Prévia do material em texto
Transtornos Alimentares Docente: Nutricionista Mestre e Doutora em Ciências Especialização em Nutrição Clínica Introdução Conceito Os transtornos alimentares são quadros psiquiátricos caracterizados por profundas alterações no comportamento alimentar e disfunções no controle do peso e forma corporal, que levam a sérios prejuízos clínicos, psicológicos e de convívio social. Termo em inglês binge eating disorders DSM-5, 2014 Fisiopatologia dos transtornos alimentares O MAIOR EQUÍVOCO FISIOLÓGICO que pode ocorrer é tentar distinguir a FOME daSACIEDADE Situação de ansiedade – desvio do controlefome-saciedade ANOREXIA • A fome ainda existe mas, por um “controle individual’, a paciente não ingere alimentos. BULIMIA • A fome já foi saciada, mas a vontade de comer não. Vários hormônios, neurotransmissores e substratos energéticos participam da regulação da ingestão alimentar e manutenção do peso. YAGER, 2012 Transtornos alimentares • Anorexia Nervosa (AN); • Bulimia Nervosa (BN); • Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). • Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE); • Picamalácia (Pica); • Transtorno da Ruminação. DSM-5, 2014 Transtornos alimentares • Anorexia Nervosa (AN); • Bulimia Nervosa (BN); • Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). • Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE); • Picamalácia (Pica); • Transtorno da Ruminação; • Ortorexia; • Vigorexia; • Diabulimia; • Drunkorexia; • Fatorexia; • Pregorexia. Fonte: Veja Saúde, 2020. Anorexia nervosa Conceito • O termo anorexia deriva do grego; • An- deficiência ou ausência de; • Orexis- apetite; Modelo gaúcha morre de complicação da anorexia nervosa 21 anos, 48 Kg, 1,65m, IMC de 17,6 Kg/m 2 “Quanto mais emagrecia, mais seguidores e elogios conquistava nas redes sociais” CID 11: F-50.0 - DSM-5: 307.1 CID 10- Classificação Internacional de Doenças,10ª edição - OMS DSM-5- Manual Diagnóstico e Estatístico de TranstornosMentais - APA (Associação Americana de Psiquiatria) DSM-5, 2014 Anorexia nervosa Características • Restrição persistente da ingestão calórica; • Medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; • Perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. DSM-5, 2014 Anorexia nervosa Epidemiologia • Ocorre predominantemente em adolescentes e mulheres adultas jovens; • Pouco se sabe a respeito da prevalência entre indivíduos do gênero masculino. Proporção feminino-masculino de aprox. 10:1; • Taxa de prevalência ao longo da vida variando de 0,3 a 3,7%; • Picos de incidência: aos 14 e aos 17 anos; • Risco aumentado: profissões que exigem leveza para melhor desempenho (ginastas, patinadoras, bailarinas) ou esbeltez para "comercialização" da imagem (modelos, atrizes). Anorexia nervosa Critérios Diagnósticos DSM-5 • Perda de peso e recusa em manter o peso dentro da faixa normal (≥85% do esperado); • Medo mórbido de engordar mesmo estando abaixo do peso; • Perturbação na forma de vivenciar o baixo peso, influência indevida do peso sobre a autoavaliação e negação do baixo peso; Subtipos: 1. Restritivo (dieta e exercícios apenas); 2. Compulsão periódica/purgativo (presença de episódios de compulsão e/ou purgação além da dieta, exercícios). Anorexia nervosa Critérios Diagnósticos CID-11 • Perda de peso e manutenção abaixo do normal (IMC ≤ 17,5 kg/m²); • Perda de peso autoinduzida pela evitação de alimentos que engordam; • Medo de engordar e percepção de estar muito gorda(o); • Distúrbio endócrino envolvendo o eixo hipotálamo- hipofisário-gonadal (amenorreia) e atraso no desenvolvimento puberal; • Vômitos autoinduzidos, purgação e uso de inibidores do apetite e/ou diuréticos podem estar presentes. DSM-5, 2014 Anorexia nervosa Quadro Clínico • Perda da gordura corporal; • Bradicardia; • Hipotensão; • Hipotermia; • Intolerância ao frio; • Dor abdominal; • Sensação de plenitude; • Constipação intestinal; • Perda do interesse sexual; • Perda excessiva de cabelo; • Lanugo corpo e face; • Distúrbio do sono; • Manifestação depressão. DSM-5, 2014 Mulher com anorexia em 1900. Nouvelle Iconographie de la Salpêtrière. Anorexia nervosa Diagnóstico Diferencial - Emagrecimento intenso • Doenças inflamatórias intestinais; • Diabetes mellitus; • Câncer; • Hipertireoidismo; • Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA); • Bulimia nervosa. DSM-5, 2014 Bulimia nervosa Conceito O termo bulimia deriva do grego: • Bous- boi; • Limeos- fome. Fome intensa, suficiente para devorar um “boi”. Sentimento de culpa e medo de engordar. CID 10- Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição -OMS DSM-5- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - APA (Associação Americana dePsiquiatria) Fonte: denisemoreirapsicologa.com CID 11: F-50.0 - DSM-5: 307.51 Bulimia nervosa Epidemiologia • Extremamente rara antes dos 12 anos; • O transtorno é característico das mulheres jovens e adolescentes, com prevalência de 1,1% a 4,2% neste grupo. Etiologia • Fatores de ordem biopsicossocial Bulimia nervosa Critérios Diagnósticos DSM-5 • Episódios recorrentes de compulsão alimentar (excesso alimentar + perda de controle). • Métodos compensatórios para prevenção de ganho de peso: indução de vômitos, uso de laxantes, diuréticos, enemas, jejum, exercícios excessivos ou outros. • Frequência dos episódios compulsivos e compensatórios: em média pelo menos duas vezes/semana por três meses. • Influência indevida do peso/forma corporal sobre a auto-avaliação. Diagnóstico de AN ausente DSM-5- modificação na frequência da compulsão alimentar uma vez/semana por três meses e exclusão dos subtipos CID-11 • Episódios recorrentes de hiperfagia (duas vezes/semana por três meses). • Preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de comida. • Uso de métodos compensatórios para neutralizar ingestão calórica: vômitos, abuso de laxantes, jejuns ou uso de drogas (anorexígenos, hormônios tireoidianos ou diuréticos)*. • Medo de engordar que leva a busca de um peso abaixo do limiar ótimo ou saudável. *diabéticas podem negligenciar o tratamento insulínico (evitando a absorção da glicose sanguínea. DSM-5, 2014 Bulimia nervosa Critérios Diagnósticos Bulimia nervosa Quadro Clínico • Massa corporal adequada; • Vômitos; • Erosão do esmalte dental com aumento das cáries dentárias; • Calos nas articulações dos dedos – Sinal de Russel; • Hipertrofia das glândulas parótidas; • Manifestações clínicas: dor de garganta, esofagite, discreta; • Hematêmese, dores abdominais e hemorragia subconjuntival; • Queixas: culpa, depressão, ansiedade e digestão difícil. Fonte: ptmedical http://www.ptmedical.pt/bulimia-nervosa Bulimia nervosa Diagnóstico Diferencial • Anorexia nervosa, tipo compulsão alimentar purgativa; • Transtorno de compulsão alimentar; • Transtorno depressivo maior, com aspectos atípicos; • Transtorno da personalidade bordeline. DSM-5, 2014 Fonte: abeso http://www.abeso.org.br/ Complicações clínicas na anorexia nervosa e bulimia nervosa • Alterações Metabólicas: hipercolesterolemia, hipoglicemia; • Alterações Hematológicas: anemia, leucopenia; • Alterações Hidroeletrolíticas: hipocalemia, hipomagnesemia, hiponatremia, hipofosfatemia; • Alterações Gastrointestinais: constipação, distensão abdominal, plenitude pós-prandial, esofagite, vômitos, pancreatite aguda; • Alterações Renais: azotemia pré-renal, cálculo renal, hematúria; • Alterações Físicas: lanugo; pele e cabelo (finos, secos e sem brilho); sinal de Russel; • Alterações Dentárias e Bucais: erosão dentária, hipertrofia bilateral das glândulas parótidas. ASSUMPÇÃO & CABRAL, 2002 Fonte: ptmedical http://www.ptmedical.pt/bulimia-nervosa Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) Critérios Diagnósticos DSM-5, 2014 CID 11: F-50.8 • Caracterizado pela ingestão de uma quantidade de alimentos excepcionalmente maior que a quantidade que a maioria das pessoas consumiria em um períodosemelhante e em circunstâncias semelhantes. • A pessoa sente perda do controle durante e após um episódio de compulsão alimentar. • O episódio de alimentação compulsiva não é seguido por purgação ou outras tentativas de compensar o excesso de alimentos consumidos. Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE) Critérios Diagnósticos DSM-5, 2014 CID 11: F-50.8 • Caracterizado pelo fato de que a pessoa come muito pouco e/ou evita comer determinados alimentos sem ter a preocupação quanto à forma física ou o peso que é característica de pessoas com anorexia nervosa ou bulimia nervosa. • Geralmente, a pessoa com esse transtorno é extremamente exigente em relação aos alimentos e aos tipos de alimento. • Por exemplo, é possível que ela evite alimentos que têm uma determinada cor, consistência ou odor. Algumas pessoas têm medo das possíveis consequências adversas da alimentação, como asfixia ou vômito. Picamalácia (Pica) Critérios Diagnósticos DSM-5, 2014 CID 11: F-50.8 - DSM-5: 307.52 • Ocorre quando a pessoa ingere regularmente substâncias que não são alimentos. • Geralmente, o que a pessoa com pica come não lhe faz mal, mas às vezes, a substância ingerida causa complicações, como obstruções do trato digestivo ou intoxicação por chumbo. • O médico diagnostica a presença de pica quando uma pessoa com mais de dois anos de idade tem comido substâncias que não são alimentos por um mês ou mais. • Esses transtornos incluem o autismo, a incapacidade intelectual e a esquizofrenia. Transtorno da Ruminação Critérios Diagnósticos DSM-5, 2014 CID 11: F-50.8 - DSM-5: 307.53 • Caracterizado pela regurgitação de alimentos após terem sido consumidos. • A pessoa com esse transtorno regurgita repetidamente os alimentos tê-los ingerido, normalmente todo dia. • Ela não tem nenhuma sensação de náusea nem ânsia de vômito involuntária. • É possível que a pessoa mastigue novamente o alimento regurgitado e, depois o cuspa ou o engula novamente. • Excluir Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). Nutrição comportamental ALVARENGA et al., 2015 Avaliação antropométrica Peso • O terapeuta nutricional deve construir junto com o paciente o conceito de peso saudável; • O peso é atingido naturalmente, em um processo de tentativa eerro; A recuperação do peso não indica recuperação total e forçar o ganho de peso sem suporte psicológico é desaconselhável. Recomendação nutricional- anorexia nervosa Calorias • A terapia nutricional na AN deve auxiliar o paciente a entender suas necessidades nutricionais, bem como ajudar a iniciar uma escolha alimentar por meio do aumento na variedade na dieta e da prática de comportamentos adequados relacionados aos alimentos. • A realimentação com alimentos é a primeira escolha para a recuperação do peso para a AN. Atenção a síndrome darealimentação Recomendação nutricional- anorexia nervosa Calorias • A meta principal é ajudar o paciente a normalizar seu padrão alimentar e fazer com que ele compreenda que a mudança de comportamento deve envolver planejamento e prática com alimentos reais. • A reabilitação nutricional se propõe a alcançar uma dieta balanceada e suficiente para atender as necessidades do paciente e recuperar seu estado nutricional debilitado devido ao distúrbio. • A alta ingestão calórica é necessária para a recuperação do peso, devido à taxa metabólica basal estar alterada. • Cada programa de tratamento deve individualizar seu próprio protocolo para pesagem dos pacientes em um programa de internação ou ambulatorial. Diário alimentar ALVARENGA et al., 2004 Data Hora O que comeu e quanto? Compulsivo? Purgação? Fome (0- 10)? Satisfação? Duração? Onde/ com quem? Sentimento? Fome Fisiológica x Fome Hedônica Imagem: Webdiet ALVARENGA et al., 2015 Anamnese usada no CEMAN – Centro Municipal de Alimentação e Nutrição, Cabo Frio. Terapia nutricional - anorexia nervosa e bulimia nervosa Enteral • Via de acesso: usualmente por sonda nasogástrica; • Escolha da dieta: polimérica, isotônica, hipolipídica e isenta de fibras; • Técnica de infusão: contínua por bomba ou cíclica noturna; • Velocidade de infusão: iniciar a 20 mL/h e progredir para 40 mL/h até atingir o GET. Terapia nutricional - anorexia nervosa e bulimia nervosa Parenteral • Indicação: pacientes resistentes ao tratamento usual; • Velocidade de infusão: Iniciar a 25 mL/h; • Contraindicação: história recente de tentativa de suicídio. GET- gasto energético total Checar exames laboratoriais; progressão conformetolerância Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Atendimento no Rio de Janeiro • CETTAO – Centro de Estudos e Tratamento de Transtornos Alimentares e Obesidade. Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. • GOTA – Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares. Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. • CEMAN – Centro Municipal de Alimentação e Nutrição, Cabo Frio. ALVARENGA, M. Nutrição Comportamental. São Paulo: Editora Manole, 2015. CUPPARI, L. Nutrição Clínica no Adulto. 4. ed. São Paulo: Editora Manole, 2018. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. DSM-5, 2014. WAITZBERG, D. L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2017. YAGER J.; ANDERSEN, A.; DEVLIN, M.; EGGER, H.; HERZOG, D.; MITCHELL, J. et al. Pratice guideline for the treatment of patients with eating disorders, 2012. THURM, Bianca Elisabeth et al . Revisão dos métodos empregados na avaliação da dimensão corporal em pacientes com transtornos alimentares. J. Bras. Psiquiatr., Rio de Janeiro , v. 60, n. 4, p. 331-336, 2011 . SCHEBENDACH, J. E; MAYER, L. E; DEVLIN, M. J; ATTIA, E; CONTENTO, I. R; WOLF, R. L; WALSH, B. T. Food choice and diet variety in weight- restored patients with anorexia nervosa. J Am Diet Assoc, New York, p. 732–736, Mai. 2012. ASSUNÇÃO, S.S.M.; CORDÁS, T.A.; ARAÚJO, L.A.S.B. Atividade física e transtornos alimentares. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 29, n. 1, p. 4- 13, 2002. COCKFIELD, A; PHIPOT, U. Symposium 8: Feeding size 0: the challenges of anorexia nervosa: Managing anorexia from a dietitian’s perspective. The Nutrition Society, Harrogate, p. 281-288, 06 May. 2009. Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Bibliografia complementar Até a próxima!