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Universidade Federal da Paráıba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Graduação em Matemática A equação da onda Aline de Araújo Maia João Pessoa – PB Novembro de 2017 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4453503D3 Universidade Federal da Paráıba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Graduação em Matemática A equação da onda por Aline de Araújo Maia sob a orientação do Prof. Dr. Fágner Dias Araruna João Pessoa – PB Novembro de 2017 M217e Maia, Aline de Araújo. A equação da onda / Aline de Araújo Maia. - João Pessoa, 2017. 74 f. : il. Orientação: Araruna, Fágner Dias. Monografia (Graduação) - UFPB/CCEN. 1. Séries de Fourier. 2. Equação da onda. 3. Corda vibrante. I. Araruna, Fágner Dias. II. Título. UFPB/BC Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação Scanned by CamScanner Dedico este trabalho a minha famı́lia, em especial aos meus pais Ana Maria (in memoriam) e Manoel Alves, que sem- pre acreditaram em mim e fizeram o posśıvel pela minha educação. “Porque Dele e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.” Romanos 11:36 v Agradecimentos A Deus, pois Nele vivemos, nos movemos e existimos, Ele é a fonte de todo o conhecimento e ajuda aqueles que o buscam. Aos meus pais, Ana Maria (in memoriam) e Manoel Alves, por estarem incondi- cionalmente ao meu lado, me criando no caminho da retidão e sempre influenciando meu interesse pelo conhecimento. Aos meus avós, Maria da Glória, Isaac Araújo (in memoriam), Eunice Maia (in memoriam) e Antônio Amaro (in memoriam), por ofe- recerem um ambiente de amor e atenção especialmente na minha infância. Aos meus tios, em especial minhas tias Zenaide Maria e Joanita Maria, que cuidaram de mim após o falecimento da minha mãe. Ao meu orientador, Prof. Dr. Fágner Dias Araruna, por toda a contribuição e aux́ılio para o meu desenvolvimento não só acadêmico, mas também enquanto ser humano. Aos professores membros da banca examinadora, Prof. Dr. Damião Júnio Gonçalves Araújo e Prof. Dr. Uberlandio Batista Severo, por aceitarem o convite de participarem deste momento importante. Aos meus colegas do laboratório Milênio, a destacar, Thiago Luiz, Raoni, Mariana, Cássio, Angélica, Raiza, José Ribeiro, Esaú, Julian, Douglas, Marcelo, José Carlos, Richardson, Moisés, Josenildo, Suelena, Victor, Leon e Wendel, pelos momentos de estudo e brincadeiras compartilhados. A Liana Coliselli e Karoline Medeiros, minhas amigas e conselheiras. A todos os colegas da Cru Campus, na pessoa de Shirley Mesquita, pela comunhão no campus e fora dele, e pela vivência cristã neste local. Seguramente posso chamá-los de irmãos. A todos das igrejas Batista em Ferreiros e Luterana, que me auxiliaram com orações e apoio espiritual. Resumo Neste trabalho, focamos o nosso estudo na equação da onda. Apresentamos inicial- mente conceitos básicos referentes a Equações Diferenciais Parciais (EDPs) e a Teoria das séries de Fourier. Em seguida, lidamos com a dedução f́ısica e resolução desta equação. Discutimos diversos problemas de valores iniciais e de fronteira, tais como: o da corda com extremidades fixas, da corda dedilhada, da corda infinita e da corda semi-infinita. Além disso, nos dois últimos, encontramos a solução de D’Alembert. Na abordagem desses problemas, tivemos a oportunidade de tratar não só de conceitos matemáticos mas também de f́ısicos relacionados a este tema. Palavras-chave: Séries de Fourier, Corda vibrante, Equação da onda. Abstract In this work, we focus our study in wave equations. We present incially basic concepts of Partial Di↵erentials Equations (PDEs) and Theory of Fourier series. In the following, we deal with the physic dedution and also the resolution of this equation. We treat several problems of inicial value and boundary conditions such as: the problem of the string with fixed extremeties, the figering string, the infinity string and semi-infinity string. Additionally, in the last two ones, we have found a solution of D’Alembert type. In the approach of this problems, we had the opportunity of treating not just with mathematical concepts but also with physical related topics to this theme. Keywords: Fourier Series, Vibrating String, Wave Equation. Sumário Introdução 1 1 Preliminares 3 1.1 Sobre equações diferenciais parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.1.1 Condições de fronteira e iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2 Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2.1 Convergência da série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2 Equação da onda 13 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 Nota histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3 Dedução f́ısica da equação da corda vibrante . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.4 Exemplos da equação da onda e diferentes condições iniciais e de fronteira 19 2.5 Resolução da equação da onda por séries de Fourier . . . . . . . . . . . 21 2.6 Energia da corda vibrante e unicidade de solução . . . . . . . . . . . . 30 2.6.1 Interpretação f́ısica das fórmulas da energia cinética (2.33) e po- tencial (2.34) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.7 Harmônicos, frequência e amplitude de uma onda estacionária . . . . . 36 2.7.1 Partes de uma onda estacionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.7.2 A energia do n-ésimo harmônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.8 A corda dedilhada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 2.9 Vibrações forçadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.10 A corda infinita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.10.1 Solução generalizada da equação da onda . . . . . . . . . . . . . 45 2.10.2 Fórmula de D’Alembert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 2.10.3 Inferências a respeito da fórmula de D’Alembert . . . . . . . . . 48 2.10.4 Corda infinita dedilhada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 2.10.5 A integral da energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 2.10.6 Unicidade de solução estrita do problema de Cauchy . . . . . . 57 ix 2.10.7 Continuidade da solução do problema de Cauchy com os dados iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 2.10.8 O problema de Cauchy não-homogêneo . . . . . . . . . . . . . . 58 2.11 A corda semi-infinita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 2.11.1 Comentários a respeito de (2.73) . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Referências Bibliográficas 63 x Notações A seguir, listamos algumas notações utilizadas neste trabalho. • @f @x ou f x denotam que a função f foi derivada com relação a variável x; • K, c, c 1 , c 2 , . . . denotam constantes positivas, possivelmente deferentes; • Ck(⌦) denota o conjunto das funções de classe Ck definitas em um subconjunto ⌦ 2 Rn; • R denota o conjunto R = {(x, t) 2 R2; 0 < x < L; t > 0} ; • R̄ denota o fecho do conjunto R . xi Introdução A teoria das Equações Diferenciais Parciais (EDPs) é um campo de estudo da matemática amplamente explorado por outras áreas da ciência, tendo suas origens no cálculo diferencial e integral com motivação em problemas oriundos da f́ısica, biologia, ciências econômicas, entre outras. Nos últimos três séculos, esta teoria tem conquistado espaço significativo tanto na matemática pura, sendo considerada parte vital da análise, quanto na matemática aplicada, onde tem se mostrado uma importante ferramenta. Tais equações são utilizadas para modelar fenômenos que dependam da posição, do tempo ou outrasvariáveis. Muitas leis da natureza encontram nas EDPs uma liguagem objetiva para sua expressão, como por exemplo, problemas de eletrodinâmica, difusão do calor e propagação de ondas. Entre estes, está o famoso problema de vibrações de cordas elásticas, que se reduz na obtenção de uma solução para uma equação diferencial parcial, conhecida como a equação da onda unidimensional. Neste trabalho, estudaremos a equação da onda unidimensional de forma detalhada, desde a sua dedução f́ısica até problemas de valores iniciais e de fronteira ligados à mesma, utilizando como principal referência o livro [2]. É interessante frisar que o problema tratado neste trabalho tem grande contribuição histórica para a matemática, pois foi um dos debates cient́ıficos mais importantes do século XVIII. Diversos matemáticos famosos como D’Alembert, Daniel Bernoulli, Euler e Lagrange se debruçaram para resolvê-lo. Foram obtidas soluções de diversas formas, que geraram discussões a respeito de assuntos importantes como o conceito de função. Muitos destes debates perduraram até o ińıcio do século XIX, trazendo grandiosas contribuições para a matemática da época e embasando teorias futuras. Este trabalho está dividido em dois caṕıtulos. No Caṕıtulo 1 começaremos com conceitos básicos e, em seguida, de maneira sucinta, mencionaremos alguns resultados pertencentes à teoria de séries de Fourier. Iniciaremos o Caṕıtulo 2, o principal deste texto, com uma breve introdução à ondas e, em seguida, apresentaremos uma nota histórica referente ao problema da corda vibrante. Em seguida, faremos a dedução f́ısica da equação da onda unidimensional, 1 usando como ferramenta o prinćıpio fundamental da dinâmica. Considerando o problema da corda vibrante, também mostraremos a resolução da equação utilzando o método de Fourier. Na sequência, apresentaremos um teorema que valida a solução encontrada. Abordaremos também diferentes problemas de valores iniciais e de fronteira, dentre eles a corda com extremidades fixas, a corda dedilhada, a corda infinita ou problema de Cauchy- de onde obteremos a fórmula de D’Alembert-e, finalmente a corda semi-infinita. Dentre tais problemas de valores iniciais e de fronteira, também poderemos analisar a energia da corda vibrante, harmônicos, frequência e amplitude de uma onda estacionária, que são temas de cunho mais f́ısico. 2 Caṕıtulo 1 Preliminares Neste caṕıtulo destacaremos informações importantes para a compreensão de afir- mações e teoremas usados nesta monografia. Essencialmente, partiremos da explanação acerca do conceito de equações diferenciais parciais e das condições iniciais e de fron- teira; posteriormente falaremos da teoria de séries de Fourier, sobre a definição e também sobre sua covergência pontual e uniforme. Tal teoria é impresćındivel à ob- tenção de uma solução para a equação que é tema deste trabalho, a equação da onda. 1.1 Sobre equações diferenciais parciais Uma Equação Diferencial Parcial (EDP) é uma equação envolvendo duas ou mais variáveis independentes x, y, w, ...; e derivadas parciais de uma função (variável depen- dente) u = (x, y, w, ...). De maneira mais precisa, uma EDP em n-variáveis indepen- dentes x 1 , ..., x n é uma equação da forma F ✓ x 1 , ..., x n , @u @x 1 , ..., @u @x n , @2u @x 1 @x n , ..., @ku @xk n ◆ = 0, (1.1) onde x = (x 1 , ..., x n ) 2 ⌦, ⌦ é um subconjunto aberto do Rn, F é uma função dada e u = u(x) é a função que queremos determinar. A ordem de uma EDP é dada pela derivada parcial de maior ordem. Uma EDP é dita linear se é de primeiro grau em u e em todas as derivadas parciais que ocorrem na equação; caso contrário, diremos que é não linear. A forma mais geral de uma EDP linear de primeira ordem é nX i,j=1 a ij (x) @u @x j + b(x)u+ c(x) = 0. (1.2) 3 1. Preliminares Para equações de segunda ordem a forma mais geral é dada por nX i,j=1 a ij (x) @2u @x i @x j + nX j=1 b j (x) @u @x j + c(x)u+ d(x) = 0. (1.3) Dizemos que uma EDP linear é homogênea se o termo que não contém a variável dependente u é identicamente nulo. As condições que iremos tratar são válidas para equações diferenciais parciais linea- res de qualquer ordem, contudo iremos exemplificar com uma EDP de segunda ordem. Podemos reescrever (1.3) da seguinte forma: Lu = f. (1.4) onde f(x) = �d(x) e (Lu)(x) = P n i,j=1 a ij (x) @ 2 u @xi@xj + P n j=1 b j (x) @u @xj + c(x)u. Em (1.4), L é chamado de operador diferencial que é a função definida por L : C2(⌦) ! C(⌦) u 7! Lu, O resultado a seguir é conhecido como prinćıpio da superposição. Teorema 1.1. Seja L um operador linear diferencial parcial de ordem k cujos coefi- cientes estão definidos em um aberto ⌦ ⇢ Rn. Suponha que {u n } n2N é um conjunto de funções de classe Ck em ⌦ satisfazendo a EDP linear homogênea Lu = 0 e que {↵ n } n2N é uma sequência de escalares tal que a série 1X n=1 ↵ n u n é convergente e k vezes diferenciável termo a termo em ⌦. Então u satisfaz Lu = 0. A prova deste resultado encontra-se em [4, p. 10]. 1.1.1 Condições de fronteira e iniciais Quando impomos condições sobre o valor da solução e das suas derivadas no bordo da região ⌦ ⇢ Rn, onde a solução está definida, tais valores são chamados de condições de fronteira, dáı temos um problema de valores de fronteira. Quanto às condições iniciais, como temos mais de uma variável dependente em EDP, por exemplo, x e t, é comum fixarmos uma das variáveis (t = 0) e assim termos o valor da solução e de suas derivadas parciais em relação à variável fixa como função 4 1. Preliminares das outras variáveis, por exemplo, u(x, 0) = f(x) e u t (x, 0) = g(x), onde f e g são funções dadas. Problemas envolvendo condições de fronteira e condições iniciais serão chamados de problemas de valores iniciais e de fronteira, que abreviaremos com a sigla PV IF . 1.2 Séries de Fourier Nesta seção discorreremos a respeito da teoria de séries de Fourier, sob quais hipóteses uma função pode ser representada por uma série de Fourier, e também acerca da obtenção dos coeficientes de Fourier para esta, quando ela existir. Por fim, tratare- mos de teoremas que expliquem a convergência pontual e uniforme desta série. É importante ressaltar que os resultados aqui expressos serão apresentados de ma- neira sucinta, algumas demonstrações serão omitidas. Também é importante salientar que esta teoria serve como base para as conclusões obtidas no caṕıtulo principal mo- nografia, o caṕıtulo 2. Para iniciarmos a apresentação da teoria das séries de Fourier, vejamos as a de- finições a seguir. Definição 1.1. Uma função f : R ! R é dita periódica de peŕıodo T se f(x+T ) = f(x) para todo x. Definição 1.2. Seja f : R ! R uma função periódica de peŕıodo 2L, integrável e absolutamente integrável no intervalo [�L,L], isto é, R L �L |f(x)|dx < 1. Os números dados por a n = 1 L Z L �L f(x) cos ⇣n⇡x L ⌘ dx, n � 0, b n = 1 L Z L �L f(x)sen ⇣n⇡x L ⌘ dx, n � 1, (1.5) são chamados de coeficientes de Fourier da função f . Definição 1.3. Dada uma função f : R ! R periódica de peŕıodo 2L, integrável e absolutamente integrável no intervalo [�L,L], podemos calcular seus coeficientes de Fourier pelas expressões em (1.5). E, desta forma, podemos escrever f(x) ⇠ 1 2 a 0 + 1X n=1 ⇣ a n cos ⇣n⇡x L ⌘ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘⌘ . (1.6) Isto significa que a expressão do lado direito é a série de Fourier de f . O sinal ⇠ em (1.6) significa que nem sempre ocorre a igualdade, podendo ocorrer aproximações, e algo mais sério pode acontecer, que é o caso da série de Fourier divergir. 5 1. Preliminares Por isso, mais adiante, veremos condições suficientes para que a função f seja igual a sua sériede Fourier. Definição 1.4. Uma função f : R ! R será seccionalmente cont́ınua se tiver apenas um número finito de descontinuidades (todas de primeira espécie) em qualquer intervalo limitado. Em outras palavras, dados a < b, existem a a 1 < a 2 < ... < a n b, tais que f é cont́ınua em cada intervalo aberto (a j , a j+1 ), j = 1, ..., n � 1, e existem os limites f(a j + 0) = lim x!a+j f(x) e f(a j � 0) = lim x!a�j f(x). Definição 1.5. Uma função f : R ! R será seccionalmente diferenciável se for secci- onalmente cont́ınua e se a função derivada f 0 for também seccionalmente cont́ınua. Teorema 1.2. Teorema de Fourier Seja f : R ! R uma função seccionalmente diferenciável e de peŕıodo 2L. Então a série de Fourier da função f , dada em (1.6), converge, em cada ponto x para 1 2 [f(x+ 0) + f(x� 0)]. Estimativas dos coeficientes de Fourier Primeiramente, suponhamos que f seja uma função periódica de peŕıodo 2L, in- tegrável e absolutamente integrável, dáı utilizando a equação (1.5), e que as funções seno e cosseno são limitadas por um. Obtemos as seguintes estimativas para os cofici- entes a n e b n |a n | = ���� 1 L Z L �L f(x) cos ⇣n⇡x L ⌘ dx ���� 1 L Z L �L |f(x)|dx, |b n | = ���� 1 L Z L �L f(x)sen ⇣n⇡x L ⌘ dx ���� 1 L Z L �L |f(x)|dx. (1.7) Agora, usando a hipótese de f e |f | serem funções integráveis, podemos concluir a existência de uma constante M , tal que |a n | M e |b n | M, 8 n. Suponhamos agora que f seja periódica de peŕıodo 2L e também que seja derivável, e tal derivada f 0 seja integrável e absolutamente integrável. Então, integrando por partes as expressões em (1.5)e tomando valores absolutos obtemos |a n | 1 n⇡ Z L �L |f 0(x)|dx |b n | 1 n⇡ Z L �L |f 0(x)|dx. (1.8) 6 1. Preliminares Dáı, usando a hipótese que f é cont́ınua e f 0 tem derivada integrável e absolutamente integrável, temos a implicação de que existe uma constante M , tal que |a n | M n e |b n | M n , 8 n = 1, 2, ... (1.9) Finalmente, suponhamos que f seja periódica de peŕıodo 2L, com primeira deri- vada cont́ınua, e a segunda derivada integrável e absolutamente integrável. Com estas hipóteses, podemos melhorar as estimativas em (1.9). Para isto, realizamos mais uma integração por partes nas expressões em (1.7) e obtemos |a n | L n2⇡2 Z L �L |f 00(x)|dx, |b n | L n2⇡2 Z L �L |f 00(x)|dx. Portanto, através das nossas últimas hipóteses podemos concluir que |a n | M n2 e |b n | M n2 , 8 n = 1, 2, ... (1.10) 1.2.1 Convergência da série de Fourier Classes das funções consideradas Como vimos anteriormente, para definirmos coeficientes de Fourier e, consequente- mente, a série de Fourier de uma função f , foi necessário admitir algumas hipóteses sobre esta função, tais como periodicidade (f é de peŕıodo 2L), integrabilidade e in- tegrabilidade absoluta no intervalo [�L,L], onde a integral que estamos lidando é a integral de Riemann. Veremos agora resultados a respeito da convergência desta série. Definição 1.6. Uma função f será chamada L 1 se, e somente se, f e |f | forem integráveis. Convergência pontual da série de Fourier Neste ponto daremos condições suficientes sobre a função f de modo a grantir sua convergência num ponto fixado x para o valor f(x) ou em geral para 1 2 [f(x+0)+f(x� 0)]. Nosso objetivo é mostrar estimativas para e n (x) = s n (x)� f(x+ 0) + f(x� 0) 2 , 7 1. Preliminares onde s n (x) = 1 2 a 0 + nX k=1 h a k cos ⇣n⇡x L ⌘ + b k sen ⇣n⇡x L ⌘i . Inicialmente iremos escrever a soma parcial s n (x) de modo mais conveniente com o obje- tivo de majorar e n (x). Para que isto ocorra iremos usar as expressões dos coeficientes de Fourier em (1.5) e a identidade trigonométrica cos(a�b) = cos(a) cos(b)+sen(a)sen(b), para assim obter s n (x) = Z L �L 1 L " 1 2 + nX k=1 cos ✓ k⇡(x� y) L ◆ f(y)dy # . (1.11) Antes de prosseguirmos, atentemos para a seguinte definição: Definição 1.7. O núcleo de Dirichlet é a expressão D n (x) = 1 L 1 2 + nX k=1 cos ✓ k⇡x L ◆! . (1.12) Propriedades do Núcleo de Dirichlet i) D n (x) é uma função cont́ınua; ii) Usando relações de ortogonalidade, temos Z L �L D n (x)dx = 1; iii) D n (x) é uma função periódica de peŕıodo 2L; iv) D n (0) = (n+ 1 2 ) L ; v) Vale a seguinte expressão para D n (x), com x 6= 0,±2,±4, ... D n (x) = 1 2L sen ⇣ (n+ 1 2 )⇡x L ⌘ sen � ⇡x 2L � . Voltando para a expressão (1.11), usando (1.12) e fazendo a mudança de variável y = x� t, obtemos s n (x) = Z L �L D n (x� y)f(y)dy = Z L+x �L+x D n (t)f(x� t)dt. Dispondo que D n e f são periódicas de peŕıodo 2L e que D n é par, podemos escrever s n (x) = Z L 0 D n (t)[f(x+ t) + f(x� t)]dt. (1.13) 8 1. Preliminares De (1.13) temos que a expressão e n , para a qual queremos estimativas, ganha a forma e n (x) = Z L 0 D n (t)g(x)dt, (1.14) com g(x) = [f(x+ t)� f(x+ 0)] + [f(x� t)� f(x� 0)]. O lema a seguir é um importante resultado que é usado na demonstração do Teste de Dini, teorema que fala da convergência pontual da série de Fourier. Lema 1.3. (Lema de Riemann-Lebesgue) Seja f : [a, b] ! R uma função L 1([a, b]). Então lim t!1 Z b a f(x)sen(tx)dx = 0, lim t!1 Z b a f(x) cos(tx)dx = 0. (1.15) A prova deste lema encontra-se em [2, p. 56]. De posse deste lema, enunciemos um resultado referente à convergência da série de Fourier no ponto x. Teorema 1.4. (Teste de Dini) Seja f : R ! R uma função periódica de peŕıodo 2L e L 1([�L,L]). Fixado x em [�L,L], suponha que f(x + 0) e f(x � 0) existam e que exista ⌘ > 0 tal que Z ⌘ 0 ���� g(x, t) t ���� dt < 1. (1.16) Então e n (x) ! 0, ou seja, s n (x) ! [f(x+0)+f(x�0)] 2 , quando n ! 1. Demonstração. Para fazermos esta demonstração, iremos decompor a função e n (x) em duas partes e n (x) = Z � 0 tD n (t) g(x, t) t dt+ Z L � sen ✓ n+ 1 2 ◆ ⇡t L � g(x, t) 2Lsen � ⇡t 2L �dt. A primeira integral ficará pequena desde que se tome � convenientemente pequeno e usando a hipótese em (1.16). Já no caso da segunda integral, usaremos o lema 1.4. Como |tD n (t)| t 2Lsen � ⇡t 2L � , (1.17) e como a função do lado direito de (1.17) é crescente e cont́ınua no intervalo [0, L], conseguimos a seguinte estimativa: |tD n (t)| 1 2 para t 2 [0, L]. 9 1. Preliminares Portanto, dado " > 0, tomamos � < min(L, ⌘), tal que ���� Z � 0 tD n (t) g(x, t) t dt ���� 1 2 Z � 0 ���� g(x, t) t ���� dt < " 2 . Tal desigualdade é posśıvel por causa da hipótese (1.16). Com esse � fixado, olhemos para a segunda integral a fim de aplicar o Lema 1.4. Para isto, basta verificar que a função h(t) = g(x, t) 2Lsen � ⇡t L � , t 2 [�, L], é integrável, o que é decorrente do fato do denominador nunca se anular em [�, L] e g ser integrável. Dáı, para n suficientemente grande ����� Z L � sen ✓ n+ 1 2 ◆ ⇡t L � g(x, t) 2Lsen � ⇡t 2L �dt ����� < " 2 , assim concluindo a demonstração. Desigualdades A desigualdade de Bessel é dada por a2 0 2 + 1X k=1 (a2 k + b2 k ) 1 L Z L �L |f(x)|2dx. (1.18) Sejam a = (a 1 , ..., a n ) e b = (b 1 , ..., b n ) dois vetores do Rn. A desigualdade de Cauchy-Schwarz para vetores do Rn tem a seguinte forma: ����� nX j=1 a j b j ����� nX j=1 a2 j ! 1 2 nX j=1 b2 j ! 1 2 . (1.19) Uma outra desigualdade importante é a seguinte: " nX j=1 (a j + b j )2 # 1 2 nX j=1 a2 j ! 1 2 + nX j=1 b2 j ! 1 2 , (1.20) conhecida como a desigualdade triangular ou desigualdade de Minkowski. 10 1. Preliminares Convergência uniforme da série de Fourier Neste tópico apresentaremos condições suficientes sobre a função f periódica de péŕıodo 2L, de modo que estas garantam a convergência uniforme de sua série de Fourier. Vejamos os resultados aseguir. Teorema 1.5. (Primeiro teorema da convergência uniforme da série de Fou- rier) Seja f uma função periódica de peŕıodo 2L, cont́ınua e com derivada primeira de quadrado integrável. Então, a série de Fourier de f converge uniformemente para f . Demonstração. Vejamos, em primeiro lugar, que ���a n cos ⇣n⇡x L ⌘��� |a n | e ���b n sen ⇣n⇡x L ⌘��� |b n |, e consideremos a série numérica 1X n=1 (|a n |+ |b n |). (1.21) Usando a estimativa feita sobre os coeficientes de Fourier em (1.10), que diz que caso a função f tenha derivada primeira continua e derivada segunda uma função L 1, então a série numérica em (1.21) é majorada pela série M P1 n=1 1 n 2 , a qual é uma série convergente. Entretanto, podemos demonstrar a convergência de (1.21) sem impor tantas restrições sobre a função f . Suponhamos que f seja uma função cont́ınua e que a sua derivada primeira seja uma função L 2. Usando as relações em (1.8), conclúımos a n = �L n⇡ b0 n , b n = L n⇡ a0 n ; onde a0 n e b0 n designam os coeficientes de Fourier de f 0. Dáı a reduzida de ordem n da série (1.21) pode ser escrita nX j=1 (|a j |+ |b j |) = L ⇡ nX j=1 1 j (|a0 j |+ |b0 j |), (1.22) que é majorada por L ⇡ nX j=1 1 j2 ! 1 2 " nX j=1 (|a0 j |+ |b0 j |)2 # 1 2 , (1.23) onde utilizamos a desigualdade de Cauchy-Schwarz no Rn. Em seguida, iremos usar a desigualdade (|a|+ |b|)2 2(a2 + b2), que é a desigualdade de Cauchy-Schwarz no R2, 11 1. Preliminares no segundo somatório em (1.23). Dáı obtemos a seguinte majoração para (1.22) p 2L ⇡ nX j=1 1 j2 ! 1 2 " nX j=1 (|a0 j |2 + |b0 j |2) # 1 2 . Finalmente, a série em (1.21) é majorada por p 2L ⇡ 1X n=1 1 n2 ! 1 2 " 1X j=1 (|a0 j |2 + |b0 j |2) # 1 2 , onde ambas as séries convergem, a segunda devido a desigualdade de Bessel. Teorema 1.6. (Segundo teorema sobre convergência uniforme da série de Fourier) Seja f periódica de peŕıodo 2L, seccionalmente cont́ınua e tal que sua de- rivada primeira seja de quadrado integrável. Então, a série de Fourier de f converge uniformemenre para f em todo intervalo fechado que não contenha pontos de descon- tinuidade de f . A prova deste teorema encontra-se em [2, p. 70]. 12 Caṕıtulo 2 Equação da onda Nossos objetivos neste caṕıtulo são deduzir e estudar a equação da onda através da aplicação de conceitos f́ısicos, abordar métodos de resolução desta equação utilizando a teoria de séries de Fourier, verificar a existência e a unicidade das soluções encontradas, e também a resolver alguns problemas de valor incial para equação da onda, dentre eles o problema de Cauchy. 2.1 Introdução No campo da f́ısica clássica, ondas e part́ıculas são dois grandes conceitos, ambos concentrando quase todos os ramos desta ciência. Embora sejam iguais em importância, as definições de onda e part́ıcula que apresentam diferem entre si. Quando nos referimos à palavra part́ıcula, esta tem o significado de uma dimi- nuta quantidade de matéria capaz de transmitir energia; quando falamos de ondas, tal conceito se refere a uma distribuição ampla de energia que vai preenchendo o espaço por onde passa. Neste trabalho, destinaremos nossa atenção às ondas, para, assim, trabalharmos com a equação que as descreve. Existem três tipos principais de ondas, a saber, ondas mecânicas, eletromagnéticas e materiais. As ondas mecânicas são as que se propagam exclusivamente em meios materiais e são governadas pelas leis de Newton; são bastante comuns e encontradas facilmente no cotidiano, como, por exemplo, ondas do mar, ondas śısmicas e ondas sonoras. As ondas eletromagnéticas são as que resultam da combinação de campos elétricos e magnéticos. Tais ondas não exigem um meio material para se propagarem, isto é, podem se propagar no vácuo; no dia a dia, as ondas eletromagnéticas estão presentes nos raio X, microondas, raios ultravioletas etc. As ondas materiais são associadas com elétrons, prótons e outras part́ıculas funda- 13 2. Equação da onda mentais, e até mesmo átomos e moléculas. Estas são as menos comuns, e são, em sua maioria, encontradas em tecnologias modernas e no campo quântico. O que discutiremos neste caṕıtulo se refere as ondas mecânicas. Utilizaremos aqui a segunda lei de Newton para deduzirmos a equação diferencial parcial que as representa. 2.2 Nota histórica Os matemáticos do século XVIII se debruçaram sobre problemas dif́ıceis ligados ao campo da f́ısica, dentre os quais um dos mais famosos é o problema da corda vibrante. Estes estudiosos tiveram que desenvolver intensamente o instrumental matemático já existente para que tal pudesse ser utilizado na resolução deste problema. Como veremos neste caṕıtulo, o problema de vibração de cordas se reduz a encontrar uma solução para a equação u tt = c2u xx , conhecida como equação da onda. A equação foi estudada e derivada pela primeira vez por D’Lambert em 1746. Tal problema também atraiu a atenção de diversos matemáticos, como Euler (1748), Daniel Bernoulli (1755) e Lagrange (1759). Os dois primeiros chegaram à conclusão de que a solução deveria ser da forma u(x, t) = F (x+ ct) +G(x� ct), onde F e G são funções reais. Já Bernoulli chegou à expressão u(x, t) = 1X n=1 a n sen(nx)cos(nct), quando a corda de comprimento ⇡ vibra por uma pertubação da sua posição de repouso. Os méritos entre essas soluções foram dicutidos de forma acalorada numa série de debates que perduraram por mais de vinte e cinco anos. Entre os pontos principais destas discussões estava o que diz respeito à natureza de uma função, já que o conceito de função como entendemos hoje não estava formulado de maneira concreta naquela época. Também entre as discussões estavam os tipos de funções que poderiam ser representadas por séries trigonométricas. Tais questões não foram resolvidas até o século XIX. Na época de Euler havia duas classes de funções, a saber, as cont́ınuas, que eram as que podiam ser expressas por uma equação entre x e y, e as geométricas, que eram todas aquelas que podiam ser traçadas a mão livre. Admitia-se também que a classe 14 2. Equação da onda de funções cont́ınuas era menor que a classe de funções geométricas, porque uma linha partida não era considerada uma função cont́ınua no sentido da época, e sim várias funções. Essencialmente as soluções propostas por D’Lambert e Euler eram as mesmas, mas a diferença estava no significado de função em cada caso. No caso de Euler admitia-se quaisquer funções geométricas para os dados iniciais; D’Lambert, por sua vez, tomava apenas funções cont́ınuas para esta posição. Bernoulli dizia que a sua solução era absolutamente geral e que continha as dadas por D’Lambert e Euler, porém, Euler contestava que isto era imposśıvel, pois se a função fosse escrita como uma série de senos, isso implicaria que ela era periódica e ı́mpar, e a ideia de que uma expressão anaĺıtica representasse uma função em um intervalo não era aceita na época. Em 1759, Lagrange mostrou que a solução da equação da onda para uma corda de comprimento 1, quando a posição inicial é dada por f(x) e a velocidade inicial por g(x) é da seguinte forma: u(x, t) = 2 Z 1 0 1X n=1 senn⇡y cosn⇡ctf(y)dy + 2 Z 1 0 1 n senn⇡y senn⇡x senn⇡ctdy, e dessa forma ele conseguiu representar a expressão na forma prevista por Euler. Foi tarefa de Fourier (1811) explicitar os coeficientes e escrever a série de senos e cossenos de várias funções. Ele afirmou que qualquer função poderia ser representada pela série que recebeu o seu nome e, apesar disso não ser verdade, recebeu as glórias de ter apresentado a forma da série que deveria representar a função. Todas estas contribuições levaram à consolidação damoderna teoria das séries de Fourier, e dessa forma a matemática pode ser desenvolvida para que, assim, o problema de pequenas vibrações de uma corda pudesse ser finalmente solucionado. 2.3 Dedução f́ısica da equação da corda vibrante Por corda entenderemos um fio fino perfeitamente flex́ıvel, isto é, que não apresente resistência ao ser dobrado. Iremos estudar o problema de pequenas vibrações trans- versais de uma corda, e tal fenômeno será localizado num plano (x, u). Iremos, ainda, supor que a corda vibre em torno da sua posição de repouso ao longo do eixo x. Por transversal, entenderemos a oscilação que se realiza em um plano que contém o eixo dos x e em que cada part́ıcula que compõe a corda se desloca perpendicularmente a esse eixo. 15 2. Equação da onda Figura 2.1: Vibrações transversais Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ondas_transversais Representaremos por u(x, t) o deslocamento de cada ponto x da corda no instante t, partindo da posição de equiĺıbrio. Para deduzirmos a equação diferencial parcial a qual a função u(x, t) deve satisfazer, utilizaremos a segunda lei de Newton, também conhecida como o prinćıpio fundamental da dinâmica, que nos diz: “A derivada com relação ao tempo da quantidade de movimento é igual a soma das forças aplicadas”. É necessário perceber que as grandezas f́ısicas envolvidas nessa lei são vetoriais, isto é, dependem da direção e do sentido dos vetores, de modo que, ao apicá-la, estaremos atentos a este fato. No modelo com qual trabalharemos, consideraremos o sistema mecânico constitúıdo por um trecho arbitrário da corda entre dois pontos x = a e x = b. Chamaremos de ⇢(x, t) a densidade linear da corda, que é dada pela massa dividida pelo comprimento. Como estamos supondo que as part́ıculas que constituem a corda se deslocam trans- versalmente através de pequenas vibrações, vemos que a massa não se altera ao longo do tempo, concluindo assim que a densidade linear não dependerá de t. Devido a isto, denotaremos a densidade linear da corda por ⇢(x). Portanto, a quantidade de movimento da corda entre os pontos x = a e x = b é dada por M(t) = Z b a ⇢(x)u t (x, t)dx, (2.1) onde u t (x, t) designa a velocidade do ponto x da corda no instante t. A integral na expressão (2.1) é devido a velocidade não ser necessariamente constante em todos os pontos da corda, logo, a quantidade de movimento deve ser a soma infinitesimal da densidade vezes a velocidade do trecho que estamos trabalhando. A hipótese da vibração transversal também nos leva a concluir que não há compo- nente de velocidade no eixo x, pois, como dito, as part́ıculas constituintes da corda se movem no sentido normal a x, logo, existe componente de velocidade apenas no eixo u. 16 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ondas_transversais 2. Equação da onda Existem dois tipos de força a serem considerados. O primeiro tipo se refere à ação do resto da corda sobre o trecho entre a e b, a que chamamos de forças de tensão na direção das retas tangentes ao ponto a e b, são F a e F b respectivamente. E representaremos por f(a, t) e f(b, t), respectivamente, as intensidades destas forças. Na ilustração abaixo, podemos observar graficamente a representação destas forças Figura 2.2: Forças de tensão Fonte: [2, p. 131] onde ✓ a e ✓ b correspondem aos ângulos das retas tangentes à corda com eixos x = a e x = b, respectivamente. Usando a segunda lei de Newton, que foi enunciada anteriormente, e lembrando que não existe quantidade de movimento na direção do eixo x, devido a ausência da componente de velocidade neste eixo, temos: X i ~F i = @ ~M @t (2.2) Como foi dito, nesta lei estamos lidando com grandezas vetoriais, logo, existem duas componentes posśıveis, a saber, a no sentido u e a no sentido x, as quais são represen- tadas da seguinte forma: X i ~f ix = @ ~M x @t X i ~f iu = @ ~M u @t (2.3) Olhando para a componente x, e lembrando que não há quantidade de movimento nesta direção, conclúımos que X i ~f ix = 0. (2.4) Além disso, veja na Figura 2.2 que F a e F b estão na mesma direção, que é a do eixo x, porém em sentidos opostos. Dáı, como em (2.4) o somatório destas componente é 17 2. Equação da onda zero, conclúımos que estas forças possuem componentes iguais, logo f(b, t)cos(✓ b ) = f(a, t)cos(✓ a ), (2.5) de onde comprovamos que a componente horizontal da tensão é independente do ponto x e é função apenas do tempo t. Por este motivo, para representá-la, usaremos a notação ⌧(t). Podemos, então, ver que a resultante vertical das forças de tensão que atuam sobre o trecho da corda entre os pontos x = a e x = b, é ⌧(t)tg(✓ b )� ⌧(t)tg(✓ a ). (2.6) Enxergando a derivada com relação a x como a inclinação da reta tangente, temos que a expressão (2.6) se torna ⌧(t)u x (x, t)/x=b x=a . (2.7) E supondo que a função u(x, t) possui segunda derivada integrável, temos, pelo teorema fundamental do cálculo, que Z b a ⌧(t)u xx (x, t)dx. (2.8) Em segundo lugar, além das forças de tensão, nosso sistema pode estar sujeito à ação de forças externas, dentre elas a gravidade, a resistência ao movimento, e forças que tendem a retornar a corda para o seu estado de equiĺıbrio. Chamaremos de h 1 (x, t) a densidade linear destas forças ao longo da corda, e utilizaremos novamente a segunda lei de Newton, como também as expressões (2.1) e (2.8) para obter d dt ✓Z b a ⇢(x)u t (x, t)dx ◆ = Z b a ⌧(t)u xx (x, t)dx+ Z b a h 1 (x, t)dx. (2.9) Supondo que u tt (x, t) seja uma função cont́ınua, podemos reescrever (2.9) da seguinte forma: Z b a ⇢(x)u tt (x, t)dx = Z b a ⌧(t)u xx (x, t)dx+ Z b a h 1 (x, t)dx, que podemos reescrever como Z b a ⇢(x)u tt (x, t)� ⇢(x)u xx (x, t)� h 1 (x, t)dx = 0. Finalmente, como a e b foram escolhidos arbitrariamente, podemos concluir ⇢(x)u tt (x, t)� ⌧(x)u xx (x, t)� h 1 (x, t) = 0 18 2. Equação da onda ) ⇢(x)u tt (x, t) = ⌧(t)u xx (x, t) + h 1 (x, t). Para melhorarmos a notação, escreveremos u tt = c2u xx + h(x, t), (2.10) donde c(x, t)2 = ⌧(t) ⇢(x) e h(x, t) = h1(x,t) ⇢(x) . A equação em (2.10) é a equação da onda. 2.4 Exemplos da equação da onda e diferentes condições iniciais e de fronteira Nesta seção, mostraremos diferentes tipos de equação da onda, onde estas diferem de acordo com o tipo de forças externas atuando sobre a corda. Além disso, aboradaremos diferentes condições iniciais e de fronteira que irão depender da natureza da corda e do modo como se iniciou o processo vibratório. 1. Vibrações livres Suponhamos que as únicas forças atuantes sobre a corda sejam as de tensão, F a e F b . Assim, a equação (2.10) torna-se u tt = c2u xx , onde podemos introduzir a hipótese de c ser constante caso a corda seja ho- mogênea, isto é, possua densidade linear ⇢(x) constante, e caso as vibrações tenham amplitudes muito pequenas, ou seja, ⌧(t) constante. 2. Vibrações forçadas Neste caso, iremos considerar a corda à mercê de uma força externa, de modo que esta varie com x e t. Então a (2.10) é escrita como u tt = c2u xx + h(x, t). 3. Vibrações amortecidas Aqui, iremos ter a hipótese de que a corda esteja imersa em um meio flúıdo, na água, no ar etc, e em tal meio ela encontre resistência a seu movimento. Deste modo, há uma força externa que depende da velocidade, e tal força suporemos ser da forma h(x, t) = �bu t (x, t) com b > 0, sendo o sinal negativo porque a força é de resistência ao movimento vibratório. Com essas suposições, a equação 19 2. Equação da onda (2.10) torna-se u tt = c2u xx � bu t . 4. Vibrações sob a ação de uma força restauradora Suponhamos agora que exista uma força que possa trazer a corda de volta para a posição u ⌘ 0, posição de repouso. A esta chamaremos força restauradora, queserá dada por h(x, t) = �au(x, t) com a > 0. Como no caso 3 o sinal negativo é devido a força ser contrária ao movimento vibratório. Então a equação (2.10) torna-se u tt = c2u xx � au. Na seção 2.3, deduzimos a EDP que representa o problema de pequenas vibrações transversais de uma corda em torno da sua posição de repouso, mas, para completarmos a descrição deste fenômeno f́ısico, iremos comentar sobre algumas outras informações, como o comprimento da corda, o tipo de articulação das extremidades da mesma e também sobre o que provocou o ı́nicio das vibrações. Para atendermos essa demanda, vamos considerar os casos a seguir. Corda finita com extremidades fixas Suponhamos que a corda com a qual estamos trabalhando tenha comprimento L, e que em sua posição de equiĺıbrio coincida com o eixo x no plano (x, u), onde 0 x L. Assim, a hipótese das extremidades fixas implica que u(0, t) = u(L, t) = 0, para t � 0, (2.11) onde as expressões em (2.11) são chamadas de condições de fronteira. Do ponto de vista matemático, não estaremos interessados no que provocou o ı́nicio das vibrações. Nossa atenção será voltada ao deslocamento inicial da corda, o qual iremos denotar por u(x, 0). O deslocamento inicial diz respeito à posição da corda no tempo zero e ao modo como a corda é abandonada nesta posição. Esta última informação é dada pela velocidade inicial u t (x, 0). Assim devemos ter o seguinte: u(x, 0) = f(x), para 0 x L u t (x, 0) = g(x), para 0 x L . (2.12) As condições em (2.12) são chamadas de condições iniciais. Portanto, o problema da corda vibrante finita com extremidades fixas consiste em 20 2. Equação da onda determinar uma função u(x, t) com, 0 x L e t � 0, que satisfaça à equação da onda (2.10), às condições de fronteira em (2.11) e às condições iniciais em (2.12). Um problema deste tipo é conhecido como problema de valor inicial e de fronteira, que denotaremos abreviadamente por PV IF . O PV IF tratado neste item inclui casos como as vibrações das cordas de uma harpa, pois ao tocar este instrumento o harpista desloca a corda e depois a abandona, para assim começarem as vibrações, neste caso, f(x) 6= 0 e g(x) = 0. Corda finita com extremidades livres Suponhamos, agora, uma corda de comprimento L, esta com as suas extremidades postas em trilhos colocados perpendicularmente à corda no plano (x, u). Isso implica u x (0, t) = u x (L, t) = 0. (2.13) E suponhamos as condições iniciais iguais às do caso anterior. Desta forma, o PV IF em questão é determinar uma função u(x, t) que satisfaça a equação (2.10), as condições de fronteira em (2.13) e as condições iniciais em (2.12). 2.5 Resolução da equação da onda por séries de Fourier Nesta seção, iremos utilizar o método de Fourier para encontrar uma solução para a equação da onda através de um PV IF . A nossa procedência inicial se dará de maneira informal, isto é, não colocaremos hipóteses sobre as funções dos dados iniciais f e g. Desta forma obteremos uma expressão candidata à solução do PV IF que será apresentado. Posteriormente, olhando para expressão obtida, vamos colocar algumas hipóteses necessárias sobre as funções f e g, para que assim tenhamos o resultado formal para este problema. Utilizaremos o método de separação de variáveis e também a teoria de séries de Fourier, apresentada no caṕıtulo 1, para resolver o problema da corda vibrante com extremindades fixas, apresentado na seção anterior e descrito abaixo 8 >>>< >>>: u tt = c2u xx , em R u(0, t) = u(L, t) = 0, para t � 0 u(x, 0) = f(x) e u t (x, 0) = g(x), para 0 x L (2.14) 21 2. Equação da onda com c = constante e R = {(x, t) 2 R2/0 < x < L; t > 0}. O método de Fourier consiste em usar a separação de variáveis para determinar funções u(x, t) = F (x)G(t) que satisfaçam a equação da onda e as condições de fron- teira. Com isso, usamos estas funções para assim compor outra função que também satisfaça as condições iniciais. Com o método em mente, vamos utilizá-lo para resolver o PV IF (2.14). Em primeiro lugar, vamos substituir a função u(x, t) = F (x)G(t) na equação da onda, dáı temos o seguinte: F (x)G00(t) = c2F 00(x)G(t), donde, supondo, F (x) 6= 0 e G(t) 6= 0, podemos escrever F 00(x) F (x) = G00(t) c2G(t) . (2.15) Do lado esquerdo da equação (2.15) temos uma expressão que depende apenas de x, e do lado direito, temos uma expressão que depende apenas de t; isto implica que ambos os tados de (2.15) independem de x e de t, logo, são iguais a um parâmetro que denotaremos por �. Este parâmetro será determinado de forma que as condições de fronteira em (2.14) sejam satisfeitas pela função u(x, t). Potanto, na equação (2.15), temos F 00 F = G00 c2G = �, donde obtemos F 00 � �F = 0 G00 � �c2G = 0. (2.16) As condições de fronteira do problema (2.14) nos dizem que 0 = u(0, t) = F (0)G(t) e 0 = u(L, t) = F (L)G(t); isto implica que F (0) = F (L) = 0, pois caso não fosse assim teŕıamos G(t) = 0 para todo t, e por consequência u(x, t) = 0 para todo x e t, o que só satisfaria as condições iniciais em (2.14) se f(x) = 0 e g(x) = 0, e assim restringiŕıamos muito nosso campo de estudo. Logo, consideraremos F (0) = F (L) = 0, e deste modo chegaremos ao seguinte problema de autovalores 8 < : F 00 � �F = 0 F (0) = F (L) = 0. (2.17) A resolução de (2.17) consiste em determinar os valores � (que são chamados au- tovalores) de forma que suas soluções, chamadas de autofunções, sejam não nulas. Há três possibilidades para �, conforme segue. 22 2. Equação da onda • � > 0 Se isto ocorre, temos um problema de valor inicial constitúıdo por uma EDO de segunda ordem. Dáı sua solução geral é da forma F (x) = c 1 e p �x � c 2 e� p �x. Além disso, F deve satisfazer as condições de fronteira. Logo, obtemos o sistema ( F (0) = c 1 + c 2 = 0 (I) F (L) = c 1 e p �L + c 2 e� p �L = 0 (II) De (I), temos que c 2 = �c 1 ; substituindo em (II), obtemos c 1 e p �L � c 1 e� p �L = 0 ) c 1 (e p �L � e� p �L) = 0, donde conclúımos que c 1 = 0, pois e p �L 6= e� p �L ) e p �L � e� p �L 6= 0. Ou seja, c 1 = c 2 = 0. Assim, temos F ⌘ 0, o que por sua vez nos leva a obter u ⌘ 0, que, como foi dito anteriormente, não é insteressante para o nosso estudo. • � = 0 Se isto ocorre, temos que a equação em (2.17) torna-se F 00(x) = 0, uma EDO que tem como solução geral F (x) = c 1 x+ c 2 , e para satisfazer as condições de fronteira obtemos o sistema ( F (0) = c 2 = 0 (III) F (L) = c 1 L+ c 2 = 0 (IV ) que, quando resolvemos, encontramos a solução c 1 = c 2 = 0 e desta forma temos F ⌘ 0, e nos deparamos com a mesma conclusão do caso anterior. • � < 0 Se isto ocorre, podemos reescrever � = ��2, e a solução geral da equação em (2.17) será F (x) = c 1 cos(�x) + c 2 sen(�x). E para F satisfazer as condições de fronteira, temos F (0) = c 1 = 0 F (L) = c 1 cos(�L) + c 2 sen(�L) = 0 , 23 2. Equação da onda de onde temos c 1 = 0 e c 2 sen(�L) = 0. Como não queremos c 2 = 0, pois assim F ⌘ 0 e concluiŕıamos o mesmo dos casos anteriores, devemos ter sen(�L) = 0 ) �L = n⇡; onde n é um inteiro não nulo. Assim, � n = �n 2⇡2 L2 (com n = 1, 2, 3, ...), são os autovalores, substituindo � em (2.17) temos F 00 + n2⇡2 L2 F = 0. Dáı obtemos as autofunções F n (x) = sen ⇣n⇡x L ⌘ , que satisfazem a expressão acima. Analogamente, em G00 = �c2G, fazemos os casos de � > 0 e � = 0 e obtemos u ⌘ 0, que não interessa, no caso � < 0 fazemos � n = ��2c2, e vemos que para cada � n a solução geral da EDO acima é G n (t) = a n cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ✓ n⇡ct L ◆ , onde a n e b n são constantes arbitrárias. Logo, substituindo as soluções F n (x) e G n (t)na equação u n (x, t) = F n (x)G n (t), temos u n (x) = a nsen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆ , (2.18) com n = 1, 2, ..., tais u n são soluções da equação da onda e satisfazem as condições de fronteira em (2.14). Como a soma de soluções é uma solução, o próximo passo é determinar as constantes a n e b n de forma que a solução do PV IF (2.14) seja dada por u(x, t) = 1X n=1 a n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆� . (2.19) • Determinação dos a n 24 2. Equação da onda Da primeira condição inicial em (2.14) conseguimos encontrar o valor de a n , pois u(x, 0) = f(x) ) 1X n=1 h a n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos (0) + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen (0) i = f(x). Como sen(0) = 0, temos que b n sen � n⇡x L � sen (0) = 0, e como cos(0) = 1, podemos escrever 1X n=1 a n sen ⇣n⇡x L ⌘ = f(x). (2.20) Assim como f está representada por uma série de senos, os seus coeficientes de Fourier devem ser da forma a n = 2 L Z L 0 f(x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx. (2.21) • Determinação dos b n Derivando a série em (2.19) termo a termo com relação a t, obtemos u t (x, t) = @ @t 1X n=1 a n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆�! = 1X n=1 @ @t ✓ a n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆�◆ = 1X n=1 @ @t ✓ a n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆�◆ + @ @t ✓ b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆�◆� = 1X n=1 �a n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆ n⇡c L + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ n⇡c L � Da segunda condição inicial em (2.14), conseguimos encontrar o valor de b n , pois 1X n=1 u t (x, 0) = g(x) ) 1X n=1 h �a n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen (0) n⇡c L + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos (0) n⇡c L i = g(x). Como sen(0) = 0, temos que �a n sen � n⇡x L � sen (0) n⇡c L = 0, e como cos(0) = 1, podemos escrever, 1X n=1 b n sen ⇣n⇡x L ⌘ n⇡c L = g(x). (2.22) Assim como f está representada por uma série de senos os seus coeficientes de Fourier devem ser da forma n⇡c L b n = 2 L Z L 0 g(x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx. (2.23) Aqui terminamos a resolução utilizando o método de Fourier, com ele obtemos a 25 2. Equação da onda solução informal do PV IF (2.14), dada em (2.19), além dos coeficientes a n e b n dados em (2.21) e (2.23). Como foi dito no ińıcio desta seção, nosso procedimento foi bastante informal. As- sim, olhando para a expressão (2.19) como candidata à solução de (2.14), colocaremos as seguintes questões: • A série em (2.19) é convergente? • Define ela uma função cont́ınua em R? • Define uma função de classe C2 em R que seja solução do PV IF (2.14)? • Que condições devemos impor sobre f para que (2.21) ocorra? • Que condições devemos impor sobre g para que (2.23) ocorra? Para respondermos as perguntas feitas acima, consideraremos o teorema a seguir. Teorema 2.1. Suponha que f e g sejam funções dadas em [0, L] tais que f, f 0, f 00, g, g0 sejam cont́ınuas e f 000 e g00 sejam seccionalmente cont́ınuas. Além disso, suponha que f(0) = f(L) = f 00(0) = f 00(L) = g(0) = g(L) = 0. Então: i) a n e b n são bem definidas por (2.21) e (2.23), respectivamente; ii) as igualdades em (2.20) e (2.22) ocorrem; iii) a expressão em (2.19) define uma função cont́ınua em R, de classe C2 em R, que satisfaz a equação da onda em R. Prova: A parte i) é consequência da hipótese de f , g e sen serem cont́ınuas em [0, L]. Como toda função cont́ınua é integrável, isto implica que as integrais em (2.21) e (2.23) convergem, logo, estão bem definidas. Agora, como f(0) = f(L) = g(0) = g(L) = 0, podemos estender as funções f e g continuamente em toda a reta, de modo a serem ı́mpares e periódicas de peŕıodo 2L. Desta forma, usando as hipóteses de que f e g são de classe C1, pelo Teorema de Fourier que foi citado no caṕıtuo 1, podemos afirmar 1X n=1 a n sen ⇣n⇡x L ⌘ = f(x). 1X n=1 b n sen ⇣n⇡x L ⌘ n⇡c L = g(x). Mostrando assim, a parte ii). 26 2. Equação da onda Para mostrar iii), basta provar a convergência da série P1 n=1 [|a n |+ |b n |]. Pois u n (x, t) |u n (x, t)| = ����an sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆���� ����an sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆����+ ����bn sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆���� = |a n | ����sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆����+ |bn| ����sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆���� |a n |+ |b n |. Tomando somatórios, NX n=1 u n (x, t) NX n=1 |u n (x, t)| NX n=1 [|a n |+ |b n |] 1X n=1 [|a n |+ |b n |] . Como estamos somando para qualquer N , temos 1X n=1 u n (x, t) 1X n=1 [|a n |+ |b n |] . Logo, se mostrarmos a convergência de P1 n=1 [|a n |+ |b n |], temos, pelo teste da com- paração, que P1 n=1 u n (x, t) converge. Por outro lado, fazendo integração por partes três vezes na expressão 2.21 temos a n = � 2L 2 n3⇡3 Z L 0 f 000(x) cos ⇣n⇡x L ⌘ dx. (2.24) Analogamente, fazendo a integração por partes três vezes em (2.23), temos n⇡c L b n = � 2L n2⇡2 Z L 0 g00(x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx. (2.25) De (2.24) e (2.25) seguem |a n | = ����� 2L n3⇡3 Z L 0 f 000(x) cos ⇣n⇡x L ⌘ dx ���� 2L n3⇡3 Z L 0 ���f 000(x) cos ⇣n⇡x L ⌘��� dx 27 2. Equação da onda e |b n | = ����� 2L2 n3⇡3c Z L 0 g00(x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx ���� 2L 2 n3⇡3c Z L 0 ���g00(x) sen ⇣n⇡x L ⌘��� dx , que podemos escrever |a n | K n3 e |b n | K 0 n3 , onde K = 2L 2 ⇡ 3 k1 e K 0 = 2L 2 c⇡ 3 k2, de modo que tenhamos k1 � cn e k2 � dn, onde cn e dn são os coeficientes de Fourier de f 000 e g00, respectivamente. Podemos falar na existência de tais coeficientes por conta da hipótese de f 000 e g00 serem funções seccionalmente cont́ınuas. Logo, temos a seguinte estimativa: |a n |+ |b n | K n3 + K 0 n3 . Tomando somatórios NX n=1 [|a n |+ |b n |] NX n=1 K n3 + K 0 n3 � 1X n=1 K n3 + K 0 n3 � . Como estamos somando para qualquer N , temos 1X n=1 [|a n |+ |b n |] 1X n=1 K n3 + K 0 n3 � , onde a série majorante na expressão acima é convergente, pois é uma p-série, dáı, pelo teste da comparação, temos a convergência de P1 n=1 [|a n | + |b n |] e finalmente conse- guimos a convergência de P1 n=1 u n (x, t), que é uma convergência uniforme pois não depende de x e t, e como é uma série de funções cont́ınuas, convergirá para uma função cont́ınua donde, deste último fato e de (2.19), conclúımos que u é cont́ınua. Vejamos agora se u é C1. Para isto, vamos obter as derivadas primeiras de u, derivando P1 n=1 u n (x, t) termo a termo, @u @x = 1X n=1 a n n⇡ L cos ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n n⇡ L cos ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆� @u @t = 1X n=1 �a n n⇡c L sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆ + b n n⇡c L cos ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆� . (2.26) 28 2. Equação da onda A partir dáı, fazendo o módulo das expressões em (2.26), podemos majorará-las por 1X n=1 [n|a n |+ n|b n |]. E vemos que esta última série é convergente, pois n|a n | K n2 e n|b n | K 0 n2 , dáı 1X n=1 [n|a n |+ n|b n |] 1X n=1 K n2 + K 0 n2 � , onde a expressão da direita é uma série numérica convergente; com isto temos as igualdades em (2.26), ou seja, u é de classe C1 em R. Vejamos agora se u é C2. Para isto, vamos derivar uma vez termo a termo as expressões em (2.26), donde encontramos @2u @x2 = 1X n=1 �a n n2⇡2 L2 sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ � b n n2⇡2 L sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆� @2u @t2 = 1X n=1 �a n n2⇡2c2 L2 sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ � b n n2⇡2c2 L2 sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆� . (2.27) Vamos majorar estas expressões, aplicando módulo nos termos dos somatórios em (2.27). Temos: ���� @2u @x2 ���� |an| n2⇡2 L2 + |b n |n 2⇡2 L2 e ���� @2u @t2 ���� |an| n2⇡2c2 L2 + |b n |n 2⇡2c2 L2 . Assim, podemos majorar as séries em (2.27) pelaseguinte expressão: ⇡2c2 1X n=1 [n2|a n |+ n2|b n |]. (2.28) Para afirmarmos algo sobre a série em (2.28), vamos observar os cálculos seguintes. De (2.24) e (2.25), temos |a n | K 00 n3 |c n | e |b n | K 000 n3 |d n |, onde K 00 = 2L 2 ⇡ 3 e K 000 = 2L 2 c⇡ 3 . 29 2. Equação da onda Logo, usando a desigualde ab 1 2 (a2 + b2) temos n2|a n | K 00 L ✓ 1 n2 + |c n |2 ◆ e n2|b n | K 000 2 ✓ 1 n2 + |d n |2 ◆ , o que nos dá 1X n=1 ⇥ n2|a n |+ n2|b n | ⇤ 1X n=1 K 00 2 ✓ 1 n2 + |c n |2 ◆ + K 000 2 ✓ 1 n2 + |d n |2 ◆� < 1X n=1 K 00 2 ✓ 1 n2 + |c n |2 + |d n |2 ◆ + K 000 2 ✓ 1 n2 + |c n |2 + |d n |2 ◆� = 1X n=1 K 00 +K 000 2 ✓ 1 n2 + |c n |2 + |d n |2 ◆� = K 00 +K 000 2 1X n=1 1 n2 + 1X n=1 |c n |2 + 1X n=1 |d n |2 ! . Donde a convergência destas últimas séries é devido à desigualdade de Bessel. Finalmente, a série obtida ao derivar u duas vezes com relação a x ou a t é majorada por uma série convergente em (2.28), logo, u é de classe C2 em R. Além disto, comparando as duas séries de (2.27), vemos que u tt = c2u xx , em R, ou seja, u satisfaz a equação da onda. Podemos retirar conclusões importante a respeito da natureza de uma solução do PV IF (2.14). Vemos que uma função u(x, t) será solução do PV IF em questão se • for cont́ınua em R e de classe C2 em R, com u t (x, t) cont́ınua em R; • satisfizer as condições iniciais e de fronteira; • satisfizer a equação da onda. 2.6 Energia da corda vibrante e unicidade de solução Suponhamos que u(x, t) seja uma solução da equação da onda expressa da forma ⇢(x)u tt = ⌧u xx + h 1 (x, t); (2.29) vimos a equação da onda apresentada desta forma na seção 2.1. Também iremos adotar a hipótese de que ⌧(t) = ⌧ , isto é, que as componentes horizontais das forças de tensão não dependam do tempo. Mais especificamente, suporemos que a solução u seja uma 30 2. Equação da onda função de classe C1 em R̄ de classe C2 em R e que satisfaça a equação da onda em R. Multiplicando a equação (2.29) por u t , obtemos ⇢u tt u t = ⌧u xx u t + h 1 (x, t)u t . Integrando tal resultado com relação a x no intervalo [0, L], temos Z L 0 ⇢u tt u t dx = Z L 0 ⌧u xx u t dx+ Z L 0 h 1 (x, t)u t dx. (2.30) Usando a regra da cadeia, conseguimos a identidade u t u tt = 1 2 (u2 t ) t , dáı substituindo esta identidade em (2.30), temos 1 2 Z L 0 ⇢(u2 t ) t dx = Z L 0 ⌧u xx u t dx+ Z L 0 h 1 (x, t)u t dx, que devido a continuidade do integrando, utilizando o teorema de Leibniz [6, Teorema 3 p. 66], podemos escrever como 1 2 d dt ✓Z L 0 ⇢(x)u2 t dx ◆ = Z L 0 ⌧u xx u t dx+ Z L 0 h 1 (x, t)u t dx. (2.31) Usando integral por partes com relação a x na segunda integral da equação acima, de modo que u = u t e dv = ⌧u xx , conseguimos o seguinte: ⌧u t u x ��� L 0 � Z L 0 ⌧u x u tx dx. Substituindo em (2.31) d dt ✓ 1 2 Z L 0 ⇢(u2 t ) t dx ◆ + Z L 0 ⌧u x u tx dx = ⌧u t u x ��� L 0 + Z L 0 h 1 (x, t)u t dx, usando a identidade u tx u x = 1 2 (u2 x ) t , obtida de modo semelhante à usada anteriormente, e usando novamente o teorema de Leibniz, [6, Teorema 3 p.66], temos: d dt 1 2 Z L 0 ⇢(x)u2 t dx+ 1 2 Z L 0 ⌧u2 x dx � = ⌧u t u x ��� L 0 + Z L 0 h 1 (x, t)u t dx. (2.32) A relação em (2.32) é denominda de equação da energia. Em (2.32) podemos destacar duas expressões: a expressão K(t) = 1 2 Z L 0 ⇢(x)u2 t dx, (2.33) 31 2. Equação da onda que é a energia cinética da corda, e a expressão V (t) = 1 2 Z L 0 ⌧u2 x dx, (2.34) que é a energia potencial da corda. Finalmente, E(t) = K(t) + V (t) (2.35) é a energia total da corda. Destacaremos, agora, alguns comentários a respeito da equação (2.32). Suponhamos que u seja solução do PV IF (2.14), neste caso teŕıamos h 1 (x, t) = 0 u t (0, t) = u t (L, t) = 0 , desta forma, podemos reescrever a equação em (2.32) como d dt 1 2 Z L 0 ⇢(x)u2 t dx+ 1 2 Z L 0 ⌧u2 x dx � = 0. (2.36) Tal resultado implica que a energia total seja constante em relação ao tempo, portanto, temos o prinćıpio da conservação de energia para o fenômeno de vibração de cordas com extremidades fixas e sem ação de forças externas. Dizemos também que o sistema é conservativo. Podemos representar a energia da corda vibrante no tempo t = 0 usando os dados iniciais do PV IF (2.14) por E(0) = 1 2 Z L 0 ⇢(x)g(x)2dx+ 1 2 Z L 0 ⌧f 0(x)2dx. Tal energia é mantida devido ao prinćıpio da conservação de energia. Teorema 2.2. A solução do PV IF abaixo caso exista é única 8 >>>< >>>: ⇢(x)u tt = ⌧u xx +K 1 (t, x), em R u(0, t) = h 1 (t), u(L, t) = h 2 (t), t > 0 u(x, 0) = f(x), u t (x, 0) = g(x), 0 < x < L (2.37) Demonstração. Suponhamos que o PV IF (2.37) possua duas soluções u 1 e u 2 . Por solução, nós entenderemos uma função de classe C2 em R e cont́ınua em R̄ que satisfaça todas as relações em (2.37). Isto implica h 1 (0) = f(0) e h 2 (L) = f(L). Estas relações são de compatibilidade entre os dados iniciais e as condições de fronteira. Vejamos 32 2. Equação da onda também que a função u = u 1 � u 2 é uma função de classe C2 em R, cont́ınua em R̄, e satisfaz as relações ⇢u tt = ⇢(u 1 ) tt � ⇢(u 2 ) tt = (⌧(u 1 ) xx +K 1 )� (⌧(u 2 ) xx +K 1 ) = ⌧((u 1 ) xx � (u 2 ) xx ) = ⌧u xx e u(0, t) = u 1 (0, t)� u 2 (0, t) = h 1 (t)� h 1 (t) = 0 u(L, t) = u 1 (L, t)� u 2 (L, t) = h 2 (t)� h 2 (t) = 0 u(x, 0) = u 1 (x, 0)� u 2 (x, 0) = f(x)� f(x) = 0 u t (x, 0) = (u 1 ) t (x, 0)� (u 2 ) t (x, 0) = g(x)� g(x) = 0. Ou seja, u satisfaz o seguinte PV IF , que é do tipo (2.14): 8 >>>< >>>: ⇢u tt = ⌧u xx u(0, t) = u(L, t) = 0 u(x, 0) = u t (x, 0) = 0. Veja também que E(0) = 0, pois E(0) = 1 2 Z L 0 ⇢(x)g(x)2dx+ 1 2 Z L 0 ⌧f 0(x)2dx = 1 2 Z L 0 ⇢(x)02dx+ 1 2 Z L 0 ⌧02dx = 0, dáı, de (2.36) coclúımos 1 2 Z L 0 ⇢(x)u2 t dx+ 1 2 Z L 0 ⌧u2 x dx = 0. Isto implica u t (x, t) = u x (x, t) = 0, para (x, t) em R, pois ⇢(x) e ⌧ são positivos. Logo, u(x, t) é constante em R. Usando a continuidade de u, em R̄, e as condições iniciais u(x, 0) = u t (x, 0) = 0, podemos concluir que u = 0 em R̄, e finalmente u 1 = u 2 , mostrando assim a unicidade de solução do problema (2.37). 2.6.1 Interpretação f́ısica das fórmulas da energia cinética (2.33) e potencial (2.34) • Energia cinética 33 2. Equação da onda A energia cinética no instante t do trecho da corda entre os pontos de coordenadas a e a+h, para h pequeno, é dado por 1 2 ⇢(x)hu2 t (x, t), onde x é um valor apropriado no intervalo [a, a+ h]. Seja P = {r 1 = 0, ..., r n = L} uma partição do intervalo [0, L] e seja h pequeno, somando as várias energias cinéticas dos trechos de corda nos subintervalos de P, temos: 1 2 ⇢(x 1 )hu t (x 1 , t) + ...+ 1 2 ⇢(x n )hu2 t (x n , t) com x 1 2 [r 1 , r 2 ], ..., x n 2 [r n�1, rn]. Que podemos escrever 1 2 nX N=1 ⇢(x N )hu2 t (x N , t). Tomando limite quando n ! 1 temos, pela definição de integral como limite das somas de Rieman, lim n!1 1 2 nX N=1 ⇢(x N )hu2 t (x N , t) = 1 2 Z L 0 ⇢(x)u2 t (x, t)dx. • Energia potencial Para a questão da energia potencial, vejamos o trabalho das forças de tensão. To- memos novamente o trecho da corda entre x = a e x = a + h; a força de tensão neste trecho, no instante t, é apenas na direção transversal, e é dada por ⌧u x (a+ h, t)� ⌧u x (a, t) = ⌧u xx (x, t)h, (2.38) onde a igualdade acima é devida ao teorema do valor médio e x 2 [a, a+ h]. Sabendo que a fórmula f́ısica para o trabalho é T = ~F ~d, (2.39) isto é, força vezes deslocamento, e que a velocidade é dada por V = 4x 4t , (2.40) obtemos usando (2.38), (2.39) e (2.40), que o trabalhorealizado em um pequeno 34 2. Equação da onda retângulo [a, a+4x]⇥ [t, t+4t] é dado por T = ⌧u xx (x, t)4xu t (x, t)4t. Dáı, tomemos as partições X = {x 0 = 0, ..., x i = L} e T = {t 0 = 0, ..., t j = t 0 } dos intervalos [0, L] e [0, t 0 ], respectivamente, e com essas partições formemos os retângulos r ij = [x i , x i+1 ] ⇥ [t j , t j+1 ]. Estes retângulos formam uma partição para a região R. Somando todos os trabalhos realizados nestes retângulos da partição, temos: nX i=1 mX j=1 ⌧u xx (x i , t j )u t (x i , t j )4x i 4t j , onde 4x i = x i � x i�1 e 4tj = tj � tj�1. Tomando limite quando n ! 1 e m ! 1, temos, pela soma de Rieman, que T = lim n,m!1 nX i=1 mX j=1 ⌧u xx (x i , t j )u t (x i , t j )4x i 4t j = Z Z R ⌧u xx (x, t)u t (x, t)dA. Então, utilizando o teorema de Fubini, temos: T = Z Z R ⌧u xx (x, t)u t (x, t)dA = Z t0 0 Z L 0 ⌧u xx (x, t)u t (x, t)dxdt. Integrando com relação a x por partes, chamando u = u t e dv = ⌧u xx , temos o seguinte: T = Z t0 0 ⌧u x (x, t)u t (x, t) ��� L 0 � Z L 0 ⌧u x (x, t)u tx (x, t)dx � dt. Portanto, se as extremidades da corda estão fixas, isto é, u(0, t) = u(L, t) = 0, nós temos T = � Z t0 0 Z L 0 ⌧u x (x, t)u tx (x, t)dxdt, e dáı usando u t u tx = 1 2 (u2 x ) t e o teorema de Leibniz, [6, Teorema 3 p. 66], podemos escrever: T = � Z t0 0 1 2 d dt Z L 0 ⌧u2 x dxdt, o que implica pelo teorema fundamental do cálculo; T = �1 2 Z L 0 ⌧u2 x dx ��� t0 0 = 1 2 Z L 0 ⌧u2 x (x, 0)dx� 1 2 Z L 0 ⌧u2 x (x, t 0 )dx . 35 2. Equação da onda Esta última expressão mostra que o trabalho das forças de tensão para levar a corda da configuração u(x, 0) até a configuração u(x, t 0 ) depende tão somente das configurações inicial e final, e isto é o que motiva a definição de energia potencial em (2.34). 2.7 Harmônicos, frequência e amplitude de uma onda estacionária Na seção 2.5, vimos, pelo método de Fourier, que as soluções do PV IF (2.14) são do tipo u n (x, t) = a n sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ + b n sen ⇣n⇡x L ⌘ sen ✓ n⇡ct L ◆ . Essas funções são denominadas de ondas estacionárias. 2.7.1 Partes de uma onda estacionária Antes de tudo, é interessante sabermos que a denominação onda estacionária se deve ao fato de que para x tal que n⇡x L = K⇡, isto é, x = KL n com k = 0, 1, 2, ..., n, temos sen � n⇡x L � = 0. Estes pontos, e apenas estes, permanecem parados se a vibração da corda é descrita pela função u n . Tais pontos são denominados de nós da onda estacionária e o ponto médio entre dois nós é chama do de antinó ou ventre. Figura 2.3: onda estacionária Fonte: https://www.infoescola.com/fisica/onda-estacionaria/ O comprimento da onda é a distância entre dois nós consecutivos. No caso das ondas estacionárias descritas por u n , temos que seu comprimento é 2L n . A função u n também é denominada de n-ésimo harmônico ou n-ésima tônica. O pri- meiro harmônico recebe o nome de harmônico fundamental ou tônica fundamental, e os demais são conhecidos como supertônicas. Fazendo ↵ n = p a2 n + b2 n e ✓ n = arctan ⇣ an bn ⌘ , podemos reescrever u n , assim: u n (x, t) = ↵ n sen ✓ n⇡ct L + ✓ n ◆ sen ⇣n⇡x L ⌘ . (2.41) 36 https://www.infoescola.com/fisica/onda-estacionaria/ 2. Equação da onda O ângulo ✓ n é chamado de fase. Observe que para cada t fixado em (2.41) a corda é descrita como uma curva senóide. Nos valores de t tais que � n⇡ct L � + ✓ n = k⇡, com k = 0, ..., n, a corda passa pela posição de equiĺıbrio (pois sen(k⇡) = 0, e dáı u n = 0). Derivando a equação (2.41) com relação a t, temos o seguinte: @ @t u n (x, t) = ↵ n cos ✓ n⇡ct L + ✓ n ◆ n⇡c L sen ⇣n⇡x L ⌘ . (2.42) Aplicando (2.42) num ponto da posição de equiĺıbrio, conseguimos que @ @t u n (x, t) = ↵ n cos(k⇡) n⇡c L sen ⇣n⇡x L ⌘ , ou seja, o coseno atingirá seu valor máximo 1, e dáı conseguimos a velocidade máxima atingida, @ @t u n (x, t) = ↵ n n⇡c L sen ⇣n⇡x L ⌘ . Se considerarmos os valores de t tais que sen ⇥� n⇡ct L � ± ✓ n ⇤ = ±1, neste caso a corda terá seus desvios máximos da posição de equiĺıbrio pois, o seno atinge seus valores extremos ±1 e então teremos u n (x, t) = ±↵ n sen ⇣n⇡x L ⌘ . Como sen ⇥� n⇡ct L � ± ✓ n ⇤ = ±1, devemos ter n⇡ct L + ✓ n = k⇡ 2 , com k = 1, 3, ..., 2n + 1. Portanto, @ @t u n (x, t) = ↵ n cos ✓ k⇡ 2 ◆ n⇡c L sen ⇣n⇡x L ⌘ = 0, ou seja, teremos que a velocidade nos pontos de equiĺıbrio é 0. Sabendo que a fórma básica de uma curva senóide ao longo do tempo é dada por y(t) = A sen(2⇡ft+ '), (2.43) onde A = amplitude 2⇡f = frequência ângular = ! ' = fase t = tempo , podemos comparar (2.42) com (2.43) e ver se o movimento da corda obedece uma lei senoidal de amplitude ↵ n sen � n⇡x L � . O peŕıodo de uma onda é caculado pela fórmula T n = 2L ! , portanto, no caso de (2.42), temos que T n = 2L nc , e a frequência de vibração 37 2. Equação da onda é dada por ! n = T�1 n = nc 2L , que não depende de x e t, logo é a mesma em todos os pontos da corda. Dáı, ! n = nc 2L e ↵ n sen ⇣n⇡x L ⌘ são denominadas, respectivamente frequência ou frequência natural e amplitude da n-ésima tônica. 2.7.2 A energia do n-ésimo harmônico Consideremos o n-ésimo harmônico u n produzido pela corda vibrante com extremi- dades fixas u n (x, t) = ↵ n sen ✓ n⇡ct L + ✓ n ◆ . De onde temos @ @t u n (x, t) = ↵ n n⇡c L cos ✓ n⇡ct L + ✓ n ◆ sen ⇣n⇡x L ⌘ @ @x u n (x, t) = ↵ n n⇡ L sen ✓ n⇡ct L + ✓ n ◆ cos ⇣n⇡x L ⌘ , e dái, usando as fórmulas da energia cinética e da energia potencial, conseguimos que a energia total é E n (t) = 1 2 Z L 0 ⇢↵2 n n2⇡2c2 L2 cos2(� n ) sen2 ⇣n⇡x L ⌘ dx+ 1 2 Z L 0 ⌧↵2 n n2⇡2 L2 sen2(� n ) cos ⇣n⇡x L ⌘ dx, onde � n = n⇡ct L + ✓ n . Supondo que ⇢ e ⌧ sejam constantes, temos que E n (t) = n2⇡2c2 2L2 ⇢ Z L 0 ↵2 n cos2(� n ) sen2 ⇣n⇡x L ⌘ dx+ n2⇡2 2L2 ⌧ Z L 0 ↵2 n sen2(� n ) cos2 ⇣n⇡x L ⌘ dx. Usando relações de ortogonalidade, podemos reescrever E n da seguinte forma: E n (t) = n2⇡2 4L ↵2 n (⇢c2 cos2(� n ) + ⌧ sen2(� n )), sabendo que c2 = ⌧ ⇢ e que sen2(� n ) + cos2(� n ) = 1, segue E n (t) = n2⇡2 4L ↵2 n ⇢c2 = M⇡2↵2 n !2 n , onde M = L⇢ é a massa da corda e ! n é a frequência do n-ésimo harmônico. Teorema 2.3. A energia da corda é a soma das energias dos vários harmônicos. 38 2. Equação da onda Demonstração. Para provarmos tal resultado, basta calcularmos a energia no instante t = 0, pois, como vimos na seção anterior, a corda vibrante com extremidades fixas forma um sistema conservativo. Assim, a energia E da corda é: E = 1 2 Z L 0 ⇢g(x)2dx+ 1 2 Z L 0 ⌧f 0(x)2dx. Usando as expressões (2.20) e (2.22), temos E = 1 2 Z L 0 ⇢ " 1X n=1 n⇡c L b n sen ⇣n⇡x L ⌘#2 dx+ 1 2 Z L 0 ⌧ " 1X n=1 n⇡ L a n cos ⇣n⇡x L ⌘#2 dx. Como a convergência da séries acima é uniforme, podemos escrever E = ⇢ 2 1X n=1 Z L 0 n2⇡2c2 L2 b2 n sen2 ⇣n⇡x L ⌘ dx+ ⌧ 2 1X n=1 Z L 0 n2⇡2 L2 a2 n cos2 ⇣n⇡x L ⌘ dx, e usando as relações de ortogonalidade, temos que E = 1 2 1X n=1 ⇢n2⇡2c2 2L b2 n + ⌧n2⇡2 2L a2 n � = 1 2 1X n=1 n2⇡2 2L (c2⇢b2 n + ⌧a2 n ); como ⌧ = c2⇢, temos E = 1X n=1 n2⇡2c2⇢ 4L (b2 n + a2 n ) = 1X n=1 n2⇡2c2⇢↵2 n 4L . Ou seja, E = 1X n=1 E n . 2.8 A corda dedilhada Nesta seção, abordaremos matematicamente como se comporta a corda quando é dedilhada. Consideraremos uma corda com extremidades fixas posta a vibrar graças a um deslocamento em sua posição de equiĺıbrio. Dáı, teŕıamos que as suas configurações 39 2. Equação da onda seriam descritas pela função u(x, t), que é solução do PV IF (2.14), com f(x) = 8 >>< >>: hx L , para0 x a h(x�L) a�L , para a x L g(x) = 0. (2.44) Esse é o modelo ideal do que ocorre quando se dedilha cordas de uma harpa, ou quando se toca instrumentos de corda como violão, cavaquinho e guitarra. A figura abaixo representa geometricamente este modelo. Figura 2.4: corda dedilhada Fonte:[2, p. 145] A solução do PV IF (2.14), neste caso, é dada pela expressão (2.19), com b n = 0, pois g(x) = 0, e para calcularmos a n vejamos que, pela expressão geral do coeficiente de Fourier a n , temos a n = 2 L Z L 0 f(x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx, que substituindo pela função f(x), definida em (2.44), resulta a n = 2 L Z a 0 hx a sen ⇣n⇡x L ⌘ dx+ 2 L Z L a h(x� L) (a� L) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx. (2.45) Calculando separadamente as integrais em (2.45), temos que a primeira intergral, uti- lizando integração por partes com u = hx a e dv = sen � n⇡x L � , tem como solução � 2h n⇡ cos ⇣n⇡a L ⌘ + 2hL an2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ . (2.46) Usando integração por partes novamente agora na segunda integral de (2.45) com, 40 2. Equação da onda u = h(x�L) a�L e dv = sen � n⇡x L � , obtemos 2h n⇡ cos ⇣n⇡a L ⌘ � 2hL (a� L)n2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ . (2.47) Voltando à expressão principal (2.45), temos que ela é igual a a n = � 2h n⇡ cos ⇣n⇡a L ⌘ + 2hL an2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ + 2h n⇡ cos ⇣n⇡a L ⌘ � 2hL (a� L)n2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ = 2hL an2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ � 2hL (a� L)n2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ = sen ⇣n⇡a L ⌘ 2hL n2⇡2 1 a � 1 a� L � = � 2hL 2 a(a� L)n2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ . Assim, o n-ésimo harmônico, obtido substituindo a n e b n na equação (2.18), é dado por u n (x, t) = 2hL a(L� a)n2⇡2 sen ⇣n⇡a L ⌘ sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ . A equação em (2.19) é a superposição desses harmônicos. É importante perceber que, dependendo do ponto a onde se dedilha a corda, alguns harmônicos podem estar ausentes na expressão de u. Dizemos, então, que estes harmônicos estão mudos. Para ilustrar esta definição, consideremos que a seja um ponto de nó do n-ésimo harmônico, ou seja, a = KL n . Dáı temos em u n que u n (x, t) = 2hL2 KL n � L� KL n � n2⇡2 sen n⇡KL n L ! sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ = 2hL2 KL n � L� KL n � n2⇡2 sen(K⇡) sen ⇣n⇡x L ⌘ cos ✓ n⇡ct L ◆ = 0. Portanto, nos pontos de nós temos que o n-ésimo harmônico permanecerá mudo. Vemos também que o primeiro harmônico nunca permanecerá mudo, u 1 (x, t) = 2hL2 a(L� a)⇡2 sen ⇣⇡a L ⌘ , pois a u 1 (x, t) será zero apenas no ponto de nó, logo, não temos uma função identica- mente nula. As vibrações de uma corda se transmitem pelo ar, produzindo, assim, ondas sonoras; desta forma podemos entender o som produzido pela corda vibrante como sendo uma 41 2. Equação da onda superposição de harmônicos. Fisicamente, as propriedades do som são funções que dependem de vários parâmetros, os quais podem ser representados em u n de acordo com cada caso. A altura do som, por exemplo, é medida em hertz (ciclos por segundo); ela é a frequência do harmônico fundamental. Quanto maior é a frequência, mais alto é o som. Os sons aud́ıveis têm frequências variando entre 16 e 16.000 hertz. A altura do som depende das condições f́ısicas da corda. Temos que ! n = nc 2L , dáı, ! 1 = c 2L . Como c = q ⌧ ⇢ , conseguimos ! 1 = 1 2L r ⌧ ⇢ . Portanto, se diminuirmos o comprimento L da corda, a altura aumentará. Empirica- mente, este artif́ıcio é usado quando na harpa se diminui o comprimento da corda por meio de um pedal. Também vemos isso quando os comprimentos de cordas do violão ou violino são diminuidos com a pressão dos dedos em certos pontos. De modo análogo, vemos em ! 1 , que a altura do som aumenta segundo a raiz quadrada da força de tensão. Dáı a explicação para o porquê de afinarmos as cordas do violão, violino ou qualquer instrumento de cordas, pois, com o tempo, a tensão na corda varia, e ela passa a produzir sons em alturas diferentes. A intensidade do som depende da energia da corda vibrante. No caso da corda dedilhada, essa energia é E = n⇡2 1X n=1 !2 n a2 n . Sabendo pelo teorema 2.3 que E = P E n , temos que a intensidade varia proporcio- nalmente ao quadrado do deslocamento dado à corda no ponto onde se dedilha, por exemplo: se dobrarmos h (altura que puxamos a corda ao dedilhar) como temos na expressão da energia o a2 n , tal valor quadruplicará. Por último, o timbre do som é uma qualidade que permite distinguir sons de mesma altura e mesma intensidade. Ele depende da forma de u(x, t) e, portanto, das su- pertônicas. Assim, sons de mesma altura e intensidade podem ser executados ao mesmo tempo por intrumentos cuja vibração, pode ser propiciada por dedilhamento (violão), percussão (piano) ou atrito de um arco (violoncelo), de modo que não sejam confun- didos entre si. O que faz com que este interessante fenômeno ocorra é o timbre, pois a 42 2. Equação da onda forma de u(x, t) é diferente em cada um dos casos. 2.9 Vibrações forçadas Nesta seção, consideraremos o problema de vibração de uma corda que possui ex- tremidades fixas e está sujeita à ação de forças externas. O deslocamento u(x, t) é solução do seguinte PV IF : 8 >>>>>>< >>>>>>: u tt = c2u xx + g(x, t) u(0, t) = u(L, t) = 0, 8 t > 0 u(x, 0) = f 0 (x), 8 0 x L u t (x, 0) = f 1 (x), 8 0 x L. (2.48) Vamos proceder informalmente quanto à diferenciabilidade das funções envolvidas, a fim de descobrir um candidato a solução do PV IF (2.48). Este candidato tem a forma idealizada por u(x, t) = 1X n=1 c n (t) sen ⇣n⇡x L ⌘ , (2.49) com os coeficientes c n (t) a serem determinados. Suponhamos que para cada t a função g(x, t) possa ser escrita como uma série de Fourier do tipo g(x, t) = 1X n=1 g n (t) sen ⇣n⇡x L ⌘ . (2.50) Procedendo informalmente quanto à derivação termo a termo de (2.49), temos usando a equação da onda, que 1X n=1 c00 n sen ⇣n⇡x L ⌘ = �c2 1X n=1 n2⇡2 L2 c n sen ⇣n⇡x L ⌘ + 1X n=1 g n (t) sen ⇣n⇡x L ⌘ . Observando os coeficientes de Fourier na expressão acima, segue que c00 n + n2⇡2c2 L2 c n = g n (t), que podemos escrever, c00 n + (2⇡! n )c n = g n , 8 t > 0, (2.51) onde ! n = nc L é a frequência do n-ésimo harmônico. Usando as condições iniciais do 43 2. Equação da onda PV IF (2.48), conclúımos f 0 (x) = u(x, 0) ! f 0 (x) = 1X n=1 c n (0) sen ⇣n⇡x L ⌘ (2.52) e f 1 (x) = u t (x, 0) ! f 1 (x) = 1X n=1 c0 n (0) sen ⇣n⇡x L ⌘ , (2.53) que mostra, através dos coeficientes de Fourier de f 0 e f 1 , que devemos ter c n (0) = 2 L Z L 0 f 0 (x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx (2.54) e c0 n (0) = 2 L Z L 0 f 1 (x) sen ⇣n⇡x L ⌘ dx. (2.55) Assim, temos um PV I envolvendo uma equação diferencial ordinária de segunda ordem. Tal problema é dado em (2.51)-(2.54)-(2.55), onde a solução geral da EDO (2.51) é da forma c n (t) = a n cos(2⇡! n t) + b n sen(2⇡! n t) + ĉ n (t), onde a n e b n são constantes arbitrárias que serão determinadas de modo que (2.54) e (2.55) sejam satisfeitas; e ĉ n (t) é uma solução particular da EDO (2.51) que é obtida através do método da variação dos parâmetros. Portanto, determinamos c n (t) reslvendo o PV I (2.51)-(2.54)-(2.55), e dáı temos que a equação (2.49) deve ser solução do PV IF (2.48). Mas, para que isto ocorra, é necessário pormos hipóteses sobre a diferenciabilidade das funções g, f 0 e f 1 , para que desta maneira possamos provar que a série em (2.49) converge e define uma solução para (2.48). Tal problema já foi discutido de maneira análoga anteriormente quando vimos na seção 2.5 o teorema 2.1. 2.10 A corda infinita Iremos estudar as vibrações de uma corda de comprimento infinito. Portanto, como podemos pensar intuitivamente, neste caso não há condições de fronteira a serem sa- tifeitas e, desta forma, o problema consiste
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