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O-CONTEXTO-ESCOLAR-E-A-ACESSIBILIDADE-DIAGRAMADA

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O Contexto Escolar 
e a Acessibilidade 
 
 02 
 
 
1. O Contexto Escolar: A Acessibilidade 4 
 
2. As Deficiências Múltiplas 11 
 
3. As Altas Habilidades 17 
 
4. Avaliação das Aptidões Cognitivas 24 
Avaliação Psicológica de Crianças com Necessidades 
Educativas Especiais 26 
Avaliação Assistida 31 
 
5. Referências Bibliográficas 40 
 
 
 03 
 
 
 
 
 
 4 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 
1. O Contexto Escolar: A Acessibilidade 
 
 
Fonte: Nova Escola1 
 
ara Jesus (2006, s/p) o tema 
inclusão social vem sendo sen-
sivelmente discutido entre todos os 
segmentos sociais, uma vez que este 
tema tem sido proposto com maior 
ênfase desde os anos de 1990 até 
hoje. A grande meta a ser atingida é: 
sensibilizar a sociedade para o di-
reito de ir e vir das pessoas portado-
ras de necessidades especiais. No 
processo de inclusão, há quatro fato-
res de suma importância para essas 
pessoas: a garantia da educação, a 
garantia do trabalho, a garantia do 
 
1 Retirado em https://novaescola.org.br/ 
convívio social e de uma vida afetiva 
também satisfatória. 
A sociedade inclusiva é um 
projeto que a Organização das Na-
ções Unidas aprovou pela Resolução 
45/91, de 90, definindo que de 91 até 
2010 o conceito de inclusão seria im-
plementado em toda a sociedade no 
mundo inteiro. A Resolução 45/91 
diz o seguinte: “a Assembleia geral 
solicita ao secretário geral da ONU 
uma mudança no foco do programa 
das Nações Unidas sobre deficiên-
cia, passando da conscientização pa-
P 
 
 
5 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 
ra a ação, com o propósito de se con-
cluir com êxito uma sociedade para 
todos por volta do ano 2010”. 
Como foi dito acima existem 
quatro fatores para que o processo 
de inclusão se estabeleça e um deles 
é o direito à educação. As diretrizes 
nacionais para a educação especial 
nos dizem: “a educação é o principal 
alicerce da vida social. Ela transmite 
e amplia a cultura, estende a cidada-
nia, constrói saberes para o traba-
lho. 
Mais do que isso, ela é capaz de 
ampliar as margens da liberdade hu-
mana, à medida que a relação peda-
gógica adote, como compromisso e 
horizonte ético-políticos, a solidari-
edade e a emancipação”. Nesta con-
cepção de educação inclusiva, abre-
se aqui, uma discussão sobre o pro-
cesso de inclusão escolar, voltando o 
olhar para a perspectiva da acessibi-
lidade, será que ela existe? (JESUS, 
2006, s/p) 
Acessibilidade como fator para 
educação inclusiva: conforme Je-
sus (2006, s/p) no ambiente escolar 
em especial, um meio físico acessível 
pode ser extremamente libertador e 
pode transformar a possibilidade de 
integração entre as crianças e o seu 
desempenho. Os ambientes inaces-
síveis são fatores preponderantes na 
dificuldade de inclusão na escola pa-
ra as pessoas com deficiência e po-
dem determinar que alguns sejam 
excluídos também do mercado de 
trabalho. O meio pode reforçar uma 
deficiência valorizando um impedi-
mento ou torná-la sem importância 
naquele contexto. Na última década, 
com a reformulação de condutas nos 
meios de educação modernos, incor-
porou-se o conceito de Educação In-
clusiva, que trouxe para as salas de 
aula do ensino regular, muitas das 
crianças anteriormente educadas 
em escolas especiais, devido a defici-
ências físicas e sensoriais as mais di-
versas. A conjunção dos conceitos 
atuais de Educação Inclusiva e Dese-
nho Universal, nos leva a rever com 
premência a escola de hoje, não ape-
nas como instituição de ensino, mas 
como espaço arquitetônico que a 
contém. 
O processo de inclusão: pressu-
põe uma reestruturação do sistema 
de ensino, que deverá adequar-se às 
diferentes necessidades dos alunos. 
As diretrizes nacionais para a educa-
ção especial definem claramente que 
a Educação Especial é uma modali-
dade da educação e como qualquer 
outra modalidade, organiza-se de 
modo a considerar uma aproxima-
ção sucessiva dos pressupostos e da 
prática pedagógica social da educa-
ção inclusiva. Cabe aqui enfatizar 
que para tratar da inclusão escolar, é 
preciso primeiramente vencer uma 
batalha que é: a acessibilidade dos 
alunos com necessidades especiais 
 
 
6 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 
nas escolas regulares. Vive-se em 
uma sociedade onde quase nada está 
acessível às pessoas com deficiên-
cias, a começar pela arquitetura ur-
bana e, principalmente, a arquite-
tura das escolas. Mas a acessibili-
dade não se resume somente na 
questão arquitetônica, ela passa pe-
las adaptações curriculares e atitudi-
nais. Sem muito êxito, a política 
educacional brasileira procura avan-
çar no que diz respeito à reestrutu-
ração do currículo para atender os 
alunos com necessidades especiais. 
(JESUS, 2006, s/p) 
Conforme Jesus (2006, s/p) o MEC 
tem elaborado documentos que ex-
plicitam essa política de inclusão es-
colar, como os Parâmetros Curricu-
lares Nacionais, os Referenciais para 
a Educação Infantil, os Referenciais 
para a Formação de Professores e as 
Adaptações Curriculares: estraté-
gias para a educação de alunos com 
necessidades especiais. 
Construindo um currículo: 
após a constatação dos diferentes ti-
pos de necessidades de seu alunado, 
cada escola através do Projeto Polí-
tico Pedagógico, construirá seu cur-
rículo, criando espaços para que 
atenda a todos os educandos, cola-
borando para o desenvolvimento de 
suas potencialidades. 
A dinamicidade e a flexibili-
dade que o currículo deve ter preci-
sam estar voltadas para a diversida-
de escolar, atendendo as necessida-
des especiais daqueles que entram 
nesta grande teia de relações que é 
a escola. O termo necessidades es-
peciais nos diz os parâmetros curri-
culares: “surgiu para evitar os efei-
tos negativos de expressões utiliza-
das no contexto educacional - defici-
entes, excepcionais, subnormais, su-
perdotados, infradotados, incapaci-
tados, etc. É uma forma de reconhe-
cer que muitos alunos sejam ou não 
portadores de deficiência ou de su-
perdotação, apresentam necessida-
des educacionais que passam a ser 
especiais quando exigem respostas 
específicas adequadas.” 
Construir um currículo que 
atenda às necessidades de cada edu-
cando não é uma tarefa fácil, os pa-
râmetros curriculares trazem várias 
estratégias para que a, escola cons-
trua um currículo passo a passo, isto 
é, na medida do processo ensino- 
aprendizagem do educando. A ten-
tativa do governo de ampliar o aces-
so aos alunos portadores de necessi-
dades especiais vem acontecendo, 
embora não forneça recursos finan-
ceiros para a efetiva inclusão do por-
tador de necessidades especiais na 
escola regular. Todo processo de in-
clusão escolar esbarra nas dificulda-
des de acesso, sejam elas: financei-
ras, arquitetônicas, curriculares, ati-
tudinais. 
 
 
7 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 
Na verdade, o processo de in-
clusão escolar fica restrito àqueles 
que têm uma condição financeira 
melhor, ou seja, dentro do processo 
de inclusão há também exclusão. 
Pesquisas apontam a baixa escolari-
dade dos portadores de deficiência, 
poucos são os que chegam a um 
curso superior ou mesmo à conclu-
são do Ensino Médio. Onde estaria a 
verdadeira inclusão? (JESUS, 2006, 
s/p) 
Existe a tentação de pensar, de 
acordo com Jesus (2006, s/p) que 
somente a adequação de ambientes, 
currículos, propostas atitudinais 
atendam a grande população de por-
tadores de necessidades especiais, 
um equívoco, pois estas medidas só 
darão resultados quando a principal 
vilã for vencida: a desigualdade so-
cial gritante em nosso país. 
Quantas crianças não vão à es-
cola por falta de caderno, um par de 
chinelos, não têm forças físicas para 
enfrentar uma jornada escolar, e 
mais, não podem ir porque precisam 
trabalhar para sustentar a família. 
Por isso não bastamadaptações é 
necessário primeiramente garantir 
que este acesso aconteça em todos os 
níveis do social. 
Acessibilidade em todos os ní-
veis: a acessibilidade em todos os 
níveis é indispensável à inclusão de 
todas as pessoas na sociedade da in-
formação e do conhecimento. Deve-
se contar com as formas adequadas 
de divulgação sobre os conceitos de 
inclusão, acessibilidade e deficiência 
como importantes aliadas neste pro-
cesso. 
Observa-se que constante-
mente, a falta de comunicação entre 
as Secretarias de governo e conse-
quentes iniciativas desarticuladas, 
ocasiona perda de tempo, de verba e 
de qualidade referentes à implanta-
ção da acessibilidade. Considera-se 
que essa é uma questão recorrente, 
de difícil solução no panorama bra-
sileiro. Há que se estruturar uma po-
lítica integrada de acessibilidade en-
tre os diversos setores governamen-
tais, uma vez que, para considerar 
determinada escola como inclusiva, 
precisa-se que não somente sua edi-
ficação, mas também seu entorno, o 
transporte e a forma de se chegar a 
ela, sejam adequados. Assim como 
sua proposta pedagógica. 
Uma das ações que se avaliam 
como prioritárias, é conscientizar os 
professores - mesmo aqueles que 
ainda não tem alunos com necessi-
dades especiais em suas salas de 
aula - sobre as necessárias adapta-
ções e os recursos físicos, arquitetô-
nicos e pedagógicos necessários, pa-
ra que estejam adequadamente 
equipados, quando surgirem esses 
alunos diferentes. (JESUS, 2006, 
s/p) 
 
 
8 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 
Sucede que, para Jesus (2006, 
s/p) em diversos casos, são destina-
dos os recursos necessários e reali-
zadas as obras de adaptação, mas es-
tas não atendem às normas técnicas 
ou padrões mínimos necessários pa-
ra que sejam eficientes, tornando-se 
por vezes inadequadas ou ociosas. É 
preciso, portanto investir na forma-
ção técnica dos profissionais de edu-
cação, arquitetura, engenharia, 
transportes e outras áreas, que se-
jam responsáveis pela infraestrutura 
das escolas. Podem ser elaborados 
instrumentos que facilitem às esco-
las, perceberem e avaliarem seu 
grau de acessibilidade para pessoas 
com deficiências físicas, visuais, au-
ditivas, etc. 
Uma das causas do desconhe-
cimento por parte dos profissionais 
do ensino regular e gestores, quanto 
aos equipamentos e tecnologias ne-
cessárias para facilitar a inclusão de 
alunos com deficiência, se dá por 
conta destes alunos virem sendo, até 
a pouco tratados à parte, em institui-
ções especiais de ensino. À medida 
que estes usuários estejam por toda 
parte, suas necessidades serão reco-
nhecidas e incorporadas às demais 
questões nas escolas e em outros 
ambientes. Com a prática da educa-
ção inclusiva, a demanda por acessi-
bilidade será deflagrada até se tor-
nar inquestionável. 
A acessibilidade: como acontece-
ria? “a tendência em política social 
durante as duas últimas décadas 
tem sido a de promover integração e 
participação e de combater a exclu-
são”. Inclusão e participação são es-
senciais à dignidade humana e ao 
desfrutamento e exercício dos direi-
tos humanos. Dentro do campo da 
educação, isto se reflete no desen-
volvimento de estratégias que pro-
curam promover a genuína equali-
zação de oportunidades. Experiên-
cias em vários países demonstram 
que a integração de crianças e jovens 
com necessidades educacionais es-
peciais é mais bem alcançada dentro 
de escolas inclusivas, que servem a 
todas as crianças dentro da comuni-
dade. 
É dentro deste contexto que 
aqueles com necessidades educacio-
nais especiais podem atingir o má-
ximo progresso educacional e inte-
gração social. Ao mesmo tempo em 
que escolas inclusivas proveem um 
ambiente favorável à aquisição de 
igualdade de oportunidades e par-
ticipação total, o sucesso delas re-
quer um esforço claro, não somente 
por parte dos professores e dos pro-
fissionais na escola, mas também 
por parte dos colegas, pais, famílias 
e voluntários. A reforma das institui-
ções sociais não constitui somente 
uma tarefa técnica, ela depende, 
 
 
9 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 
acima de tudo, de convicções, com-
promisso e disposição dos indiví-
duos que compõe a sociedade. (JE-
SUS, 2006, s/p) 
Diante do exposto acima, Je-
sus (2006, s/p) afirma que se per-
cebe com clareza a necessidade de 
uma reformulação no conceito de 
acessibilidade, pois esta não de-
pende somente de leis que incenti-
vem o ingresso de crianças portado-
ras de necessidades especiais nas es-
colas regulares, é necessária, princi-
palmente em nosso país, a criação de 
órgãos reguladores que definam 
mais ativamente as metas a serem 
alcançadas com o processo de inclu-
são escolar. 
As propostas de combate à ex-
clusão escolar são muitas boas, mas 
não são efetivadas devido à falta de 
recursos financeiros que as famílias 
enfrentam. Dados da UNESCO, 
ONU, revelam que menos de 1% da 
população de pessoas portadoras de 
necessidades especiais frequentam a 
escola. Onde estão elas? Ainda con-
tinuam isoladas e discriminadas 
sem poder participar da gama de ati-
vidades sociais que lhe são ofereci-
das. É preciso encarar o desafio do 
acesso à educação das crianças com 
necessidades especiais nesse con-
texto mais amplo. A iniciativa “Edu-
cação para Todos”, estimula a imple-
mentação de outros mecanismos so-
ciais que atendam não somente a re-
formulação de currículos, de atitu-
des, mas principalmente atenda ou-
tras demandas desta população du-
plamente excluída: pela miséria e 
pela deficiência. 
Quando se fala em inclusão, 
percebem-se inúmeros desafios, às 
vezes quase insuperáveis, pelo mo-
tivo da falta de informação, de uma 
sensível desconsideração em relação 
ao assunto e até mesmo a não acei-
tação do diferente no convívio so-
cial. 
Mas quem é este diferente? 
Onde está? O movimento da Socie-
dade Inclusiva vem despertando na 
sociedade um sentimento cada vez 
maior de solidariedade, de ações 
mais significativas em setores como: 
a educação, o mercado de trabalho, 
saúde. A sociedade precisa estar 
atenta a este momento da história, 
onde a capacidade relacional dos ho-
mens é colocada em questão. Será 
que realmente se aceita conviver 
com o diferente, com o novo, com a 
mudança? É necessário preparar-se 
para o advento de uma sociedade 
onde a diversidade se estabeleça e 
que a inclusão social realmente se 
instaure. (JESUS, 2006, s/p) 
 
 
 
 
 
 
 
 11 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
2. As Deficiências Múltiplas 
 
 
Fonte: Medium2 
 
eficiência múltipla - Defi-
nições: de acordo com Jesus 
(s/d, s/p) “todos os indivíduos com 
deficiência mental moderada ou 
profunda que têm pelo menos mais 
uma deficiência (auditiva, visual, 
paralisia, etc.).” (SENEEL, 1978) 
“(...) as crianças com deficiência 
múltipla e graves são aquelas cujas 
principais necessidades educacio-
nais são o estabelecimento e o de-
senvolvimento de habilidades bási-
cas nas áreas social, de autoajuda e 
 
2 Retirado em https://medium.com/ 
comunicação, (...)” (LONTAG, SMI-
TH, SAILOR, 1977) 
Os programas educacionais 
para crianças com deficiências múl-
tiplas ou deficiência mental grave 
são relativamente novos. Segundo 
Sontag, Smith, Sailor (1977), a ên-
fase educacional para esses grupos 
de crianças começou seriamente por 
volta de 1970. Hoje, cada tipo de de-
ficiência é definido por condições es-
peciais inerentes a cada indivíduo 
que interagem com as exigências es- 
D 
 
 12 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
pecíficas do ambiente. Surge daí, na 
educação de crianças portadoras de 
deficiência, o modelo ecológico fun-
cional, que percebe a criança em in-
terações complexas com as forças 
ambientais. (JESUS, s/d, s/p) 
Modelo ecológico funcional: até 
a alguns anos,de acordo com Jesus 
(s/d, s/p) a criança com limitação 
intelectual, moderada ou severa era 
considerada incapaz de aprender, 
necessitando apenas de cuidado e 
proteção. A partir do momento em 
que o sistema educacional proporci-
ona a oportunidade de crianças e 
adolescentes em idade escolar fre-
quentarem a escola pública, esta se 
defronta com a questão do currículo 
a ser proposto, sem dúvida um desa-
fio aos educadores que atuam junto 
a esta população. 
Ao delinearmos um currículo 
para esta clientela, em que o foco é o 
desenvolvimento das habilidades 
mais relevantes da vida diária do 
aluno, de forma a possibilitar que ele 
participe tão independentemente 
quanto possível na sua comunidade, 
devemos levar em conta alguns as-
pectos como: 
Funcionalidade: currículo funcio-
nal é aquele que facilita o desenvol-
vimento de habilidades essenciais, a 
participação em uma grande varie-
dade de ambientes integrados. 
(FALVEY, 1989) As habilidades fun-
cionais serão aquelas frequentemen-
te exigidas nos ambientes domésti-
cos e na comunidade. Para determi-
nar se uma atividade curricular é 
funcional ou não, o professor deve se 
perguntar: caso o aluno não aprenda 
a desempenhar esta atividade, al-
guém terá que fazer isto para ele? Se 
a resposta for sim, a atividade muito 
provavelmente será funcional. 
(FALVEY, 1989) É importante que 
estes alunos adquiram e desempe-
nhem outras atividades que não se-
jam funcionais, uma vez que elas 
irão melhorar a sua qualidade de vi-
da. Habilidades de recreação e lazer 
são um bom exemplo. (BROWN, ET 
AL, 1986, apud JESUS, s/d, s/p) 
Adequação à idade cronológi-
ca: os educadores terão a responsa-
bilidade de selecionar e proporcio-
nar atividades que permitam ao alu-
no apreciar eventos adequados a sua 
idade. (ALBRIGHT, ET AL, 1978) 
Ambientes naturais: a importân-
cia da utilização destes espaços para 
a situação de ensino é que: 
 Eles facilitam a generalização 
das habilidades adquiridas; 
 É neles que o professor irá 
buscar o seu conteúdo curricu-
lar; 
 Neles, o aluno é submetido às 
demandas naturais do ambi-
ente. 
 
O ensino de habilidades funci-
onais requer ambiente natural ou a 
 
 13 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
verificação de se as habilidades de-
senvolvidas na escola serão, de fato, 
desempenhadas nestes ambientes. 
(BROWN, ET AL, 1978) O ensino em 
ambientes naturais torna-se mais 
crítico à medida que o aluno chega à 
adolescência e à idade adulta, já que 
a escola não é o ambiente para o qual 
ele está sendo preparado. Neste ca-
so, a tarefa da escola será identificar 
os ambientes nos quais o aluno irá 
atuar e assegurar que o tempo edu-
cacional e os recursos sejam nele in-
vestidos. A importância dos ambien-
tes naturais é que os educadores ne-
cessitam utilizar o “princípio da par-
ticipa ão parcial”. Este princípio é 
uma afirmação de que todos os alu-
nos com limitação intelectual po-
dem desenvolver habilidades que os 
permitam atuar pelo menos em par-
te, em uma grande variedade de am-
bientes e atividades menos restritas. 
(FALVEY, 1986, apud JESUS, ET 
AL, s/d, s/p) 
Participação dos pais no pro-
cesso educacional: no planeja-
mento do programa educacional os 
pais são necessários para o estabele-
cimento das habilidades a serem de-
senvolvidas. (FALVEY, 1989) Bene-
fícios deste envolvimento para o 
professor: 
 Maior compreensão das ne-
cessidades da criança e dos de-
sejos dos pais; 
 
 Obtenção de dados para a sele-
ção de situações educacionais 
para o aluno fora da escola; 
 Probabilidade de o trabalho 
ser desenvolvido na escola e 
ter continuidade fora dela; 
 Retorno das informações dos 
pais quanto aos avanços perce-
bidos na criança. 
 
Interações com pares não defi-
cientes: um aspecto importante 
dos currículos voltados para integra-
ção é o de proporcionar situações de 
ensino que permitam a interação de 
deficientes e não deficientes, uma 
vez que são os colegas que proporci-
onam a entrada do jovem nas expe-
riências normais de vida em seu 
grupo de idade. (JOHNSON, JOHN-
SON, 1981) 
Oportunidade de escolha: de 
acordo a literatura, oportunidades 
de fazer escolhas, tomar decisões e 
expressar preferências são aspectos 
bastante negligenciados em progra-
mas educacionais para as pessoas 
com limitações intelectuais. (SHE-
VIN, KLEIN, 1984, GUES, ET AL, 
1985, FALVEY, 1989) 
Desta forma, três contextos de 
oportunidades de escolha devem ser 
considerados: 
 Atividades de classe planeja-
das para o desenvolvimento de 
habilidades específicas de es-
colha; 
 
 
 
 14 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 Integração das oportunidades 
de fazer escolhas durante o pe-
ríodo escolar através das dife-
rentes áreas curriculares; 
 Provisão de oportunidades 
dentro e fora da escola para o 
aluno vivenciar os benefícios e 
consequências das escolhas 
feitas. (SHEVIN, KLEIN, 
1984) 
 
Cooperação entre educandos - 
a maneira como o professor dinami-
za a relação entre alunos na sala de 
aula é de grande importância. 
(JOHNSON, JOHNSON, 1981) defi-
niram a situação de ensino coopera-
tiva como aquela em que o professor 
estabelece um objetivo para o grupo 
e um sistema de avaliação que tem 
como referência o desempenho do 
mesmo. 
Segundo os mesmos autores, 
para o ensino cooperativo propiciar 
uma interação construtiva, os gru-
pos devem ser heterogêneos, os alu-
nos devem perceber que dependem 
uns dos outros e que ao mesmo tem-
po são individualmente responsá-
veis. (JESUS, s/d, s/p) 
 
Exemplos de condições que levam às deficiências múltiplas 
 
Época de ocorrência 
do problema 
Agentes que afetam Atividade do agente Resultado típico 
Concepção Translocação de Mu-
danças sérias no Cer-
tos pares de cromos-
somos no nasci-
mento. 
 
Erros congênitos do 
metabolismo, como a 
fenilcetonúria. 
Mudanças sérias no 
embrião e no feto, 
muitas vezes fatais. 
 
Incapacidade de efe-
tuar processos quími-
cos e metabólicos; 
danos ao desenvolvi-
mento fetal. 
Certos reagrupamen-
tos dos cromossomos 
podem levar à sín-
drome de Down e à 
deficiência mental 
Resulta em deficiên-
cia grave em outras 
complicações; pode 
ser revertido parcial-
mente quando diag-
nosticado cedo e ad-
ministrando-se uma 
dieta especial. 
Pré-natal Medicamentos como 
a talidomida. 
Medicamento usado 
como sedativo para a 
mãe; pode prejudicar 
o desenvolvimento 
normal do embrião. 
Uma criança acentu-
adamente defor-
mada com anomalias 
sérias n coração, 
olhos, ouvido, mem-
bros superiores e in-
feriores e outros. 
 
 15 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
Natal Anoxia (falta prolon-
gada de oxigênio ao 
feto durante o pro-
cesso de nasci-
mento). 
A falta prolongada de 
oxigênio pode causar 
destruição irreversí-
vel de células cere-
brais. 
Criança com paralisia 
cerebral que pode ou 
não ter deficiência 
mental e outros de-
feitos que afetam a 
visão e a audição. 
Pós-natal Encefalite e menin-
gite. 
Doenças infecciosas 
(sarampo, coquelu-
che e outras) podem 
leva à inflamação das 
células do cérebro e a 
sua destruição. 
Pode levar a uma va-
riedade de proble-
mas, como a falta de 
atenção e a hiperati-
vidade; causa epilep-
sia, deficiência men-
tal e problemas de 
comportamento. 
Fonte: (Kirk, Gal agher. Educação da Criança Excepcional, 1991, p. 416, apud Je-
sus, s/d, s/p) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
3. As Altas Habilidades 
 
 
Fonte: Fortissima3 
 
onforme Rodrigues (2009, 
s/p) trabalhar com alunos com 
altas habilidades requer, antes de 
tudo, derrubar dois mitos. Primeiro: 
esses estudantes, também chama-
dos de superdotados, não são gênios 
com capacidades raras em tudo, só 
apresentam mais facilidade do que a 
maioria em determinadas áreas. Se-
gundo: o fato de eles terem raciocí-
nio rápido não diminui o trabalho do 
professor.Ao contrário, eles preci-
sam de mais estímulo para manter o 
 
3 Retirado em https://fortissima.com.br/2015/02/28/criancas-superdotadas-entenda-o-conceito-e-
saiba-como-lidar-14692386/ 
interesse pela escola e desenvolver 
seu talento, se não, podem até se 
evadir. 
A Organização Mundial de Sa-
úde (OMS) calcula que pelo menos 
5% da população tem algum tipo de 
alta habilidade. No Brasil, até o ano 
passado, haviam sido identificados 
2,5 mil jovens e crianças assim. Para 
dar um atendimento mais qualifi-
cado a esse público, o Ministério da 
Educação (MEC) criou em 2005 Nú-
C 
 
 18 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
cleos de Atividades de Altas Habili-
dades/Superdotação em todos os es-
tados. Apesar de ainda pouco estru-
turados, esses órgãos que têm o pa-
pel de auxiliar as escolas quando 
elas reconhecem alunos com esse 
perfil em suas salas de aula. No Dis-
trito Federal, tal serviço existe desde 
1976, razão pela qual a identificação 
de jovens com altas habilidades, em-
bora ainda pequena, seja a maior do 
país. “Aprendi na prática que a su-
perdotação é democrática e pode 
ocorrer em qualquer aluno, em qual-
quer local ou classe social e até na-
quele com alguma limitação física ou 
psíquica”, afirma a atual coordena-
dora do projeto no Distrito Federal, 
Olzeni Leite Costa Ribeiro. 
Assim como os estudantes di-
agnosticados com algum tipo de de-
ficiência, os que têm altas habilida-
des precisam de uma flexibilização 
da aula para que suas necessidades 
particulares sejam atendidas, o que 
os coloca como parte do grupo que 
tem de ser incluído na rede regular 
de ensino. “O que devemos oferecer 
a eles são desafios”, resume a presi-
dente do Conselho Brasileiro de Su-
perdotação, Susana Graciela Pérez 
Barrera Pérez. (RODRIGUES, 2009, 
s/p) 
Onde buscar ajuda: de acordo 
com Rodrigues (2009, s/p) o super-
dotado pode ter qualquer perfil, do 
mais bagunceiro ao braço direito da 
professora, passando pelo tímido. O 
que o torna diferente é a habilidade 
acima da média em uma área espe-
cífica do conhecimento. Isso pode 
ter razões genéticas ou ter sido mol-
dado pelo ambiente em que o aluno 
vive. Raramente, os superdotados 
têm múltiplas habilidades. Portanto, 
uma boa pista para encontrá-los é 
reparar no desempenho e no inte-
resse muito maior por um determi-
nado assunto. 
O professor deve desconfiar de 
estudantes com vocabulário avança-
do, perfeccionistas, contestadores, 
sensíveis a temas mais abordados 
por adultos e que não gostem de ro-
tina. O Ministério da Educação 
montou um formulário com 24 fra-
ses que ajudam a identificar estu-
dantes assim, veja abaixo “Como 
identificar a superdotação”. Se você 
reconhece um de seus alunos como 
possível superdotado, procure o Nú-
cleo de Atividades de Altas Habilida-
des/Superdotação na Secretaria de 
Educação de seu estado. 
Os núcleos têm a obrigação de 
indicar uma psicopedagoga para 
avaliar se a criança ou o jovem tem 
mesmo uma alta habilidade, e enca-
minhá-lo ao programa oficial de es-
tímulo, com atividade extraclasse e 
orientações para o professor e a fa-
mília. Instituições não governamen-
tais também apoiam professores e 
familiares que procuram ajuda para 
 
 19 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
desenvolver talentos. Alguns exem-
plos são o Instituto Rogério Stern-
berg, no Rio de Janeiro, e o Núcleo 
de Apoio às Pessoas com Necessida-
des Especiais da Universidade Fede-
ral do Paraná. (RODRIGUES, 2009, 
s/p) 
Trabalho requer estratégias di-
versificadas e apoio externo: 
Rodrigues (2009, s/p) aponta que a 
professora Lucyana de Araújo Do-
mingues de Andrade tem três super-
dotadas entre seus 35 alunos da Es-
cola Classe 106 Norte, em Brasília. 
Beatriz foi identificada com altas ha-
bilidades em artes na 1ª série. Laura 
Helena teve a superdotação em co-
nhecimentos gerais, reconhecida 
quando estava na 2ª. E, este ano, 
Lucyana percebeu que Daniele tem 
interesse e capacidade acima da mé-
dia em todas as disciplinas. Como o 
Distrito Federal conta com salas de 
recursos disponíveis na rede públi-
ca, as meninas tem acesso duas ve-
zes por semana a atividades de estí-
mulo no contraturno, o que não sig-
nifica que deem mais sossego à pro-
fessora. “São ótimas alunas e, por 
isso mesmo, me dão mais trabalho 
do que os colegas”, diz. Segundo ela, 
Beatriz chama a atenção quando faz 
atividades artísticas e as outras duas 
perguntam o tempo todo, lembram-
se de detalhes de conteúdo antigo e 
são muito rápidas na execução de 
trabalhos. “Terminam em poucos 
minutos exercícios que entretêm a 
turma por duas horas”, diz. Para 
mantê-las instigadas, Lucyana che-
ga a dar quatro atividades a mais. 
Em Matemática, por exemplo, 
ela usa folhetos de supermercado 
para trabalhar as quatro operações. 
Quando as meninas terminam, pede 
que aprofundem as questões, pen-
sem como ficaria a conta se houves-
se uma promoção ou quais produtos 
um cliente teria de deixar de com-
prar se tivesse menos dinheiro do 
que o valor final. Em Português, to-
dos leram a fábula A Cigarra e a For-
miga, de La Fontaine. Em seguida, 
escreveram os possíveis diálogos dos 
personagens, e as meninas com altas 
habilidades foram al m. “Perguntei 
se hoje a cigarra poderia ganhar di-
nheiro cantando. E elas fizeram uma 
história a mais.” Lucyana também 
promove a integração ao pedir que 
as alunas auxiliem os que têm menor 
nível de conhecimento. “Às vezes, 
por explicar com a mesma lingua-
gem infantil, elas conseguem bons 
resultados ou, pelo menos, perce-
bem que cada um tem uma maneira 
de aprender”, diz. Fora tudo isso, a 
sala dispõe de um varal de livros, 
para serem lidos nos intervalos ou 
quando alguém acaba a atividade 
antes que os outros. “A maioria pega 
os exemplares mais ilustrados para 
 
 20 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
folhear. Elas não: leem livros que se-
riam para crianças mais velhas”, 
conta. (RODRIGUES, 2009, s/p) 
Os superdotados não são iguais 
e se dividem em vários perfis: 
para Rodrigues, (2009, s/p) especi-
alistas ressaltam que nem sempre 
esses alunos são os mais comporta-
dos e explicam que as altas habilida-
des são divididas em seis grandes 
blocos: 
 Capacidade Intelectual Geral. 
Crianças e jovens assim têm 
grande rapidez no pensamen-
to, compreensão e memória 
elevada, alta capacidade de de-
senvolver o pensamento abs-
trato, muita curiosidade inte-
lectual e um excepcional poder 
de observação; 
 Aptidão Acadêmica Específica. 
Nesse caso, a diferença está 
em: concentração e motivação 
por uma ou mais disciplinas, 
capacidade de produção aca-
dêmica, alta pontuação em 
testes e desempenho excepcio-
nal na escola; 
 Pensamento Criativo. Aqui se 
destacam originalidade de 
pensamento, imaginação, ca-
pacidade de resolver proble-
mas ou perceber tópicos de 
forma diferente e inovadora; 
 Capacidade de Liderança. Alu-
nos com sensibilidade inter-
pessoal, atitude cooperativa, 
capacidade de resolver situa-
ções sociais complexas, poder 
de persuasão e de influência 
no grupo; 
 Talento Especial para Artes. 
Alto desempenho em artes 
plásticas, musicais, dramáti-
cas, literárias ou cênicas, faci-
lidade para expressar ideias vi-
sualmente, sensibilidade ao 
ritmo musical; 
 Capacidade Psicomotora. A 
marca desses estudantes é o 
desempenho superior em es-
portes e atividades físicas, ve-
locidade, agilidade de movi-
mentos, força, resistência, 
controle e coordenação mo-
tora fina e grossa. (RODRI-
GUES, 2009, s/p) 
 
Mau comportamento pode ser 
sinal: para Rodrigues (2009, s/p) o 
histórico escolar de Louis Pasteur, 
Albert Einstein, Walt Disney e Isaac 
Newton costuma chocar quem espe-
ra um comportamento “exemplar”. 
O francês responsável pelas primei-
ras vacinas era mau aluno, especial-
mente em Química. O alemão que 
elaboroua Teoria da Relatividade 
fugia das aulas de Matemática. O 
americano que criou um império do 
entretenimento foi reprovado em 
Arte. E, durante a infância, o cien-
tista inglês que primeiro percebeu a 
gravidade teve de ser educado pela 
mãe porque foi expulso da escola. 
Hoje, ninguém duvida de que os 
quatro eram superdotados, o que 
ajuda a entender que nem sempre 
 
 21 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
alunos assim são os mais interessa-
dos e bem comportados em sala de 
aula. 
O estudante com altas habili-
dades costuma ter um interesse tão 
grande por uma das disciplinas que 
acaba negligenciando as demais. A 
facilidade de expressar- se, por 
exemplo, pode ser usada para desa-
fiar o professor e os colegas. Mesmo 
os mais aplicados dificultam a aula 
ao monopolizar a atenção. Muitos 
não querem trabalhar em grupo por 
não entender o ritmo “mais lento” 
dos colegas. A descoberta das altas 
habilidades é o primeiro passo para 
melhorar esses comportamentos. 
Primeiro, porque muda o olhar do 
professor. E também porque o pró-
prio jovem passa a aceitar melhor as 
diferenças. 
Mesmo nos casos em que não 
há a certeza de que o estudante tem 
altas habilidades, o estímulo do pro-
fessor é bem-vindo. Foi o que pen-
sou Sandra Nogueira quando perce-
beu o talento de Guilherme Oliveira 
de Souza, seu aluno da 7ª série da E. 
E. Odylo de Brito Ramos, em Tere-
sina. Ela passava pelas fileiras quan-
do notou um desenho muito bom no 
caderno. “Vi que ele tinha feito um 
em cada página. Era o conteúdo das 
aulas na frente e um desenho no 
verso.” Ela conversou com o garoto, 
tido como desinteressado pela mai-
oria dos professores, e percebeu sua 
paixão por imagens. Nas semanas 
seguintes, apresentou materiais es-
peciais, como pastel a óleo, bico de 
pena, nanquim e papel apropriado 
para desenho. “Ele aprendeu vários 
estilos”, conta. Em História da Arte, 
Guilherme também se destaca. 
Quando Sandra pede um exemplo 
de pintura da fase que está sendo es-
tudada, todos colam figuras recorta-
das - Guilherme reproduz. Em Ciên-
cias, ele ajudou a todos ao desenhar 
em uma parede uma grande flor de-
composta, com todas as suas partes. 
(RODRIGUES, 2009, s/p) Recente-
mente, conforme Rodrigues (2009, 
s/p) quando o Núcleo de Atividades 
de Altas Habilidades do Piauí esteve 
na escola e pediu aos educadores 
que ficassem atentos à possibilidade 
de alguns alunos terem altas habili-
dades, a professora indicou o garoto 
(que havia chegado até a 7ª série 
sem ser descoberto). “Agora, os co-
legas comentam que ele tem estado 
mais presente também nas outras 
disciplinas”, afirma ela. 
Denise Fleith, professora do 
Instituto de Psicologia da Universi-
dade de Brasília (UnB), tem pós-
doutorado em altas habilidades no 
Reino Unido e é formadora de novos 
especialistas no Brasil. Ela também 
defende a criação de salas de recurso 
e acredita que o professor da classe 
regular pode contribuir com o enri-
quecimento do currículo. “Ele pode 
 
 22 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
e deve apresentar ao aluno cami-
nhos para o desenvolvimento de seu 
potencial, desde materiais para pes-
quisa até contatos de estudiosos dos 
assuntos.” 
Como identificar a superdota-
ção: conforme Rodrigues (2009, 
s/p) reserve alguns minutos para lis-
tar os nomes dos alunos que logo 
vêm à sua mente quando você lê as 
descrições abaixo. Utilize essa lista 
(preparada pelo MEC) como uma 
“associação livre” e de forma rápida. 
É provável que você encontre mais 
do que um estudante em cada item. 
Quem exibir consistentemente vá-
rios dos comportamentos tem fortes 
chances de apresentar altas habili-
dades. 
 Aprende fácil e rapidamente; 
 É original, imaginativo, cria-
tivo, não convencional; 
 Está sempre bem informado, 
inclusive em áreas não co-
muns; 
 Pensa de forma incomum para 
resolver problemas; 
 É persistente, independente, 
autodirecionado (faz coisa 
sem que seja mandado); 
 Persuasivo, é capaz de influen-
ciar os outros; 
 Mostra senso comum e pode 
não tolerar tolices; 
 Inquisitivo e cético, está sem-
pre curioso sobre o como e o 
porquê das coisas; 
 
 Adapta-se com bastante rapi-
dez a novas situações e a novos 
ambientes; 
 É esperto ao fazer coisas com 
materiais comuns; 
 Têm muitas habilidades nas 
artes (música, dança, desenho 
etc.); 
 Entende a importância da na-
tureza (tempo, Lua, Sol, estre-
las, solo etc.); 
 Tem vocabulário excepcional é 
verbalmente fluente; 
 Aprende facilmente novas lín-
guas; 
 Trabalhador independente; 
 Tem bom julgamento, é lógico; 
 É flexível e aberto; 
 Versátil, tem múltiplos inte-
resses, alguns deles acima da 
idade cronológica; 
 Mostra sacadas e percepções 
incomuns; 
 Demonstra alto nível de sensi-
bilidade e empatia com os ou-
tros; 
 Apresenta excelente senso de 
humor; 
 Resiste à rotina e à repetição; 
 Expressa ideias e reações, fre-
quentemente de forma argu-
mentativa; 
 É sensível à verdade e à honra. 
 
23 
 
 
 
 24 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
4. Avaliação das Aptidões Cognitivas 
 
 
Fonte: Pinterest4 
 
onforme Enumo (2005, s/p) a 
inclusão dos portadores de ne-
cessidades educativas especiais 
(NEE) tem sido proposta norteadora 
e dominante na Educação Especial e 
da Educação em geral, direcionando 
programas e políticas educacionais e 
de reabilitação em vários países, in-
cluindo-se o Brasil. É sucessora da 
integração, a qual era vista como um 
conceito novo para uma prática an-
tiga. Historicamente, a proposta de 
integração escolar foi elaborada em 
 
4 Retirado em https://br.pinterest.com/pin/740560732447386049/ 
1972, na Educação Especial, por um 
grupo de profissionais da Escandi-
návia, liderados por Wolfensberger, 
na forma do chamado “princípio de 
normalização”. Este princípio apre-
goa que todas as pessoas portadoras 
de deficiências têm o direito de usu-
fruir condições de vida o mais co-
mum ou “normal” possível, na socie-
dade em que vivem. 
Dito de outra forma, normali-
zar não quer dizer tornar normal, 
mas significa dar à pessoa oportuni-
C 
 
 25 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
dades, garantindo seu direito de ser 
diferente e de ter suas necessidades 
reconhecidas e atendidas pela socie-
dade (CARDOSO, 1992, CARVA-
LHO, 1994, GLAT, 1998). Assim, o 
conceito de “integração” uma das 
consequências fundamentais do 
“princípio de normalização”, pro-
posto como objetivo, enquanto a in-
tegração seria o processo, que deve-
ria ir muito além de colocar ou man-
ter excepcionais em classes regula-
res. É, portanto, parte fundamental 
de todo o processo educacional. As 
noções de normalização e integração 
se fortaleceram no final dos anos 60 
e início dos anos 70 do século pas-
sado, junto com os movimentos de 
direitos civis de minorias e grupos 
marginalizados, difundindo-se pelos 
Estados Unidos da América, Canadá 
e diversos países da Europa, influen-
ciando os teóricos e profissionais no 
Brasil. (GLAT, 1998, NUNES, ET 
AL, 1998, SAINT-LAURENT, 1997) 
Herdando essa política de in-
tegração, tendo como ponto de par-
tida os resultados positivos alcança-
dos com a prática da inclusão esco-
lar nos países desenvolvidos nas 
duas últimas décadas, o sistema 
educacional brasileiro tem vivencia-
do um momento de transição no 
atendimento do aluno com NEE. O 
modelo de Educação Especial ante-
rior adotava as “classes especiais” 
para alunos com NEE, propondo-se 
a um atendimento mais específico, 
mas, acabou por contribuir para a 
segregação dessas crianças. Dessa 
forma, a inclusão escolar ganhou 
força, refletindo os esforços das so-
ciedades atuais pela sua integração 
em salas regulares de ensino, de for-
ma a aceitar e respeitar suas dife-
renças. Assim, a partir do final dos 
anos 80 do século passado, o termointegração começou a perder força, 
sendo substituído pela ideia de in-
clusão, uma vez que o objetivo é in-
cluir, sem distinção, todas as crian-
ças, independentemente de suas ha-
bilidades. A inclusão exige a trans-
formação da escola, pois defende a 
inserção no ensino regular de alunos 
com quaisquer déficits e necessida-
des, cabendo às escolas se adapta-
rem às necessidades deles, ou seja, a 
inclusão acaba por exigir uma ruptu-
ra com o modelo tradicional de ensi-
no. (KARAGIANNIS, STAINBACK, 
STAINBACK, 1999a, MARCHE-SI, 
ECHEITA, MARTÍN, 1995, SAS-
SAKI, 1997, apud ENUMO, 2005, 
s/p)) 
Reside aqui, aponta Enumo 
(2005, s/p) o mérito dessa proposta 
e o início dos seus problemas. Entre 
vários obstáculos à inclusão de alu-
nos com NEE, na prática, percebe-se 
que, mesmo aquelas crianças que se 
encontram inseridas no sistema re-
gular de ensino, continuam sendo 
isolados dos seus companheiros de 
 
 26 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
turma não deficientes. Pesquisas 
têm demonstrado que esses alunos 
encontram-se incluídos fisicamente, 
mas não social e emocionalmente, 
(Batista, Enumo, 2004, Marchesi, 
Echeita, Martín, 1995, Mendes, Fer-
reira, Nunes, 2003), dados esses 
consistentes com aqueles identifica-
dos na literatura desde as primeiras 
tentativas de integração na década 
de 50 do século XX. (AUSUBEL, 
HANESIAN, NOVAK, 1978) De ou-
tro lado, o processo de inclusão de 
crianças com deficiência no ensino 
regular possibilita-lhes estar intera-
gindo espontaneamente com situa-
ções diferenciadas, enquanto adqui-
rem conhecimento e se desenvol-
vem, com efeitos na aquisição de ha-
bilidades sociais, da vida diária e de 
comunicação. (KARAGIANNIS, 
STAINBACK, STAINBACK, 1999b) 
Essa inclusão, entretanto, não deve 
ser facilmente resolvida a partir de 
uma resolução de cunho legal ou 
teórica, uma vez que variáveis rela-
cionadas a processos grupais e rea-
ções de preconceito podem influen-
ciá-la, seja facilitando ou dificultan-
do a interação dessas pessoas com 
aquelas ditas “normais”. (STAINBA-
CK, STAINBACK, 1999) 
É necessário que, na prática, 
seja adotada uma política educacio-
nal que promova mudanças curricu-
lares, efetivando a participação dos 
pais no processo de inclusão e capa-
citando as escolas e os profissionais 
que lidam com essas crianças. Nesse 
sentido, é de fundamental impor-
tância que ocorra integração ou par-
ceria entre a universidade e as insti-
tuições públicas de Ensino Fun-da-
mental. Estas últimas têm encon-
trado dificuldades na inclusão esco-
lar dessas crianças, a começar do 
processo de diagnóstico das dificul-
dades de aprendizagem, terminan-
do na pouca capacitação profissio-
nal para atender pedagógica e psi-
cologicamente essa população. 
(MARCHESI, ECHEITA, MARTÍN, 
1995, MENDES, FERREIRA, NU-
NES, 2003) 
Procurando contribuir em um 
desses aspectos básicos do processo 
de inclusão - o diagnóstico das difi-
culdades de aprendizagem desses 
alunos com NEE - discutem-se, a se-
guir, as possibilidades de uma mo-
dalidade de avaliação psicológica 
que tem se mostrado bastante útil à 
Educação Especial - a avaliação as-
sistida. (STERNBERG, GRI-GO-
RENKO, 2002, apud ENUMO, 
2005, s/p) 
 
Avaliação Psicológica de 
Crianças com Necessida-
des Educativas Especiais 
 
Tomando como referência, de 
acordo com Enumo (2005, s/p) o 
fato de que a criança com NEE pode 
 
 27 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
representar grande ônus sócio-afe-
tivo familiar e pessoal e, também, 
econômico para a sociedade, é im-
portante que sejam adotadas medi-
das que minimizem essa situação. 
Tais medidas podem incluir, entre 
outras, a adoção de procedimentos 
de avaliação mais adequados às ne-
cessidades especiais da criança defi-
ciente, como a avaliação “assistida” 
ou“dinâmica” (Campione, 1989, 
Haywood, Tzuriel, 2002, Linhares, 
1995, Tzuriel, 2001), além da capa-
citação de pais e profissionais para 
implementar estratégias que pro-
movam o desenvolvimento infantil. 
O processo de identificação e 
avaliação de deficiências é uma eta-
pa primordial. (MARCHESI, MAR-
TÍN, 1995) Esse papel, entretanto, 
em certas circunstâncias, pode ser 
perigoso. Diagnosticar significa 
“procurar através da” análise de sin-
tomas e sinais, utilizando recursos 
técnicos, a fim de localizar as causas 
e prescrever tratamentos para os 
respectivos quadros identificados. O 
diagnóstico é considerado a base 
para o encaminhamento a esse tipo 
de atendimento, sendo feito, segun-
do portaria ministerial, por órgão 
público competente, que procede a 
avaliação das condições físicas, 
mentais, mpsicossociais e educacio-
nais do indivíduo, visando a estabe-
lecer o prognóstico e a programação 
terapêutica e educacional. (ENU-
MO, CUNHA, 2001) Contudo, se-
gundo os estudiosos da construção 
social da deficiência, observa-se que 
o diagnóstico pode levar a estrutu-
ração de estigmas, que funcionarão 
como um rótulo imputado aos indi-
víduos identificados como desviante 
ou anormal, que passarão a integrar 
o grupo minoritário e, consequen-
temente, marginalizado dos defi-ci-
entes. (AMARAL, 1995, GOF-
FMAN, 1982) Logo, o diagnóstico 
deve ser um processo contínuo e sis-
temático de avaliação, cujo objetivo 
é investigar interpretar, orientar e, 
sobretudo, prevenir a estigmatiza-
ção de indivíduos identificados por 
suas diferenças. 
Analisando os usos da avalia-
ção psicológica, Mofese, Acheson 
(1997) consideram que, especial-
mente no campo do desenvolvimen-
to humano, ela é extremamente útil 
quando se deseja: 
 Conhecer o desempenho e as 
potencialidades do indivíduo; 
 Avaliar os progressos ou resul-
tados de programas de inter-
venção; 
 Identificar a fonte de proble-
mas escolares; 
 Realizar investigações na área 
de diagnóstico e prevenção de 
distúrbios/atrasos no desen-
volvimento. Esses autores in-
clusive defendem o uso de tes-
tes mentais padronizados co-
mo parte ou base para “bate-
rias de triagem” usadas para a 
 
 28 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
identificação precoce de dis-
túrbios no desenvolvimento 
ou de crianças de risco. 
 
A avaliação das aptidões cog-
nitivas constitui-se, assim, uma das 
áreas mais significativas da aplica-
ção da Psicologia, segundo Almeida 
(1996). Este fato pode ser confir-
mado por levantamentos internacio-
nais, feitos no início da década de 90 
do século passado, mostrando que 
os testes relacionados à avaliação da 
inteligência de crianças e jovens es-
tavam entre os dez testes mais cita-
dos, com o WISC-III, em primeiro 
lugar geral. (ALMEIDA, 1996, CAR-
NEIRO, FERREIRA, 1992, HUTZ, 
BANDEIRA, 1993). Contudo, lem-
bram os autores nacionais que, ape-
sar desse uso frequente, há uma pe-
quena e assistemática publicação na 
área, no Brasil. 
De toda maneira, esse uso ge-
ral de instrumentos psicométricos 
tem sobrevivido, mas acompanhado 
de grande polêmica, seja pela inde-
terminação do conceito de inteligên-
cia, gerada tanto por questões teóri-
cas, por ser um conceito altamente 
influenciado pelo contexto social do 
momento, seja pela pluralidade de 
métodos e instrumentos utilizados 
na sua medição. (COLL, ONRUBIA, 
1996) 
A crítica básica ao uso de 
testes padronizados de inteligência 
tem sido centrada no fato de que 
eles podem ser culturalmente envie-
sados contra os pobres e os grupos 
minoritários, devido às diferenças 
na cultura, na linguagem, nos valo-
res e no background de experiências, 
além da inadequação técnica e cien-
tífica desses testes de inteligência - 
viés do teste e do procedimento de 
validação usado na construção e pa-
dronização - e da questão ética re-
lacionada às consequências educa-
cionais e sociais do uso desses testes. 
Os testes de inteligência teriam co-
mo fontes de erro, segundo síntese 
de Reynolds (apud Utley, Haywood, 
Masters,1992): 
 Conteúdo inapropriado, deri-
vado do ambiente, vocabulário 
e valores da classe média 
branca; 
 Amostras de padronização 
inapropriadas, com sub-repre-
sentação de minorias étnicas; 
 Vieses de linguagem e do exa-
minador, que, em geral são 
brancos e consideram apenas 
a língua dominante; 
 Falta de equiparação de conse-
quências sociais: os resultados 
e rótulos derivados dos testes 
acentuam de forma despro-
porcional as desvantagens 
educacionais e do mercado vo-
cacional dessa minoria; 
 Medida de constructos dife-
rentes - relacionado ao item a, 
considera-se que os teste me-
dem diferentes atributos 
quando usados com crianças 
diferentes da amostra original, 
 
 29 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
não sendo válidos, portanto, 
para avaliar a inteligência dos 
grupos minoritários; 
 Validade preditiva diferencial, 
sendo útil somente para a clas-
se média branca, sem predizer 
de modo confiável qualquer 
comportamento relevante das 
minorias, assim como ocorre 
com os testes acadêmicos. 
Cria-se, assim, a questão de in-
teresse, principalmente para 
educadores, cientistas sociais 
e geneticistas do comporta-
mento, de saber se as diferen-
ças no QI (variável manifesta - 
o escore no teste de inteligên-
cia) refletem diferenças na in-
teligência em si (variável la-
tente, não observável, que é 
assumida pela medida do tes-
te). (UTLEY, HAYWOOD, 
MASTERS, 1992, apud ENU-
MO, 2005, s/p) 
 
Com base nessas críticas, 
aponta Enumo (2005, s/p) muitos 
psicólogos que atuam em diversas 
áreas de atendimento a pessoas com 
deficiência - escolar, clínica, desen-
volvimento, social, orientação voca-
cional, organizacional - preferem até 
se abster de realizar esse tipo de 
atendimento, sentindo-se descon-
fortáveis com a situação, questio-
nando os instrumentos, sua valida-
de, fidedignidade, eficácia, inclusive 
não sabendo como se comportar 
com essas pessoas. (AMIRALIAN, 
1997) 
Em situação pior, alguns psi-
cólogos educacionais entregam lau-
dos psicológicos que nem apresen-
tam a criança avaliada, mas incluem 
apenas os resultados de QI, afirman-
do a deficiência da crian a, “culpan-
do a vítima” e legitimando cientifi-
camenteo preconceito, com comple-
to desconhecimento do que se passa 
na escola, como relatam Machado, 
Souza, Sayão. (1997) 
Agora a má-formação profis-
sional, as evidências empíricas não 
apoiam a alegação de que as dife-
renças nos resultados dos testes das 
crianças de grupos minoritários se-
jam devidas aos aspectos de sua va-
lidade psicométrica, seja de conteú-
do, preditiva ou de critério e de 
constructo. A qualidade dos instru-
mentos mais utilizados, como o 
WISC-III e as Matrizes Progressivas 
de Raven, por exemplo, não têm vie-
ses de teste relacionados à validade 
de conteúdo, preditiva ou de cons-
tructo. (UTLEY, HAYWOOD, MAS-
TERS, 1992) 
Assim, segundo esses autores, 
a explicação para as diferenças indi-
viduais na inteligência deve estar em 
outra variável além das qualidades 
psicométricas dos testes, pois as di-
ferenças entre os grupos sociais per-
sistem seja em testes verbais ou não 
verbais, com (culture-fair) e sem 
conteúdo cultural (culture-free) 
(condição praticamente impossível 
 
 30 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
de separar), de inteligência ou de 
aquisição acadêmica. Por exemplo, 
os fatores não intelectuais, como a 
motivação intrínseca, a necessidade 
de domínio, o locus de controle, a 
ansiedade, a tolerância à frustração, 
a autoconfiança e a acessibilidade à 
mediação podem influenciar o de-
sempenho cognitivo e não são consi-
derados nos testes psicométricos. 
(MARTÍN, MARCHESI, 1995, TZU-
RIEL, 1991, 2001) Assim, “(...) o pro-
blema não está no que os testes pa-
dronizados fazem e eles o fazem 
bem, mas no que eles não fazem.” 
(TZURIEL, 2001, p. 4, apud ENU-
MO, 2005, s/p). Ainda de acordo 
com Enumo (2005, s/p) bem enten-
dida a questão da qualidade dos ins-
trumentos, Lidz (1991) entende que 
a própria avaliação é um processo 
cognitivo em si e que os especialistas 
em diagnóstico devem responder à 
pergunta: “O que nós precisamos sa-
ber e o que irá produzir a informação 
apropriada?” Se a questão é saber 
como os estudantes estão em relação 
ao desempenho de seus pares em 
idade ou em grau de escolaridade, o 
procedimento a ser escolhido deve 
ser referenciado à norma. Se a ques-
tão diagnóstica refere-se à localiza-
ção das habilidades ou do nível de 
desenvolvimento do estudante den-
tro de uma pré-determinada hierar-
quia de comportamentos, devem ser 
escolhidos procedimentos referenci-
ados ao desenvolvimento. Quando a 
pergunta relaciona-se ao conheci-
mento específico básico que o aluno 
adquiriu ou não, o procedimento es-
colhido deve ser referenciado a cri-
tério ou ao currículo. E se a pergun-
ta que orienta o processo diagnós-
tico refere-se à responsividade do 
aprendiz à intervenção, o uso de 
processo de solução de problemas, o 
procedimento a ser escolhido é a 
avaliação dinâmica ou assistida. 
Adotando-se um modelo ecologica-
mente válido, essa autora considera 
que procedimentos adicionais de-
vem ser incluídos para avaliar as 
contribuições ambientais ao desem-
penho observado. Nesse sentido, 
“(...) nenhum desses procedimentos 
avaliativos é inerentemente melhor 
do que outro”; nem deve ser usada 
uma única abordagem para todas as 
perguntas. (LIDZ, 1991) 
Segundo Pearce (1995), crian-
ças com NEE estão em situação de 
risco de desenvolvimento ou de pro-
blemas psicológicos, geralmente por 
sua dificuldade em aprender sozi-
nho e limitação na capacidade de ge-
neralização ou de transferência de 
aprendizagem. Tais problemas, por 
sua vez, decorrem de dificuldades 
para planejar e regular seus proces-
sos de aquisição de conhecimento. 
(MARTÍN, MARCHESI, 1995) Pare-
 
 31 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
ce extremamente relevante, por con-
seguinte, conhecer seu potencial de 
aprendizagem, sua capacidade de ti-
rar proveito da instrução oferecida, 
saber o tipo de ajuda que lhe é útil, 
indicando, assim, o papel do profes-
sor. Em última instância, é a “avali-
ação assistida”, “dinâmica” ou “inte-
rativa”, considerada adequada e útil 
para essa população, mostrando-se 
como uma abordagem interativa, 
otimista, precisa e prescritiva, com 
benefícios de longo prazo. (TZU-
RIEL, HAYWOOD, 1992, apud 
ENUMO, 2005, s/p) 
 
Avaliação Assistida 
 
 Uma proposta complementar 
na avaliação de crianças com neces-
sidades educativas especiais: para 
Enumo (2005, s/p) Haywood, Tzu-
riel (2002) apresentam a avaliação 
assistida como uma inovadora abor-
dagem para avaliar habilidades hu-
manas, em particular o potencial de 
aprendizagem, visando basicamen-
te à identificação e remoção de bar-
reiras não intelectuais à expressão 
da inteligência. 
A avaliação assistida pode ser 
concebida como um conceito amplo, 
que vai além de técnicas e procedi-
mentos específicos, pois inclui vá-
rias teorias, metodologias, funções e 
objetivos, relacionando-se a novas 
concepções de inteligência e a várias 
propostas de avaliação: a “propensi-
bilidade” à aprendizagem, de 
Feuerstein (1979) e Tzuriel (2001); 
os procedimentos de “dicas gradua-
das” (graduated prompts asses-
sment), de Campione, Brown 
(1987); o treino de procedimentos 
para testes de avaliação do potencial 
de aprendizagem (learning poten-
tial assessment), de Budoff (1987); 
a avaliação interativa, de Lidz (1987, 
1991) e de Haywood (Haywood; Tzu-
riel, 1992); a abordagem ao “teste de 
aprendizagem” (learning test) de 
Guthke e Wingenfeld (1992); a rees-
truturação dos dados em presença 
do teste, de Carlson, Wiedl (1992); a 
indução de estruturas lógicas (Pa-
our, 1992); a “perspectiva transaci-
onal da avalia ão psicoeducacional” 
proposta por Tzuriel (Haywood, 
Tzuriel; Vaugh, 1992); a “avalia ãopsicopedagógica dinâmica” de Fon-
seca (2001); e a avaliação do proces-
samento cognitivo, de Swanson 
(Swanson Cognitive Processing 
Test- S-CPT). (STERNBERG, GRI-
GORENKO, 2002, apud ENUMO, 
2005, s/p) 
Conforme Enumo (2005, s/p) 
sua origem está datada na década de 
70 do século passado, com os traba-
lhos de Reuven Feuerstein e seus co-
legas, em Israel, insatisfeitos com os 
métodos de avaliação tradicionais 
em fornecerem informações sobre a 
 
 32 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
habilidade para aprender dos estu-
dantes. Passaram, então, a desen-
volver esta modalidade de avaliação 
voltada ao fornecimento de informa- 
ções que possam ser diretamente 
aplicadas na prática por educadores 
e psicólogos clínicos e escolares. 
(CAMPIONE, 1989, HAYWOOD, 
TZURIEL, 1992, 2002, LIDZ, 1989, 
1991, LINHARES, 1995, TZURIEL, 
2001, STERNBERG, GRIGOREN-
KO, 2002) 
Partia-se da premissa de que 
deveriam ser consideradas todas as 
explicações alternativas para um po-
bre desempenho em aprendizagem e 
solução de problemas antes de infe-
rir que são decorrentes de uma inca-
pacidade para aprender. (UTLEY, 
HAYWOOD, MASTERS, 1992) Con-
siderava-se tamb m que “(...) QI não 
é sinônimo de habilidade para 
aprender.” (LIDZ, 1991, p. 4) Assim, 
segundo Haywood, Tzuriel, Vaught 
(1992), o conceito de inteligência, 
entendida como uma “habilidade 
inata”, não era suficiente para expli-
car as diferenças individuais no pen-
samento, percepção, aprendizagem, 
solução de problemas e interação 
social. Era necessário, então, adotar 
concepções teóricas sobre a plastici-
dade da cognição humana para aten-
der à necessidade prática de encon-
trar novas medidas de diagnóstico 
para crianças que não se saíam bem 
em testes convencionais. 
De acordo com a revisão do 
tema feita por Lidz (1987) e Tzuriel 
(2001), foi a introdução da teoria de 
Vygotsky por Brown e Ferrara e das 
ideias de Feuerstein por H. C. Hay-
wood, na Psicologia norte-america-
na, que impulsionaram as pesquisas 
sobre avaliação assistida, seguindo a 
proposta original de Alfred Binet, o 
qual defendia a avaliação de “pro-
cessos” mais do que “produtos” de 
aprendizagem. Assim, os conceitos 
de “zona de desenvolvimento proxi-
mal” (ZDP), de Vygotsky, e a “teoria 
de aprendizagem mediada” (MLE), 
de Feuerstein, segundo Tzuriel 
(2001), formam a base conceitual 
para a elaboração da avaliação assis-
tida, que procura incluir fatores so-
cioculturais na compreensão do de-
senvolvimento cognitivo e do poten-
cial de aprendizagem. (ENUMO, 
2005, s/p) 
Segundo Enumo (2005, s/p) 
Tzuriel (2001, p. 6), um dos princi-
pais representantes dessa aborda-
gem, define a avaliação assistida 
como “(...) uma avaliação do pensa-
mento, percepção, aprendizagem e 
solução de problemas por meio de 
um ativo processo de ensino voltado 
para modificar o funcionamento 
cognitivo”. Difere dos testes conven-
cionais por seus objetivos, proces-
sos, instrumentos, situação de teste 
e interpretação dos resultados. 
 
 33 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
(CAMPIONE, 1989, FONSECA, 
2001, LINHARES, 1995) 
A abordagem “clínica” da ava-
liação assistida, proposta por 
Feuerstein e Tzuriel, em Israel, foi 
pioneira, sendo seguida pelos psicó-
logos do Reino Unido. (ELLIOTT, 
LAUCHLAN, STRINGER, 1996) 
Nos EUA e na Europa e, especial-
mente no contexto da pesquisa, in-
clusive aqui no Brasil, tem sido utili-
zado um modelo de aplica ão mais 
padronizado, “estruturado”. Este 
traduzido na sequência “teste-inter-
venção-reteste”, quando usado na 
aplicação, podendo haver também 
uma estruturação na pontuação dos 
resultados. Assim, é possível não só 
observar os ganhos da criança após 
a ajuda, mas, também, verificar se a 
aprendizagem se mantém, quando a 
tarefa é reapresentada sem ajuda, 
servindo a criança como seu próprio 
controle. (CAMPIONE, 1989, ELLI-
OTT, LAUCHLAN, STRINGER, 
1996, ENUMO, LINHARES, ESCO-
LANO, 2004, LIDZ, 1991, LINHA-
RES, 1995, LINHARES, ESCO-
LANO, ENUMO, no prelo) 
Independentemente do mode-
lo, a interação visa otimizar o funci-
onamento típico do examinando e 
não apenas obter uma amostra deste 
ou avaliar a inteligência. Assim, pre-
tende-se compreender como a crian-
ça aprende, facilitando de modo di-
reto a competência cognitiva pela 
criação de uma situação em que a 
criança se envolve processo de 
aprendizagem. (LIDZ, 1996) Dessa 
maneira, segundo Lidz (1991) e Tzu-
riel (2001), é possível obter informa-
ções sobre processos metacognitivos 
funcionais, disfuncionais e em vias 
de desenvolvimento (no caso de pré-
escolares), assim como sobre a 
quantidade e tipo de intervenção ne-
cessário para produzir mudanças. 
Produz-se, portanto, sugestões para 
intervenção que podem facilitar e 
melhorar o desempenho da criança. 
As áreas da Educação, Educa-
ção Especial, Psicopatologia, Neu-
ropsicologia, assim como o estudo 
de diferenças culturais e desenvolvi-
mento humano, têm sido beneficia-
das com o uso da avaliação assistida 
como ferramenta clínica e de pes-
quisa. No geral, sua aplicação é in-
dividualizada; mas, há aplicações 
em grupo (Rrand, Kaniel, 1987, Tzu-
riel, Feuerstein, 1992) e computado-
rizada (Tzuriel, 
SHAMIR, 2002). Há relatos 
de uso em diversos contextos de ava-
liação: crianças em risco de fracasso 
escolar, em desvantagem social, com 
retardo mental, surdez, altas habili-
dades, problemas emocionais, difi-
culdades de aprendizagem (crianças 
e adultos), pré-escolares, estudantes 
universitários, penitenciários, paci-
entes com danos cerebrais, esquizo-
frênicos, adolescentes psicóticos, 
 
 34 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
minorias culturais, na análise da 
mediação pais-criança, na verifica-
ção de habilidades linguísticas de 
narrativa; na avaliação de progra-
mas de educação cognitiva, a exem-
plo do Bright Start de H. C. 
Haywood, e de educação pré-esco-
lar. (HAYWOOD, MILLER, 2003, 
HAYWOOD, TZURIEL, 1992, 2002, 
LIDZ, 1989, 1991, MILLER, 
GILLAM, PEÑA, 2001, TZURIEL, 
2001, apud ENUMO, 2005, s/p) 
No Brasil, conforme Enumo 
(2005, s/p) pesquisas sobre avalia-
ção assistida têm sido desenvolvidas 
desde o início da década de 90 do sé-
culo passado, segundo revisão de Li-
nhares, Escolano e Enumo (no pre-
lo) e Linhares e Enumo (no prelo). 
As pesquisas sobre avaliação cogni-
tiva assistida têm sido realizadas no 
país com diferentes tipos de sujeitos: 
 Crianças com dificuldade de 
aprendizagem, por Santa Ma-
ria, Linhares (1999), Linhares 
(1996, 1998), Linhares, Santa 
Maria, Escolano, Gera (1998), 
Ferriolli (2000), Ferriolli, et 
al. (2001), Gera (2001), na 
Universidade de São Paulo 
(USP) - Ribeirão Preto, e por 
Dias (2004), Dias e Enumo 
(2004), na Universidade Fede-
ral do Espírito Santo (UFES) 
em atuação conjunta com a 
Universidade do Estado de 
Mato Grosso (UNEMAT); 
 Alunos de primeira série do 
Ensino Fundamental, por Es-
colano (2000, 2004) e Esco-
lano, Linhares (2000), na 
USP-Ribeirão Preto; 
 Crianças com deficiência men-
tal, por Santa Maria e Linhares 
(1999), na USP- Ribeirão 
Preto; 
 d) Crianças prematuras, por 
Bordin (2005), Bordin, Linha-
res, Jorge (2001) e Linhares, 
Bordin, Carvalho (2004), na 
USP-Ribeirão Preto; 
Crianças com deficiência vi-
sual, por Batista, Horino, Nu-
nes (2004), Cunha (2004), 
Cunha, Enumo (2003); Enu-
mo, Batista (2000); Enumo, 
Batista, Ferrão (2005); Enu-
mo, et al. (2000); Fonseca, Cu-
nha (2003); Fonseca, Cunha, 
Enumo (2002), em trabalhos 
conjuntos do Centro de Estu-
dos e Pesquisas em Reabilita-
ção (CEPRE) da Universidade 
Estadual de Campinas (UNI-
CAMP) e UFES, além de in-
tercâmbio internacional com o 
Professor Vitor da Fonseca, 
vinculado à Faculdade de Mo-
tricidade Humana (FMH), da 
Universidade Técnica de Lis-
boa; 
 Crianças com problemas de 
comunicação, por Paula 
(2004) e Paula, Enumo, Maia(2004), na UFES. 
 
Além da avaliação de habilida-
des cognitivas, a avaliação assistida 
também tem sido utilizada no país 
em outros contextos: 
 
 35 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
 Para a avaliação de habilida-
des linguísticas da narrativa 
em crianças com câncer, por 
Motta, et al. (2005) e em pré-
escolares, por Leite, et al. 
(2004), na UFES; 
 Para a avaliação de efeitos de 
programas de intervenção - 
em criatividade, por Dias 
(2004) e Dias, et al. (2003), 
programas com sistemas de 
comunicação alternativa, por 
Paula (2004) e Paula, et al. 
(2003), na UFES, e para avali-
ação de programa de ensino 
regular, por Escolano (2000, 
2004), na USP-Ribeirão 
Preto; 
 Para a avaliação de fatores não 
intelectuais em provas assisti-
das para crianças com necessi-
dades educativas especiais, 
por Ferrão, et al, (2005) e Or-
landi, et al. (2004), na UFES. 
 
Também foi usada a avaliação 
assistida para analisar a mediação 
materna em dois contextos: 
 Durante a interação mãe-cri-
ança com deficiência visual em 
situação de jogo, por Cunha 
(2004), Cunha, Enumo, Pe-
droza (2004) e Fonseca, Cu-
nha (2003), na UFES, em in-
tercâmbio com a FMH; 
 Durante a interação da mãe 
com a criança normal, por Li-
nhares, Martins e Klein 
(2004) e Klein (2005), na 
USP-Ribeirão Preto. 
 
Por fim, a avaliação assistida 
tem sido utilizada no país para ana-
lisar a mediação do psicólogo educa-
cional durante a aplicação de pro-
gramas de intervenção em crianças 
com necessidades especiais, por pes-
quisadores da UFES em intercâmbio 
com a UNEMAT na área da criativi-
dade (Dias, Paula, Ferrão, Enumo, 
no prelo, Pereira Dias, Enumo, 
2003), e com a Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro, na área da de-
ficiência visual. (CUNHA, 2004, 
ENUMO, ET AL, 2002, apud 
ENUMO, 2005, s/p) 
Para Enumo (2005, s/p) 
Haywood, Tzuriel (2002) e Tzuriel 
(2001) encontraram conclusões 
confiáveis derivadas da avaliação as-
sistida, a partir de estudos empíricos 
da área - o processo de mediação ou 
ensino de estratégias lógicas, entre o 
pré e o pós-teste, leva a uma me-
lhora no desempenho, diferente-
mente do mero ensino de conteúdo, 
do fornecimento de pistas para res-
postas corretas (graduated prompts) 
ou da não intervenção. Todavia, de-
pende do tipo e ensino, sua intensi-
dade, natureza das barreiras cogniti-
vas da pessoa e da distância psicoló-
gica entre o conteúdo de ensino e o 
conteúdo de desempenho dos testes, 
sendo os efeitos do ensino mais visí-
veis e efetivos em tarefas difíceis, 
complexas e/ou abstratas. O resul-
 
 36 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
tado principal de qualquer aprendi-
zagem ou sua própria medida - a 
transferência de estratégias media-
das para a solução de novos proble-
mas ocorre mais facilmente para a 
transferência próxima do que para a 
distante, principalmente quando o 
ensino contém estratégias pedagógi-
cas planejadas para a promoção da 
transferência, mostrando que esta 
não acontece ao acaso. (HAYWOOD, 
TZURIEL, 2002) 
Segundo Tzuriel (2001), a ava-
liação assistida prediz melhor o de-
sempenho acadêmico para pessoas 
com retardo mental do que para 
aqueles sem o problema; além de 
oferecer uma melhor estimativa do 
potencial de aprendizagem do que 
quando comparada às estimativas 
feitas por testes estáticos, normati-
vos. 
A observação da aplicação de 
provas assistidas fornece mais infor-
mações úteis para professores do 
que a observação de provas estáticas 
ou normativas. (BENJAMIN, LO-
MOFSKY, 2002, DELCLOS, 
BURNS, VYE, 1993, DELCLOS, 
BURNS, KULEWICZ, 1987) Pais de 
crianças com deficiência visual, ao 
observarem os dois tipos de avalia-
ção, têm mostrado sua aprovação e 
melhor aceitação da avaliação assis-
tida quando comparada com avalia-
ções estáticas ou padronizadas (CU-
NHA, 2004, CUNHA, ET AL, 2004, 
apud ENUMO, 2005, s/p) 
Além disso, como afirma 
Enumo (2005, s/p) a avaliação as-
sistida tem se mostrado muito útil 
como ferramenta de pesquisa nos 
casos de examinandos que relutam 
em responder, aqueles com sérios 
impedimentos de linguagem, os que 
bloqueiam, de modo psicopatoló-
gico, suas habilidades para se enga-
jar efetivamente em tarefas de solu-
ção de problemas, casos de transcul-
turalismo, de discriminação social, 
com conhecimento básico inade-
quado para a idade, autoconceito 
negativo como aprendiz, e hábitos 
improdutivos frente a situações de 
solução de problemas. 
Permite, assim, obter um co-
nhecimento que é difícil de obter 
com a utilização de testes normati-
vos. Dessa forma, altera previsões 
pessimistas derivadas dos testes es-
táticos, principalmente quando 
combinada com programas de edu-
cação cognitiva ou qualquer outro 
voltado para melhorias na educabi-
lidade de crianças e adolescentes. 
Também, permite fornecer dados 
sobre a “modificabilidade” cognitiva 
(cognitive modifiability) a partir da 
interação mãe-criança em pesquisas 
desenvolvimentistas e para a avalia- 
 
 
 37 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
ção de programas de educação cog-
nitiva; sendo útil para a habilitação 
ou reabilitação, inclusive para casos 
de danos cerebrais e desordens psi-
quiátricas. Sua efetividade, entre-
tanto, depende de uma mediação da 
aprendizagem que especifique clara-
mente as tarefas, vise às operações 
metacognitivas, recuse a ignorância 
como um indicador de inabilidade, 
dê atenção especial às barreiras afe-
tivo-motivacionais e tenha expecta-
tiva de sucesso. (HAYWOOD, TZU-
RIEL, 2002) 
Por ser um modelo relativa-
mente novo na Psicologia, a avalia-
ção assistida ainda tem problemas, 
segundo Haywood, Tzuriel (2002) e 
Sternberg, Grigorenko (2002): 
 Problemas psicométricos, co-
mo a questão da fidedignida-
de, que é alta apenas quando 
se utilizada no formato está-
tico (sem a mediação); 
 É necessário ainda saber como 
estabelecer a validade da ava-
liação assistida; 
 Esta modalidade de avaliação 
não é ensinada nos cursos de 
graduação, mas somente em 
workshops; 
 Consome muito tempo; 
 Exige julgamento subjetivo 
para determinar: quais fun-
ções cognitivas estão deficitá-
rias e requerem mediação, que 
tipo de mediação dispensar, 
quando a mediação não é mais 
necessária e como interpretar 
diferenças no desempenho pré 
e pós-mediação. Diante do 
grau de subjetividade desse 
tipo de avaliação, é importante 
fazer o cálculo de concordân-
cia entre examinadores, se-
gundo autores como 
Haywood, Tzuriel (2002) e 
Tzuriel, Samuels (2000). 
 
Compreender a proposta da 
avaliação assistida é mais fácil do 
que aplicá-la, sendo ainda pouco uti-
lizada pelos psicólogos educacio-
nais, apesar da influência das visões 
construtivistas e interacionistas da 
aprendizagem e do comportamento 
em vários países. Os fatores da pou-
ca adesão decorrem dos problemas 
indicados anteriormente e se asso-
ciam à permanência de velhas con-
cepções sobre estrutura e natureza 
da inteligência humana por parte de 
psicólogos e educadores, que ainda 
consideram que o potencial de 
aprendizagem é fixo, que conheci-
mento é sinônimo de fatos que de-
vem ser aprendidos e examinados, e 
que negligenciam os aspectos afeti-
vos da aprendizagem. Há também as 
próprias condições práticas para o 
uso da avaliação assistida, como a 
falta de tempo dos psicólogos esco-
lares para atendimento individuali-
zados e o pequeno suporte profissio-
nal destes ao pessoal da escola, que 
não espera um relatório com este ti-
 
 38 
O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
po de dado, não sabendo como inter-
pretar os dados ou as recomenda-
ções. (BURNS, 1996; DEUTSCH 
REYNOLDS, 2000; ELLIOTT, LAU-
CHLAN STRINGER, 1996, MEY-
ERS, 1989, STRINGER ELLIOT 
LAUCHLAN, 1997, TZURIEL, 2001, 
TZURIEL, HAYWOOD, 1992, apud 
ENUMO, 2005, s/p) 
Enumo (2005, s/p) afirma que 
Stringer, Elliot, Lauchlan (1997, p. 
239), em particular, consideram queo aspecto central da prática dos psi-
cólogos educacionais deve enfatizar 
os processos cognitivos da aprendi-
zagem, baseando-se na crença de 
que a aprendizagem é um processo 
social. Dessa forma, acreditam que 
a “(...) avaliação assistida representa 
a zona de desenvolvimento proximal 
para os psicólogos educacionais.” 
Uma posição conciliadora, 
aqui defendida, considera a avalia-
ção assistida como uma abordagem 
complementar à avaliação padroni-
zada, normativa, de modo a retratar 
um quadro holístico e acurado do 
funcionamento cognitivo, especial-
mente para pessoas com necessida-
des educativas especiais, uma vez 
que cada abordagem responde a 
questões diferentes, mas comple-
mentares. (CAMPIONE, 1989, 
HAYWOOD, TZURIEL, 2002, 
LIDZ, 1991, LINHARES, 1995, TZU-
RIEL, 2001, apud ENUMO, 2005, 
s/p) 
Diante dos dados mostrando a 
adequação da avaliação assistida 
para vários tipos de populações, 
pode-se considerar que o investi-
mento na capacitação de profissio-
nais de Psicologia nesta área contri-
buiria para mudanças no quadro da 
inclusão escolar de crianças com ne-
cessidades educativas especiais, na 
medida em que estas teriam suas ca-
racterísticas melhor avaliadas. Con-
tribuiria, assim, na identificação de 
necessidades instrucionais mais 
adequadas e oferece informações es-
pecíficas sobre suas possibilidades 
de mudança, quando expostas à si-
tuação de treino, auxiliando o pro-
cesso de intervenção. Um procedi-
mento avaliativo mais prescritivo, 
por sua vez, auxiliaria o trabalho do 
professor nas adaptações curricula-
res necessárias, podendo, inclusive, 
alterar suas expectativas, em geral 
baixas, sobre a capacidade de apren-
dizagem dessas crianças. É possível, 
assim, obter reflexos na interação 
social das pessoas que convivem 
com a criança, afetando, por conse-
guinte, a maneira de a criança inte-
ragir e atuar no contexto escolar in-
clusivo. (ENUMO, 2005, s/p) 
 
39 
 
 39 
4
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O CONTEXTO ESCOLAR E A ACESSIBILIDADE 
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