de serir 2. Aveia/Granola/Farelos/Outros cereais ______________ Colher sopa cheia 3. Farofa/Cuscuz salgado/Cuscuz paulista ______________ Colher sopa cheia 4. Farinha de mandioca/Farinha de Milho ______________ Colher sopa cheia 5. Pão light (branco ou integral) ______________ Fatia (25g) 6. Pão francês/pão de forma/Pão sírio/Pão torrado ______________ Unidade (50g) 7. Pão doce/Pão Caseiro ______________Unidade média 8. Pão Integral/Centeio ______________Fatia (30g) 9. Pão de queijo ______________Unidade média 10. Bolo simples (sem recheio) ______________Fatia média 11. Bolo recheado/ Torta/Pavê [Cuca] ______________ Fatia média 12. Biscoito salgado (tipo água e sal e outros ______________ Unidade 13. Biscoito doce ( ) com rechieo ( ) sem recheio ______________ Unidade (50g) 14. Polenta/Angu/Pinhão ______________Colher de serir 15. Batata inglesa cozida/ Batata ensopada/ purê ______________ Colher sopa cheia 16. Mandioca [Aipim]/Inhame/Cará, Banana da terra cozida/ Batata doce cozida ______________ Pecaço médio 17. Batata frita/Mandioca Frita/ Banana Frita/Polenta Frita/batata doce frita ______________ Tigela "Agora vou listar os alimentos do GRUPO das FRUTAS. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses, excluindo suco de frutas, frutas secas e em calda" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 18. Laranja/Mexerica/Tangerina/ Pokan [Bergamota] ______________ Unidade média 19. Banana ______________Unidade média 20. Mamão/Papaia ______________Unidade média 21. Maçã/Pêra ______________Unidade média 22. Melancia ______________Fatia média UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 24 23. Melão ______________Fatia média 24. Abacaxi ______________Fatia média 25. Abacate ______________Unidade média 26. Manga ______________Fatia média 27. Uva ______________Unidade 28. Goiaba ______________Unidade média 29. Morango ______________Unidade 30. Pêssego/Ameixa/Kiwi/Caju/Cajá/ Nectarina ______________ Unidade média 31. Caqui/Jaca/Pinha/Fruta do conde ______________Unidade média 32. Salada de frutas ( ) com açúcar ou complementos ( ) sem açúcar ou complementos ______________ Tigela "Agora vou listar os alimentos do GRUPO das VERDURAS, LEGUMES E LEGUMINOSAS. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 33. Alface ______________Pegador cheio 34. Couve/espinafre refogado ______________Colher sopa cheia 35. repolho ______________Pegador cheio 36. Chicória/Agrião/Rúcula/Couve crua/Almeirão/Escarola/Acelga crua/Espinafre cru ______________ Pegador cheio 37. Tomate ______________Rodela média 38. Abóbora [moranga] ______________Colher sopa cheia 39. Abobrinha (italiana)/Chuchu/ Berinjela ______________ Colher sopa cheia 40. Vagem ______________Colher sopa cheia41. Quiabo ______________Colher sopa cheia 42. Cebola Anote só a frequência 43. Alho 44. Cenoura ______________Colher sopa cheia 45. Beterraba ______________Rodela média 46. Couve-flor ______________Ramo médio 47. Brócolis ______________Ramo médio 48. Milho Verde ______________Colher sopa cheia 49. Feijão (preto, vermelho, branco, de corda, etc) ______________ Concha cheia 50. Feijoada/Feijão tropeiro ______________Concha cheia 51. Lentilha/Grão de bico/Ervilha ______________Concha cheia 52. Nozes/Castanha de caju/ Castanha do Pará/Amendoim/ Amêndoas/Pistache ______________ Punhado TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 25 "Agora vou listar os alimentos do GRUPO dos OVOS, CARNES, LEITE E DERIVADOS. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 53. Ovo cozido/Pochê ______________Unidade 54. Ovo frito/omelete/mexido ______________Unidade 55. Maionese ( ) light( ) comum ______________ Colher sopa cheia 56. Leite ( ) desnatado( ) semi-desnatado ______________ Copo de requeijão 57. Iogurte ( ) light( ) comum ______________ Unidade média 58. Queijos Brancos (Minas frescal/ Ricota/Cottage/muçarela de búfala) ______________ Fatia média 59. Queijos Amarelos (Minas padrão/ Muçarela/Prato/Cheddar/ Canastra processada tipo polenghi, etc.) ______________ Fatia média 60. Requeijão ( ) light( ) comum ______________ Colher sopa cheia 61. Margarina/creme vegetal ______________Ponta de faca 62. Manteiga ______________Ponta de faca 63. Fígado/Miúdos ______________Bife médio 64. Bucho/dobradinha ______________Concha cheia 65. Carne de boi com osso (Mocotó/ Costela/Rabo) ______________ Pedaço médio 66. Carne de boi sem osso (bife, carne moída, carne ensopada) ______________ Bife médio 67. Carne de porco ______________Pedaço médio 68. Peito de frango/Chester/Peru/etc ______________Filé de peito médio 69. Frango frito (Outras partes) ______________Pedaço médio 70. Frango cozido (Outras partes) ______________Pedaço médio 71. Linguiça/Chouriço [Salsichão] ______________Unidade 72. Hambúrguer (bife) ______________Unidade média 73. Frios light (blanquet/Peito de peru/Peito de chester) ______________ Fatia média 74. Presunto/Mortadela/Copa/ Salame/Patê/etc ______________ Fatia média 75. Bacon/Toucinho/Torresmo ______________Fatia média 76. Peixe cozido [moqueca capixaba]/ peixe assado/ensopado/grelhado ______________ Posta média 77. Peixe frito ______________Filé médio 78. Sardinha/Atum ______________Lata 79. Camarão/mariscos ______________Colher sopa cheia 80. Caranguejo/Siri ______________Unidade média UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 26 "Agora vou listar os alimentos do GRUPO das MASSAS E OUTRAS PREPARAÇÕES. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 81. Pizza ______________Fatia 82. Macarrão (caneloni, lasanha, ravioli, [tortei]) ______________ Escumadeira cheia 83. Macarrão instantâneo ______________Pacote 84. Salgados assados (Esfirra/Empada/Empanada/ Pastel de forno/etc) ______________ Unidade média 85. Salgados fritos (quibe/pastel/ coxinha) ______________ Unidade média 86. Acarajé ______________Unidade média 87. Cachorro-quente ______________Unidade média 88. Pipoca ______________Saco médio 89. Estrogonofe ______________Colher de servir 90. Comida baiana ( ) Vatapá ( ) Caruru ( ) Moqueca de peixe ______________ Colher de servir 91. Comida japonesa ( ) Sushi ( ) Sashimi, tofu ( ) Yakisoba ______________ Tijela cheia 92. Sopa de legumes ______________Concha cheia 93. Sopa instantânea ______________Concha cheia "Agora vou listar os DOCES. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 94. Sorvete cremoso ______________Bola média 95. Picolé de frutas ______________Unidade 96. Caramelo/Bala ______________Unidade 97. Gelatina ______________Tigela 98. Chocolate em pó/Achocolatado em pó/Capuccino ______________ Colher de sobremesa cheia 99. Chocolate em barra/Bombom, Brigadeiro [Negrinho], Doce de leite/Docinho de festa ______________ Bombom (20g) 100. Pudim/Doce à base de leite/ Mousse ______________ Colher sopa cheia 101. Doce de fruta [chimia], Geléia ______________Colher sopa cheia 102. Mel/Melado ______________Colher sopa cheia 103. Barra de cereais ______________Unidade TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 27 "Agora vou listar os DOCES. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 94. Sorvete cremoso ______________Bola média 95. Picolé de frutas ______________Unidade 96. Caramelo/Bala ______________Unidade 97. Gelatina ______________Tigela 98. Chocolate em pó/Achocolatado em pó/Capuccino ______________ Colher de sobremesa cheia 99. Chocolate em barra/Bombom, Brigadeiro [Negrinho], Doce de leite/Docinho de festa ______________ Bombom (20g) 100. Pudim/Doce à base de leite/ Mousse ______________ Colher sopa cheia 101. Doce de fruta [chimia], Geléia ______________Colher sopa cheia 102. Mel/Melado ______________Colher sopa cheia 103. Barra de cereais ______________Unidade "Agora vou listar as BEBIDAS. Por favor, refira seu consumo habitual dos últimos 12 meses" Alimento Quantidade consumida por vez Mais de 3x/dia 2 a 3x/ dia 1x/dia 5 a 6x semana 2 a 4x semana 1x semana 1 a 3x/ mês Nunca/ quase nunca Referiu consumo sazonal 104. Refrigerante ( ) Diet/Light( ) normal ______________ Copo de requeijão 105. Café ( ) com açúcar ( ) sem açúcar ( ) com adoçante ______________ Xícara de café 106. Suco natural ( ) com açúcar ( ) sem açúcar ( ) com adoçante ______________ Copo de requeijão 107. Suco industrializado ( ) com açúcar ( ) sem açúcar ( ) com adoçante ______________ Copo de requeijão 108. Suco artificial ( ) com açúcar ( ) sem açúcar ( ) com adoçante ______________ Copo de requeijão 109. Chá/mate ( ) com açúcar ( ) sem açúcar ( ) com adoçante ______________ Xícara de chá 110. Chimarrão ______________Garrafa térmica 111. Cerveja ______________Copo americano 112. Vinho ( ) Tinto( ) Branco ______________ Taça 113. Bebidas alcóolicas, destiladas (cachaça, whisky, vodka) ______________ Dose 114. Água de Coco ______________Unidade [coco] FONTE: Mannato (2013, p. 78-87) UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 28 O diário ou registro alimentar reflete a ingestão atual. Pode ser feito de três, cinco ou sete dias com anotação da porção do alimento consumido em medidas caseiras (estimado) ou pesagem em balança, sendo o registro no momento do consumo de todos os alimentos e bebidas (SAMPAIO, 2012). Vantagens: • Não depende da memória, pois os alimentos anotados no momento do consumo. • Maior precisão e exatidão das porções ingeridas. • Identifica tipos de alimentos e preparações consumidos e horários das refeições. Desvantagens: • Tendência a modificar hábitos alimentares. • Requer tempo. • Exige que o indivíduo saiba ler e escrever. • A subestimação é comum. • Exige alto nível de motivação e colaboração. • Apresenta dificuldade para estimar a quantidade ingerida em medidas caseiras. QUADRO 3 – REGISTRO ALIMENTAR NOME:_____________________________________________________________ DATA: __/__/__ DIA DA SEMANA: ( ) dom.( ) seg. ( ) ter. ( ) qua. ( ) qui. ( ) sex. ( ) sáb. Refeição Alimentos ou Preparações Quantidade (peso ou medida caseira) Marca Comercial Observação Horário Local FONTE: A autora TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 29 Não existe padrão-ouro, todos os inquéritos possuem vantagens e desvantagens. Por isso, o inquérito deve ser escolhido de acordo com a situação e os objetivos, levando em consideração a escolaridade, o tempo disponível e o nível socioeconômico (SAMPAIO, 2012). Alguns possíveis erros de medida na aplicação de inquéritos alimentares são: • Memória do entrevistado. • Treinamento do entrevistador. • Fatores comportamentais (entrevistado e entrevistador). • Escolha inadequada do método/instrumento utilizado. Existem algumas estratégias para minimizar esses erros: • Motivação: despertar o interesse do entrevistado, estabelecer uma boa relação. • Treinar/capacitar o entrevistador. • Quantificar ingestão com o uso de tabelas e softwares confiáveis e atuais. FIGURA 8 – CICLO MULTIDIRECIONAL DE FONTES DE ERRO NA APLICAÇÃO DE INQUÉRITOS ALIMENTARES FONTE: A autora Entrevistado Escolha do inquérito alimentar Entrevistador Acadêmico, na aula prática você poderá aplicar os inquéritos para melhor compreensão do conteúdo teórico! DICAS UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 30 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E INADEQUAÇÃO DE NUTRIENTES Políticas públicas de fortificação de alimentos são essenciais para intervir na prevalência de inadequação de nutrientes. O folato, por exemplo, é um nutriente extremamente importante na prevenção de malformações do sistema nervoso central, sendo comum a baixa ingestão pela população feminina. Nesse sentido, em 2004, a política pública de fortificação de alimentos tornou obrigatória a adição de ferro e ácido fólico nas farinhas de milho e trigo no Brasil, apresentando um impacto significativo na comparação antes e depois da fortificação. GRÁFICO 1 – PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DE FOLATO ANTES E DEPOIS DA FORTIFICAÇÃO FONTE: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/ eventos/05apresentacao05.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2019. A alimentação no Brasil vem se configurando como sendo de alta densidade energética, elevado conteúdo de açúcares e sódio e baixo teor de fibras e micronutrientes. Dessa forma, nossa dieta constitui importante fator de risco para o aumento da prevalência de obesidade e de doenças crônicas não transmissíveis (MONTEIRO et al., 2017). Dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) mostram que, entre 2002-2003 e 2008-2009, a participação de biscoitos, refrigerantes e refeições prontas na disponibilidade de energia no domicílio aumentou em 10%, 16% e 40%, respectivamente. Estudos que avaliam o consumo alimentar durante os dias da semana relatam que o consumo alimentar nos finais de semana apresenta pior qualidade nutricional do que nos dias de semana, por maior consumo de refrigerantes e outras bebidas açucaradas, bebidas alcoólicas e gorduras, o que pode levar ao balanço energético positivo e favorecer o ganho de peso (MONTEIRO et al., 2017). TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 31 4 SURGIMENTO DAS RECOMENDAÇÕES DE NUTRIENTES Em 1941, o Food and Nutrition Board definiu as RDAs (Recommended Dietary Allowance) para a população dos Estados Unidos, cujo objetivo era servir de meta para a boa nutrição e como um padrão de medida (COZZOLINO, 2009). Da mesma forma, o Canadá estabeleceu a primeira recomendação para ingestão de nutrientes em 1938, como RNIs (Recommended Nutrient Intakes) (COZZOLINO, 2009). Após as duas últimas publicações, pelos Estados Unidos (NRC, 1989) e Canadá (HWC, 1990), os cientistas desses países tiveram a iniciativa de se juntar para revisar as recomendações existentes, tendo finalizado essa tarefa com o estabelecimento das DRIs (Dietary Reference Intakes) (COZZOLINO, 2009). A ingestão dietética de referência (Dietary Reference Intakes – DRIs) considera quatro valores de referência de ingestão de nutrientes: 1- Necessidade média estimada (EAR) 2- Ingestão dietética recomendada (RDA) 3- Ingestão adequada (AI) 4- Limite superior tolerável de ingestão (UL) Necessidade média estimada (EAR) é um valor de ingestão diária de um nutriente que se estima suprir a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis de um grupo de mesmo gênero e estágio de vida (COZZOLINO, 2009). Ingestão dietética recomendada (RDA) é o nível de ingestão dietética diária suficiente para atender às necessidades de um nutriente de praticamente todos (97% a 98%) os indivíduos saudáveis de um determinado grupo de mesmo gênero e estágio de vida (COZZOLINO, 2009). Ingestão adequada (AI) é um valor estimado utilizado quando não há dados suficientes para a determinação da EAR e consequentemente da RDA, níveis de ingestão ajustados (COZZOLINO, 2009). Limite superior tolerável de ingestão (UL) é o valor mais alto de ingestão diária de um nutriente, que aparentemente não oferece risco de efeito adverso à saúde para a maioria dos indivíduos em um determinado estágio de vida ou gênero (COZZOLINO, 2009). As DRIs podem ser utilizadas para avaliação da adequação, inadequação ou excesso de ingestão alimentar de um indivíduo. Assim, para indivíduos, EAR e UL são as categorias de referência mais adequadas para a avaliação de dietas, enquanto RDA deve ser utilizada como meta de ingestão (COZZOLINO, 2009). UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL 32 Acadêmico, na disciplina de Nutrição Humana e Planejamento alimentar nos Ciclos da Vida você conseguirá aplicar os conhecimentos adquiridos na área de planejamento alimentar! ESTUDOS FU TUROS Dando continuidade ao assunto de se avaliar o consumo alimentar, o texto a seguir fala a respeito da finalidade em utilizar as tabelas de recomendações nutricionais por parte de profissionais da área de nutrição. DIETARY REFERENCE INTAKES: APLICABILIDADE DAS TABELAS EM ESTUDOS NUTRICIONAIS Renata Maria Padovani Jaime Amaya-Farfán Fernando Antonio Basile Colugnati Semíramis Martins Álvares Domene Na análise da qualidade nutricional da alimentação e da programação de dietas considera-se o atendimento às necessidades de nutrientes e energia, determinadas de acordo com as características de sexo, estágio de vida, atividade física e medidas corporais de indivíduos saudáveis. Tanto para a avaliação da dieta como para sua prescrição, são estabelecidos valores de referência para ingestão de nutrientes, os quais são periodicamente revisados à luz de novos achados. Assim, são incorporados novos conhecimentos sobre eventuais manifestações aos extremos de exposição, ou seja, sinais carenciais decorrentes de ingestão insuficiente, ou de toxicidade, que indicam efeitos adversos decorrentes do excesso de consumo. As Dietary Reference Intakes (DRI) constituem-se na mais recente revisão dos valores de recomendação de nutrientes e energia adotados pelos Estados Unidos e Canadá, e vêm sendo publicadas desde 1997, na forma de relatórios parciais elaborados por comitês de especialistas organizados por uma parceria entre o Institute of Medicine norte-americano e a agência Health Canada. Essas publicações substituem as sucessivas versões das Recommended Dietary Allowances (RDA), cuja décima revisão foi editada em 1989. Além da atualização de cotas dietéticas recomendadas, esse conjunto de publicações apresenta um novo sistema de aplicação das quatro categorias de valores de referência para avaliação e planejamento de consumo, rotulagem TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 33 e fortificação de alimentos. Os novos conceitos foram elaborados a partir da incorporação dos achados sobre o aumento dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, provocado pela alimentação, além da abordagem clássica sobre os efeitos de carência. Entre as novidades desse sistema não estão apenas as quatro categorias de referência (EAR, RDA, AI, UL). Com as DRI pode-seaprimorar a avaliação e o planejamento da alimentação, ao considerar que, para cada uma dessas etapas da atenção dietética, deve-se aplicar uma ou mais das categorias citadas, de maneiras distintas. Assim, para indivíduos, EAR e UL são as categorias de referência mais adequadas para a avaliação de dietas, enquanto RDA ou AI devem ser utilizadas como metas de ingestão. Valores habituais de consumo abaixo do EAR denotam grande probabilidade de inadequação, e acima do UL, risco de desenvolvimento de efeitos adversos. Contudo, se o consumo habitual estiver acima dos valores da RDA há maior chance de que as necessidades nutricionais, tanto de indivíduos quanto de populações, estejam atendidas. Quando não há valor de EAR e apenas o valor de AI se encontra disponível, há maior incerteza para avaliar se um determinado nutriente é fornecido pela dieta em quantidade adequada. Portanto, pela simples aplicação das tabelas não é possível chegar a uma conclusão sobre inadequação, quando os valores de consumo habitual forem menores do que este valor de referência. Fontes de erro intraindividuais, devido à variabilidade do padrão de consumo, ou interindividuais, decorrentes da distribuição das necessidades na população, aliadas a um pequeno número de dias de observação, têm grande impacto sobre a confiabilidade da análise. A adoção de técnicas adequadas de inquérito dietético, aplicadas duas ou mais vezes, preferencialmente em dias não consecutivos, contribui para melhorar a acurácia de métodos quantitativos de consumo. Outros avanços do sistema incluem a proposição do conceito de estágios da vida, e não mais faixas etárias; a definição de antioxidante alimentar; o emprego do conceito de unidades equivalentes para vitamina E e folato, além da vitamina A. Adicionalmente, houve a inclusão de um maior número de elementos, como arsênico, boro, níquel e vanádio. Para estes, entretanto, a insuficiência das evidências para firmar suas funções sobre a saúde impede, até a presente data, o estabelecimento de níveis de recomendação. FONTE: PADOVANI, R. M. et al. Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr., Campinas, v. 6, n. 19, p. 741-760, nov./dez., 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rn/v19n6/09.pdf. Acesso em: 21 nov. 2019. 34 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os inquéritos alimentares são instrumentos utilizados para avaliar o consumo alimentar, ou seja, as relações entre o consumo de alimentos e as condições de saúde de indivíduos e populações. • Os inquéritos alimentares retrospectivos são baseados em informações do passado, enquanto os prospectivos são baseados em informações do presente. • O R24h descreve e quantifica todos os alimentos e bebidas consumidos nas 24 horas prévias ou no dia anterior. • O QFA é um inquérito no qual o indivíduo registra ou relata seu consumo alimentar baseado em uma lista de alimentos. • O diário ou registro alimentar pode ser feito de 3, 5 ou 7 dias com anotação da porção do alimento consumido ou pesagem em balança. • Todos os inquéritos possuem vantagens e desvantagens e deverá ser escolhido levando em consideração a escolaridade, o tempo disponível e o nível socioeconômico da população estudada. • A ingestão dietética de referência (Dietary Reference Intakes – DRIs) foi criada em conjunto por especialistas dos Estados Unidos e Canadá. • A DRI considera quatro valores de referência: necessidade média estimada, ingestão dietética recomendada, ingestão adequada e limite superior tolerável de ingestão. 35 1 Após as duas últimas publicações, pelos Estados Unidos (NRC, 1989) e Canadá (HWC, 1990), os cientistas desses países tiveram a iniciativa de se juntar para revisar as recomendações existentes, tendo finalizado essa tarefa com o estabelecimento das DRIs (Dietary Reference Intakes). Sobre as recomendações de nutrientes, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) RDA é um valor de ingestão diária de um nutriente que se estima suprir a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis. ( ) EAR é o nível de ingestão dietética diária suficiente para atender às necessidades de um nutriente de praticamente todos (97% a 98%) os indivíduos saudáveis. ( ) AI é um valor estimado, utilizado quando não há dados suficientes para a determinação da EAR e consequentemente da RDA, níveis de ingestão ajustados. ( ) UL é o valor mais alto de ingestão diária de um nutriente, que aparentemente não oferece risco de efeito adverso à saúde para a maioria dos indivíduos. Agora, assinale a alternativa que contenha a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – F – V. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V. e) ( ) V – F – V – F. 2 Conhecer o consumo dietético é indispensável para estudar a relação entre alimentação e doença, investigando a participação dos nutrientes na manutenção da saúde e, consequentemente, na prevenção de morbidades. No que se refere aos inquéritos alimentares, pode-se afirmar: a) ( ) Um dos métodos de avaliação do consumo alimentar prospectivo é o questionário de frequência alimentar. b) ( ) O recordatório 24 horas é o instrumento mais empregado devido a vantagem de não ocorrer sub ou superestimação. c) ( ) O questionário de frequência alimentar pode ser autoadministrado ou aplicado por outros profissionais. d) ( ) O registro alimentar é um inquérito simples e rápido e não exige que o indivíduo saiba ler e escrever. e) ( ) Todos os inquéritos possuem vantagens e desvantagens, mas o diário alimentar é considerado padrão-ouro tanto na prática clínica quanto para estudos epidemiológicos. AUTOATIVIDADE 36 3 Os inquéritos alimentares são ferramentas essenciais para a avaliação da ingesta alimentar, do padrão alimentar e dos hábitos alimentares do paciente. Sobre os inquéritos alimentares, cite uma vantagem e uma desvantagem de cada um dos métodos a seguir: Inquérito alimentar Vantagem Desvantagem Recordatório de 24 horas Questionário de frequência alimentar 37 TÓPICO 3 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que o estudo da composição corporal envolve o fracionamento e a quantificação dos componentes corporais, como ossos, músculos, órgãos, gordura, pele e demais tecidos? É muito importante obter informações relacionadas à composição corporal. Por isso, no Tópico 2, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando de antropometria, equações preditivas e outras técnicas avaliativas. No contexto de antropometria, abordaremos as diversas técnicas utilizadas, como aferir o peso corporal, estatura, circunferências e dobras cutâneas. Em seguida, falaremos sobre como utilizar esses dados para estimar o percentual de gordura corporal, bem como a massa magra. Por fim, abordaremos as equações preditivas para calcular valor de energia mínimo necessário para que o seu organismo possa manter os processos fisiológicos normais, bem como praticar atividades físicas. Ter conhecimento sobre as medidas corporais e suas proporções é fundamental para a sua trajetória acadêmica. Compreender que essas medidas são úteis não apenas para avaliar mudanças nas reservas de tecido adiposo, mas também são capazes de influenciar no estado de saúde da população é uma maneira de você aperfeiçoar seu conhecimento e competências necessárias para a prática clínica nutricional. 2 ANTROPOMETRIA Atualmente, no processo de avaliação nutricional, não existe um método padrão-ouro, ou seja, um método sensível e específico o suficiente que possa ser utilizado isoladamente na determinação do estado nutricional. Por isso, recomenda-se a combinação de métodos subjetivos e objetivos para maior precisão dos resultados (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). 38 A antropometria é a indicação do estado nutricional por meio de medidas corporais e suas proporções. É um método simples, de fácil execução, prático,não-invasivo e de baixo custo, com possibilidade de utilização de equipamentos portáteis e duráveis. As medidas mais utilizadas são: peso corporal, estatura, dobras cutâneas e circunferências (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). Para aferir o peso corporal é necessária uma balança calibrada de plataforma ou eletrônica, como representadas nas figuras a seguir (e o avaliado precisa estar em posição em pé, descalço e com roupas leves (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). FIGURA 9 – BALANÇA DE PLATAFORMA FONTE: <https://d2h1qlcqgaq027.cloudfront.net/Custom/Content/Products/10/58/1058783_ balanca-profissional-mecanica-balmak-111-ate-150kg-com-estadiometro_M1.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2019. FIGURA 10 – BALANÇA DIGITAL FONTE: <https://casaevideodigital.vteximg.com.br/arquivos/ids/193841-1000-1000/ Balanca-Digital-de-Vidro-G-Tech-Glass10-com-Capacidade-de-150kg-1483498. jpg?v=636782294292770000>. Acesso em: 21 nov. 2019. Para aferir a estatura é necessário um estadiômetro ou o antropômetro e o avaliado precisa estar em posição em pé, descalço, calcanhares juntos, costas retas e braços estendidos ao lado do corpo (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). 39 FIGURA 11 – ESTADIÔMETRO FONTE: <https://www.viveestore.com.br/estadiometro-portatil-avanutri>. Acesso em: 21 nov. 2019. As dobras cutâneas são aferidas por um adipômetro e incluem a espessura de uma camada dupla de pele e de tecido adiposo subcutâneo comprimido. A acurácia das pregas depende de sua reprodutibilidade, portanto, requer atenção cuidadosa e treinamento do avaliador. São úteis para avaliar mudanças nas reservas de tecido adiposo subcutâneo a longo prazo. Até 70% da gordura corporal localiza-se no tecido subcutâneo. Assim, medindo-se as espessuras e utilizando-se equações matemáticas, é possível estimar o percentual de gordura corporal (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). Instruções gerais para aferir as dobras cutâneas: • No mesmo paciente, deve ser medida sempre pelo mesmo avaliador. • Aparelho deve estar calibrado. • Identificar e marcar o local a ser medido. • Segurar a pele formada e o tecido adiposo com os dedos polegar e indicador da mão esquerda a 1 cm do ponto marcado. • Padronizar o lado que será utilizado para medição (recomenda-se o lado direito). • Manter as pregas entre os dedos até o final da aferição. • A leitura deverá ser realizada em cerca de dois a três segundos. • Utilizar média de três medidas não-consecutivas. • Diferença superior a 5-10% entre maior e menor medida, repetir o procedimento. • Em casos de obesidade grau III e/ou edema, a medida não é fidedigna. 40 FIGURA 12 – ADIPÔMETRO FONTE: <https://medcirurgica.ciaimg.com.br/Assets/Produtos/SuperZoom/adipometro- plicometro-cientifico-tradicional-cescorf.jpg?v=89e88a07-1>. Acesso em: 21 nov. 2019. TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DO PERCENTUAL DE GORDURA PARA O SEXO FEMININO FONTE: Pollock e Wilmore (1993, p. 175) TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DO PERCENTUAL DE GORDURA PARA O SEXO MASCULINO FONTE: Pollock e Wilmore (1993, p. 175) Classificação Idade 18 a 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 56 a 65 muito baixo < 13 < 14 < 16 < 17 < 18 excelente 13 a 16 14 a 16 16 a 19 17 a 21 18 a 22 muito bom 17 a 19 17 a 20 20 a 23 22 a 25 23 a 26 bom 20 a 22 21 a 23 24 a 26 26 a 28 27 a 29 adequado 23 a 25 24 a 25 27 a 29 29 a 31 30 a 32 moderadamente alto 26 a 28 26 a 29 30 a 32 32 a 34 33 a 35 alto 29 a 31 30 a 33 33 a 36 35 a 38 36 a 38 muito alto > 31 > 33 > 36 > 39 > 38 Classificação Idade 18 a 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 56 a 65 muito baixo < 4 < 8 < 10 < 12 < 13 excelente 4 a 6 8 a 11 10 a 14 12 a 16 13 a 18 muito bom 7 a 10 12 a 15 15 a 18 17 a 20 19 a 21 bom 11 a 13 16 a 18 19 a 21 21 a 23 22 a 23 adequado 14 a 16 19 a 20 22 a 23 24 a 25 24 a 25 moderadamente alto 17 a 20 21 a 24 24 a 25 26 a 27 26 a 27 alto 21 a 24 25 a 27 26 a 29 28 a 30 28 a 30 muito alto > 24 > 27 > 29 > 30 > 30 As circunferências podem auxiliar na classificação da composição corporal do paciente, sendo a circunferência do braço um bom indicador de massa magra e gorda e a da panturrilha um bom indicador de desnutrição (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). 41 Além disso, a circunferência da cintura ou abdominal é considerada um bom avaliador da distribuição da gordura corporal, sendo mensurada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca (OMS, 2000). QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA, DE ACORDO COM O SEXO FONTE: OMS (2000, p. 11) Riscos de complicações metabólicas associadas à obesidade Aumentado Muito Aumentado Homem ≥ 94 cm ≥ 102 cm Mulher ≥ 80 cm ≥ 88 cm Acadêmico, na aula prática você conseguirá aferir e treinar todas as técnicas e protocolos descritos no livro didático! IMPORTANT E 3 EQUAÇÕES PREDITIVAS A taxa metabólica basal (TMB) é o valor de energia mínimo necessário para o organismo manter os processos fisiológicos normais, como: respiração, metabolismo celular e manutenção da temperatura corporal. Com os valores da massa corporal, estatura e idade é possível estimar a TMB. O primeiro método validado foi há 100 anos, por Harris e Benedict (1919). Outros métodos preditivos também são utilizados, como os da Organização Mundial da Saúde – OMS (1985) e do Institute of Medicine – IOM (2005), apresentados na tabela a seguir: 42 TABELA 3 – EQUAÇÕES PARA A ESTIMATIVA DO GASTO ENERGÉTICO BASAL EM INDIVÍDUOS ADULTOS Autores Equação Harris e Benedict masculino 66,5 + (13,75 X peso em Kg) + (5 X altura em cm) – (6,76 X idade em anos) Harris e Benedict feminino 655 + (9,6 X peso em Kg) + (1,8 X altura em cm) – (4,7 X idade em anos) FAO/WHO 18-30 anos (14,7 X peso em Kg) + 496 FAO/WHO 30-60 anos (8,7 X peso em Kg) + 829 IOM masculino 293 – (3,8 X idade em anos) + (456,4 × altura em metros) + (10,12 X peso em Kg) IOM feminino 247 – (2,67 × idade em anos) + (401,5 × altura em metros) + (8,60 X peso em kg) Acadêmico, que tal testar o resultado das fórmulas, aplicado as suas variáveis? INTERESSA NTE Além das equações matemáticas, a TMB pode ser medida por calorimetria indireta, que é a medida do gasto energético a partir das trocas respiratórias (consumo de oxigênio e liberação de gás carbônico), obtidos por análise do volume de ar inspirado e expirado pelos pulmões (quociente respiratório – QR). A TMB representa a energia despendida por um indivíduo mantido em repouso, em um ambiente termicamente controlado, pela manhã, ao acordar após 12 horas de jejum, e depende da massa corporal magra e em menor extensão, da idade e do sexo. Esse valor representa até 75% do gasto energético diário. A energia necessária para os processos vitais é obtida pela oxidação dos nutrientes. A energia contida nas ligações C-H dos carboidratos, lipídios e proteínas é liberada por oxidação desses substratos dentro das células. Esse processo consome oxigênio e produz água, gás carbônico, ATP e calor que é dissipado para o meio ambiente. Ou seja, essa produção de energia significa a conversão da energia armazenada nos nutrientes em: energia química (ATP) + a energia dissipada como calor durante o processo de oxidação. Estudos conduzidos por diferentes grupos de pesquisadores em várias partes do mundo têm encontrado variações entre a estimativa da TMB obtida pelas equações matemáticas e a determinada pela calorimetria indireta, conforme demonstrado na tabela a seguir. As defasagens contribuem para a perda de qualidade dos programas de dietas ou de exercícios físicos, e a inadequação das equações de estimativa de TMB para populações específicas, como a brasileira, acaba por trazer insatisfação (LUSTOSA et al., 2013). FONTE: A autora. 43 TABELA 4 – COMPARAÇÃO DOS VALORES DA TAXA METABÓLICA BASAL ENTRE DIFERENTES EQUAÇÕES PREDITIVAS E POR CALORIMETRIA INDIRETA FONTE: Lustosa et al. (2013, p. 97) Média ± desvio padrão (kcal) Mínimo (kcal) Máximo (kcal) Calorimetria indireta 1.710 ± 330 1.067 2.416 IOM, 2005 1.791 ± 111 1.583 2.039 FAO, 85 1.822 ± 115 1.631 2.083 Harris-Benedict 1.825 ± 138 1.557 2.168 Frente aos resultadosdos escores residuais representados pela diferença entre a calorimetria indireta e as equações estudadas, foi possível detectar que a equação da FAO/OMS (Food Agriculture Organization/Organização Mundial da Saúde) superestimou em média, 11,66% a TMB dos voluntários (LUSTOSA et al., 2013). A equação de Harris e Benedict mostrou diferença percentual média de 10,07% para a TMB determinada pela calorimetria indireta. O valor médio estimado pela equação do IOM (Institute of Medicine) não apresentou diferença quando comparada à calorimetria indireta (LUSTOSA et al., 2013). Após estimar a TMB é necessário calcular a necessidade energética total (NET) ou gasto energético total (GET). Esse valor é a quantidade de energia que os indivíduos necessitam para suas atividades diárias, levando em consideração a prática de exercícios físicos. O fator atividade é dividido em: leve, moderado e intenso, com valores diferentes para homens e mulheres (HARRIS; BENEDICT, 1919; FAO/OMS, 1985; IOM, 2005). As equações para a estimativa do gasto energético são apropriadas e largamente utilizadas. Entretanto, é importante reforçar que uma correta avaliação da composição corporal e de seu consumo alimentar habitual devem ser realizadas para evitar vieses no cálculo das necessidades energéticas (LUSTOSA et al., 2013). A partir das estimativas, as necessidades nutricionais diárias de macronutrientes podem ser distribuídas em percentual ou grama por quilo de peso. Deve-se levar em conta também a recomendação de fibras e ingestão hídrica. 44 4 IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA A impedância bioelétrica ou bioimpedância fundamenta-se no princípio de que os tecidos corporais oferecem diferente oposição (impedância) à passagem da corrente elétrica, a partir de dois vetores, denominados Resistência e Reactância. Em sistemas biológicos, a corrente elétrica é transmitida pelos íons diluídos nos fluidos corporais. Os tecidos magros são altamente condutores de corrente elétrica devido à grande quantidade de água e eletrólitos, ou seja, apresentam baixa resistência à passagem da corrente elétrica. Por outro lado, a gordura, o osso e a pele constituem um meio de baixa condutividade, apresentando, portanto, elevada resistência (EICKEMBERG et al., 2011). Para avaliação da composição corporal, a técnica da bioimpedância baseia- se no modelo de um condutor cilíndrico, com comprimento e área transversal uniformes e homogêneos, ao qual o corpo humano se assemelha. É um método bem aceito pela comunidade científica, inclusive na identificação do estado de hidratação dos indivíduos. Os resultados podem ser afetados por fatores como a alimentação, atividade física, ciclo menstrual, ingestão de líquidos, desidratação ou retenção hídrica e alguns medicamentos (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). O aparelho demonstrado na figura a seguir identifica níveis de resistência e reactância que, por meio de equações, estima a quantidade de água corporal total e prediz a quantidade de gordura corporal total. Grande quantidade de água e massa corporal magra oferecem menor resistência à passagem da corrente elétrica. Isso acontece visto que o músculo, rico em conteúdo hídrico, oferece menor resistência à passagem elétrica, sendo um bom condutor. Enquanto a gordura, pobre em água, aumenta a resistência à passagem elétrica, sendo um mau condutor (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). Com a obtenção dos valores da resistência e reactância, são utilizadas equações estatísticas para estimar os componentes corporais, e assim, determinar os valores de massa de gordura, massa magra e água corporal. Essas equações podem ser ajustadas para sexo, etnia, idade, peso, altura e nível de atividade física. Nas últimas décadas, uma variedade de aparelhos tornou-se comercialmente disponível. É possível encontrar aparelhos de frequência única e aparelhos multifrequenciais. A corrente elétrica é transmitida pelo corpo, por meio de quatro sensores metálicos (modelo tetrapolar) que, em contato com as mãos e/ ou pés, registram a impedância dos segmentos corporais, que pode ser: entre os membros superiores e o tronco, somente entre os membros inferiores, ou ainda entre os membros superiores e os inferiores (EICKEMBERG et al., 2011). 45 FIGURA 13 – MODELO DE IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA FONTE: <https://www.mundoboaforma.com.br/wp-content/uploads/2015/03/bioimpedancia.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2019. Procedimentos: • Avaliado deve estar deitado em decúbito dorsal, em uma superfície não-condutiva, com os braços levemente abduzidos, de forma que não toquem o tronco. • As pernas devem estar separadas, sem que as coxas se toquem. • A cabeça deve estar na altura do corpo, ou pouco elevada por um fino travesseiro. • O pé direito deve estar descalço para fixação dos eletrodos e não é permitido fazer uso de objetos metálicos no corpo. • Limpar mão direita e pé direito com algodão umedecido em álcool. Recomendações: • Não utilizar medicamentos diuréticos nos sete dias que antecedem o teste. • Jejum de 4h (comida e bebida). • Não ingerir bebidas alcoólicas nas 48h que antecedem o teste. • Não realizar atividade física extenuante nas 24h que antecedem o teste. • Urinar pelo menos 30 min. antes do teste. • Permanecer ao menos 5 min. deitado na posição de realização do teste, em total repouso, antes da execução. Acadêmico, sugere-se a leitura do artigo a seguir, na íntegra, acessando o link que está na fonte. ESTUDOS FU TUROS 46 UNIDADE 1 | INDICADORES DO ESTADO NUTRICIONAL LEITURA COMPLEMENTAR BIOIMPEDÂNCIA PARA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL: UMA PROPOSTA DIDÁTICO-EXPERIMENTAL PARA ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE Marcelo Mariano da Silva Raquel Santos Marques de Carvalho Marcelo Baptista de Freitas Nos cursos de graduação da área da saúde é comum a abordagem de conceitos da física sem contextualização e tratamento interdisciplinar apropriados, dificultando que novas perspectivas sobre problemas práticos sejam alcançadas por parte dos alunos. Por isso, construir um ambiente de ensino-aprendizagem com transversalidade e interdisciplinaridade, ou seja, que implique na articulação entre conhecimentos sistematizados e questões da vida real, é essencial para significar o conhecimento e desenvolver habilidades que preparem os professores para a manutenção desse ambiente e os alunos para a vida e para um ambiente de trabalho cada vez mais complexo, competitivo e exigente. Nesse contexto, este artigo apresenta um experimento de bioimpedância voltado para estudantes da área da saúde e elaborado a partir de instrumentação tradicional encontrada em laboratórios de ensino de cursos de graduação. Trata-se de uma proposta didática que permite a introdução de grandezas físicas e conceitos básicos de circuitos elétricos – corrente elétrica alternada (IAC), potencial elétrico eficaz (V), resistência (R), reatância capacitiva (χc), impedância (Z), frequência (f) e ângulo de fase (ϕ) – através de um recorte interdisciplinar de medida de impedância do corpo humano e avaliação corporal. Concomitantemente possibilita-se que estudantes de cursos diferentes daqueles tradicionalmente classificados como de exatas ascendam a uma compreensão sobre bioimpedância que não é possível através de medições clínicas conduzidas em hospitais e centros especializados, onde os equipamentos são normalmente empregados como caixas-pretas. Na seção 2 é apresentada a fundamentação que permite o emprego da bioimpedância para avaliação da composição corporal, juntamente com os aspectos teóricos e práticos do circuito elétrico equivalente empregado no experimento proposto. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 47 Na seção 3 são discutidas as medidas realizadas em diferentes configurações neste circuito para simular o comportamento eletrofisiológico do corpo humano e os resultados de medidas in vivo. As variáveis de interesse clínico são então calculadas a partir de um modelo estabelecido na literatura e uma breve discussão sobre suaslimitações é apresentada. Por fim, a seção 4 traz a proposta propriamente dita de uso do experimento em laboratório didático, finalizando com as conclusões, na seção 5. FONTE: SILVA, M. M. da; CARVALHO, R. S. M. de; Freitas, M. B. de. Bioimpedância para avaliação da composição corporal: uma proposta didático-experimental para estudantes da área da saúde. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 41, n. 2, 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ rbef/v41n2/1806-9126-RBEF-41-2-e20180271.pdf. Acesso em: 21 nov. 2019. 48 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A antropometria é a indicação do estado nutricional por meio de medidas corporais e suas proporções. • As medidas de antropometria mais utilizadas são: peso corporal, estatura, dobras cutâneas e circunferências. • A circunferência do braço é um bom indicador de massa magra e gorda, a da panturrilha é um bom indicador de desnutrição e a circunferência da cintura ou abdominal é considerada um bom avaliador da distribuição da gordura corporal. • Até 70% da gordura corporal localiza-se no tecido subcutâneo. Assim, medindo- se as dobras cutâneas e utilizando equações matemáticas, é possível estimar o percentual de gordura corporal. • A taxa metabólica basal é o valor de energia mínimo necessário para o organismo manter os processos fisiológicos normais, como: respiração, metabolismo celular e manutenção da temperatura corporal. • A necessidade energética total equivale à quantidade de energia que os indivíduos necessitam para suas atividades diárias, levando em consideração a prática de exercícios físicos. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 49 1 Entre 50 e 70% da gordura corporal localiza-se no tecido subcutâneo. Assim, medindo-se as espessuras e utilizando equações matemáticas, é possível estimar o percentual de gordura corporal. Sobre as dobras cutâneas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As medidas devem ser realizadas somente no lado direito do corpo, utilizando os dedos indicador e polegar na execução do procedimento. b) ( ) As pinças devem ser introduzidas aproximadamente 3 cm abaixo do ponto de reparo, pinçado pelos dedos. c) ( ) As hastes do compasso não devem estar perpendiculares à superfície da pele. d) ( ) Deve-se aguardar até quatro segundos para fazer a leitura e repetir a medida três vezes consecutivas. e) ( ) Diferença superior a 10% entre a maior e menor medida, recomenda-se repetir o procedimento. 2 “Quantidade de energia necessária para a manutenção das funções vitais do organismo, sendo medida em condições padrão de jejum, repouso físico e mental em ambiente tranquilo com controle de temperatura, iluminação e sem ruído” (HARRIS; BENEDICT, 1919). A definição se refere a: a) ( ) Gasto energético total. b) ( ) Taxa de metabolismo basal. c) ( ) Fator atividade física. d) ( ) Requerimento estimado. e) ( ) Aptidão física. 3 Conhecer os pontos anatômicos é fundamental para uma correta antropometria e avaliação da composição corporal. Observe as figuras a seguir e descreva cada uma das medidas: a) AUTOATIVIDADE 50 b) c) d) 51 UNIDADE 2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN; • utilizar a Curva de Atalah para avaliar o estado nutricional de gestantes; • identificar os indicadores antropométricos para avaliar o estado nutricional de crianças e adolescentes; • compreender a solicitação de exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietético. Esta unidade de estudos encontra-se dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ADULTOS TÓPICO 2 – GESTANTES TÓPICO 3 – CRIANÇAS E ADOLESCENTES Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 52 53 TÓPICO 1 ADULTOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que no Brasil existe um Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional? O SISVAN é um instrumento que tem como objetivo avaliar e monitorar o estado nutricional da população brasileira. É interessante falar a respeito da condição de saúde do indivíduo, não é mesmo? Portanto, no Tópico 1, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando de estudos sobre a transição nutricional no Brasil e dados epidemiológicos da saúde da população brasileira. Em seguida, falaremos a respeito dos parâmetros da composição corporal indicados pelo Ministério da Saúde para avaliação do estado nutricional. Além disso, aprenderemos as diferenças e como avaliar o peso corporal atual, ideal, teórico e habitual. Por fim, abordaremos a importância de saber avaliar exames bioquímicos na prática clínica. Você sabia que o nutricionista pode solicitar exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietético? A análise sanguínea é usada tanto para o diagnóstico como para o acompanhamento das consultas. Ter conhecimento da coexistência de desnutrição, sobrepeso e obesidade em todos os segmentos da população é importante para a sua trajetória acadêmica. Sabendo utilizar os parâmetros indicados e identificar os exames necessários às etapas de avaliação, prescrição e evolução do paciente, você poderá aperfeiçoar seu conhecimento técnico e suas habilidades e competências necessárias na prática clínica nutricional. 2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA POPULAÇÃO BRASILEIRA Valorizar a avaliação do estado nutricional é atitude essencial ao aperfeiçoamento da assistência e da promoção à saúde, porque o quadro nutricional do país já revela, há mais de 15 anos, mudanças de padrão, indicando a coexistência de desnutrição, sobrepeso e obesidade em todos os segmentos da população. O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é um valioso instrumento de apoio às ações de promoção da saúde que o Ministério da Saúde oferece aos profissionais da área e aos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2011a). UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 54 O SISVAN é composto por indicadores de consumo, antropométricos e bioquímicos com o objetivo de avaliar e monitorar o estado nutricional da população brasileira, para obter o diagnóstico precoce dos possíveis desvios nutricionais (seja baixo peso ou sobrepeso/obesidade), contribuindo para que se conheça a natureza e a magnitude desses problemas, identificando áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais (BRASIL, 2011a). Como está a população adulta no Brasil? Estudos de prevalência que contemplaram amostras representativas do Brasil e de suas cinco macrorregiões indicaram que, nas últimas décadas, a prevalência de desnutrição em crianças declinou em cerca de 80%. Sendo que, nas duas últimas avaliações, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já apresentam níveis de ocorrência compatíveis com a situação dos países desenvolvidos (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). O traço predominante na caracterização da transição nutricional no Brasil é, sem dúvida, a emergência epidêmica do sobrepeso e, particularmente, da obesidade, como evento de maior visibilidade epidemiológica. O acompanhamento da situação brasileira nas últimas décadas evidência que o problema aumentou cinco vezes entre os homens adultos do Nordeste e três vezes no Sudeste (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Dados de uma pesquisa mundial mostram que em 2008, aproximadamente 1,5 bilhão de adultos estavam com excesso de peso. Desses, 205 milhões de homens e 297 milhões de mulheres estavam obesos (FINUCANE et al., 2011). No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizadaem 2008-2009, foi a última pesquisa nacional a estimar a prevalência de excesso de peso. A prevalência para os homens foi 50% e para as mulheres 48%. Ao avaliar a prevalência de obesidade, foi observada maior ocorrência entre as mulheres (17%) do que entre os homens (12%). Em relação aos dados de 2002-2003 observou-se que houve aumento preocupante tanto do excesso de peso quanto da obesidade (BRASIL, 2011b). Será que as prevalências de excesso de peso e obesidade variam de acordo com a economia dos países e o nível de renda da população? Enquanto no continente americano, 62% com excesso de peso e 26% com obesidade. No Sul da Ásia, o percentual da população com excesso de peso foi equivalente a 14% e com obesidade 3% (FINUCANE et al., 2011). Segundo Ogden et al. (2010), nos países desenvolvidos, o excesso de peso é inversamente associado ao nível de renda, enquanto nos países de baixa e média renda o excesso de peso tende a ser maior nas classes de renda alta. TÓPICO 1 | ADULTOS 55 Acadêmico, você já parou para refletir o porquê existe essa relação? Seria culpa do sedentarismo? Ou da modernidade? Quem sabe pelo aumento da oferta de alimentos? Ou pelo acrescimento da indústria de alimentos? Talvez seja pela qualidade nutricional dos alimentos? Ou então pelo excesso de trabalho? Alguma relação com o estresse? E com o trabalho pouco ativo? Seria pelo fato de as mulheres estarem no mercado de trabalho? Ou pelo estilo de vida? INTERESSA NTE As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem grave problema de saúde pública. O alto custo social dessas doenças e seu impacto na morbimortalidade atingem todos os países, independentemente do nível de desenvolvimento. Em 2007, as DCNT foram responsáveis por 72% das mortes no Brasil (BRASIL, 2011c). Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), em dez anos, houve um aumento de 61,8% na prevalência de diabetes e 14,2% de hipertensão arterial. Além disso, mais da metade da população está com peso acima do recomendado, sendo que 18,9% dos adultos brasileiros estão obesos (BRASIL, 2017). No Brasil, o excesso de peso (IMC ≥ 25 kg/m2) cresceu 26,3% em dez anos, passando de 42,6% para 53,8%. Para o sexo masculino, esse aumento foi representado pelo crescimento de 47,5% para 57,7%. Enquanto para o sexo feminino o aumento foi de 38,5% para 50,5% (BRASIL, 2017). A obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) cresceu 60% em dez anos, passando de 11,8% para 18,9%. Para o sexo masculino, esse aumento foi representado pelo crescimento de 11,4% para 18,1%. Enquanto para o sexo feminino o aumento foi de 12,1% para 19,6% (BRASIL, 2017). O diabetes cresceu 61,8% em dez anos, passando de 5,5% para 8,9%. Para o sexo masculino, esse aumento foi representado pelo crescimento de 4,6% para 7,8%. Enquanto para o sexo feminino o aumento foi de 6,3% para 9,9% (BRASIL, 2017). A hipertensão arterial cresceu 14,2% em dez anos, passando de 22,5% para 25,7%. Para o sexo masculino, esse aumento foi representado pelo crescimento de 19,3% para 23,6%. Enquanto para o sexo feminino o aumento foi de 25,2% para 27,5% (BRASIL, 2017). Ainda, segundo dados da VIGITEL, o excesso de peso, diabetes e a hipertensão arterial aumentam com a idade e são maiores entre aqueles com menor escolaridade. Além disso, a prevalência de obesidade duplica a partir dos 25 anos (BRASIL, 2017). UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 56 As figuras a seguir apresentam as principais DCNT e os principais fatores de risco associados, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (BRASIL, 2011c). FIGURA 1 – PRINCIPAIS DCNT Legenda: DM: diabetes mellitus. DLP: dislipidemia. HAS: hipertensão arterial sistêmica. FONTE: A autora FIGURA 2 – PRINCIPAIS FATORES DE RISCO DAS DCNT FONTE: A autora TÓPICO 1 | ADULTOS 57 3 COMPOSIÇÃO CORPORAL O processo de avaliação nutricional envolve quatro grandes parâmetros: a antropometria, os inquéritos alimentares, os exames laboratoriais e a avaliação clínica. O conceito de antropometria foi abordado na Unidade 1, portanto, vamos dar continuidade com as variáveis para avaliar a composição corporal de adultos. O peso corporal é a soma de todos os componentes corporais (água, ossos, músculos e gordura). O peso corporal pode ser mensurado no momento da consulta (peso atual), pode ser relatado pelo paciente (peso usual ou habitual) e pode ser calculado (peso ideal ou peso teórico) (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). O peso ideal ou teórico é calculado com base nos valores do índice de massa corporal (IMC), multiplicando a estatura ao quadrado pelo valor de IMC desejado (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). Com o valor do peso ideal é possível calcular a adequação de peso, ou seja, avaliar o quanto o peso atual está fora dos padrões. Esse cálculo é feito multiplicando o peso atual por cem e dividindo pelo valor do peso ideal, conforme demonstrado pelo quadro a seguir. QUADRO 1 – FÓRMULA E CLASSIFICAÇÃO DA ADEQUAÇÃO DE PESO FONTE: Adaptado de Blackburn e Thornton (1979) A estatura refere-se tanto para comprimento (deitado) quanto altura (em pé), sendo recomendado utilizar o comprimento para crianças menores de dois anos e altura para crianças maiores de dois anos e demais fases da vida (ACUÑA; CRUZ, 2004; MARTINS, 2008). Os parâmetros indicados pelo Ministério da Saúde para avaliação do estado nutricional de adultos (pessoas entre 20 e 59 anos) são o índice de massa corporal (IMC) e a circunferência da cintura (CC). A circunferência da cintura ou abdominal é considerada um bom avaliador da distribuição da gordura Adequação do peso (%) Estado nutricional ≤ 70 Desnutrição grave 70,1 – 80 Desnutrição moderada 80,1 – 90 Desnutrição leve 90,1 – 110 Eutrofia 110,1 – 120 Sobrepeso > 120 Obesidade Adequação do peso (%) = peso atual x 100 peso ideal UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 58 corporal, sendo mensurada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca (OMS, 2000). O resultado do cálculo do IMC deve ser analisado de acordo com a classificação definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), conforme demonstrado pela Tabela 1. TABELA 1 – FÓRMULA E CLASSIFICAÇÃO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL FONTE: Adaptado OMS (2000) Os instrumentos utilizados na avaliação da composição, como balança, estadiômetro e adipômetro já foram descritos na Unidade 1. Além disso, no manual de aulas práticas tem um dia específico somente para aferição e treinamento de todas as medidas corporais. IMPORTANT E Classificação - ADULTO IMC (Kg/m2) Magreza grau III < 16,0 Magreza grau II 16,0 – 16,99 Magreza grau I 17,0 – 18,49 Eutrofia (normalidade) 18,5 – 24,99 Pré-obesidade ou Sobrepeso 25,0 – 29,99 Obesidade grau I 30,0 – 34,99 Obesidade grau II 35,0 – 39,99 Obesidade grau IIII ≥ 40 IMC: 2 2 Peso atual (kg) Altura (m ) 4 INTRODUÇÃO AOS EXAMES LABORATORIAIS Segundo a Lei nº 8234, de 17 de setembro de 1991 (Art 4º, parágrafo VIII), é atribuído ao nutricionista a solicitação de exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietético. Além disso, segundo a Resolução CFN nº 306/2003 (Art 1º), compete ao nutricionista a solicitação de exames laboratoriais necessários à avaliação, à prescrição e à evolução nutricional do paciente. O volume total de sangue no corpo humano adulto é de, aproximadamente, 5 a 6 litros (cerca de 8% do peso corporal). A análise sanguínea poder ser realizada no plasma (partes plasmáticas) ou no soro (partes séricas) do sangue. A análise TÓPICO 1 | ADULTOS 59 sanguínea é usada tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento dos problemas (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Alterações como aumento ou diminuição dos elementos celulares ou constituintes do sangue, podem ser indicativas de: • Deficiências nutricionais. • Doenças. • Perda de sangue (aguda ou crônica). Um dos exames solicitado na prática clínica é o hemograma completo,composto pelos seguintes exames (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012): • Contagem total de hemácias. • Dosagem de hemoglobina. • Determinação do hematócrito. • Volume corpuscular médio. • Contagem total de leucócitos. • Contagem diferencial dos leucócitos. • Exame microscópico do esfregaço corado. • Contagem total de plaquetas. Contagem total de hemácias (glóbulos vermelhos) • Valores de referência: • Homens: 4.500.000 a 6.000.000 células/mm³ • Mulheres: 4.000.000 a 6.000.000 células/mm³ • Interpretação: Valores aumentados são encontrados nas policitemias e os valores diminuídos relacionam-se aos processos anêmicos de diversas etiologias. A policitemia é caracterizada pelo número excessivo de células vermelhas no sangue, resultando em um aumento da viscosidade do sangue que faz com que o fluxo seja lento dentro das veias, podendo provocar dores de cabeça e tonturas (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). NOTA Hemoglobina • Valores de referência: Homem = 14 a 18g/dL Mulher = 12 a 16g/dL • Aumentada em queimaduras graves, policitemia, desidratação, intoxicações. • Diminuída na anemia, leucemia, hemorragias e infecções. UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 60 Hemoglobina é a proteína presente nos glóbulos vermelhos, que contém ferro e permite o transporte de oxigênio pelo sistema circulatório (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). NOTA Hematócrito • Valores de referência: Homem = 40-55% Mulher = 35-45% • Aumentada na desidratação, policitemia, queimaduras. • Diminuída na anemia, sangramento, infecções, leucemia. O hematócrito avalia a porcentagem de células vermelhas do sangue (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). NOTA Volume corpuscular médio • Valores de referência: 80-100 µm3/eritrócitos ou fL (fentolitros). • Aumentado no abuso de álcool, na anemia perniciosa macrocítica/ megaloblástica, deficiência de ácido fólico e vitamina B12. • Diminuído na anemia microcítica, deficiência de ferro, uremia. O hematócrito avalia o tamanho médio das hemácias (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). NOTA TÓPICO 1 | ADULTOS 61 O estado nutricional está diretamente correlacionado à resposta imunológica do indivíduo. Além da condição nutricional, a resposta imunológica é modulada por inúmeros fatores ambientais ou hereditários (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Leucócitos • Valores de referência: 4.000 a 11.000 células/mmol. • Leucopenia: diminuição da quantidade de leucócitos, torna o indivíduo suscetível às infecções. • Leucocitose: aumento da quantidade de leucócitos. Pode ser uma resposta às infecções ou resultante de um câncer, estresse metabólico ou de determinadas drogas. Os leucócitos são as defesas do organismo contra agentes infecciosos e substâncias estranhas (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). NOTA Os componentes da contagem diferencial de leucócitos são: neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Os granulócitos são os neutrófilos, eosinófilos e basófilos. A principal função é atacar e eliminar os microrganismos e tecidos mortos (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Os neutrófilos, também chamados de leucócitos polimorfonucleares (PMN), são os mais abundantes (50-70%) das células brancas do sangue. A principal função é a fagocitose durante o processo de resposta inflamatória aguda. As infecções bacterianas agudas e o trauma estimulam a produção de neutrófilos aumentando consequentemente os leucócitos (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Os monócitos são células fagocíticas, similares aos neutrófilos. São capazes de combater as bactérias. Os monócitos são produzidos mais rapidamente, e têm período de vida mais longo do que os neutrófilos. Eles secretam citocinas, que controlam a resposta imune. Essas células circulam no sangue e na linfa e, então, migram para dentro dos tecidos e órgãos. É o momento que se tornam macrófagos pelo processo de diferenciação. Assim como os neutrófilos, os macrófagos são capazes de ingerir e destruir antígenos. Eles também atuam na ativação dos linfócitos T e B. Os macrófagos ativados secretam as citocinas, parte importante do processo inflamatório (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 62 A função primária dos linfócitos é combater as infecções bacterianas crônicas e as viróticas agudas. O número e a porcentagem de linfócitos circulantes são, rotineiramente, avaliados a partir do leucograma com contagem diferencial (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Além do hemograma completo, existem exames adicionais extremamente necessários na prática clínica nutricional. Que tal aprender sobre alguns deles? Os exames mais específicos serão abordados ao longo do curso, nas disciplinas correspondentes. Ferro sérico • Valores de referência: 30 a 160mcg/dL. • Aumentado: anemia hemolítica, hemacromatose (excesso de absorção). • Diminuído: anemia ferropriva, sangramento, deficiência alimentar. O ferro é essencial para a produção de hemácias. É um componente do grupamento heme (uma parte da hemoglobina). As reservas são usadas quando não é ingerida uma quantidade de ferro suficiente para as necessidades do corpo. Quando as reservas se esgotam, forma-se menos hemoglobina, que resulta em anemia (CALIXTO- LIMA; REIS, 2012). NOTA Ferritina • Valores de referência: Homens: 30 a 300 ng/ml. Mulheres: 10 a 200 ng/ml. A ferritina é uma proteína de armazenamento de ferro, ou seja, um marcador de reservas de ferro (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012) Acadêmico, você sabia que os exames laboratoriais podem apresentar resultados diferentes para uma doença semelhante? Por isso, é importante avaliar todas as variáveis para poder interpretar os exames corretamente. Por exemplo, a anemia por deficiência de ferro é diferente da anemia por deficiência de vitaminas do complexo B, que é diferente da anemia megaloblástica. Ficou confuso? A tabela a seguir exemplifica essas particularidades. INTERESSA NTE TÓPICO 1 | ADULTOS 63 TABELA 2 – COMPARATIVO DOS EXAMES LABORATORIAIS NOS DIFERENTES TIPOS DE ANEMIA FONTE: A autora. Anemia Hb Hct VCM Fe sérico Deficiência de Fe ↓ ↓ ↓ ↓ Deficiência de vitamina B12 e B9 ↓ ↓ ↑ ↑ Megaloblástica ↓ ↓ inalterado inalterado Legenda: Hb: hemoglobina; Hct: hemtócrito; VCM: volume corpuscular média; Fe: ferro. Vitamina B12 (cobalamina) • Valores de referência: > 200 ng/ml. Muito além da anemia, a deficiência de vitamina B12 pode levar a má absorção por não dissociar do alimento (ácido clorídrico auxilia nessa função). Além disso, a deficiência de vitamina B12 pode afetar o metabolismo de ácido fólico, pois o folato fica preso na forma de metiltetrahidrofolato. Isso pode reduzir a estabilidade do reparo do DNA e a expressão e transcrição gênica, levando a um comprometimento neuromotor e cognitivo. A vitamina B12 é responsável pela ativação do ácido fólico, convertendo na sua forma biologicamente ativa (tetrahidrofolato) (PANIZ et al., 2005). NOTA Vitamina D (25 hidroxivitamina D) • Valores de referência: Nível sérico: 25(OH)D > 30ng/Ml. A vitamina D é considerada um pré-hormônio. Ela é formada a partir do colesterol (forma inativa) e carreada pela corrente sanguínea até a pele (raios UVB) para ser convertida para a sua forma ativa. Ela atua no sistema imune, estimulando o reconhecimento de patógeno pelos monócitos. Além disso, atua na mineralização óssea e homeostase do cálcio e do fósforo (CASTRO, 2011). NOTA UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 64 Acadêmico, existem inúmeros outros exames laboratoriais que podem ser solicitados. No entanto, os demais exames (associados a doenças como diabetes, dislipidemias, desnutrição, pancreatite, doença hepática, doença renal, alergias e intolerâncias alimentares etc.) serão discutidos em disciplinas específicas. IMPORTANT E RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA (SBEM) PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HIPOVITAMINOSE D Maeda et al. A hipovitaminose D é altamente prevalente e constitui um problema de saúde pública em todo o mundo. Estudos mostram uma elevada prevalência dessa doençaem várias regiões geográficas, incluindo o Brasil. Pode acometer mais de 90% dos indivíduos, dependendo da população estudada. A vitamina D é essencial em funções relacionadas ao metabolismo ósseo, porém parece também estar relacionada à fisiopatogênese de diversas doenças. Em crianças, a deficiência de vitamina D leva ao retardo do crescimento e ao raquitismo. Em adultos, a hipovitaminose D leva à osteomalácia, ao hiperparatiroidismo secundário e, consequentemente, ao aumento da reabsorção óssea, favorecendo à perda de massa óssea e ao desenvolvimento de osteopenia e osteoporose. Fraqueza muscular também pode ocorrer, o que contribui para elevar ainda mais o risco de quedas e de fraturas ósseas em pacientes com baixa massa óssea. O diagnóstico correto dessa condição e a identificação de fatores de melhora ou piora podem colaborar para a elaboração de estratégias mais eficazes para o tratamento das populações de risco, como idosos e mulheres na pós-menopausa. Embora seja denominada vitamina, conceitualmente se trata de um pré-hormônio. Juntamente com o paratormônio (PTH), ambos atuam como importantes reguladores da homeostase do cálcio e do metabolismo ósseo. As ações mais conhecidas e estudadas da vitamina D estão relacionadas ao metabolismo ósseo, onde seu papel é crucial. Ela participa da absorção intestinal do cálcio, função muscular, modulação da secreção de PTH e função das células ósseas. TÓPICO 1 | ADULTOS 65 A vitamina D pode ser obtida a partir de fontes alimentares, por exemplo, óleo de fígado de bacalhau e peixes gordurosos (salmão, atum, cavala), ou por meio da síntese cutânea endógena, que representa a principal fonte dessa “vitamina” para a maioria dos seres humanos. Há o consenso de que a 25(OH)D (calcidiol) é o metabólito mais abundante e o melhor indicador para a avaliação do status de vitamina D, classificando-se os indivíduos como: deficientes, insuficientes ou suficientes em vitamina D. Em contrapartida, não há um consenso quanto ao valor de corte para a definição de suficiência em vitamina D. Dessa maneira, concentrações séricas abaixo de 20 ng/mL são classificadas como deficiência, entre 20 e 29 ng/mL como insuficiência e entre 30 e 100 ng/mL como suficiência. Portanto, concentrações séricas abaixo de 30 ng/mL são consideradas por muitos como hipovitaminose D. FONTE: MAEDA, S. S. et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo, v. 58, n. 5, 2014. 66 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • O quadro nutricional do país indica coexistência de desnutrição, sobrepeso e obesidade em todos os segmentos da população. • O SISVAN é composto por indicadores que tem como objetivo avaliar e monitorar o estado nutricional da população brasileira. • Os resultados da POF mostram a prevalência de 50% de excesso de peso para homens e 48% para as mulheres. • Os resultados da POF mostram a prevalência de 12% de obesidade para homens e 17% para as mulheres. • Os parâmetros indicados pelo Ministério da Saúde para avaliação do estado nutricional de adultos são o IMC e a circunferência da cintura. • A circunferência da cintura é considerada um bom avaliador da distribuição da gordura corporal. • O peso corporal é a soma de todos os componentes corporais (água, ossos, músculos e gordura). • O peso corporal mensurado no momento da consulta é chamado de peso atual. • O peso corporal relatado pelo paciente é chamado de peso usual ou habitual. • A partir do valor do peso corporal pode-se calcular o peso ideal ou peso teórico. A estatura refere-se tanto para comprimento (deitado) quanto altura (em pé). • O nutricionista pode solicitar exames laboratoriais necessários à avaliação, à prescrição e à evolução nutricional do paciente. • Um dos exames solicitado na prática clínica é o hemograma completo. • Existem exames adicionais extremamente necessários na prática clínica nutricional, como algumas vitaminas e minerais. 67 AUTOATIVIDADE 1 Um indivíduo lhe procurou na academia para uma avaliação física, pois pretende iniciar a musculação. F.L.V., sexo masculino, peso = 85 kg, estatura = 1,79 m. Qual o resultado do IMC (Índice de Massa Corporal) e a classificação do estado nutricional? a) ( ) 23,74 Kg/m² Sobrepeso. b) ( ) 23,74 Kg/m² Eutrofia. c) ( ) 26,56 Kg/m² Sobrepeso. d) ( ) 26,56 Kg/m² Eutrofia. e) ( ) 27,48 Kg/m² Sobrepeso. 2 A análise sanguínea poder ser realizada no plasma (partes plasmáticas) ou no soro (partes séricas) do sangue e pode ser usada tanto para o diagnóstico como para o acompanhamento. Sobre os exames laboratoriais, associe as colunas, relacionando os tipos de exames à sua definição: 1- Hematócrito. 2- Dosagem de hemoglobina. 3- Contagem total de hemácias. 4- Volume corpuscular médio. 5- Contagem diferencial de leucócitos. 6- Hemoglobina glicada. ( ) Avalia o percentual de células vermelhas do sangue. ( ) Contagem de eritrócitos. ( ) Neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. ( ) Proteína que permite o transporte de oxigênio pela circulação. ( ) Avalia a média do tamanho das hemácias. ( ) Fornece a avaliação do controle glicêmico dos últimos noventa dias. Agora, assinale a alternativa que contenha a sequência CORRETA: a) ( ) 1, 2, 3, 4, 5 e 6. b) ( ) 6, 5, 4, 3, 2 e 1. c) ( ) 1, 3, 5, 2, 4 e 6. d) ( ) 6, 4, 2, 5, 3 e 1. e) ( ) 1, 2, 4, 3, 5 e 6. 3 (ENADE, 2010) Supondo que os dados do gráfico sejam utilizados para se calcular a variação do percentual da população estudada, por sexo, de acordo com as categorias apresentadas, no período da pesquisa. Essa variação é obtida do seguinte modo: você precisa subtrair o valor correspondente a 2008-2009 e o valor correspondente a 1974-1975 e dividir o resultado dessa diferença pelo valor correspondente a 1974-1975. FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2019/NUTRICAO. pdf>. Acesso em: 29 jan. 2020. 68 Nesse caso, a maior variação no período corresponde: a) ( ) ao excesso de peso para o sexo masculino. b) ( ) ao excesso de peso para o sexo feminino. c) ( ) à obesidade para o sexo masculino. d) ( ) à obesidade para o sexo feminino. e) ( ) aos dados para obesidade apresentaram a mesma variação para ambos os sexos. 69 TÓPICO 2 GESTANTE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que as alterações no organismo materno refletem tanto para a saúde da gestante como para a do bebê? É interessante falar a respeito do período gestacional e crescimento fetal, não é mesmo? Por isso, no Tópico 2, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando das alterações gustativas e olfativas que influenciam as escolhas alimentares da gestante. Em seguida, falaremos a respeito dos aspectos fisiológicos nas semanas gestacionais, incluindo a avaliação nutricional da gestante e a importância de avaliar o IMC pré-gestacional e monitorar o ganho de peso durante a gestação. Por fim, abordaremos a importância de saber avaliar exames bioquímicos na gestação. Você sabia que a hiperglicemia durante a gestação constitui um relevante problema? Já ouviu falar sobre hipertensão na gravidez? Aprenderemos a identificar os fatores de risco. E os estágios da lactação e hormônios envolvidos na produção do leite materno? Você sabia que a amamentação previne mortes de crianças e reduz o risco de hospitalização? Ter conhecimento sobre o período gestacional e como avaliar a gestante é essencial para a sua trajetória acadêmica. Sabendo utilizar a curva de Atalah e identificar as modificações que ocorrem nos diferentes trimestres da gestação é fundamental para um diagnóstico nutricional correto. Assim, você poderá aperfeiçoar seu conhecimento técnico e suas habilidades e competências necessárias para trabalhar com essa fase da vida tão especial. 2 ASPECTOS FISIOLÓGICOS E NUTRICIONAIS A fase gestacionaltraz diversas alterações para o organismo materno, não só fisiológicas e físicas, mas emocionais, comportamentais e alimentares. Todas essas alterações trazem reflexos para a saúde da gestante e do bebê (VITOLO, 2015). O organismo materno é a única fonte de nutrientes para o feto e, por meio da ingestão ou de suas reservas, a boa nutrição intrauterina garante um nascimento saudável e melhores condições de saúde (VITOLO, 2015). UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 70 As gestantes apresentam alterações gustativas e olfativas que influenciam as escolhas alimentares, como: paladar menos sensível ao sal o que pode resultar em aumento na ingestão de alimentos salgados; maior sensibilidade a odores o que tem relação direta com as náuseas e hiperêmese (vômitos) comuns na gestação (VITOLO, 2015). O período gestacional compreende 40 semanas, conforme representado na figura a seguir: FIGURA 3 – CRESCIMENTO FETAL POR SEMANA GESTACIONAL FONTE: <https://image.freepik.com/vetores-gratis/crescimento-fetal-de-4-a-40- semanas_29190-138.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2019. • 1° trimestre: grandes modificações biológicas, intensa divisão celular e a saúde do embrião depende da condição nutricional pré-gestacional. • 2° e 3° trimestre: modificações na composição corporal, ganho de peso, influência do meio externo na condição nutricional do feto. Acadêmico, você sabia que na gestação há uma exacerbação do paladar ao sabor amargo e essa situação é entendida como uma proteção quanto à ingestão de substâncias tóxicas? NOTA 1º trimestre – de 0 a 13 semanas (VITOLO, 2015): • Aumento dos seios, mais sono, mais fome, enjoos, cansaço. • Com 4 semanas o bebê é do tamanho de um grão de arroz, seu coração começa a bater e aparecem pequenos brotos que depois serão os braços e as pernas. • Ao final de 8 semanas já estão se formando os dedos, as mãos, as orelhas e os órgãos internos. Ele é do tamanho de uma ervilha e pesa mais ou menos 7 gramas. TÓPICO 2 | GESTANTE 71 • De 9 a 12 semanas seu rosto já está quase todo formado e os olhos já têm as pálpebras. Inicia-se o funcionamento do cérebro, e ele já se movimenta e mexe os braços e as pernas. Já se formou o cordão umbilical, que liga o bebê à placenta. • Ao final do 3° mês, com aproximadamente 14 cm, o coração já pode ser ouvido durante a consulta de pré-natal. • O ácido fólico, também conhecido como vitamina B9, é extremamente importante para evitar defeitos na formação do cérebro, nervos e medula. 2º trimestre – de 14 a 26 semanas (VITOLO, 2015): • Primeiros movimentos dentro da barriga, crescimento da barriga e alterações nos seios e nos quadris. • Entre 13 e 14 semanas iniciam-se os movimentos respiratórios e das mãos. • Entre 15 e 16 semanas a pele começa a engrossar. O bebê já tem cílios e sobrancelhas e seus movimentos começam a ser percebidos. O coração bate muito mais rápido do que o da mãe. • Entre 17 e 18 semanas ele pode medir de 17 cm a 20 cm e pesar de 200 gramas a 250 gramas. Já consegue sugar, engolir e piscar. • Entre 20 e 24 semanas ele mede em torno de 26 cm e seu peso médio é de 500 gramas. Os movimentos ficam mais intensos. Há momentos em que ele está dormindo e momentos em que fica acordado. 3º trimestre – de 27 a 40 semanas (VITOLO, 2015): • O bebê tem menos espaço dentro da barriga, o que dá a sensação de peso e desconforto. • O útero pode ficar durinho por instantes, com uma sensação de endurecimento. • Poderá sair do seio um líquido amarelado, chamado colostro, que vai alimentar o bebê nos primeiros dias de vida. • De 27 a 30 semanas ele pode pesar 1 kg e medir cerca de 32 cm. Já percebe a luz fora do útero, abre e fecha os olhos. Escuta e identifica vários sons, como vozes e músicas, e pode se assustar com barulhos altos e repentinos. • Com 32 semanas já pesa 2 kg. • Sua pele fica coberta por um tipo de creme branco, o vérnix, que traz proteção e o ajudará a se deslizar pelo canal do parto. • Ao final do período, o bebê tem entre 45 e 50 cm. Quais são os procedimentos para uma primeira consulta com a gestante? Perguntar sobre a idade gestacional, a idade da mãe, a atividade profissional, avaliar possíveis fatores de risco, histórias reprodutivas anteriores desfavoráveis, se tem alguma doença obstétrica atual, se tem alguma doença crônica, a presença de sintomas característicos na gestação (náuseas, vômitos, enjoos), requerimento ou avaliação dos exames laboratoriais entre outros. Além disso, deve-se aferir medidas corporais e aplicar inquéritos alimentares para elaborar um plano alimentar individualizado de acordo com as metas e objetivos da paciente. Outro ponto importante é avaliar o ganho de peso gestacional de acordo com o estado nutricional, prevenir intercorrências e carências nutricionais, bem como incentivar o aleitamento materno (VITOLO, 2015). UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 72 3 COMPOSIÇÃO CORPORAL A avaliação nutricional na gestação deve ser realizada permitindo a intervenção oportuna com vistas a minimizar o risco de inadequação de ganho de peso gestacional total, intercorrências gestacionais, baixo peso ao nascer, parto prematuro e intercorrências do recém-nascido. A avaliação nutricional deve ser feita o mais precocemente possível e de forma detalhada, iniciando-se pela identificação dos fatores de risco (BARROS; SAUNDERS; LEAL, 2008). Os procedimentos para a avaliação inicial do estado nutricional da gestante são (VITOLO, 2015): • Obtenção do peso pré-gestacional. • Aferição do peso atual e da estatura. • Cálculo da idade gestacional. Os procedimentos para o diagnóstico nutricional a partir do IMC pré- gestacional e monitoramento do ganho de peso da gestante são (VITOLO, 2015): • Calcular o IMC pré-gestacional. • Consultar os pontos de corte e a classificação. • Segundo a classificação encontrada, consultar o ganho de peso recomendado. Conforme mencionado anteriormente, o cálculo do IMC é fundamental na gestação. Por isso, na etapa de avaliação da composição corporal, é necessário aferir o peso corporal (kg) e estatura (m). Além disso, a circunferência do braço também é indicada, por ser considerada um bom preditor do peso ao nascer – a cada centímetro adicional espera-se um aumento de 45 g no peso ao nascer do bebê. Outro cálculo importante é a data provável do parto (DPP). A partir da data da última menstruação (DUM) é possível fazer essa estimativa, conforme fórmula abaixo (VITOLO, 2015). DPP = DUM (data da última menstruação) + 7 dias + 9 meses • Curva de Atalah: a partir de 2004, o Ministério da Saúde padronizou a utilização da Curva de Atalah, S. E.; Castillo, C. L.; Castro, R. S. (1997) como método de avaliação do estado nutricional de gestantes. Atalah (1997) elaborou uma curva com 3000 gestantes chilenas. Esse instrumento é baseado no IMC por idade gestacional (semanas). Com a avaliação a partir da curva de Atalah é possível prever o ganho de peso desejável total até a última semana da gestação. Essa previsão é baseada na recomendação do ganho de peso a partir do estado nutricional pré-gestacional. Os quadros a seguir mostram a recomendação para ganho de peso gestacional semanal e total e a avaliação do estado nutricional, segundo o IMC pré-gestacional. TÓPICO 2 | GESTANTE 73 QUADRO 2 – GANHO DE PESO GESTACIONAL, SEGUNDO O IMC PRÉ-GESTACIONAL IMC PRÉ-GESTACIONAL OU INICIAL (KG/M2) GANHO DE PESO (KG) ATÉ A 13a SEMANA GANHO DE PESO (KG) SEMANAL NO 2o E 3o TRIMESTRES (A PARTIR DA 14a SEMANA) GANHO DE PESO (KG) TOTAL NA GESTAÇÃO GANHO DE PESO MÍNIMO (KG/ SEMANA) Baixo Peso (BP) (< 18,5) 2,0 0,51 (0,44 – 0,58) 12,5 – 18,0 0,44 Adequado (A) (18,5 – 24,9) 1,5 0,42 (0,35 – 0,50) 11,5 – 16,0 0,35 Sobrepeso (S) (25,0 – 29,9) 1,0 0,28 (0,23 – 0,33) 7,0 – 11,5 0,23 Obesidade (0) (≥ 30,0) 0,5 0,22 (0,17 – 0,27) 5 – 9 0,17 FONTE: Adaptado de Atalah (1997) QUADRO 3 – GANHO DE PESO GESTACIONAL, SEGUNDO O IMC PRÉ-GESTACIONAL SEMANA GESTACIONAL BAIXOPESO IMC ≤ ADEQUADO IMC ENTRE SOBREPESO IMC ENTRE OBESIDADE IMC ≥ 6 19,9 20,0 | - | 24,9 25,0 | - | 30,0 30,1 8 20,1 20,2 | - | 25,0 25,1 | - | 30,1 30,2 10 20,2 20,3 | - | 25,2 25,3 | - | 30,2 30,3 11 20,3 20,4 | - | 25,3 25,4 | - | 30,3 30,4 12 20,4 20,5 | - | 25,4 25,5 | - | 30,3 30,4 13 20,6 20,7 | - | 25,6 25,7 | - | 30,4 30,5 14 20,7 20,8 | - | 25,7 25,8 | - | 30,5 30,6 15 20,8 20,9 | - | 25,8 25,9 | - | 30,6 30,7 16 21,0 21,1 | - | 25,9 26,0 | - | 30,7 30,8 17 21,1 21,2 | - | 26,0 26,1 | - | 30,8 30,9 18 21,2 21,3 | - | 26,1 26,2 | - | 30,9 31,0 19 21,4 21,5 | - | 26,2 26,3 | - | 30,9 31,0 20 21,5 21,6 | - | 26,3 26,4 | - | 31,0 31,1 21 21,7 21,8 | - | 26,4 26,5 | - | 31,1 31,2 22 21,8 21,9 | - | 26,6 26,7 | - | 31,2 31,3 23 22,0 22,1 | - | 26,8 26,9 | - | 31,3 31,4 24 22,2 22,3 | - | 26,9 27,0 | - | 31,5 31,6 25 22,4 22,5 | - | 27,0 27,1 | - | 31,6 31,7 26 22,6 22,7 | - | 27,2 27,3 | - | 31,7 31,8 27 22,7 22,8 | - | 27,3 27,4 | - | 31,8 31,9 28 22,9 23,0 | - | 27,5 27,6 | - | 31,9 32,0 29 23,1 23,2 | - | 27,6 27,7 | - | 32,0 32,0 30 23,3 23,4 | - | 27,8 27,9 | - | 32,1 32,3 31 23,4 23,5 | - | 27,9 28,0 | - | 32,2 32,3 32 23,6 23,7 | - | 28,0 28,1 | - | 32,3 32,4 UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 74 SEMANA GESTACIONAL BAIXO PESO IMC ≤ ADEQUADO IMC ENTRE SOBREPESO IMC ENTRE OBESIDADE IMC ≥ 33 23,8 23,9 | - | 28,1 28,2 | - | 32,4 32,5 34 23,9 24,0 | - | 28,3 28,4 | - | 32,5 32,6 35 24,1 24,2 | - | 28,4 28,5 | - | 32,6 32,7 36 24,2 24,3 | - | 28,5 28,6 | - | 32,7 32,8 37 24,4 24,5 | - | 28,7 28,8 | - | 32,8 32,9 38 24,5 24,6 | - | 28,8 28,9 | - | 32,9 33,0 39 24,7 24,8 | - | 28,9 29,0 | - | 33,0 33,1 40 24,9 25,0 | - | 29,1 29,2 | - | 33,1 33,2 41 25,0 25,1 | - | 29,2 29,3 | - | 33,2 33,3 42 25,0 25,1 | - | 29,2 29,3 | - | 33,2 33,3 FONTE: Adaptado de Atalah (1997) Acadêmico, você sabia que os componentes de ganho de peso materno se distribuem, em geral, da seguinte forma: feto (28%), placenta e líquido amniótico (22%), depósito de gordura (9%), aumento de mamas (14%), edema e volume sanguíneo (27%) (SANTOS; MURA, 2007). NOTA Conduta nutricional, segundo estado nutricional (VITOLO, 2015): • Baixo peso (BP) – investigar história alimentar, hiperêmese, infecções, parasitoses e anemias. Orientação nutricional visando à promoção do peso adequado e hábitos alimentares saudáveis; remarcar consulta em intervalo menor que o fixado no calendário habitual. • Adequado (A) – seguir calendário habitual, explicar à gestante que seu peso está adequado à idade gestacional. Orientação nutricional visando à manutenção do peso adequado e à promoção de hábitos alimentares saudáveis. • Sobrepeso e Obesidade (S e O) – investigar obesidade pré-gestacional, edema, polidrâmnio, macrossomia, gravidez múltipla e doenças associadas (diabetes, pré-eclâmpsia etc.). Orientação nutricional visando à promoção do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis, ressaltando que, no período gestacional, não se deve perder peso; remarcar consulta em intervalo menor que o fixado no calendário habitual. TÓPICO 2 | GESTANTE 75 Etapas do diagnóstico nutricional (VITOLO, 2015): • Calcule a idade gestacional. • Calcule o IMC. • Localize, no eixo horizontal, a semana gestacional calculada e identifique, no eixo vertical, o IMC da gestante. • Marque um ponto na interseção dos valores de IMC e da semana gestacional. • Classifique o estado nutricional da gestante, segundo IMC por semana gestacional, conforme legenda do gráfico: BP, A, S, O. • A marcação de dois ou mais pontos no gráfico (primeira consulta e subsequentes) possibilita construir o traçado da curva por semana gestacional. Ligue os pontos obtidos e observe o traçado resultante. O gráfico a seguir mostra o acompanhamento nutricional da gestante, segundo o IMC e semana gestacional: GRÁFICO 1 – GRÁFICO DE ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DA GESTANTE FONTE: Adaptado de Atalah (1997) UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 76 4 INTRODUÇÃO À DIABETES GESTACIONAL E HIPERTENSÃO GESTACIONAL A análise dos resultados de exames laboratoriais permite avaliar possíveis deficiências nutricionais e corrigi-las por meio de um plano alimentar individualizado. É importante observar que, devido às adaptações fisiológicas na gestação, alguns marcadores bioquímicos encontram-se diferentes das mulheres não gestantes, sem que isso seja motivo de preocupação. A hiperglicemia durante a gestação constitui um relevante problema, não só pelo risco de piores desfechos perinatais e de desenvolvimento de doenças futuras, como também pelo aumento de sua prevalência, em decorrência da epidemia de obesidade (VITOLO, 2015). A prevalência de hiperglicemia durante a gravidez pode variar dependendo dos critérios diagnósticos utilizados e da população estudada. Segundo estudos populacionais realizados nas últimas décadas, a prevalência varia de 1 a 37,5%, com uma média mundial de aproximadamente 16% (OPAS, 2016). As estimativas populacionais de frequência de hiperglicemia na gestação no Brasil são conflitantes. No Brasil, existe apenas um estudo populacional sobre a prevalência de DG, o Estudo Brasileiro de Diabetes Gestacional (EBDG). Esse estudo foi realizado em 1999 e avaliou a prevalência em cerca de 5.000 gestantes atendidas no sistema público de cinco capitais, usando o teste de tolerância oral à glicose (TOTG) com 75 g de glicose. Utilizando os valores propostos naquela época, a prevalência foi de 7,6%. No entanto, estima-se que essa prevalência seria aumentada para aproximadamente 18% com a adoção dos novos critérios para diagnósticos de DG propostos em 2010 pelo International Association of Diabetes in Pregnancy Study Group (IADPSG), referendados pela OMS em 2013 e pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) em 2015 (OPAS, 2016). Alguns hormônios produzidos pela placenta e outros aumentados pela gestação, tais como lactogênio placentário, cortisol e prolactina podem promover redução da atuação da insulina em seus receptores e, consequentemente, um aumento da produção de insulina nas gestantes (OPAS, 2016). O quadro a seguir mostra os fatores de risco para hiperglicemia na gravidez. TÓPICO 2 | GESTANTE 77 QUADRO 4 – FATORES DE RISCO PARA HIPERGLICEMIA NA GRAVIDEZ FONTE: OPAS (2016, p. 13) Segundo Souza et al. (2013), a hipertensão incide em cerca de 10% das gestações. Diferente dos países desenvolvidos, a hipertensão na gestação permanece a primeira causa de morte materna direta no Brasil (37%). A expressão hipertensão na gravidez recebe a designação geral de síndromes hipertensivas gestacionais diagnosticadas por níveis pressóricos iguais ou acima de 140 mmHg para a pressão sistólica e 90 mmHg para pressão diastólica (SOUZA et al., 2013). Hipertensão gestacional: aparece após a 20ª semana, sem proteinúria (aumento da excreção de proteínas pela urina). Pode ser transitória, quando retorna aos valores normais após 12 semanas do parto, ou crônica quando registrada antes da gestação ou além de 12 semanas após o parto (MOURA et al., 2011). Acima de 20 semanas de gestação, associado à proteinúria, a hipertensão gestacional denomina-se pré-eclâmpsia. Na fase inicial a doença é assintomática, porém, quando não identificada e tratada adequadamente sua evolução é para as formas mais graves, como a eclâmpsia e HELLP (MOURA et al., 2011). Pré-eclâmpsia / Eclâmpsia: a pré-eclâmpsia é definida pela hipertensão, após 20 semanas de gestação, + proteinúria (proteinúria de 24 horas > 300 mg). Apresenta associação com sintomas como tontura, cefaleia, distúrbios visuais, dor abdominal, vômito, edema de face e mão. Classifica-se ainda a pré-eclâmpsia em UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 78 leve e grave (MOURA et al., 2011). A eclâmpsia corresponde à crise convulsiva, sendo precedida pelo agravamento do quadro hipertensivo, acompanhada por alterações funcionais no sistema cardiovascular, sistema nervoso central, rins e fígado (MOURA etal., 2011). 5 INTRODUÇÃO À LACTAÇÃO E AO ALEITAMENTO MATERNO Estágios da lactação (VITOLO, 2015): • Último trimestre da gestação = lactogênese (produção de lactose, proteínas e imunoglobulinas). • Aumento do fluxo sanguíneo e captação de glicose (2 a 3 dias após o parto até 10 dias). • Manutenção da lactação, leite maduro = galactopoese (manutenção da produção de prolactina e ocitocina, estimulada pela sucção). Hormônios da lactação (VITOLO, 2015): • Prolactina: atua nas células alveolares, auxiliando na produção de leite. A não saída ou esvaziamento inadequado da mama faz com que o alvéolo secrete menos leite, dando início a parada da produção. • Ocitocina: atua nas células mioepiteliais, auxiliando na liberação/ejeção do leite. As figuras a seguir mostram a ação dos hormônios da lactação. FIGURA 4 – ESTÍMULO DA PRODUÇÃO DE LEITE FIGURA 5 – EJEÇÃO DO LEITE FONTE: Adaptado de Vitolo (2015) FONTE: Adaptado de Vitolo (2015) TÓPICO 2 | GESTANTE 79 Aleitamento materno: o aleitamento materno exclusivo por 6 meses e continuado até 12 meses previne 13% das mortes de crianças menores de 5 anos. O aleitamento materno exclusivo por 4 meses reduz 1/3 do risco de hospitalização por doenças respiratórias ou diarreias (VITOLO, 2015). Acadêmico, não se esqueça! O aleitamento exclusivo é só leite materno “do peito”, sem chá, água, leites, outras bebidas ou alimentos. NOTA A amamentação aumenta o vínculo mãe-filho, reduz riscos de CA de mama, aumenta o gasto energético (auxilia na perda de peso) (VITOLO, 2015). O movimento de sucção auxilia no desenvolvimento da língua, lábios, mandíbula e músculos faciais, facilitando o processo mastigatório e sendo importante para o processo de fala (VITOLO, 2015). Composição do leite materno (VITOLO, 2015): • Colostro: leite secretado na primeira semana após o parto. Líquido amarelado e espesso, rico em proteínas e imunoglobulinas, pobre em lactose e gordura. Alto conteúdo de anticorpos contra vírus e bactérias. Auxilia na flora bacteriana e eliminação do mecônio (fezes do bebê). Do 7º ao 10º dia = leite de transição • Leite maduro: após 10 dias Carboidrato 7g/dL lactose 1g/dL oligossacarídeos Lipídeos 3,5g/dL 97% triacilgliderois, fosfolipídeos, colesterol e ácidos graxos livres Proteína 1,2 a 1,5g/dL 60% soro do leite e 40% caseína Variações do leite materno (VITOLO, 2015): • Leite anterior: início da mamada, mais aquoso. • Leite posterior: final da mamada, rico em gordura. • Importante esvaziar uma mama a cada mamada para o bebê receber os 2 leites. UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA 80 Manejo durante a amamentação (VITOLO, 2015): • Posição da mãe para amamentar. • Posição do bebê no colo da mãe. • Maneira como a criança abocanha a mama. • Maneira como a mamada é interrompida. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ANTROPOMÉTRICA DE GESTANTES BRASILEIRAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Denise Cavalcante de Barros Claudia Saunders Maria do Carmo Lea A nutrição, o peso pré-gestacional e o ganho de peso materno durante a gravidez são aspectos importantes que influenciam os resultados da gestação. Estudos comprovam que o peso e a saúde do recém-nascido dependem em grande parte do estado nutricional materno e são fatores que influenciam adversamente no crescimento e desenvolvimento durante os primeiros anos de vida. A partir da década de 1960 a associação entre ganho de peso materno e o peso ao nascer passa a ser reconhecida nos Estados Unidos da América, e estudos posteriores reafirmam os efeitos positivos do ganho de peso adequado durante a gestação para o melhor resultado para a mãe e para o concepto. Carmichael e Abrams, revisando estudos no período de 1980 a 1996, encontraram que o risco de nascimentos pré-termo e o crescimento intrauterino restrito (CIUR) são maiores em mulheres com pequeno ganho de peso na gestação, embora seja mais forte a associação como CIUR. Estes efeitos são ainda maiores em gestantes adolescentes e nas gestantes que nasceram com baixo peso e/ou foram desnutridas na infância. O ganho excessivo de peso também foi descrito como fator de risco relacionado a complicações gestacionais, tais como diabetes gestacional, macrossomia fetal, necessidade de parto cirúrgico e maior retenção de peso pós- parto, fatores esses que aumentam as chances de mortalidade materna e neonatal. O ganho de peso excessivo entre gestantes é um problema crescente nos Estados Unidos da América. Schieve et al. investigando o ganho de peso de 120.531 gestantes, mostraram que a proporção das que ganharam peso excessivo aumentou de 41,5% em 1990 para 43,7% em 1996. Ao contrário, o ganho de peso adequado diminuiu de 23,4% para 22,0% no mesmo período. As mudanças comportamentais que influenciam a saúde materna, como uso de álcool, drogas ilícitas, alimentos industrializados e fast-foods, vêm sendo identificadas como fatores facilitadores para o ganho de peso gestacional excessivo, com repercussões diretas para a gestante e seu recém-nascido. TÓPICO 2 | GESTANTE 81 A identificação precoce da inadequação no estado nutricional das gestantes contribui para a intervenção oportuna, resultando em um impacto positivo nas condições de nascimento da criança e minimizando as taxas de mortalidade perinatal e neonatal. Ao longo dos anos os parâmetros para a avaliação de ganho de peso na gestação vêm sofrendo modificações, e novos métodos de avaliação nutricional antropométrica das gestantes vêm sendo desenvolvidos e validados internacionalmente. No Brasil, a avaliação nutricional antropométrica de gestantes é baseada nas recomendações internacionais e existem sérios questionamentos sobre estes métodos, em particular, sobre sua validade para a população brasileira. No decorrer das últimas décadas o Ministério da Saúde (MS) preconizou distintos métodos para avaliação nutricional antropométrica das gestantes. Em 1989, o Ministério da Saúde adotou oficialmente o instrumento proposto por Rosso como método de avaliação nutricional a ser utilizado nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). A implantação desse método motivou a realização de investigações epidemiológicas, as quais identificaram que o método de Rosso superestimava a desnutrição nas gestantes e a sua inadequação para as gestantes adolescentes. Em 2000, o MS reuniu um grupo consultor com o objetivo de revisar as orientações para a assistência pré-natal e passou a adotar na avaliação nutricional da gestante o método proposto por Fescina. Essa decisão recebeu críticas, pois não pondera o ganho de peso das gestantes pelo seu estado nutricional pré-gestacional. Apesar de ser recomendado pelo MS, a proposta não obteve boa adesão na rotina do pré-natal nos serviços de saúde. Em 2005 o MS adotou o método proposto por Atalah, combinado com a proposta do Institute of Medicine (IOM). FONTE: BARROS, D. C. de; SAUNDERS, C.; LEA, M. do C. Avaliação nutricional antropométrica de gestantes brasileiras: uma revisão sistemática. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., v. 8, n.4, p. 363-376, 2008. 82 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A gestante apresenta alterações gustativas e olfativas que influenciam as escolhas alimentares. • O período gestacional compreende 40 semanas. • No 1º trimestre ocorrem grandes modificações biológicas, intensa divisão celular e a saúde do embrião depende da condição nutricional pré-gestacional. • No 2º e 3º trimestre ocorrem modificações na composição corporal, ganho de peso e existe influência do meio externo na condição nutricional do feto. • Na gestação há uma exacerbação do paladar ao sabor amargo e esta situação é entendida como uma proteção quanto à ingestão de substâncias tóxicas. • Os procedimentos para a avaliação do estado nutricional da gestante incluem a obtenção do peso pré-gestacional, o peso atual e a estatura, e calcular a idade gestacional. • Os procedimentos para o diagnóstico nutricional incluem calcular o IMC pré- gestacional, consultar os pontos de cortee a classificação e avaliar o ganho de peso recomendado. • A partir da data da última menstruação (DUM) é possível calcular a data provável do parto (DPP). • A partir de 2004, o Ministério da Saúde padronizou a utilização da Curva de Atalah (1997) como método de avaliação do estado nutricional de gestantes. • A partir da curva de Atalah é possível prever o ganho de peso durante a gestação, baseado na recomendação do ganho de peso a partir do estado nutricional pré-gestacional. • A hiperglicemia durante a gestação constitui um relevante problema e aumento do risco para a gestante e o bebê. • A hipertensão gestacional pode ser transitória, quando retorna aos valores normais após 12 semanas do parto, ou crônica. • A prolactina é um hormônio da lactação que auxilia na produção de leite. • A ocitocina é um hormônio da lactação que auxilia na liberação/ejeção do leite. 83 • O aleitamento materno exclusivo por 6 meses e continuado até 12 meses previne mortes de crianças menores de 5 anos e reduz o risco de hospitalização por doenças respiratórias ou diarreias. • A amamentação aumenta o vínculo mãe-filho, reduz riscos de câncer de mama e auxilia na perda de peso. • O movimento de sucção auxilia no desenvolvimento da língua, lábios, mandíbula e músculos faciais. • O colostro é o leite secretado na primeira semana após o parto, é rico em proteínas e imunoglobulinas, com alto conteúdo de anticorpos. • É importante esvaziar uma mama a cada mamada para o bebê receber o leite anterior (para hidratar) e posterior (para saciar). 84 AUTOATIVIDADE 1 As prevalências de aleitamento materno no Brasil, em especial as de amamentação exclusiva, estão bastante aquém das recomendadas, apesar de as evidências científicas sinalizarem as vantagens da amamentação sobre outras formas de se alimentar a criança. FONTE: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília, 2015. Considerando as baixas taxas de aleitamento materno e as orientações de promoção à amamentação nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), avalie as afirmações a seguir. I- O leite materno atua como fator protetor contra diarreias e doenças respiratórias na criança, além de prevenir o sobrepeso e a obesidade na infância. II- O colostro, produzido em pequena quantidade, é o leite ideal para as crianças nos primeiros dias de vida, por seu alto teor de gordura, principalmente para aquelas que nascem com baixo peso. III- A amamentação promove o desenvolvimento motor-oral adequado e favorece as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons e da fala da criança. IV- As fórmulas de alimentação infantil, por serem nutricionais, devem ser introduzidas na dieta da criança quando a mãe retorna à jornada trabalho. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) II e IV. d) ( ) I, III e IV. e) ( ) II, III e IV. 2 O aleitamento materno, processo que envolve fatores fisiológicos, ambientais e emocionais, é cercado de mitos e crenças que podem provocar práticas equivocadas e desmame precoce. Além disso, muitas mães não acreditam que são capazes de amamentar ou duvidam da qualidade do seu leite. A figura a seguir ilustra a fisiologia da lactação, identificando estímulos cerebrais e respostas hormonais correspondentes aos reflexos da produção e da descida do leite materno. 85 FONTE: Adaptado de Vitolo (2015) A partir dessas informações, assinale a opção CORRETA acerca da lactação. ( ) O estímulo gerado pela sucção é prescindível para uma lactação bem-sucedida, uma vez que são os hormônios ocitocina e prolactina os responsáveis, respectivamente, pela produção e pela descida do leite materno. ( ) Estímulos auditivos e visuais, assim como sentimentos maternos de ansiedade, dor ou dúvidas, podem interferir no reflexo da descida do leite, diminuindo a produção de ocitocina. ( ) O esquema apresentado corresponde ao início do período de lactação, quando é produzido o colostro, pois, para a produção do leite maduro, há queda significativa da concentração dos hormônios envolvidos na lactação. ( ) O leite materno produzido na primeira semana apresenta teor proteico mais baixo que o leite maduro, devido, principalmente, a diferenças na produção de hormônios. ( ) Do ponto de vista fisiológico, é aconselhável que a mãe amamente seu filho em intervalos irregulares, para potencializar os estímulos auditivos e visuais e manter uma boa produção de leite materno. 3 Sobre a avaliação do estado nutricional de gestantes, julgue as afirmativas a seguir: I- Não é recomendada a restrição de energia durante a gestação, visto às elevadas necessidades nutricionais desse período, o risco de retardo de crescimento intrauterino decorrente de carências na alimentação materna e também devido à ação neurotóxica dos corpos cetônicos produzidos em jejuns prolongados sobre o sistema nervoso fetal. NO ENTANTO II - As gestantes com obesidade grau III não devem ganhar peso na gestação, para prevenir o risco de macrossomia fetal decorrente do excesso de peso materno e prevenir complicações obstétricas, como o elevado risco de eclâmpsia e pré-eclâmpsia nestes casos. 86 Julgue a afirmativa que apresenta a CORRETA relação entre a afirmativa I e II: a) ( ) As afirmativas I e II são corretas, e afirmativa II é uma contraposição correta à afirmativa I. b) ( ) As afirmativas I e II são corretas, e a afirmativa II não é uma contraposição correta à afirmativa I. c) ( ) A afirmativa I é correta, a afirmativa II é incorreta e não é uma contraposição correta à afirmativa I. d) ( ) A afirmativa I é incorreta, a afirmativa II é correta e é uma contraposição à afirmativa I. e) ( ) As afirmativas I e II são incorretas, e a afirmativa II não é uma contraposição à afirmativa I. 87 TÓPICO 3 CRIANÇAS E ADOLESCENTES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que a avaliação do peso ao nascer é o primeiro diagnóstico nutricional da criança? É interessante falar a respeito das fases de crescimento e desenvolvimento, não é mesmo? Por isso, no Tópico 3, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando da avaliação nutricional de crianças e adolescentes. Falaremos a respeito da diferença entre altura e comprimento, dos índices antropométricos preconizados pelo Ministério da Saúde para acompanhar o crescimento e desenvolvimento infantil, além da classificação do estado nutricional de crianças e adolescentes. Você sabia que a adolescência é o período que compreende a idade de 10 a 19 anos de idade? Nesse sentido, abordaremos as etapas da maturação sexual. Aprenderemos sobre o crescimento puberal, incluindo as etapas de adrenarca e gonadarca. Será que existe diferença no processo de avaliação e diagnóstico nutricional de crianças e adolescentes? Aprenderemos a associar os indicadores de maturação sexual às variáveis antropométricas para classificar o estado nutricional. Ter conhecimento sobre as curvas de crescimento e as recomendações da OMS para avaliar crianças e adolescentes é imprescindível para a sua trajetória acadêmica. Sabendo utilizar o percentil, o escore-z e a classificação de Tanner é a base para identificar corretamente o estado nutricional. Assim, você poderá aperfeiçoar seu conhecimento técnico e suas habilidades e competências necessárias para trabalhar com infância e adolescência. 2 ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS PARA CRIANÇAS A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), instituída pela Portaria n° 710, de 10 de junho de 1999, ressalta a importância do monitoramento da situação/segurança alimentar e nutricional de toda a população brasileira (BRASIL, 2011d). 88 UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA Atualmente, o modelo de vigilância epidemiológica da área de alimentação e nutrição adotado pelo Ministério da Saúde está centrado no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Esse é um sistema compostopor uma série de indicadores, com o objetivo de avaliar e monitorar o estado nutricional e alimentar da população brasileira em diversas fases da vida (BRASIL, 2011d). O SISVAN é um valioso instrumento de apoio às ações de promoção da saúde que o Ministério da Saúde recomenda que seja adotado pelos profissionais da área e pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), visando o aumento da qualidade da assistência prestada à população (BRASIL, 2011d). • Peso ao nascer (BRASIL, 2011d): a avaliação do peso ao nascer é o primeiro diagnóstico nutricional. Esse peso reflete os problemas nutricionais ocorridos durante a gestação. A classificação usada é: QUADRO 5 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS AO NASCER PESO DA CRIANÇA CLASSIFICAÇÃO ≥ 2.500 g Peso adequado < 2.500 g Baixo peso ao nascer (BPN) < 1.500 g Muito baixo peso ao nascer FONTE: BRASIL (2011d, p. 19) • Peso ao nascer e idade gestacional (VITOLO, 2015): ◦ Proporcional ou crônico: nasce com baixo peso, mas proporcional ao comprimento. Dificilmente consegue recuperar a estatura, apresenta velocidade de crescimento adequada, mas sempre abaixo do referencial. ◦ Desproporcional ou agudo: resultante de patologias obstétricas. Se houver condições favoráveis, consegue alcançar valores de referência. Para ser feito um diagnóstico, é necessária a comparação dos valores encontrados na avaliação com valores de referência que caracterizam a distribuição em uma população saudável (BRASIL, 2011d). Os pontos de corte, também chamados de valores críticos, correspondem aos limites que separam os indivíduos que estão saudáveis daqueles que não estão (BRASIL, 2011d). Por exemplo, o percentil 3 da distribuição do peso para idade é o ponto de corte que o Ministério da Saúde adota para indicar baixo peso para idade entre crianças (BRASIL, 2011d). Uma população de referência é aquela cujas medidas foram aferidas em indivíduos sadios, vivendo em condições satisfatórias, tornando- se uma referência para comparações com outros grupos (BRASIL, 2011d). Com a distribuição gráfica das medidas de peso e estatura desses indivíduos, são construídas curvas de crescimento de referência (BRASIL, 2011d). O Ministério da Saúde adota as recomendações da OMS quanto ao uso de curvas de referência para avaliação do estado nutricional (BRASIL, 2011d). TÓPICO 3 | CRIANÇAS E ADOLESCENTES 89 Assim, para crianças menores de cinco anos, recomenda-se utilizar a referência da OMS lançada em 2006, que consta na Caderneta de Saúde da Criança. Para as crianças com cinco anos ou mais, recomenda-se o uso da referência internacional da OMS lançada em 2007 (BRASIL, 2011d). O percentil refere-se à posição ocupada por determinada observação no interior de uma distribuição. Para obtê-lo, os valores da distribuição devem ser ordenados do menor para o maior (ordem crescente); em seguida, a distribuição é dividida em 100 partes de modo que cada observação corresponda um percentil daquela distribuição (BRASIL, 2011d). Exemplo: aos 4 anos de idade, a mediana de estatura na população de referência (equivalente ao percentil 50), é de 103,3 cm para meninos e 102,7 cm para meninas. Uma criança nessa idade com 100,5 cm estará no percentil 25, se for do sexo masculino ou no percentil 30 se for do sexo feminino para o índice de estatura por idade. O escore-z quantifica a distância do valor observado em relação à mediana dessa medida. Corresponde às unidades de desvio-padrão em torno da média, ou seja, o quanto a criança está acima ou abaixo do valor que é considerado normal na população. Cada desvio-padrão de diferença da mediana corresponde a uma unidade de escore Z. O valor zero indica que o indivíduo se encontra no valor da mediana e é considerado ideal, sendo comparável ao P50 (BRASIL, 2011d). Fórmula do escore-z = (valor observado) – (valor da mediana de referência) desvio-padrão da população de referência • Fases de crescimento (BRASIL, 2011d): ◦ Fase do lactente: o primeiro ano de vida é caracterizado por maior velocidade de crescimento (cerca de 25 cm/ano), sobretudo nos primeiros seis meses, a qual se reduz a partir do segundo ano (15 cm/ano). Nessa fase, os principais fatores implicados no crescimento da criança são os nutricionais e ambientais. ◦ Fase pré-púbere: período entre o terceiro ano de vida e o início da puberdade. Caracteriza-se por crescimento mais estável, de aproximadamente 5-7 cm/ ano. Nessa fase, os fatores genéticos e hormonais (hormônio de crescimento) têm maior relevância. É importante lembrar que a velocidade de crescimento, apesar de mais estável, também sofre oscilações. Acadêmico, você sabe quais são os índices antropométricos e demais parâmetros adotados pela Vigilância Nutricional, segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde? Peso por idade, peso por estatura, estatura por idade e IMC por idade. INTERESSA NTE 90 UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA O peso-para-idade expressa a relação entre a massa corporal e a idade cronológica da criança. É o índice utilizado para a avaliação do estado nutricional, principalmente para avaliação do baixo peso. Essa avaliação é muito adequada para o acompanhamento do ganho de peso e reflete a situação global da criança (BRASIL, 2011d). O peso-para-estatura dispensa a informação da idade; expressa a harmonia entre as dimensões de massa corporal e estatura. É utilizado tanto para identificar o emagrecimento da criança, como o excesso de peso (BRASIL, 2011d). A estatura-para-idade expressa o crescimento linear da criança. É o índice que melhor indica o efeito cumulativo de situações adversas sobre o crescimento da criança. É considerado o indicador mais sensível para aferir a qualidade de vida de uma população (BRASIL, 2011d). A estatura reflete o crescimento linear e representa as medidas de comprimento e altura (BRASIL, 2011d). • Crianças até 2 anos = comprimento (medida deitada). • Crianças acima de 2 anos = altura (medida de pé). O IMC-para-idade expressa a relação entre o peso da criança e o quadrado da estatura. É utilizado para identificar o excesso de peso entre crianças e tem a vantagem de ser um índice que será utilizado em outras fases do curso da vida (BRASIL, 2011d). Os índices antropométricos são utilizados como o principal critério preconizado pela vigilância nutricional para crianças. O acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento infantil é essencial, visto que o desequilíbrio entre as necessidades fisiológicas e a ingestão de alimentos causa alterações físicas nos indivíduos, desde quadros de desnutrição até o sobrepeso e a obesidade (BRASIL, 2011d). O acompanhamento da saúde infantil foi proposto pelo Ministério da Saúde, segundo um calendário mínimo de consultas para avaliar e acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da criança, no qual fica estabelecido quantas vezes a criança deve ir ao serviço de saúde nos seus primeiros dez anos de vida (BRASIL, 2011d). Deve-se estar atento para a evolução do crescimento da criança. Se a linha de crescimento estiver descendo ao longo dos atendimentos, trata-se de um sinal de alerta, já que a criança está se aproximando de uma situação de baixo peso por idade ou de baixa estatura por idade (BRASIL, 2011d). A Caderneta de Saúde da Criança é um instrumento usado para orientar o monitoramento nutricional. São anotadas e atualizadas as informações mais importantes sobre a história de saúde, como intercorrências, monitoramento do crescimento, mediante os gráficos de peso por idade e estatura por idade, e o controle das imunizações (BRASIL, 2011d). TÓPICO 3 | CRIANÇAS E ADOLESCENTES 91 A Caderneta lançada em 2009 está disponível em uma versão com seções de cores diferenciadas: verde para meninos e laranja para meninas, que, além da cor, diferem na curva de crescimento em virtude do desenvolvimento físico ser diferente para cada sexo (BRASIL, 2011d). Os quadros a seguirapresentam a classificação do estado nutricional de crianças, segundo recomendações do SISVAN. QUADRO 6 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS PARA CADA ÍNDICE ANTROPOMÉTRICO VALORES CRÍTICOS ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS PARA MENORES DE 5 ANOS Peso-para- idade Peso-para- estatura IMC-para- idade Estatura-para- idade < Percentil 0,1 < Escore-z –3 Muito baixo peso para a idade Magreza acentuada Magreza acentuada Muito baixa estatura para a idade ≥ Percentil 0,1 e < Percentil 3 ≥ Escore-z –3 e < Escore-z –2 Baixo peso para a idade Magreza Magreza Baixa estatura para a idade ≥ Percentil 3 e < Percentil 15 ≥ Escore-z –2 e < Escore-z –1 Peso adequado para a idade Eutrofia Eutrofia Estatura adequada para a idade 2 ≥ Percentil 15 e ≤ Percentil 85 ≥ Escore-z –1 e ≤ Escore-z +1 Risco de sobrepeso Risco de sobrepeso> Percentil 85 e ≤ Percentil 97 > Escore-z +1 e ≤ Escore-z +2 > Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9 > Escore-z +2 e ≤ Escore-z +3 Peso elevado para a idade 1 Sobrepeso Sobrepeso > Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade Obesidade FONTE: BRASIL (2011d, p. 17) QUADRO 7 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS DE CINCO A DEZ ANOS PARA CADA ÍNDICE ANTROPOMÉTRICO VALORES CRÍTICOS ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS PARA CRIANÇAS DE 5 A 10 ANOS Peso-para-idade IMC-para-idade Estatura-para-idade < Percentil 0,1 < Escore-z –3 Muito baixo peso para a idade Magreza acentuada Muito baixa estatura para a idade ≥ Percentil 0,1 e < Percentil 3 ≥ Escore-z –3 e < Escore-z –2 Baixo peso para a idade Magreza Baixa estatura para a idade ≥ Percentil 3 e < Percentil 15 ≥ Escore-z –2 e < Escore-z –1 Peso adequado para a idade Eutrofia Estatura adequada para a idade 2 ≥ Percentil 15 e ≤ Percentil 85 ≥ Escore-z –1 e ≤ Escore-z +1 > Percentil 85 e ≤ Percentil 97 > Escore-z +1 e ≤ Escore-z +2 Sobrepeso > Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9 > Escore-z +2 e ≤ Escore-z +3 Peso elevado para a idade 1 Obesidade > Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade grave FONTE: BRASIL (2011d, p. 18) 92 UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA Para a avaliação dos índices antropométricos da criança, é necessário saber com precisão sua idade em dias ou meses de vida. As informações disponíveis nas curvas de crescimento são em meses. A regra de aproximação que deve ser seguida para as idades não exatas é (BRASIL, 2011d): • Fração de idade até 15 dias: aproxima-se a idade para baixo, isto é, o último mês completado. • Fração de idade igual ou superior a 16 dias: aproxima-se a idade para cima, isto é, para o próximo mês a ser completado. A figura a seguir demonstra como preencher uma curva de crescimento. FIGURA 6 – EXEMPLO DE PREENCHIMENTO CURVA DE CRESCIMENTO – VARIÁVEL PESO POR IDADE FONTE: <https://pediatriavirtual.files.wordpress.com/2016/08/exemplos-de-preenchimento1.jpeg>. Acesso em: 31 out 2019. 10 passos para antropometria e diagnóstico nutricional da criança (BRASIL, 2011d): • Calcular a idade em anos completos e meses, fazendo as aproximações necessárias. • Pesar e medir a criança, utilizando as técnicas e os instrumentos adequados. • Anotar os dados no formulário da Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). • Marcar nos gráficos de crescimento da Caderneta de Saúde da Criança os pontos de interseção. • Calcular o IMC da criança. • Fazer o diagnóstico nutricional da criança, interpretando cada índice avaliado. • Verificar a inclinação das curvas de crescimento para complementar o diagnóstico nutricional. • Compartilhar com a mãe/responsável o diagnóstico nutricional da criança. • Fazer a intervenção adequada para cada situação. • Realizar ações de promoção da saúde. TÓPICO 3 | CRIANÇAS E ADOLESCENTES 93 Acadêmico, nos endereços eletrônicos da Organização Mundial da Saúde www.who.int/childgrowth/standards/en e http://www.who.int/growthref/en/ é possível baixar livremente as tabelas e gráficos relativos a crianças, de ambos os sexos. Também pode ser baixado, no mesmo site, um programa de computador – WHO Anthro – que permite o cálculo desses indicadores, individual ou coletivamente, que registra graficamente os resultados e a evolução individual dos parâmetros de crianças que nele são arquivados. O manual de instalação e utilização do WHO Anthro também pode ser baixado no site. DICAS 3 CRESCIMENTO E MATURAÇÃO SEXUAL De acordo com a OMS, a adolescência é o período que compreende a idade de 10 a 19 anos de idade. Nesse momento, o crescimento e o desenvolvimento físico envolvem também a maturação dos órgãos e sistemas (VITOLO, 2015). Devido às modificações hormonais, ocorre o desenvolvimento de mamas, pelos pubianos, maturação da genitália e crescimento ósseo. O hormônio do crescimento tem papel importante na composição corporal e atua na distribuição do tecido adiposo e no metabolismo (VITOLO, 2015). O crescimento puberal ocorre mais cedo nas meninas, porém o estirão nos meninos é maior. Nessa fase, a aceleração do crescimento está relacionada, principalmente, aos esteroides sexuais e ao hormônio de crescimento (VITOLO, 2015). Dois processos estão envolvidos no aumento dos esteroides gonodais (VITOLO, 2015): • ADRENARCA: aumento da secreção dos androgênios das glândulas adrenais e suprarrenais • GONADARCA: aumento dos estrogênios no sexo feminino e da testosterona no sexo masculino, hormônios responsáveis pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários, ovulação, espermatogênese e processo de fertilização. A monitorização do desenvolvimento puberal é feita pela classificação de Tanner, que estudou e sistematizou a sequência dos eventos puberais em ambos os sexos, em cinco etapas, considerando, quanto ao sexo feminino, o desenvolvimento mamário e a distribuição e a quantidade de pelos; e no masculino, o aspecto dos órgãos genitais e a quantidade e a distribuição dos pelos pubianos. A representação gráfica do estadiamento de Tanner encontra-se nas figuras a seguir (MENESES et al., 2008). 94 UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA A avaliação é feita por médico especialista (exame físico/clínico), mas, em situações de impossibilidade, pode ser utilizado autoavaliação. No entanto, deve-se comparar a escolha do paciente adolescente com as características físicas reais (por exemplo: características infantis, mas, selecionou o último estágio de maturação) (VITOLO, 2015). FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO ESTADIAMENTO DE TANNER PARA MAMAS NO SEXO FEMININO FONTE: Meneses et al. (2008, p. 55) FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DESENVOLVIMENTO PUBERAL, LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO OS PÊLOS PUBIANOS EM AMBOS OS SEXOS E A GENITÁLIA NO SEXO MASCULINO FONTE: Meneses et al. (2008, p. 55) TÓPICO 3 | CRIANÇAS E ADOLESCENTES 95 Durante a puberdade, o crescimento estatural médio dos meninos é de 9 a 10 cm e o ganho ponderal é de 8 kg. Nas meninas, o crescimento médio é de 8 cm/ano e o ganho de peso de 6 a 8 kg. Em um período de 2 a 4 anos, em média a altura aumenta entre 20 a 25 cm (VITOLO, 2015). Devido às diferenças hormonais entre os sexos, os meninos apresentam maior estímulo no aumento da massa muscular (testosterona) e as meninas maior aumento na gordura corporal (estrogênio). Após o estirão, ocorre uma desaceleração de ganho estatural até a parada de crescimento, equivalente a 15- 16 anos para as meninas e 17-18 anos para os meninos (VITOLO, 2015). 4 ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS PARA ADOLESCENTES Os indicadores antropométricos são os mesmos da infância, mas, a interpretação é diferente. A idade cronológica é pouco adequada, pois, adolescentes do mesmo sexo e idade podem apresentar estágios de maturação diferentes. Isso torna complicada a formação de referenciais que possam contemplar toda essa variação individual (VITOLO, 2015). Por isso, deve-se associar os indicadores de maturação sexual às variáveis de peso, estatura, idade e sexo para classificar o estado nutricional. No entanto, o diagnóstico encontradonem sempre retrata a condição física real (VITOLO, 2015). O quadro a seguir apresenta a classificação do estado nutricional de adolescentes, segundo recomendações do SISVAN. QUADRO 8 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES PARA CADA ÍNDICE ANTROPOMÉTRICO VALORES CRÍTICOS ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS IMC-para-idade Estatura-para-idade < Percentil 0,1 < Escore-z –3 Magreza acentuada 1 Muito baixa estatura para a idade ≥ Percentil 0,1 e < Percentil 3 ≥ Escore-z –3 e < Escore-z –2 Magreza Baixa estatura para a idade ≥ Percentil 3 e < Percentil 15 ≥ Escore-z –2 e < Escore-z –1 Eutrofia Estatura adequada para a idade 2 ≥ Percentil 15 e ≤ Percentil 85 ≥ Escore-z –1 e ≤ Escore-z +1 > Percentil 85 e ≤ Percentil 97 > Escore-z +1 e ≤ Escore-z +2 Sobrepeso > Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9 > Escore-z +2 e ≤ Escore-z +3 Obesidade > Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade grave FONTE: BRASIL (2011d, p. 21) 96 UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NOS CICLOS DE VIDA LEITURA COMPLEMENTAR TEMPO DE TELA (TELEVISÃO, VIDEOGAME, CELULAR, COMPUTADOR) E PADRÃO ALIMENTAR INFLUENCIAM A OBESIDADE EM ADOLESCENTES? Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos Maria Gabriela Matias de Pinho Pesquisa realizada pelo Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina, publicada no volume 30, número 3, da Revista de Nutrição, intitulada Associação entre tempo de tela e padrões alimentares com sobrepeso/obesidade em adolescentes, verificou que 29,8% dos adolescentes de 11 a 14 anos de idade na cidade de Florianópolis apresentavam sobrepeso/obesidade (medido pelo índice de massa corporal), sendo que os meninos mostraram taxa estatisticamente maior (34,7%). O percentual de escolares com atividade sedentária (medida pelo tempo de tela – mais de duas horas três vezes ou mais por semana de videogame, televisão, celular e/ou computador) foi de 39,1%. Foram identificadas cinco modalidades de padrões alimentares: Padrão obesogênico, Padrão café e produtos lácteos, Padrão refeição tradicional, Padrão frutas e legumes e Padrão pão e achocolatado. O Padrão Obesogênico foi o que melhor representou o consumo alimentar dos escolares. Houve influência dos padrões alimentares sobre o sobrepeso/obesidade, no entanto, em alguns casos, de maneira contrária ao esperado. Associaram-se inversamente com o sobrepeso/obesidade: “padrão obesogênico” (ambos os sexos), “padrão café e produtos lácteos” e o “padrão pão e achocolatado” (nas meninas). A pesquisa fez parte de projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), avaliou amostra probabilística de 963 adolescentes de 30 escolas públicas e particulares de Florianópolis, sendo os dados coletados entre setembro de 2012 a julho de 2013. Este artigo foi originado da dissertação de mestrado de Maria Gabriela Matias de Pinho, sob a orientação do professor Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos, a qual foi desenhada procurando responder as questões: Como estão se alimentando e quão sedentários são os adolescentes de Florianópolis? O padrão de consumo alimentar e de atividade sedentária está associado ao sobrepeso/ obesidade dos adolescentes? Além de realizar exames antropométricos (peso, estatura, perímetros e dobras cutâneas), foram coletados dados de consumo alimentar, atividade física, maturação sexual, socioeconômicos e demográficos, a partir da aplicação de questionários auto preenchidos pelos escolares e seus pais. TÓPICO 3 | CRIANÇAS E ADOLESCENTES 97 A obesidade na infância e adolescência tem grande chance de permanecer durante a vida adulta, podendo trazer diversas consequências para a saúde. Portanto, tais resultados podem orientar políticas públicas de saúde e nutrição, visando a reduzir as taxas de obesidade e promover estilos de vida mais saudáveis. FONTE: VASCONCELOS, F. A. G.; PINHO, M. G. M. Tempo de tela (televisão, videogame, celular, computador) e padrão alimentar influenciam a obesidade em adolescentes? SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2017. Disponível em: https://pressreleases.scielo.org/blog/2017/08/22/tempo-de- tela-televisao-videogame-celular-computador-e-padrao-alimentar-influenciam-a-obesidade-em- adolescentes/. Acesso em: 7 jan. 2020. 98 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A avaliação do peso ao nascer é o primeiro diagnóstico nutricional e reflete os problemas nutricionais ocorridos durante a gestação. • O peso ao nascer pode ser proporcional, quando o bebê nasce com baixo peso, mas proporcional ao comprimento. • O peso ao nascer pode ser desproporcional, quando é resultante de doenças obstétricas. • O Ministério da Saúde adota as recomendações da OMS quanto ao uso de curvas de referência para avaliação do estado nutricional. • O percentil refere-se à posição ocupada por determinada observação no interior de uma distribuição. • O escore-z quantifica a distância do valor observado em relação à mediana dessa medida. • O primeiro ano de vida é caracterizado por maior velocidade de crescimento, sobretudo nos primeiros 6 meses, a qual se reduz a partir do segundo ano de vida. • Os índices antropométricos são utilizados como o principal critério preconizado pela vigilância nutricional para crianças. • O peso-para-idade é o índice que expressa a relação entre a massa corporal e a idade cronológica da criança. • O peso-para-estatura é o índice que expressa a harmonia entre as dimensões de massa corporal e estatura. • A estatura-para-idade é o índice que expressa o crescimento linear da criança. • O IMC-para-idade é o índice que expressa a relação entre o peso da criança e o quadrado da estatura. • Deve-se estar atento para a evolução do crescimento da criança. • Para a avaliação dos índices antropométricos da criança, é necessário saber com precisão sua idade em dias ou meses de vida. 99 • A Caderneta de Saúde da Criança é um instrumento utilizado para orientar o monitoramento nutricional. • A adolescência é o período que compreende a idade de 10 a 19 anos de idade. • O crescimento puberal ocorre mais cedo nas meninas, porém o estirão nos meninos é maior. • A adrenarca refere-se ao aumento da secreção dos androgênios das glândulas adrenais e suprarrenais. • A gonadarca refere-se ao aumento dos hormônios responsáveis pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários, ovulação, espermatogênese e processo de fertilização. • A monitorização do desenvolvimento puberal é feita pela classificação de Tanner, que estudou e sistematizou a sequência dos eventos puberais em ambos os sexos. • Os indicadores antropométricos são os mesmos da infância, mas, a interpretação é diferente, ou seja, deve-se associar os indicadores de maturação sexual às variáveis para classificar o estado nutricional. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 100 1 Existe uma relação direta entre os estágios de maturação sexual e o crescimento e desenvolvimento físico que são fundamentais na avaliação nutricional do adolescente. No que se refere ao sexo feminino, pode-se afirmar: a) ( ) Durante a puberdade, o crescimento estatural médio é de 10 cm e o ganho ponderal é de 10 kg. b) ( ) A menarca ocorre geralmente no último estágio e coincide com a fase de aceleração de crescimento estatural. c) ( ) Devido às diferenças hormonais entre os sexos, as meninas apresentam maior estímulo no aumento da gordura corporal (estrogênio). d) ( ) A idade cronológica é a mais adequada, pois, adolescentes do mesmo sexo e idade apresentam estágios de maturação semelhantes. e) ( ) A classificação do estágio de desenvolvimento mamário depende do tamanho das mamas e não de suas características. 2 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescência é o período que compreende a idade de 10 a 19 anos. Nesse ciclo de vida,o crescimento e desenvolvimento envolvem também a maturação dos órgãos e sistemas. Considere as variáveis da adolescente abaixo, calcule o IMC (utilizando as duas primeiras casas decimais) e classifique-o de acordo com os percentis da OMS: Idade – 13 anos Peso – 63 kg Estatura – 1,66 m Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) 22,90 kg/m2 eutrofia. b) ( ) 22,90 kg/m2 sobrepeso. c) ( ) 22,90 kg/m2 magreza. d) ( ) 37,95 kg/m2 sobrepeso. e) ( ) 37,95 kg/m2 obesidade. 3 Sobre a velocidade de crescimento nos ciclos de vida, a associação entre o ganho estatural, a maturação sexual nos adolescentes, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O pico máximo de velocidade de crescimento ocorre na faixa etária de 3 a 9 anos de idade, para ambos os sexos. b) ( ) No sexo feminino o pico de velocidade de crescimento durante a adolescência ocorre, de maneira geral, após a menarca. c) ( ) No sexo masculino o pico de velocidade de crescimento durante a adolescência ocorre em torno dos 13 a 15 anos de idade, posteriormente às meninas. AUTOATIVIDADE 101 d) ( ) Na fase escolar ocorre acúmulo de gordura corporal como reserva energética para o estirão de crescimento da adolescência. Por isso, o excesso de peso e obesidade não devem ser considerados como fatores de risco nesta faixa etária. e) ( ) A fase do ciclo de vida com menor velocidade de crescimento é dos 4 aos 8 anos de idade, para ambos os sexos. 102 103 UNIDADE 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • calcular estimativas de peso e altura por meio de equações preditivas; • compreender e contemplar as especificidades do processo do envelhecimento na anamnese nutricional do idoso; • aplicar os instrumentos utilizados na triagem nutricional e avaliação funcional; • realizar exame físico direcionado para o quadro clínico de deficiências nutricionais. Esta unidade de estudos encontra-se dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO TÓPICO 2 – SEMIOLOGIA TÓPICO 3 – HOSPITALIZADOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 104 105 TÓPICO 1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que no Brasil o idoso é aquele com 60 anos de idade ou mais, enquanto nos países desenvolvidos admite-se um ponto de corte de 65 anos de idade? É interessante falar a respeito do processo de envelhecimento, não é mesmo? Portanto, no Tópico 1, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando das alterações biológicas, fisiológicas e psicossociais da senescência e senilidade. Ademais, você sabe a diferença entre senescência e senilidade? Em seguida, falaremos a respeito dos parâmetros da semiologia. Você sabe o que é? Qual a relação entre semiologia e exame físico? Qual a importância desta etapa da avaliação nutricional? Além disso, aprenderemos a identificar as manifestações clínicas associadas às carências nutricionais. Por fim, abordaremos a importância de saber avaliar o paciente hospitalizado. Você sabia que os pacientes hospitalizados estão vulneráveis à desnutrição? Você conhece os questionários e instrumentos utilizados na triagem nutricional e na avaliação funcional? Sabe identificar o paciente em risco nutricional? Ter conhecimento a respeito do processo de envelhecimento e das complicações decorrentes de uma internação é fundamental e essencial para a sua trajetória acadêmica. Sabendo utilizar os parâmetros indicados e identificar os exames necessários às etapas de avaliação, prescrição e evolução do paciente, você poderá aperfeiçoar seu conhecimento técnico e suas habilidades e competências necessárias na prática clínica nutricional. 2 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO A grande maioria dos países no mundo vem apresentando o envelhecimento populacional como característica demográfica. No Brasil, a população idosa vem aumentando nos últimos anos, e as projeções indicam que em 2025 o contingente de idosos será de 32 milhões de indivíduos. Dessa forma, o Brasil ocupará o sexto lugar no mundo em relação ao número de habitantes idosos (SOUZA et al., 2013). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 106 A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o idoso aquele com 60 anos de idade ou mais, limite este válido apenas para os países em desenvolvimento, como o Brasil, pois nos países desenvolvidos admite-se um ponto de corte de 65 anos. Ademais, a OMS define o envelhecimento saudável como um processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que permite o bem- estar na idade avançada (OMS, 2015). O envelhecimento pode ser caracterizado por alterações biológicas, fisiológicas e psicossociais. Essas alterações podem acontecer de forma natural, chamado de senescência, no qual o indivíduo pode conviver normalmente; ou podem acontecer de forma anormal (patológica), chamado de senilidade, em que, devido a efeitos negativos das doenças, o indivíduo apresenta uma incapacidade progressiva para uma vida saudável (VITOLO, 2015). Durante o envelhecimento, o organismo apresenta uma série de modificações anatômicas (estruturais) e funcionais, algumas delas relacionadas diretamente aos aspectos nutricionais. Uma das maiores alterações relacionadas ao envelhecimento é a mudança da composição corporal. O tecido adiposo aumenta, enquanto há uma diminuição de massa magra que exacerba após 60 anos (VITOLO, 2015). Além disso, ocorre diminuição das papilas gustativas, do olfato e da secreção salivar, aparecimento de doenças periodontais (saúde bucal), diminuição do apetite e eficiência mastigatória, aumento do esforço respiratório para se alimentar, diminuição de substâncias digestivas, alterações de saciedade, diminuição dos movimentos peristálticos e alterações visuais (VITOLO, 2015). Essas alterações muitas vezes são decorrentes de fatores metabólicos, como a redução na secreção de hormônios e enzimas digestivas; fatores físicos, como sedentarismo e limitações físicas; fatores psicossociais, como isolamento e solidão e fatores patológicos, como doenças associadas (hipertensão arterial, diabetes, doença cardiovascular, entre outras) (VITOLO, 2015). Acadêmico, essas informações são importantes, porque, muitas vezes, uma anamnese nutricional comum não é suficiente para contemplar todos esses detalhes peculiares ao envelhecimento. Por isso, se faz necessário utilizar alguns formulários validados (que serão abordados no decorrer desta unidade) para avaliar todas as particularidades da terceira idade. IMPORTANT E TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 107 FIGURA 1 – PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO DO BRASIL, SEGUNDO SEXO E FAIXA ETÁRIA FONTE: Flores (2015, p. 94) 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A avaliação do índice de massa corporal (IMC) é diferente dos adultos. Segundo o Caderno de Atenção Básica ao Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa (2006), a referência é o estudo de de Lipschitz (1994), pois considera mudança na relação entre adiposidade e o envelhecimento, conforme classificação do IMC (kg/m²) abaixo: • ≤ 22 kg/m² = baixo peso • > 22 e < 27 kg/m² = peso adequado • ≥ 27 kg/m² = excesso de peso No entanto, a classificação do IMC (kg/m²) segundo a Organização Pan- americana de Saúde (OPAS, 2002) é equivalente a: • ≤ 23 kg/m² = baixo peso • > 23 e < 28 kg/m² = peso adequado • ≥ 28 e < 30 kg/m² = sobrepeso • ≥ 30 kg/m² = obesidade Ainda não há, portanto, consenso quanto ao ponto de corte de IMC mais adequado para avaliar o estado nutricional de idosos. A avaliação nutricional no idoso deve ser realizada de maneira criteriosa, levando-se em consideração UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 108 as alterações que ocorrem na composiçãocorporal e que são decorrentes do processo de envelhecimento. O idoso, por exemplo, tende a ter, de maneira geral, uma diminuição do peso, por causa da perda de massa óssea e massa muscular e da redução do apetite (SANTOS; MACHADO; LEITE, 2010). Com relação ao peso corporal, recomenda-se balança de base larga e/ou cadeira para pesagem. Na impossibilidade de que o indivíduo se mantenha em pé para aferição de peso, é possível a realização do cálculo de estimativas de peso por meio de equações específicas (CHUMLEA, 1987): • Homens Peso = (1,73 x CB) + (0,98 x CP) + (0,37 x DSE) + (1,16 x AJ) – 81,69 • Mulheres Peso = (0,98 x CB) + (1,27 x CP) + (0,40 x DSE) + (0,87 x AJ) – 62,35 Legenda: CB: circunferência do braço (cm); CP: circunferência da panturrilha (cm); DSE: dobra subescapular (mm); AJ: altura do joelho (cm). Além disso, é importante avaliar e classificar a perda de peso nessa fase da vida. Por isso, o cálculo da perda de peso ponderal é fundamental. A seguir, encontra-se a fórmula do cálculo e o quadro apresenta sua classificação. %PPR = [(PU – PA) / PU] x 100 Legenda: %PPR: percentual de perda de peso ponderal; PU: peso usual; PA: peso atual. TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DA PERDA DE PESO PONDERAL FONTE: Blackburn, Bistrian e Maini (1977, p. 11) Tempo Perda significativa de peso (%) Perda grave de peso (%) 1 semana 1 a 2 >2 1 mês 5 >5 3 meses 7,5 >7,5 6 meses 10 >10 A altura, por outro lado, sofre alterações, sendo observada uma diminuição ao longo das décadas. A partir dos 40 anos o ser humano apresenta redução de 1 a 2,5 cm por década. Isso se deve, entre outros fatores, ao achatamento plantar, à diminuição da altura das vértebras e discos intervertebrais e a alterações posturais (SANTOS; MACHADO; LEITE, 2010). Caso não seja possível aferir, pode-se estimar pela altura do joelho: TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 109 • Homens Estatura = 64,19 – (0,04 x I) + (2,02 x AJ) • Mulheres Estatura = 84,88 – (0,24 x I) + (1,83 x AJ) Legenda: I: idade (anos); AJ: altura do joelho (cm) Com relação às dobras e circunferências, a circunferência do braço reflete redução de massa muscular e gordura subcutânea e são os mesmos valores de referência dos adultos. A circunferência da panturrilha é um marcador de desnutrição e uma medida sensível da massa muscular. A circunferência da cintura e quadril, na ausência de pontos de corte específicos para idosos, recomenda-se a utilização dos parâmetros dos adultos. A dobra cutânea tricipital apresenta boa correlação com quantidade total de gordura subcutânea (VITOLO, 2015). 4 SARCOPENIA A água é o principal componente da composição corpórea e com o envelhecimento há redução entre 20% e 30% da água corporal total. Ademais, o envelhecimento provoca diminuição da massa muscular (sarcopenia) e da massa óssea (osteopenia). Apesar da suscetibilidade para desenvolver desnutrição, o idoso tem um aumento na gordura corporal (SANTOS; MACHADO; LEITE, 2010). A sarcopenia, conforme retrata figura a seguir é definida como perda involuntária de massa, força e função musculoesquelética, limitando a capacidade funcional do indivíduo. Ela interfere na capacidade de locomoção e na força mandibular necessária para a oclusão mandibular, afetando diretamente o consumo alimentar. Também está associada ao maior risco de desenvolvimento de desidratação (SANTOS; MACHADO; LEITE, 2010). FIGURA 2 – SARCOPENIA FONTE: Silva et al. (2006, p. 391) UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 110 Sarcopenia: corte de ressonância magnética da coxa de um adulto fisicamente ativo (acima) e idoso sedentário (abaixo). A massa muscular (escuro) está diminuída e a gordura (claro) está aumentada no idoso (SILVA et al., 2006). NOTA O Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Idosos (EWGSOP) criou um algoritmo para diagnóstico de sarcopenia, conforme figura a seguir. FIGURA 3 – ESQUEMA DO ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO PARA SARCOPENIA SUGERIDO PELO EWGSOP FONTE: Diz et al. (2015, p. 669) A aferição da força máxima voluntária de preensão manual, ou simplesmente dinamometria manual (DM), consiste em um teste simples e objetivo que tem como princípio estimar a função do músculo esquelético. É realizado geralmente com um dinamômetro, demonstrado na figura a seguir, sendo um procedimento rápido, de baixo custo e pouco invasivo (ACHE DIAS et al., 2010). Amplamente empregada na reabilitação por terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e médicos, a DM vem sendo reconhecida como instrumento útil de avaliação funcional no acompanhamento do estado nutricional de pacientes cirúrgicos, na avaliação funcional de idosos e na população em geral (ACHE DIAS et al., 2010). TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 111 FIGURA 4 – PREENSÃO PALMAR EM UM DINAMÔMETRO FONTE: Ache Dias et al. (2010, p. 210) O quadro a seguir representa os resultados de um estudo realizado com a população brasileira, de DM de mão dominante e não dominante, segundo sexo. QUADRO 1 – VALORES DE PERCENTIL DA DINAMOMETRIA MANUAL DE MÃO DOMINANTE E NÃO DOMINANTE NA POPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA, SEGUNDO SEXO FONTE: Barbosa-Silva et al. (2008, p. 360) Dominante Homens Mulheres Idade (anos) P5 P50 P95 P5 P50 P95 > 60 18 31,3 44 11 19,1 29 Não dominante Homens Mulheres Idade (anos) P5 P50 P95 P5 P50 P95 > 60 18 29,2 45 10 16,8 27 No Brasil, um estudo citado por Diz et al. (2015), avaliou a prevalência de sarcopenia (de acordo com o algoritmo proposto pelo EWGSOP) em idosos saudáveis, residentes na área urbana do município de São Paulo, sendo 437 homens e 712 mulheres. Essa amostra foi proveniente do estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), um estudo multicêntrico de base populacional realizado em alguns países da América Latina e Caribe, representado no gráfico a seguir: UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 112 GRÁFICO 1 – PREVALÊNCIA DE SARCOPENIA EM IDOSOS NA POPULAÇÃO BRASILEIRA, SEGUNDO SEXO E FAIXA DE IDADE FONTE: Diz et al. (2015, p. 670) 5 TRIAGEM NUTRICIONAL E AVALIAÇÃO FUNCIONAL A avaliação do estado nutricional não dispõe de padrão-ouro para diagnóstico das desordens nutricionais. O melhor método depende dos objetivos da avaliação. Os instrumentos de triagem nutricional têm sido desenvolvidos na tentativa de identificar os idosos desnutridos ou em risco nutricional (ACUÑA; CRUZ, 2004). A Avaliação Subjetiva Global (ASG) tem sido considerada um instrumento útil na avaliação do estado nutricional em idosos. É um questionário fácil, não invasivo e eficaz para identificar risco nutricional. Abrange antropometria, perda ponderal, dieta, sintomas gastrointestinais e capacidade funcional, conforme representado no quadro a seguir (ACUÑA; CRUZ, 2004). TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 113 QUADRO 2 – AVALIAÇÃO SUBJETIVA GLOBAL FONTE: Barbosa-Silva; Barros (2002, p. 182) Avaliação subjetiva global do estado nutricional (Selecione a categoria apropriada com um X ou entre com valor numérico onde indicado por "#") A. História 1. Alteração no peso Perda total nos últimos 6 meses: total = # ___________ kg; % perda = # ___________ Alteração nas últimas duas semanas: ______ aumento ______ sem alteração ______ diminuição. 2. Alteração na ingestão alimentar ______ sem alteração ______ alterada ______ duração ______ = # ______ semanas. ______ tipo: _____ dieta sólida sub-ótima ______ dieta líquida completa ______ líquidos hipocalóricos ______ inanição 3. Sintomas gastrintestinais (que persistam por > 2 semanas) ______ nenhum ______ náusea ______vômitos ______diarréia ______ anorexia. 4. Capacidade funcional ______ sem disfunção (capacidade completa) ______ disfunção ______ duração = # ______ semanas. ______ tipo: ______ trabalho sub-ótimo ______ ambulatório ______ acamado. 5. Doença e sua relação com necessidades nutricionais Diagnóstico primário (especificar) ______________________________________________________ Demanda metabólica (stress): _____ sem estress ____ baixo stress ____ stressmoderado ____ stress elevado B. Exame físico (para cada categoria, especificar: 0 = normal, 1+ = leve, 2+ = moderada, 3+ = grave). # ______ perda de gordura subcutânea (triceps, tórax) # ______ perda muscular (quadríceps, deltóide) # ______ edema tornozelo # ______ edema sacral # ______ ascite C. Avaliação subjetiva global (selecione uma) ______ A = bem nutrido ______ B = moderadamente (ou suspeita de ser) desnutrido ______ C = gravemente desnutrido A Miniavaliação Nutricional (MAN) foi desenvolvida para avaliar o risco de desnutrição em idosos e identificar aqueles que necessitam de intervenção precoce. A versão original é composta por questões agrupadas em categorias, que englobam antropometria, avaliação dietética, avaliação clínica global e autopercepção de saúde e estado nutricional, podendo ser utilizado tanto para triagem, como para avaliação global, ambas com exemplo a seguir, devendo ser aplicado por profissional de saúde (ACUÑA; CRUZ, 2004). A MAN consiste na aplicação apenas da primeira parte da versão completa (triagem) de forma a avaliar se há risco nutricional. Dessa forma, pode- se apenas completar a avaliação nos pacientes que efetivamente apresentarem risco nutricional, possibilitando uma maior praticidade e rapidez na aplicação (ACUÑA; CRUZ, 2004). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 114 QUADRO 3 – MINIAVALIAÇÃO NUTRICIONAL VERSÃO CURTA – TRIAGEM FONTE: <https://www.mna-elderly.com/forms/MNA_portuguese.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2019. TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 115 QUADRO 4 – MINIAVALIAÇÃO NUTRICIONAL VERSÃO COMPLETA – AVALIAÇÃO FONTE: <https://www.mna-elderly.com/forms/MNA_portuguese.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2020. UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 116 Acadêmico, no Tópico 3 serão abordados os demais instrumentos utilizados na triagem e avaliação nutricional de pacientes hospitalizados. ESTUDOS FU TUROS Entre os idosos, as condições crônicas tendem a se manifestar de forma mais expressiva. Tais condições tendem a comprometer a qualidade de vida. São elas, na maioria das vezes, as geradoras do que pode ser denominado processo incapacitante, ou seja, o processo pelo qual uma determinada condição afeta a funcionalidade dos idosos e o desempenho das atividades cotidianas. Em termos de avaliação em saúde, tais atividades são conhecidas como atividades de vida diária (AVDs) e subdividem-se em (DUARTE; ANDRADE; LEBRÃO, 2007): • Atividades Básicas de Vida Diária (ABVDs) – que envolvem as atividades relacionadas ao autocuidado, como: alimentar-se, banhar-se, vestir-se, arrumar- se, mobilizar-se. • Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs) – que indicam a capacidade do indivíduo de levar uma vida independente dentro da comunidade onde vive e inclui a capacidade para: preparar refeições, realizar compras, utilizar transporte, cuidar da casa, utilizar telefone, administrar as próprias finanças, tomar seus medicamentos. Nesse contexto, é inserida o que se denomina avaliação funcional no qual se busca verificar em que nível as doenças ou agravos impedem o desempenho das atividades cotidianas dos idosos de forma autônoma e independente. A avaliação funcional é essencial para estabelecer um diagnóstico, um prognóstico e um julgamento clínico adequados, que servirão de base para as decisões sobre os tratamentos e cuidados necessários (DUARTE; ANDRADE; LEBRÃO, 2007). O Índice ou Escala de Barthel, representado no quadro a seguir, pertence ao campo de avaliação das atividades da vida diária (AVDs) e mede o grau de independência em relação a qualquer tipo de ajuda (cuidado pessoal, mobilidade, locomoção e eliminações) (MAHONEY; BARTHEL, 1965). Avalia a independência funcional em dez tarefas: alimentação, banho, vestuário, higiene pessoal, eliminações intestinais, eliminações vesicais, uso do vaso sanitário, passagem cadeira-cama, deambulação e escadas (MAHONEY; BARTHEL, 1965). TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 117 QUADRO 5 – ESCALA DE BARTHEL FONTE: <https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2503/5/%C3%8Dndice%20de%20Barthel.pdf>. Acesso em 30 out. 2019. ATIVIDADE PONTUAÇÃO ALIMENTAÇÃO 0 = incapacitado 5 = precisa de ajuda para cortar, passar manteiga, etc, ou dieta modificada 10 = independente BANHO 0 = dependente 5 = independente (ou no chuveiro) ATIVIDADES ROTINEIRAS 0 = precisa de ajuda com a higiene pessoal 5 = independente rosto/cabelo/dentes/barbear VESTIR-SE 0 = dependente 5 = precisa de ajuda mas consegue fazer uma parte sozinho 10 = independente (incluindo botões, zipers, laços, etc.) INTESTINO 0 = incontinente (necessidade de enemas) 5 = acidente ocasional 10 = continente SISTEMA URINÁRIO 0 = incontinente, ou cateterizado e incapaz de manejo 5 = acidente ocasional 10 = continente USO DO TOILET 0 = dependente 5 = precisa de alguma ajuda parcial 10 = independente (pentear-se, limpar-se) TRANSFERÊNCIA (DA CAMA PARA A CADEIRA E VICE VERSA) 0 = incapacitado, sem equilíbrio para ficar sentado 5 = muita ajuda (uma ou duas pessoas, física), pode sentar 10 = pouca ajuda (verbal ou física) 15 = independente MOBILIDADE (EM SUPERFÍCIES PLANAS) 0 = imóvel ou < 50 metros 5 = cadeira de rodas independente, incluindo esquinas, > 50 metros 10 = caminha com a ajuda de uma pessoa (verbal ou física) > 50 metros 15 = independente (mas pode precisar de alguma ajuda; como por exemplo, bengala) > 50 metros ESCADAS 0 = incapacitado 5 = precisa de ajuda (verbal, física, ou ser carregado) 10 = indepentente UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 118 A Medida de Independência Funcional (MIF), expressa na tabela a seguir, é um instrumento amplamente utilizado para avaliação da capacidade funcional e tem como diferencial a incorporação da avaliação cognitiva. A escala é composta por mais de 15 categorias agrupadas em seis dimensões: autocuidado, controle de esfíncteres, transferências, locomoção, cognição e comunicação social. Nesse instrumento são descritos dois domínios: o motor, referente às dimensões de autocuidado, controle de esfíncteres, transferências e locomoção; e o cognitivo, que engloba as dimensões de comunicação e cognição social (RIBERTO et al., 2001). QUADRO 6 – MEDIDA DE INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL FONTE: Riberto et al. (2001) O índice de Katz é utilizado no que se refere à classificação da dependência/independência e das atividades envolvidas. Para cada função são realizadas três observações em que se classifica o desempenho do idoso de acordo com a descrição mais apropriada. Os dados são posteriormente registrados na classificação (DUARTE; ANDRADE; LEBRÃO, 2007). TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 119 Alguns anos mais tarde, Katz e Akpom (1976) apresentaram uma versão modificada da escala original e a categoria “outro” foi eliminada. Nessa versão, a classificação se dá pelo número de funções nas quais o indivíduo avaliado é dependente. Posteriormente, uma outra forma de classificação foi apresentada (DUARTE; ANDRADE; LEBRÃO, 2007). QUADRO 7 – ÍNDICE DE KATZ FONTE: Duarte, Andrade e Lebrão (2007, p. 321) Nome: Data de avaliação:__/__/_____ Para cada área de funcionamento listada abaixo assinale a descrição que melhor se aplica. A palavra "assistência" significa supervisão, orientação ou auxílio pessoal Banho – banho de leito, banheira ou chuveiro □ Não recebe assistênica (entra e sai da banheira sozinho se essa é usualmente utilizada para banho □ Recebe assistência no banho somente para uma parte de corpo (como costas ou uma perna) □ Recebe assistência no banho em mais de uma parte do corpo Vestir – pega roupa no armário e veste, incluindo peças íntimas, roupas externas e fechos e cintos (caso use) □ Pega as roupas e se veste completamente sem assistência □ Pega as roupas e se veste sem assistência, exceto para amarrar os sapatos □ Recebe assistência para pegar as roupas ou para vestir-se ou permanece parcial ou totalmente despido Ir ao banheiro – dirige-se ao banheiro para urinar ou evacuar; faz suahigiene e se veste após as eliminações □ Vai ao banheiro, higieniza-se e se veste após as eliminações sem assistência (pode utilizar objetos de apoio como bengala, andador, barras de apoio ou cadeira de rodas e pode utilizar comadre ou urinol a noite esvaziando por si mesmo pela manhã). □ Recebe assistência para ir ao banheiro ou para higienizar-se ou para vestir-se após as eliminações ou para usar urinol ou comadre a noite □ Não vai ao banheiro para urinar ou evacuar Transferência □ Deita-se e levanta-se da cama ou da cadeira sem assistência (pode utilizar um objeto de apoio como bengala ou andador □ Deita-se e levanta-se da cama ou da cadeira com auxílio □ Não sai da cama Continência □ Tem controle sobre as funções de urinar e evacuar □ Tem "acidentes"* ocasionais *acidentes = perdas urinárias ou fecais □ Supervisão para controlar urinar e fezes, utiliza cateterismo ou é incontinente Alimentação □ Alimenta-se sem assistência □ Alimenta-se sem assistência, exceto para cortar carne ou passar manteiga no pão □ Recebe assistência para se alimentar ou é alimentado parcial ou totalmente por sonda enteral ou parental UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 120 QUADRO 8 – ÍNDICE DE KATZ: CLASSIFICAÇÃO FONTE: Duarte, Andrade e Lebrão (2007, p. 322) QUADRO 9 – ÍNDICE DE KATZ: VERSÃO MODIFICADA FONTE: Duarte, Andrade e Lebrão (2007, p. 323) QUADRO 10 – ÍNDICE DE KATZ: NOVA CLASSIFICAÇÃO FONTE: Duarte, Andrade e Lebrão (2007, p. 324) Index de AVDs (Katz) Tipo de classificação A Independente para todas as atividades B Independente para todas as atividades menos uma C Independente para todas as atividades menos banho e mais uma adicional D Independente para todas as atividades menos banho, vestir-se e mais uma adicional E Independente para todas as atividades menos banho, vestir-se, ir ao banheiro e mais uma adicional F Independente para todas as atividades menos banho, vestir-se, ir ao banheiro, transferência e mais uma adicional G Dependente para todas as atividades Outro Dependente em pelo menos duas funções, mas que não se classificasse em C, D, E, e F Index de AVDs (Katz) Tipo de classificação 0 Independente nas seis funções (banhar-se, vestir-se, alimentação, ir ao banheiro, transferência e continência) 1 Independente em cinco funções e dependente em uma função 2 Independente em quatro funções e dependente em duas funções 3 Independente em três funções e dependente em três funções 4 Independente em duas funções e dependente em quatro funções 5 Independente em uma função e dependente em cinco funções 6 Dependente para todas as funções Classificação Funcional Index ADL de Katz Mais funcional Katz A, B Funcionalidade Intermediária Katz C, D, E Menos funcional Katz F, G No ano de 1998, uma nova modificação do índice Katz foi publicada. TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 121 QUADRO 11 – ÍNDICE DE KATZ: VERSÃO ATUAL FONTE: Duarte, Andrade e Lebrão (2007, p. 324) ATIVIDADES Pontos (1 ou 0) INDEPENDÊNCIA (1 ponto) SEM supervisão, orientação ou assistência pessoal DEPENDÊNCIA (0 ponto) COM supervisão, orientação ou assistência pessoal ou cuidado integral Banhar-se Pontos: _____ (1 ponto) Banha-se completamente ou necesita de auxílio somente para lavar uma parte do corpo como as costas, genitais ou uma extremidade incapacitada (0 pontos) Necessita de ajuda para banhar-se em mais de uma parte do corpo, entrar e sair do chuveiro ou banheira ou requer assistência total no banho Vestir-se Pontos: _____ (1 ponto) Pega as roupas do armário e veste as roupas íntimas, externas e cintos. Pode receber ajuda para amarrar os sapatos (0 pontos) Necessita de ajuda para vestir-se ou necessita ser completamente vestido Ir ao banheiro Pontos: _____ (1 ponto) Dirige-se ao banheiro, entra e sai do mesmo, arruma suas próprias roupas, limpa a área genital sem ajuda (0 pontos) Necessita de ajuda para ir ao banheiro , limpar-se ou usar urinol ou comadre Transferência Pontos: _____ (1 ponto) enta-se/deita-se e levanta- se da cama ou cadeira sem ajuda. Equipamentos mecânicos de ajuda são aceitáveis. (0 pontos) Necessita de ajuda para sentar-se/deitar-se e levantar-se da cama ou cadeira Continência Pontos: _____ (1 ponto) Tem completo controle sobre suas eliminações (urinar e evacuar) (0 pontos) É parcial ou totalmente incontinente do intestino ou bexiga Alimentação Pontos: _____ (1 ponto) Leva a comida do prato a boca sem ajuda. Preparação da comida pode ser feita por outra pessoa (0 pontos) Necessita de ajuda parcial ou total com a alimentação ou requer alimentação parenteral Total de Pontos = _____ 6 = Independente 4 = Dependência moderada 2 ou menos = Muito dependente A escala de Lawton avalia o desempenho do idoso em relação às atividades instrumentais a fim de verificar a sua independência funcional. A pontuação máxima são 27 pontos. Existem três respostas possíveis às perguntas que variam de independência, dependência parcial ou dependência que consistem, respectivamente, nas seguintes possibilidades: sem ajuda, com ajuda parcial e não consegue (BRASIL, 2006). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 122 QUADRO 12 – ESCALA DE LAWTON FONTE: <http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf>. Acesso em 30 out. 2019. ATIVIDADE AVALIAÇÃO 1 O(a) Sr(a) consegue usar o telefone? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 2 O(a) Sr(a) consegue ir a locais distantes, usando algum transporte, sem necessidade de planejamentos especiais? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 3 O(a) Sr(a) consegue fazer compras? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 4 O(a) Sr(a) consegue preparar suas próprias refeições? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 5 O(a) Sr(a) consegue arrumar a casa? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 6 O(a) Sr(a) consegue fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 7 O(a) Sr(a) consegue lavar e passar roupa? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 8 O(a) Sr(a) consegue tomar seus remédios na dose e horários corretos? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 9 O(a) Sr(a) consegue cuidar de suas finanças? Sem ajuda Com ajuda parcial Não consegue 3 2 1 TOTAL AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE ADULTOS E IDOSOS E SITUAÇÃO NUTRICIONAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA Kátia Acuña Thomaz Cruz O estado nutricional expressa o grau no qual as necessidades fisiológicas por nutrientes estão sendo alcançadas, para manter a composição e funções adequadas do organismo, resultando do equilíbrio entre ingestão e necessidade de nutrientes. As alterações do estado nutricional contribuem para aumento da mortalidade. Assim sendo, a desnutrição predispõe a uma série de complicações graves, incluindo tendência à infecção, deficiência de cicatrização de feridas, TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 123 falência respiratória, insuficiência cardíaca, diminuição da síntese de proteínas a nível hepático com produção de metabólitos anormais, diminuição da filtração glomerular e da produção de suco gástrico. Por outro lado, o sobrepeso e a obesidade, são fatores de risco para variado número de agravos à saúde, dos quais os mais frequentes são doença isquêmica do coração, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, diabetes mellitus tipo 2, colelitíase, osteoartrite (especialmente de joelhos), neoplasia maligna de mama pós-menopausa e de endométrio, esofagite de refluxo, hérnia de hiato e problemas psicológicos. Os objetivos da avaliação do estado nutricional são: a) identificar os pacientes com risco aumentado de apresentar complicações associadas ao estado nutricional para que possam receber terapia nutricional adequada; b) monitorizar a eficácia da intervenção dietoterápica. Esta avaliação pode ser feita através de métodos convencionais e não convencionais. São métodos convencionaisaqueles tradicionalmente usados, por sua consolidada utilização tanto na prática clínica quanto em estudos epidemiológicos. Têm como características principais: a) praticidade; b) custo aceitável; c) refletem com certa precisão o estado nutricional do indivíduo. Os métodos não convencionais são aqueles que apresentam limitações no seu uso, como equipamentos de custo elevado, dificuldades técnicas para sua execução, entre outras que impossibilitam seu uso de forma rotineira. Geralmente são métodos mais sensíveis, utilizados como referência em pesquisas. O idoso apresenta peculiaridades relacionadas com o processo de envelhecimento, como: a) redução progressiva da altura, de um a dois cm por década; b) ganho progressivo de peso e IMC até em torno de 65 a 70 anos, diminuindo a partir de então; c) alterações da composição corporal, com redistribuição de gordura, que diminui a nível periférico e aumenta no interior do abdome, e redução da massa magra. Alguns autores consideram que a desnutrição pode ser difícil de distinguir das alterações resultantes do processo natural do envelhecimento, porém se não for detectada, pode resultar em agravamento de condições clínicas e aumento da mortalidade. A população idosa é particularmente propensa a problemas nutricionais devido a fatores relacionados com as alterações fisiológicas e sociais, ocorrência de doença crônica, uso de várias medicações, problemas na alimentação (comprometendo a mastigação e deglutição), depressão e alterações da mobilidade com dependência funcional. UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 124 Perda de peso involuntária, redução do apetite e caquexia são comuns na população geriátrica. Os receptores gustativos e olfativos têm sua função diminuída com o envelhecimento, comprometendo a qualidade estimulante do apetite contida nos alimentos. Também observa-se lentificação do esvaziamento gástrico, com o aumento da saciedade (estado que se segue a uma refeição no qual a fome encontra-se inibida) e da saciação (processo de regulação que ocorre durante a alimentação, que inibe a ingestão de mais alimento). Estas alterações decorrentes do processo fisiológico de envelhecimento comprometem a ingestão de nutrientes, podendo levar à desnutrição. Muitos pesquisadores tentaram desenvolver instrumentos válidos para identificar os idosos desnutridos ou em risco aumentado de complicações relacionadas ao estado nutricional, porém observa-se na literatura pertinente uma falta de consenso em relação aos critérios diagnósticos de desnutrição, inexistindo um padrão-ouro. Além do mais, aspectos peculiares relacionados ao envelhecimento obrigam a avaliação mais profunda, com análise de fatores de risco. A saúde bucal deve ser observada, pois a perda dos dentes e outras afecções da cavidade oral causando dor e dificuldade para mastigar e deglutir estão associadas com desnutrição. Esta avaliação se reveste de importância, pois medidas preventivas e procedimentos odontológicos simples podem resolver o problema, além do que a habilidade de mastigar comida eficientemente, não influencia a capacidade de digestão com as dietas modernas. Outro aspecto relevante na avaliação do idoso compreende verificação do nível funcional através da quantificação das atividades da vida diária (básicas e instrumentais), permitindo a classificação funcional: a) I, fisicamente incapaz ou dependente; b) II, fisicamente frágil; c) III, fisicamente independente; d) IV, fisicamente apto/ativo; e) V, atleta. Dependência para comer encontra-se relacionada com aumento da mortalidade. O nível de independência funcional é um forte preditor de complicações. A antropometria de idosos apresenta peculiaridades, como: a) possibilidade de estimar o peso utilizando fórmulas que aplicam variáveis antropométricas, quando o mesmo não pode ser medido; b) estimar a altura utilizando a medida da altura do joelho aplicada a fórmulas e à altura em posição sentada; c) a circunferência da panturrilha (CP) é considerada a medida mais sensível de massa muscular no idoso, sendo superior à circunferência do braço (CB). TÓPICO 1 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO IDOSO 125 A Avaliação Subjetiva Global (ASG) tem sido utilizada na população geriátrica, sendo considerada um instrumento útil na avaliação do estado nutricional em idosos. Vários instrumentos têm sido desenvolvidos em uma tentativa de identificar os idosos desnutridos ou em risco nutricional. The Nutrition Screening Initiative (NSI) é um questionário de dez perguntas autoaplicável, desenvolvido para ser utilizado na atenção primária à saúde com o objetivo de despertar a consciência sobre problemas nutricionais, porém tem se mostrado de eficiência limitada, não sendo capaz de predizer mortalidade. A Mini avaliação Nutricional (MAN) foi desenvolvida para avaliar o risco de desnutrição em idosos e identificar aqueles que possam se beneficiar de intervenção precoce. A versão original é composta por 18 itens que englobam antropometria, avaliação dietética, avaliação clínica global e autopercepção de saúde e estado nutricional, podendo ser utilizado tanto para triagem como para avaliação, e deve ser aplicado por profissional de saúde. Vários estudos têm validado a MAN, mostrando que é capaz de predizer o aumento do tempo de internação, a alta para asilos e mortalidade. Porém, a maioria dos autores considera como padrão-ouro as medidas antropométricas e exames laboratoriais (linfócitos totais, albumina, colesterol sérico, hemoglobina e transferrina). FONTE: ACUÑA, K.; CRUZ, T. Avaliação do Estado Nutricional de Adultos e Idosos e Situação Nutricional da População Brasileira. Arquivos Brasileiro de Endocrinologia & Metabologia, v. 48, n. 3, p. 345-361, 2004. 126 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • O processo natural do envelhecimento pode ser chamado de senescência. • O processo patológico do envelhecimento pode ser chamado de senilidade. • Durante o processo de envelhecimento ocorre aumento do tecido adiposo e diminuição de massa magra. • A avaliação do índice de massa corporal (IMC) do idoso é diferente dos adultos. • É importante avaliar e classificar a perda de peso nessa fase da vida, devido à perda de massa óssea, massa muscular e redução do apetite. • A partir dos 40 anos ocorre redução de 1 a 2,5 cm de altura por década. • A circunferência do braço e da panturrilha reflete redução de massa muscular. • A dobra cutânea tricipital apresenta boa correlação com a gordura corporal. • A perda da massa, força e função muscular pode ser chamada de sarcopenia. • A perda da massa óssea pode ser chamada de osteopenia. • O dinamômetro é um teste para aferir a força máxima voluntária de preensão manual. • Os instrumentos de triagem nutricional auxiliam a identificar os idosos desnutridos ou em risco nutricional. • Os instrumentos de avaliação funcional auxiliam a identificar os idosos dependentes ou independentes nas suas atividades cotidianas. 127 1 A avaliação nutricional de idosos apresenta algumas particularidades específicas dessa faixa etária. É preciso levar em consideração algumas limitações desse ciclo de vida, como a perda de memória e capacidade cognitiva e a mobilidade reduzida. Sobre a avaliação nutricional de idosos, julgue as afirmativas a seguir: I- A perda expressiva de peso em curto período é um importante componente de risco para a fragilidade da pessoa idosa. Perdas de 10% do peso corporal ou mais em 6 meses indicam a necessidade de adequação da alimentação para estabilizar ou recuperar o peso perdido. II- A Avaliação Subjetiva Global (ASG) aplica-se a idosos hospitalizados e outras situações clínicas. Trata-se de um instrumento relativamente simples e pouco invasivo, composta por dados como perda ponderal, alteração da dieta, sintomas gastrintestinais e capacidade funcional relacionada ao estado nutricional. III- A Mini Avaliação Nutricional (MNA) pode ser utilizada como screening (ou rastreamento)em ambulatórios, clínicas e hospitais. Apresenta resultados concretos do diagnóstico nutricional e a versão completa pode substituir a avaliação nutricional convencional. IV- A avaliação funcional é a capacidade de realizar tarefas da vida diária de forma independente ou dependente. Existem diversos instrumentos para avaliar a capacidade funcional de idosos, como a Escala de Barthel e a Escala de Lawton, que são diferenciadas por incorporar avaliação cognitiva. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e IV. c) ( ) II e III. d) ( ) I, II e III. e) ( ) II, III e IV. 2 As alterações fisiológicas e anatômicas decorrentes do processo de envelhecimento têm repercussões na saúde e na nutrição do idoso, principalmente quando associadas a outras doenças de ocorrência frequente nessa população. Considerando a elaboração de um plano alimentar para uma pessoa de 79 anos de idade, do sexo feminino, que não consegue manter-se em equilíbrio sobre uma balança e que é portadora de uma doença crônica, avalie as afirmações a seguir: AUTOATIVIDADE 128 I- A avaliação nutricional pela antropometria pode ser feita com a adoção de fórmulas de estimativa de peso que utilizam as circunferências do braço e da panturrilha, além da dobra cutânea subescapular e altura do joelho. II- O colesterol sérico pode ser utilizado como um marcador de desnutrição, pois uma baixa concentração lipídica plasmática é resultado da maior síntese hepática e da secreção de lipoproteínas. III- Na avaliação bioquímica do estado nutricional, pode ser feita a mensuração do ferro sérico, uma vez que, no caso da idosa, a redução dessa vitamina indicaria perda de peso e de massa muscular. IV- Na estimativa da estatura, pode-se utilizar como parâmetro o comprimento ou a altura do joelho, por se considerar que a medida em membros inferiores não é afetada pela diminuição das dimensões ósseas. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e IV. c) ( ) II e III. d) ( ) I, II e IV. e) ( ) II, III e IV. 3 Paciente F.L.V., 67 anos, sexo masculino, peso: 65 kg, estatura: 1,79 m. Qual o resultado do IMC (Índice de Massa Corporal) e a classificação do estado nutricional, segundo Lipschitz? a) ( ) 36,31 Kg/m² Excesso de peso. b) ( ) 36,31 Kg/m² Peso adequado. c) ( ) 20,31 Kg/m² Baixo peso. d) ( ) 20,31 Kg/m² Peso adequado. e) ( ) 18,15 Kg/m² Baixo peso. 129 TÓPICO 2 SEMIOLOGIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você conhece a diferença entre sinal e sintoma? Sabe o que é semiologia e a importância dessa etapa no processo de avaliação nutricional? É interessante falar a respeito das observações dos exames físicos, não é mesmo? Portanto, abordaremos alguns temas pertinentes ao assunto em se tratando da identificação dos sinais e sintomas do paciente e sua relação com a carência ou excesso de nutrientes. Em seguida, falaremos a respeito das manifestações clínicas associadas à anemia, desidratação, edema e desnutrição. Você sabia que aprender a identificar algumas variações na pele e na mucosa é extremamente importante no diagnóstico dessas doenças? Por fim, abordaremos a importância de saber analisar as expressões faciais do paciente hospitalizado, bem como aprenderemos como avaliar a perda de massa muscular em diferentes grupamentos musculares. A desnutrição é frequente entre idosos hospitalizados e está associada a maior incidência de complicações, mortalidade e tempo de internação. Sabendo identificar as alterações metabólicas, fisiológicas, anatômicas e psicossociais próprias do envelhecimento, você poderá aperfeiçoar seu conhecimento técnico e suas habilidades e competências necessárias para a nutrição clínica hospitalar. 2 CONCEITO A semiologia compreende o estudo dos sinais e sintomas do indivíduo, no qual os sinais representam as manifestações clínicas de uma doença observados pelo examinador e os sintomas são sensações subjetivas, sentidas pelo indivíduo e não visualizada pelo examinador. Nesse sentido, o nutricionista dispõe da anamnese nutricional para a identificação dos sintomas clínicos e do exame físico na avaliação dos sinais clínicos (SAMPAIO et al., 2012). Além disso, por meio da semiologia nutricional, é possível avaliar as condições nutricionais do paciente, identificar os sinais e sintomas de carência ou excesso de nutrientes e correlacioná-los com os hábitos alimentares. No entanto, é um indicador subjetivo, uma vez que sua avaliação não resulta em um valor, e sim nas impressões individuais do avaliador e do avaliado. Por isso, apesar da facilidade de aplicação desse método, a semiologia nutricional apresenta como 130 UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO principais limitações o fato de que as manifestações clínicas são evidenciadas apenas nos estados mais avançados de excesso e/ou carência nutricional (SAMPAIO et al., 2012). O exame físico engloba observações dos diversos sistemas, dos tecidos adiposo e muscular e da condição hídrica do paciente, buscando sempre investigar a presença de alterações específicas. Deve ser realizado de forma sistemática e progressiva, a partir da cabeça até a região plantar. Inicia-se pelo cabelo, seguido dos olhos, narinas, face, boca (lábios, dentes, língua), pescoço (tireoide), tórax (abdome), membros superiores (unhas, região palmar) e inferiores (quadríceps, joelho, tornozelo, região plantar), pele e sistemas (cardiovascular, neurológico, respiratório e gastrointestinal) (SAMPAIO et al., 2012). QUADRO 13 – EXAME FÍSICO E CARACTERÍSTICAS A SEREM AVALIADAS Região/ situação examinada Característica(s) a ser(em) avaliada(s) Características em condições normais Cabelo Coloração, brilho, quantidade, espessura, hidratação, ocorrência de alopecia. Brilhantes, firmes e difíceis de arrancar, aparência normal e espessa, crescimento normal, macios ao tato e coloração adequada Face Estado geral, condição física. Presença de edema ou depleção (sinal de chave – exposição do arco zigomático). Apresentação de: palidez, atrofia unilateral ou bitemporal. Fáceis agudo: exausto, cansado, não consegue manter os olhos abertos por muito tempo; Fáceis crônico: aparência deprimida, triste, pouco diálogo. Bom Estado Geral, sem sinais de depleção ou edema. Olhos Aspecto, cor das mucosas e membranas, sinais de excesso de nutrientes – xantelasma, arco córneo lipídico, sinais de deficiência de nutrientes: desnutrição – olhos escavados, escuros e flacidez ao redor, hipovitaminoses – xeroftalmia, nictalopia, etc. Brilahntes, membranas róseas e úmidas, sem manchas e boa adaptação visual no escuro. Lábios Coloração da mucosa, presença de lesões decorrentes de hipovitaminoses. Lábios macios e sem inflamações Língua Coloração, integridade papilar, edema, espessamento. Língua vermelha, sem edema, com superfície normal e paladar preservado Gengivas Edema, porosidade e sangramento. Ausência de sangramentos e edema. Peças dentárias Presença de cáries, ausência de peças dentárias, uso de prótese (bem adaptada ou não), alterações em função de excesso ou escassez de nutrientes Arcada dentária íntegra, sem ausência de peças dentárias ou uso de prótese bem adaptada – não ocasionar comprometimento da mastigação. TÓPICO 2 | SEMIOLOGIA 131 Região/ situação examinada Característica(s) a ser(em) avaliada(s) Características em condições normais Pele Cor, pigmentação, integridade, turgor, presença de edema, brilho e temperatura, manifestações decorrentes de deficiência ou excesso de nutrientes. Coruniforme, lisa, aparência saudável, turgor preservados ou compatíveis com a idade (no caso de idosos). Unhas Forma, ângulo, coloração, contorno, rigidez e presença de micoses. Uniformes, arredondadas, lisas e firmes. Abdôme Quanto à rigidez: flácido ou tenso; quanto ao volume: distendido, plano, globoso ou escavado; quanto à presença de gases: poucos gases (normal), maciez (quando há tumor) ou timpânico. Ausência das alteraçõesreferidas. Tecido subcutâneo Excesso de tecido adiposo, ou déficit de tecido subcutâneo – flacidez, presença de edema*. Ausência das alterações referidas. Tecido Muscular esquelético Retração ou atrofia. Ausência das alterações referidas. Sistema nervoso Perdas do controle na contração ou parestesias. Ausência das alterações referidas. Condição hídrica Desidratação ou edema*. Ausência das alterações referidas. FONTE: Sampaio et al. (2012, p. 28-29) 3 ANEMIA E DESIDRATAÇÃO O exame físico da coloração da pele e das mucosas, para identificar a palidez, é um indicativo de anemia (DUARTE, 2007). FIGURA 5 – EXAME FÍSICO DA COLORAÇÃO DA MUCOSA FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/ images?q=tbn:ANd9GcQKgYHd3ccykXTNk9kNBPJ8_SIrJzxsLwi7Gri1me9Myz26qIfm&s>. Acesso em: 27 nov. 2019. 132 UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO Com relação à desidratação, podemos solicitar ao paciente para produzir saliva, verificar o brilho nos olhos, avaliar a umidade das mucosas, examinar o turgor pinçando o polegar e o indicador uma prega da pele da mão (ao ser solta, a pele deve voltar ao normal imediatamente) e a elasticidade (capacidade de extensão da pele) (DUARTE, 2007). FIGURA 6 – EXAME FÍSICO DA DESIDRATAÇÃO – TURGOR FONTE: <https://ssl.adam.com/graphics/images/pt/17223.jpg>. Acesso em 27 nov. 2019. 4 DESNUTRIÇÃO E EDEMA Fácies reflete a expressão facial do paciente frente à determinada doença. Existe uma diferença entre fácies da desnutrição aguda, quando o paciente se encontra descompensado, e fácies da desnutrição crônica, quando o paciente se encontra adaptado. No fácies de desnutrição aguda, o paciente parece exausto, cansado, sonolento. É muito importante prestar atenção na expressão e fisionomia do paciente para identificar a eficácia da terapia nutricional aplicada (DUARTE, 2007). FIGURA 7 – FÁCIES DE DESNUTRIÇÃO AGUDA FONTE: Duarte (2007, p. 21) TÓPICO 2 | SEMIOLOGIA 133 No fácies de desnutrição crônica o paciente parece triste, deprimido, quieto, mas consegue sorrir e manter os olhos abertos (DUARTE, 2007). FIGURA 8 – FÁCIES DE DESNUTRIÇÃO CRÔNICA FONTE: Duarte (2007, p. 22) A avaliação muscular subjetiva é um exame físico orientado para verificar atrofia em quatro grupamentos musculares (DUARTE, 2007): 1- Músculo temporal superficial e masseter, relacionados com a mastigação. 2- Músculo adutor do polegar, relacionado com a vida laborativa e déficit muscular. 3- Músculos interósseos da mão, relacionados com a vida laborativa e déficit muscular. 4- Músculos da panturrilha, relacionados com a deambulação e déficit muscular. A atrofia da musculatura temporal mostra que o paciente parou de mastigar ou deixou de usar a mastigação como fonte principal de ingestão alimentar (dieta hipocalórica). Essa situação ocorre com paciente doente ou não, pois se a pessoa faz dieta líquida por 3 a 4 semanas já existe atrofia da musculatura temporal. Costuma ser comum em pacientes com anorexia e também naqueles com disfagia. Além disso, indica fase grave da desnutrição (DUARTE, 2007). A perda da bola gordurosa de Bichart também está relacionada com a redução prolongada da reserva calórica. Além disso, essa condição somada à atrofia temporal é descrita como sinal “da asa quebrada”. A atrofia na região supra e infraclavicular, também fúrcula esternal, indicam que o paciente já perdeu massa muscular há muito tempo (perda crônica) (DUARTE, 2007). O músculo adutor do polegar é indicativo da vida laborativa, juntamente com os interósseos da mão. Como verificar? Depressão em graus variados do relevo muscular (leve, moderada e grave) e visualização do contorno ósseo do indicador e do polegar, formando uma concha (DUARTE, 2007). 134 UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO A musculatura da panturrilha sem tônus muscular (hipotonia) também é indicativa de perda de massa muscular. Tônus muscular é o estado de tensão elástica (contração ligeira) que apresenta o músculo em repouso, e que lhe permite iniciar a contração rapidamente após impulsos. Num estado de relaxamento completo (sem tônus), o músculo leva mais tempo a iniciar a contração DUARTE, 2007). A figura a seguir contempla grande parte da avaliação muscular subjetiva, indicativa de desnutrição e perda de massa muscular: FIGURA 9 – PERDA DE MASSA MUSCULAR, SEGUNDO AVALIAÇÃO MUSCULAR SUBJETIVA FONTE: <https://trabalhosparaescola.com.br/desnutricao-2/>. Acesso em: 27 nov. 2019. Edema é definido como acúmulo de líquido no espaço intersticial. Para que o edema ocorra, deve haver uma quebra dos mecanismos que controlam a distribuição do volume de líquido no espaço intersticial. Identificar o edema é fundamental na prática clínica, pois auxilia no diagnóstico de desnutrição. Após uma suave e contínua pressão sobre a face anterior da perna contra a estrutura óssea, procura-se a presença de uma depressão de demora algum tempo até que volte ao normal. Esse sinal é chamado de “sinal do Cacifo” ou “sinal de Godet”. Em pé, o exame pode ser realizado no tornozelo, e deitado, o exame pode ser realizado na região da coluna lombossacra (DUARTE, 2007). TÓPICO 2 | SEMIOLOGIA 135 FIGURA 10 – SINAL DO CACIFO OU DE GODET FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Anasarca#/media/Ficheiro:Combinpedal.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2019. Dependendo da localidade do edema, muda o excedente de peso hídrico. Por exemplo: no tornozelo equivale a 1 kg, joelho equivale a 3-4 kg, coxa equivale a 5-6 kg, e anasarca equivale a 10-12 kg. Anasarca é o termo utilizado para o edema distribuído por todo corpo (SAMPAIO, 2012). Acadêmico, no Tópico 3, será abordada a correção de peso de acordo com a localidade do edema. NOTA FIGURA 11 – EDEMA GENERALIZADO: ANASARCA FONTE: <http://twixar.me/x68T>. Acesso em: 27 nov. 2019. 136 UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO TABELA 2 – LOCAL, MANIFESTAÇÃO CLÍNICA E SUA RELAÇÃO COM A CARÊNCIA NUTRICIONAL FONTE: Adaptado de Duarte (2007, p. 28) Local Manifestações clínicas Carência Cabelo Perda de brilho, seco, quebradiço, despigmentado, queda em excesso Proteina e Zinco Face Seborreia nasolabial, edema B2, Ferro e Proteína Olhos Palidez conjuntival, ressecamento Ferro, Vit. A, B2 e B6 Lábios Estomatite e queilite angular Vit. B2 Língua Glossite, língua magenta, atrofia e hipertrofia das papilas gustativas Vit. B2, B3, B9, B12 Gengivas Esponjosas, sangramento Vit. C Pele Ressecamento, espassamento, petéquias, manchas roxas Vit. A, C e K Unhas Depressões, quebradiças, manchas Ferro Tecido subcutâneo Edema, pouca gordura Proteínas e Calorias Sistema Músculo esquelético Atrofia muscular, flacidez das panturrilhas, fraturas Vit. D, B1, Cálcio Sistema Cardiovascular Cardiomegalia (aumento de tamanho) Vit. B1 Sistema nervoso Alterações psicomotoras, depressão, alterações sensitivas, fraqueza motora, formigamento das mãos e pés Proteína, Vit. B1, B6 e B12 CUIDADO NUTRICIONAL HOSPITALAR: PERCEPÇÃO DE NUTRICIONISTAS PARA ATENDIMENTO HUMANIZADO Cassiani Gotâma Tasca Pedroso Anete Araújo de Sousa Raquel Kuerten de Salles A Política Nacional de Humanização (PNH) em seu projeto destaca a necessidade de construir e implementar ações específicas para os diferentes setores de saúde, a fim de responder às necessidades da população de forma integrada à rede de serviços de saúde local e regional. Aliado à necessidade desta nova cultura de atenção, os novos perfis demográficos, de mortalidade e morbidade da população têm exigido abordagens diferenciadas para um atendimento qualificado. Ao lado destas demandas que afetam diretamente o atendimento nos hospitais, a desnutrição intra-hospitalar também é considerada um aspecto preocupante por estudiosos do tema. TÓPICO 2 | SEMIOLOGIA 137 Diante deste contexto, o cuidado nutricional assume fundamental importância dentro do processo de humanização no ambiente hospitalar, visto que são poucos os indicadores e ações humanizadoras concebidos com os setores envolvidos neste cuidado.O termo cuidado é tradicionalmente adotado pela área de enfermagem. Borestein et al. (2003), ampliando este conceito para a área de saúde, destacam que o cuidado é um encontro estabelecido entre a pessoa que cuida e quem é cuidado, manifestando-se através de ações profissionais disciplinares e interdisciplinares que se dão no processo de interação terapêutica entre os seres humanos. A American Dietetic Association – ADA (1994) define o cuidado nutricional como um processo de ir ao encontro das diferentes necessidades nutricionais de uma pessoa, o que inclui [...] a avaliação do estado nutricional do indivíduo, a identificação das necessidades ou problemas nutricionais, o planejamento de objetivos de cuidado nutricional que preencham essas necessidades, a implementação de atividades nutricionais [...] e a avaliação do cuidado nutricional. Ainda Boog (1999) destaca a necessidade de envolver aspectos sensoriais e psicológicos ao cuidado nutricional. Sousa e Proença (2005) adotam os termos cuidado alimentar e nutricional e argumentam que, para a efetivação destes cuidados, é necessário um conjunto de ações articuladas entre os setores de produção de refeições e de atendimento clínico-nutricional. Estas ações consistem em estratégias coletivas que visam não só às ações qualificadas em saúde e nutrição, como também à realização dos profissionais envolvidos pela oportunidade de interação e aprendizagem mútuas no trabalho. Para o presente estudo, embora estes termos não sejam adotados pela legislação que regulamenta o exercício profissional do nutricionista no Brasil, os conceitos apresentados podem auxiliar nas práticas deste profissional dentro do contexto da humanização. A inserção dos nutricionistas nos hospitais é destacada em pesquisa do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN). Dos nutricionistas que atuam em nutrição clínica, cerca de 80% estão nos hospitais e clínicas e, dos que atuam na alimentação coletiva, 28% o fazem no setor hospitalar. Em Santa Catarina, 48,4% dos nutricionistas estavam no setor hospitalar, havendo, posteriormente, uma migração para a área de alimentação coletiva, que engloba também outros setores, além do hospitalar. Além dos aspectos referidos, a situação do trabalho deste profissional tem sido objeto de alguns estudos. Os resultados têm revelado falta de comunicação entre as unidades de internação clínica e a produção de refeições, dificultando a interação entre a prescrição e a execução da dieta e a análise da efetividade do tratamento nutricional oferecido. 138 UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO Destaca-se ainda a falta de definição clara de responsabilidades, formação insuficiente dos profissionais de saúde para lidar com os problemas nutricionais, pouca influência sobre a adesão do paciente ao tratamento, falta de cooperação entre a equipe e de envolvimento da gerência dos hospitais, além de acúmulo de atividades ligadas ao gerenciamento de serviços. Estes dados são relevantes para uma reflexão sobre as competências e habilidades que estes profissionais necessitam para o desenvolvimento de ações em alimentação e nutrição qualificadas dentro do contexto de humanização. O desenvolvimento destas ações depende de condições dignas de trabalho e da interação de profissionais com os cuidados ao paciente. A PNH é uma política generalista. Portanto, não apresenta especificidades de ações relacionadas ao cuidado alimentar e nutricional. FONTE: PEDROSO, C. G. T.; SOUSA, A. A. de; SALLES, R. K. de. Cuidado nutricional hospitalar: percepção de nutricionistas para atendimento humanizado. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16 (Supl. 1), p. 1155-1162, 2011. 139 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A semiologia compreende o estudo dos sinais e sintomas, sendo considerada parte do processo de avaliação nutricional. • Os sinais são manifestações clínicas de uma doença observadas pelo examinador. • Os sintomas são sensações sentidas e referidas pelo indivíduo. • O exame físico da coloração da pele e das mucosas auxilia na identificação da anemia. • O exame físico para identificar desidratação inclui solicitar ao paciente para produzir saliva, verificar o brilho nos olhos, avaliar a umidade das mucosas e examinar a elasticidade da pele. • O exame físico de expressão facial auxilia na identificação da desnutrição. • A avaliação muscular subjetiva é um exame físico para verificar atrofia da musculatura e perda de massa muscular. • A presença do sinal do cacifo no exame físico auxilia na identificação do edema. • O edema distribuído por todo corpo pode ser chamado de anasarca. 140 AUTOATIVIDADE 1 A semiologia estuda as manifestações clínicas das doenças, ou seja, os sinais e sintomas apresentados ou referidos pelos pacientes. Nesse sentido, diferencie e cite exemplos de sinal e sintoma. 2 A imagem a seguir mostra um dos exames físicos indicativos de: FONTE: <https://sites.google.com/site/icattcmp/_/rsrc/1505761449753/u08_ver/IMG-99.jpg>. Acesso em 27 nov. 2019. a) ( ) Anemia. b) ( ) Desidratação. c) ( ) Desnutrição. d) ( ) Edema. e) ( ) Atrofia muscular. 3 O edema, popularmente conhecido como inchaço, pode estar associado à desnutrição, sendo de suma importância para o nutricionista, conhecer, avaliar e identificar o sinal de cacifo ou Godet. Nesse sentido, o edema distribuído por todo corpo é chamado de: a) ( ) Anasarca. b) ( ) Ascite. c) ( ) Petéquias. d) ( ) Glossite. e) ( ) Queilite. 141 TÓPICO 3 HOSPITALIZADOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que a desnutrição atinge aproximadamente 50% dos pacientes hospitalizados? Você tem conhecimento da gravidade dessa situação e das complicações em decorrência dessa enfermidade? Na primeira parte da Unidade 3, abordaremos o conceito e a prevalência da desnutrição hospitalar. Afinal, é extremamente importante identificar o que levou o paciente a ter uma ingestão alimentar insuficiente e qual a relação disso com a interação com outros fatores, como condições econômicas, estado de saúde e condições sociais no qual o paciente vive. Em seguida, falaremos a respeito da avaliação do risco nutricional. Você sabia que identificar um paciente em risco nutricional pode minimizar as complicações hospitalares e, quem sabe, evitar a evolução para desnutrição? Por isso, conheceremos os instrumentos utilizados na triagem nutricional. Por fim, abordaremos as particularidades da antropometria em condições especiais. Você sabia que é possível calcular a correção do peso corporal para situações como edema, amputação e ascite? E, com o conhecimento do processo da avaliação nutricional no paciente idoso e hospitalizado, nós finalizamos este livro didático. Todo esse conteúdo apresentado é muito importante para a sua trajetória acadêmica. As etapas discutidas no decorrer das Unidades 1, 2 e 3 certamente contribuirão com as demais disciplinas direcionadas à nutrição clínica. 2 DESNUTRIÇÃO Vários fatores podem contribuir para a desnutrição nos idosos, como, por exemplo, redução na produção de suco gástrico, que reflete na absorção de algumas vitaminas e minerais, atrofia das glândulas salivares e papilas gustativas, pouca salivação, uso de prótese dentária, redução do apetite, menor ingestão de água, entre outros. A redução da sensibilidade olfativa e gustativa interfere na qualidade do estado nutricional do idoso, pois reduz a sensibilidade dos sabores, tornando os alimentos menos apreciados e desejados. Além disso, a alteração no processo de deglutição, que leva o alimento até o estômago em uma consistência apropriada, devido à disfagia, vem sendo relacionada com a desnutrição (FIDELIX; SANTANA; GOMES, 2013). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 142 É importante salientar que, assim como o processo de envelhecimento, ocorre também o envelhecimento dos órgãos do trato gastrintestinal, caracterizado por redução na motilidade, secreção e absorção de nutrientes.Em pacientes hospitalizados, a desnutrição é causada por uma combinação de fatores, que pode incluir: alguma doença de base, efeitos colaterais de medicamentos, ingestão alimentar insuficiente e fatores psicológicos (FIDELIX; SANTANA; GOMES, 2013). A desnutrição em pacientes hospitalizados vem crescendo no Brasil. Segundo o Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri), realizado nos hospitais públicos da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) de todo o Brasil, envolvendo 4000 pacientes, 48,1% dos hospitalizados do apresentam desnutrição hospitalar, sendo 12,6% desnutrição grave e 35,5% desnutrição moderada (WAITZBERG; CAIAFFA; CORREIA, 1999). Pacientes hospitalizados são vulneráveis à desnutrição iatrogênica, por vezes decorrentes da falta de atenção dos profissionais envolvidos no tratamento. “Consideram-se como afecções iatrogênicas aquelas decorrentes da intervenção do médico e/ou de seus auxiliares, seja ela certa ou errada, justificada ou não, mas da qual resultam consequências prejudiciais para a saúde do paciente” (CARVALHO-FILHO; DALLANORA, 1996, p. 729). A prevalência de desnutrição tem sido pouco avaliada no âmbito hospitalar entre idosos. O quadro a seguir apresenta os dados de prevalência de desnutrição de estudos realizados com idosos em hospitais do Brasil. QUADRO 14 – PREVALÊNCIA DE DESNUTRIÇÃO EM IDOSOS BRASILEIROS HOSPITALIZADOS Legenda: IMC – Índice de Massa Corporal; CB – Circunferência do Braço; AJ – Altura do Joelho; MAN – Mini Avaliação Nutricional; PCT – Prega Cutânea do Tríceps; AMB – Área Muscular do Braço; FAM – Força do Aperto de Mão não Dominante. FONTE: Fidelix, Santana e Gomes (2013, p. 66) Local/Estado FaixaEtária Parâmetros de Diagnóstico Nutricional Classificação do IMC para desnutrição % de Desnutrição Referência Ano Total Hospital Geral de Blumenau-SC >60 MAN, IMC, AJ, PCT, CB E CMB <22 kg/m 2 60,62 Azevedo et al., 200727 Fundação Hospital Estadual do Acre - AC >60 MAN, ASG, IMG e FAM Não referido 21,4 Camelo, 201031 Hospital Universitário de Brasília - DF >60 MAN e AJ Não referido 20 Maciel, 2008 38 Fundação Santa Casa de Misericórdia de Franca - SP >60 AJ, CB e IMC <22 kg/m2 41 Panissa & Vassimon, 201247 Fundação Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto - MG >60 CB, PCT, CMB, e IMC <22 kg/m 2 49,6 Pala et al., 201148 Conjunto Hospitalar de Sorocaba - SP >60 MAN e IMC <18 kg/m 2 25 Scattolin et al., 200549 TÓPICO 3 | HOSPITALIZADOS 143 Considerando o número alarmante de idosos desnutridos hospitalizados, cabe ao nutricionista estabelecer critérios de diagnóstico do estado nutricional, visando a intervenção e a reabilitação do paciente idoso (FIDELIX; SANTANA; GOMES, 2013). 3 AVALIAÇÃO DO RISCO NUTRICIONAL Para a identificação precoce de pacientes desnutridos e consequente intervenção, além de prevenção da desnutrição, é ideal que seja estabelecida rotinas de triagem nutricional (no prazo máximo de até 72 horas da admissão do paciente), facilitando e agilizando a identificação do risco nutricional. Para isso, faz- se necessária a utilização de métodos com indicadores que avaliem de forma correta a gravidade do indivíduo, e implantar a avaliação nutricional como atividade de rotina nos hospitais. A American Dietetic Association (ADA) define risco nutricional como a presença de fatores que podem acarretar e/ou agravar a desnutrição em pacientes hospitalizados. Além disso, a ADA, o Comitê das Organizações de Saúde (JCHO) e a Iniciativa de Triagem Nutricional (NSI) definiram triagem nutricional como o processo de identificação das características mais bem associadas a problemas nutricionais (FIDELIX; SANTANA; GOMES, 2013). Além da Avaliação Subjetiva Global (ASG) e Mini Avaliação Nutricional (MAN), citadas previamente na avaliação de idosos, a Nutritional Risk Screening (NRS-2002) é recomendada pela American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN) e tem como objetivo detectar o risco de desnutrição no ambiente hospitalar. Esse método classifica o paciente segundo o estado nutricional e a gravidade da doença, definindo a desnutrição em normal, leve, moderada ou grave. UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 144 QUADRO 15 – NUTRITIONAL RISK SCREENING (NRS-2002) FONTE: Adaptado de Kondrup et al. (2002) Etapa 1 - triagem inicial sim não 1) O IMC é < 20,5 kg/m2 2) O paciente perdeu peso nos 3 últimos meses? 3) O paciente teve sua ingestão dietética reduzida na última semana? 4) O paciente é gravemente doente? Se obtiver alguma resposta "sim" passar para a 2a etapa. Repetir a cada 7 dias caso não obtenha nenhuma resposta positiva Etapa 2 – triagem final Estado nutricional Gravidade da doença (aumento das necessidades nutricionais) 0 ausência escore Estado nutricional normal 0 ausência escore Necessidades nutricionais normais 1 leve escore Perda de peso > 5% em 3 meses ou ingestão alimentar na última semana entre 50-75% das necessidades nutricionais. 1 leve escore Fratura de quadril, pacientes crônicos, em particular com complicações agudas: cirrosa, DPOC, hemodiálise, diabetes, oncologia. Paciente fraco, mas deambula. 2 moderado escore Perda de peso > 5% em 2 meses ou IMC entre 18,5 – 20,5 + condição geral prejudicada (enfraquecida) ou ingestão alimentar na última semana entre 25-60% das necessidades nutricionais. 2 moderado escore Cirurgia abdominal de grande porte, AVC. Pneumonia grave, doença hematológica maligna (leucemia, linfoma). Paciente confinado ao leito. 3 grave escore Perda de peso > 5% em 1 mês (> 15% em 3 meses) ou IMC < 18,5 + condição geral prejudicada (enfraquecida) ou ingestão alimentar na última semana entre 0-25% das necessidades nutricionais. 3 grave escore Trauma, transplante de medula óssea, paciente em terapia intensiva (APACHE > 10). Escore nutricional = Escore gravidade da doença = *Somar 1 ponto para idosos acima de 70 anos Escore total: Classificação: < 3 pontos = sem risco nutricional. Reavaliar a cada 7 dias. ≥ 3 pontos = risco nutricional. Conduta: proceder com a avaliação nutricional e planejamento da terapia nutricional TÓPICO 3 | HOSPITALIZADOS 145 O Instrumento Universal de Triagem de Desnutrição (MUST) foi desenvolvido para uso na comunidade pelo Malnutrition Advisory Group, um comitê integrado da British Association for Parenteral and Enteral Nutrition (MAG-BAPEN). O questionário é composto com dados sobre IMC, perda de peso não intencional nos últimos três a seis meses e presença de doença aguda com mais de cinco dias de jejum. O MUST identifica o risco nutricional do paciente de acordo com a pontuação obtida com o preenchimento do formulário. O paciente é classificado em alto risco de desnutrição, médio risco de desnutrição e baixo risco de desnutrição. O próprio formulário sugere a terapêutica nutricional para cada caso (ARAUJO et al. 2010). FIGURA 12 – O INSTRUMENTO UNIVERSAL DE TRIAGEM DE DESNUTRIÇÃO (MUST) FONTE: Adaptado de Stratton et al. (2004) 0 Baixo risco Cuidado de rotina - Repetir triagem Hospitalizados: semanalmente; Internação domiciliar: mensalmente; Ambulatorial: anualmente para grupos especiais (≥75 anos). 1 Médio risco Observar - Repetir registro alimentar por 3 dias nos pacientes hospitalizados ou internação domiciliar. - Se melhora ou adequação da ingestão e stress clínico baixo: manter política local de acompanhamento. - Repetir triagem: Hospitalizados: semanalmente; Internação domiciliar: mensalmente; Ambulatoriais: 2-3 meses. ≥ 2 Alto risco Tratar - Referenciar ao nutricionista, equipe de terapia nutricional ou implementar protocolo local. - Melhorar e aumentar a oferta de nutrientes. - Monitoriar e revisar o plano de cuidados: Hospitalizados: semanalmente; Internação domiciliar: mensalmente; Ambulatoriais: 2-3 mensalmente. Perda de peso <5% = 0 Perda de peso 5 a 10% = 1 Perda de peso >1% = 2 IMC > 20,0 (>30) = 0 IMC 18,5-20,0 = 1 IMC < 18,5 = 2 Somar2 pontos se jeum > 5 dias Somar os valores O Short Nutritional Assessment Questionnaire (SNAQ) é um método válido e de rápida aplicação, utilizado na triagem nutricional de pacientes hospitalizados. Consta inicialmente de 26 questões (que englobam sintomas e fatores de risco para desnutrição), das quais quatro são mantidas no escore final: “você perdeu mais que 6 kg nos últimos 6 meses”; “você perdeu mais que 3 kg nos últimos 6 meses”; “você está reduzindo seu apetite há 1 mês ou mais”; “você está utilizando suplementos por via enteral ou parenteral no último mês”. Classifica os pacientes como eutróficos, moderadamente desnutridos ou gravemente desnutridos (CAIXETA NETO et al., 2017). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 146 FIGURA 13 – SHORT NUTRITIONAL ASSESSMENT QUESTIONNAIRE (SNAQ) FONTE: <http://www.fightmalnutrition.eu/wp-content/uploads/2017/05/Snaq_Port.pdf>. Acesso em 27 nov. 2019. A escolha do método de triagem nutricional deve considerar o contexto no qual o paciente está inserido, além de aspectos como recursos humanos e físicos disponíveis. Pacientes hospitalizados correm risco de desenvolver desnutrição. O rastreamento nutricional é uma forma efetiva na identificação de pacientes em risco, a partir da qual poderão ser tomadas decisões, a fim de evitar piora de seu quadro clínico. Não existe um consenso sobre qual instrumento é mais efetivo na triagem nutricional, cabendo aos profissionais de saúde escolher o método de sua preferência, o qual deve ser selecionado de forma criteriosa (CAIXETA NETO et al., 2017). 4 ANTROPOMETRIA A antropometria é uma etapa da avaliação nutricional muito importante no monitoramento do estado nutricional do paciente hospitalizado. No entanto, devemos considerar algumas situações em que os indicadores antropométricos se tornam limitantes, pois não identificam carências nutricionais específicas, não permitem detectar alterações recentes na composição e distribuição corporal, dependem do estado de hidratação etc. Além disso, outras questões a serem consideradas envolvem a capacidade limitada dos instrumentos para mensuração (SAMPAIO, 2012). Referente ao peso corporal, por exemplo, é possível calcular a correção para situações como edema e ascite, conforme demonstrado na tabela a seguir: TÓPICO 3 | HOSPITALIZADOS 147 TABELA 3 – EXCESSO DE PESO ATRIBUÍDO AO EDEMA/ASCITE DE ACORDO COM A INTENSIDADE OU GRAVIDADE FONTE: Sampaio (2012, p. 77) Outra particularidade é a correção de peso no caso de amputação, conforme demonstrado na figura a seguir. O peso é calculado como se não houvesse amputação e, posteriormente, é subtraído o valor referente ao percentual da parte amputada. Edema Excesso de peso Hídrico + ++ +++ ++++ Tornozelo Joelho Base da coxa Anasarca 1 kg 3 a 4 kg 5 a 6 kg 1 a 12 kg Grau de ascite/edema Líquido ascítico (kg) Edema periférico (kg) Leve Moderado Grave 2,2 6 14 1 5 10 FIGURA 14 – PESO CORRIGIDO PARA AMPUTAÇÃO FONTE: Adaptado de Osterkamp (1995) Medidas importantes, utilizadas em fórmulas de estimativas de peso e altura (conforme mencionado em outras unidades), como circunferência da cintura, prega cutânea subescapular, circunferência do braço, circunferência da panturrilha e altura do joelho, podem ser aferidas com o paciente deitado, conforme demonstrado nas figuras a seguir: UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 148 FIGURA 15 – AFERIÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA EM PACIENTE DEITADO FONTE: Mussoi (2014, p. 31) FIGURA 16 – AFERIÇÃO DA PREGA CUTÂNEA SUBESCAPULAR EM PACIENTE DEITADO FONTE: Mussoi (2014, p. 31) FIGURA 17 – AFERIÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA DO BRAÇO EM PACIENTE DEITADO FONTE: Mussoi (2014, p. 30) TÓPICO 3 | HOSPITALIZADOS 149 FIGURA 18 – AFERIÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA DA PANTURRILHA EM PACIENTE DEITADO FONTE: Mussoi (2014, p. 29) FIGURA 19 – AFERIÇÃO DA ALTURA DO JOELHO EM PACIENTE DEITADO FONTE: Mussoi, (2014, p. 29) A antropometria é um indicador fundamental e indispensável na avaliação nutricional. No entanto, não deve ser utilizada de forma isolada no diagnóstico nutricional, sendo necessária a contribuição de outros indicadores (SAMPAIO, 2012). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 150 LEITURA COMPLEMENTAR ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS HOSPITALIZADOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA Jane Kátia Alves Silvério Katherine Rios Almeida Pedreira Nyvian Alexandre Kutz Marcia Maria Hernandes de Abreu de Oliveira Salgueiro O principal achado desta revisão indica alta prevalência de risco nutricional entre idosos institucionalizados avaliados pela MNA. A idade foi inversamente proporcional à classificação do estado nutricional pela MNA, ou seja, quanto maior a idade, há um declínio no estado nutricional (DE LUIS et al., 2011a). Estudos apontam que as idosas institucionalizadas estão mais desnutridas que os idosos (DE LUIS et al., 2011b; SERRANO-URREA; GARCÍA-MESEGUER, 2013). O perfil nutricional de idosos é influenciado por condições socioeconômicas e fatores culturais do país (PINHEIRO; TORRES, 2006). Com isso, torna-se complexo avaliar e comparar ILPI nos diversos Estados de um mesmo país e entre países. Mais estudos devem ser realizados a fim de avaliar outros aspectos que influenciem o estado nutricional de idosos institucionalizados. Durante a realização deste estudo, observou-se algumas características não abordadas nas pesquisas, mas que podem influenciar negativamente o estado nutricional: o tipo de instituição (pública ou privada), o número de idosos assistidos por instituição e a localização (grandes centros ou interior). De Luis et al. (2011), estudaram 873 idosos institucionalizados de ambos os sexos e encontraram alta prevalência de risco de desnutrição, principalmente entre os idosos com mais de 95 anos. Também foi observado melhor estado nutricional entre os idosos mais jovens, avaliados pela MNA-reduzida. Ongan e Rakicioğlu (2015), em seu trabalho realizado na Turquia constataram alta prevalência de risco nutricional em todas as faixas etárias dos pacientes institucionalizados avaliados pela MNA. No entanto, em um estudo feito por Sousa et al. (2014), com idosos residentes em uma ILPI em Uberlândia-MG, encontraram alta prevalência de risco de desnutrição somente entre idosos com idade mais avançada, avaliados por meio da MNA. A MNA foi desenvolvida por pesquisadores internacionais e é uma das poucas ferramentas de controle validadas para os idosos, simples e de rápida aplicação. Tem sido utilizada e validada em estudos internacionais, em hospitais, na comunidade e em ILPI, e estabelece uma correlação entre morbidade e mortalidade (GUIGOZ; VELLAS; GARRY, 1994; GUIGOZ, 2006). TÓPICO 3 | HOSPITALIZADOS 151 No estudo realizado por Pereira et al. (2014), em 15 ILPI com 359 idosos de ambos os sexos avaliados pela MNA, na cidade de Salvador – BA, verificou- se alta prevalência de risco de desnutrição e desnutrição nestes pacientes. Na comparação entre os sexos, observou-se que a maioria dos homens apresentaram essas condições. Entretanto, Rambousková et al. (2013), avaliaram o estado nutricional de 659 mulheres e 156 homens e constataram alta prevalência de risco nutricional e desnutrição. O estudo revelou a vulnerabilidade à desnutrição, morbidade e dependência física, principalmente nos indivíduos do sexo feminino. De Luis et al. (2011b), estudaram 493 idosos institucionalizados de ambos os sexos, e os resultados apontaram para alta prevalência de desnutrição ou risco de desnutrição segundo a MNA, sendo as mulheres mais desnutridas que os homens. No entanto, Lee et al. (2013), em um estudo randomizado com 82 idosos verificaram que a MNA teve lugar de destaque na aferição do estado nutricional em ambos os sexos, durante 4 semanas de intervenção nutricional usando suplementação de 50 g de proteínas. Também afirmam que a MNA é uma ferramenta que possui sensibilidade (96%) e especificidade (98%) e é eficaz para avaliar idosos em várias fases da vida.Paz, Fazzio, Santos (2012) utilizaram a MNA para determinar o estado nutricional de idosos residentes em uma instituição particular do Distrito Federal – DF. Os resultados foram preponderantes para eutrofia segundo a MNA. Já um estudo realizado por Machado e Coelho (2011), em uma ILPI da rede pública do Rio de Janeiro- RJ, usando a ferramenta MNA, os resultados mostraram alta prevalecia de risco nutricional entre os idosos institucionalizados. Veronese et al. (2013), correlacionaram o IMC com as pontuações da MNA e os níveis de albumina em um estudo de cinco anos. O IMC foi considerado o melhor dos três parâmetros na predição de mortalidade e do estado nutricional de idosos. Os resultados demonstraram que a taxa de mortalidade aumenta à medida que o IMC diminui. Serrano Urrea e García-Meseguer (2014), estudaram as relações entre limitação funcional de idosos institucionalizados utilizando o índice de Barthel (BI) e a MNA. Os resultados demonstram correlação positiva entre o BI e MNA, mostrando que esses indicadores associados podem ser ferramentas úteis na determinação de risco de desnutrição nesses indivíduos. Diante do exposto, destaca-se a importância da detecção precoce de risco de desnutrição e desnutrição em idosos. A MNA gera subsídios para profissionais intervirem com o suporte nutricional adequado com o objetivo de prevenir o declínio do quadro de desnutrição energético-proteica do paciente, melhorando a resposta ao tratamento proposto (VELLAS et al., 2006). A implementação de intervenções nutricionais precoces são efetivas e muitas vezes têm baixo custo, atendendo às necessidades atuais do Sistema Único de Saúde (SUS) que conta com recursos escassos frente a grande demanda por serviços de saúde (SECOLI et al., 2010). UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO HOSPITALIZADO 152 De acordo com o Ministério da Saúde, o envelhecimento populacional é um fenômeno natural, irreversível e mundial e a população idosa brasileira tem crescido de forma rápida. Desde a década de 1960, observam-se os processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional no país, que resultam em alterações nos padrões de ocorrência de enfermidades (BRASIL, 2010). Segundo o Estatuto do Idoso, no artigo 15 é assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, por meio de um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços, para prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. No artigo primeiro, destaca que a manutenção da saúde será garantida por meio do atendimento geriátrico e gerontológico na rede de saúde que conta com ambulatórios, unidades geriátricas de referência, atendimento domiciliar, incluindo a internação para os idosos impossibilitados de se locomover em instituições públicas, filantrópicas e sem fins lucrativos, nos meios urbano e rural (BRASIL, 2013). Na atenção à saúde dos idosos também se busca a reabilitação desses indivíduos com redução das sequelas decorrentes dos agravos de saúde (BRASIL, 2010). Consta no Estatuto do Idoso de 2013, que é dever das ILPI zelar pelo bem-estar e cuidados com a saúde dos idosos institucionalizados, priorizando ações que visem a promoção da saúde e de prevenção de incapacidades, levando em conta os aspectos culturais, sociais, religiosos e políticos destes indivíduos. Essas ações devem ser planejadas e avaliadas pelo profissional responsável, em consenso com outros profissionais de saúde bem como a equipe de cuidadores, levando em conta a opinião do residente e de seus familiares (BRASIL, 2013). A maioria dos estudos apontam que os riscos de desnutrição aumentam dramaticamente entre os idosos institucionalizados e hospitalizados, havendo prevalência de desnutrição ainda maior em idosos com deficiência cognitiva e capacidade funcional reduzida (GUIGOZ, VELLAS, GARRY, 1994). É sabido que idosos que estão desnutridos quando são hospitalizados, tendem a permanecer mais tempo internados, apresentam maiores complicações e correm maiores riscos de morbidade e mortalidade em relação àqueles que se encontram eutróficos (DONINI et al., 2004). A MNA pode ser usada periodicamente tanto em hospitais quanto em ILPI, assim como na comunidade e ambiente familiar por ser um instrumento simples com alta afinidade para detectar o estado nutricional em idoso com o propósito de prevenir a desnutrição (VELLAS et al., 2006). De acordo com a III Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa realizada em 2011, o envelhecimento digno é um compromisso de todos. No Brasil, a efetivação desses direitos depende do comprometimento coletivo, para que o Estatuto do Idoso não fique apenas no papel é necessário que haja adesão do documento pela TÓPICO 3 | HOSPITALIZADOS 153 sociedade civil. A Comissão Permanente de Direitos Humanos estabeleceu como meta nacional o seguimento da criação e do funcionamento das ILPI e das demais unidades de atendimento a esse grupo etário, o que possibilita a promoção do envelhecimento com dignidade (BRASIL, 2011). É importante salientar que, os cuidados realizados com estes pacientes institucionalizados, sejam individualizados e devidamente registrados em prontuários, com o propósito de serem reavaliados periodicamente e ajustados de acordo com a necessidade de cada idoso, tendo em vista que a MNA é uma ferramenta útil para o diagnóstico e o acompanhamento nutricional. Estes cuidados envolvem desde à higiene, alimentação, conforto, terapias ocupacionais além de cuidados mais complexos tendo como o foco à prevenção, reabilitação e promoção da saúde destes indivíduos (BRASIL, 2013). A eventual ausência da família, ruptura de vínculos ou mesmo escassez de recursos financeiros para arcar com as despesas de contratação de um profissional para cuidar do idoso, podem levar a busca por ILPI. Diante desta realidade, faz- se necessário a ampliação de políticas públicas que garantam o atendimento institucional desses indivíduos (BRASIL, 2013). Por isso a integração das famílias e da sociedade ao cotidiano, a atenção aos idosos deu espaço para as ILPI se tornarem parceiras na construção do diálogo aberto com as famílias e pacientes. Desse modo podendo diminuir o preconceito em relação à institucionalização e às famílias que a ela recorrem (CREUTZBERG; GONÇALVES; SOBOTTKA, 2008). Apesar de um estigma negativo em relação às ILPI, por envolvimento em situações de maus tratos e opressão à pessoa idosa, o que deve ser considerado e investigado, entretanto, é que há muitas experiências positivas de locais tranquilos e acolhedores para idosos, que vêm se tornando cada vez mais frequentes, sugerindo uma alternativa à demanda de moradia e cuidados para estes pacientes (BRASIL, 2013). FONTE: SILVERIO, J. K. A. et al. Estado nutricional de idosos hospitalizados: uma revisão de literatura. Visão Acadêmica, v. 17, n. 3, p. 75-90, 2016. 154 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Pacientes hospitalizados são vulneráveis à desnutrição. • Segundo dados do Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri), 48,1% dos hospitalizados do apresentam desnutrição hospitalar. • Rotinas de triagem nutricional em até 72 horas da admissão do paciente auxiliam na identificação precoce de pacientes desnutridos. • Risco nutricional é a presença de fatores que podem acarretar ou agravar a desnutrição em pacientes hospitalizados. • Não existe um consenso sobre qual instrumento é mais efetivo na triagem nutricional. • É possível calcular a correção do peso corporal para situações como edema, amputação e ascite. • Medidas como circunferência da cintura, prega cutânea subescapular, circunferência do braço, circunferência da panturrilha e altura do joelho, podem ser aferidas com o paciente deitado. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão.Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 155 AUTOATIVIDADE 1 Apesar da relevância da sistematização do cuidado de nutrição no âmbito clínico hospitalar, sabe-se que há diversos problemas e limitações na prática, visto que cada hospital tem sua rotina estabelecida, tanto em relação ao paciente como ao gerenciamento. Considerando a avaliação nutricional para uma pessoa de 79 anos de idade, que não consegue manter-se em equilíbrio sobre uma balança, avalie as afirmações a seguir. I- A avaliação nutricional pela antropometria pode ser feita com a adoção de fórmulas de estimativa de peso que utilizam as circunferências do braço e da panturrilha, além da dobra cutânea subescapular e a altura do joelho. II- O colesterol sérico pode ser utilizado como marcador de desnutrição, pois a hipocolesterolemia é resultado da menor secreção de lipoproteínas. III- Na avaliação bioquímica, pode ser feita a mensuração da albumina sérica, uma vez que, a redução dessa proteína indicaria perda de peso e de massa muscular. IV- Na estimativa da estatura, pode-se medir a altura do joelho, por se considerar que a medida em membros inferiores não é afetada pela diminuição das dimensões ósseas. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) III e IV. d) ( ) I, II e IV. e) ( ) II, III e IV. 2 No exame físico devem ser observadas alterações como a presença de ascite, que superestima o peso do indivíduo, comprometendo o diagnóstico nutricional. Para tanto, é possível fazer uma estimativa do peso atribuído a essa condição e descontá-lo, dependendo da gravidade. Nesse sentido, o grau de ascite moderada, representado pelo peso hídrico, equivale a alternativa: a) ( ) 2 kg. b) ( ) 4 kg. c) ( ) 5 kg. d) ( ) 6 kg. e) ( ) 10 kg. 3 A desnutrição é frequente entre os pacientes internados, sendo alvo de estudos. Diante desse fato, é importante estabelecer o diagnóstico nutricional do paciente (FIDELIX; SANTANA; GOMES, 2013). Nesse sentido, cite cinco complicações associadas à desnutrição hospitalar. 156 157 REFERÊNCIAS ACHE DIAS, J. et al. Força de preensão palmar: métodos de avaliação e fatores que influenciam a medida. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 12, n. 3, p. 209-216, 2010. ACUÑA, K.; CRUZ, T. Avaliação do estado nutricional de adultos e idosos e situação nutricional da população brasileira. Arquivos Brasileiros de Endocrinololgia & Metabologia, São Paulo, v. 48, n. 3, p. 345-361, 2004. ARAUJO, M. A. R. et al. Análise comparativa de diferentes métodos de triagem nutricional do paciente internado. Comunicação em Ciências da Saúde, v. 21, n. 4, p. 331-342, 2010. ATALAH, S. E.; CASTILLO, C. L.; CASTRO, R. S. Propuesta de um nuevo estandar de evaluacion en embarazadas. Revista Médica de Chile, Santiago, v.125, n. 12, p. 1429-36, 1997. 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