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Toxoplasmose Aula: - Professora: Renata Introdução A toxoplasmose é uma infecção causada por um protozoário chamado “Toxoplasma Gondii”, encontrado nas fezes de gatos e outros felinos, que pode se hospedar em humanos e outros animais. É causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados e é uma das zoonoses (doenças transmitidas por animais) mais comuns em todo o mundo. TOXOPLASMA GONDII: Taxon=Arco / Plasma=célula. É um protozoário, da classe Sporozoasida. Tem apenas uma família Toxoplasmatinae, e apenas um gênero e espécie, Toxoplasma gondii. Existem três formas de apresentação na natureza: na forma de taquizoítas, ou na forma de oocistos que dá nas fezes do gato, ou na forma de cisto tecidual (ou bradizoítas). Ciclo Transcrição O Toxoplasma entra no nosso corpo em forma de oocistos e, dentro dos oocistos, encontram-se dois esporocistos e cada esporocisto tem dentro vários esporozoítas, e esses esporozoítas vão se transformar em taquizoítas no sangue. Os taquizoítas são responsáveis pela forma aguda da doença. Eles entram na célula e começam a se multiplicar, e quando tem muita defesa em volta, a imunidade celular e humoral começa a atacar muito ele, então ele começa a multiplicar menos, reduzindo essa intensidade começando a formar como se fossem proteínas em volta, formando o cisto tecidual (contendo os bradizoítas, que se multiplicam bem lentamente, impedindo o rompimento do cisto e o ataque pelo sistema imune). Ciclo de acordo com o manual MSD Os únicos hospedeiros conhecidos definitivos para T. gondii são membros da família Felidae (gatos domésticos e seus parentes). 1a. Os oocistos são eliminados nas fezes dos gatos. Uma grande quantidade é eliminada, mas normalmente só durante 1–2 semanas. Os oocistos demoram de 1–5 dias para se tornarem infectantes. 1b. Os gatos se reinfectam pela ingestão de oocistos esporulados. 2. Terra, água, plantas, ou a areia do gato tornam-se infectados com oocistos. Os hospedeiros na natureza (p. ex., pássaros, roedores, animais selvagens e animais criados para consumo de seres humanos) infectam-se após ingerirem materiais infectados. 3. Os oocistos se desenvolvem em taquizoítas logo após a ingestão. 4. Os taquizoítas se espalham por todo o corpo e formam cistos teciduais no tecido neural e muscular. 5. Os gatos se infectam após consumirem hospedeiros intermediários contendo cistos teciduais. 6a. Os seres humanos podem se infectar pela ingestão de carne mal cozida contendo cistos teciduais. 6b. Os seres humanos podem se infectar pela ingestão de alimentos ou água contaminada por fezes de gatos ou outros materiais contaminados por fezes (p. ex., terra), ou pelo contato com a areia do gato. Ana Carolina Picanço 7. Raramente, a infecção nos seres humanos é decorrente de hemotransfusão ou transplante de órgão. 8. Raramente, ocorre transmissão transplacentária da mãe para o feto. 9. No hospedeiro humano, os parasitas formam cistos teciduais, mais comumente no músculo esquelético, no miocárdio, no cérebro e nos olhos. Ao se falar em Toxoplasmose, tem que se ter em mente que pode haver uma infecção crônica e assintomática sem causar, necessariamente, uma doença. Poucas pessoas desenvolverão a doença (10%). Dos 10% sintomáticos, geralmente é um quadro clínico autolimitado, com sintomas inespecíficos: febre baixa, rash, linfadenopatia, fadiga, cefaleia, dor de garganta, mialgia, etc. 100% dos pacientes vão evoluir para uma infecção latente (assintomática), ou seja, ninguém cura de toxoplasmose, ela vira uma doença crônica nas fibras musculares, na retina, no SNC e não existe nenhuma medicação capaz de matar os cistos. Geralmente, as pessoas imunocompetentes não terão reativação, mas quando reativa em imunocompetentes, provoca coriorretinite (com episódios recorrentes, muito difícil de tratar), já em imunodeficientes, pode ocorrer encefalite (grave). Em gestantes infectadas previamente, já cronificadas, o risco é baixo de contaminação via placentária. Mas quando a gestante adquire o protozoário no fim da gestação, quase 100% das vezes vai ser transmitido para o feto, resultando em uma toxoplasmose congênita. Epidemiologia O gato tem papel fundamental dentro da epidemiologia da doença, pois ele é um hospedeiro completo, ou seja, ele pega toxoplasmose e evacua toxoplasmose, sendo que o protozoário passa por todas as fazes dentro do gato. Dessa forma, o gato é um responsável indireto, pois ele acaba infectando o solo com suas fezes, e outros animais, como vacas, acabam comendo capim contaminado e adquirindo a toxoplasmose (já na fase crônica, ou seja, em forma de cistos teciduais). Além disso, pode haver transmissão por água, verduras, legumes e cascas de frutas que tiveram contato com resíduos fecais de gatos contaminados. Nem todos os gatos tem toxoplasmose, geralmente são os gatos de rua. Ana Carolina Picanço No epitélio intestinal do gato, formam-se as fezes cheias de esporocistos, e quando ele entra no tecido, forma o cisto tecidual. Quando o gato defeca, ele faz esse processo de esporogonia, cerca de 34 dias, e já consegue eliminar os oocistos. A gestante se alimenta dos animais que se alimentaram de algo contaminado com os oocistos e acaba contaminando seus aparelhos, seus tecidos. E a gente também acaba se alimentando desses animais contaminados, principalmente quem gosta de uma carne sangrando, mal passada, se for carne sem controle, obviamente, aumenta a chance de adquirir toxoplasmose. Aí você pode ter taquizoítas, bradizoítas, que é quando a pessoa se alimenta de esporocisto. Taquizoíta no sangue, chega uma hora que ele entra nos tecidos, se protege contra as defesas e se transforma em bradizoíta e vira cisto. Então ele vai virar cisto nos músculos, no cérebro, em vários tecidos. (PROVA!) No paciente imunodeficiente, a gente percebe clinicamente apresentando essas doenças que a gente falou. O feto é um imunodeficiente, então quando a mãe permite a entrada do taquizoíta pela placenta, ele vai causar a doença congênita, ele vai agredir também os tecidos do feto. Paciente com AIDS, facilita a entrada do protozoário na célula, com sua consequente multiplicação, rompimento da célula, ativação de citocinas e outras substâncias levando a um quadro inflamatório grave com necrose. Então é um quadro extremamente grave, a pessoa pode morrerde toxoplasmose aguda com AIDS, e o recém-nascido também, quando acontece no início da gestação, é claro que as lesões são mais graves, mas não é comum. A placenta não permite a transmissão no início da gestação. A toxoplasmose, diferente da rubéola, é pior no final da gestação e não em seu começo. No início é ruim também, mas é mais difícil de transmitir no início. No olho e sistema nervoso central, nós não temos anticorpos, o sistema imune é menor, então por isso que você tem tanta lesão ocular e no sistema nervoso central também. Na criança, por exemplo, tem microcalcificação cerebral. A coriorretinite é uma situação a parte, porque quando eu tenho taquizoíta no sangue, eu começo a formar bradizoítas nos tecidos, e 1% da população é no tecido da retina. Quando o bradizoíta vira taquizoíta de novo na retina, tem pouca defesa no humor aquoso, e começa a fazer reação inflamatória ali, então esse é problema. E tem outros processos inflamatórios vasculares, periaquedutal e periventriculares. O gânglio desses pacientes que estão com adenomegalia de toxoplasmose, que é tão comum na sintomatologia de alguns, ocorrerá uma hiperplasia folicular reativa, algumas células epitelióides, linfócitos gigantes, mas infelizmente é comum demais a pessoa mandar fazer biópsia de gânglio sem sinais de evolução. Se você não faz diagnóstico de Ana Carolina Picanço toxoplasmose sorológico, já vai direto para a biópsia, mas é muito difícil ver um toxoplasma morto no tecido. Então o que dá no exame? Processo inflamatório inespecífico. A pessoa faz a biópsia, uma cirurgiazinha, e não dá nada. Então não vale a pena fazer biópsia para dar diagnóstico de toxoplasmose. Tem que fazer exame sorológico. Quadro clínico (prova!!!) São 4 formas de apresentação da toxoplasmose: ● em imunocompetentes, ● imunodeficientes, ● infecção congênita ● e ocular. IMUNOCOMPETENTES: 90% são assintomáticos. Então você que tem IgG positivo para toxoplasmose nem sabe que tem, só fazendo a sorologia mesmo. Mas quando tem os 10% com sintomas? Febre e um quadro mais parecido com mononucleose, por isso que a toxoplasmose faz parte da síndrome de mononucleose infecciosa. São 3 fatores de risco que podem causar a síndrome da mononucleose infecciosa: a toxoplasmose, a mononucleose propriamente dita (infecção pelo Epstein-Barr) e citomegalovírus. E o diagnóstico diferencial às vezes é impossível de fazer, porque todos eles dão dor no corpo, febre, mal-estar, esplenomegalia, hepatoesplenomegalia, rash cutâneo, aí você não consegue. Aí faz um hemograma, aparece atipia linfocitária, aí está mais para mononucleose, então você só consegue fazer o diagnóstico de certeza se tiver a sorologia. OCULAR: Quando começa a infecção, o cisto está instável, ou seja, ocorre uma infecção crônica, sem muita repercussão para o paciente, mas, de repente, o cisto pode eclodir e os bradizoítas se instalam na retina e se transformam em taquizoítas, então, o tecido adjacente fará uma reação de hipersensibilidade (não dói, não tem incômodo). Se a lesão aparece na mácula, a pessoa tem sintomas. As lesões são vistas como uma mancha esbranquiçada inicialmente, mas ao cicatrizarem, ficam escuras. Pode haver lesões ativas e cicatriciais. Quando o tecido está cicatrizando, a pessoa começa a ver alguns pontos pretos fixos, por isso o tratamento é tardio. Se a pessoa tem IgG positivo para toxoplasmose, ela deve ir anualmente ao oftalmologista para acompanhamento. Se for fora da mácula a pessoa nem sabe que está com coriorretinite, as vezes é um achado, a pessoa faz o exame e acha coriorretinite. Se está em atividade não tem dúvida, tem que tratar. Se não está em atividade, ou seja, cicatrizado, não faz nada (mesmo se for mulher grávida, se estiver cicatrizado não trata). Lesão bilateral eu quase posso garantir que é congênito. IMUNODEFICIENTES: O CD4 de uma pessoa normal, gira em torno de 1500; em imunodeficientes, esse valor é menor que 100. O cisto pode se localizar em qualquer área do SNC e, com a imunidade muito baixa (pacientes com HIV), esse cisto vai se romper e provocar uma reação de hipersensibilidade, com presença de inflamação, edema e necrose. Então, a neurotoxoplasmose faz um efeito de massa compressiva, como se fosse um câncer. O quadro clínico é arrastado, normalmente começa com uma enxaqueca, uma cefaleia, tonturas e vai piorando, até chegar em confusão mental e convulsão. Geralmente, são lesões multifocais. Ana Carolina Picanço O sinal clássico na RM é uma lesão arredondada (em forma de anel), impregnada de contraste de gadolínio. Esse anel é uma região de edema com necrose internamente (PROVA!!!) Diagnóstico diferencial de neurotoxoplasmose? Linfoma, leucoencefalopatia multifocal progressiva, causada por um vírus chamado JC, um Polyomavirus, que provoca lesão no paciente com AIDS também. Então como eu sei que é uma coisa ou outra? O achado da RM ajuda. ● Se há um aumento da captação do contraste, toxoplasmose faz isso, linfoma faz isso, leucoencefalopatia não faz. ● O padrão em anel, toxoplasmose grande chance, linfoma pode ser anel ou não, leucoencefalopatia nada. ● Edema, toxoplasmose e linfoma dão edema, leucoencefalopatia não. E a cintilografia ajuda? Muito. Mostra se a lesão é fria ou quente. ● A toxoplasmose costuma dar lesão hipometabólica ao PET Scan, a cintilografia é fria. ● O linfoma já dá um aumento do metabolismo do tecido, porque é câncer, então eu tenho um hipermetabolismo e é quente à cintilografia. ● A leucoencefalopatia é fria que nem toxoplasmose. CONGÊNITA: A grávida é uma imunodeprimida, e quando ela pega toxoplasmose durante os 9 meses de gestação, na grande maioria das vezes, será assintomática. Diferentemente de outras doenças infecciosas congênitas, a toxoplasmose tende a infectar no terceiro trimestre de gestação. O risco de transmissão varia de acordo com a virulência da cepa, carga parasitária, imunidade e trimestre da gestação. Quem já teve, não terá de novo, porém, há risco se tiver com AIDS, porque mesmo sendo infecção latente, aquilo pode retornar, porque a defesa está muito baixa. Mas no imunocompetente, só ocorre a toxoplasmose congênita se for primo-infecção. Abortamento só na primo-infecção!!! ABAixo, tem-se os sinais e sintomas da toxoplasmose congênita, sendo que os sinaiscom uma cruz ( † ), representam a Tríade de Sabin: Hidrocefalia, Coriorretinite e Calcificação intracraniana. Ana Carolina Picanço A presença desses três sinais é clássica na toxoplasmose congênita (PROVA!!!). Pode-se detectar a toxoplasmose congênita pelo teste do pezinho e pela USG transfontanela. Diagnóstico (prova!!!) No isolamento, só vai ver em centros de pesquisa. Atualmente, o que se usa são os testes sorológicos. Entretanto, o teste do corante (reação de Sabin Feldman), a reação de hemoaglutinação e a imunofluorescência, praticamente não se usam mais. O teste mais usado é a ELISA, que possui uma acurácia enorme. Então, pede-se a IgM, que é um marcador de infecção aguda, a IgG, que marca a doença crônica. A IgA e IgE são excelentes marcadores de infecção AGUDA (mais específicos que a IgM), isso porque a IgM pode ficar positiva até durante um ano, já a IgA e IgE ficam positivas APENAS na fase bem aguda da doença, depois, elas abaixam. Então, pede-se IgM, IgG, IgA e IgE na primeira vez e, depois de 3 semanas, repete-se (exceto IgG) e compara os resultados, uma vez que após essas 3 semanas, IgA e IgE não existirão mais. Teste Sorológico na Gravidez Geralmente, IgA e IgE são pedidos em gestação. O IgG também pode confundir, mesmo sendo um marcador crônico, isso porque, às vezes, a gestante está no 6º mês de gestação, por exemplo, e ao fazer os testes veio IgG e IgM positivos, como saber se a gestante não pegou a toxoplasmose na primeira semana de gestação? Nesse caso, utiliza-se um teste chamado AVIDEZ DE IgG, que consiste em avaliar o quão ávido ele está para a toxoplasmose, ou seja, a força de interação entre o IgG e o Toxoplasma. Quanto mais ávido, mais conhecimento IgG tem do toxoplasma, ou seja, significa um contato mais antigo com o protozoário, uma infecção mais antiga; já uma avidez baixa, significa que IgG ainda está conhecendo o toxoplasma, ou seja, um contato mais recente. Peço IgA, se o IgM VIER + DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Rash cutâneo: qualquer uma dessas viroses pode dar rash cutâneo. Causas outras de adenomegalia e outras causas de coriorretinite: 90% das coriorretinites são por toxoplasmose. Então tá envolvido, imagine, o cara tem uma coriorretinite, tem um IgG positivo para toxoplasmose, até provar o contrário isso é toxoplasmose ocular, se tiver o aspecto de pigmentação então, maior a chance ainda. Ana Carolina Picanço TORCHS Existe um acrônimo (TORCHS) para algumas doenças, que são comuns causadores de infecção congênita. Essas doenças possuem sinais clássicos: icterícia, hepatoesplenomegalia, púrpura, pneumonia, meningoencefalite, baixo peso ao nascer (PROVA!!!). Lembrando que a coriorretinite ela tem mais haver com a toxoplasmose, calcificação intracerebral tem mais haver com a toxoplasmose, hidrocefalia também, então além disso aqui você tem essas três possibilidades. Tratamento 1. SULFADIAZINA + PIRIMETAMINA: Tratamento de escolha. (Não usa em grávidas) 2. SULFAMETOXAZOL + TRIMETOPRIM: Segunda opção, na ausência de Sulfadiazina + Pirimetamina. ESPIRAMICINA: É péssimo para tratamento da toxoplasmose, porém, é o ÚNICO capaz de impedir o ataque de taquizoítas à placenta. Então, em casos de infecção aguda na gestação, a paciente faz uso de Espiramicina até o parto. NÃO USA OUTRO ANTIBIÓTICO PARA TRATAR INFECÇÃO AGUDA EM GESTANTES. CLINDAMICINA: Opção para alérgicos a Sulfas. ÁCIDO FOLÍNICO: Deve ser feito, uma vez que as sulfas provocam anemia megaloblástica. CORTICOSTERÓIDE: Sempre utiliza em contextos de EDEMA. Profilaxia ● Não ingerir carne crua ou mal passada; ● Cuidado no manuseio de carne crua; ● Lavar frutas e vegetais; ● Evitar acesso de baratas, moscas a alimentos; ● Evitar contato com fezes de gato ou áreas contaminadas como areia, jardins e hortas; ● Tomar apenas água potável filtrada ou mineral; ● Não é necessário matar o gato!!! Fim. Ana Carolina Picanço Casos Clínicos 1. Paciente de 12 anos, com história de febre há 2 semanas, acompanhado de linfadenopatia cervical bilateral de grande volume, além de rash cutâneo de 2 dias de evolução. Mantinha-se com bom estado geral. A sua mãe levou ao pediatra que solicitou alguns exames que demonstravam: Hemograma: Ht=32%, Leuc= 3500 (42% de linfócitos) / Sorologia para toxoplasmose: IgG e IgM positivos. a. Qual o diagnóstico diferencial deste caso? Viroses, resfriados, rubéola, toxoplasmose. b. Explique a fisiopatogênese da toxoplasmose: Ao ingerir água e alimentos contaminados por resíduos de fezes de gatos, ocorre a ingestão de oocistos (dentro dos oocistos tem os esporocistos, e dentro dos esporocistos tem os esporozoítos que vão se tornar taquizoítas). Pode desenvolver doença ou não. Os esporocistos com os taquizoítas vão formar cistos nos tecidos musculares e esses taquizoítas vão ser transformados em bradizoítas, caracterizando a fase crônica da toxoplasmose. Ao ingerir uma carne malpassada, por exemplo, ingerimos os oocistos, que vão se tornar taquizoítas no organismo e depois voltam para oocistos nos tecidos. c. Este caso tem necessidade de tratar? Como tratar? Não há necessidade de tratar. 2. Paciente no terceiro trimestre de gestação veio para avaliação de rotina que foi detectado alterações na sorologia para toxoplasmose com IgG positivo. Assintomática. a. Qual a sua conduta? Trata ou não trata? Não precisa se preocupar porque a toxoplasmose está em fase crônica e não corre riscos de passar para o feto. Não trata. b. Como confirmar o diagnóstico? E o comprometimento fetal (caso esteja aguda)? Confirma-se através das sorologias (IgM, IgA, IgE e Avidez de IgG) e começa com Espiramicina. Para confirmar o comprometimento fetal, faz-se a USG transfontanela. c. Se a conduta for tratar, qual o tratamento? Espiramicina. 3. Paciente de 32 anos foi ao oftalmologista pois passou a perceber pequenos pontos negros em sua visão central. Negava qualquer outro sintoma. Foi evidenciado uma coriorretinite com envolvimento macular e perimacular de grande extensão. Feito sorologia para toxoplasmose que demonstrou IgG positivo com títulos baixos e IgM negativo. a. Trata-se de uma uveíte por toxoplasmose? Sim. b. Qual o diagnóstico diferencial? Qualquer doença que causa coriorretinite, como citomegalovírus. Ana Carolina Picanço c. Comotratar? Sulfadiazina + Pirimetamina, Ácido folínico e Corticoide. 4. Paciente de 45 anos, soropositivo para HIV, foi ao ambulatório por apresentar quadro prolongado de cefaleia de forte intensidade, acompanhado de vômitos frequentes. Há 3 dias passou a notar uma progressiva paresia de dimídio direito evoluindo para crise convulsiva focal. Fez TC que demonstrava lesões hipodensas em regiões paraventriculares bilateral com edema importante à esquerda e captação do contraste em anel. a. Como confirmar o diagnóstico de toxoplasmose cerebral? Dosagem de CD4, exames de imagem, IgM e IgG positivos. b. Cite o diagnóstico diferencial: Doenças com efeito compressivo (ex.: câncer). c. Qual o tratamento global? Sulfadiazina + Pirimetamina, Ácido folínico e Corticoide. Geralmente, mantém-se o uso de Sulfadiazina + Pirimetamina e Ácido folínico até a imunidade do paciente aumentar (profilaxia secundária). QUESTÕES DA APS DOS VETERANOS: CONDUTA EM CASOS DE TOXOPLASMOSE 1. Uma jovem de 23 anos e gestante (20 semanas) com coriorretinite em atividade e de repetição sugestivo de Toxoplasmose. Sulfadiazina + Pirimetamina + Ácido folínico associado a Glicocorticoide. Sulfadiazina pode ser utilizada sem problemas pois já passou do período gestacional crítico de sua administração visto que apresenta potencial de efeito teratogênico nas 12 a 16 semanas. Em substituição a Sulfadiazina pode utilizar-se de Clindamicina. Ácido folínico sempre é bom pois diminui os efeitos colaterais, não confundir com Ácido fólico, pois este compete com a Sulfa. Glicocorticoide é fundamental, pois tem que reduzir o processo inflamatório, pois uma inflamação retiniana cicatriza e a cicatriz fica cada vez maior. Glicocorticoide é um anti-inflamatório: diminui o edema, diminui a inflamação para que a cicatriz seja menor. A Espiramicina não deve ser utilizada para tratamento da Toxoplasmose; ela só serve para bloquear a passagem do Toxoplasma pela placenta, só serve para prevenir a Toxoplasmose congênita. A chance de Toxoplasmose nesse caso é zero; só pega Toxoplasmose congênita em gestantes com primo-infecção, além disto o caso tem coriorretinite de repetição; a chance de congênita é nula. Espiramicina eu uso em casos que o Toxoplasma possa atravessar a placenta, antes de 12 semanas gestacionais; e no final eu utilizo Clindamicina. Se em algum caso a coriorretinite for cicatrizada não faz nada. 2. Uma jovem gestante com 36 semanas assintomática com uma sorologia de Toxoplasmose IgM reagente um pouco acima do normal e IgG elevado 2 vezes o normal. Realizar pareamento sorológico com repetição da sorologia de IgG e IgM após 3 semanas idealmente, pois neste tempo os valores sorológicos quadruplicam; sendo que o IgG é obrigatório está quadruplicado; estando o IgM dentro dos padrões de normalidade ou acima ou abaixo. Solicitar sorologia de IgA, pois este fica positivo em menos tempo, e se for positivo Ana Carolina Picanço temos certeza que é Toxoplasmose Congênita. Além de realizar teste de avidez; o anticorpo está ávido quando ele tem conhecimento do Toxoplasma; uma avidez alta ele tem o conhecimento do Toxoplasma; logo videz alta a doença é antiga; uma avidez baixa, ele não tem conhecimento do Toxoplasma; logo avidez baixa a doença é aguda com absoluta certeza. A validade do teste de avidez é de 4 meses; ou seja avidez alta e antiga de 4 meses a paciente já poderia estar grávida; se avidez baixa certeza de aguda. Na dúvida se é aguda ou não eu dou Espiramicina para bloquear a passagem do Toxoplasma pela placenta; quando eu enigmar minha dúvida eu suspendo Espiramicina. 3. Um paciente com AIDS de 37 anos com cefaléia de forte intensidade e hemiparesia à esquerda. Na tomografia cerebral uma imagem hipodensa com captação em anel na região da cápsula interna ao parênquima cerebral com discreto desvio da linha média. Quadro clássico de neurotoxoplasmose, muito comum em pacientes imunodeprimidos. Sulfadiazina + Pirimetamina + Ácido folínico associado a Glicocorticoide devido a presença de desvio de linha média (aumento da pressão intracraniana e edema). Sulfametoxazol + Trimetoprim (Bactrin) tem sido utilizado como plano terapêutico devido à falta de Sulfadiazina no mercado. 4. Uma criança de 9 anos com febre há 3 semanas e um grande volume na região cervical bilateral sugestivo de linfadenomegalias, apenas um pouco doloroso, porém cístico e não aderidos a planos profundos. Uma sorologia para Toxoplasmose IgM muito elevado e IgG reagente próximo a realidade. Não faz nada. Não se trata pacientes imunocompetentes. Não há necessidade de tratar, o medicamento mais maleficia do que beneficia nesses casos. Fim. Ana Carolina Picanço