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Toxicologia – 4ª fase Maria Ed. Sborz Intoxicação medicamentosa é um tipo deste evento e representa a maior parte dos casos de intoxicação exógena no Brasil. A exposição excessiva a agentes químicos medicamentosos que levam à intoxica- ção pode ocorrer devido ao consumo de doses inadequadas, à inges- tão acidental, mas também pode ser ocasional, como em tentativas de suicídio. Os medicamentos benzodiazepínicos são utilizados como ansiolíticos, anticonvulsivantes e sedativos, tendo alta incidência de uso caracte- rizando a prescrição de cerca de 50% dos psicotrópicos. Consequen- temente, os casos de intoxicação por esta classe de medicamentos são uma das maiores causas de intoxicação medicamentosa no Brasil, evidenciando o alto risco de consumo de doses acidentais e tentativas de suicídio por tais drogas. Baixa letalidade (em torno de 10/ano), mas é muito comum, tendo mais de mil casos anuais em SC. Hipnóticos são fármacos que induzem o início e a manutenção do sono, embora ainda assim o paciente se mantenha facilmente des- pertável. Sedativos, por sua vez, são fármacos que reduzem a ansi- edade e acalmam o paciente. Classificação Curta Duração (t ½ < 6 h) Midazolam – utilizado como pré-anestésico em razão do seu efeito amnésico. Além disso, é importante para procedimentos ambulatori- ais para garantir que, ao fim do procedimento, o paciente não tenha mais efeito remanescente. Também é utilizado como ansiolítico e an- ticonvulsivante além de diminuir a resistência vascular periférica e a pressão arterial, enquanto aumenta a frequência cardíaca. Média Duração (t ½ 6 – 24 h) Clonazepam – muito usado no controle de crises epiléticas, além de transtornos de humor e adjuvantes na depressão. Alprazolam – prescrito em transtornos de ansiedade e de pânico. No entanto, pode precipitar crises de mania e raiva em pacientes que apresentam distúrbios de personalidade ou histórico de abusos de álcool e outras drogas ilícitas. Longa Duração (t ½ > 24 h) Lorazepam – é indicado nos transtornos de pânico e ansiedade, além de medicação pré-anestésica, sendo administrado no dia anterior ou horas antes do procedimento. Diazepam – utilizado como ansiolítico. Seu metabólito ativo (nordiaze- pam) apresenta meia vida de 100 horas, sendo, portanto, o benzo- diazepínico com maior duração de efeito. O aumento da frequência cardíaca e a queda da pressão arterial por ele acarretados são se- cundárias à queda do trabalho ventricular esquerdo, bem como do volume de ejeção. Mecanismo de ação Ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAa presente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. (ácido y-aminobutírico). O receptor GABAa possui uma estrutura pentamérica organizada a partir de cinco subunidades (apresentando, cada uma delas, quatro domínios que atravessam a membrana) selecionadas a partir de múl- tiplas classes polipeptídicas (alfa, beta e gama). Os benzodiazepínicos atuam seletivamente nos receptores GABAa que medeiam a transmissão sináptica inibitória através do sistema nervoso central. Os benzodiazepínicos aumentam a resposta do GABA ao facilitar a abertura dos canais de cloro ativados pelo GABA Eles se ligam especificamente a um ponto regulador do receptor, distinto dos pontos do GABA e atuam alostericamente para aumentar a afinidade do GABA pelo receptor. E, como a membrana externa é mais positiva e a interna é mais negativa, por meio dessa diferença de concentração, vai entrar mais cloreto na célula, deixando o meio Toxicologia – 4ª fase Maria Ed. Sborz interno muito mais negativo, hiperpolarizando e impedindo as sinapses gabaérgicas. Os benzodiazepínicos não afetam os receptores para outros amino- ácidos, tais como a glicina ou o glutamato Os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica em todos os níveis do neuroeixo, incluindo a medula espinal, o hipotálamo, o hi- pocampo, a substância negra, o córtex cerebelar e o córtex cere- bral. Os benzodiazepínicos parecem aumentar a eficiência da inibição sináptica GABAérgica. O GABA atua nas subunidades beta e alfa de seu receptor, enquanto os benzodiazepínicos atuam nas subunidades alfa e gama. GABA Age nos receptores de membrana pós-sinápticos a partir de canais de Cloreto, inibindo o potencial de ação pois o cloreto entra na célula por diferença de concentração (tem mais fora da célula). Assim, a membrana fica muito mais negativa, ocorrendo uma hiperpolarização e impedindo o potencial de ação. Glutamato O potencial de ação inicial (em repouso) é negativo, aí ocorre uma despolarização da carga da membrana, invertendo a carga a partir da abertura de um canal de sódio. Isso aumenta o limiar, fazendo com que o glutamato seja liberado na fenda pós-sináptica, ativando um receptor inotrópico permeável a sódio no neurônio pós-sináptico, dando início ao potencial de ação, despolarizando a membrana e ati- vando o neurônio pós-sináptico. Dose tóxica Variável, em geral são medicações seguras com índice te- rapêutico alto; A ingestão de doses relativamente altas em usuários crô- nicos pode não produzir efeitos preditíveis devido ao de- senvolvimento de tolerância. Quadro clínico Crises convulsivas: hiperexcitabilidade do SNC, por mais ação excita- tória do glutamato ou diminuição da ação inibitória do GABA. Ocorre um desequilíbrio. Após muita excitação, os neurônios podem sofrer apoptose. Inconsciência e dificuldade para respirar: pela potencialização do GABA, haverá uma depressão do funcionamento dos órgãos, ação mio relaxante (fechamento dos canais de cálcio), diminuição do centro respiratório... PA diminuída: O automatismo cardíaco e o SNA são comandados por neurotransmissores e influenciam na pressão arterial. Sendo assim, por inibição deles, pode diminuir a PA. Além disso, o GABA tem ação vasodilatadora. FC diminuída: Os barorreceptores captam a diferença de pressão dentro dos vasos e estimula o sistema nervoso simpático para ter aumento da FC, compensando o débito cardíaco que está baixo quando temos hipotensão. Hipotermia: estímulo do GABA no centro pré-óptico regulador de temperatura do hipotálamo. Glasgow: 13-15 trauma leve; 9-12 trauma moderado; 3-8 trauma grave (intubação). Diagnóstico Clínico Baseado na história de exposição ao agente e no exame físico aten- tando para os sintomas citados nas manifestações clínica. Complementar Laboratorial específico: Podem ser realizadas análises qualitativas (sérica e urinária) para a detecção de benzodiazepínicos, porém não são sensíveis para todas as substâncias. Portanto, um teste negativo não exclui a intoxicação. Laboratorial geral: Monitorar ECG, eletrólitos, função hepática, fun- ção renal, hemograma, glicemia, RX ou TC de crânio (na suspeita de trauma). Tratamento Medidas de suportivas: Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio suplementa quando necessário; Monitorizar sinais vitais; Obter acesso venoso calibroso e coletar amostras biológi- cas para exames de rotina e toxicológico; Hidratação adequada para assegurar boa eliminação renal. Descontaminação: administrar carvão ativado 1 g/Kg; lavagem gás- trica não é necessária nas pequenas e moderadas ingestões se o carvão puder ser administrado rapidamente. Para tratar epilepsia: Buscar o equilíbrio, bloqueando a ação excita- tória do glutamato ou potencializando a ação inibitória do GABA. Assistência ventilatória: provavelmente terá que ser intubado Toxicologia – 4ª fase Maria Ed. Sborz Administrar soro: aumentar volume para corrigir a queda de PA. A Hidratação também é importante para favorecer a eliminação renal e auxiliar na metabolização hepática. Hipotermia: medidas físicas com cobertas Hipotensão: administração de solução salina; raramente é necessário o uso de drogas vasoativas Antídoto: flumazenil. Ele compete pelo sítio do BZD, tirando todo o “freio” do SNC. É contraindicadopara pacientes epilépticos e que fazem tratamento crônico com antidepressivos tricíclicos e com BZD, pois o cérebro precisa se reajustar antes e fazer um desmame farmacológico para não desenvolver um quadro de abstinência, po- dendo precipitar crises convulsivas graves. A dose inicial é de 0,1 a 0,2 mg IV em 15 a 30 segundos e repetida conforme a necessidade até a quantidade máxima de 1 mg. A meia- vida do flumazenil é de apenas 1 a 2 horas, em casos gaves poderá ser necessária infusão contínua de 0,1 a 1 mg/h. Se o paciente faz uso do BZD junto com álcool ou outra droga opioide, depressores do SNC, pode prejudicar muito o prognóstico
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