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IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 1 Conta a mitologia que um dia Vulcano acordou de mal-humor, deu uma olhada no panteão divino para ver com quem iria brigar, descobriu que era o turno de Ceres, deusa da fertilidade, dos campos e da agricultura, e sem deixar passar um minuto, resolveu acender o vulcão Vesúvio, arrancou da Terra todos os grãos de trigo, quebrou-os com a fúria de seu martelo de forja e jogou a farinha obtida entre as chamas e vapores sulforosos do vulcão. Por último, verteu um pouco de seiva de azeitona sobre a estranha mistura....Assim, Vulcano comeu o primeiro prato de espaguete ao óleo. Origem e História A origem do macarrão é incerta, mas aquele que pode ser considerado o seu predecessor existiu na forma de uma massa cozida à base de cereais e água, consumida pelos assírios por volta de 2500 a.C. Os antigos hebreus, no século V a. C. usavam em cerimônias religiosas uma espécie de massa chata. No século XIII, após visitar a China, Marco Polo teria levado o macarrão para o Ocidente. No entanto, 16 anos antes de seu retorno à Itália, Ponzo Bastione, um soldado genovês, já IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 2 registrava em seu inventário uma cesta de massas. A palavra macaronis, usada no inventário, seria derivada do verbo maccari, de um antigo dialeto da Sicília; significa achatar e, por sua vez, vem do grego makar, que quer dizer sagrado. O termo macarrão foi usado na Idade Média para indicar vários tipos de massas. Existe ainda outra versão que diz que no século IX, quando os árabes conquistaram a Sicília, para lá levaram a massa. Os italianos inventaram mais de 500 variedades e tipos de macarrão, sendo reconhecidos como os maiores difusores e consumidores deste alimento, no mundo (no final do manual ‒ algumas dessas variedades foram listadas). Sendo assim, o mais provável é que as massas tenham sido inventadas por diferentes povos e quase ao mesmo tempo. Vale destacar que, na Itália, o tipo de massa consumida marcava o status social dos que o consumiam. A massa feita com ovos, assim como as recheadas de carne, eram pratos típicos dos ricos. Já as massas elaboradas somente com água eram consideradas como comida dos pobres. A industrialização da elaboração das massas teve como conseqüência a grande variedade de formatos e tipos que hoje conhecemos. Ao início do século XX, com o desenvolvimento industrial, foram aprimorados os equipamentos específicos para a produção de massas alimentícias. A simplicidade do processo, o fácil manuseio e a estabilidade dos produtos no armazenamento também contribuíram para sua grande aceitação. Atualmente, a massa na Itália é consumida como entrada, ou também fria como antepasto. Já em outras partes do mundo, a massa é servida como prato principal (como na Argentina) ou como guarnição de pratos quentes. Aqui no Brasil, a massa é consumida das duas formas. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 3 O TRIGO Surgiu, há mais de 10 mil anos, na região da mesopotâmia. Achados arqueológicos indicam ter sido o segundo grão cultivado, após a cevada. Acredita-se que foi a cultura-chave para o desenvolvimento da civilização ocidental, pois seu cultivo permitiu que o homem finalmente abandonasse milhares de anos de caça e coleta, fixando-se em povoados e construindo cidades, desenvolvendo as mais diversas profissões, as artes e as ciências, graças à reserva das sementes armazenadas. Hoje em dia, quase todos os países possuem grãos adaptados à sua região, clima e solo. Logo, cada país produz um tipo de pão com características próprias. A América, por exemplo, possui grandes extensões de terra dedicada ao cultivo de grãos de trigo, cujas variedades foram cruzadas para obter mais farinha em períodos de desenvolvimento mais curto e em climas mais frios. Juntamente com o arroz, o trigo é um dos cereais mais consumidos mundialmente. As variedades diferem quanto às espécies, à época do plantio e à composição nutricional. Um dos aspectos mais relevantes para a culinária é a tipificação de farinhas originadas do trigo. A estrutura anatômica dos grãos de cereais é bastante similar. Inclui, como já vimos em panificação, pericarpo, semente e germe. Essa estrutura, só para lembrar, é básica para os métodos de beneficiamento. CLASSIFICAÇÃO DO TRIGO O trigo é dividido em três grandes classes: duro, mole e durum. O durum apresenta elevado teor de proteína (15%) e é próprio para produção de pastas alimentícias. O tr igo durum possui maior dureza, óbvio, e apresenta-se um pouco translúcido e IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 4 frágil. Possui maior conteúdo protéico e é cultivado nos continentes americano, asiático e africano. É empregado na elaboração de semolina, massas industrializadas e em massas que exigem grande elasticidade. Os tr igos duros têm cor escura e em média 13% de proteínas, principalmente as formadoras de glúten e por isso sua farinha tem excelente característica de panificação. Trigos moles ou macios contêm teor de proteína em torno de 10 % e qualidade tecnológica adequada à produção de biscoitos ou pães tipo árabe. Os trigos macios originam-se principalmente da Europa. São grãos muito brancos e esponjosos. São utilizados para fazer massas artesanais, pães e em preparos da confeitaria em geral. *O trigo sarraceno, também conhecido com mourisco, trigo preto ou trigo mouro, embora não pertença à família do trigo, é utilizado como tal. É obtido a partir das sementes da Fagopyrum esculentum. As sementes torradas e descascadas são conhecidas como KASHA, alimento popular na alimentação dos russos e do Oriente Médio. Como ele se produz o macarrão Soba, de origem japonesa. Não contém glúten e por isso pode ser utilizado por portadores de doença celíaca. (disponível em: http://www4.ensp.fiocruz.br/terrapia/?q=trigosarracenogerminado acessado em 26/10/2010) AS FARINHAS A resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 263 (Anvisa, 2005), define farinhas como produtos obtidos de partes comestíveis de uma ou mais espécies de cereais, leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por moagem e/ou outros processos tecnológicos considerados seguros para produção de alimentos. Sua classificação depende do grau de moagem. A melhor farinha para elaborar massas artesanais é a farinha 0000, obtida da parte central do grão do trigo. Esta farinha é muito branca e possui grande quantidade de glúten; o que dá à IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 5 massa muita elasticidade, fazendo com que a mesma fique mais fácil de ser trabalhada, à medida que se hidrata. Para se obter massas mais duras que resistam mais à cocção, pode-se substituir parte da farinha por semolina. Isso porque a semolina tem uma textura mais grossa que a farinha, tornando-a mais difícil de ser hidratada. Já na elaboração de massas de forma industrial, utiliza- se somente sêmola, pelo fato dela absorver também menos líquidos. Nesse caso, é imprescindível o uso de uma sovadora, já que se torna mais difícil ou impossível trabalhar a massa com a mão. Vejamos abaixo a classificação da farinha de trigo quanto ao teor de proteína e indicação de uso: Classif icação do tr igo Percentual de Proteína Indicação de uso Trigo durum 13,5 -15,0 MASSAS Trigo duro 9 ‒ 14 Pães Trigo mole 7,5-10,0 Biscoitos e bolos AS MASSAS SECAS As massas secas, por serem simples e de preço acessível, são muitopopulares, à medida que cozinham facilmente e agradam o paladar de adultos e crianças. As massas secas também são consumidas na Ásia, sobretudo na China e no Japão- deste último originam-se as massas de arroz. Segundo a crença popular daqueles países, o alto consumo de massas secas deve-se ao fato das massas compridas assegurarem vida longa aos comensais. Entretanto, pode-se IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 6 verificar que o motivo real do consumo das massas longas na Ásia é que são mais cômodas de manejar com palitos do que as massas curtas. INGREDIENTES DAS MASSAS SECAS Seus ingredientes são: farinha de trigo durum, água e em alguns casos, ovos em pó. Elas podem ter diversas cores, quando se acrescentam vegetais secos e em pó, como beterraba, cenoura, espinafre, etc, ou corantes artificiais, no preparo da massa. AS MASSAS FRESCAS As massas frescas, amassadas à mão, obtêm um sabor melhor e mais delicado que as massas secas, e é por isso que seu consumo torna-se mais prazeroso, por mais que dê trabalho para fazer. As massas frescas podem ser elaboradas com farinha de trigo durum, duro ou macio, só com água ou ovos inteiros; ou utilizar apenas gemas, purê de vegetais, azeite, tintas de lulas, etc. Em quaisquer dos casos, o importante é trabalhar bem a massa para que se adquira uma boa textura. As formas dadas às massas frescas, se comparadas com a produção industrial, são escassas, à medida que se gasta muito tempo para fazê-las e armá-las, entretanto, sempre teremos resultados excelentes. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 7 Dentre as massas recheadas, seja qual for a forma que tenham, em geral, substitui-se parte dos ovos por água para que tenha mais elasticidade. Com relação à variedade de recheios, pode-se dizer que são infinitas e depende da criatividade do chef. Eles podem ser de vegetais, carnes de todo tipo (cruas ou cozidas, picadas grosseiramente ou processadas). Vale lembrar que se as carnes são utilizadas cruas, o recheio fica mais saboroso e molhado, mas o tempo para seu consumo é mais reduzido. Normalmente, nas fábricas de massas, os recheios são empregados cozidos para evitar contaminação e preservar a segurança alimentar. Além disso, podem ser utilizados nos recheios, queijos de todo tipo, e, inclusive na cozinha moderna, vários chefs já estão utilizando recheios à base de caldos de carne em combinação com gelatinas, dando como resultado recheios líquidos e surpreendentes ao paladar. A MASSA CASEIRA Ainda que sejam vendidas centenas de tipos de massas, elaborar uma massa caseira é uma experiência única e inesquecível. Preparar a massa manualmente é como uma obra de arte exige técnica e sensibilidade da pessoa que está fazendo. Dependendo do tipo de massa, leva-se pouco tempo para ficar pronta e sempre com resultados excelentes. O suave amassado e o calor das mãos ajudam a obter uma massa muito elástica que pode ser estirada e formatada com facilidade. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 8 Caso se opte em utilizar um processador para fazer a massa, tempo na fase de mistura será economizado, contudo é muito importante amassá-la e sová-la depois desse passo. Além disso, recomenda-se não carregar demais o processador, já que é muito frágil e pode quebrar, assim como não colocar mais de 500 gramas de farinha por vez na respectiva máquina. Sendo assim, estando a massa “amassada”, deixe-a descansar para que perca elasticidade e seja mais fácil de esfriar. Convém esperar um pouco, deixar secar as massas, antes de cozinhar as tiras. Isso acontece porque as massas preparadas na hora, frescas, cozinham instantaneamente, o que resultam em massas com uma estrutura ruim, podendo grudar as tiras de massas umas nas outras. Desse modo, a orientação no preparo das massas caseiras é não cozinhar imediatamente depois de cortadas. Importante alertar que em qualquer caso, deve- se cozinhá-las em água abundante com sal. Nos restaurantes, onde são elaboradas grandes quantidades de massas, temos várias opções para fabricá-las e guardá-las. A primeira consiste em elaborar as massas, colocá-las em placas e congelá-las. Uma vez congeladas, deve-se pesar as porções e guardar em bolsas plásticas individuais. No momento de servir, cozinha-se a massa diretamente em água fervendo. Congeladas, as massas duram aproximadamente três meses. Já a segunda opção, sem dúvida a mais utilizada em restaurantes, é marcar a massa, ou seja, primeiro cozinha-se a massa em água fervente e depois se esfria em água gelada. Depois disso, essa massa é guardada em recipientes plásticos ou de aço inox, sempre regadas com azeite para não grudarem. Concluindo essas etapas, as massas duram 24 horas. Interessante explicar que passado esse tempo de 1 dia, a massa começa a ficar branca e sua estrutura escorregadia. Ou IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 9 seja, mesmo secando-a, ela ficará muito quebradiça e durará aproximadamente uma semana. Assim, cabe à pessoa que está preparando a massa em escolher o dia do consumo e o resultado que procura obter. AS PROPORÇÕES BÁSICAS A farinha, na elaboração de massas artesanais, é hidratada a 50%. Isso quer dizer que, para cada 100 g de farinha, deve-se incorporar 50 ml de líquido. É por essa razão que os italianos, ao elaborar uma massa com ovos, utilizam um ovo para cada 100 gr. de farinha, já que o peso médio de um ovo é de 50 gramas. De acordo com o sabor e a textura que se quer dar à massa, pode-se substituir os ovos ou parte deles por água, azeite, purê de vegetais, gemas, etc., mas sempre respeitando a proporção de hidratar a farinha a 50 %. Nas fábricas de massa não se usa farinha, mas sêmola. Nesses casos, hidrata-se a 30%, o que faz com que, a massa fique arenosa, impossível de trabalhar à mão. Essa mistura é colocada imediatamente na sovadora, tomando-se uma massa muito firme. Por uma questão de gosto, substitui-se grande parte dos ovos em pó por água. Em ambos os casos, deve-se colocar 20 gramas de sal por quilo de massa. OS NHOQUES Os nhoques, que são pequenas bolas de massas, podem ser preparados com diferentes ingredientes. A preparação de nhoques é muito antiga. Em Verona, são muito tradicionais. Atualmente são preparadas na sexta-feira de carnaval em frente à Basílica de San Zeno Maggiore. Em séculos anteriores, os nhoques eram feitos somente com farinha e água, já que o uso de batatas na IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 10 massa só foi generalizado na Itália no século XIX, procedente da Áustria. Os artistas vienenses empregavam a massa de batatas em pratos doces. As duas versões mais difundidas de nhoque são: • Allá romana: feito com sêmola; • Piemonteses: feitos com batatas. Nota: também podem ser feitos com ricota ou ricota defumada (de origem celta). NHOQUE A LA ROMANA Esse nhoque é elaborado entornando a sêmola sem parar sobre o leite fervendo, mexendo por cinco minutos, para que não se formem grumos. Acrescentam-se gemas, deixa-se esfriar sobre uma placa, cortam-se os pedaços e coloca-se para esquentar no forno, com manteiga. Caso prefira, pode-se perfumar ou aromatizar o leite com ervas e especiarias. Pode-se também incorporar à massa diferentes tipos de queijo, ou ainda acrescentar espinafre e presunto cru ralado. Receita base: • 600 ml de leite; • 200 g de sêmola; • 3 gemas. NHOQUE DE BATATA Essa massa não é fácil de ser elaborada. Segundo os italianos,é preciso sentir a massa, em vez de medir quantidades exatas. O mais importante é não exceder a quantidade de farinha (máximo de 1/3 do peso das batatas, 30%), caso contrário, o nhoque tornar-se pesado e desagradável ao paladar. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 11 Para se conseguir um bom resultado, é fundamental que as batatas não absorvam muita água. Para isso, o tempo de cozimento deve ser adequado. Assim sendo, recomenda-se colocar as batatas com pele em água fria, e uma vez fervida a água, não deixar borbulhar demais, senão as batatas vão começar a descascar e a romper, absorvendo água. Logo, o resultado interferirá no preparo dos nhoques. Outra forma de fazer é cozinhar a batata no forno com a pele. Receita base: • 1 Kg de purê de batatas • 1 ovo • 300 gramas de farinha • Fermento químico Nota: o fermento químico faz com que os nhoques fiquem mais leves. No caso de congelá-los, utilizar 400 gramas de farinha por quilo de batata. Uma vez elaborada a massa, faz-se rolinhos e cortam- se bolinhas de massas. Essas são passadas em uma nhoqueira, ou de forma bem caseira, com um garfo (isso é que os italianos chamam de “rigare”). Fazendo isso, as bolinhas de massa transformam-se em lâminas, sua cocção é mais rápida e homogênea e absorvem melhor o molho. O cozimento é muito rápido, sempre com água fervente em abundância e com sal. Podem ser congelados crus ou “marcados” e armazenados do mesmo modo que as massas frescas. Nota: As massas de nhoque, assim como as frescas, podem ser perfumadas com ervas, purê de vegetais, especiarias, etc. É importante lembrar que não é preciso deixar a massa de nhoque descansar, visto que se torna mole e pegajosa. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 12 CREPES Prato clássico da região da Bretanha (noroeste da França), onde é elaborado com trigo sarraceno, e é servido com manteiga salgada. É uma massa muito fina e ligeira de preparo, podendo ser doce ou salgada. É feita em uma frigideira ou em um recipiente especial chamado crêpière. A palavra vem do latim crispus, que significa ondulado. Os crepes levam, além de ovo, manteiga e leite, precisam de farinha branca e açúcar, ingredientes considerados artigos de luxo no passado. Interessante saber que muito antes da invasão dos fast food americanos, os crepes eram a forma mais popular de mostrar a gastronomia francesa. A massa deve ser preparada com antecipação para que hidrate bem e não seque muito rápido. A receita pode ser elaborada com qualquer líquido (leite, água, cerveja, suco, etc.). A massa deve ser bem fluida. As possibilidades de acompanhamento dos crepes, sejam doces ou salgados, são infinitas. O crepe pode ser servido tanto como entrada, como prato principal, guarnição de carnes ou sobremesas. LASANHA A lasanha merece um destaque à parte. As “lasagne” são um dos tantos tipos de massa italiana, típica da região da Emília Romana e das Marcas. A lasanha é um prato conhecido desde dos tempos da Roma Antiga, e a palavra lasanha é de origem latina: “lasanum”, que significa caçarola, um utensílio de cozinha, e também de IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 13 origem grega “lasanon”, termo usado para designar tiras de massas cozidas ou fritas em pedras quentes. A segunda origem da palavra é realmente mais adequada. A massa, preparada à base de farinha e ovos, é trabalhada até se obter umas lâminas finas de cerca de 10 cm de largura e 20 cm de comprimento. Esses retângulos de massa são dispostos em camadas e depois em um recipiente, alternando a pasta com algum tipo de molho de carne ou outros condimentos. Essa massa pode ser preparada também, acrescentando-se a ela espinafres cozidos e processados, o que dará a lasanha uma cor verde. OS MOLHOS As massas, uma vez cozidas, necessitam de um condimento que lhes traga cor e sabor. Sendo assim, qualquer que seja o tipo de molho escolhido, deve-se colocá-lo na massa recém- escorrida. O molho para a massa deve revelar o sabor da mesma com seu perfume, e não escondê-la. Quando se deseja condimentar massas somente com manteiga e queijo ralado, é aconselhável reservar um pouco de água do cozimento para diluir a preparação para o caso da massa ficar muito seca. Antigamente, os molhos eram feitos com muito tempo de cozimento, dando como resultado preparações muito pesadas. Na atualidade, a tendência é fazer molhos mais rápidos, preparados no momento. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 14 ALGUNS MOLHOS CLÁSSICOS PESTO GENOVÊS O pesto é um molho clássico frio elaborado em um pilão. De origem genovesa, é famoso em todo o mundo. Ao redor da Riviera italiana existem numerosas variações, mas com poucas diferenças em sua composição. É elaborado à base de manjericão, pinhões e alho, enriquecido com queijo parmesão. Por uma questão de economia, em alguns lugares os pinhões (pignoles) são substituídos por nozes. Como variante do preparo, os pinhões podem ser tostados antes de moídos, para que seu aroma seja acentuado. Nota: O alho deve estar seco, mas não muito velho, isso porque os secos e com brotos verdes têm um sabor forte e amargo que é transmitido ao molho. CARBONARA Molho simples e clássico. Deve-se ter certo cuidado em sua elaboração para não cozinhar os ovos duas vezes, posto que pode arruinar a textura cremosa que deve ter o molho.Sua composição leva toucinho salgado ou defumado. Receita base 180 gramas de toucinho (bacon) 1 dente de alho 50 ml de azeite 4 ovos 80 gramas de queijo parmesão Opcional: 100 gramas de nata. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 15 BECHAMEL É o que comumente conhecemos como molho branco. Seu nome deve-se a Louis de Bechameil, financista do século XVII, que também havia sido mordomo do rei francês Luis XIV. Na época, um dos cozinheiros do rei, François Pierre de La Varenne, criou e dedicou sua criação a Bechameil. Em sua versão original, combinava-se um caldo claro com um avermelhado, e depois era adicionada uma grande quantidade de creme de leite. Na forma tradicional, condimenta-se o molho com sal, pimenta e noz moscada. BOLONHESA São chamadas assim diversas preparações inspiradas na cozinha italiana, da cidade de Bolonha em particular, acompanhadas de um molho espesso à base de vegetais e carne de vaca. Na Itália, o molho à bolonhesa que acompanha as massas leva o nome de “ragú”, adaptação do francês, ragout. Mais rico que a versão francesa, ele contém presunto picado, vegetais, carne de vaca, carne de porco magra, fígado de frango e vinho branco. EXPRESSÕES e PALAVRAS COMUNS ÀS MASSAS Pasta: Massa Paglia e fieno (palha e feno) Refere-se a um molho feito com espinafres e ovos. Al dente (ao dente): Diz-se do ponto de cocção em que a massa fica resistente à mordida. (comum na Itália) Pasta al uovo: IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 16 Massa típica do norte da Itália (Bolonha) elaborada com ovos. Pasta Nera: Massa negra cuja cor deve-se à tinta da lula. Pasta Rossa: Geralmente refere-se à massa feita com molho de tomate ou só o molho de tomate em si. Os italianos trouxeram para o Brasil o hábito de comer “pasta”. Vejamos os TIPOS DE MASSAS E SUAS CARACTERÍSTICAS, que fazem parte da mesa do brasileiro: MASSAS CARACTERÍSTICAS ALETRIA ou CAPELLI D’ANGELO Massa seca de fios muito finos, assim denominados em Portugal. NoBrasil, é conhecida como cabelo de anjo e é utilizada em sopas ou doces com ovos e leite. BUCATINI Massa com formato de fios longos e grossos furados no centro CALZONE Massa de pizza recheada e dobrada em forma de pastel CANELONE Massa quadrada, recheada com ricota ou presunto e queijo e enrolada na forma de cilindro; levada ao forno com molho. CHUKAMEN Massa chinesa usada para o preparo do yakisoba CONCHIGLIE Massa em forma de concha, recheada com carne, ricota, cogumelos, etc. ESPAGUETE Massa mais popular. IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 17 Apresenta-se na forma de varetas longas (25 a 30 cm). Servida com molhos. Pode variar de acordo com a espessura e coloração. Seu nome significa barbante. FARFALLE FARFALLE Massa em forma de borboleta ou gravatinha. Pode apresentar variações na denominação em função do tamanho: farfallini, tamanho pequeno, e farfallone, tamanho grande. FUSILLI Massa retangular, de aproximadamente 15 cm, enrolada em forma de espiral. Popularmente conhecida como macarrão parafuso. Pode ser servida com molhos, sopas e em saladas. MACARRÃO DE ARROZ Massa utilizada em preparações asiáticas. Elaborada a partir de farinha de arroz em fios grossos ou finos. É vendida seca e pode ser frita ou escaldada. Outro nome dado é bifum. MASSINHA Massa em formato de chumbinho, alfabeto, estrelinha ou alpiste. Frequentemente utilizada em sopas infantis. NHOQUE Massa feita à base de batata, farinha de trigo e ovos que, depois de pronta, é cortada em pequenos cilindros e, posteriormente, cozida em água e sal. No Brasil, também é preparado com mandioca, cará, inhame, abóbora e fruta- pão. Tradicionalmente IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 18 consumida no dia 29 de cada mês com uma nota de dinheiro embaixo do prato, pois acredita-se que traz riqueza. PENNE Massa cilíndrica oca, de tamanho médio, com as pontas cortadas em diagonal. Pode ser servida com molhos ou ser utilizada em sopas e saladas. RIGATONI Massa no formato de tubos curtos, largos e canelados com corte horizontal nas extremidades. Pode ser servido com molhos e em sopas e saladas. RAVIÓLI Massa em forma de pequeno pastel. Servida com molhos e recheios variados. Os recheios mais comuns são carne ou ricota com espinafre. SOBA Macarrão japonês feito com farinha de trigo sarraceno. Encontrado seco ou fresco e geralmente utilizado em sopas. TUBETTI Massa em formato de pequenos tubos com tamanho menor que o rigatoni. Utilizada principalmente em sopas. UDON Massa japonesa produzida com farinha de trigo. Mais larga que o soba e também pode ser servida quente ou fria. BENFATTI A palavra benfatti significa “bem feita” e originalmente descrevia as pequenas aparas de massa que sobravam da fabricação de outras formas, com os tagliatelle. Tradicionalmente, eram aproveitadas em sopas para IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 19 não se desperdiçarem, mas tornaram-se tão populares que hoje são feitas e comercializadas por mérito próprio. Existem benfatti simples e com ovo e são boas tanto em saladas como em sopas. CHIFFERINI Também chamadas chifferi, chifferoni e chifferotti, são tubinhos curvos como maccheroni curtos dobrados. Algumas versões são estriadas (rigatini). Os furos centrais enchem-se de molho, tornando-os um formato excelente para todos os tipos de molhos e sopas. ELICHE O nome vem da palavra italiana parafusos ou hélices, exactamente o que estas massas lembram. São frequentemente confundidas com os fusilli, que são parecidos, mas comparando- os existe uma diferença evidente. As eliche são pedaços curtos de massa, torcidos em espiral como parafusos. LUMACHE As cascas de caracol serviram de inspiração para estas massas de forma atraente. Ao contrário dos conchiglie, não parecem conchas mas uma versão maior das pipe, porque são talhadas a partir de massas ocas. São excelentes para reter molhos. PIPE Estas formas parecem um cruzamento de conchiglie e IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 20 lumache. São curvas e ocas (o nome significa cachimbo) e, mais frequentemente, estriadas. Para massas curtas, são bastante pequenas. São excelentes para reter o molho e uma alternativa interessante a outras formas ocas, mais comuns. ROTELLE Massa em forma de roda de carroça. Embora não seja uma forma italiana clássica, os seus raios são muito bons para reter molhos com pedaços. LINGUINE Significa linguinhas e descreve com exatidão uma tipo spaghetti, muito fina, de extremidades chatas. VERMICELLI Embora soe bem, o termo significa vermezinhos, o que não é muito feliz. Descreve uma forma muito fina de spaghetti- o nome original napolitano do spaghetti era vermicelli e os italianos do sul por vezes ainda se referem a ele desse modo, o que pode ser confuso. ZITI Esta massa vai buscar o seu nome à palavra zita, que signifca noiva. Na antiguidade, era costume servir-se ziti nas bodas e outras ocasiões especiais no Sul de Itália. É uma massa muito comprida e oca, como o maccheroni, e é costume partir-se no tamanho desejado quando se coze. PAPPARDELLE Massas chatas com ovo, variando entre 15 a 20 mm de largura. As pappardelle clássicas possuem bordas onduladas, mas pode encontrá-las com eles lisos – o principal é serem mais largos do que qualquer outra massa de fita. São originários da Toscana mas também são bem populares em IESB – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA MANUAL DE MASSAS E MOLHOS 21 Bolonha. Essas são as principais massas encontradas nos mercados brasileiros e italianos. É claro que os formatos de massa não param por aqui. Existem mais uma dezena de formatos de acordo com as regiões da Itália. BIBLIOGRAFIA • ARAÚJO, M.C. Wilma (et al.). Alquimia dos Alimentos - Série Alimentos e Bebidas ‒ volume 2. Brasília: Editora Senac-DF, 2007. • RIZZ, S.; LENG, T.L.. El gran libro de las Pastas: Editorial Everest, Silvio Rizz; Tan Lee Leng AÑO 1994 239 p. • RODRÍGUEZ PALACIOS, A. Técnicas básicas del maestro de cocina: Editorial Atlántida, AÑO 2000 128 p. • COURTINE, R. Larousse Gastronomic: Editorial Larousse Francia, Robert Courtine; AÑO 1984 1142 p. • LOMBARDI, L. El Gran Libro de la Pasta y los Cereales: - Grijalbo. L.Lombardi; AÑO 1992 310 p. • CULINARIA KÖNEMANN. Un viaje culinario por Francia: Editorial Könemann AÑO 1998 460 p. • LE CORDÓN BLEU, Le Cordón Bleu Guía Completa De Las Técnicas Culinarias . Editorial La Isla AÑO 1998 p. 351 • Instituto Argentino de Gastronomia. Manual pastas y salsas