Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Teorias do Currículo Semana 1 Vídeo aula 1- História e Concepção Currículo- Origens • Currere • Programa a ensinar • Trivium (gramática, retórica e dialética) e cuadrivium (astronomia, geometria, aritmética e música) • Organização e unificação • Ano, conteúdos e métodos • Ordem sequenciada externa Conteúdos • Conhecimento escolar • Construção social • Cultura curricularizada • Intermediação didática • Mediadores (professoria, livro didático...) Currículos • Tradição inventada • Não é neutro, nem universal, nem imóvel • Território contestado • Opção política (no sentido do resultado das relações sociais) • Projeto, aposta, tem uma carga utópica • A serviço de quem? Qual cidadão esse currículo quer formar? Currículo Tudo que ocupa o tempo escolar (Bernstein, 1996) Objetivos – Atividades - Resultados Currículo como processo Texto – Interpretação – Prática – Efeitos reais – Efeitos comprováveis Texto base 1- José Gimeno Sacristán Currículo é aquilo que um aluno estuda. O termo era utilizado para significar a carreira, por um lado, refere-se ao percurso ou decorrer da vida profissional e a seus êxitos). Por outro lado, o currículo também tem o sentido de constituir a carreira do estudante e, de maneira mais concreta, os conteúdos deste percurso, sobretudo sua organização, aquilo que o aluno deverá aprender e superar e em que ordem deverá fazê-lo. O currículo determina que conteúdos serão abordados e, ao estabelecer níveis e tipos de exigências para os graus sucessivos, ordena o tempo escolar, proporcionando os elementos daquilo que entenderemos como desenvolvimento escolar e daquilo em que consiste o progresso dos sujeitos durante a escolaridade. O currículo proporciona uma ordem por meio da regulação do conteúdo da aprendizagem e ensino na escolarização moderna, uma construção útil para organizar aquilo do qual deve se ocupar a escolarização e aquilo que deverá ser aprendido. Concluímos que o agrupamento dos sujeitos em classes facilitava o regramento da variedade dos alunos. O método pedagógico estruturava e proporcionava uma sequência ordenada de atividades que, de maneira reiterada, podem ser reproduzidas. 1. Dimensões ou aspectos estruturais do currículo: a ordem pela qual ele é estabelecido – Divisões do tempo: Anos ou cursos da escolaridade sequenciados. Horário semanal repetido ciclicamente. Horário diário, em parte repetido ciclicamente. Concepções do tempo. – Delimitação e organização dos conteúdos: Acessibilidade e fontes de onde a informação podem ser obtidas. Demarcação do que se pode e se deve aprender Organização em disciplinas e outras formas de classificação dos conteúdos. A ordem da sequência de conteúdo. Permeabilidade das fronteiras entre os territórios demarcados. Itinerários de progressão nos conteúdos e no tempo. Opções epistêmicas sobre o conhecimento. Sistemas e mecanismos de avaliação das aprendizagens. Elementos e aspectos estruturados ou afetados Tempo de aprender, tempo livre, etc. Tempo de ensinar. Conhecimentos e saberes valorizados. Atividades possíveis de ensinar ou transmissoras em geral. Atividades possíveis e prováveis de aprendizagem e seus resultados. Comportamentos tolerados e estimulados. Linha e ritmo de progresso. Identidade e especialização dos professores. Orientação do desenvolvimento das pessoas. 2. Outros elementos e agentes: O espaço escolar. Classificações dos alunos. Clima social. Regras de comportamento. O método como ordem das ações. Relações verticais/horizontais. Sistemas de avaliação e controle não curriculares. Ideologias, filosofias e outras abordagens dos processos de ensinar Não haverá mudança significativa de cultura na escolarização se não forem alterados os mecanismos que produzem a intermediação didática; ou, em outras palavras: toda proposta cultural sempre será mediada por esses mecanismos. Estamos falando das engrenagens que envolvem o currículo e o modelam, das regras da gramática que o regem. Falamos das regras do jogo, mas temos de decidir de qual jogo se trata, ou seja, o que estamos jogando, não é o currículo em si que constitui um plano escrito, mas o seu desenvolvimento. a. Os fins, objetivos ou motivos que nos orientam, que estão contidos no texto explícito do currículo e nos projetos concretos que desenvolvemos dentro dele. b. b. As ações e atividades que desenvolvemos, que constituem as práticas ou os métodos visíveis do ensino e podem contribuir em maior ou menor grau para a consecução do ponto anterior, aumentar ou não seu êxito, fazer com que ele acerte mais ou menos. c. Os resultados ou efeitos reais provocados nos alunos são realidades que pertencem ao âmbito da subjetividade, mas que não são diretamente visíveis, Como consequência, é absolutamente impossível querer que os objetivos ou fins da educação e do ensino correspondam aos resultados de aprendizagem, como se fossem aspectos totalmente simétricos. Esquema de concepção do currículo como processo e práxis: 1. Projeto de educação. O texto curricular 2. Currículo interpretado pelos professores, pelos materiais 3. Currículo realizado em práticas, com sujeitos concretos e inserido em um contexto 4. Efeitos educacionais reais 5. Efeitos comprováveis e comprovados Admitindo a importância de dispor de um bom texto curricular, é necessário entender que existe uma separação, pelos motivos já comentados, entre a prescrição de conteúdos no mesmo e a sua organização pedagógica para provocar a experiência da qual serão extraídos os significados. Os professores e a produção de materiais devem ser provocados. A aprendizagem deve ser um processo de depuração, enriquecimento e ampliação da experiência pessoal alimentada pela experiência social. Semana 2 vídeo aula 1/ Teorias curriculares tradicionais: pedagogia tradicional Sociedade e currículo Séc XVI- sociedade em castas - a escola era limitada a um número restrito. Séc XX- sociedade em classes- + tempo na escola + tempo em fabricas, produções... Séc XXI- Sociedade em rede – atualidade Entre séc XVI e XIX se utilizava a fixação de determinados conhecimentos e valores, cultivados por um grupo superior, nesse sentido é chamado o currículo tradicional, do qual tinha duas vertentes, a jesuítica (religiosa) e a laica. Vídeo aula 2- Teorias curriculares tradicionais: Escolanovismo Objetivo da Disciplina Conhecer as teorias do currículo; Identificar as transformações sociais que impactaram as teorias curriculares; Identificar as características das teorias tradicionais, críticas e pós-críticas do currículo; Compreender como operam as políticas curriculares; Compreender os diversos aspectos abarcados pelo projeto político-pedagógico. Sociedade e Currículo Castas- XIX-XX / Ratio studiorum tradicional, conhecimento, valores Classe - Dewey, Kilpatrick – ensino, aprendizagem, avaliação método, planejamento, eficácia, objetivos / Escolanovismo Rede- XI – Escolanovismo Escolanovismo Base psicológica comportamentalista Acriança e o currículo- John Dewey Progressivismo Experiência dos alunos Ocupações sociais, estudos naturais e língua Emprega métodos “ativos” (professores saem de sala de aula pra ensinar, etc...) Vídeo aula 3 – Teorias tradicionais do currículo: Tecnicismo Tecnicismo educacional Comportamentalismo e taylorismo O currículo- Franklin Bobbitt Eficientismo Objetivos extraídos do mundo laboral Resolver problemas práticos Objetivos = Tarefas Base psicológica desenvolvimentista Princípios básicos de currículo e ensino – Ralph Tyler Racionalidade técnica Definição de objetivos – experiências de aprendizagem – Organização das experiências - Avaliação Texto base 1 – Nascem os “estudos sobre currículo” as teorias tradicionais / Tomaz Tadeu Silva As teorias educacionais e pedagógicas não são, estritamente falando, teorias sobreo currículo, há antecedentes de preocupações com a organização da atividade educacional e até mesmo de uma atenção consciente à questão do que ensinar. Bobbitt propunha que a escola funcionasse da mesma forma que qualquer outra empresa comercial ou industrial. Na perspectiva de Bobbitt, a questão do currículo se transforma numa questão de organização. O currículo é simplesmente uma mecânica. Tyler identifica três fontes nas quais se devem buscar os objetivos da educação, afirmando que cada uma delas deve ser igualmente levada em consideração: 1. estudos sobre os próprios aprendizes; 2. estudos sobre a vida contemporânea fora da educação; 3. sugestões dos especialistas das diferentes disciplinas. Cada um dos modelos curriculares contemporâneos, o tecnocrático e o progressista, ataca o modelo humanista por um flanco. O tecnocrático destacava a abstração e a suposta inutilidade – para a vida moderna e para as atividades laborais – das habilidades e conhecimentos cultivados pelo currículo clássico. O modelo progressista, sobretudo aquele “centrado na criança”, atacava o currículo clássico por seu distanciamento dos interesses e das experiências das crianças e dos jovens. Por estar centrado nas matérias clássicas, o currículo humanista simplesmente desconsiderava a psicologia infantil. Vídeo aprofundando o tema – tendência liberal tecnicista Tendência liberal tecnicista = entende que aprender é uma questão de modificação do desempenho, para os tecnicistas, o ensino eficiente deve ter uma organização eficiente e o aluno deve ser estimulado, de modo que ele saia de forma diferente de como entrou. A escola funciona de forma modeladora do comportamento humano, técnicas específicas currículo mínimo, professor executor, conteúdos criados por especialistas, aluno e professor passivo, não há discussões teóricas e nem relacionamento afetivo entre professor/aluno. Semana 3 Vídeo aula 1 – Teorias curriculares críticas: reprodutivista Castas: XVl/XX – Ratio Studiorum tradicional, conhecimento de valores Classe: XX/XXl – Dewey, Kilpratrick / Escolanovismo – ensino, aprendizagem, avaliação, método, planejamento, eficácias, objetivos. XX/XXl – Bobbitt, Tyler – Tecnicismo – ensino, aprendizagem, avaliação, método, planejamento, eficácias, objetivos. Rede Crítico reprodutivista - Bourdieu, Paseron, Althusser, Baudelot, Establet, Bowles, Gintis - \ideologia, reprodução, capitalismo, cultura dominante Ponto de partida – um caso bem comum Crítico-reprodutivistas • Marxismo e capital cultural • Questionam a justiça social • O que o currículo faz? • A sociedade capitalista depende da reprodução econômica e ideológica • O currículo ensina que os arranjos sociais são bons e desejáveis • Reprodução da cultura dominante Vídeo aula 2 – Teorias críticas do currículo- reconceptualistas e neomarxistas Reconceptualistas • Rejeitam o modelo tyleriano • Questionam compreensões naturalizadas de mundo social, pedagogia e currículo • Concebem o normal como aparência • Disciplinas são tomadas como abstrações • Focalizam a experiência vivida Neomarxistas • A sociedade capitalista prescinde da dominação de classe • Relação natural entre economia e educação, economia e cultura • Hegemônia (convencimento ideológico) • Conhecimento legítimo X ilegítimo • Currículo oficial – conhecimento técnico Vídeo aula 3 – Nova sociologia da educação Nova sociologia da educação • Questionamento da sociologia aritmética • Crítica ao currículo baseado no desenvolvimento conceitual • Destaca o caráter social do conhecimento • O que conta como conhecimento? • Defende a inclusão dos saberes dos subordinados Texto base 1 – Onde a crítica começa: ideologia, reprodução e resistência / Tomaz Tadeu da Silva A renovação da teorização sobre currículo parece ter sido exclusividade do chamado “movimento de reconceptualização”. Os modelos tradicionais de currículo restringiam- se à atividade técnica de como fazer o currículo. As teorias críticas sobre o currículo, em contraste, começam por colocar em questão precisamente os pressupostos dos presentes arranjos sociais e educacionais. As teorias críticas são teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical. Para as teorias críticas o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo faz. Althusser argumenta que, a permanência da sociedade capitalista depende da reprodução de seus componentes propriamente econômicos (força de trabalho, meios de produção) e da reprodução de seus componentes ideológicos. Além da continuidade das condições de sua produção material, a sociedade capitalista não se sustentaria se não houvesse mecanismos e instituições encarregadas de garantir que o status quo não fosse contestado. A ideologia é constituída por aquelas crenças que nos levam a aceitar as estruturas sociais (capitalistas) existentes como boas e desejáveis. Como a escola transmite a ideologia? A escola atua ideologicamente através de seu currículo, seja de uma forma mais direta, através das matérias mais suscetíveis ao transporte de crenças explícitas sobre a desejabilidade das estruturas sociais existentes, como Estudos Sociais, História, Geografia, por exemplo; seja de uma forma mais indireta, através de disciplinas mais “técnicas”, como Ciências e Matemática. Além disso, a ideologia atua de forma discriminatória: ela inclina as pessoas das classes subordinadas à submissão e à obediência, enquanto as pessoas das classes dominantes aprendem a comandar e a controlar. Essa diferenciação é garantida pelos mecanismos seletivos que fazem com que as crianças das classes dominadas sejam expelidas da escola antes de chegarem àqueles níveis onde se aprendem os hábitos e habilidades próprios das classes dominantes. Num primeiro movimento, a escola é um reflexo da economia capitalista ou, mais especificamente, do local de trabalho capitalista. Esse reflexo, por sua vez, garante que, num segundo movimento, de retorno, o local de trabalho capitalista receba justamente aquele tipo de trabalhador de que necessita. Em Bourdieu e Passeron, a escola não atua pela inculcação da cultura dominante às crianças e jovens das classes dominadas, mas, ao contrário, por um mecanismo que acaba por funcionar como um mecanismo de exclusão. As crianças e jovens das classes dominadas têm sua cultura nativa desvalorizada, ao mesmo tempo que seu capital cultural, já inicialmente baixo ou nulo, não sofre qualquer aumento ou valorização. Completa-se o ciclo da reprodução cultural. É essencialmente através dessa reprodução cultural, por sua vez, que as classes sociais se mantêm tal como existem, garantindo o processo de reprodução social. Bourdieu e Passeron propõem, através do conceito de pedagogia racional, é que as crianças das classes dominadas tenham uma educação que lhes possibilite ter – na escola – a mesma imersão duradoura na cultura dominante que faz parte – na família – da experiência das crianças das classes dominantes. Texto base 2 – Contra a concepção técnica: os reconceptualistas Do ponto de vista da fenomenologia, as categorias de aprendizagem, objetivos, medição e avaliação nada tinham a ver com os significados do “mundo da vida” através dos quais as pessoas constroem e percebem sua experiência. De acordo com a perspectiva fenomenológica, essas categorias tinham que ser “postas entre parênteses”, questionadas, para se chegar à “essência” da educação e do currículo. Do ponto de vista marxista, para tomar um outro exemplo, a ênfase na eficiência e na racionalidade administrativa apenas refletia a dominação do capitalismo sobre a educação e o currículo, contribuindo para a reprodução das desigualdades de classe. De um lado, estavam aquelas pessoas que utilizavam os conceitos marxistas, filtradosatravés de análises marxistas contemporâneas, como as de Gramsci e da Escola de Frankfurt, para fazer a crítica da escola e do currículo existentes. De outro lado, colocavam-se as críticas da educação e do currículo tradicionais inspiradas em estratégias interpretativas de investigação, como a fenomenologia e a hermenêutica. Ao final, o rótulo da “reconceptualização” que caracterizou um movimento hoje dissolvido no pós-estruturalismo, no feminismo, nos estudos culturais, ficou limitado às concepções fenomenológicas, hermenêuticas e autobiográficas de crítica aos modelos tradicionais de currículo. Na perspectiva fenomenológica, o currículo não é, pois, constituído de fatos, nem mesmo de conceitos teóricos e abstratos: o currículo é um local no qual docentes e aprendizes têm a oportunidade de examinar, de forma renovada, aqueles significados da vida cotidiana que se acostumaram a ver como dados e naturais. O currículo é visto como experiência e como local de interrogação e questionamento da experiência. Na perspectiva fenomenológica, são, primeiramente, as próprias categorias das perspectivas tradicionais sobre currículo, sobre pedagogia e sobre ensino que são submetidas à suspensão e à redução fenomenológicas. Enquanto no currículo tradicional os estudantes eram encorajados a adotar a atitude supostamente científica que caracterizava as disciplinas acadêmicas, no currículo fenomenológico eles são encorajados a aplicar à sua própria experiência, ao seu próprio mundo vivido a atitude que caracteriza a investigação fenomenológica. Texto base 3 – A crítica neomarxista de Michael Apple Para ele, não é suficiente postular um vínculo entre, de um lado, as estruturas econômicas e sociais mais amplas e, de outro, a educação e o currículo. Esse vínculo é mediado por processos que ocorrem no campo da educação e do currículo e que são aí ativamente produzidos. Ele é mediado pela ação humana. Aquilo que ocorre na educação e no currículo não pode ser simplesmente deduzido do funcionamento da economia. É o conceito de hegemonia que permite ver o campo social como um campo contestado, como um campo onde os grupos dominantes se veem obrigados a recorrer a um esforço permanente de convencimento ideológico para manter sua dominação. É precisamente através desse esforço de convencimento que a dominação econômica se transforma em hegemonia cultural. Esse convencimento atinge sua máxima eficácia quando se transforma em senso comum, quando se naturaliza. Apple vê o currículo em termos estruturais e relacionais. O currículo está estreitamente relacionado às estruturas econômicas e sociais mais amplas. O currículo não é um corpo neutro, inocente e desinteressado de conhecimentos. Contrariamente ao que supõe o modelo de Tyler, por exemplo, o currículo não é organizado através de um processo de seleção que recorre às fontes imparciais da filosofia ou dos valores supostamente consensuais da sociedade. A seleção que constitui o currículo é o resultado de um processo que reflete os interesses particulares das classes e grupos dominantes. Apple procura realizar uma análise que dê igual importância aos dois aspectos do currículo, embora se possa notar uma ênfase ligeiramente maior no seu conteúdo explícito, naquilo que ele chama de “currículo oficial”. Ele considera necessário examinar tanto aquilo que ele chama de “regularidades do cotidiano escolar” quanto o currículo explícito; tanto o ensino implícito de normas, valores e disposições quanto os pressupostos ideológicos e epistemológicos das disciplinas que constituem o currículo oficial. Apple concede um papel igualmente importante à escola como produtora de conhecimento e chama de “conhecimento técnico”. O “conhecimento técnico” relaciona-se diretamente com a estrutura e o funcionamento da sociedade capitalista, uma vez que se trata de conhecimento relevante para a economia e a produção. Obviamente, essa produção se dá principalmente nos níveis superiores do sistema educacional, isto é, na universidade. O que torna sua análise “política” é precisamente essa centralidade atribuída às relações de poder. Currículo e poder – essa é a equação básica que estrutura a crítica do currículo desenvolvida por Apple. A questão básica é a da conexão entre, de um lado, a produção, distribuição e consumo dos recursos materiais, econômicos e, de outro, a produção, distribuição e consumo de recursos simbólicos como a cultura, o conhecimento, a educação e o currículo. Texto base 4 – O currículo como construção social: a “sociologia da educação” Se nos Estados Unidos a crítica tinha como referência as perspectivas tradicionais sobre currículo, na Inglaterra a referência era a “antiga” sociologia da educação. Essa sociologia seguia uma tradição de pesquisa empírica sobre os resultados desiguais produzidos pelo sistema educacional, preocupando-se, sobretudo, com o fracasso escolar das crianças e jovens da classe operária. A NSE busca investigar as conexões entre, de um lado, os princípios de seleção, organização e distribuição do conhecimento escolar e, de outro, os princípios de distribuição dos recursos econômicos e sociais mais amplos. Em suma, a questão básica da NSE era a das conexões entre currículo e poder, entre a organização do conhecimento e a distribuição de poder. Young concentra-se nas formas de organização do currículo. A questão, para Young, consiste em analisar quais os princípios de estratificação e de integração que governam a organização do currículo. Por que se atribui mais prestígio a certas disciplinas do que a outras? Por que alguns currículos são caracterizados por uma rígida separação entre as diversas disciplinas enquanto outros permitem uma maior integração? Quais são as relações entre esses princípios de organização e princípios de poder? Quais interesses de classe, profissionais e institucionais estão envolvidos nessas diferentes formas de estruturação e organização? Mexer nessa organização significa mexer com o poder. É essa estreita relação entre organização curricular e poder que faz com que qualquer mudança curricular implique uma mudança também nos princípios de poder. Dentre os estudos aqui mencionados, o de Nell Keddie é o único que tem uma base empírica. A partir de uma perspectiva fenomenológica, Keddie argumenta que o conhecimento prévio que os professores têm dos alunos determina a forma como eles irão tratá-los. A capacidade intelectual dos alunos tal como avaliada pelos professores acaba sendo determinada pela tipificação que os professores fazem deles. Essa tipificação é determinada, em grande parte, pela classe social dos alunos. Embora a NSE não estivesse preocupada em desenvolver as implicações pedagógicas de seu programa sociológico, essas implicações são, entretanto, evidentes. Em primeiro lugar, uma perspectiva curricular inspirada pelo programa da NSE buscaria construir um currículo que refletisse as tradições culturais e epistemológicas dos grupos subordinados e não apenas dos grupos dominantes. Da mesma forma, procuraria desafiar as formas de estratificação e atribuição de prestígio existentes, como, por exemplo, a que divide as ciências e as artes. Além disso, um currículo que se fundamentasse nos princípios da NSE deveria transferir esses princípios para o seu interior, isto é, a perspectiva epistemológica central do conhecimento envolvido no currículo deveria ser, ela própria, baseada na ideia de “construção social”. O prestígio e a influência da NSE, que tinham sido excepcionalmente grandes até o início da década de oitenta, diminuíram bastante a partir daí. Por um lado, o programa mais “forte” de uma “pura” sociologia do currículo cedeu lugar a perspectivas mais ecléticas que misturavam análises sociológicas com teorizações mais propriamente pedagógicas. Por outro, a teorização crítica da educação que nesse momento se concentravaem torno da NSE iria se dissolver numa variedade de perspectivas analíticas e teóricas: feminismo; estudos sobre gênero, raça e etnia; estudos culturais; pós-modernismo; pós-estruturalismo. Além disso, o contexto social de reforma educacional e de democratização da educação que tinha constituído a inspiração da NSE transformava-se radicalmente, com o triunfo das políticas neoliberais de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margareth Thatcher, na Inglaterra. Na verdade, até mesmo o principal teórico da NSE, Michael Young, abandonava gradualmente suas pretensões sociológicas anteriores para adotar uma posição cada vez mais técnica e burocrática. A ideia inicial da NSE, representada na noção de “construção social”, continua, entretanto, atual e importante.
Compartilhar