Kinesio tape em Equinos

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Kinesio tape em Equinos
1. INTRODUÇÃO
As bandagens funcionais (técnica Kinesio Taping) são amplamente utilizadas na
fisioterapia humana, a fim de complementar os processos de reabilitação, auxiliando na
manutenção e suporte em casos de reabilitações ortopédicas, neurológicas e vasculares
(SLUPIK et al., 2007).
Elas foram inventadas em 1979 pelo Dr. Kenzo Kaze, quiropraxista humano, com o
objetivo de que o paciente continuasse sobre um estímulo que aliviasse a dor, mas que não
restringisse os movimentos. A técnica ganhou atenção mundial após as Olimpíadas de 2008
pela vasta utilização em atletas e não demorou muito para que a área veterinária começasse a
utilizá-la, percebendo várias vantagens de aplicação nos pacientes (MIKAIL, 2018).
A técnica consiste na aplicação de bandagens elásticas funcionais auxiliadas por fita
autoadesiva composta de poliuretano e algodão, sendo que esses compostos proporcionam
segurança contra alergias ao látex e não tem adição de compostos medicamentosos (COSTA
et al., 2019).
Figura 1- O criador da Kinesio Taping, Kenzo Kase.
Fonte: (MOLLE, 2015)
Os corantes usados nas fitas são hipoalergênicos e extraídos de plantas, não havendo
diferenças nas características físicas conforme corante utilizado, porém acredita-se que que a
cor possa influenciar em um efeito cromoterápico, sendo alguns exemplos, o verde usado
com intuito de gerar calma emocional, reconstrução muscular e auxílio em lesões; amarelo
para alerta mental, otimismo e ajudar na digestão e o marrom como uma cor natural e terrosa
(MOLLE, 2015).
2. INDICAÇÕES
Os mecanismos propostos pela aplicação da Kinesio tape são terapêuticos, incluindo
correção de funções musculares através do fortalecimento de músculos enfraquecidos;
melhoria da circulação de sangue e linfa, eliminando fluidos dos tecidos ou sangramentos sob
a pele por meio de movimentos da musculatura; redução da dor através da supressão
neurológica; e reposicionamento de articulações subluxadas, aliviando a tensão muscular
anormal, auxiliando, assim, o retorno da função da fáscia e do músculo (HALSETH et al.,
2004).
O uso das fitas pode ser feito em diversas espécies animais e em diversas regiões do
corpo. Podem ser aplicadas em animais mais jovens, por exemplo, para correção de
contraturas, ou para mais velhos, na correção de alterações posturais e apesar de a maior parte
das aplicações ser relacionada com a área ortopédica, pode-se utilizar também em casos
pós-cirúrgicos ou em casos de feridas para reduzir edemas e aderências da pele (MIKAIL,
2018).
3. MECANISMO DE AÇÃO
A regulação da homeostase muscular é obtida através da ação direta sobre a
musculatura e depende da técnica utilizada, sendo elas de facilitação ou inibição. Essas
técnicas serão diferenciadas conforme sentido de aplicação da fita, pois, através desse fator,
serão alteradas as relações de tensão-comprimento dos músculos (MATTOS, 2016).
Quando é feita a aplicação da fita no sentido da inserção para a origem do músculo
tratado ocorre uma inibição do neurônio motor através do estiramento dos Órgãos Tendinosos
de Golgi, levando ao relaxamento muscular, entretanto, quando aplicado no sentido de
origem para inserção haverá um maior recrutamento de fibras musculares no sentido da
contração, fazendo com que ocorra a facilitação muscular (YEUNG et al., 2015).
Outra habilidade dessa técnica relacionada com o efeito muscular está baseada na
interação direta da fita em conjunto com as fáscias através das características de continuidade
que essas possuem interligando todas as estruturas e transmitindo informações de contração e
relaxamento musculoesquelético (GUSELLA et al., 2013).
A mudança causada na tensão muscular por aplicação ocorre por influência da fita nos
mecanorreceptores da pele, sendo que esses são responsáveis por ativar os impulsos nervosos
sob a influência de vários estímulos, por exemplo, toque, pressão, vibração e alongamento. A
ativação dos mecanorreceptores da pele pelo estímulo apropriado leva a despolarização local
e fluxo de impulsos nervosos ao longo das fibras aferentes na direção do Sistema Nervoso
Central, e, portanto, mudanças na área de aplicação (PTAK et al., 2013; MATTOS 2016).
Além disso, o efeito promovido nas fáscias fundamenta o estímulo proprioceptivo
articular, levando ao efeito do realinhamento das articulações (HALSETH et al., 2004). A
ativação dos receptores cutâneos pode influenciar nas funções neuromusculares por meio de
informações preliminares sobre membros e forças musculares que são enviadas através do
sistema sensorial cutâneo para o Sistema Nervoso Central para controlar e monitorar os
movimentos dos membros e equilíbrio, agindo também no efeito proprioceptivo do
movimento (PAOLONI et al., 2011; KARA, 2014).
Figura 2- Região lateral do membro posterior de equino, com
síndrome do harpejamento evidenciando presença de bandagem elástica
(Kinesio Taping®).
Fonte: (MATTOS et al., 2013).
A ativação dos sistemas circulatórios e linfáticos ocorre por meio do efeito elástico e
de resiliência do material que auxilia no direcionamento e troca dos fluidos intersticiais,
melhorando assim, os fluxos sanguíneos e linfáticos (MATTOS, 2016).
Tal técnica ocorre através da elevação dos planos dos tecidos, fazendo uma redução de
pressão sobre os vasos através da criação de micro ondulações retraindo a derme e a
epiderme pela ação da fita, além de criar canais de menor pressão sob a pele, drenando
edemas para os linfonodos mais próximos, para eliminá-los de forma mais rápida (TSAI et
al., 2009; MIKAIL, 2018).
Figura 3- Para contração muscular e a técnica de micro contrações que pode ser
utilizada para elevar os planos de tecidos (em casos de aglutinação de fáscia por exemplo).
Fonte: (MIKAIL, 2018)
Além desses efeitos, a técnica promove micro contrações, também chamadas de efeito
de massagem, durante o movimento ativo nos vasos linfáticos e sanguíneos (PEKYAVAS et
al., 2014). Esse processo facilita o bombeamento e ativação do fluxo de fluidos para áreas
menos congestas assim como o retorno venoso nos pacientes, além de facilitar, também, a
remoção de eletrólitos, como, por exemplo, o ácido lático, evitando processos álgicos (SHIM,
LEE e LEE, 2003; AGUILAR-FERRÁNDIZ et al., 2013).
Outro efeito da aplicação da fita está relacionado com o controle da dor, o mecanismo
ocorre através da estimulação de vias sensoriais no sistema nervoso, aumentando o feedback
aferente, isso faz com que ocorra uma redução da condução da nocicepção pelas fibras
nervosas devido a teoria das comportas (WILLIANS et al., 2012).
A teoria das comportas proposta por Melzack e Wall sugere que a transmissão das
informações da dor pode ser regulada no corno dorsal da medula onde chegam os diferentes
estímulos das fibras sendo que o estímulo que chegar primeiro impedirá a transmissão do
estímulo de outras fibras (DELEO, 2006; PAOLONI et al., 2010).
A fita aplicada sobre a região em que é observada dor, irá estimular os receptores da
pele, enviando esses estímulos através de fibras nervosas Tipo A Beta, que possui uma
grande velocidade de transmissão (30 a 60 m/s), bloqueando o estímulo da dor que é
transmitido por fibras nervosas que possuem velocidade de transmissão lenta, Tipo A Delta
(5-30 m/s) e C (0,5 a 2 m/s) (MIKAIL, 2018).
Figura 4- Utilização de bandagem elástica para correção de tendão.
Fonte: (MOLLE, 2015)
Em 2014, houve a criação de uma bandagem específica para equinos, a Kinesio Tape
Equine (KTE), que difere da humana apenas por possuir maior quantidade de adesivo, dessa
forma haverá maior aderência ao pelo do animal, promovendo maiores estímulos nos órgãos
pilosos terminais localizados no bulbo, visto que nos equinos o músculo eretor do pelo é mais
desenvolvido, havendo maior quantidade de mecanorreceptores e inervação de folículos
pilosos (SCOTT e MILLER, 2011; MATTOS, 2016).
4. CONTRAINDICAÇÕES
Deve-se ter em mente que existem algumas contraindicações para a aplicação de
KinesioTaping, como o uso sobre celulites ativas, infecção na pele, feridas abertas e áreas de
metástase e deve ser utilizada com cuidado em condições clínicas como doença renal,
insuficiência cardíaca congestiva e alterações metabólicas ou doenças endócrinas (MOLLE,
2015).
Apesar de ser uma técnica fácil de ser utilizada, deve ser feita somente por um Médico
Veterinário com curso de capacitação, pois aplicadas de forma incorreta as fitas poderão ser
ineficazes, gerando desconforto no animal e podendo ainda causar ou agravar uma lesão
(MIKAIL, 2018).
REFERÊNCIAS
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