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DD102 Mediação no âmbito comunitário Atividade prática

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DD102 – RESOLUÇÃO/TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS NO ÂMBITO COMUNITÁRIO
ATIVIDADE PRÁTICA
VIAGEM PELO DNA
ALUNO: Fernando Rabelo Andrade
A - Explique o que é o Etnocentrismo a partir das situações que o vídeo mostra.
O trabalho dos pesquisadores consistia em emergir para os indivíduos pesquisados o quanto que a identificação de cada um com sua respectiva sociedade os induziam à rejeição das outras sociedades.
Nesse sentido, tem-se por etnocentrismo, o julgamento, precipitado e preconceituoso, dos outros povos e culturas pelos padrões da própria sociedade, que servem para aferir até que ponto é correto e humano os costumes alheios.
Apesar da acessibilidade e simpatia de alguns dos pesquisados, da arrogância de outros, do medo e angústia de parte deles, o fato é que o preconceito etnocentrista está presente em todos eles e não é um etnocentrismo ingênuo. Ao contrário, é pernicioso.
Nas palavras do falecido professor Paulo Menezes (1999, como em Machado, 2020) “é pernicioso, por trazer no seu bojo um elemento da mais alta periculosidade: a negação do ‘outro’ enquanto tal. E nega-o por senti-lo como uma ameaça à sua própria maneira de ser, e mesmo ao seu ser”. 
O aclaramento sobre a ancestralidade realizada através do DNA dos pesquisados transformou-se, para os mesmos, num poderoso antídoto contra posicionamentos rígidos que mantinham sobre outros povos e culturas. Ampliou lhes o senso de identidade, a maneira como viam suas histórias e como criaram narrativas à respeito de si mesmos e dos outros. 
O impacto de saber que o outro teve um papel na sua constituição identitária sinalizou, para os envolvidos na pesquisa, que houve contextos e condições históricas criadas por algum antepassado de alguma região e cultura totalmente distintas daquela a que pertence. E isso possibilitou reconhecerem-se “no outro”.
Penso que a palavra de ordem e objetivo principal da pesquisa é “conexão”. Quis a experiência, de alguma forma, informar que estamos todos conectados, não apenas pela consanguinidade, afetividade e ancestralidade, mas também pelo fato único de humanos que somos. Que não há necessidade de exagerarmos e muito menos de nos atermos nas diferenças, mas, acima de tudo não devemos perder de vista os aspectos comuns e as convergências. Nada é mais comum e convergente que encontrarmos a humanidade em toda a humanidade aceitando a humanidade dos outros. Haja vista que mesmo diferentes, pelo menos nesse contexto, ainda somos iguais. Que em algum ponto ou dado momento da história estamos ligados e que: ainda que consigamos ignorar as diferenças, seguramente o mais importante e necessário é detectar as semelhanças.
Na medida em que conseguirmos caminhar nessa direção estaremos traçando uma trajetória contrária ao etnocentrismo e ao seu etnocismo[footnoteRef:1], rumo ao relativismo cultural, cuja tendência é olhar com extrema noção de alteridade para as diferenças e peculiaridades das outras culturas e reconhece-las como sendo tão legítimas quanto a nossa própria. [1: Etnocídio: extermínio de uma cultura. Em outras palavras, o intuito é eliminar definitivamente quaisquer traços de um grupo, de uma cultura, de uma etnia, de uma religião. Por vezes é a apropriação cultural. É fazer com que um povo perca os seus costumes e esqueça suas origens. Genocídio assassina os povos em seu corpo, o etnocídio os mata em seus espíritos.] 
Que a cultura, a verdadeira cultura de cada povo, de cada um de nós, depende, em parte, da história de migrações de nossos antepassados. De onde quer que eles tenham vindo e por onde passaram deixaram impressões sanguíneas e de sua cultura e assimilaram a cultura daqueles que cruzaram seu caminho. Portanto, nessa relação dialética o etnocentrismo deveria perder força, pois somos de alguma forma, coparticipantes dessa construção cultural, porque desde nossos ancestrais é da natureza do homem ser nômade e isso nos torna cidadãos do mundo assim como faz do mundo o nosso lar. Nossa veia migrante carrega consigo nossa gênese e cultura de origem bem como absorve a cultura dos destinos traçados. E é com base nessa miscigenação (sanguínea e cultural) que formamos nossa identidade, ainda que não legitimada em muitos casos.
Conquanto, tudo é tão complexo e ao mesmo tempo tão simples. Simples porque cada povo tem direito à sua identidade, à sua cultura, língua, costumes, e deles não podemos fazer pré-julgamentos. Então, teríamos todos de viver uma experiência antropológica com determinada cultura, com determinado povo para formamos qualquer convicção sobre? Consabido que essa experiência já foi realizada no passado e determinadas culturas foram tratadas jocosamente até pelos antropólogos.
Será que podemos, ou até mesmo temos o direito de convir ou divergir?
Ainda nos tempos atuais, países como a Arábia Saudita, cuja legislação é notoriamente repressiva em relação às mulheres, continuam renegando-as, assim como lhes negando direitos que em outras culturas são considerados fundamentais. Elas foram e são relegadas para segundo plano.
Como entender e se posicionar quanto ao sistema de castas na Índia e a realidade dos dalits[footnoteRef:2]? Retificar nossa repulsa por tamanha exclusão ou ratificar a compreensão exigida pelo respeito à diversidade cultural? Conivência passiva ou indignação reativa? [2: Dalit: conhecidos como párias. São todos aqueles que violaram o sistema de castas por meio da infração de alguma regra social e, portanto, vistos como impuros. Em consequência, realizam trabalhos considerados desprezíveis, como limpeza de esgotos, o recolhimento do lixo e o manejo com os mortos. Uma vez rebaixado como dalit, a pessoa coloca todos os seus descendentes nesta mesma posição.] 
Iraque, Irã, Iêmem, Arábia Saudita, Mauritânia, Sudão, parte da Nigéria e parte da Somália são oito dos setenta e um países que impõem a pena de morte a atos homossexuais. Inclusive, seis desses países que patrocinam a homofobia, são Estados-membros da Organização das Nações Unidas – ONU (defensora maior dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana). Essa questão deve ser vista sobre o manto do etnocentrismo ou sobre o manto da alteridade do relativismo cultural?
Todas essas questões são apenas alguns exemplos de distorções culturais mundo afora. São questões que suscitam posicionamentos. Mas até onde podemos ir, sem que isso implique a prática do etnocentrismo, ou que comprometa nossa alteridade por estarmos negligenciando ou sendo omissos ao sofrimento do outro?
O depoimento da Karen, do leste da África, antes de abrir o envelope com seu resultado, e a possibilidade de ver sua identidade de alguma forma contaminada, o receio que sua ancestralidade pudesse de alguma forma descredenciar sua história e a história do seu povo é tão sincera, que é impossível não se comover e de ser solidário ou de se sentir culpado por tudo que passaram. A necessidade de legitimar sua história e de seu povo como vítimas e sobreviventes de toda sorte de discriminação, mutilações sociais e alijamentos de direitos, demonstra claramente que alguns preconceitos são tão fortes que precisam ser vividos para serem compreendidos.
A pesquisa ratificou que a busca pela “raça pura” é um extremismo sem fundamento, pois somos de todos os lugares, feitos de várias partes do mundo, somos fruto de uma mistura étnica e como tal precisamos aprender e apreender conviver pacificamente com as diferenças valorizando as semelhanças. Prova maior é o DNA do Carlos, de Cuba, que comprovou sua ancestralidade em todos os continentes. 
Logo, é com este olhar positivo que devemos combater o etnocentrismo: intercambiando pensamentos, sentimentos, culturas e uma compreensão mais inteligente da diversidade do ser humano.
B – O que o pesquisador quer dizer quando afirma: todos somos primos, no sentido extenso da palavra? E que implicações poderia ter isto para a mediação intercultural?
Cientificamente o pesquisador sinalizou que somos todos, pelo menos aparentemente, “descendentes de uma só mulher (Eva Mitocondrial)[footnoteRef:3] e de um só homem (Adão Cromossomial-Y)[footnoteRef:4]”.Não significa dizer que se tratam dos personagens bíblicos e nem que eles se conheceram e tiveram filhos um com o outro, mesmo porque não viveram sozinhos no mundo. São apenas dois humanos perdidos no passado que por sorte, ou porque tinham melhores genes, acabaram por ter os descendentes que deixaram descendentes até nós. [3: Eva Mitocondrial: é o Mais Recente Ancestral Comum – MRCA (do inglês, Most Recent Common Ancestor) por descendência matrilineal de todos os seres humanos vivos na atualidade.] [4: Adão Cromossomial-Y: é o Mais Recente Ancestral Comum – MRCA , por descendência patrilinear. Ambos, segundo hipótese científica mais aceita, com origem na África.] 
Muito mais que demonstrar que estamos intimamente conectados, que somos todos interdependentes, e, mesmo que de longínquas origens comuns somos mais parecidos do que imaginávamos, quis o geneticista convidar a todos para uma reflexão sobre como vemos os outros, suas culturas e como nos posicionamos diante dos mesmos.
Em outras palavras: mesmo que não nos pareçamos com o outro, ou que não nos sintamos como ele (se é que se pode sentir a herança cultural de alguém), as desigualdades, os preconceitos, as discriminações, os estereótipos precisam ser testemunhados para que haja mudanças.
É quase um apelo emocional, com base no afeto, pois parte-se do pressuposto que temos mais apreço, consideração, solidariedade, tolerância, cooperação, cumplicidade para com nossos familiares. Essa possibilidade de vislumbrar no outro certo parentesco, ainda que distante, permitiria o rompimento de barreiras, de posicionamentos rígidos e na desconstrução de estereótipos. Foi ofertada a possibilidade de olhar o outro sobre uma nova perspectiva, a de que somos descendentes de toda uma ancestralidade que tornou possível a nossa sobrevivência. 
Dizer que somos primos não é uma metáfora, somente difere do que normalmente compreendemos como “nossos primos” (filhos de nossos tios). Que biologicamente e cientificamente as raças não existem, não é uma realidade, mas sim, e apenas, um conceito. Inoperante até, para explicar a diversidade humana e para dividi-la em raças. Daí a tese que somos e temos a mesma origem - a humana - e concluir que esses padrões comportamentais (etnocentrismo e suas vertentes – raciais, de gênero, de cultura superior etc) criaram raças fictícias ou “raças sociais” que se reproduzem e mantêm os racismos populares. 
Todo esse constructo reflexivo influi, em muito, na para mediação intercultural. A partir do momento que você convida as pessoas a se enxergarem como filho de uma mesma família, de uma grande família, estará promovendo um vínculo afetivo entre todos e que a partir desse novo olhar seria possível promover mudanças nas relações interculturais.
Conforme Santos (1988, p. 22), as partes estarão vinculadas por “relações multiplexas”, ou seja, “relações de múltiplo vínculo (opostas às relações de vínculo único que se estabelecem entre estranhos), a continuidade das relações por sobre o conflito tende a criar um peso estrutural a cujo equilíbrio só a mediação se adequa.
Consoante Giménez (2003, p. 174) tem-se por interculturalismo uma nova expressão dentro do pluralismo cultural que, afirmando não apenas o diferente, mas também o comum promove uma práxis geradora de igualdade, liberdade e interação positiva na relação entre sujeitos individuais ou coletivos culturalmente distintos.
Conforme entendimento esposado pelos autores supracitados, temos que o interculturalismo é um modelo de gestão da diversidade cultural, cujo pilar funda-se no princípio da coesão social. Essa coesão seria possível através da promoção da igualdade, da liberdade cultural e da convivência. Conquanto, para que isso ocorra é preciso conhecer o outro, reconhecê-lo e aceita-lo. Tudo esta tão intrinsicamente ligado que o seu sucesso depende da transformação/melhoria das relações e da comunicação. Em outras palavras, busca uma maior interação e transformação das relações entre pessoas de culturas diferentes através do diálogo e da convivência. 
Isso posta, através dos seus modelos, princípios, métodos e técnicas a mediação intercultural se beneficia amplamente dessa aproximação proposta pelo experimento, de quase parentalidade, justamente pela abertura que promoveu através da pesquisa da ancestralidade. A mediação intercultural, na mesma toada que o interculturalismo, principalmente através do modelo transformativo de Bush e Folger, centra-se nas relações e sua transformação.
Somando o fenômeno da interculturalidade ao instituto da mediação, Giménez (1997, p.142) propôs a seguinte definição para mediação intercultural:
Modalidade de intervenção de partes terceiras, em e sobre situações de multiculturalidade significativa, orientada para a consecução do reconhecimento do Outro e a aproximação das partes, a comunicação e compreensão mútuas, a aprendizagem e o desenvolvimento da convivência, a regulação do conflito e a adequação institucional, entre actores sociais ou institucionais etnoculturalmente diferenciados.
Utopia ou não, nasce através da mediação intercultural e do interculturalismo uma possibilidade de lutarmos contra as mazelas do etnocentrismo. De construirmos pontes que sirvam de elos de contato, diálogo, reconhecimento e promoção da convivência pacífica entre pessoas, povos e culturas distintas. 
Referências:
Giménez Romero, Carlos (1997). A natureza da mediação intercultural. Revista de Migraciones, 2, pp. 125-159.
Giménez Romero, Carlos (2003). O que é imigração. Barcelona: RBA.
Meneses, Paulo. (1.999). Etnocentrismo e relativismo cultural: algumas reflexões. Revista Symposium: Universidade Católica de Pernambuco. Recife.
Machado, Jorge. (2.020). Etnocentrismo e relativismo cultural: algumas reflexões. Revista Gestão & Políticas Públicas. Texto revisado pelo professor Jorge Machado. São Paulo.
Martins, Rogério. (2017). Somos todos primos! Programa Isto é Matemática. Fundação Vodafone Portugal. Vídeo de 03/01/2017 Egrégios Avós.
Laghrich, Saloua. (2004). Reflexões sobre mediação intercultural e experiências da comunidade valenciana. TONOS: Revista Eletrônica de Estudos Filológicos, nº 8.
Santos, Boaventura de Souza. (1988). O discurso e o poder: ensaio sobre a sociologia da retórica jurídica. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris.
Sousa, Rainer Gonçalves. As castas indianas. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/as-castas-indianas.htm. Acesso em 20 de dezembro de 2021. 
WIKIPÉDIA – A enciclopédia livre. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Eva_mitocondrial. Acesso em 22 de dezembro de 2021.

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