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1 CIRURGIA TGI 1 Marina Prietto ACALÁSIA DEFINIÇÃO: É um distúrbio de motilidade esofágica caracterizado por peristaltismo esofágico defeituoso e falta de relaxamento do esfíncter esofágico inferior durante a deglutição. Caracterizada pela perda de células ganglionares – corpos celulares – do plexo mioentérico (degeneração do plexo de Auerbach); A obstrução à passagem do bolo alimentar faz com que o esôfago retenha o material não digerido, podendo sobrevir graus variados de dilatação em seu corpo; Muitos pacientes podem não vir com uma clínica clássica de acalasia e serem diagnosticados como outros distúrbios do TGI. Porém, em um paciente que não responde a IBP com tais queixas, é fundamental excluir acalasia. A acalásia deve ser diferenciada em: - Primária (idiopática) – (há lesão do plexo de Auerbach); - Secundário – Ex: doença de Chagas (há lesão dos plexos de Auerbach e Meissner); Manifestações clínicas: 1. Disfagia de condução (ocasionado pela disfunção do EEI obstrui a passagem do bolo alimentar) 2. Regurgitação de alimentos não digerido; 3. Dor retroesternal 4. Perda ponderal 5. Tosse crônica –principalmente à noite – e broncoespasmo (podem ocorrer devido a regurgitação) A principal diferenciação para um quadro de câncer é a queixa de regurgitação intensa (o que não ocorre em um quadro neoplásico); Diagnóstico: A investigação diagnóstica nesses casos ocorre por 3 exames principais: Endoscopia - A principal razão é afastar a presença de câncer no esôfago, ou o desenvolvimento de lesões pré-malignas ou malignas em decorrência da estase crônica. Esofagograma contrastado - Visualiza a dilatação do esôfago; - Imagem de um afilamento distal em “bico de pássaro” na região do EE (raioX também); - Atraso no esvaziamento esofagiano - Presença de contrações não peristálticas. Manometria - É o exame padrão-ouro para o diagnóstico de acalásia. - Os principais achados da esofagomanometria na acalasia são: 2 CIRURGIA TGI 1 Marina Prietto ▪ Falha no relaxamento do esfíncter esofagiano inferior durante a deglutição. ▪ Graus variados de hipertonia de EEI ▪ Aperistalse; O exame do RAIO X pode apresentar alguns achados que elevem a suspeita de acalasia, como: ▪ A ausência de bolha gástrica e ▪ Nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta, representando material estagnado no esôfago. ▪ Alargamento intenso do mediastino (normalmente para direita) – casos mais graves; A tríade clássica da acalasia consiste em disfagia de condução + regurgitação + perda de peso Classificação de Rezende: A esofagografia consiste classificar a doença em vários estágios (e a conduta específica para cada uma); GRAU I Até 4 cm Calibre normal – retardo do esvaziamento e retenção do contraste. Cardiomiotomia ou dilatação GRAU II 4 a 7 cm Esôfago discinético – início de sinais de hipotonia e ondas terciárias (ME leve) Cardiomiotomia GRAU III 7 a 10 cm Francamente dilatado – Afilamento distal, hipotonia ou atonia (megaesôfago clássico) Cardiomiotomia GRAU IV Maior que 10 cm Dolicomegaesôfago (ultrapassa os limites do mediastino); Cardiomiotomia ou Esofagectomia Tratamento: Cardiomiotomia – miotomia de Heller Pinotti - Indicado normalmente para casos refratários ou redicivantes - É realizada através da secção de camadas longitudinais e circulares da musculatura lisa do esôfago distal; - Na cardiomiotomia ocorre uma extensão de 1/2 cm abaixo da cardia (porém, tem aumentado o índice de refluxo) Aceita-se atualmente a cardiomiotomia com algum tipo de fundoplicatura parcial como a operação mais indicada para os casos não avançados de megaesôfago. Na esofagocardiomiotomia deve-se associar fundoplicatura parcial para evitar DRGE no pós-operatório; OBS: o acesso tradicional para a miotomia de Heller é a toracotomia esquerda (porém atualmente tem se utilizado por via laparoscópica como método de escolha); Dilatação pneumática - É feita uma dilatação por balão do esfíncter (tem resultados satisfatórios em relação aos sintomas); - O risco maior dessa conduta é a perfuração esofágica e recidiva dos sintomas longo prazo; - Gestantes, idosos e pacientes sem condição cirúrgica; 3 CIRURGIA TGI 1 Marina Prietto Esofagectomia - É o procedimento de escolha para casos refratários à miotomia, megaesôfago grau IV e alterações estruturais do órgão; - A esofagectomia evita o surgimento de câncer de esôfago; Outras terapias: POEM – um tipo de miotomia endoscópica; ▪ Ressecção das fibras musculares via EDA (menos invasivo e com elevada taxa de sucesso); Toxina botulínica ▪ A toxina atua pela inibição dos neurônios excitatórios parassimpáticos (colinérgicos) – via EDA; ▪ A duração de seus efeitos é apenas de 3 a 6 meses (reservado para casos de alto risco cirúrgico); Medicamentos: ▪ Utilizados para reduzem a pressão do EEI e podem ser usados pacientes com sintomas leves e moderados ▪ Nitratos (via sublingual) e os antagonistas de cálcio (10 mg ninfedipina VO 6/6h); 4 CIRURGIA TGI 1 Marina Prietto OUTRAS DISFAGIAS BENIGNAS: Divertículo de Zenker - O divertículo de Zenker é um pseudodivertículo (contém somente camadas mucosa e submucosa) cervical faringoesofágico; - Ele ocorre devido a disfunção de um músculo: o cricofaríngeo - Essa disfunção gera um divertículo de pulsão no trígono de Killian; - O triângulo de Killian está localizado entre o músculo constritor inferior da faringe e as fibras superiores do músculo cricofaríngeo O diagnóstico é feito: esofagograma e EDA (necessário para fechar o diagnóstico e afastar câncer) Conduta: miotomia do musculo cricofaríngeo; - Cirurgia = padrão; - Via EDA = em casos de divertículos menores (>3 cm) Síndrome de Plummer Vinson - É um anel cervical alto, oriundo de uma doença de base (anemia ferropriva) - O diagnóstico é feito: esofagograma e EDA - Conduta: dilatação pneumática (via EDA) + controlando quadro de base (repondo ferro) Anel de Schatzki: - É um anel também, só que de apresentação distal e a doença de base é a DRGE e Hérnia hiatal; - O diagnóstico é feito: esofagograma e EDA - Conduta: dilatação pneumática (via EDA) + controlando quadro de base;