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Pancreatite Crônica ➽ Definição A pancreatite crônica, como o próprio nome indica, é uma inflamação crônica do pâncreas, que resulta em atrofia e fibrose deste órgão. Isso causa um dano tanto em suas funções endócrinas, quanto exócrinas. A definição mais adequada para esta doença atualmente afirma que: “A pancreatite crônica é uma síndrome patológica fibroinflamatória do pâncreas, em indivíduos com fatores genéticos, ambientais e/ou outros fatores de risco que desenvolvem resposta patológica para estresse ou lesão parenquimatosa persistente.” Já o quadro de pancreatite crônica em estágio final seria descrito por atrofia pancreática, fibrose, síndromes álgicas, distorção e estenose dos ductos, calcificações, displasia e disfunção endócrina e exócrina. ➽ Diagnóstico Para ser realizado o diagnóstico de pancreatite crônica, deve-se levar em consideração alguns fatores: ● Exposição ao risco: histórico de etilismo ● Histórico familiar: parentes com história de pancreatite crônica ou aguda ● Episódios prévios de pancreatite aguda ● Características da dor: em abdome superior, em faixa, que irradia para o dorso ● Esteatorreia ● Sintomas de deficiência vitamínica (lipossolúveis) Diante de uma suspeição clínica, o diagnóstico é realizado a partir de exames de imagem. O primeiro exame a ser realizado é a TC ou RNM de abdome superior, que irá demonstrar sinais sugestivos de pancreatite, como as microcalcificações do ducto pancreático. Pode-se lançar mão de ecoendoscopia digestiva alta nos casos em que há suspeita de de pancreatite crônica e há pouca definição pelo exame de imagem (em casos de pancreatites mais leves). A professora menciona ainda sobre a CPRM, que é utilizada quando a dúvida acerca da imagem permanece. Nesse exame, é estimulada a liberação de secretina, que provoca a liberação de bicarbonato, gerando boa visualização do ducto. Há ainda a CPRE, que é utilizada quando há contraindicação para a realização da TC ou RNM e quando será realizada uma cirurgia. Neste exame, é possível visualizar um ducto pancreático tortuoso, graças às calcificações. O teste padrão ouro para o diagnóstico de pancreatite crônica é histológico (ECO EDA com punção por agulha fina), mas raramente é utilizado porque o pâncreas não é um órgão fácil de se puncionar por conta de sua localização. Esse teste só é feito quando a dúvida diagnóstica permanece (história clínica forte, exames inconclusivos). Existem também os testes de função pancreática, que são úteis para identificar insuficiência pancreática exócrina. Não serve para o diagnóstico da pancreatite crônica em si, e sim para complementar o diagnóstico. Isso se deve ao fato de que paciente só perdem função pancreática exócrina em estágios avançados da doença (> 90% de perda do pâncreas). Dentre estes testes, o mais utilizado é o teste da elastase fecal. O ponto de corte para esse teste varia muito e estudos mostram que quantidade < 200 mcg por grama nas fezes causam altas taxas de falso positivo. Valores < 100 mcg por grama nas fezes apresentam mais especificidade. ➽ Etiologia A causa mais comum para o desenvolvimento da pancreatite crônica é tóxico- -metabólica (etilismo), atingindo cerca de 70-80% dos casos. Há ainda a etiologia genética, especialmente associada ao quadro de pancreatite em pacientes jovens (alterações nos genes PRSS1, SPINK1 e CFTR). Há ainda a pancreatite autoimune, representada por dois tipos: tipo I e tipo II. A tipo I é de diagnóstico e tratamento mais simples do que a tipo II. O paciente pode desenvolver pancreatite crônica após inúmeras pancreatites agudas, ou após uma pancreatite aguda severa ➽ Quadro Clínico Do ponto de vista clínico, existe uma tríade clássica, composta por: ● Calcificação pancreática ● Perda de função endócrina: diabetes ● Perda de função exócrina: esteatorreia Outros achados da pancreatite crônica são dor abdominal (com o mesmo padrão já conhecido, geralmente após alimentação gordurosa) e emagrecimento. O emagrecimento está associado à esteatorréia e à síndrome disabsortiva, mas também ao medo de comer, pois o paciente tem receio de sentir dor após a alimentação. ➽ Tratamento O tratamento clínico inclui a interrupção do etilismo e do tabagismo (é um fator de evolução da doença e aumenta as chances de câncer de pâncreas), a realização de dietas pobres em gordura e o uso de analgesia escalonada (iniciar com analgésico mais simples e ir adicionando outros conforme for alcançada a dose máxima do analgésico já utilizado): 1. AINE 2. Amitriptilina 3. Opioide Além disso, devem ser utilizadas enzimas pancreáticas (Creon, 2 cap, durante as refeições) para a esteatorreia, com adição de IBP para tornar o pH menos ácido e proporcionar o funcionamento das enzimas. Caso seja um pâncreas já muito castigado pela pancreatite, talvez seja necessário iniciar a administração de insulina (pancreatite avançada cursa com diabetes). Avaliações nutricionais devem ser realizadas periodicamente, assim como testes para osteoporose e dosagem de vitaminas lipossolúveis. Exames de rastreio para malignidade ainda não são embasados por evidências científicas. O tratamento cirúrgico da pancreatite crônica é indicado em casos de dor clinicamente intratável. Como já dito anteriormente, a CPRE deve ser realizada antes de qualquer procedimento cirúrgico deste tipo. Uma das opções cirúrgicas é a pancreatojejunostomia látero-lateral em Y de Roux, utilizada em pacientes que têm o ducto pancreático dilatado (> 7 mm) . Nesta cirurgia, é realizada uma incisão no pâncreas, na região do ducto pancreático principal, seguida de uma anastomose intestinal, ligando o pâncreas diretamente ao intestino. Caso o ducto pancreático não esteja dilatado, a cirurgia supracitada não pode ser realizada. A opção, então, é realizar uma cirurgia que remova a região com mais calcificações. Se essa região for a cabeça do pâncreas, é feita um duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple), tendo em vista que, como compartilham a mesma vascularização, ao remover a cabeça do pâncreas, é preciso remover o duodeno (no caso da Whipple modificada, é preservado o piloro). Caso a área com mais calcificação seja o corpo ou a cauda, é feita a CHILD (pancreatectomia subtotal distal). Abaixo temos a Whipple modificada. A complicação associada à pancreatite crônica é a hipertensão portal segmentar, com varizes de fundo gástrico e esplenomegalia, sem varizes esofágicas. A conduta nesses casos é a esplenectomia.
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